A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, maio 25, 2010

Inúteis conselhos de um “ex-comunista”

Brasil

Vermelho,  24 de Maio de 2010 - 11h21

A Carta Capital, uma honrosa exceção entre as revistas semanais brasileiras, pela fidedignidade das suas informações e profundidade de suas análises, publicou na edição desta semana, com data de 26 de maio, uma entrevista com um curioso personagem da política europeia, Massimo D´Alema.

Por José Reinaldo Carvalho*

O ex-primeiro-ministro italiano (1998 a 2000) fala sobre o seu relacionamento com o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, apresenta-se como garoto-propaganda de grandes empresas oligopolistas italianas, diz platitudes sobre o papel da “esquerda democrática” europeia no enfrentamento da crise e disserta sobre o combate histórico do velho PCI ao terrorismo que assolou a Itália nos anos 1970. Mesmo dizendo não querer polemizar sobre o caso Battisti, ajuda a fundamentar a opinião da revista em defesa da extradição do ex-militante extremista refugiado no Brasil.

Aos nossos olhos passaria desapercebido o falatório do político italiano, não fosse a repetição de um surrado discurso anticomunista, travestido de crítica ao “velho comunismo ortodoxo”. Reportando-se a como o extinto Partido Comunista Italiano, do qual foi expoente no passado, encarava a esquerda mundial, o atual dirigente do Partido Democrático jacta-se de que “em geral, em relação aos partidos comunistas ortodoxos, nós não alimentávamos particular simpatia, enquanto tínhamos curiosidade pelos inovadores”. Com tom professoral, singularidade da arrogância eurocentrista que alguns pigmeus tropicais acompanham anacronicamente, o ex-“comunista” D´Alema dá voz ao seu achismo acreditando que alguns intelectuais do PT leram Gramsci.

Desculpando-me por ignorar o que leram os intelectuais do PT, tenho certeza de que de uma maneira geral a esquerda brasileira revolucionária leu não só Gramsci, como Marx, Engels, Lênin, Stálin, Dimitrov, Rosa Luxemburgo, Mao Tsétung, Fidel Castro, Che Guevara, Mariátegui e tantos outros autores que contribuíram para afirmar uma corrente de pensamento marxista-leninista, efetivamente transformadora, anti-capitalista e antiimperialista.

No afã de encontrar saídas fáceis e rápidas, não poucas vezes incorreu-se em manifestações de dogmatismo. Não é fácil compreender as peculiaridades das situações concretas e encontrar o ponto de equilíbrio entre os princípios revolucionários e a flexibilidade tática. O aprendizado da esquerda revolucionária é penoso e sinuoso, mas é simplismo analisar seu percurso apenas com a antinomia entre ortodoxos e inovadores. Há um lado positivo na experiência da esquerda, mesmo quando laborou em erro – a luta para não sucumbir a pressões liquidacionistas e para afirmar sua identidade. A ortodoxia e o dogmatismo são graves manifestações de oportunismo que a esquerda precisa superar. Mais grave ainda é pretender transpor esta barreira recorrendo aos favores de uma nada original heterodoxia, a partir de um completo rompimento com os princípios revolucionários. É a troca de um oportunismo por outro.

Certamente, o aperfeiçoamento teórico e ideológico dos partidos comunistas e revolucionários requer o estudo dos textos de Antonio Gramsci, político, intelectual, cientista político, literato de sólidas tradições leninistas. Mas é nefasto copiar Gramsci em situações diversas à que ele viveu e atuou e mais nefasto ainda contrapor Gramsci a Lênin, atribuindo caráter reformista à obra do fundador do Partido Comunista Italiano. Certa esquerda procedeu assim nos anos 1970 e 1980 no Brasil, em meio à acirrada luta que levou à transformação do Partido Comunista Brasileiro em Partido Popular Socialista, em 1992.

D´Alema e os seus parceiros ex-comunistas heterodoxos que integram a “esquerda inovadora” protagonizaram a metamorfose social-democrata e liberal-burguesa do velho PCI, até a sua liquidação em 1991. Aliás, o liquidacionismo é um traço do tipo de político que D´Alema representa. Em seguida à dissolução do PCI, este grupo criou o Partido Democrático da Esquerda, depois rebatizado como “Democráticos de Esquerda”. Em 2007, este também foi extinto, resultando da sua fusão com agrupamentos do centro a criação do Partido Democrático.

O entrevistado de Carta Capital não foi artífice apenas da dissolução do PC na Itália. Foi também chefe de governo, integrando ainda mais seu país às políticas imperialistas e agressivas dos Estados Unidos. Como primeiro-ministro (1998 a 2000), participou do ataque militar orquestrado pelo governo de Clinton à ex-Iugoslávia. Mais tarde, foi ministro das Relações Exteriores do governo centrista de Romano Prodi, cargo no qual não se destacou por qualquer política em defesa da paz e da autodeterminação dos povos.

O busílis da questão para a esquerda contemporânea não é se transformar numa centro-esquerda palatável à ordem imperialista e do capitalismo senil. Ser de esquerda hoje requer a capacidade de manter uma linha revolucionária numa época de contrarrevolução e obscurantismo teórico e ideológico. Nisto o “professor” D´Alema nada tem a ensinar.

*Secretário Nacional de Comunicação do PCdoB

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  • A "Carta", às vezes escorrega para o lado do capital

    24/05/2010 18h15
    Caro Reynaldo, parabéns pelo artigo. Na mesma linha da entrevista da revista a que você se refere, no fim do ano passado fiquei supreendido pelos sinceros elogios da Carta Capital ao indubitável Gilmar Mendes. Com toda franqueza, na ânsia de ser inteiramente democrática e enxegar o lado bom de tudo, a Carta Capital às vezes "capitula". Bem, ao menos agora o Gilmar Mendes não se sente isolado na condição de talvez único direitista elogiado nas páginas da revista que, acho, se assume como de esquerda.
    Jeosafá Fernandez Gonçalves
    São Paulo - SP

  • Pior do que ex-comunista declarado

    24/05/2010 17h34 Só o que se comporta como ex-comunista mas ainda se diz comunista, neste reside o principal perigo... As vezes demoram pra assumir... Veja Gorbatchev...

    Diego Grossi Pacheco
    Petrópolis - RJ

  • Eurocomunismo é anticomunismo.

    24/05/2010 17h34 Os conselhos de Massimo D´alema não são nenhuma novidade, apenas mostram de maneira clara e precisa, as faces do velho oportunismo, que durante um tempo necessita utilizar-se de um discurso marxista para enganar ingênuos. A única coisa que o Eurocomunismo conseguiu produzir foi a degeneração completa do velho PCI.

    Gabriel Martinez
    São Paulo - SP

  • O fanatismo

    24/05/2010 17h23 A cada dia que passa, vejo mais semelhanças entre os ditos comunistas e os religiosos. Ambos seguem dogmas, têm seus messias (Marx, Engels, Lenin) e suas bíblias (Manifesto Comunista, O capital), que jamais devem ser contestados. Ser ex-comunista então, é pecado grave...

    Filipe Albuquerque
    Fortaleza - CE

  • Na linha Justa

    24/05/2010 17h03 Perfeito o comentario do Ze Reinaldo, pois estes "ex- comunistas", tanto quiseram se apresentar como modernos e pragmaticos que esqueceram o materialismo histórico e a luta de classes, seja nas analises conjunturais como nas avaliações dos papeis positivvos e negativos de lideres do movimento comunista. O resultado foi uma concepção tão ampla, mais tão ampla do estado, da politica, das alianças que, perdendo qualuqer referencia de esquerda hoje nem sociais democratas podem ser chamados. Parabens , Ze Reinaldo

    LuisEduardo Mergulhão Ruas
    Rio de Janeiro - RJ

  • Mas infelizmente...

    24/05/2010 16h23
    Mesmo com tantos exemplos históricos (II Internacional, Eurocomunismo, Perestroika, PCB e etc.) têm gente que se deixa seduzir por discursos liquidacionistas travestidos de revolucionários e inovadores... ----------------------------------------- Ótimo artigo Zé. ----------------------------------------- "A luta ideológica do marxismo revolucionário contra o revisionismo, iniciada no fim do século XIX, nada mais é que o prelúdio dos grandes combates revolucionários do proletariado, que, apesar de todas as vacilações e debilidades dos filisteus, avança até o triunfo completo da sua causa." - V. I. Lenin
    Diego Grossi Pacheco
    Petrópolis - RJ

  • A atualidade de Lenin

    24/05/2010 16h16 “Sabemos que estas palavras provocarão muitas acusações: gritarão que queremos converter o partido socialista numa seita de “ortodoxos” que perseguem os “hereges” por sua apostasia do “dogma”, por toda opinião independente, etc.”. “Conhecemos todas essas frases cáusticas tão em voga. Mas elas não contêm um pingo de verdade, um mínimo de bom-senso. Não pode existir um partido socialista forte sem uma teoria revolucionária que agrupe todos os socialistas, da qual eles extraiam todas as suas convicções e apliquem em seus processos de luta e métodos de ação. Defender essa teoria, que segundo sua mais profunda convicção é a verdadeira, contra os ataques infundados e contra as tentativas de alterá-la não significa, de modo algum, ser inimigo de toda crítica. Não consideramos, absolutamente, a teoria de Marx como algo acabado e intocável; estamos convencidos, pelo contrário, de que esta teoria não fez senão fixar as pedras angulares da ciência que os socialistas devem impulsionar (...)"

    Diego Grossi Pacheco
    Petrópolis - RJ

  • Os necrófilos de Stalin mais uma vez atacam

    24/05/2010 15h15 Desde quando Stalin ofereceu qualquer contribuição teórica ou prática ao socialismo? Que contribuição teórica ele fez? "O socialismo de um país só"? Que contribuição prática? OS gulags? As viúvas de Stalin do PCdoB não desistem mesmo!

    Jonathan
    Fortaleza - CE

  • Momento difícil

    24/05/2010 14h32 "Ser de esquerda hoje requer a capacidade de manter uma linha revolucionária numa época de contrarrevolução e obscurantismo teórico e ideológico". Muito bem colocada a questão. A superestrutura do capitalismo alimenta um turbilhão de irracionalidades que permeiam o dia-a-dia das pessoas, e em particular da classe trabalhadora. Daí vem a questão: Como construir, em meio a tantas adversidades,uma prática política coerente e revolucionária comprometida com a transformação da sociedade ?

    jesse
    Niterói - RJ

  • valeu

    24/05/2010 13h57
    "Caba bom este Ze."
    narcelo nogueira
    itapiuna - CE
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    • ex comunistas ou anticomunistas

      24/05/2010 13h56 Mais um excelente artigo do camarada Zé Reinaldo aborda questões de fundo para a organização marxista-leninista.Os comunistas não viram as costas às batalhas conjunturais, aos embates do dia-a-dia, mas têm princípios e se guiam por eles. Os revolucionários não estão abertos a negócios ou negociatas com os princípios, característica dos oportunistas de diversos matizes, muitas vezes travestidos de "inovadores". A história recente -inclusive no Brasil- mostra como muitos partidos abriram mão dos princípios, assumiram posturas meramente reformistas e foram golpeados e liquidados por oportunistas "inovadores" que não passavam de anticomunistas.

      Wellington Teixeira Gomes
      Belo Horizonte - MG

    • Carta Capital também tem seus momentos de

      24/05/2010 12h42 É interessante observar como personagens da estirpe do Massimo D´Alema preferem a alcunnha de "ex-comunista" à "neo-liberal". José Reinaldo Carvalho acerta na mosca quando ressalta o papel de "Carta Capital" sem deixar de apontar os seus equívocos. A revista de Mino Carta sustenta uma posição firme na defesa do papel histórico de Lula, na apuração dos crimes da ditadura e na denúncia das falcatruas de Daniel Dantas, mas, erra feio no julgamento da esquerda. Comunista bom para ele é o que mudou de credo, de cor e de bandeira. Sem falar na mal-disfarçada simpatia que nutre por Marina Silva e José Serra. Levando em conta a sua implicância com Cezare Battisti, perguntaria até que ponto suportaria uma guinada mais a esquerda da "ortodoxa" Dilma Roussef? Talvez o limite da sua tolerância democrática seja a não transigência com um papel destacado do "bloco histórico" formado pelos comunistas, pra continuarmos a prosa no campo do pensamento de Gramcsi, este sim, um italiano dos bons.

      Antonio Levino
      Manaus - AM
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