A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

segunda-feira, janeiro 07, 2013

serafim lobato . EUA: DE DECADÊNCIA EM DECADÊNCIA

TABANCA DO GANDURÉ


sábado, 5 de janeiro de 2013




Ruínas de fábricas em Detroit

1 - Desde 2008, que se fala, abertamente, em bancarrota do sistema económico norte-americano, que, necessariamente, a ocorrer levará a um descalabro político naquele país e, por tabela, atingirá a grande maioria dos Estados do mundo.

Nos últimos dias, os dois partidos da oligarquia política capitalista norte-americana -democratas e republicanos - passaram  o tempo a negociar para evitar uma ruptura imediata orçamental, que evitasse uma entrada na sociedade norte-americana num processo repentino e galopante de impostos e cortes de prestações sociais, que colocaria na ordem do dia o pânico generalizado no país. 

Lançaram para os grandes meios propagandísticos do regime - imprensa, rádio e televisão - que o país estaria em risco de um "colapso fiscal", se não houvesse um consenso quanto às medidas imediatas de evitar a aplicação textual do processo de aplicação de subidas brutais de impostos e cortes de prestações sociais. O paradigma do medo.

Os legisladores do país e o Presidente dos Estados Unidos fizeram uma grande operação de "marketing", com a existência de um acordo conseguido no princípio deste ano, anúncio este logo aproveitado pelos especuladores financeiros de Wall Street para fazerem subir os valores da acções, como se se estivesse no melhor dos mundos. A gestão típica da especulação capitalista.

As realidades continuam, todavia, além da operação de cosmética, que, verdadeiramente, pôs em marcha, o que terá de ser aprovado daqui a dois meses: impostos, empobrecimento populacional, redução drástica das prestações sociais, privatizações de auto-estradas, de serviços públicos essenciais na saúde e educação, por exemplo, pela cáfila de vendilhões do capital, que são os senadores e os membros da Câmara dos Representantes norte-americanos. Os factos do dia a dia.


Daqui a dois meses a situação será a mesma: há uma dívida norte-americana, que, oficialmente, já ultrapassa os 2,1 biliões de dólares; há uma militarização crescente do sistema político norte-americano (em Abril de 2012, o Senado norte-americano aprovou, por  unanimidade, - veja-se, pasme-se, como são iguais os vendilhões...- o Orçamento de Defesa Nacional para 2013, que contempla mais de 631 mil milhões - 481 mil milhões de euros) para o financiamento da máquina de guerra; há uma défice actual de um bilião de dólares (a correspondência desajustada entre receita e despesa); há uma percentagem de desemprego - oficial - de cerca de 8 por cento; há um espectro real de recessão, (pelo menos -0,5 % do PIB) que o acordo de última hora não fez recuar. 

O acordo do fim do ano suspendeu a aplicação feroz de cortes indiscriminados, mas manteve o rumo da austeridade: para já, não existem aumentos salariais em 2013 para os trabalhadores dependentes. 

E uma realidade seguinte que está já programada - irá haver, para já, aumentos generalizados de impostos da ordem dos 2.200 dólares anuais. Outros se devem seguir. 

2 - Com esta "mise-en-scène", o que se pretende fazer distrair o contribuinte norte-americano (e naturalmente europeu, no nosso caso) não esclarecido é de uma realidade maior: a situação real catastrófica dos quatro maiores bancos norte-americanos, ameaçados da falência, que os dois partidos querem evitar, preparando neles, com o aumento de impostos, uma injecção monumental de dinheiro público.  

Uma situação que já ocorreu em 2008 e elevou, na realidade, a dívida pública, mas que é privada, pois pertence aos bancos, incorporada, forçadamente, pelo poder político na primeira.
E quem faz o aviso do que está na forja é um homem de dentro do sistema: Paul Craig Roberts, que foi secretário do Tesouro, adjunto para a Política Económica, actualmente editor contratado do Wall Street Journal, que sustenta: "Eu refiro (a tradução literal é minha) que, de acordo com o Departamento do Responsável do Relatório sobre a Moeda, relativo ao quatro trimestre de 2011, cerca de 95 % dos 230 biliões de dólares dos EUA estão em exposição especulativa em mercados de derivados através de quatro instituições financeiras norte-americanas - JP Morgan Chase Bank, Bank of America, Citibank e Goldmam Sachs". 

Quer isto dizer que estes valores, que não são reais assentes na produção, mas na especulação, por isso podem rebentar de um momento para o outro,  ultrapassam, exponencialmente, várias vezes o Produto Interno Bruto dos Estados Unidos!!!

Ou seja, segundo Roberts, toda a economia norte-americana está subordinada aos ditames de evitar a derrocada desses quatro bancos, que continuam na especulação desclassificada e desregulamentada, apesar de intervenções estatais anteriores.

Aí é que surge o tempo útil, e se situa o verdadeiro busílis do chamado "abismo" ou "colapso" da economia dos EUA.

Roberts assinala que "actualmente somente quatro bancos norte-americanos se encontram numa exposição especulativa (no chamado mercado de derivados. N.M.) igual a 3,3 vezes o Produto Interno Bruto mundial".

Como se pode actuar tão irresponsavelmente na condução da política económica mundial?

Em primeiro lugar, porque o capital financeiro especulativo mais desclassificado - o lumpem capitalismo - se tornou em fracção dominante, sem rivais, do poder político nos principais Estados burgueses do Mundo, com especial ênfase para os Estados Unidos e a Inglaterra, do lado do capital liberal, e para a China, do lado do Capitalismo de Estado.

Os governantes e toda a superestrutura política e de justiça estão subordinados e agem como simples vassalos e intermediários. 

Ou seja, eles têm a sua "armadura", que faz as suas leis, enquadra os seus "homens" no aparelho de Estado, distribui as migalhas, nessa chusma de "inúteis" que se sentam no Executivo, na maioria parlamentar, nas instituições de decisão política e judiciária.

A dívida do Estado tem sido, desde sempre, mas desde a crise de 2008 de maneira evidente, o principal fonte de rendimento do capital financeiro especulativo.

E assim aconteceu desta vez, a olho nú, com toda a nudez e desfaçatez. 

Porque o "afundamento" financeiro do Estado - e neste caso do principal Estado capitalista - foi o verdadeiro objectivo que esteve por detrás de toda a especulação.

Parece uma contradição. 

Mas é a realidade de um processo histórico. 

O mundo capitalista actual, especialmente o capitalismo dito ocidental, atingiu um tal estádio de evolução que está a entrar em choque com as relações de produção actualmente existentes. 

Verifica-se, com a continuada sucessão de crises, desde 1973, sem saídas de progresso, estão a ser, justamente, uma barreira a  um novo desenvolvimento das forças produtivas que cresceram e se educaram a um nível superior. 

São indícios, ainda que ténues e incipientes, que se está a forjar uma nova era.

É uma pescadinha de rabo na boca. O capital está no seu labirinto, porque os centros do mesmo estão a ser ultrapassados, precisamente, nas suas relações de produção.

Foi, justamente, nos Estados Unidos, cerca de 15 dias depois do anúncio da crise, que a Administração Obama, seguindo os ditames de Wall Street, em conluio com o Senado, que foi autorizado ao Secretário do Tesouro que se pudesse gastar do erário público até 700 mil milhões de dólares para "estabilizar" o sistema financeiro especulativo, aparentemente, em descalabro. 

O executivo norte-americano, dias depois, tornou público que 250 milhões de dólares (mais de 1/3 do valor estipulado) seria destinado imediatamente, a custo zero, para "salvar" as principais instituições financeiras em bancarrota, como a seguradora AIG (85 mil milhões de dólares directos do Banco Central, FED) ou o Citigroup, que detinha o Citibank (um pormenor deste roubo organizado, do dinheiro do Tesouro foram 25 mil milhões para aquele último e o governo comprou acções que avaliou em 20 mil milhões. Aquele banco tinha perdas contabilizadas de 306 mil milhões de dólares em activos de alto risco).

Ora, este dinheiro foi utilizado para a nova fase especulativa pelos próprios fautores da crise, com empréstimos a juros elevados, incluindo ao próprio Estado.

Quatro anos depois, os principais agentes do sistema financeiro especulativo norte-americano, depois de sacarem os juros e o "empréstimo" a custo zero, já estão, novamente, na corda bamba, com a uma nova derrocada a aproximar-se.   

A preocupação central dos vassalos dos banqueiros no governo e no Senado e Câmara de Representantes não são os reformados, a classe média ou o aumento do desemprego, é, pois, a "salvação" dos bancos. 

O "colapso fiscal" é uma nuvem de poeira para amedrontar o contribuinte para vir a financiar a voragem de ganhos do capital financeiro.
   
A Inglaterra segue o mesmo caminho e a UE - mais concretamente a zona euro - fez uma aplicação severa de medidas de austeridade, também, centrada na salvação dos bancos, que provocou uma recessão económica profunda, de que não se sabe qual vai ser a evolução futura.

Mas, acossados pelas movimentações populares e pela eventual subida ao poder de partidos que colocam nos seus programas medidas anti-capitalistas, estão a tentar a "blindagem" do euro, antes que se coloque na ordem do dia na Europa a nacionalização do sistema financeiro. 

Isto pressupõe um avanço para a concentração bancária sob a supervisão do Banco Central Europeu e avanço para a unidade política, que para ter alguma capacidade política para ser efectuada, terá de ser feita com uma "remodelação" dita de esquerda na governação política, para atenuar eventuais efeitos de uma convulsão de cariz revolucionário.

Exige, acima de tudo, um aumento da reindustrialização, das produções harmónicas europeias, diminuição do desemprego, aumentos salariais, e melhorias sociais. 

No fundo, inverter a actual orientação política para uma gestão de desenvolvimento dos serviços públicos.

A margem é mínima, pois as movimentações das classes laboriosas trazem no bojo uma outra dinâmica. 

3 - Como é que os Estados Unidos conseguirão amenizar o caminho do colapso económico?

O buraco da agulha é curto. 

Porta-aviões chinês

frota russa do Mar Negro

Somente uma inversão rápida da recessão dará alguma folga ao poder económico e político. Um crescimento económico acentuado, possivelmente três a quatro por cento em 2013, contra as previsões de descer para -0,5% este ano. Teria de haver uma aposta grande no sector público. Um controlo férreo estatal do sistema financeiro especulativo.

Ora, quer os republicanos, quer os democratas, não querem, nem podem, porque são gerentes políticos do Capital, actuar sobre aquele, retirando-lhe uma parte substancial do seu sustentáculo: as mais valias exorbitantes.

Nenhum dos partidos dominantes nos Estados Unidos quer equilibrar o Orçamento, impondo uma carga fiscal pesada aos grandes financeiros e industriais. E, de maneira evidente, um ataque organizado ao poderoso complexo industrial militar.

Então, sem um Orçamento que coloque o dedo na ferida, não será possível inverter o caminho da austeridade, e, estará aberto, com mais ou menos delongas, a continuidade da recessão. 

Os impostos irão recair, em grande, sobre quem trabalha, os cortes atingirão os pensionistas.


A economia dos Estados Unidos é ainda a principal estrutura económica do mundo capitalista, mas está ferida de morte.

Desde que nos anos 80, se inverteu a sua posição dominante exclusiva, em que era o maior credor e hoje está sendo o maior devedor mundial, com um desenvolvimento extraordinário de outras economias em várias partes do globo, principalmente, as consideradas emergentes, que o poder norte-americano teve vindo a decair.

Essa economia, aliás, já estaria em pleno colapso, principalmente, o seu sistema financeiro, se o papel do dólar   estivesse mais desgastado.

Em grande parte, a economia dos EUA já está a viver artificialmente, com a injecção acelerada de papel-moeda não correspondendo - os chamados *greenbacks* - ao valor comparativo em ouro, nem a emissão constante - na realidade fictícia - de títulos de Tesouro para cobrir os enormes déficits, referidos acima.

A questão que se está a colocar, com acuidade, desde a Guerra do Iraque, é se este sistema artificial pode ser mantido por muito mais tempo.

Com a crise económica interna norte-americana, uma depreciação acentuada do valor do dólar - a desconfiança grande que se está a gerar no mundo, se os Estados Unidos têm reservas em ouro suficientes, como eles afirmam - e o vencimento dentro de breves anos da maioria dos títulos de Tesouro, irão trazer preocupações acrescidas na sociedade norte-americana.  

A geo-estratégia e a geo-política mundial, certamente, irão mudar-se profundamente, quando alguns países, com projectos ou em fase de substituição do dólar como moeda privilegiada nas trocas internacionais, começarem a agir concertadamente.

Desde os anos 70, sempre que surge uma crise - e elas estão a nascer umas em cima das outras - está a verificar-se o estalar de um poderio norte-americano que era incontestado.



http://tabancadeganture.blogspot.pt/2013/01/eua-de-decadencia-em-decadencia_5.html

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