A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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segunda-feira, abril 30, 2012

Ernesto Cartaxo - Significado e dimensão históricos do 1.º de Maio e a luta dos trabalhadores na actualidade


INTERVENÇÃO DE JOSÉ ERNESTO CARTAXO, CASA DO ALENTEJO, LISBOA, 120 ANOS DO 1º DE MAIO


 A história do movimento operário internacional está recheada de acontecimentos e datas extremamente importantes. O 1º de Maio assume, indiscutivelmente, particular relevo e o mais profundo significado histórico.
 
A este dia estão intimamente ligadas muitas das maiores e mais exaltantes jornadas e movimentações de luta da classe operária, que, com sofrimento, coragem e determinação, demonstrou claramente o quanto é capaz a vontade colectiva dos trabalhadores para melhorar as suas condições de vida e de trabalho, vencer injustiças e desigualdades sociais, mudar mentalidades, transformar as sociedades e pôr fim à exploração do homem pelo homem.
   
- AS ORIGENS DO 1º DE MAIO
     
   Pesem embora algumas deturpações e desvirtuamentos produzidos pelo arsenal ideológico do capital, é generalizadamente reconhecido que as origens do 1.º de Maio estão associadas aos trágicos acontecimentos que ocorreram em 1 de Maio de 1886, na cidade norte-americana de Chicago.
    
    Todavia, para se ter uma visão dialéctica do seu significado histórico, importa assinalar que, na sequência da Revolução Industrial, verificada nos finais do século XVIII, o operariado era objecto de uma intensíssima e desumana exploração, que se traduzia em imensas privações e brutalidades, sendo forçado a trabalhar 12, 14, 16 e mais horas por dia, na indústria e no comércio e, de sol a sol, na agricultura.

A exploração desmedida, sem qualquer tipo de escrúpulos, do trabalho infantil e do trabalho feminino era uma fonte suplementar de lucro para o empresário capitalista.
    
     Passada a revolta inicial contra as máquinas, por considerarem serem elas as causadoras dos seus sofrimentos, a classe operária, nascente, e os trabalhadores, em geral, encontram nas ideias contidas no Manifesto Comunista de Marx e Engels, publicado em 1848, as respostas sobre as verdadeiras causas que estão na origem de tão desumana e feroz exploração e sobre os caminhos a trilhar.
    As causas estavam no sistema capitalista, cujo modo de produção se baseia na apropriação privada dos meios de produção e na exploração desenfreada de quem neles trabalha, para a obtenção do máximo lucro, e o caminho apontado era a unidade, a organização e a luta. A palavra de ordem era: PROLETÁRIOS DE TODO O MUNDO, UNI-VOS!

Animado e estimulado por estas ideias, o operariado empreende lutas constantes centradas na redução da jornada de trabalho, por melhores salários e contra a exploração, procurando pôr termo a esta desumana e intolerável situação.
   
    É assim que, em 1866, o Congresso de Genebra da 1ª Internacional estabelece como objectivo a limitação da jornada de trabalho em 8 horas como “condição indispensável ao êxito de qualquer outro esforço emancipador” e adopta, como divisão racional do tempo diário de trabalho, 8 horas de trabalho, 8 horas de descanso e 8 horas para a cultura e a educação, que se converte em exigência iniludível para a protecção do trabalhador como ser humano.   
    
    É neste contexto que a Federação dos Trabalhadores dos Estados Unidos e do Canadá, numa conferência anual, que teve lugar em Dezembro de 1885, convoca uma greve geral para o dia 1 de Maio de 1886, pelas 8 horas.

       No âmbito desta greve, a que aderiram muitos milhares de trabalhadores, realizaram-se diversas e grandiosas manifestações.  
   
   Foi num comício de massas, realizado no dia 4 de Maio, na Praça Haymarket (Mercado do Feno), em Chicago, que foi montada uma manobra provocatória, que constou do rebentamento de uma bomba, colocada de propósito para justificar uma feroz e sangrenta repressão que se abateu sobre os manifestantes, que provocou várias mortes e centenas de feridos e levou à prisão de centenas de militantes sindicais, sendo de distinguir a de oito destacados dirigentes, mais tarde conhecidos como os “oito mártires de Chicago”, sete dos quais condenados à pena de morte e o outro a 15 anos de prisão.

    Mas esta heróica luta não foi em vão, porque 50.000 dos operários em greve conquistaram imediatamente o dia de 8 horas de trabalho, enquanto outros 200.000 conseguiram uma certa redução do horário de trabalho.
        Os trágicos acontecimentos de Chicago tiveram um grande significado, não só para os operários norte-americanos, mas também para todo o proletariado mundial, tendo merecido da parte deste a mais viva solidariedade e enérgica condenação.

De tal modo que, em 1889, os representantes dos movimentos socialistas de diversos países se reúnem em Paris e resolvem internacionalizar o 1.º de Maio, declarando-o dia de luta do proletariado, pela jornada de oito horas, e marcando para o 1.º de Maio seguinte, 1890, manifestações simultâneas em todos os países.
  Nascia, assim, há 120 anos, o Dia Internacional do Trabalhador e estava dado um novo e importante passo na luta do Trabalho contra o Capital.
- O 1.º DE MAIO EM PORTUGAL
 Desde o primeiro ano das comemorações do 1.º de Maio, em 1890, até aos dias de hoje, passando pela monarquia, pela 1.ª República e durante a ditadura fascista, o operariado português sempre comemorou activamente o Dia Internacional do Trabalhador, em unidade e luta e com solidariedade internacionalista, reclamando junto do patronato e das autoridades portuguesas o estabelecimento das 8 horas de trabalho diário e a melhoria das suas condições de vida e de trabalho.
        
         Neste percurso histórico, os ecos da Revolução de Outubro de 1917, na Rússia, chegam a Portugal e suscitam um grande entusiasmo nos trabalhadores portugueses.
    
  Em 1919, após um 1.º de Maio grandioso, é conquistada e consagrada, em Lei, a jornada das 8 horas diárias e 6 dias de trabalho por semana, ainda que só para os trabalhadores da indústria e do comércio.
          
   A 6 de Março de 1921, forma-se o Partido Comunista Português e a classe operária inicia a construção da sua vanguarda revolucionária.
           
    Na ditadura fascista - que suprimiu as liberdades fundamentais, fascizou os sindicatos e oprimiu o nosso povo durante 48 anos – o regime, desde cedo, procurou impedir as comemorações do 1.º de Maio. Em vão, porque, de acordo com a situação concreta em cada momento, o proletariado português, sob a orientação do PCP, soube sempre encontrar as formas mais apropriadas à sua comemoração, não obstante a repressão de que era alvo.
          
        As lutas do 1.º de Maio de 1962, nas quais se empenham mais de 150 mil trabalhadores agrícolas do Sul, do Ribatejo e do Alentejo, acabam por impor o reconhecimento das 8 horas de trabalho diário, pondo termo ao feudal sol a sol.

           Assinalam-se, ainda, importantes manifestações nos 1.º de Maio que se seguiram até 1973 e que, em articulação com as inúmeras lutas que se travavam ao nível das empresas e dos locais de trabalho e na frente sindical, forjaram as condições que viriam a tornar possível a vitoriosa madrugada libertadora do 25 de Abril, desencadeada pelo glorioso Movimento das Forças Armadas.
        Apenas 6 dias após a manhã da liberdade, o povo português comemorou o mais espantoso 1.ºde Maio, organizado pela Intersindical, criada em 1970. Era a alegria incontida de um povo que enterrava 48 anos de terror, de miséria, de obscurantismo. Era a consagração popular do 25 de Abril.
         Pela primeira vez, dando satisfação a uma reivindicação da Intersindical, o 1.º de Maio era consagrado feriado nacional.
          A arrancada do 1.º de Maio de 1974 vai dar início a uma série de conquistas que correspondem a prementes reivindicações e anseios das classes trabalhadoras e das massas populares. A determinação e a energia criadora das massas populares em movimento impulsionam a evolução do processo de democratização da vida e da sociedade portuguesa. Conseguem-se profundas transformações económicas e sociais com as nacionalizações, a reforma agrária e o controlo operário. Conquistam-se liberdades e direitos fundamentais.
         É em 1996, na sequência da luta travada e de várias iniciativas parlamentares do PCP, nomeadamente a apresentação de um projecto de Lei, em 17 de Janeiro deste ano, que o governo de Guterres é forçado a consagrar, na lei, as 40 horas semanais com dois dias de descanso semanal.
- A IMPORTÂNCIA E ACTUALIDADE  DA LUTA
 Como se comprova, ainda que de forma muito sintética, o movimento operário e sindical, através da luta, dura, difícil e perseverante que desenvolveu, escreveu algumas das páginas mais exaltantes da sua história contra a exploração capitalista, o que permitiu alcançar conquistas e avanços civilizacionais que em muito contribuíram para a melhoria das condições de vida e de trabalho dos trabalhadores e das suas famílias.
  Contudo, o capital não dorme nem desarma. A partir de 1976, com as políticas de direita seguidas pelos sucessivos governos, a contra-revolução desencadeia-se e de novo se abate sobre os trabalhadores a exploração, a repressão e a tentativa de destruição das conquistas alcançadas.
A prová-lo está a ofensiva neoliberal em curso de que é exemplo a postura do governo PS/Sócrates, que, ao rever para pior o já negativo Código do Trabalho do PSD/CDS, deu alento à ofensiva patronal, no sentido de o desregular e de impor como jornada de trabalho “normal” as 10, 12 ou mesmo 14 horas por dia, sem o pagamento de qualquer compensação pelo trabalho extraordinário, o que constitui um regresso ao século XIX e às condições de trabalho que estiveram na origem do 1.º de Maio e da sua internacionalização.
É em honra da memória dos “mártires de Chicago”e da luta de gerações e gerações de revolucionários, muitos deles com o sacrifício da própria vida, e contra a exploração capitalista que temos o dever e a obrigação de tudo fazer para que se desenvolva e intensifique a luta de massas por uma ruptura com as políticas de direita e para que as comemorações do 1.º de Maio, constituam uma imponente jornada internacionalista de unidade e luta por uma sociedade mais justa, fraterna e solidária, sem exploradores nem explorados.

O 1.º de Maio de 1962 nas colunas do DIÁRIO DE NOTÍCIAS


Memórias do PREC, da resistência anti-salazarista e outras crónicas históricas

Sexta-feira, 1 de Maio de 2009

O 1.º de Maio de 1962 nas colunas do DIÁRIO DE NOTÍCIAS

O ano de 1962 culmina a grave crise política do regime de Salazar, mais atanazado das pulgas, iniciada com o terramoto de Humberto Delgado em 1958, umas nuvens negras a marcar a ronceira agonia do salazarismo. Aquele ano inicia-se com o assalto ao Quartel de Beja, logo na madrugada de 1 de Janeiro de 1962 sob mando do capitão João Varela Gomes, coadjuvado por um grupo civil liderado por Manuel Serra.

Toda esta agitação de massas originada a partir da campanha eleitoral de Humberto Delgado, leva, em si, à reorganização do Partido Comunista Português e a um crescendo de influência dos comunistas, que culminou em Janeiro de 1960 com a espectacular fuga de Peniche empreendida por vários dirigentes do partido, à cabeça dos quais estava Álvaro Cunhal
[1].

O ano de 1962 marca de sobremaneira um pico da radicalização da luta antifascista, em especial junto das camadas mais politizadas dos operários, trabalhadores agrícolas e dos estudantes das zonas urbanas.

A 8 de Março desse ano a polícia reprime uma manifestação popular no Porto, e, a 24 de Março a proibição da comemoração do Dia do Estudante vai despertar a“crise académica de 1962”, marcada por uma série de lutas estudantis nas Universidades de Lisboa e Coimbra, em permanência de Março até Junho, sucessivas manifestações de rua e recontros com a polícia, suscitando mais uma onda repressiva de prisões.

Em plena maré da luta estudantil, ocorrem as grandiosas manifestações populares do 1.º de Maio em Lisboa, Almada e no Barreiro. As artérias da Baixa de Lisboa, entre o Martim Moniz e o Terreiro do Paço, encheram-se de povo, naquela que foi a maior manifestação de rua contra o regime desde 1958, com a presença de 100.000 manifestantes, segundo a propaganda do PCP.

A ferocidade repressiva foi enorme, e da mesma se fizeram eco os jornais da época, uma cantilena melada
[2]. Uma imensa multidão a vozear bem alto contra a repressão fascista, em sucessivas vagas, aproveitando as actividades quotidianas, em especial a hora do almoço e o princípio da noite.

«O dia 1.º de Maio foi assinalado em Lisboa por desagradáveis acontecimentos», noticiava então a imprensa, salientando as loucas «correrias e muito alarido» «lançando a confusão». O articulista chamava particular atenção para o facto dos «elementos subversivos» terem escolhido as horas de ponta da circulação diária da populaça, aquele «constante vaivém», a fim de manifestarem «os seus criminosos fins e também com o propósito de suscitar entre o povo sentimentos de hostilidade» contra as «forças encarregadas de zelar pela ordem pública». Para o jornal não havia falso nem verdadeiro.

A organização da manifestação utilizara, dizia enfaticamente, «uma intensa propaganda por meio de panfletos clandestinos espalhados pela cidade e distribuídos de formas ilícitas», acicatando «as classes trabalhadoras a concentrarem-se» para apresentarem «certas reivindicações» contra a falta de liberdade, a miséria e a guerra colonial emergente e instigando também «a faltar ao trabalho». Um estendal de agravos.

No intuito de manter o povoléu «na ordem, na paz e no trabalho», pois claro,«as entidades governativas», sempre a “bem da Nação”«ordenaram medidas especiais de segurança», e, devido a «aconselháveis precauções», até os«automóveis das brigadas móveis» de choque foram colocados de alerta e bastão em punho, para além de serem «montados serviços de vigilância» nas estações ferroviárias e fluviais, não fosse o diabo tecê-las…

O pormenor dessa sanha repressora era de truz. Para facilitar «o serviço de vigilância da polícia» – porém decerto complicar a vida aos trabalhadores que regressavam ao domicílio depois duma jornada de trabalho – foram «mudadas várias paragens de eléctricos e de autocarros».

Na oportunidade de malhar nos assalariados, o regime duro e impiedoso que não professava grande estima pela arraia-miúda, nada deixava ao acaso. Até na ordem para impedir «paragens e ajuntamentos», havendo o necessário recurso a umas traulitadas para convencer os «recalcitrantes», e calabouço para «três desobedientes».

Quando «tudo parecia decorrer na devida ordem», estas prisões na Praça do Comércio, assegura o noticiário que seguimos par e passo, deram origem ao«pretexto» de diversos «grupos de indivíduos», em alta grita a «injuriaram e vaiaram a Polícia, tentando rodear um carro patrulha». Do pé para a mão,«os grupos de desordeiros engrossavam», enquanto «a força policial tentou afastar a multidão que então se formara num ápice». Toque-se a rebate!

Como «as pessoas ordeiras» entraram em horda de franca «desobediência» e até resistiam à intimação dos «potentes altifalantes portáteis» no sentido de se afastarem, foi usada a dialéctica da força bruta e espancamento para afastar a canalha e «fazer evacuar a praça». Assim, a autoridade, certamente pouco contrariada, e zás, «viu-se obrigada a carregar de bastão em riste, no meio de gritaria e insultos dos manifestantes, sucedendo-se as correrias», ofensa gravíssima.

A confusão e as cargas policiais alastraram às ruas Augusta, do Ouro, da Prata, dos Fanqueiros, da Madalena, ao Largo da Sé, ao Rossio e Restauradores, e os manifestantes recebiam tratamento diferenciado de «díscolos»«desordeiros»,«provocadores» e outros mimos na pena servil do redactor, e, claro, bordoada e remetidas dos cívicos, naquela missão patriótica de rachar cabeças à bastonada, mais um crivo de pontapés e coronhadas.

A polícia, coitada, botava-se de corrida e lá «teve de carregar novamente» sobre «os desordeiros, muito aumentados» no número, que«fugiam dum lado, para logo aparecerem e se reagruparem noutro», desalmados desconformes que não ficavam quietos a levar pancada de criar bicho como mandava a lei…

A coisa foi de tal monta, imaginem, «em dada altura a situação piorou por motivo de alguns amotinados começarem a apedrejar os agentes da autoridade», e assim, os «motins aumentaram» de intensidade. Para pôr fim a tal despautério, e mais a meia dúzia de pedradas, «agressão praticada pelos desordeiros», a polícia «viu-se na necessidade de empunhar armas de fogo para impor respeito e intimidar».

Aqui se prova que o povo português é dos mais altos do mundo – ou tinha a polícia pouca pontaria –, pois tão-somente atirou umas «descargas» de «armas automáticas», dando «alguns tiros para o ar», as balas a uivar, mesmo assim, cortavam a carne, num banho de sangue e rasto de vítimas.

Apesar do tiroteio à carga cerrada, «durante algum tempo», os elementos«provocadores não cessaram» a actividade, sendo necessário recorrer a frenéticas cargas de «um esquadrão de cavalaria da GNR». O jornal, narração feito para crédulos e tolos, realçava uns parágrafos à frente, que «a despeito de a Polícia haver feito as descargas para o ar, com a preocupação de não atirar para a multidão, alguns projécteis» atingiram «seis dos manifestantes». A ordem salazarista, assim pintada, parecia alma dócil e piedade cristã.

«Dos desordeiros atingidos, um deles teve morte imediata, pois um projéctil atravessou-lhe o crânio», relatava dando um ar cândido à tirânica morte de Estêvão José Dangue Giro, caiu cerce aos 25 anos, servente de tipografia, natural e residente em Alcochete. Os maltratados, afinal veio a constatar-se serem muitos mais, foram transportados para o banco de urgência do Hospital de S. José e o posto de socorros do Terreiro do Paço.

Entrementes, o teatro das operações mudava-se para o Rossio, onde a polícia utilizou «o chamado carro de água», e com «fortes jactos» de «água colorida de azul» lá «dispersou os desordeiros», tingindo também «paredes, portas e o pavimento». Dias de muita bicheza!

O resto, para não saturar a moleirinha, vai o relato do tamanho dum mantéu, foi respingo de violência, com a «força pública» a «agir com energia» na Praça da Figueira e no Martim Moniz. Mais cacetadas da polícia na Rua da Palma, uso de«bombas lacrimogéneas» por todo o lado, açoitando além, rompendo adiante, desde o Rossio ao Largo do Duque de Cadaval, intercalados por galopes de quadrúpedes da cavalaria e «tiros de advertência» para o ar.

E ainda outras «desordens» de «menor importância» nas zonas do Largo do Carmo, Chiado e Escola de Veiga Beirão, «facilmente dominadas pela GNR e pela Polícia». Os tumultos com os «grupos de desordeiros» reacenderam-se à noite «depois de terminarem os espectáculos», levando a lesta e desembaraçadas intervenções dos pelotões da PSP e GNR no Rossio, Largo de D. João da Câmara, Praça da Figueira, S. Domingos e ruas do Ouro e Augusta. Nova carga de disparos e rajadas de metralhadora sobre a multidão, a turbamulta em carne viva, os pimpões a calcar em pé de guerra.

Nessa ocasião a polícia mandou «encerrar os cafés e as casas de pasto» entre o Rossio e o Terreiro do Paço. A situação amainou lá para a 1h30, altura em que a «cidade voltou à normalidade», embora debaixo de «intenso patrulhamento» das forças policiais, dormitando com um olho, o trabuco aperrado para a fuzilaria, o bastão da vergalhada à mão de semear.

No decorrer dos «acontecimentos da tarde e da noite» foram detidos na esquadra vizinha ao Teatro Nacional cerca de 150 indivíduos, «entregues à PIDE» para «apurar as responsabilidades que lhes competem». Entre as detenções, a notícia faz relevo para duas senhoras por «injuriaram e ameaçaram a Polícia», um perigo público eminente, certamente.

Um dos trincafiados, lata suprema, fora detido pela lesa-nação de atirar «pedras a um esquadrão de cavalaria» que espezinhava os manifestantes, e ao mesmo tempo «foram-lhe apreendidos numerosos panfletos de propaganda subversiva».

Dos feridos, a rebolarem pelo chão, seis ficaram hospitalizados no Hospital de S. José, cinco dos quais «feridos a tiro»
[3]. Entre eles, um elemento da polícia[4]atingido por “fogo amigo” das próprias forças repressivas.

Na sua santa indignação de virgem melindrada o jornal destacava que, para além do cívico baleado, ficaram feridos mais um guarda da PSP
[5], um agente da PIDE[6], um guarda prisional[7] e um oficial do Exército[8]. Os restantes 28 indivíduos feridos receberam tratamento hospitalar e passaram de imediato para o calabouço do Governo Civil, detidos à ordem da PIDE, velhaca e traiçoeira.

No dia seguinte, a 2 de Maio de 1962, o ministro do Interior, o finório dr. Santos Júnior
[9], percorreu as ruas de Lisboa onde se deram os«lamentáveis acontecimentos da alteração da ordem pública», certamente com ar consternado, dada a dimensão dos estragos, mas soberbo da sua força.

Para outra oportunidade ficará o relato que o AVANTE! fez dos mesmos acontecimentos, assim como as demais manifestações que ocorreram no Porto, Setúbal, Alentejo e de novo em Lisboa. Aqui e agora, fica a exposição duma jornada antifascista que o regime salazarista, gente desvairada, tentou esmagar por entre clamores, tiros e bordoadas de partir tudo. Tudo, menos a vontade dum povo em grito de revolta a sair do peito.


[1] Do Forte de Peniche fugiram os seguintes elementos, numa das fugas mais espectaculares: Álvaro Barreirinhas CunhalJoaquim Gomes dos Santos, Jaimedos Santos SerraCarlos Campos Rodrigues da CostaFrancisco Miguel Duarte (“Chico Sapateiro”), José CarlosPedro dos Santos SoaresGuilherme da Costa CarvalhoRogério Rodrigues de Carvalho e Francisco Martins Rodrigues (“Chico Martins”). A comissão de fuga do interior era composta por Álvaro Cunhal, Jaime Serra e Joaquim Gomes, e do exterior organizaram a fuga Joaquim Pires Jorge, António Dias Lourenço, Octávio Pato e Rogério Paulo.
[2] Cf. DIÁRIO DE NOTÍCIAS, de 3 de Maio de 1962. Todas citações são tiradas deste periódico.
[3] Ficaram internados e detidos no Hospital de São José: Eugénio Baptista, 64 anos, carpinteiro; José Augusto Rosendo, 42 anos, marinheiro; António José Mendes de Andrade, 16 anos, empregado de livraria; Armando Correia de Carvalho, 30 anos, maleiro; António Bernardino Poças Lopes, 27 anos, torneiro mecânico.
[4] Manuel Antunes Jacinto, de 22 anos, guarda da PSP, no quartel da Parede.
[5] António Maia de Morais, 25 anos, agente da PSP do quartel da Parede.
[6] Luís Martins Ferreira, 46 anos, agente da PIDE, morador na Amadora.
[7] José da Costa Quebrada, 37 anos, guarda dos Serviços Prisionais do Reduto Sul de Caxias.
[8] Jorge Marques Ferreira, tenente do Exército, de 49 anos.
[9] Alfredo Rodrigues do Santos Júnior (1908+1990), formado em Medicina pela Universidade de Coimbra, foi presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (1933-1934), médico do Hospital de Gouveia, director do posto médico da Caixa de Previdência dos Lanifícios de Gouveia, presidente da Câmara Municipal de Gouveia (1946-1959), subdelegado regional da Mocidade Portuguesa em Gouveia, presidente da Comissão Distrital da Guarda da União Nacional (1952), deputado da Nação pelo distrito da Guarda (1957-1960), governador civil do distrito da Guarda (1960-1961) e Ministro do Interior (1961-1968). Foi condecorado como oficial da Ordem de Cristo. A sua actuação no Ministério do Interior ficou marcada pelo notório reforço da acção repressiva do regime.

domingo, abril 29, 2012

Só a luta operária e popular pode reverter a regressão social!


1º de Maio
Viva os proletários de todos os países!
Só a luta operária e popular pode reverter a regressão social!
Em todos os continentes a classe operária e os povos resistem à deterioração das suas condições de trabalho e de vida e lutam contra a ofensiva capitalista e imperialista. Greves, manifestações, guerras populares, com vitórias e derrotas vêm ocorrendo em todo o mundo. Mas vivemos um período da história da humanidade marcado pela regressão social, que pode ser verificada em todas as dimensões da vida.
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Consideramos que o fator fundamental nesse processo de regressão foi o predomínio do oportunismo, do reformismo e da conciliação de classe, particularmente nas últimas décadas, no movimento comunista e operário mundial, nos partidos comunistas e revolucionários. Esse recuo ideológico e político na luta de classes internacional levou a erros e desvios na construção do socialismo, com a derrota da União Soviética e do bloco socialista do leste europeu, e à vitória da burguesia e da contrarrevolução mundial. Em países como a China, onde formalmente prevalece um regime socialista, observamos um processo de restauração capitalista. A burguesia nacional se fortalece não só porque explora brutalmente o proletariado chinês, com altas taxas de mais-valia, como também porque expande essa exploração sobre os trabalhadores em outros países onde suas empresas se instalam. Desde então, o retorno ao capitalismo nessa região do planeta, bem como sua intensificação nas regiões anteriormente dominadas, como América Latina e África, desencadearam uma contínua reversão das conquistas sociais que estavam em curso em todo o mundo, desde a Revolução de Outubro de 1917.
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Esse recuo das posições revolucionárias deixou a classe operária e os povos no mundo desarmados para enfrentar a política do capitalismo de intensificar a exploração e a opressão. E, no contexto desse recuo, a burguesia em nível mundial, com a reestruturação produtiva e a “liberalização” da economia (o chamado “neoliberalismo”), conseguiu vergar o proletariado ameaçando-o com o desemprego, o fechamento de fábricas e a não realização de investimentos, caso não aceitassem as reformas regressivas que retiravam direitos. 
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O resultado de todo esse processo é que o direito a uma vida digna, consubstanciado na universalização do acesso a trabalho regulamentado, alimentação, moradia, saúde, cultura e lazer, que era uma realidade para uma parte considerável dos povos e que ao menos parcialmente estava ao alcance das populações dos países capitalistas dominantes e, em menor medida, também nos países dominados, foi interrompido.
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A contrarrevolução burguesa em curso, para favorecer a possibilidade do emprego de capitais que não conseguem aplicação lucrativa na esfera produtiva, tratou de destruir os serviços públicos de educação, saúde, entre outros, forçando os setores médios da sociedade a pagarem por estes serviços em escolas e convênios particulares, condenando os setores mais empobrecidos a um precário atendimento público. Esses capitais também são aplicados na especulação financeira envolvendo até os alimentos, encarecendo seu preço e aumentando a fome em vários países do mundo.
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O desenvolvimento científico e tecnológico, colocado a serviço do capital, leva o desemprego, a fome e a miséria a milhões de pessoas, que sobrevivem em condições sub-humanas nas ruas e favelas. A quantidade de alimentos produzidos hoje daria para alimentar o equivalente a três vezes a população mundial. Porém, milhões de pessoas no mundo se alimentam mal, vivem na subnutrição crônica ou morrem de fome, pois se reforça a lógica da acumulação capitalista, de obter lucros, na produção de alimentos. Outra parcela dos trabalhadores, para manter um padrão de vida minimamente decente, se submete à intensificação da exploração, laborando extensas horas e com ritmos acelerados de trabalho.
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Para levar adiante essa política, a burguesia conseguiu a adesão de vários partidos e organizações sindicais e populares que, anteriormente, defenderam projetos emancipatórios, mas que se converteram aos dogmas burgueses e reduziram suas propostas a meras reformas superficiais, na forma de políticas compensatórias, do tipo bolsa-família. Esses partidos e organizações contribuíram para a situação de regressão social atualmente em curso, ao negociarem com a burguesia a aplicação de políticas que retiram direitos.
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As formas de regressão social impostas em todo o mundo pelo imperialismo ao proletariado incluem as ameaças de novas guerras, inclusive as nucleares, como o possível bombardeio ao Irã. Em busca de manter fontes de matéria-prima, o imperialismo incrementa guerras e busca se imiscuir nos assuntos internos de certos países, como foi o caso da Líbia e agora a Síria. O aprofundamento da crise e a regressão social vivida pelo proletariado, especialmente na Europa, geram uma revivescência do fascismo em escala mundial e de formas de autoritarismo civil.
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O Brasil, apesar da propaganda oficial que afirma ter surgido no país uma nova classe média, não está imune a esse processo de regressão social. O aumento no consumo de eletroeletrônicos e de automóveis por meio do endividamento familiar pode dar a impressão de certa melhoria nas condições de vida, mas não apaga problemas como a intensificação da exploração, os salários baixos, as longas jornadas de trabalho, o aumento nas denúncias de trabalho escravo mesmo em atividades urbanas e a deterioração dos serviços públicos, como a saúde e a educação, o transporte público caótico, e a falta de moradia, etc. As obras da Copa e das Olimpíadas, além de novos empreendimentos industriais como portos, usinas e estaleiros, atiçaram a ganância do capital imobiliário. Este promove em várias cidades, com apoio do judiciário e da polícia, remoções violentas de comunidades inteiras. Há uma remodelação de grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde se expulsam moradores de comunidades pobres visando entregar essas áreas para a especulação imobiliária.
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Contra tudo isso o proletariado brasileiro tem resistido com lutas e greves. Destacam-se as lutas dos operários dos canteiros de obras nos estádios de futebol, do PAC na construção das Usinas de Jirau e Santo Antônio, a greve dos bombeiros no Rio de Janeiro, a luta dos professores por todo o país. A resposta do Estado capitalista brasileiro a todas essas demandas tem sido a repressão e criminalização dessas lutas, com o envio de tropas da Força Nacional de Segurança para reprimir a greve dos operários nas obras do PAC e o violento despejo que sofreram os moradores do Pinheirinho em São José dos Campos/SP.
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Em nossa opinião, só a luta operária e popular pode reverter esse processo de regressão social. Os trabalhadores, se quiserem melhores dias para si e seus filhos, devem aceitar o desafio de lutar revolucionariamente pela destruição das relações sociais capitalistas e, consequentemente, pela edificação de uma sociedade socialista, em transição para o comunismo.
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No imediato, devemos generalizar e unificar as lutas de cada categoria profissional, junto aos demais setores explorados, na resistência à retirada de direitos sociais e trabalhistas e contra a privatização e precarização dos serviços públicos. No plano internacional, devemos nos solidarizar com os trabalhadores em luta e nos opor resolutamente contra todas as formas de intervenção e guerras patrocinadas pelo imperialismo, garantindo aos povos o direito a sua autodeterminação.
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Viva o 1º de Maio classista e de luta!
Viva os proletários de todos os países!
Jornal Arma da Crítica
1º de maio de 2012
Esta página encontra-se em www.cecac.org.br
27/abril/2012

sexta-feira, abril 27, 2012

1º DE MAIO DE 2012 -- CGTP-IN





Publicado em 27/04/2012 por 
TEMPO DE ANTENA DE DIVULGAÇÃO DAS COMEMORAÇÕES DO 1º DE MAIO DE 2012 PROMOVIDAS PELA CGTP-IN EM TODO O PAÍS

cgtp - 1º de Maio de 2012




Publicado em 27/04/2012 por 
Apelo à participação na Manifestação em Lisboa (Marquês de Pombal - Restauradores) pelas 14h30


segunda-feira, maio 02, 2011

As grandes superfícies e o 1º de Maio


Grupos Jerónimo Martins e Sonae decidiram abrir os supermercados




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Carvalho da Silva acusa Belmiro de Azevedo e Soares dos Santos de "gula do lucro"


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CGTP anuncia manifestações contra "ingerência da UE e FMI"


cgtp3
Lusa
Carvalho da Silva discursou no final da manifestação do 1º de Maio  organizada pela CGTP-IN em Lisboa
Publicação: 01-05-2011 19:29   |  Última actualização: 01-05-2011 23:44

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A CGTP anunciou este domingo a realização de duas manifestações em 19 de Maio, uma em Lisboa e outra no Porto, contra "a ingerência da UE e do FMI".
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O secretário geral da CGTP, Manuel Carvalho da Silva, anunciou as "duas grandes manifestações" contra as medidas que venham a ser impostas na sequência da negociação entre o governo português e a 'troika' que está a preparar o plano de ajuda externa, perante milhares de pessoas que celebravam o Dia do Trabalhador na Alameda.

"É por estas exigências, e contra as medidas que nos querem impor, que convocamos os trabalhadores e as trabalhadoras, os jovens, os pensionistas e reformados para uma ampla participação nas duas grandes manifestações que vão ter lugar no dia 19 de maio", disse o sindicalista.

Carvalho da Silva deixou um apelo a todos para que participassem nas manifestações com o objetivo de mostrarem que "o país tem alternativas".

"O futuro é de esperança e a esperança constrói-se" afirmou, acrescentando que os próximos tempos vão ser de grande trabalho sindical.


Programas eleitorais

Noutra passagem da sua intervenção, o secretário geral da CGTP considerou que os partidos que se comprometerem com as medidas da 'troika' têm de as apresentar nos seus programas eleitorais, sob pena de estarem a burlar os portugueses e a atentar contra a democracia.

"Os programas dos partidos que se comprometem com as medidas da UE/FMI não podem deixar de, de forma clara, apresentarem aos portugueses esse compromisso. Escondê-lo significará uma burla aos portugueses e um atentado à democracia", afirmou Manuel Carvalho da Silva.

Aos jornalistas, Carvalho da Silva disse que o PS, que já apresentou o seu programa eleitoral, não refere nada relacionado com medidas em negociação com a 'troika' e defendeu a apresentação de um segundo programa pelos socialistas, caso contrário "estarão a burlar os portugueses".

No seu discurso, o sindicalista apelou à mobilização dos trabalhadores, e dos jovens em particular, para que façam da pré-campanha e da campanha eleitoral "um tempo e um espaço de apresentação séria de problemas e propostas" para dar conteúdo à agenda política.

"Devemos usar o voto lutando pelo futuro do nosso país e dos seus trabalhadores, numa escolha coerente e livre de quem nos vai representar na Assembleia da República, órgão de cuja representação sairá o novo governo", afirmou.

Carvalho da Silva defendeu ainda que as eleições legislativas de 5 de junho "não podem transformar-se num mero plebiscito para escolher quem vai executar políticas previamente definidas".

Com Lusa


Três feridos em incidentes no 1º de Maio em Setúbal



Ontem

Confrontos entre um grupo anarquista e forças de segurança no Largo da Fonte Nova, em Setúbal, resultaram em três feridos e várias pessoas identificadas pela PSP, disseram fontes policiais e do Hospital São Bernardo. 
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O grupo constituído por alguma dezenas de anarquistas, que trajavam de negro, seguiu de perto o tradicional desfile do 1.º de Maio da União de Sindicatos de Setúbal (USS), afeta à GGTP, que partiu da Praça de Quebedo em direcção à avenida Luísa Todi, mas, segundo fonte sindical, não se registaram incidentes.
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Segundo a mesma fonte, a partir de determinada altura os anarquistas acabaram por seguir outro percurso, em direcção ao Largo da Fonte Nova. 
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Fonte policial adiantou que os incidentes terão começado quando as forças policiais chegaram ao local e foram recebidas com o arremesso de vários objectos, depois de terem sido alertadas por populares para o barulho e para alguns comportamentos menos próprios dos anarquistas.
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"Os elementos da PSP tiveram de efectuar alguns disparos de shot-gun", confirmou à Lusa um porta-voz da corporação, admitindo a possibilidade de haver alguns feridos ligeiros.
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O Gabinete de Comunicação do Hospital São Bernardo confirmou à Lusa que deram entrada no serviço de urgência três pessoas que terão sofrido alguns ferimentos ligeiros, alegadamente nos incidentes que ocorreram na Fonte Nova, mas adiantou que já todos tiveram alta.
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Contactado pela Lusa, um dos participantes no que classificou como uma "manifestação anti-capitalista" e que pediu o anonimato, disse que no final do protesto, "chegou um carro de patrulha da polícia que pediu para baixar [o som] da música que vinha da mala de um carro e pediu identificação a algumas pessoas que não se quiseram identificar".
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Entretanto, prosseguiu, "chegou um carro da polícia de intervenção" ao Largo da Fonte Nova. "Tinham armas de balas de borracha e armas reais, gás pimenta e cassetetes", tendo a polícia e os manifestantes entrado em confrontos. 
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"Foi um cenário desmesurado para o que se estava a passar", concluiu.
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EPHEMERA

Biblioteca e arquivo de José Pacheco Pereira

Publicado por: JPP | 29/04/2011

1º DE MAIO ANTI-CAPITALISTA ANTI-AUTORITÁRIO (SETÚBAL, 1 DE MAIO DE 2011)



Setúbal:Convocatória 1º de Maio 2011- Manifestação Anti-capitalista e Anti-autoritária

2011-05-01 13:00
Todos a Setúbal no 1º de Maio 2011, pelas 13:00 no Largo da Misericórdia.
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Chamada à recuperação da tradição combativa e anti-autoritária do “dia do trabalhador”::
{Chamada a uma mobilização geral}
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Desde o grupo de pessoas que compõem o recém formado colectivo anarquista *Terra Livre* de Setúbal queremos convocar uma manifestação de indivíduos, grupos, colectivos, espaços ou sindicatos apartidários, anti-autoritários, anti-políticos ou autónomos para o Domingo 1º de Maio de 2011.
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Desejamos fazer desta data um marco de mobilização não controlada por nenhuma força partidária, por nehuma central sindical , ou qualquer força de repressão e controlo do Estado.
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Desejamos recuperar o seu carácter de mobilização geral de trabalhadores, desempregados, estudantes e de todos quantos anseiam por uma sociedade nova, livre de violência capitalista, jogos partidários e repressão estatal.
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{1º de Maio de 1886}
Em Chicago, EUA, as mobilizações operárias são violentamente atacadas pela polícia, seguranças privados e mercenários nas mãos dos ricos. Ao fogo tirano responde o fogo dos revolucionários. Caem corpos no chão dos dois lados da barricada.
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Uma dezena de anarquistas são presos, condenados e injustamente assassinados: não interessava a verdade, mas sim o exemplo e a instauração de um clima de terror e medo entre o povo.
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O efeito foi contrário: desse dia em diante, por todo o mundo, milhões de pessoas se levantam em solidariedade com esses anarquistas presos, propondo-se a resgatar da prisão essas sementes de dignidade humana. E dos corpos desses anarquistas cravejados das balas do poder e da infâmia, brotaram as raízes do assalto colectivo às cúpulas, para tentar trazer a (des)ordem capitalista aos seus joelhos e finalmente decapitá-la.
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Até aos dias de hoje houve algumas vitórias, muitas derrotas e demasiadas traições... mas não houve um momento de descanso. A violência do Estado e dos patrões mudou bastante, perdendo a sua “simplicidade” enquanto refinava as suas tácticas, adquirindo tecnologia de ponta e requintes repugnantes de crueldade e maquiavelismo. Pelo contrário, as condições laborais / sociais/ económicas têm andado para trás, estando hoje pouco ou nada melhor do que no inicio do século passado, apesar dos gigantescos avanços tecnológicos e ciêntificos.
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O que podemos aprender desses tempos, recusando qualquer mistificação do passado, é que a solidariedade e a acção colectiva das bases surgem sempre como uma poderosa arma em tempos de guerra suja dos governantes contra os seus governados
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{2011 – Estamos Inquietos }
Há várias posições assumidas, mas dê lá por onde der, um facto é hoje inegável, da Tunísia à China, da Grécia a Portugal: os dias da paz social e apatia inquebrável ficaram para trás. Muitos sabiam que mais tarde ou mais cedo aconteceria, outros foram apanhados de surpresa. Alguns já tinham feito as suas jogadas antecipando-se, mas muitos mais têm agido com a espontaneidade e criatividade que os tempos exigem.
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O que nos causa hoje em dia uma grande inquietação não é simplesmente o facto de vivermos sob o controlo de um poderoso Estado que nos oferece blindados e policias para resolver a nossa fome.
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Não é só o facto de termos de apertar tanto o cinto até que o tenhamos de pôr finalmente à volta do pescoço.
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Nem tão pouco a “crise” desta economia que nos obriga a todos a ser seus fiadores e que no fundo existe desde que o capitalismo é a nossa forma de regime económico.
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Não é só o facto dos direitos laborais serem sinónimos de uma escravatura com menos chicotes, ou da democracia ser a maior ditadura de que há memória.
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O que nos inquieta é saber que é de todos nós que se alimenta este virús chamado capitalismo, e portanto que é também de nós que depende a sua destruição.
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Estamos inquietos e é sem dúvida nenhuma o tempo de sair à rua. Sem líderes nem partidos, sem cúpulas nem dirigentes. Sabendo que assim que levantamos a voz e os braços surgem imediatamente alcateias de instituições, partidos e organizações a quererem controlar os nossos gritos. Sabemos também que independentemente da data, todos os dias são um bom dia para recuperarmos a dignidade que o estado e a ganância de alguns nos foram roubando a todos.
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Portanto, movermo-nos colectivamente a partir da base e de forma autónoma no primeiro dia de Maio é fruto do desejo de nos movermos assim todos os dias! E assim deixarmos para trás a corja de abutres e oportunistas que tentarão anunciar-se como “salvadores da pátria”, tão interessados que estão em chupar o nosso sangue de uma forma mais “justa”, mais “democrática” ou mais “nacionalista”.
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{Porquê Setúbal?...}
Setúbal mantém um espírito rebelde apesar das inúmeras investidas do progresso capitalista e da pobreza. É uma cidade com fortes raízes de lutas libertárias, que nunca deixou de ser território de conflitos sociais. A ideia era propôr Setúbal como local anual para as iniciativas libertárias do 1º de Maio reconhecendo na cidade o potencial para um protesto mais vísivel nas ruas e menos imiscuido na paleta de cores partidarias e institucionais que as grandes mobilizações trazem a Lisboa.
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O objectivo seria termos o espaço para criar uma mobilização autónoma e de base e consideramos que em Lisboa esta tarefa é bem mais difícil, confusa e frustrante; acrescida de toda a perseguição promovida vezes sem conta pelo grupo de ordem da CGTP (cujos abusos não tencionamos tolerar) que coopera e participa das tácticas repressivas da Polícia (para mais tarde fazerem figuras tristes a indignar-se com a “violência policial” quando lhes toca a eles) e que nos atraí com demasiada frequência para um confronto que não é o nosso objectivo.
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O nosso desejo não é, no entanto, criar espaço para que membros de base da cgtp sejam alvos dos nossos insultos já que antes de considerarmos um individuo como “sindicalista” ou “membro da cgtp” considera-lo-emos enquanto individuo. Os nossos insultos ficam guardados para os dirigentes e para as cúpulas.
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Não foi nem nunca será difícil expressar as nossas ideias e a nossa combatividade se em vez de nos focarmos no que há de criticável nas organizações sindicais, nos focarmos nos nossos princípios, métodos e objectivos.
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{E agora... mãos à obra companheiros!}
Queremos pôr esta proposta em discussão. Levem-na aos vossos grupos, colectivos, companheiros, camaradas ou amigos do café. Planeiem, conspirem, discutam e critiquem.

Pelo caminho vão haver um par de reuniões para acertar detalhes, e uma assembleia mais abrangente. Se quiseres participar nas preparações ou tiveres sugestões entra em contacto através do nosso e-mail. Todos poderemos aportar com um pouco para a realização deste projecto e seguramente conseguimos fazer o possível e o impossível. Sempre o conseguimos. Sem estruturas hierárquicas, sem autoridades mesquinhas e sem politiquices.
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Sem nada disso, mas com toda a determinação, respeito, dignidade e combatividade.
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Todos a Setúbal no 1º de Maio 2011, pelas 13:00 no Largo da Misericórdia.