A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sábado, fevereiro 06, 2010

Gustavo Toshiaki: A Economia Política do desastre no Haiti


América Latina

Vermelho - 29 de Janeiro de 2010 - 10h00

em Esquerda.net

O conceito de desastres naturais esconde o fato de que os impactos deste tipo de acontecimento são sistematicamente desproporcionais nos países mais pobres. Noventa porcento das vítimas de desastres naturais vivem em países em desenvolvimento.
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Nos últimos 50 anos, o Haiti foi sistematicamente assolado por outras catástrofes naturais, cerca de 67 episódios, tais como inundações, furacões e desmoronamentos, onde para além da destruição em termos econômicos, foram afetadas mais de 4 milhões de pessoas e contabilizadas mais de 14 mil vítimas mortais. Apenas uma catástrofe na dimensão dos eventos recentes foi capaz de captar a atenção internacional.
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A história recente do Haiti talvez possa ser descrita com uma única palavra, "instabilidade". Entre 1986 e 2009 o Haiti teve nada menos que 17 alterações de governos, 3 períodos sem chefe de Estado, uma ocupação por parte dos Estados Unidos, e vários períodos de intervenção das forças das Nações Unidas para assegurar um nível mínimo de segurança.
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Mais do que a influência direta que muitos países exerceram na busca pela exploração do povo e dos recursos haitianos, toda a lógica de apoio internacional era de alguma forma pervertida pela conivência cega justificada com a crença no caminho pelo mercado.
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Diante de estruturas de poder onde o governante conta apenas com uma pequena parcela da população como suporte de seu governo, as decisões sobre investimentos em prevenção de desastres naturais passam por duas questões fundamentais.
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Por um lado é importante lembrar que os investimentos deste tipo são pouco apelativos na "contabilidade eleitoral", visto que tendem a ter resultados demasiado dilatados no tempo e pouca visibilidade diante da ausência de catástrofes. No caso específico do Haiti outra questão mostrou-se fundamental para que nada fosse feito, o simples fato de os desastres naturais serem claramente favoráveis à consolidação do poder instaurado.
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Tal fenômeno devia-se ao fato de uma pequena elite local concentrar os meios de produção no país. Todos os anos, os desastres naturais geravam um afluxo de investimentos humanitários que perversamente era quase que exclusivamente capturado pelas elites locais, reforçando o poder destas elites e perpetuando um mecanismo de desincentivo à prevenção de desastres naturais.
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As evidências mostram que medidas sistêmicas de gestão e coordenação de resposta aos desastres naturais possuem um impacto muito mais significativo do que o montante de recursos envolvidos.
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O Haiti está prestes a atravessar o período de furacões, cujas consequências ainda podem ser muito graves. A comunidade internacional será novamente responsável por uma tragédia que podia e devia ter sido evitada e cuja a incidência nada tem de natural. 
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