A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, abril 15, 2008

PCP - a escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico

Quarta, 09 Abril 2008
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hemiciclo.jpgBernardino Soares, na declaração política realizada na AR, afirmou que «se há matéria em que se acentua a descredibilização do regime democrático, ela é a da evidente e escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico. A situação a que chegámos não pode deixar de merecer uma forte intervenção de todos os que prezam a independência do poder político e a soberania popular.»



Declaração política sobre a escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico

Intervenção de Bernardino Soares na AR

Senhor Presidente,

Senhores Deputados,


Se há matéria em que se acentua a descredibilização do regime democrático, ela é a da evidente e escandalosa promiscuidade entre o poder político e o poder económico.


A situação a que chegámos não pode deixar de merecer uma forte intervenção de todos os que prezam a independência do poder político e a soberania popular. De facto, e ao contrário do que diz a Constituição, em Portugal cada vez mais o poder político se subordina ao poder económico.


É ao contrário. Progressivamente e de uma forma avassaladora o que vemos é que é o poder económico que determina muitas das decisões do poder político, orientando-as em seu favor.


Não se trata apenas do caso, com evidente relevância e significado, do ingresso do ex-ministro das obras públicas e dirigente do PS, Jorge Coelho, numa das maiores construtoras nacionais. Trata-se antes de uma prática reiterada e vulgarizada, bem patente no facto de metade das empresas do PSI-20 ter ex-governantes nos seus órgãos sociais.


É uma matéria em que se aplica uma espécie de Tratado de Tordesilhas entre o PS e o PSD, com umas abertas para o CDS, como ainda há pouco ficou patente nas exigências do Presidente do PSD sobre o poder na CGD.


Podíamos estar aqui durante longos minutos a desfiar exemplos, assim permitisse a memória.


Por exemplo de outros ex-ministros das obras públicas. Um é hoje administrador de uma empresa a quem adjudicou uma valiosa e leonina concessão; outro passou para a GALP, depois para a EDP.


Para a banca é um ver se te avias:


Um ex-ministro da presidência justiça e defesa, um ex-secretário de estado da presidência, um ministro-adjunto, entre outros, todos para o BCP.


Uma ministra das finanças e um ministro da presidência e da defesa para o Santander.


Um ministro-adjunto, um ministro do comércio e uma ministra da justiça para a CGD, para além de vários secretários de estado.


Vários ministros e secretários de estado para outras instituições como o BES ou o BPN ou Banco Privado Português.


Um secretário de estado da saúde para a administração do Hospital Amadora Sintra cujo contrato negociou.


Um secretário de estado da energia para a REN a privatizar.


Um secretário de estado que passou a gestor do Grupo Mello, fazendo um breve intervalo de três anos como ministro da saúde, para aí regressar, sendo este o principal grupo privado da saúde.


Um ministro do desporto e da administração interna na GALP.


Um ministro das finanças e secretário de estado adjunto do primeiro-ministro na Iberdrola, Prisa/mediacapital, entre outras.


E podíamos continuar com referências a situações nesta própria Assembleia, sobre a profusão de cargos e consultorias em seguradoras, bancos, grupos económicos da saúde e da área social, casinos, empresas de comunicações e tudo o mais que se esconde nas sociedades de advogados. Até temos um deputado porta-voz de um partido, e logo o mais representado, que é provedor das empresas de trabalho temporário e defende, claro está com toda a independência, que a legislação laboral devia ser ainda mais liberalizada.


Com tal panorama, multiplicado por diversos níveis de poder, não admira o Estado a que o país chegou, com a profusão de decisões lesivas do interesse público tomadas por sucessivos Governos.


São os sucessivos processos de privatizações sempre favorecendo os adquirentes que muitas vezes nada pagaram ou pagaram com o dinheiro do Estado. É a entrega de empresas fundamentais para os serviços públicos a grupos e accionistas privados.


É a escandalosa impunidade da banca no aumento dos lucros e diminuição de impostos pagos.


É a subordinação do Estado ao domínio informático da Microsoft, que acabou por exemplo rapidamente com as veleidades de um secretário de estado da justiça que queria, imagine-se, aproveitara as vantagens do software livre.


Temos a entrega da rede viária e da Estradas de Portugal às grandes construtoras.


Temos a concentração de obras nas escolas em grandes pacotes para que só as grandes construtoras tenham acesso a eles.


Temos o processo dos PIN e das regiões de turismo desenhadas à medida dos interesses de projectos turísticos e imobiliários.


Tivemos a tomada de posição na GALP pelo grupo Amorim financiada pelos lucros que lhe seriam devidos no futuro enquanto accionista, entretanto convenientemente garantidos.


Temos a repartição entre quatro ou cinco grupos económicos das parcerias público-privadas da saúde, com elevados prejuízos para o Estado.


Temos a Lusoponte a reivindicar direito a receber indemnização se o Estado quiser construir nova ponte em Lisboa.


Temos um governo que vai desmantelando a ADSE e os direitos dos trabalhadores da administração pública e depois suporta financeiramente o Hospital da Luz com uma valiosa convenção.


Temos um QREN que com um gestão altamente centralizada deve estar já no fundamenta repartido ou em vias de repartição pelos grandes projectos dos grupos económicos.


Etc., etc., etc..


É evidente que há melhorias a fazer na legislação como o PCP já propôs.


É ridículo que a limitação de ingresso em empresas das áreas que se governou só se aplique por três anos e apenas nos casos em que tenha havido privatizações ou benefícios directos financeiros e fiscais.


Mas não há legislação que evite por si só comportamentos e decisões contra o interesse nacional.


Esta situação de promiscuidade mina os alicerces do Estado democrático, compromete a independência de decisão e dá justificadas razões para que o povo esteja descrente nos partidos que alternam a governação.


Pela nossa parte não pretendemos dar lições de moral. Não Srs. Deputados. O que queremos é dizer com toda a clareza que estamos perante um continuado ataque ao interesse público nacional.


É por causa destas decisões e da política de favorecimento dos grandes interesses económicos que se agravam as desigualdades. Há dinheiro para tudo isto que atrás referi, em que se consomem muitos milhões de euros. Mas nunca há dinheiro para salários, para reformas, para investimento em serviços públicos, para as pequenas e médias empresas.


Não é possível calar a voz da indignação perante "o estado a que isto chegou", perante a colonização do Estado e dos seus recursos e decisões pelo poder económico privado. E afirmar com determinação que isto não pode continuar.


Disse.

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