A Internacional

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sexta-feira, setembro 10, 2010

Honduras depois do golpe: o “paraíso” dos narcotraficantes


América Latina

Vermelho - 8 de Setembro de 2010 - 9h15
 

Decretada há três anos a guerra contra o narcotráfico com a chegada de Felipe Calderón à Presidência, a preocupação na região é por os narcotraficantes mexicanos estarem estendendo as suas redes de tráfico e consumo à América Central e lavarem aí o seu rasto de corrupção, violência e morte.

Marco Antonio Martínez García *

A dita presença será o prelúdio da transferência de uma estratégia semelhante à mexicana, militarizada e com constantes queixas de violações dos direitos humanos ao território da América Central, como já alertaram vários presidentes da região.

A violência já está presente na região e está relacionada com o narcotráfico. A Organização das Nações Unidas no seu Relatório Mundial sobre Drogas 2010 disse que em Salvador, Honduras, Guatemala e Belice as taxas de homicídio são três a cinco vezes mais altas que no México.

Em Honduras foi registrado em 2008 a mais alta taxa de homicídios da região. Por cada 100 mil habitantes cometeram-se 60, 9 crimes; Salvador registrou 51,8 homicídios e a Guatemala 49, enquanto no México se registraram 11,6 neste mesmo ano.

“A região mais afetada hoje em dia é o Triângulo Norte da América Central: Guatemala, Honduras, e Salvador. Aí, a intensa violência gerada pelas drogas colocou um grave problema ao governo”, alerta o resume executivo do mesmo documento da ONU.

Os antecedentes

Se bem que a presença dos narcotraficantes na América Central seja de décadas, já que desde os anos oitenta do século passado era usada como rota de transferência, agora registra mais tráfico e maior presença dos narcotraficantes mexicanos.

Desde a época do capo colombiano Pablo Escobar, nos anos oitenta do século passado a América Central começou a ser usada para o transporte de drogas. Os cartéis colombianos enviavam de maneira direta a mercadoria, ou empregavam narcotraficantes mexicanos, para fazer chegar aos Estados Unidos, então o principal mercado de cocaína.

Situada entre a América do Sul e a do Norte, a América Central ficava na passagem entre a Colômbia e os Estados Unidos. Porém, nessa época os colombianos preferiam o Caribe para transportar a sua mercadoria, e só com o crescimento dos narcotraficantes nos anos noventa a América Central começou a ser usada majoritariamente, segundo o relatório Crime e desenvolvimento na América Central, do Departamento contra o Crime e o Delito da ONU, publicado em 2007.

Os colombianos chegaram a usar aeroportos centro-americanos, quer civis quer militares, para transportar cocaína. Honduras foi frequentemente utilizada, de acordo com várias fontes. O especialista colombiano Eduardo Correa assegura a “El Programa de las Américas” que a base militar de Palmerola [1], em Honduras, foi usada para esses fins nos tempos de Pablo Escobar, durante os anos oitenta.

Alberto Santana no seu livro O Narcotráfico na América Latina, diz que nas décadas de setenta e oitenta (entre 1978 e 1982 este país da América Central foi governado por militares) Honduras converteu-se num aliado dos Estados Unidos contra o comunismo na região. Assevera que os EUA toleraram o narcotráfico, fomentado desde a cúpula militar que governava Honduras. O autor cita o relatório ‘O Narcotráfico nas Honduras 1982-1988’ do Centro de Documentação das Honduras, segundo o qual entre 1982 e 1987 o narcotráfico mobilizou um bilhão de dólares no país.

Por esta mesma situação de colaborar com o narcotráfico na América Central, o único governo investigado e sujeito a juízo por cumplicidade foi o encabeçado pelo ex-presidente do Panamá Manuel António Noriega, que foi julgado em França [2]. De acordo com a informação publicada em 29 de junho no diário Reforma, o general acordou nos anos oitenta com o cartel de Medellin, encabeçado por Escobar, que aviões carregados de droga voassem pelo Canadá sem dificuldades. Em 7 de junho deste ano a justiça francesa condenou o general a sete anos de prisão por lavagem de dinheiro, informou o mesmo diário.

Com o desmantelamento das grandes organizações colombianas nos anos noventa do século passado, um maior controle do espaço aéreo das rotas usadas pelos colombianos rumo aos Estados Unidos e o começo de uma cada vez maior participação dos narcotraficantes mexicanos no tráfico e venda de droga, as formas de transporte e as rotas alteraram-se. A droga começou a ser também transportada por mar e terra.
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De acordo com o documento Crime e desenvolvimento no Centro América, em 1999, os fluxos através da América Central/México eram de 54%, enquanto as remessas pelo Caribe eram de 43% e unicamente 3% chegou diretamente da América do Sul.

Um ano depois as remessas pela América Central subiram para 66% e as do Caribe desceram para 33%. Em 2003 o tráfico aumentou para 77% pela via América Central e 22% pela via Caribe.

Nos últimos anos, a América Central não só é usada para o transporte, mas também é vista pelos narcotraficantes mexicanos como zona de descanso e que evita a perseguição das autoridades mexicanas que lhes declararam guerra em 2006. Além disso, os capos mexicanos procuram a América Central para expansão a novas redes de tráfico e consumo. É o caso das Honduras.

A “Chapo” agrada-lhe Honduras

Um dos países assinalados com a presença de narcotraficantes mexicanos é Honduras, em cujo território se viu um dos mais famosos do mundo.
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Fontes oficiais advertiram sobre a presença do capo mais procurado do México, Joaquín “El Chapo” Guzman, chefe do cartel de Sinaloa, que em 2001 fugiu da prisão de alta segurança de Puente Grande, no Estado mexicano de Jalisco, não mais tendo voltado a ser preso.

Em 23 de fevereiro deste ano o ministro da Segurança do país centro-americano, Oscar Álvarez, disse numa entrevista radiofônica à Rádio Fórmula que tinha sido detectada a presença do narcotraficante mexicano.

O político hondurenho confirmou a presença do chefe do cartel de Sinaloa no país, dizendo que a sua estadia era intermitente, para descansar, e que dias antes tinha estado numa festa numa zona conhecida como ‘El paraíso’, onde tinha organizado uma abrilhantada por grupos musicais mexicanos.

Álvarez negou a permanência de Guzman no seu país. No entanto, na sua qualidade de ex-ministro que ocupou o cargo entre 2002 e 2006, no mandato de Ricardo Maduro, advertiu que desde então já tinham sido detectadas visitas de narcotraficantes mexicanos e colombianos ao seu país.

A presença de ‘el Chapo’ e o assassíno do czar antidrogas das Honduras, Julián Arístides, registaram-se depois do golpe de Estado contra Manuel Zelaya, deposto por militares em junho do ano passado. Em 8 de dezembro de 2009, Arístide foi baleado a partir de uma motocicleta, quando estava em seu carro.

Mais de seis meses depois do homicídio, em 16 de Junho, Álvarez esclareceu o caso e informou que por trás da morte do Procurador da República estava o narcotraficante hondurenho Héctor Amador Portillo, alcunhado de ‘el Gato Negro’. O móbil do crime foi o descobrimento de Arístides de uma pista clandestina dirigida por Portillo em Olancho, acrescentou Álvarez, de acordo com o diário La Tribuna.

Sicários à ordem do narcotraficante hondurenho e contratados pelos seus parceiros mexicanos do cartel de Sinaloa foram os que tiraram a vida ao Procurador da República, acrescentou Álvarez.

O criminoso já não pôde responder às acusações de Álvarez: ‘el Gato Negro’ foi encontrado morto em abril passado, com sinais de ter sido torturado, tal como sete membros do seu grupo.

Álvarez disse que ‘el gato negro’ tinha sido contatado por ‘Chapo’ Guzman e deu mais informações sobre as atividades do cartel mexicano no seu país.
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“Eles (o cartel de Sinaloa) não se limitam a transportar drogas para os Estados Unidos, mas também a organizar redes de distribuição na Guatemala, Salvador, Honduras e outros países da América Central”, disse o ministro da Segurança hondurenho.

De fato, segundo a agência Notimex, citada pelo jornal mexicano Él Financiero, Alvarez disse que “Chapo” Guzman tinha entrado e saído das Honduras em diversas ocasiões, via Guatemala.

Apesar de Honduras registrar significativamente menos prisões de narcotraficantes que o México – o país centro-americano atinge as seis por cada 100 mil habitantes, enquanto o México chega às 22 – os hondurenhos estão, no entanto acima da Guatemala, registra duas prisões, de acordo com o Relatório Mundial sobre Drogas de 2010.

As “narco-avionetas

Sobre o tráfico de drogas, o próprio ministro da Segurança das Honduras disse que as autoridades do país têm dados das apreensões de avionetas que sobrevoavam o seu território em direção ao México, para abastecer tanto o cartel de Sinaloa, de Guzman, como o do Golfo, comandado por Ezequiel Cardenas Guillén e recentemente separado do grupo armado dos Zetas.

O registro de avionetas que transportavam drogas aumentou consideravelmente desde há cinco anos. Em 2005 não se registraram casos nas Honduras , em 2006 um só, e em 2007 e 2008 quatro “narco-avionetas” em cada ano, informou El Heraldo. Álvarez afirma que “Aumentou a transferência de droga no nosso país, em 2009 voaram muitas avionetas com mais de 100 toneladas de cocaína da América do Sul para os EUA…”, número também citado pelo comissário dos Direitos Humanos, Ramón Custodio.

De acordo com relatórios anuais do Ministério Público, em 2005 apreenderam-se 55 quilogramas, 2.714 em 2006, 1.704 em 2007, 6.764 em 2008 e em 2009 contabilizaram-se 6.655 quilogramas. Mais do que êxitos dos agentes antinarcóticos, as apreensões aconteceram porque as avionetas explodiram ou estatelaram-se em solo hondurenho, disse o diário, ainda que sem citar fontes.

Em 22 de julho de 2010 detectou-se outra aeronave em Brus Laguna, departamento de Gracias a Dios, informou o diário La Tribuna de Honduras, que afirmou ter caído, em três anos, 30 narco-avionetas em diferentes pontos do Atlântico, o que denota que os dados são contraditórios entre as diferentes fontes.

Segundo o relatório mundial sobre Drogas de 2010, o fato de Honduras ter a mais alta taxa de assassinatos na região, pode estar relacionado com a crescente utilização do território hondurenho por aviões carregados de droga.

Consumo em alta

O Relatório Mundial diz que outro problema é o aumento de consumidores de droga na América Central, num número que oscila entre os 120 mil e os 140 mil. O documento informa que até 2005 nas Honduras, 15% da população consumia opiáceos, 9% cocaína, 8% cannabis e a mesma percentagem anfetaminas.

A presença dos narcóticos converteu-se numa ameaça de tal grandeza na América Central que a ONU fez uma chamada de atenção. Em 26 de junho, numa mensagem difundida a propósito do Dia Internacional da Luta contra o Uso Indevido e o Tráfico de Drogas, a Organização das Nações Unidas expressou num boletim a sua preocupação porque em certas zonas da África Ocidental e América Central “o tráfico de drogas pode ameaçar a segurança dos Estados e inclusive a sua soberania”.

Afundada numa crise de legitimidade, sem o reconhecimento diplomático de muitos países da região, e frente a um aumento notável da presença do narcotráfico, Honduras não está excluída da advertência.

Nota do tradutor:

[1] Foi igualmente na base Palmerola, sede do Comando da Força Aérea hondurenha, que se instalou o comando do golpe de Estado nas Honduras que afastou o presidente Manuel Zelaya, executando a decisão tomada em reuniões na embaixada dos EUA em Tegucigalpa, entre os golpistas e o embaixador norte-americano Hugo Llorens.

[2] O general panamenho Manuel António Noriega foi um protegido de Washington até reivindicar para o Panamá a soberania do canal, que estava sob jurisdição norte-americana. Então, tornou-se público o que há muito se sabia, a ligação do general ao narcotráfico, e Noriega foi capturado e levado para os EUA, onde foi condenado a vários anos de cadeia. Recentemente foi libertado nos EUA e enviado para França para cumprir pena por lavagem de dinheiro.

* Marco Antonio Martínez García é jornalista e colaborador habitual do Programa de las Américas

Este texto foi traduzido por José Carlos Gascão e publicado em odiário.info
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