A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Protestos no Egito – Blog acompanha em tempo real



por Gustavo Chacra
28.janeiro.2011 08:33:56
blog acompanha em tempo real os protestos contra o regime de Hosni Mubarak. Publicarei notícias e análises ao longo do dia. No Twitter @gugachacra
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22h30 – Exército e Polícia – A Polícia foi mobilizada mais uma vez para as ruas do Cairo. Nos últimos dois dias, a segurança estava apenas nas mãos do Exército. Segundo analistas, os policiais seriam, na visão da população, os representantes de Mubarak. Os soldados, mais populares, da era pós-Mubarak. No sábado, quando houve aumento da violência urbana, os policiais fizeram de tudo para provar que, sem eles, o Cairo viraria o caos. Eles teriam inclusive envolvimento em saques, vandalismo e na libertação de presos. O temor desta segunda é de que comecem choques entre a polícia e o Exército
19h05 – Hillary Clinton – “Somos muito claros ao dizer pública e privadamente que as autoridades egípcias devem iniciar um processo de diálogo nacional que leve para uma transição em direção à democracia. O próprio presidente Mubarak disse isso outro dia, ao afirmar que daria passos para reformas democráticas e econômicas. Esperamos que isso aconteça”, disse a secretária de Estado, Hillary Clinton, em entrevista para a rede de TV CBS. Para a ABC, ela descartou a suspensão da ajuda militar de US$ 1,3 bilhões para o Egito neste momento e repetiu o pedido de democratização.
19h – Entrevista – Leiam entrevista com escritor egípcio no blog da Adriana Carranca
18h45 – Comentário Oposição no Egito - Falta à oposição egípcia um líder forte. O Nobel da Paz Mohammad El Baradei é respeitado, mas passou muito tempo fora do país, sendo desconhecido em partes do Egito. Ayman Nour, tradicional líder opositor, está com problemas de saúde e quase não aparece. Mesmo a Irmandade não tem uma grande figura. Agora há pouco, o Ayman Nour disse que ele e o El Baradei estão organizando uma comissão opositora. Vamos acompanhar
17h – Comentário Egito e o Irã – O Egito não pode ser comparado ao Irã pré-Revolução Islâmica. Há duas diferenças fundamentais. Primeiro, o Egito é majoritariamente sunita e o Irã, xiita. Entre os sunitas, não há um clero ou líder religioso como o aiatolá. Entre os xiitas, existe esta figura e a hierarquia. Em segundo lugar, não há na Irmandade Muçulmana uma liderança carismática como o aiatolá Khomeini no Irã
16h30 – Comentário “Estratégia Turca para o Egito”– Os Estados Unidos trabalham com a “estratégia turca” para o Egito. Os americanos querem uma redemocratização similar à da Turquia nos anos 1980 e 90, com a abertura sem a inclusão de partidos islâmicos. Além disso, o Exército se manteria com um pólo de força. Isso evitaria a chegada da Irmandade Muçulmana ao poder. Mas existem diferenças. Os turcos possuíam mais tradição democrática e não havia uma organização islâmica tão poderosa como a Irmandade. O AKP, atualmente no poder em Ancara, não pode ser comparado ao grupo egípcio. São moderados, mais próximos dos democrata-cristãos europeus.
16h – Comentário Israel e os acontecimentos no Egito – Israel deve ficar mais reticente em assinar acordos de paz com regimes autoritários caso os acontecimentos no Egito levem ao rompimento de relações entre os dois países. Claro, este cenário ainda está distante. Mesmo sem Mubarak, a cúpula militar egípcia é próxima dos israelenses. Com Omar Suleiman, o novo vice, as relações são ótimas. Mesmo um governo democrático poderia manter a paz. Porém poderia haver mais divergências, similares às da Turquia com Israel atualmente. Os dois países são aliados, mas os turcos criticam os israelenses abertamente. A segurança de Gaza está em risco
15h20 Comentário Irmandade – A Irmandade Muçulmana não é um grupo coeso. Há divergências internas sobre qual rumo a organização deveria tomar. Alguns defendem a atuação política. Outros são contra. O poder também é dividido entre a nova e a velha guarda. O uso da violência foi colocado de lado há anos. Mas, apesar destas diferentes visões, é a segunda instituição mais organizada do Egito depois do Exército. Em caso de vácuo de poder, tendem a ocupar espaço
15h15 – O Nobel da Paz e líder da oposição, Mohammad El Baradei participa de manifestações na praça Midan al Tahrir, a principal do Cairo. Apesar do toque de recolher, há dezenas de milhares de pessoas nas ruas
14h15 – Hillary Clinton “Os que estão no poder, começando pelo presidente Mubarak, seu novo vice-presidente, seu novo premiê, devem dar início a um processo de aproximação, criando um diálogo com ativistas pacíficos e representantes da sociedade civil  para o estabelecimento de um plano que atenda às reivindicações do povo egípcio”, disse a secretária de Estado. Além de frisar que haverá eleições em setembro, ela disse que o destino de Mubarak “está nas mãos dos egípcios”.
13h55 – Análise – Os países do Oriente Médio, muitas vezes colocados como se fossem um bloco homogêneo, apresentam diferenças nas suas questões domésticas, seus conflitos externos, na configuração de suas economias e na importância para os Estados Unidos e outras nações ocidentais. “Não dá para comparar o Iêmen com o Egito”, diz Reva Bhalla, diretora de Oriente Médio da agência de risco político Stratfor.
Apesar disso, segundo Marwan Mausher, do Carnegie Endowment for International Peace, os Estados Unidos sempre adotaram uma definição de “moderados e radicais baseando-se na postura diante do processo de paz entre israelenses e palestinos”.
Desta forma, a Síria, sendo um regime internamente quase idêntico ao do Egito, é alvo de sanções unilaterais dos americanos por dar apoio a grupos como o Hezbollah e o Hamas, além de ser acusada de sabotar as negociações de Israel com a Autoridade Palestina. Já os egípcios assinaram um acordo de paz com os israelenses há mais de três décadas e contribuem na solução do conflito. Em troca, recebem uma ajuda militar de US$ 1,3 bilhão por ano.
De acordo com Mausher, o mesmo se aplica para os países com petróleo. Tanto o Irã, que é persa e não árabe, como a Arábia Saudita desrespeitam os direitos das mulheres. Mas como os sauditas lançam iniciativas em defesa da solução de dois Estados, enquanto o presidente Mahmoud Ahmadinejad já deu declarações contra a existência de Israel, os iranianos são vistos como párias e os sauditas, como aliados.
“O histórico saudita nos direitos das mulheres e na diversidade política não indica uma postura moderada. Tampouco o Egito com o banimento de partidos. O sistema de governo jordaniano dificilmente se encaixaria em um perfil de moderação”, afirma Mausher. Mas todos são apoiados pelos americanos.
Segundo o especialista, os EUA se acostumaram ao longo do tempo com ditaduras seculares ou monarquias islâmicas absolutistas descritas como “moderadas”. Por este motivo, acabaram não pressionando pela democratização destes países. Na avaliação de Bhalla, da Stratfor, os americanos, assim como a população destes Estados árabes, possuíam uma “barreira de medo”, temendo o que viria depois do fim de um regime ditatorial. Este temor aparentemente se reduziu com os eventos na Tunísia e no Egito. Não haverá, necessariamente, um regime islâmico e há chance de democratização, dizem os analistas.
13h35 – El Baradei diz à CNN que a Irmandade Muçulmana concorda que o Estado não seja religioso. O Nobel da Paz também pediu que Mubarak deixe o poder hoje. Oposição egípcia diz que os EUA estão “do lado errado da história” ao não se posicionarem contra o regime
12h50 – Caças fazem sobrevoo baixo na praça Midan Al Tahrir, no centro do Cairo, onde se concentram as manifestações. Exército parece querer endurecer para reduzir os protestos. Em seguida, provavelmente forçariam a saída de Mubarak.
11h20 – Análise – “Os protestos levaram a administração de Obama de volta para a agenda da liberdade de Bush”, em defesa da democracia no mundo árabe, de acordo com Robert Danin, do Council on Foreign Relations, em Nova York.  O dilema americano, de acordo com analistas, é defender a democratização destes países sem que os governos emergentes sejam contrários aos interesses americanos na região, conforme ocorreu com a vitória do Hamas nas eleições palestinas, o fortalecimento de grupos pró-Irã no Iraque e um governo libanês com enorme influência do Hezbollah.
11h10 – Relatos de uma rede de TV do Egito indicam que o ministro do Interior e um empresários ligado a Mubarak teriam sido presos. O governo egípcio decidiu fechar a rede de TV Al Jazeera e revogou as credenciais de seus jornalistas
10h50 – Análise – Com seus aliados enfrentando dificuldades de Sanaa ao Cairo, a administração de Barack Obama começa a estudar adoção da agenda da liberdade para a democratização do mundo árabe, lançada e abandonada pelo ex-presidente George W. Bush em meados da década passada. A avaliação é de analistas que têm acompanhado os acontecimentos na Tunísia e no Egito.
10h30 (domingo) – Mubarak, em demonstração de força, visitou hoje base militar. Nas ruas, continuam os protestos. Juízes se juntaram às manifestações na praça Midan al Tahrir, no centro do Cairo, onde está o Museu Egípcio. Movimentos políticos pedem a formação de um governo de transição liderado pelo Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Interrnacional de Energia Atômica, Mohammad El Baradei. Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, disse torcer pela estabilidade no Egito e pediu respeito aos acordos de paz
Domingo
23h15 – muitos passageiros no aeroporto do Cairo tentam sem sucesso sair do país. Outros, nos EUA e na Europa, não conseguem embarcar. Há atrasos e cancelamentos nas duas direções
21h25 – Exército do Egito está dando um tempo para Mubarak sair, segundo análises de risco político que acabei de ler. E o prazo é curto
21h15 Comentário – A previsão neste ano era de que os três principais eventos no Oriente Médio seriam a tentativa palestina de buscar unilateralmente a sua independência, o risco de uma nova guerra civil no Líbano e mais pressões contra o programa nuclear iraniano. Claro, todos falavam das eleições do Egito, mas como cartas marcadas. E também da saúde do rei Abdullah da Arábia Saudita
Até acontecer a queda de Ben Ali na Tunísia e os acontecimentos de agora no Egito. Ainda não sabemos qual será a postura palestina. O Líbano está inacreditavelmente calmo nos últimos dias. Israel está mais preocupado com o Cairo do que com Teerã. E precisamos abrir os olhos para a Arábia Saudita. É a velha teoria do Cisne Negro que sempre falo aqui no blog. Os eventos mais importantes nunca são previstos por ninguém. Foi assim com a Revolução Islâmica no Irã em 1979 e o 11 de Setembro. Dois momentos que mudaram para sempre o Oriente Médio. Agora, vivemos mais um deles
21h – O governo está perdendo o controle no Egito. Há relatos de que vilas no Sinai estão nas mãos de tribos de beduínos. A fronteira com Gaza estaria sem polícia. Patrulhas são formadas para garantir a segurança de regiões nos subúrbios do Cairo. Países árabes enviaram aviões para retirar os seus cidadãos do Egito. Apesar do toque de recolher, os protestos prosseguem. Há temor de vandalismo em locais como o Museu Egípcio. Israel está em alerta diante da possibilidade de mudança de regime
19h20 – Duas discussões no momento – 1) Cenário pós-Mubarak  2) Saques nos subúrbios do Cairo
18h10 – Situação nos subúrbios do Cairo começa a ficar fora de controle durante a noite, com saques e violência. Não há presença da polícia fora do centro. Foram formadas algumas patrulhas nestes bairros afastados para combater a violência
18h05 – Análise – Michael Collins, do Middle East Institute, de Washington – “As nomeações de Shafiq para premiê e de Suleiman para vice podem ter ocorrido tarde demais. Deveriam ter sido realizadas na segunda-feira”
18h – Breaking News – Exército do Egito não está mais policiando a passagem de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza. Hamas começa a querer se envolver na crise egípcia e matém contatos com a Irmandade Muçulmana
14h15 – Suleiman, novo vice-presidente, não vai querer ser presidente. O candidato do regime e provável líder egípcio é Ahmad Shafik, novo premiê. O blog adiantou ontem em análise que ele seria o futuro nome forte do Egito. Os filhos de Mubarak já estão em Londres
14h10 - Ahmed Shafik será o novo premiê. O blog adiantou ontem no início do dia que ele era uma das figuras cotadas para substituir Mubarak

13h55 – Análise – A estratégia parece ser a seguinte – Mubarak fica no poder até a eleição de setembro ou renuncia em breve alegando problemas de saúde. Omar Suleiman, respeitado pelos EUA e Israel, assumiria o poder em uma transição para a democracia que afastaria o risco de a Irmandade Muçulmana tomar as rédeas em possível vácuo de poder – Omar Suleiman é chefe da inteligência e foi nomeado vice-presidente há poucos minutos
13h50 – Não descartem a possibilidade de que a escolha de Suleiman tenha sido o primeiro passo para o fim do regime de Mubarak. O novo premiê, muito bem relacionado com os EUA, assumiria o poder e poderia levar adiante reformas
13h35 – Israel não deve se envolver na questão egípcia. Qualquer declaração israelense a favor de Mubarak, que é um aliado, apenas enfraqueceria mais o regime
BREAKING NEWS 13h30 – Omar Suleiman, chefe da inteligência, será o novo vice-presidente. Ele sempre foi muito forte dentro do regime e cotado para substituir Mubarak. Possui ótimas relações com os EUA e Israel. Porém sempre teve uma imagem muito atrelada à do atual presidente egípcio. Em caso de deposição de Mubarak, teria dificuldades de conseguir apoio da população
13h25 – Análise – Os Estados Unidos tendem a voltar a defender a agenda da liberdade de George W Bush. A administração de Barack Obama não concorda mais com o status quo do mundo árabe, divido entre monarquias absolutistas e ditaduras seculares – apenas o Líbano e o Iraque possuem frágeis democracias. A expectativa é de que os acontecimentos na Tunísia e agora no Egito levem a uma terceira via, da democracia. Há o risco de o efeito ser contrário e governos hostis aos EUA, ainda que mais democráticos, emergirem. Outra possibilidade seriam novas ditaduras
13h16 – Os protestos prosseguem hoje no Cairo, apesar do toque de recolher ter sido antecipado para às 16h locais. A internet permanece bloqueada, apesar dos pedidos dos EUA para que fosse liberada
12h – A experiência de cobertura em tempo real ontem valeu a pena. É claro, gostaria de estar no Cairo, acompanhado de perto os acontecimentos, como fiz no Haiti, Israel-Gaza e Honduras. Mas, sem alternativa, montei o esquema de atualizar o blog e o twitter o tempo todo. E voltarei a qualquer momento.
Apenas para vocês saberem os bastidores, eu fiquei com a TV na CNN, acompanhava a Al Jazeera no iPad, seguia uma série de fontes de informação no Twitter, lia os principais órgãos de imprensa internacionais e conversava com amigos analistas. Muitos leitores deram informações fundamentais
Com estas fontes, o blog conseguiu dar em primeira mão a prisão do Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, em uma mesquita do Cairo. Também informamos antes dos outros o apedrejamento de Ayman Nour. No fim do dia, fomos na via errada, assim como muita gente, ao cogitar a possibilidade de que Hosni Mubarak havia sido destituído.
As análises ajudaram. O cenário da manhã se provou correto. Escrevi às 9h45 de ontem (6h45 aqui de Nova York) – Três cenários estudados pela agência de risco político Eurasia - 1) (Mais provável) Hoje é apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tende a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo 2) (pouco provável) Como na Tunísia, os militares chegarão à conclusão de que é melhor remover Mubarak do poder 3) (menos provável) Governo obtém sucesso na repressão aos protestos
Ainda é cedo para definir o que ocorrerá no Egito no médio prazo. Mais tarde, volto com mais posts.
BREAKING NEWS – Mubarak na TV- Demitiu seu gabinete, mas ele continua no poder. Segundo o analista Fareed Zakaria, na CNN, o Exército optou por apoiar Mubarak. “Não foi como a Tunísia”, disse, se referindo aos militares tunisianos, que se voltaram contra Ben Ali. Na avaliação dele o líder egípcio tentou se mostrar forte. “Mas pode ter sido um cálculo errado”, concluiu
BREAKING NEWS – Mubarak na TV do Egito – “Devemos ficar um ao lado do outro. Vi as demonstrações. Disse ao governo para dar a eles o espaço para que digam o que quiserem e precisarem. Depois disso, estava tão preocupado com os oficiais e os civis feridos. Era óbvio que as forças de segurança quiseram que os protestos fossem pacíficos e dentro da lei.
Como presidente deste país e com todo o poder que a Constituição me dá, garanto que estamos dando liberdade de opinião desde que respeitem a lei. Há uma linha tênue entre liberdade e caos. Estou do lado da liberdade de cada cidadão. Ao mesmo tempo, estou ao lado da segurança do Egito. Não vou deixar que nada perigoso ameace a paz e a lei.
Egito é o maios país da região. E está sob as leis de sua Constituição. Devemos tomar cuidado com qualquer coisa que provoque o caos. Nenhuma democracia pode permitir o caos. Estas manifestações queriam demonstrar as suas opiniões para ter mais empregos, para reduzir os preços e combater a pobreza. Eu sei sobre todos estes problemas que as pessoas estão pedindo. Trabalho para isso todos dias.”
20h20 – Agora, a Nile TV, do Egito, diz que Mubarak fará um discurso. O Canal 10 de Israel, por sua vez, afirma que Mubarak está em um avião a caminha da Suíça
BREANKING NEWS – PRESIDENTE DO PARLAMENTO IRÁ FALAR NA TV DO EGITO. HÁ ESPECULAÇÕES DE QUE MUBARAK PODE TER DEIXADO O PODER
20h – Conclusão – O dia termina no Egito com o cenário mais provável indicado no início deste post se realizando. Hoje foi apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tende a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo. Pode haver instabilidade e rachas no regime.
Os Estados Unidos adotaram uma posição contrária às atitudes do regime egípcio de reprimir os protestos e bloquear o uso da internet. O presidente Barack Obama sequer conversou por telefone com Hosni Mubarak. Porém o governo americano não defendeu a renúncia do líder egípcio e tampouco o fim do regime. Mubarak foi a grande peça ausente do dia. Ninguém sabe se ele está no Cairo ou Sharm el Sheikh, no Sinai. Prometeu fazer um discurso, mas desapareceu.
18h15 – Casa Branca – “Obama recebeu relatório durante a madrugada sobre a situação. Ficou 40 minutos discutindo a situação no Egito. Nossa embaixadora está em contato, mas o presidente não falou com Mubarak. Não é escolher entre uma pessoa ou um país. Forças de Seguranças e manifestantes devem evitar a violência. A internet e sites devem ser desbloqueados. As reivindicações devem ser atendidas pelo governo, através do diálogo. Liberdade de expressão e de social. Esta situação será resolvida pela população do Egito. É importante para o governo egípcio. Vamos rever a nossa assistência (financeira) com base no que ocorrer nos próximos dias.”
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17h15 - A Casa Branca decidiu adiar a divulgação de um comunicado oficial sobre a situação no Egito. Não foi dada uma explicação oficial. O líder egípcio, Hosni Mubarak, também anunciou que faria um discurso três horas atrás. Mas, até agora, ele não falou. Uma comissão da alta cúpula militar egípcia está em Washington para reunião estratégicas que já estavam previstas. Começam a crescer especulações de que Mubarak pode ser afastado nos próximos dias, dependendo de como o cenário evoluir
16h50 – As manifestações  prosseguem agora à noite no Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades do Egito três horas depois do início do toque de recolher e com o Exército nas ruas. O presidente Hosni Mubarak anunciou ao redor das 18h no Cairo (14h no Brasil) que faria um discurso. Até agora, não apareceu. Tampouco está claro se ele está na capital egípcia ou no balneário de Sharm el Sheikh, onde costuma passar a maior parte do tempo. A Casa Branca deve divulgar um comunicado oficial sobre a situação nos próximos minutos.
15h50 Análise – Quem seria o homem que o regime indicaria para o lugar de Mubarak, se ele cair? O chefe da inteligência Omar Suleiman? Reva Bhalla, diretora de Oriente Médio da Stratfor – “Suleiman é muito respeitado, por ser o mais antigo. Era a solução de compromisso até pouco tempo atrás. Mas, agora, perdeu força. O mais poderoso, que foi chefe da Força Aérea e hoje atua como ministro da Aviação Civil, é Ahmed Shafik.”
BRAKING NEWS – Hillary comenta Egito – 15h12 – A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu reformas no Egito e pediu para que o regime de Mubarak permita as manifestações. A seguir, trechos do discurso dela -  “Estamos preocupados com o uso da força. Pedimos ao governo Egito que contenha as suas forças de segurança. Os manifestantes devem ter o direito de se expressar pacificamente. Defendemos os direitos universais, como o direito à associação e à expressão. O Egito deveria permitir as manifestações. O Egito não deveria cortar as comunicações e precisa entender que a violência não ajudará a superar as reivindicações do povo. O Egito deveria fazer reformas, disse o presidente Obama. E o Egito é nosso parceiro. Nós acreditamos fortemente que eles deveriam se envolver em reformas econômicas, políticas e sociais. Os egípcios deveriam viver em uma sociedade democrática com respeito aos direitos humanos”.
15h – Análise – A população não bate de frente com os militares. Significa, talvez, que eles ainda respeitem esta instituição, mas não o regime. Consequentemente, a possibilidade de o Exército remover Mubarak não pode ser descartada. Seria igual ao que ocorreu na Tunísia com Ben Ali. E o presidente ainda não apareceu para pronunciamento
14h45 – A Casa Branca divulgou comunicado afirmando que os EUA “estão muito preocupados com a violência no Egito. O governo deve respeitar os direitos sociais do povo egípcio e liberar as redes sociais e a internet”
Breaking News – Incêndio na sede do partido de Mubarak no Cairo – 14h30 – Há um incêndio na sede do Partido Nacional Democrata, de Hosni Mubarak. Há explosões perto do Ministério da Informação. O líder do regime deve falar nos próximos minutos
14h25 – Egípcios continuam nas ruas, apesar do toque de recolher imposto pelo regime, iniciado às 18h do Cairo (14h de SP). Todos aguardam o discurso de Hosni Mubarak, previsto para os próximos minutos. Há informações de que mais de mil pessoas foram detidas. O líder da oposição e Nobel da Paz, Mohammad El Baradei, está sob prisão domiciliar
BREAKING NEWS – MUBARAK FARÁ DISCURSO DAQUI A POUCO – Líder egípcio deve entrar em rede nacional, segundo a CNN. Deve ser nos próximos minutos. A decisão de enviar o Exército para as ruas foi do próprio Mubarak, segundo a mídia estatal. Pode ser uma tentativa de mostrar que o presidente ainda está no comando. Al Jazeera exibe cena de manifestantes tentando empurrar veículo militar para o rio Nilo. Toque de recolher foi imposto no Cairo
13h30 - Toque de recolher será imposto às 18h (14h de São Paulo) pela polícia em todo o Egito. Dificilmente será respeitado. A polícia está invadindo neste momento o prédio de operam diversas organizações de imprensa estrangeiras, ao lado da Midan Al Tharir. A Al Jazeera temem que sua transmissão seja interrompida. Manifestantes mais uma vez começam a fazer as orações islâmicas antes do pôr do sol diante dos policiais. É um dos símbolos da manifestações. Há incêndios em Alexandria. Em Suez, os manifestantes superam a polícia
Breaking News 13h10 – Exército saiu para as ruas do Cairo. Não está claro ainda se em grande quantidade e tampouco de que lado estão. Eles costumam ser mais respeitados do que a polícia pela população. Alguns celebraram os soldados. A posição dos militares será chave para definir o futuro de Mubarak. Segundo Ibrahim Arafat, da Universidade do Qatar, a presença dos militares significa que a polícia fracassou. O futuro está nas mãos dos militares. Na Tunísia, eles foram decisivos para a queda de Ben Ali. Mubarak está nas mãos do Exército.E confirmada a prisão domiciliar de El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz
12h46 - Informações não confirmadas ainda, mas que circulam por mídias sociais, indicam que El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz, teria sido levado da mesquita, onde estava detido, segundo a rede de TV Al Jazeera, para prisão domiciliar no Cairo. Repórter da BBC que apareceu sangrando no ar confirmou ter sido agredida pela polícia
12h37 – A pergunta principal no momento é sobre qual será a atitude do Exército diante das manifestações. Na Tunísia, Ben Alin renunciou no momento em que os militares se recusaram a combater os protestos. No Egito, até agora, a polícia permanece responsável por lidar com os levantes contra o regime de Mubarak. Conforme os protestos se intensificarem, talvez seja necessário recorrer aos militares. Por enquanto, o Exército se mantém calado. Um analista, na Al Jazeera, acabou de dizer que, se fosse integrante do partido do Mubarak, “estaria urinando nas calças”.
12h20 – Análise – Reva Bhalla (diretora de Oriente Médio da Eurasia) – Mesmo antes dos protestos, muitos militares da velha guarda estavam irritados com ao possível apoio de Mubarak ao seu filho Gamal nas eleições de setembro. Eles preferem que assuma um deles próprios. Note como Mubarak está quieto e, mais importante, a ida de Gamal para Londres. Eles estão prestando atenção nos protestos. Se perceberem que o foco está no Mubarak, trabalharão por sua renúncia. Mas eles precisam tomar cuidado, ao mesmo tempo, para não perder o controle das ruas.
12h05 – Até agora, o governo dos Estados Unidos não se manifestou sobre os protestos de hoje no Cairo. Barack Obama está recebendo informações o tempo todo sobre o cenário. O Egito é um aliado dos EUA, recebendo bilhões em ajuda militar. Por enquanto, a posição americana é cautelosa, esperando para ver o rumo dos acontecimentos. Para a próxima semana, está previsto um diálogo sobre questões militares envolvendo autoridades dos dois países. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h55 – Al Jazeera exibe imagens de civis feridos nas ruas do Cairo. Muitos sangrando. Manifestantes começam a lançar pedras contra a polícia, forçando o recuo do blindado na principal ponte do Cairo, sobre o rio Nilo. Analistas dizem que o Egito nunca voltará mais ao status quo anterior
11h40 – Em algumas partes de Alexandria, policiais começam a se juntar aos protestos. “Também somos do povo”, dizem alguns membros das forças de segurança ao se juntaram aos atos contra Mubarak. “Não vamos lutar contra vocês”. Em outras áreas da cidade mediterrânea, há confrontos. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h35 - Momento Praça Tiananmen na ponte 6 de Outubro no Cairo. Manifestantes conseguem fazer blindado da polícia recuar. Também superam policiais com pedras. Há uma explosão no meio das forças de segurança, que começam a perder o controle do Cairo. Fumaça na ponte principal da capital egípcia, sobre o rio Nilo. Seria um coquetel Molotov lançado pelos manifestantes.
11h30 - Políticos ligados ao governo começam a criticar regime em redes de TV árabes. Podem ser os primeiros rachas. Em Suez, policiais são cercados pela população e param de combater os protestos. Chama a atenção a ausência do Exército. Correspondente da BBC em árabe aparece no ar sangrando. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h15 – Ayman Nour, secular e líder da oposição egípcia, foi apedrejado quando deixava uma mesquita no Cairo. Está na UTI. Ele sofre de diabetes. Nas ruas do Cairo, pessoas começam a rezar diante dos policiais. Cristãos coptas prometem dar abrigo a membros da Irmandade Muçulmana caso eles sejam perseguidos pelo regime
11h10 – A polícia perdeu o controle em Suez. Em Alexandria, há incêndios e a violência se disseminou por toda a cidade. Cartazes de Mubarak são queimados. Manifestantes continuam saindo às ruas. No Cairo, protestos se aproximam do Palácio Presidencial. Uma menina morreu. El Baradei é mantido preso dentro e uma mesquita na capital egípcia.
11h05 – A prisão de El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz, começou uma hora antes das orações de sexta, que começa às 12h (hora do Cairo). Quando ele entrou na mesquita, a polícia estava dentro. Assim que acabou a cerimônia, alguns foram para o lado de fora e começaram a se manifestar dizendo “Deus é Grande” e pedindo o fim do regime. El Baradei não estava entre eles. Os policiais reagiram com violência. Os manifestantes voltaram para dentro da mesquita. Havia mulheres e crianças. Um homem sofreu um ataque cardíaco. Outrocs ficaram feridos. Mais uma vez, tentaram ir para as ruas. A polícia impôs um cerco e proibiu a saída de El Baradei, de seu irmão e de seus assessores de dentro de mesquita. Ele continua lá dentro.
11h05 – Chama a atenção a ausência do Exército nas ruas. Apenas a polícia está combatendo. Talvez tenha havido ruptura. Os protestos são considerados os maiores da história do Egito. Há 20 manifestantes para cada policial
11h - Alguns jornalistas estrageiros são impedidos de entrar no Egito. Outros omitem ser da imprensa para conseguir ingressar no país
10h25 – Cenas da Al Jazeera são impressionantes. Informações indicam que dezenas ou mesmo centenas de milhares de pessoas estão nas ruas no Cairo, Suez e Alexandria. Há muitas mulheres e crianças. Protestos aumentaram depois do fim das orações muçulmanas de sexta-feira. Gritam diantes dos policiais que querem o fim do regime e a queda do Mubarak. Um manifestante entrou na frente da câmera da rede de TV e gritou “Acabou Mubarak”. Em determinados pontos, as forças de segurança perdeu o controle. Nos choques há muitos feridos, incluindo jornalistas estrangeiros. Não há relatos de mortos ainda. El Baradei, líder da oposição, foi preso, segundo a rede de TV.
10h20 - Polícia retirou a câmera da  CNN e impediu a equipe da rede de TV de seguir trabalhando na praça Midan Al Tahrir. Al Jazeera exibe imagens da população partindo para cima dos policiais, que reagem com violência. Há cartazes pedindo para Mubarak ir embora. Protestos no Cairo, apesar da repressão, começam a crescer
10h05 – Há duas versões sobre o destino de El Baradei. Uma delas diz que foi levado para a prisão. Em outra, ele estaria retido pela polícia em uma mesquita e impedido de falar com a imprensa e participar das manifestações
10h – EL BARADEI PRESO – El Baradei, Nobel da Paz e um dos líderes da oposição do Egito, foi preso pelo regime de Mubarak enquanto rezava na mesquita, de acordo com a rede de TV Al Jazeera
9h55 - Em Alexandria, centenas de pessoas começam a emergir das mesquitas entoando gritos para que Mubarak seja deposto. Arrancam cartazes do governo. Há choques com a polícia. A situação é caótica, descrita como pandemônio. Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, está preso, segundo a rede de TV Al Jazeera.
EL BARADEI ESTÁ PRESO - Informação é da rede de TV Al Jazeera
9h50 – AL Jazeera – Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, teria sido preso. Imagens de centenas de pessoas cruzando ponte no Cairo em direção à praça Midan Al Tahrir, no centro da cidade. Em seguida, elas começam a correr na outra direção por serem perseguidas pela polícia
9h45 – Três cenários estudados pela agência de risco político Eurasia - 1) (Mais provável) Hoje é apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tenfe a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo 2) (pouco provável) Como na Tunísia, os militares chegarão à conclusão de que é melhor remover Mubarak do poder 3) (menos provável) Governo obtém sucesso na repressão aos protestos
9h35 – Ben Wedeman (CNN) - “As pessoas estão tentando protestar na praça Midan al Tahrir, mas a polícia começou a reprimir. Pode ser o começo de um dia muito violento. A polícia parte para cima dos jornalistas e de manifestantes pacíficos. Alguns policiais estão inflitrados com roupas civis no meio da população. No momento, os manifestantes estão correndo. Não dá para enviar mensagens de texto pelo celular”
9h30 (hora de SP) – Reva Bhalla (diretora de risco político da Stratfor) – “Mesmo antes dos protestos, muitos militares da velha guarda estavam irritados com ao possível apoio de Mubarak ao seu filho Gamal nas eleições de setembro. Eles preferem que assuma um deles próprios. Note como Mubarak está quieto e, mais importante, a ida de Gamal para Londres. Eles estão prestando atenção nos protestos. Se perceberem que o foco está no Mubarak, trabalharão por sua renúncia. Mas eles precisam tomar cuidado, ao mesmo tempo, para não perder o controle das ruas.”
9h20 (hora de SP) - Apesar da repressão policial, as pessoas estão nas ruas e protestando. Há relatos de choques com a polícia. As orações da sexta já terminaram. Neste momento, as manifestações devem crescer. Em Alexandria, a polícia começou a usar gás lacrimogêneo. De acordo com o Ministério do Interior, protestos hoje no Egito serão considerados ilegais
8h50 (hora de SP) - Facebook, Twitter e Blackberry estão bloqueados no Egito. Em alguns momentos, tampouco há internet Ação do governo visa sabotar manifestações de hoje. Protestos estão proibidos pelo governo, com segurança espalhada por toda a cidade. Mesmo assim, manifestantes disem que irão às ruas. Há relatos de que jornalistas não podem sair de seus hotéis. Tradicionais orações islâmicas das sextas foram banidas em algumas mesquitas
8h30 – Reva Bhalla (diretora de risco político da Stratfor) afirmou para mim – “As próximas 24 horas serão decisivas, com os protestos marcados para hoje. As manifestações dos últimos dias quebraram a barreira do medo de se opor ao regime. A população acredita que pode protestar. Hoje, por ser sexta (dia de folga no Egito), mais pessoas poderão sair às ruas. Desde que estas manifestações começaram, o tom dos oficiais, sempre confiantes, mudou um pouco. Por este motivo, haverá uma tolerância zero hoje. Não podemos esquecer que o Egito tem um forte aparato de segurança.”
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527 Comentários 
  • 28/01/2011 - 08:56
    Enviado por: Ali Abdulhamid
    O Governo do Egito está colocando 1.5 milhão de policiais nas ruas…
    Duvido que segurará muita coisa… mas eu não posso garantir nada…
    Espero que estes protestos não sejam iguais aos do que ocorreu no Irã…
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  • 28/01/2011 - 09:09
    Enviado por: Florentina
    Tenho percebido que muitos que acompanham estes movimentos de protestos prol a reformas políticas nestes países com maioria árabe imaginam mudanças democráticas, dentro do modelo de democracias ocidentais.
    Não se percebe ainda o perfil do protestante quanto a isso.
    Estes países continuam com maioria árabe, inclusive no Egito, com participação numerosa de ativistas, que são também ativistas por regras religiosas, como a obrigatoriedade do véu é da proibição do uso de burkina (não estou criticando o uso do véu e a favor da burkina, apenas apontando perfis sociais diferentes).
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    Portanto não se pode assegurar que o modelo político que buscam seja a democracia modelo ocidental.
    Não estou criticando o Islã, apenas mostrando que temos diferentes linhas de pensamentos quanto a reformas políticas, e estas no mundo oriental, continuam sendo nos moldes árabes.
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    Vejo que a decisão para uma solução deste caso pode estar mais nas mãos das Forças Armadas que de Hosni Mubarak.
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    • 28/01/2011 - 10:46
      Enviado por: Youssef S
      Florentina,
      Em minha opinião, penso q vc misturou e generalizou.
      O egipcio é árabe, fala árabe porém está dentro da órbita política ocidental, porisso não tem sentido falar em “moldes árabes”. Também é multireligioso, como o Líbano, apesar dos radicais, por isso tem que se tomar cuidado em apontar já que um grupo religioso irá tomar o poder, instalar a ditadura da burka, etc… Oxalá não seja por ai. ENFIM ha que se analisar a conjuntura do Egito. O que os manifestantes querem são coisas mais pueris: aumento do salário mínimo, mais liberdade de imprensa, menos corrupção…Lembre-se que quase 70% da população tem menos de 30 anos ou seja querem um outro representante, e estes jovens compoe a maior parcela dos desempregados, que não é pequena.
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      Concordo com o Ali, eles tem todo o direito de se manifestar contra este estado de coisas. Impossivel não se espelhar no que nós democracias ocidentais, com todas as imperfeições, temos de bom, justo e meritório, mas não somos exemplos perfeitos, até por que “democarcias ocidentais” tb é um termo amplo demais pra generalizar.
      Abraço.
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    • 28/01/2011 - 11:01
      Enviado por: MBraz
      Florentina, estou acompanhando os acontecimentos também, e se vc for ao site da CNN e ouvir a entrevista do El Baderei e de alguns protestantes, o que eles querem sim é uma democracia nos moldes ocidentais. O que não tem nada a ver com a religião do país, ou seja, eles querem uma democracia moderna com liberdade religiosa, não uma nova teocracia como no Irã.
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      O desejo do povo egípcio é claro e nítido, e eles estão desapontados com o silêncio dos EUA (como os anti-americanos-comunas/piás-de-prédio dizem por aqui, os EUA usam o “dois pesos, duas medidas” quando o assunto é criticar regimes ditatoriais, o que é verdade)
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      Obama tá numa sinuca de bico e, quando ele ver o regime degringolar de vez, deverá sair do muro e apoiar as reformas democráticas. Obama é o Reagan assistindo a queda do Muro de Berlim. Sucesso para o Egito, Tunísia, Jordânia…
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    • 29/01/2011 - 12:03
      Enviado por: José Maciel
      Também fiquei bastante preocupado com o que poderia acontecer caso a Irmandade Muçulmana exercesse influência demais sobre o processo de mudança política no Egito. Uma simples pesquisa na velha Wikipedia (em inglês) me deixou mais aliviado:
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      É claro, os enormes ganhos nas eleições de 2005 permitiram à Irmandade colocar “um desafio político democrático ao regime, não um desafio teológico” .Inicialmente, houve ceticismo generalizado sobre o comprometimento do movimento em usar a sua influência para levar o Egito em direção à democracia.(…) No entanto, considerando suas ações no parlamento egípcio desde 2005, parece que esses céticos julgaram mal. Em um artigo, Samer Sehata da Universidade de Georgetown e Joshua Stacher da Universidade Britânica no Egito afirmam que foi a Irmandade Muçulmana que reviveu um parlamento que até então tinha “uma reputação de ser um carimbo do regime”. De acordo com suas observações, o movimento não simplesmente “se focou em banir livros e legislar sobre o comprimento das saias” Em lugar disso, o envolvimento do movimento mostra tentativas de reformar o sistema político. Ao contrário de outros membros do parlamento, os associados com a Irmandade tomaram suas responsabilidades parlamentares com muita seriedade. (…) Além disso, eles também tomaram seu papel como membros da oposição ao NDP muito seriamente. Um exemplo significativo é a criação de uma oposição considerável à extensão da Lei de Emergência quando parlamentares associados à Irmandade “formaram uma coalizão com outros legisladores de oposição e com membros do NDP simpáticos à ideia, para protestar contra a extensão”. O comportamento geral do movimento levou Shelata e Stacher à conclusão de que a Irmandade convincentemente tentou transformar “o parlamento egípcio em um corpo legislativo real, em uma instituição que representa os cidadãos e em um mecanismo que mantém o governo transparente”.
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      A Irmandade Muçulmana no Egito iniciou seu trabalhos na cidade de Ismailia (uma das cidades onde ocorreram protestos notáveis, vejam só). Tinha uma postura conservadora, embora fosse bastante comprometida com os direitos dos trabalhadores. Com a influência britânica continuando mesmo com a independência do Egito, um golpe de estado em resposta a isso em 1952 e os regimes autoritários subsequentes, a Irmandade ganhou um caráter mais violento. Durante a década de 30, cultivou laços com os nazistas (em aversão à influência britânica no país). Em 1948, um membro do movimento assassinou o primeiro-ministro, em resposta ao fato de que a Irmandade havia sido ilegalizada. Sob o regime de Gamal Abdel Nasser, houve muita perseguição e tortura, e uma acusação de participação na tentativa mal-sucedidade de assassinato do ditador, em 1954.
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      A Irmandade sempre foi bem vista por suas várias iniciativas em prol do bem-estar social, como a contrução de escolas, farmácias e hospitais. Ultimamente, sua ideologia se volta para uma “democracia Islâmica” no Egito. O movimento tem, no entanto, se liberalizado através de seus membros que adotaram a Internet como um meio de fazer política. Eles se distanciam da ala “off-line” do movimento, criticando-o por posturas conservadoras, como a defesa da proibição de que cristãos coptas e mulheres possam ocupar o cargo de presidente.
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      Voltando às minha palavras: acredito que a Irmandade Muçulmana tenha aprendido, com sua marginalização do processo político por tanto tempo, que só numa democracia sua voz poderia ser realmente ouvida. A eleição de 88 represantantes do movimento para o parlamento ainda deu à Irmandade uma experiência de atuação no proceso político de uma República invejável (lembrem-se do segundo parágrafo). Fiquei bastante contente com o fato de que ela está se liberalizando, especialmente devido ao ativismo on-line. Vale lembrar também uma coisa: desde ontem estou passando períodos consideráveis do dia ligado na tranmissão da Al-Jazeera pela Internet ( http://english.aljazeera.net/watch_now/ ). Uma das coisas que eu mais ouço os analistas abordarem é o fato de que a força responsável pelas manifestações é uma rainbow coalition (coalizão arco-íris): tem muitas forças políticas distintas, de liberais a ultra-conservadores. Como todas essas entidades políticas têm importância no processo, o único meio de agregá-las é dando voz a todas elas, e isso só é possível numa democracia. E, algo importantíssimo, hoje de manhã, nos protestos massivos e pacíficos, havia muitas mulheres. Uma das cenas que mais me marcaram foi a de uma moça de burqa levantando um grande cartaz amarelo. Não, não acho que o Egito se torne o Irã-2011
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quarta-feira, janeiro 26, 2011

Os tristes dias do nosso infortúnio - Baptista Bastos

Os tristes dias do nosso infortúnio

Na terça-feira, 26 de Outubro, p.p., assistimos, estupefactos, a um espectáculo deprimente. 
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O dr. Cavaco consumiu vinte minutos, no Centro Cultural de Belém, a esclarecer os portugueses que não havia português como ele. Os portugueses, diminuídos com a presunção e esmagados pela soberba, escutaram a criatura de olhos arregalados. Elogio em boca própria é vitupério, mas o dr. Cavaco ignora essa verdade axiomática, como, aliás, ignora um número quase infindável de coisas.

O discurso, além de tolo, era um arrazoado de banalidades, redigido num idioma de eguariço. São conhecidas as amargas dificuldades que aquele senhor demonstra em expressar-se com exactidão. Mas, desta vez, o assunto atingiu as raias da nossa indignação. Segundo ele de si próprio diz, tem sido um estadista exemplar, repleto de êxitos políticos e de realizações ímpares. E acrescentou que, moralmente, é inatacável.

O passado dele não o recomenda. Infelizmente. Foi um dos piores primeiros-ministros, depois do 25 de Abril. Recebeu, de Bruxelas, oceanos de dinheiro e esbanjou-os nas futilidades de regime que, habitualmente, são para "encher o olho" e cuja utilidade é duvidosa. Preferiu o betão ao desenvolvimento harmonioso do nosso estrato educacional; desprezou a memória colectiva como projecto ideológico, nisso associando-se ao ideário da senhora Tatcher e do senhor Regan; incentivou, desbragadamente, o culto da juventude pela juventude, característica das doutrinas fascistas; crispou a sociedade portuguesa com uma cultura de espeque e atrabiliária e, não o esqueçamos nunca, recusou a pensão de sangue à viúva de Salgueiro Maia, um dos mais abnegados heróis de Abril, atribuindo outras a agentes da PIDE, "por serviços relevantes à pátria." A lista de anomalias é medonha.

Como Presidente é um homem indeciso, cheio de fragilidades e de ressentimentos, com a ausência de grandeza exigida pela função. O caso, sinistro, das "escutas a Belém" é um dos episódios mais vis da história da II República. Sobre o caso escrevi, no Negócios, o que tinha de escrever. Mas não esqueço o manobrismo nem a desvergonha, minimizados por uma Imprensa minada por simpatizantes de jornalismos e por estipendiados inquietantes. Em qualquer país do mundo, seriamente democrático, o dr. Cavaco teria sido corrido a sete pés.

O lastro de opróbrio, de fiasco e de humilhação que tem deixado atrás de si, chega para acreditar que as forças que o sustentam, a manipulação a que os cidadãos têm sido sujeitos, é da ordem da mancha histórica. E os panegíricos que lhe tecem são ultrajantes para aqueles que o antecederam em Belém e ferem a nossa elementar decência.

É este homem de poucas qualidades que, no Centro Cultural de Belém, teve o descoco de se apresentar como símbolo de virtudes e sinónimo de impolutabilidade. É este homem, que as circunstâncias determinadas pelas torções da História alisaram um caminho sem pedras e empurraram para um destino que não merece - é este homem sem jeito de estar com as mãos, de sorriso hediondo e de embaraços múltiplos, que quer, pela segunda vez, ser Presidente da nossa República. Triste República, nas mãos de gente que a não ama, que a não desenvolve, que a não resguarda e a não protege!

Estamos a assistir ao fim de muitas esperanças, de muitos sonhos acalentados, e à traição imposta a gerações de homens e de mulheres. É gente deste jaez e estilo que corrói os alicerces intelectuais, políticos e morais de uma democracia que, cada vez mais, existe, apenas, na superfície. O estado a que chegámos é, substancialmente, da responsabilidade deste cavalheiro e de outros como ele.

Como é possível que, estando o País de pantanas, o homem que se apresenta como candidato ao mais alto emprego do Estado, não tenha, nem agora nem antes, actuado com o poder de que dispõe? Como é possível? Há outros problemas que se põem: foi o dr. Cavaco que escreveu o discurso? Se foi, a sua conhecida mediocridade pode ser atenuante. Se não foi, há alguém, em Belém, que o quer tramar.

Um amigo meu, fundador de PSD, antigo companheiro de Sá Carneiro e leitor omnívoro de literatura de todos os géneros e projecções, que me dizia: "Como é que você quer que isto se endireite se o dr. Cavaco e a maioria dos políticos no activo diz 'competividade' em vez de 'competitividade' e julga que o Padre António Vieira é um pároco de qualquer igreja?"

Pessoalmente, não quero nada. Mas desejava, ardentemente desejava, ter um Presidente da República que, pelo menos, soubesse quantos cantos tem "Os Lusíadas."


b.bastos@netcabo.pt

Sinais de fogo. - Tomás Vasques


Segunda-feira, 3 de Janeiro de 2011
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A Europa está em declínio acentuado, a todos os níveis. O que vem aí, nesta década que agora se inicia, nem os bruxos conseguem adivinhar. Mas não é só o declínio económico e a consequente perda gradual de direitos sociais. São os direitos políticos, as liberdades e as garantias dos cidadãos e a qualidade da democracia que se enfraquecem dia a dia. O partido conservador no poder na Hungria – país membro da EU – aprovou uma lei que prevê, entre outras «pérolas», pesadas multas (até 750 mil euros) aos jornalistas que publiquem notícias que não sejam «politicamente equilibradas» ou que ofendam «o interesse público» ou a «ordem moral». Uma entidade reguladora, nomeada pelo governo, aplicará a lei, tendo ainda muitos outros poderes, incluindo o acesso prévio ao material informativo. O jornal húngaro Népszabadság titula em primeira página, em todas as línguas da EU: «A liberdade de imprensa na Hungria acabou». Também, segundo o DN, o governo português prepara-se para entregar às polícias norte-americanas os ficheiros dos portugueses, que constam do Arquivo de Identificação Civil e Criminal e a base de dados de ADN, que se encontra no Instituto de Medicina Legal, em Coimbra. A devassa generalizada da vida privada dos cidadãos, através das escutas telefónicas, em nome da luta contra o terrorismo ou contra a corrupção, com a cumplicidade de quase toda a gente, foi o primeiro rombo no património democrático europeu. A partir daí, como vamos assistindo, muitos outros rombos se seguem. Até onde? Até quando?


Por Tomás Vasques às 08:51
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http://hojehaconquilhas.blogs.sapo.pt/1210188.html
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Presidenciais 2011 (20) - Ponto final.

Segunda-feira, 24 de Janeiro de 2011
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Muitos comentadores e analistas políticos associam o PS, o governo e José Sócrates aos derrotados nas presidenciais. Ao contrário, contra a corrente, associo o PS, o governo e José Sócrates aos vencedores. Não coloco sequer a hipótese de vitória eleitoral de Manuel Alegre (coisa só atingível nas cabeças de Helena Roseta, Louçã e mais uma centena de «poetas» da política portuguesa), mas apenas da hipótese de uma segunda volta nestas eleições, onde Alegre iria obter, inevitavelmente, qualquer coisa entre os 30 a 40% por cento. Um resultado deste tipo serviria de trampolim para as maiores diatribes contra as políticas do governo de «subordinação aos interesses do FMI, do imperialismo, do capitalismo e dos especuladores financeiros». Perante os resultados que se verificaram, José Sócrates e o Governo têm apenas pela frente um adversário político tímido e fragilizado (pelos resultados e pelo «caso BPN») – Cavaco Silva. No rescaldo de uma segunda volta, José Sócrates (e sobretudo o PS) teriam pela frente, para além de Cavaco Silva (reeleito com uma expressão eleitoral mais sólida), um Alegre a reclamar quase dois milhões de votos e Louçã a reclamar uma vitória estrondosa do BE e a exigirem, ambos, uma «mudança de políticas», entalando o PS e procurando o seu isolamento e desmoronamento. Por isso, insisto: o PS, o governo e José Sócrates encontram-se entre os vencedores da noite eleitoral.


Por Tomás Vasques às 15:27
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http://hojehaconquilhas.blogs.sapo.pt/1215441.html
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Presidenciais, danos colaterais à esquerda (os casos do PCP e do BE)

Machina Speculatrix

O tempo é um dispositivo que impede que tudo aconteça de uma vez.


Publicado por Porfirio Silva On 24.1.11  
Bo Bartlett, America, 2007

Podem tecer-se as mais variadas considerações acerca do desempenho de Francisco Lopes como candidato presidencial, o conteúdo e o estilo da campanha, a instrumentalidade das presidenciais para a manobra interna partidária e muitas outras coisas de que podemos ou não gostar. Não obstante, não foi certamente por culpa do PCP que a esquerda perdeu esta presidencial. Nem esta nem nenhuma outra. O PCP sempre soube, neste tipo de eleições, preservar a sua reserva de identidade sem alienar as condições de convergência à esquerda quando ela se torne possível e útil. Com maior ou menor brilho, foi também o que aconteceu desta vez.
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Já o mesmo não se pode dizer do BE. O processo que terminou com a reeleição do pior PR desta democracia constitucional, incluindo a elevada percentagem de voto branco e outras formas de rejeição explícita do "sistema", é o ponto cimeiro da estratégia de condicionamento que Louçã tem conduzido como forma de relacionamento à esquerda.
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A vertente anti-PCP dessa estratégia não é desprezível: se Cunhal, para apelar ao voto em Soares, teve de pedir aos comunistas para taparem a cara no boletim de voto com uma mão e marcarem a cruz com a outra, imagine-se o que Jerónimo não teria de lhes pedir se tivessem de votar em Alegre. É que Alegre será uma das poucas pessoas que terá deixado ao PCP do PREC uma recordação mais amarga do que o próprio Soares. Mas claro que, para a estratégia de afirmação de Louçã, fazia todo o jeito humilhar o PCP ao voto obrigado no "seu" candidato.
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A vertente anti-PS da mesma estratégia foi ainda mais evidente. Marcando Alegre como candidato do Bloco, Louçã deixava duas alternativas ao PS: arranjar outro candidato e arriscarem-se os socialistas a ficar com menos votos nas presidenciais do que o BE; juntar PS e BE na mesma candidatura presidencial, ao mesmo tempo que em todos os outros sectores do tabuleiro se combatiam ferozmente. Entre os dois males, a direcção do PS escolheu o que lhe pareceu menor, evitando ser derrotado por um entendimento cordial entre o BE e um sector do eleitorado socialista: decidiu embarcar na mesma nau que o escorpião, cuja natureza tem muita força nos momentos decisivos. O PS, a meu ver (e como já aqui escrevi há tempos), escolheu mal: devia ter ido à luta, com um candidato que representasse o melhor do seu impulso modernizador - mas não quis ou não pôde ir por aí.
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O resultado da magnífica estratégia de Louçã é bem claro para a esquerda: a campanha de Alegre, mais do que a sua magra votação, representou um grande passo atrás em qualquer ideia de entendimento do PS com a esquerda da esquerda. A evidência de que o herói dessa convergência não colocou em cima da mesa nenhuma ideia nova concreta que fosse inspiradora para as esquerdas; o ziguezaguear de Alegre entre umas bicadas ao governo e uns piscares de olho às oposições; a incapacidade para sair das generalidades; a debilidade conceptual que teve o seu zénite quando Alegre aceitou calado que Cavaco, sentado à sua frente, amalgamasse Estado Social com caridade - tudo isso tornou hoje praticamente impossível defender um esforço de convergência à esquerda. Mesmo para quem, como eu, sempre pensou para esse lado.
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Sempre estou para ver se ainda há, no Bloco, força política para questionar esta estratégia. Que há lá quem queira fazer do BE um grupelho radical, acredito que sim. Que haja lá quem queira fazer do BE uma força capaz de induzir mudanças sérias na política portuguesa, por via da capacidade de usar o seu peso parlamentar e social para reorientar políticas, deixando de lado as alianças com a direita (como no caso das escolas privadas), ainda estou para ver.
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Entretanto, resta-nos esperar que Sócrates continue a fazer o trabalho de evitar que Portugal seja entregue às receitas do FMI, enquanto Passos Coelho é por isso que suspira - e a esquerda da esquerda, para esse peditório, só dá retórica. Vá lá, se juntarmos também as corporações: retórica e providências cautelares que descredibilizem o esforço de Portugal nos mercados financeiros internacionais (que, por muito diabólicos que sejam, de momento são quem tem o cacau de que precisamos).
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presidenciais

Publicado por Porfirio Silva On 23.1.11
Se as projecções anunciadas há dez minutos estiverem razoavelmente certas, Cavaco Silva foi eleito à primeira volta. Várias observações são-me suscitadas por esse facto.
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Primeiro, eu estou do lado dos derrotados. Aquilo que é estimável politicamente para a maioria dos portugueses, a mim repugna-me. A vários níveis: político, de carácter, de valores, de cultura. Nada que me espante.
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Segundo, Francisco Louçã deve estar satisfeito com o resultado: isto é principalmente o produto da opção da direcção do BE por fazer refém toda a esquerda, em particular o PS, na questão presidencial. A escolha antecipada de Alegre, um militante do PS em permanente tensão com o seu partido, e também alguém pouco estimado pelos comunistas, tornou extremamente difícil qualquer convergência estratégica para derrotar a direita nestas eleições. Louçã colocou acima do interesse presidencial de toda a esquerda um velho sonho trotsquista: derrotar na mesma guerra a social-democracia e o leninismo. Não é assim que se fazem convergências.
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Terceiro, o PS não conseguiu escapar ao ardil do BE e não foi capaz de tratar da questão presidencial como a questão relevante que ela é. Não pensou a tempo no assunto - ou, no mínimo, se pensou, não conseguiu nenhum soldado relevante para esta batalha. Agora vai pagar isso muito caro.
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Quarto, vamos ter um Cavaco à solta: ferido por finalmente se ter percebido que ele não é o puro que pretende ser, mas talvez ainda mais perigoso por isso, Tendo provado o sangue da pura disputa político-partidária, provavelmente gostou da adrelanina e vai querer mantê-la a níveis suficientemte elevados para mostrar que ainda é o chefe.
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Se estes resultados servissem à esquerda para iniciar uma reflexão, talvez ainda valessem a pena. Mas, provavelmente, nem isso.
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É a vida, como dizia o outro.
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Ah, não dou os parabéns ao vencedor, isso não dou certamente.
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Cavaco 2011



Segunda-feira, Janeiro 24, 2011

Cavaco 2011

Como era de esperar Cavaco recusou-se a dar explicações sobre os seus negócios colocando-se acima dos portugueses e apostando numa vitória eleitoral como prova da sua honestidade. Para Cavaco o português comum é julgado nos tribunais enquanto os políticos são julgados em eleições, como se os eleitores tivessem sido empossados no estatuto de juízes.
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Ao apostar na vitória numa primeira volta Cavaco pretendeu retomar o estatuto de presidente no pressuposto de que com a cobertura da dignidade institucional do cargo põe fim ao escrutínio da regularidade dos seus negócios. Vivemos num país em que são os cargos que dignificam as pessoas e não estas que dignificam os cargos, na nossa história não são raros os casos em que a justiça aguarda pelo fim dos mandatos para actuar, até com dirigentes desportivos isso já sucedeu no passado.
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O facto é que os negócios de Cavaco Silva suscitaram dúvidas que ele se recusou a esclarecer, dúvidas que são adensadas pelo facto de alguns dos seus parceiros de negócios terem sido os responsáveis pela maior fraude financeira na história de Portugal, e porque alguns dos benefícios financeiros obtidos por Cavaco Silva terem em comum com essa fraude a mesma fonte de dinheiro.
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O Cavaco reeleito nestas presidenciais tem menos credibilidade do que o foi eleito há cinco anos, depois de um mandato medíocre manchado por episódios obscuros como o das escutas a Belém recusou-se a prestar os esclarecimentos necessários para dissipar quaisquer dúvidas quanto à sua honorabilidade. Pior, desculpou-se de forma ridícula, chegando ao ponto de se armar em mísero professor ignorante em mercados financeiros ou de um ignorante em negócios onde só assinava os cheques.
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A máquina de Belém e as vastas influências do cavaquismo institucional poderão calar uma boa parte da comunicação social o que, aliás, já sucedeu na segunda semana da campanha. Até poderá levar a justiça a fazer vistas largas, a mesma justiça que se deu ao trabalho de investigar coisas tão delituosas como as licenças de construção da autarquia da Covilhã ou um diploma da Independente. Mas dificilmente silenciará toda a comunicação e muito menos este poderoso instrumento de comunicação que é a internet.
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Cavaco ganhou as presidenciais mas sofreu pesadas derrotas, não viu o seu mandato legitimado com o voto esmagador que as falsas sondagens previam, a sua honradez foi questionada sem que a tivesse sabido defender, teve menos votos do que nas eleições anteriores, foi o presidente reeleito com menos percentagem e com menos votos, deixou de estar acima de qualquer suspeita.
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Cavaco teve uma amarga vitória. 
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http://jumento.blogspot.com/2011/01/cavaco-2011.html
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"Raras vezes se terá ouvido um discurso de vitória tão elegante como aquele que Cavaco Silva pronunciou na noite das eleições"

Câmara Corporativa



"Raras vezes se terá ouvido um discurso de vitória tão elegante como aquele que Cavaco Silva pronunciou na noite das eleições"

• José Vítor Malheiros, A grande festa da democracia (hoje no Público):
    ‘(…) Foi digna de nota a frontalidade e a disponibilidade com que o actual Presidente e candidato respondeu a todas as questões que surgiram na campanha, muitas das quais objectivamente incómodas e desagradáveis, a transparência com que facilitou toda a informação e satisfez todas as perguntas e, de uma forma geral, o seu empenho em não deixar qualquer dúvida nos espíritos dos eleitores. Particularmente notável foi a sua declaração de que "ninguém está acima da lei: nem os candidatos, nem o Presidente" e o seu fair-play ao afirmar que "as campanhas servem precisamente para questionar os candidatos e para esclarecer as dúvidas que possam surgir no espírito dos cidadãos". Notável também a sua réplica "A imprensa? A imprensa faz o seu papel, que é fundamental numa democracia". (…) Raras vezes se terá ouvido um discurso de vitória tão elegante como aquele que Cavaco Silva pronunciou na noite das eleições. O Presidente-em-exercício-e-Presidente-eleito minimizou qualquer acrimónia que pudesse ter emergido durante o confronto eleitoral, cumprimentou os seus adversários e afirmou-se como garante da unidade nacional, acima da trica politiqueira e empenhado numa profícua colaboração institucional entre todos os protagonistas políticos. Soube-se depois que o Presidente eleito conta reunir todos os candidatos num jantar, que oferecerá uma semana depois da sua tomada de posse. O gesto é inédito, mas não surpreende. Cavaco Silva é, acima de tudo, um gentleman. Em tudo isto, há apenas um senão: o facto de esta ser a única frase verdadeira de todo este texto.’
 

"Un orador resentido que descalificó a todos sus adversarios"

El País, La agresividad de Cavaco tras la victoria complica la cohabitación en Portugal:
    La reelección de Aníbal Cavaco Silva como presidente de Portugal abre numerosos interrogantes, a pesar de las voces que interpretan el veredicto de las urnas como un triunfo de la estabilidad. Las dudas aparecieron la misma noche electoral, tras el discurso del ganador, en el que predominó un inusitado tono de confrontación. El político equilibrado, comedido e institucional desapareció de un plumazo para dar paso a un orador resentido que descalificó a todos sus adversarios, sin excepción, en un tono tremendamente agresivo. Puede que el rencor que destilaban las palabras de Cavaco el domingo por la noche, con la victoria en el bolsillo, fuera el último rescoldo de la batalla electoral. Pero la realidad es que el papel moderador y amortiguador de tensiones que supuestamente debe desempeñar el presidente de la República, y que Cavaco reivindicó durante toda la campaña, ha quedado en entredicho.


Anónimo Olimpio disse...
Adivinho que Cavaco prefere incendiar o País, a que se decubra os negócios escuros que fez com a pandilha da SLN/BPN. Porque para este desgraçado presidente que nos calhou, primeiro está e sempre esteve a sua imagem. O País é um pretexto para a sua vaidade provinciana. O que lamento profundamente é vê-lo rodeado de gente que me tem merecido respeito como Eanes ou Freitas do Amaral.
Ter Jan 25, 10:59:00 AM
Blogger Conde de Oeiras e Mq de Pombal disse...
Até Correia de Campos!...
Ter Jan 25, 02:28:00 PM
Anónimo Anónimo disse...
Não há paciência que chegue para aturar o Cavaco e a quadrilha que o apoia!!!!!!!!!
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Viagens na Minha Terra

• A.R., Sem óbices:
      ‘Eleito o Presidente da República, já nada obsta a que se realize a abertura solene do ano judicial nem que a justiça investigue o que deva investigar.’

• José Paulo Fafe, Feio, muito feio…:
      O DISCURSO de vitória de Cavaco Silva é revelador do seu carácter e personalidade. Em vez de responder na altura certa às suspeições que sobre ele foram levantadas, preferiu esconder-se atrás de uma vitoriazinha de Pirro para "vingar-se" de quem, em pleno exercício do seu direito, o questionou em sede própria sobre o seu envolvimento no "folhetim SLN/BPN" e até da atribulada compra e venda das vasas de férias algarvias. Como aqueles miúdos que aproveitam a presença do "paizinho" para insultarem os colegas, Cavaco aproveitou o discurso para "ajustar contas" com os seus adversários na corrida presidencial. Feio, muito feio, até para quem nunca conseguiu desmentir nenhum dos factos (repito, factos) que foram divulgados sobre as suas operações financeiras e imobiliárias...’

• Pedro Adão e Silva, Um Presidente mísero:
      ‘Já tínhamos tido o "sisudo", o "bonacheirão" e o "piegas". Depois dos discursos de ontem, passamos a ter o "rancoroso".’

• Valupi, O festim dos luditas:
 
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Mário Soares – Nauseabundo

Quarta-feira, 26 de Janeiro de 2011

Mário Soares – Nauseabundo


O Dr. Mário Soares, quanto mais não fosse para mostrar (já não era necessário!) que as suas fantásticas “qualidades” não conhecem limites, veio, ainda com a derrota humilhante de Alegre em carne viva, declarar umas coisas que depois de traduzidas, são apenas mais um retrato feio do ódio vesgo que o move contra o poeta e ex companheiro. Claro que não lhe bastou ter patrocinado uma candidatura concorrente para lhe dinamitar a campanha. Era preciso mais! 
Partilhou connosco a sua "convicção" de que nesta campanha eleitoral ninguém falou dos problemas reais. Problemas de ouvidos, suponho.
Aproveitou ainda o facto de o pascácio Aníbal ser um ignorante capaz de, numa noite de vitória, fazer o miserável discurso que fez... para exibir a sua superior “magnanimidade”... precisamente no momento em que estava a pontapear um adversário já caído no chão. 
Resumindo: de uma penada foi capaz de fazer de conta que não ouviu Francisco Lopes, capaz de mentir sobre a sua ligação a Nobre, conseguiu dizer que Alegre não devia ter sido apoiado pelo PS, que a campanha foi um «bocadinho desagradável»... e que Cavaco «foi rancoroso».
A fazer lembrar o tipo de calhordas que é sempre o primeiro a notar e a protestar pelo mau cheiro dentro do elevador, segundos depois de, silenciosamente, soltar uns gases.


De vez em quando... ... gosto tanto de os citar ! - Vitor Dias



24/01/11

De vez em quando...



... gosto tanto de os citar !
É mesmo, de vez em quando, não resisto a, mesmo sem grandes comentários, trazer aqui citações de certo pessoal que não consegue disfarçar o seu ódio visceral, mesquinhez política e raquitismo intelectual. O blogger universitário e coimbrão da terceira (ou quarta ou talvez quinta) noite mal dormida acaba de chamar a Francisco Lopes «funcionário cansado». Do «funcionário» já tratei aqui (deputado 30 e tal anos como Alegre já é outra loiça). Do «cansado» não é preciso dizer nada porque toda a gente viu, ao vivo na rua, nos debates televisivos e nos telejornais. Muito curioso este truque de alguns (atenção, é só alguns) apoiantes de Manuel Alegre: parece que, em vez de lamberem mais ou menos recatadamente as suas feridas e desgostos ou afagarem mansamente a sua respeitável dor pelo fracasso da aposta que fizeram, precisam como de pão para a boca de amesquinhar a candidatura que, quanto mais não fosse por comparação, não se saiu nada mal. Bem vistas as coisas talvez um Xanaxzinho lhes fizesse melhor.
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Blogger Joana Lopes disse...
Vítor, Eu sei de quem está a falar. Mas leu o quê e onde? «Acaba de...»
25 de Janeiro de 2011 11:36
Blogger VÍTOR DIAS disse...
Joana Lopes: Li onde a Joana sabe que li. Assim em «frio polar» (maiúsculas minhas): « Na minha insana sanha anticavaquista, lá depositei então o voto na urna. Não, não foi naquele senhor doutor médico que é todo ele boa pessoa, não foi no chefe da oposição na Madeira, não foi no FUNCIONÁRIO CANSADO, mas sim no outro, aquele do verbo retumbante que o Sr. Lello detesta.»
25 de Janeiro de 2011 13:13
 

04/01/11

Não é tarde nem cedo


Varrendo a testada


Agora, a propósito de Francisco Lopes ser desde há trinta e poucos anos funcionário do PCP, voltaram os remoques, as piadas e as sobrancerias mal disfarçadamente classistas que aquela qualidade estimula em algumas meninges doentias e preconceituosas.


36 anos depois do 25 de Abril que permitiu a criação e/ou legalização de partidos políticos, ser ou ter sido estavel e prolongadamente funcionário de um partido político (especialmente se se tratar do PCP) continua a ser apresentado como sendo quase uma espécie de capitis diminutio ou como um pegajosa e deslustrante etiqueta.

Não quero nada saber se quem assim fala ou escreve é de direita ou de esquerda ou assim-assim, só sei, e é a única coisa que me importa, que o fundo destes juízos é estruturalmente reaccionário.


Pode ser-se empregado de escritório, engenheiro, professor, médico ou advogado toda a vida, mas funcionário de partido (mesmo que sendo também licenciado) ai que horror, possívelmente porque quem assim suspira ou debita acha que a política é uma coisa impura ou mesmo porca onde o profissionalismo e a acumulação de experiência e competências deviam estar proibidos e onde, quando muito, se deviam fazer umas perninhas.


Curiosamente, ou antes por alguma razão, este preconceito só se aplica a funcionários de partido e nunca ou raramente, por exemplo, a cidadãos e cidadãs que tenham sido quase toda a vida deputados ou deputadas.


Dirão alguns que falo em causa própria porque fui funcionário do PCP durante cerca de 29 anos. E é por o ter sido que não me custa reconhecer que um tal opção de vida comporta riscos e limitações mas logo acrescento: como todas as outras opções de vida, profissões ou estatutos sociais, ora deixem-se lá de tretas. E que ninguém baralhe as coisas: não reclamo nenhum estatuto de superioridade, estou só a sacudir um estatuto de inferioridade.


Pois é, se Francisco Lopes, eu e tantos outros tivessemos escolhido «tratar da vidinha» (não confundir com o legítimo tratar da vida segundo um natural critério de interesse e realização pessoais), lá escaparíamos aos dichotes e labéus de opinion makers e bloggers de vistas curtas e almas pequeninas.


Esses podem todos assoar-se ao seguinte guardanapo: é que há compromissos de vida que não amesquinha quem quer.

3 comments:

Graciete Rietsch disse...
Os funcionários do PCP, e falo do PCP porque é o meu PARTIDO de que conheço muitos funcionários, merecem-me toda a consideração. São homens e mulheres que, não desitindo da sua própria vida, ocupam-na a construir uma vida melhor para todos os seres humanos. Deixo aqui a minha homenagem a todos os funcionários do PCP. Um beijo.
José Rodrigues disse...
Diz o povo que quem desdenha quer comprar...porque lhes falta autoridade moral para abdicar de privilégios,mesuras e sinecuras conseguidos à custa do esmagamento de direitos humanos fundamentais.Honra aos revolucionários profissiionais do PCP,do passado,do presente e do futuro! Abraço
Anónimo disse...
Pelo menos no que respeita ao estatuto de revolucionarios profissionais do PCP (incluindo equiparados, apenas no mais elevado sentido da palavra de compromisso com a Causa)estou de plenamente de acordo com o Vitor Dias.
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