A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, agosto 29, 2006



















"Reflexo "- o meu avô Barroso - fotografia de Victor Nogueira


O lugar da Casa

Uma casa que fosse um areal
deserto; que nem casa fosse;
só um lugar
onde o lume foi aceso, e à sua roda
se sentou a alegria; e aqueceu
as mãos; e partiu porque tinha
um destino; coisa simples
e pouca, mas destino:
crescer como árvore, resistir
ao vento, ao rigor da invernia,
e certa manhã sentir os passos
de abril
ou, quem sabe?, a floração
dos ramos, que pareciam
secos, e de novo estremecem
com o repentino canto da cotovia.

Eugénio de Andrade

sexta-feira, agosto 25, 2006







foto "Contraluz - autor desconhecido"


Do rio que tudo arrasta se
diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.

Bertold Brecht

sábado, agosto 19, 2006

Os jovens e a precariedade
* Rui Beles Vieira

No final da década de 80, início da década de 90, com a entrada de Portugal na, então, CEE e a suposta obrigatoriedade de serem transpostas e aplicadas várias convenções internacionais sobre política laboral, criou-se nas camadas mais jovens uma grande esperança no futuro.A tão propagandeada evolução a que o país iria assistir e as oportunidades nacionais e internacionais que iríamos ter, fez com que milhares de jovens sonhassem com um futuro risonho e com uma vida algo diferente da que os seus pais tiveram, durante as décadas de ditadura e a posterior instabilidade política e social que se seguiu ao 25 de Abril.

À medida que íamos terminando o secundário e os tão famosos cursos Técnico-profissionais, depois chamados Tecnológicos, ou ingressando na Universidade, acreditávamos que o sonho de um emprego estável seria possível. Afinal, para que serviriam tantos anos de investimento e sacrifícios financeiros de milhares de pais que ambicionavam o melhor para os seus filhos?
A pouco e pouco fomos observando o céu e verificámos que não era só composto de um azul infinito, do sol ou das estrelas; havia também nuvens, e cada Governo que chegava ao poder, encarregava-se de escurecer a tonalidade das nuvens já existentes e semear outras para que alguém as escurecesse depois.

Assim aconteceu com o Código do Trabalho; com as politicas sociais e de emprego, ou melhor, desemprego; com o financiamento de projectos sem qualquer sustentabilidade e prospecção futura; com a entrega ao desbarato de fundos comunitários a empresários sem escrúpulos, que hoje deslocam as suas empresas para qualquer parte do mundo, onde seja mais fácil explorar seres humanos, pois os trabalhadores portugueses agora deram na mania de não querer ser mais explorados – vejam só!

Com esta mania que os trabalhadores portugueses inventaram de se recusar a ser explorados pelas mesmas famílias de abutres de sempre, - sim, de sempre, porque algumas emigraram após o 25 de Abril mas já cá estão todas outra vez – os Governos de Direita e, agora este, que a ser julgado pelas medidas de Sócrates já se pode definir como de “Direita Radical”, esforçaram-se por cortar o mal pela raiz, ou seja, inventaram a necessidade de haver Trabalho Precário.
As empresas produtivas abandonam o país, mas em compensação os Governos criam as melhores condições, para a proliferação e desenvolvimento das Empresas de Trabalho Temporário e dos Outsourcings, com a desculpa de fazer face às leis do mercado, da competitividade e da concorrência própria da globalização.

Tudo isto, são desculpas para camuflar a realidade trazida pela subcontratação, prestação de serviços através de falsos recibos verdes ou estágios que nunca mais acabam, incluindo no próprio Estado.

As novas gerações vêem-se assim num pântano laboral, onde impera a lei do mais forte e que trouxe consequências tão graves como:

Os baixos salários e exploração de milhares de pessoas, na sua maioria jovens entre os 18 e 35 anos;Incerteza completa no futuro após os 35 anos de idade, visto que é nesta altura que as empresas responsáveis pela exploração das capacidades dos jovens, se descartam deles considerando-os velhos para as funções;

A impossibilidade de se construir uma carreira profissional estável, apesar do elevado nível académico dos trabalhadores;

Substituição de um ordenado condigno pelos mais variados prémios que, para além de desfalcar a Segurança Social, - visto que a esmagadora maioria da empresas não faz descontos em relação a estes prémios – desprotege gravemente os trabalhadores que, perante situações de Baixa Médica, Desemprego ou Reforma futura, vão receber apenas 65% do Ordenado Base declarado.
Desencoraja os jovens a constituir família, contribuindo para a baixa taxa de natalidade, que o país tem vindo a registar;

Torna difícil a acção sindical e a luta de trabalhadores, visto que estes têm medo de se manifestar devido aos vínculos precários;

Permite a perseguição sindical e chantagem com ameaças de despedimento imediato aos mais precários e impossibilidade de celebração futura de contratados sem termo, para os contratados a prazo;

Dificuldade em provar a ilegalidade desta selvajaria laboral, pois os Governos criaram e continuam a criar condições para que os responsáveis continuem impunes, não obrigando a I.G.T. a desempenhar o seu papel e aprovando legislação ambígua e desadequada.
Os Governos de Portugal e o patronato (liderado por grandes grupos económicos que antes estavam na sombra dos governos, mas que agora já se assumiram descaradamente ensinando ao actual Governo como implementar as políticas que mais os favorecem), pariram um monstro chamado Trabalho Precário, roubaram o futuro a milhares de jovens e destruíram muitos sonhos. Por isso Srº Primeiro Ministro, há-de ouvir falar de nós… pode ser que o provérbio popular “quem semeia ventos colhe tempestades” se realize mais depressa do que V. Exa. imagina…

Os jovens portugueses, não vão permitir por muito mais tempo este estado de coisas e não vão admitir ser identificados como “geração rasca” ou “escumalha”, porque, afinal, a tal escumalha de que o outro fala foi atirada para a exclusão social e para o desemprego por abutres iguais aos que por cá promovem o desemprego e a precariedade laboral!

A haver “geração rasca” ou “escumalha”, teríamos de procurá-las nos pequenos bandos de aves de rapina que ontem e hoje, em Portugal e no estrangeiro tentam alimentar-se o mais que podem das suas vítimas promovendo as desigualdades sociais e a continuação da exploração do homem pelo homem.

É contra esta realidade e por um futuro melhor que os jovens portugueses estão dispostos a lutar. O nosso sonho há-de realizar-se, e as ditas aves de rapina hão-de desaparecer no temporal que as próprias criaram!

Rui Beles Vieira

http://vidasprecarias.blogspot.com/2006_03_01_vidasprecarias_archive.html

quarta-feira, agosto 09, 2006

"sou um escritor de peças, mostro
o que vi, no mercado dos homens
vi como o homem é negociado, isso
eu mostro, eu, o escritor de peças.

Para poder mostrar o que vejo
consultei os espectáculos de outros
povos e de outras épocas
reescrevi algumas peças, com cuidado
examinando a técnica usada e
assimilando
aquilo que me podia ser útil.

E também as frases que eram
pronunciadas
dei a elas uma marca especial.
Para que fossem como as sentenças
que se anota
para que não sejam esquecidas."

B. Brecht

sábado, agosto 05, 2006


É a guerra aquele monstro

(...) Começando pela desconsolação da guerra, e guerra de tantos anos, tão universal, tão interior, tão contínua: oh que temerosa desconsolação! É a guerra aquele monstro que se sustenta das fazendas, do sangue, das vidas, e quanto mais come e consome, tanto menos se farta. É a guerra aquela tempestade terrestre, que leva os campos, as casas, as vilas, os castelos, as cidades, e talvez em um momento sorve os reinos e monarquias inteiras. É a guerra aquela calamidade composta de todas as calamidades, em que não há mal algum que, ou se não padeça, ou se não tema, nem bem que seja próprio e seguro. O pai não tem seguro o filho, o rico não tem segura a fazenda, o pobre não tem seguro o seu suor, o nobre não tem segura a honra, o eclesiástico não tem segura a imunidade, o religioso não tem segura a sua cela; e até Deus nos tempos e nos sacrários não está seguro. Esta era a primeira e mais viva desconsolacão que padecia Portugal no princípio deste mesmo ano.

(...) Que de tempos costuma gastar o Mundo, não digo no ajustamento de qualquer ponto de uma paz, mas só em registar e compor os cerimoniais dela! Tratados preliminares lhe chamam os políticos, mas quantos degraus se hão de subir e descer, quantas guardas se hão de romper e conquistar, antes de chegar às portas da paz, para que se fechem as de Jano? E depois de aceitas, com tanto exame de cláusulas, as plenipotências; depois de assentadas, com tantos ciúmes de autoridade, as juntas; depois de aberto o passo às que chamam conferências, e se haviam de chamar diferenças; que tempos e que eternidades são necessárias para compor os intricados e porfiados combates que ali se levantam de novo? Cada proposta é um pleito, cada dúvida uma dilação, cada conveniência uma discórdia, cada razão uma dificuldade, cada interesse um impossível, cada praça uma conquista, cada capítulo e cada cláusula dele uma batalha, e mil batalhas. Em cada palmo de terra encalha a paz, em cada gota de mar se afoga, em cada átomo de ar se suspende e pára. (...)

Pe António Vieira “Sermão Histórico e Panegírico nos Anos da Rainha D. Maria Francisca de Sabóia”

fotografia de Victor Nogueira - "Porto - cemitério de Agramonte"