A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Leituras - “Vítimas de Salazar – Estado Novo e Violência Política”



Fonte: Momentos e Documentos
http://momentosedocumentos.blog-city.com/



Gravura: Di Cavalcanti

Fados do Tempo da Outra Senhora (15) - Menino do Bairro Negro



















Fados do
Tempo da Outra Senhora (15)

Menino do Bairro Negro

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Menino sem condição
Irmão de todos os nus
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz

Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Vira também

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Se até da gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti

Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver

Negro bairro negro
Bairro negro
Onde não há pão
Não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção
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Letra e música: José Afonso
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Os meios sociais miseráveis do Porto, no Bairro do Barredo, inspiraram-lhe para a sua balada «Menino do Bairro Negro».
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Então a zona mais pobre do Porto, a miséria do Barredo foi descoberta nos anos 40/50 pelo Padre Américo na sua peregrinação pelos bairros mais miseráveis do Porto. A sua Obra em favor das crianças mais desfavorecidas teve e tem ainda um eco de que o Barredo é o símbolo.
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Morreu em 1956 num desastre de automóvel, e logo o grande Bispo que então governava o Porto, D. António Ferreira Gomes, entendeu que essa obra e esse símbolo não poderiam acabar e, para os perpetuar, imediatamente idealizou o Centro Social do Barredo, a que deu Estatutos inéditos em Portugal.
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Não chegou a assistir ao seu arranque porque entretanto aconteceu a sua conhecida divergência do Dr. Salazar. De qualquer maneira, o Bispo que passou a governar a Diocese deu seguimento à ideia e, em 1961, o Centro Social do Barredo começou a funcionar numa velha, mas muito grande e bela, casa do século XVII, na Ribeira.
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Tinha, para além de um Jardim Infantil que foi dos primeiros que no Porto houve, um espaço para Ocupação dos Tempos Livres das crianças das escolas e estruturas de apoio às famílias pobres. As profissões então em voga na Ribeira não beneficiavam ao tempo de qualquer esquema social. Havia, também, um Posto Médico e de Enfermagem, praticamente gratuitos, e um bem apetrechado Serviço Social de apoio às famílias.
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Um dos primeiros problemas a que o seu Serviço Social se dedicou foi ao problema habitacional na zona, que era gravíssimo, com casas e quartos velhos e superlotados (10 pessoas e mais num só quarto). A população era muito maior do que hoje é (9.000 pessoas na freguesia contra menos de metade agora), a natalidade era enorme (famílias com 10 filhos e mais).

Gravuras:
Arlinda Correa Lima - Menino da Vila - Óleo sobre tela - 1951.
Yara Tupinambá - Casas Velhas e Favela - Xilografia - 1958.
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Audição Musical em
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Menino do Bairro Negro - Mariza

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Fados do Tempo da Outra Senhora (14) - Fado de Peniche (Abandono)


Fados do Tempo da Outra Senhora (14)


Fado de Peniche (Abandono)


Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.
 
Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.

Poema- David Mourão Ferreira
Intérprete: Amália Rodrigues
Foto: Cabo Carvoeiro - Peniche

NOTA:
O seu fado de Peniche é proibido por ser considerado um hino aos que se encontram presos em Peniche, Amália escolhe também um poema de Pedro Homem de Mello Povo que lavas no rio que ganha uma dimensão política.

Fados do Tempo da Outra Senhora (13) -Tourada


Fados do Tempo da Outra Senhora (13)


Tourada


Não importa sol ou sombra
camarotes ou barreiras
toureamos ombro a ombro
as feras.
Ninguém nos leva ao engano
toureamos mano a mano
só nos podem causar dano
espera.

Entram guizos chocas e capotes
e mantilhas pretas
entram espadas chifres e derrotes
e alguns poetas
entram bravos cravos e dichotes
porque tudo o mais
são tretas.

Entram vacas depois dos forcados
que não pegam nada.
Soam brados e olés dos nabos
que não pagam nada
e só ficam os peões de brega
cuja profissão
não pega.

Com bandarilhas de esperança
afugentamos a fera
estamos na praça
da Primavera.

Nós vamos pegar o mundo
pelos cornos da desgraça
e fazermos da tristeza
graça.

Entram velhas doidas e turistas
entram excursões
entram benefícios e cronistas
entram aldrabões
entram marialvas e coristas
entram galifões
de crista.

Entram cavaleiros à garupa
do seu heroísmo
entra aquela música maluca
do passodoblismo
entra a aficionada e a caduca
mais o snobismo
e cismo...

Entram empresários moralistas
entram frustrações
entram antiquários e fadistas
e contradições
e entra muito dólar muita gente
que dá lucro aos milhões.

E diz o inteligente
que acabaram as canções.

Nota:

Poema: Ary dos Santos
Musica de Fernando Tordo. Escrito no final de 1972. Interpretada por Fernando Tordo, concorreu ao Festival da RTP de 1973 onde obteve o 1º lugar. Interpretado por Fernando Tordo .
Gravura - Picasso - Tourada - tinta da china 1959
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Fados do Tempo da Outra Senhora (12) - Censura


Fados do Tempo da Outra Senhora (12)


Trova do vento que passa - Manuel Alegre
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Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Pergunto aos rios que levam
tanto sonho à flor das águas
e os rios não me sossegam
levam sonhos deixam mágoas.
Levam sonhos deixam mágoas
ai rios do meu país
minha pátria à flor das águas
para onde vais? Ninguém diz.
Se o verde trevo desfolhas
pede notícias e diz
ao trevo de quatro folhas
que morro por meu país.
Pergunto à gente que passa
por que vai de olhos no chão.
Silêncio -- é tudo o que tem
quem vive na servidão.
Vi florir os verdes ramos
direitos e ao céu voltados.
E a quem gosta de ter amos
vi sempre os ombros curvados.
E o vento não me diz nada
ninguém diz nada de novo.
Vi minha pátria pregada
nos braços em cruz do povo.
Vi minha pátria na margem
dos rios que vão pró mar
como quem ama a viagem
mas tem sempre de ficar.
Vi navios a partir
(minha pátria à flor das águas)
vi minha pátria florir
(verdes folhas verdes mágoas).
Há quem te queira ignorada
e fale pátria em teu nome.
Eu vi-te crucificada
nos braços negros da fome.
E o vento não me diz nada
só o silêncio persiste.
Vi minha pátria parada
à beira de um rio triste.
Ninguém diz nada de novo
se notícias vou pedindo
nas mãos vazias do povo
vi minha pátria florindo.
E a noite cresce por dentro
dos homens do meu país.
Peço notícias ao vento
e o vento nada me diz.
Quatro folhas tem o trevo
liberdade quatro sílabas.
Não sabem ler é verdade
aqueles pra quem eu escrevo.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
Música: Manuel Alegre - António Portugal
Letra: Manuel Alegre

Fados do Tempo da Outra Senhora (11) - Ciúme


Fados do Tempo da Outra Senhora (11)



Fado do Ciúme


Se não esqueceste
o amor que me dedicaste
e o que escreveste
nas cartas que me mandaste
esquece o passado
e volta para meu lado
porque já estás perdoado
de tudo o que me chamaste.

Volta meu querido
mas volta como disseste
arrependido
de tudo o que me fizeste,
haja o que houver
já basta p'ra teu castigo
essa mulher
que andava agora contigo.

Se é contrafeito
não voltes toma cautela
porque eu aceito
que vivas antes com ela
pois podes crer
que antes prefiro morrer
do que contigo viver
sabendo que gostas dela.

Só o que eu peço
é uma recordação
se é que mereço
um pouco de compaixão,
deixa ficar
o teu retrato comigo
p'ra eu julgar
que ainda vivo contigo.
Intérprete: Amália Rodrigues
Música: Frederico Valério
Letra: Amadeu do Vale

terça-feira, fevereiro 27, 2007

Fados do Tempo da Outra Senhora (10) - Pedro Soldado (Guerra Colonial)


Fados do tempo da outra senhora (10)


Pedro soldado lyrics - Manuel Alegre
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Já lá vai Pedro soldado
Num barco da nossa armada
E leva o nome bordado
Num saco cheio de nada
Triste vai Pedro soldado
Branca rola não faz ninho
Nas agulhas do pinheiro
Não é Pedro marinheiro
Nem o mar é seu caminho
Nem anda a branca gaivota
Pescando peixes em terra
Nem é de Pedro essa roda
Dos barcos que vão à guerra
Onde não anda ceifeiro
Já o campo se faz verde
E em cada hora se perde
Cada hora que demora
Pedro no mar navegando
Não é Pedro pescador
Nem no mar vindimador
Nem soldado vindimando
Verde vinha vindimada
Triste vai Pedro soldado


Intérprete: Adriano Correia de Oliveira
Música: Adriano Correia de Oliveira
Letra: Manuel Alegre


Adriano Maria Correia Gomes de Oliveira nasceu em Avintes, em 9 de Abril de 1942, no seio de uma família tradicionalista católica. Tirou o curso do liceu no Porto. Em Avintes iniciou-se no teatro amador e foi co-fundador da União Académica de Avintes. Em 1959 rumou a Coimbra, onde estudou Direito. Foi solista no Orfeon Académico de Coimbra [1] e fez parte do Grupo Universitário de Danças e Cantares e do Círculo de Iniciação Teatral da Académica de Coimbra. Tocou guitarra no Conjunto Ligeiro da Tuna Académica. No ano seguinte editou o primeiro EP acompanhado por António Portugal e Rui Pato. Em 1963 saiu o primeiro disco de vinil "Fados de Coimbra" que continha Trova do vento que passa, essa balada fundamental da sua carreira, “, com poema de Manuel Alegre consequência da sua resistência ao regime Salazarista, e que as suas movimentações levaram a gravar, foi o hino do movimento estudantil.
Além disso Adriano Correia de Oliveira tornou-se militante do PCP no início da década de 60.Em 1962, participou nas greves académicas e concorreu às eleições da Associação Académica, através da lista do Movimento de Unidade Democrática (MUD).
Em 1967 gravou o vinil "Adriano Correia de Oliveira" que entre outras canções tem Canção com lágrimas.
Quando lhe faltava uma cadeira para terminar o Curso de Direito, Adriano trocou Coimbra por Lisboa e trabalhou no Gabinete de Imprensa da Feira Industrial de Lisboa (FIL) e foi produtor da Editora Orfeu. Em 1969 editou "O Canto e as Armas" tendo todas as canções poesia de Manuel Alegre. Nesse mesmo ano ganhou o Prémio Pozal Domingues. No ano seguinte sai o disco de vinil "Cantaremos" e em 1971 "Gente d'Aqui e de Agora", que marca o primeiro arranjo, como maestro, de José Calvário, que tinha vinte anos. José Niza foi o principal compositor neste disco que precedeu um silêncio de quatro anos. É que Adriano recusou-se a enviar os textos à Censura.
Em 1975 lançou "Que Nunca Mais", com direcção musical de Fausto e textos de Manuel da Fonseca. Este vinil levou a revista inglesa Music Week a elegê-lo como "Artista do Ano".
Fundou a Cooperativa Cantabril e publicou o seu último álbum, "Cantigas Portuguesas", em 1980. No ano seguinte, numa altura em que a sua saúde já se encontrava degradada rompeu com a direcção da Cantabril e ingressou na Cooperativa Era Nova. Em 1982, com quarenta anos, num sábado, dia 16 de Outubro, morreu em Avintes, vitimado por uma hemorragia esofágica.
Foi um músico português e um dos mais importantes intérpretes do fado de Coimbra. Fez parte da geração de compositores e cantores de cariz político, que foram usadas para lutar contra o Estado Novo e que ficou conhecida como música de intervenção.

In Wikipédia

Fados do Tempo da Outra Senhora (9) - Emigração



Fados do Tempo da Outra Senhora (9)

Ei-los que partem

.
Ei-los que partem
novos e velhos
buscando a sorte
noutras paragens
noutras aragens
entre outros povos
ei-los que partem
velhos e novos

Ei-los que partem
de olhos molhados
coração triste
e a saca às costas
esperança em riste
sonhos dourados
ei-los que partem
de olhos molhados

Virão um dia
ricos ou não
contando histórias
de lá de longe
onde o suor
se fez em pão
virão um dia
ou não

Letra e Música: Manuel Freire
Manuel Freire
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Por Aristides Duarte
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Manuel Freire nasceu em Vagos (Aveiro), no dia 25 de Abril de 1942. Como ele contou recentemente no programa de televisão "Miguel Ângelo Ao Vivo", tinha um irmão que era oficial do Exército e lhe telefonou no dia 25 de Abril de 1974, dando-lhe os parabéns pelo aniversário e perguntando-lhe se tinha gostado da prenda. A prenda era a Revolução dos Cravos.
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Técnico de computadores, Manuel Freire nunca se profissionalizou na música.
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O seu primeiro trabalho discográfico foi um EP com 4 temas, entre os quais o famoso "Livre" ("Não há machado que corte a raiz ao pensamento, porque é livre como o vento..."). Editado em 1968, este disco contém ainda "Dedicatória", "Pedro Soldado" e "Eles".
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O cantor começa a relacionar-se com outros da mesma área, tais como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso ou Padre Fanhais. Este grupo pertencia a uma área que ficou conhecida como música de intervenção.
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Após uma participação no programa "Zip Zip" na RTP, em que interpreta uma canção com o poema de António Gedeão "Pedra Filosofal", obtém um êxito quase imediato.
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Começa a musicar poetas de grandes poetas portugueses e edita um álbum homónimo com 11 canções. Os poetas deste disco são Gedeão, José Gomes Ferreira, Fernando Assis Pacheco, Eduardo Olímpio, Sidónio Muralha e José Saramago.
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As músicas são quase todas de Freire , à excepção de duas que são de M. Jorge Veloso. Com este disco ganha o Prémio da Casa da Imprensa e o Prémio Pozal Domingues. É neste LP que estão os temas " Abaixo D. Quixote", "A Menina Bexigosa", ou "Poema da Malta das Naus".
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A seguir ao 25 de Abril de 74, Manuel Freire dedica-se aos recitais, um pouco por todo o país, actuando sobretudo em Associações Recreativas e Culturais, onde mantém um público fiel. A limpidez da sua voz, a pronúncia correcta e o facto das suas músicas serem acompanhadas por excelentes poemas contribuem para o seu reconhecimento público.
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Só em 1978, Manuel Freire voltará a gravar outro disco, intitulado "Devolta" . Nele, o cantor volta a musicar poemas de grandes poetas portugueses. Este disco contará com a colaboração de Luís Cília; outro cantor de intervenção, entretanto retirado das lides.
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Em 1993 a Strauss reedita em CD o disco que contém a "Pedra Filosofal". Esta reedição contém uma nova versão do mesmo tema, gravado com novo acompanhamento e que dura mais de 6 minutos.
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Em 1995 actua na Quinta da Atalaia (Seixal), num espectáculo que abre a Festa do Avante e homenageia Adriano Correia de Oliveira. Neste espectáculo, Manuel Freire é acompanhado pela Brigada Victor Jara.
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O último trabalho do autor é o CD "As Canções Possíveis", onde Manuel Freire canta poemas de José Saramago, numa edição da Editorial Caminho (editora de Saramago). Neste disco, com 12 canções, Manuel Freire é acompanhado por um grupo de músicos tocando violino, piano, contrabaixo, clarinete e violoncelo. Este álbum, recentemente editado, pertence à colecção Caminho de Abril ; que a editora lançou para comemorar os 25 anos do 25 de Abril.
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Manuel Freire é um cantor que, ainda há pouco tempo, era convidado com frequência para sessões nas Universidades portuguesas. Hoje, a cultura estudantil está noutra onda...

http://www.geocities.com/vilardemouros1971/adriano.htm
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Fados do Tempo da Outra Senhoa (8) - Saudade



Fados do Tempo da Outra Senhora (8)





Saudade, Vai-te Embora

Olho a terra, olho o céu
E tudo me fala de ti
Do teu amor que perdi
Quando a minh’alma se perdeu
Sim, a única verdade
Presente no nosso amor
Tem como imagem a cor
Tão bela e triste da saudade

Saudade, vai-te embora
Do meu peito tão cansado
Leva para bem longe este meu fado
Ficou
Escrita no vento esta paixão
E à noite o vento é meu irmão
Anda a esquecer a tempestade
Também
Quero olvidar esta saudade
Ai de mim, que não consigo
Volta amor, porque é verdade

Vai-se a dor, volta a alegria
Vai-se o amor, fica a amizade
Só não parte do meu peito
Esta profunda saudade
Porque será que não vens
Espreguiçar-te nos meus braços?
Porque será que me tens
Na poeira dos teus passos?

Composição: Júlio de Sousa
Intérprete: Francisco José
Voz romântica por excelência, Francisco José foi uma das revelações do Centro de Preparação de Artistas da Rádio e um dos nomes mais populares da canção ligeira dos anos cinquenta. Contam-se, contudo, pelos dedos os seus anos de carreira entre nós, já que a maior parte da sua carreira foi passada no Brasil.
Natural de Évora, nascido em 1924, Francisco José Galopim de Carvalho (de seu nome completo, sendo irmão do cientista Galopim de Carvalho) estreou-se artisticamente no baile de finalistas do seu liceu, mas só em 1948 encetou carreira profissional, depois de abandonar o curso de engenharia. Foi aceite no Centro de Preparação de Artistas de Rádio da Emissora Nacional nesse mesmo ano, e em breve a sua voz quente e sugestiva o torna num dos nomes preferidos dos ouvintes da rádio (…).
Em 1954, embarca para o Brasil, mercado então muito aberto aos artistas portugueses, mas nem ele imaginava que acabaria por se fixar definitivamente no "país irmão", deixando para trás a carreira de sucesso feita em Portugal. Até 1960 actuará essencialmente para a comunidade portuguesa radicada no Brasil (…) Em pouco tempo, Francisco José tornar-se-á numa vedeta no Brasil e no artista português mais popular de sempre naquele país, onde residirá quase ininterruptamente até aos anos oitenta.
Regressa, contudo, regularmente a Portugal onde, em 1964, é protagonista de um "incidente diplomático" ao revelar, em directo e num programa de variedades, que os artistas portugueses eram mal pagos pelas suas participações em programas televisivos, enquanto os artistas internacionais recebiam pequenas fortunas. Não voltará a actuar na televisão portuguesa até 1980.
Em 1973, apresentará o seu maior êxito de sempre entre nós com Guitarra Toca Baixinho, lançado durante uma das temporadas que regularmente vem passar ao seu país natal. Só na década de oitenta regressará definitivamente a Portugal, onde lança, em 1983, o seu último disco, o single As Crianças Não Querem a Guerra. Faleceu em 1988.
http://www.copotinto.blogger.com.br/2003_08_01_archive.html

Fados do Tempo da Outra Senhora (7) - Uma Casa Portuguesa











Fados do Tempo da Outra Senhora (7)


Uma Casa Portuguesa

Numa casa portuguesa fica bem
pão e vinho sobre a mesa.
Quando à porta humildemente bate alguém,
senta-se à mesa co'a gente.
Fica bem essa franqueza, fica bem,
que o povo nunca a desmente.
A alegria da pobreza
está nesta grande riqueza
de dar, e ficar contente.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!

No conforto pobrezinho do meu lar,
há fartura de carinho.
A cortina da janela e o luar,
mais o sol que gosta dela...
Basta pouco, poucochinho p'ra alegrar
uma existência singela...
É só amor, pão e vinho
e um caldo verde, verdinho
a fumegar na tigela.

Quatro paredes caiadas,
um cheirinho á alecrim,
um cacho de uvas doiradas,
duas rosas num jardim,
um São José de azulejo
sob um sol de primavera,
uma promessa de beijos
dois braços à minha espera...
É uma casa portuguesa, com certeza!
É, com certeza, uma casa portuguesa!
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Intérprete: Amália Rodrigues
Música: V. M. Sequeira; Artur Fonseca
Letra: Reinaldo Ferreira
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Audição Musical em
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Uma casa portuguesa - Amália Rodrigues

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Fadios do Tempo da Outra Senhora (6) - O Medo


Fados do Tempo da Outra Senhora (6)

Poema Pouco Original do Medo

O medo vai ter tudo
pernas
ambulâncias
e o luxo blindado
de alguns automóveis
Vai ter olhos onde ninguém o veja
mãozinhas cautelosas
enredos quase inocentes
ouvidos não só nas paredes
mas também no chão
no teto
no murmúrio dos esgotos
e talvez até (cautela!)
ouvidos nos teus ouvidos
O medo vai ter tudo
fantasmas na ópera
sessões contínuas de espiritismo
milagres
cortejos
frases corajosas
meninas exemplares
seguras casas de penhor
maliciosas casas de passe
conferências várias
congressos muitos
óptimos empregos
poemas originais
e poemas como este
projectos altamente porcos
heróis
(o medo vai ter heróis!)
costureiras reais e irreais
operários
(assim assim)
escriturários
(muitos)
intelectuais
(o que se sabe)
a tua voz talvez
talvez a minha
com a certeza a deles
Vai ter capitais
países
suspeitas como toda a gente
muitíssimos amigos
beijos
namorados esverdeados
amantes silenciosos
ardentes
e angustiados
Ah o medo vai ter tudo
tudo
(Penso no que o medo vai ter
e tenho medo
que é justamente
o que o medo quer)
O medo vai ter tudo
quase tudo
e cada um por seu caminho
havemos todos de chegar
quase todos
a ratos
Sim
a ratos


Poema: Alexandre O'Neill
Quadro: E. Munch - O Grito

Fados do Tempo da Outra Senhora (5) - Guerra Colonial


Fados do Tempo da Outra Senhora (5)

O Soldado nas Trincheiras

O soldado na trincheira, não passa duma toupeira
Vive debaixo do chão.
Só pode ter a alegria de espreitar a luz do dia
Pela boca de um canhão.
Mas quando chegar a hora dele arrancar por aí fora
Ao som da marcha de guerra,
Seus olhos são duas brasas e as toupeiras ganham asas
Como as águias lá da serra.

Refrão :
Rastejando como sapos, com as fardas em farrapos
Pela terra de ninguém
Mas cá dentro o pensamento, corre mais alto que o vento
Quando pela nossa mãe.
E se eu morrer na batalha, só quero ter por mortalha
A bandeira nacional.
E na campa de soldado, só quero um nome gravado
O nome de Portugal.


Soldados da nossa terra, são voluntário da guerra
Que vêm bater-se por brio.
Raça de povo e de glória, que escreveu a nossa história
Nos mundos que descobriu.
Por isso a Pátria distante, brilha em nós a cada instante
Como a luz de uma candeia,
Que arde de noite e de dia no altar da Virgem Maria
Na igreja da nossa aldeia.

Letra: Fernando Farinha
Música: António Melo

Miguel Ângelo Catarino Vaquinhas disse...
A letra, por acaso, se me permitir a correcção, não é do Fernando Farinha, mas sim de Ernesto Rodrigues, Félix Bermudes e João Bastos, e trata-se de uma criação de Óscar de Lemos no filme de 1940 "João Ratão".
O Fado Castiço, no tempo de Salazar
Os temas mais cantados no fado são a saudade, a nostalgia, o ciúme, as pequenas histórias do quotidiano dos bairros típicos e as lides de touros. Eram os temas permitidos pela ditadura de Salazar, que permitia também o fado trágico, de ciúme e paixão resolvidos de forma violenta, com sangue e arrependimento. Letras que falassem de problemas sociais, políticos ou quejandos eram reprimidos pela censura.
Deste fado "clássico" (também conhecido por fado castiço) são expoentes mais recentes Carlos Ramos, Alfredo Marceneiro, Berta Cardoso, Maria Teresa de Noronha, Hermínia Silva, Fernando Farinha, Fernando Maurício, Lucília do Carmo, Manuel de Almeida, entre outros – todos já desaparecidos.
In Wikipedia
Fernando Farinha
Esta figura tão típica da cidade de Lisboa e da sua memória nasceu, afinal, no Barreiro, em 1928. O seu pai, barbeiro, decide tentar a sorte na capital e, com 8 anos, o pequeno Fernando vem viver para o bairro do Bica.
No ano seguinte canta pela primeira vez em público, num concurso entre bairros. Triunfante, com alcunha logo ali ficou: o "Miúdo da Bica". Com 11 anos, por morte o pai, torna-se profissional do fado para o que foi precisa licença especial. Apoiado pelo conhecido empresário José Miguel, vai ganhar 50 escudos por noite no Café Mondego. Pela mão de Fernando Santos, jornalista e autor, entra ainda criança no Teatro de Revista (Boa Vai Ela), na qual se estreia, igualmente, Laura Alves. Aufere 100 escudos por noite. Assim ampara a família.
O percurso das casas de fados será o seu destino nos anos que se seguem: Retiro da Severa, Solar da Alegria, Café Latino. (…) Ao longo de toda a década de cinquenta internacionalizará, progressivamente, a sua carreira junto das prósperas comunidades portuguesas, sobretudo do Brasil. Em 1957 é nomeado "A Voz mais portuguesa de Portugal", pela Rádio Peninsular.
Presente na televisão desde os seus alvores, Fernando Farinha participa no programa Melodias de Sempre. A década de sessenta é o culminar da sua popularidade. Segundo classificado em 1961, triunfa em 1962 como Rei da Rádio. No ano seguinte vence o primeiro galardão "Disco de Ouro", à frente de Calvário e de Tudela. Em 1963 ganha o Óscar da Casa da Imprensa para melhor fadista. Participou nos filmes O Miúdo da Bica e Última Pega
Continuou a sua carreira nas décadas seguintes, actuando sobretudo para as comunidades de emigrantes. Uma das suas facetas menos conhecidas é a sua capacidade como letrista e poeta popular. PRINCIPAIS ÊXITOS: Sou do Povo, Deus Queira, Belos Tempos, Dias Contados, Menina do Rés-do-Chão, Fado das Trincheiras, Eterna Amizade, Guitarra Triste.
In Macua de Moçambique
NOTA: A transmissão d’O’Fado das Trincheiras era uma das maiores solicitações nas emissões radiofónicas em Angola e, presumivelmente, nos outros teatros de guerra
VN

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Fados do Tempo da Outra Senhora (4) - Prostituição e Marialvismo



Fados do Tempo da Outra Senhora (4)


VIELA


Fui de viela em viela
Numa delas, dei com ela
E quedei-me enfeitiçado...
Sob a luz dum candeeiro,
S’tava ali o fado inteiro,
Pois toda ela era fado.

Arvorei um ar gingão,
Um certo ar fadistão
Que qualquer homem assume.
Pois confesso que aguardei
Quando por ela passei
O convite do costume.

Em vez disso no entanto,
No seu rosto só vi pranto,
Só vi desgosto e descrença.
Fui-me embora amargurado
Era fado, mas o fado,
Não é sempre o que se pensa.

Ainda recordo agora
A visão, que ao ir-me embora
Guardei da mulher perdida.
Na pena que me desgarra
Só me lembra uma guitarra
A chorar penas da vida.

Letra de: Guilherme Pereira da Rosa
Música: Alfredo Marceneiro (Fado Cravo)
Gravura - autor não identificado


Alfredo Rodrigues Duarte (25 de Fevereiro de 1891, Lisboa — 26 de Junho de 1982, Lisboa) mais conhecido como Alfredo Marceneiro devido a sua profissão, foi um fadista português que marcou uma época, detentor de uma voz inconfundível tornando-se um marco deste género da canção em Portugal.
Vida
Alfredo Marceneiro nasceu na freguesia de Santa Isabel e foi-lhe posto o nome de baptismo de Alfredo Rodrigues Duarte.Era filho de uma família muito humilde. Com a morte do pai teve que deixar a escola primária. Começou então a trabalhar como aprendiz de encadernador para ajudar o sustento da sua mãe e irmãos.
Desde pequeno, sentia grande atracção para a arte de representar e para a música. Junto com amigos começou a dar os primeiros passos cantando o fado em locais populares começando a ser solicitado pela facilidade que cantava e improvisava a letra das canções.
Um dia, conheceu Júlio Janota, fadista improvisador, de profissão marceneiro que o convenceu a seguir esse ofício que lhe daria mais salário e mais tempo disponível para se dedicar à sua paixão. Alfredo Marceneiro era um rapaz vaidoso. Andava sempre tão bem vestido que ganhou a alcunha de Alfredo Lulu. Era, também, muito namoradeiro. Apaixonou-se por várias raparigas, chegando a ter filhos com duas delas. As aventuras terminaram quando conheceu Judite, amor que durou até à sua morte. e com o qual teve três filhos.Em 1924, participa no Teatro São Luiz, em Lisboa, na sua primeira Festa do Fado e ganha a medalha de prata num concurso de fados.
Nos anos 30, Alfredo Marceneiro trabalhou nos estaleiros da CUF, onde fazia móveis para navios. Dividia o seu tempo entre as canções e o trabalho. A sua presença nas festas organizadas pelos operários era sempre motivo de alegria.
Em 3 de Janeiro de 1948, foi consagrado o Rei do Fado no Café Luso. Reformou-se em 1963, após uma carreira recheada de sucessos, numa grande festa de despedida no Teatro São Luiz. Dos muitos temas que Alfredo Marceneiro cantou destaca-se a Casa da Mariquinha, de autoria do jornalista e poeta Silva Tavares.
Faleceu no dia 26 de Junho de 1982 com 91 anos, na mesma freguesia que o viu nascer, com 91 anos de idade. No dia 10 de Junho de 1984, foi condecorado, a título póstumo, com a Comenda da Ordem do Infante D. Henrique pelo então Presidente da República Portuguesa, General Ramalho Eanes.
Curiosidades
Alfredo Marceneiro teria nascido a 29 de Fevereiro mas dada a complexidade da data, a mãe tê-lo-ia registado na mesma data de nascimento que o pai, o 25 de fevereiro.
Alfredo ganhou o nome Marceneiro em 1920, quando um grupo de pessoas decidiu organizar uma homenagem a dois fadistas conhecidos na época. Como só o conheciam como Alfredo Lulu, decidiram colocar o nome da sua profissão no cartaz.Depois disso Alfredo Marceneiro nunca mais largou o nome artístico.
Em 1943 Alfredo Marceneiro participou numa greve geral que reivindicava as oito horas de trabalho diário. Foi preso. Não aceitou a prisão e demitiu-se. Foi a partir deste momento que passou a dedicar-se inteiramente ao fado.
Foi, de todos os tempos, uma das principais figuras do fado, sem nunca se ter ausentado de Portugal com o objectivo de divulgar a sua música no estrangeiro, e escassas foram também as vezes que saíu de Lisboa.

in Wikipedia

Fados do Tempo da Outra Senhora (3) - Ciúme, Abandono e Machismo



Fados do Tempo da Outra Senhora (3)

Mulher Deixada


Estava tão bonita
A mulher que outrora
Eu mandei embora
No acaso do encontro
Nos cumprimentamos
E até nos beijamos
Como vai você
Eu vou bem, obrigado
E você por onde anda
Como tem passado
Um ou dos minutos de saudade e amor
Adeus, até mais ver, logo ou depois

Por que é que mulher que gente deixa
Fica sempre mais bonita e valendo uma paixão
Por que é que a gente morre despeito
Ao ver que não tem jeito, sequer de aproximação

Confesso que ela estava tão bonita
Tão bonita para outro, o que afinal doeu em mim
Se eu fosse Deus, mulher deixada eu feiava
E não mais impressionava
Pra não ter um fado assim


Autor: Ricardo Galeno.
Gravura: Alfredo Marceneiro

Cantor: Tristão da Silva


Talvez tenha sido o primeiro fadista a aproveitar com amplitude os meios de comunicação social para atingir o sucesso. Manuel Martins Tristão da Silva, nascido em Lisboa, transportará consigo, ao longo da vida, uma identidade, um pathos genuinamente lisboeta. Começa a cantar fado castiço desde criança, nas matinées das casas típicas. Assim se manterá por largos anos, repartindo esta actividade amadora com profissões próprias dos rapazes dos bairros pobres da capital. Primeiro marçano, depois marceneiro.

Antevê na rádio o grande salto para a consagração. Para tanto transforma o seu repertório, aproximando-se do fado-canção, então mais aceite nos microfones da Emissora Nacional. Mas será sucessivamente reprovado na sua admissão à estação oficial. Por influência e acção do maestro Belo Marques fará uma série de gravações que, somadas ao repentino e esmagador êxito de Nem às Paredes Confesso e de Maria Morena contribuíram para que a prestação de provas à Emissora fosse finalmente bem sucedida.

A carreira de Tristão da Silva estava definitivamente lançada, assente num estilo muito pessoal. Voz de base grave, com uma bela tessitura, interpretação repousada, estilo romântico. Com Da Janela do Meu Quarto, Calçada da Glória, Aquela Janela Virada Pró Mar, Ai Se Os Meus Olhos Falassem, o fadista estabelecerá uma sólida reputação e conquistará um público fiel.

Morre num acidente de automóvel, em 1964.

in Macua de Moçambique

Fados do Tempo da Outra Senhora (2) - Traição conjugal e submissão feminina



Fados do Tempo da Outra Senhora (2)

Não venhas tarde ou o "fado da mulher resignada"
Não venhas tarde,
Dizes-me tu com carinho,
Sem nunca fazer alarde,
Do que me pedes baixinho.
Não venhas tarde,
E eu peço a Deus que no fim,
Teu coração ainda guarde,
Um pouco de amor por mim.
Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Tu estás sentindo,
Que te minto e sou cobarde,
mas sabes dizer sorrindo,
meu amor, não venhas tarde.
Não venhas tarde,
Dizes-me sem azedume,
Quando o teu coração arde,
Na fogueira do ciúme.
Não venhas tarde,
Dizes-me tu da janela,
E eu venho sempre mais tarde,
Porque não sei fugir dela.
Tu sabes bem,
Que eu vou para outra mulher,
Que ela me prende também,
Que eu só faço o que ela quer.
Sem alegria,
Eu confesso tenho medo,
Que tu me digas um dia,
Meu amor, não venhas cedo.
Por ironia,
Pois nunca sei onde vais,
Que eu chegue cedo algum dia,
E que seja, tarde de mais.



Intérprete: Carlos Ramos
Letra: João Nobre
Música: Aníbal Nazaré


João Nobre parecia desde o dia do seu nascimento estar fadado a ser músico e compositor: a 5 de Outubro de 1916, comemorando o sexto aniversário da implantação da República, uma banda filarmónica de Faro foi tocar o hino nacional, a Portuguesa, à porta do distinto republicano João da Silva Nobre, precisamente no momento em que o seu filho, João Nobre, vinha ao mundo.
Este compositor algarvio frequentou Direito e Letras mas a sua vocação musical nunca foi menosprezada: com cinco anos já tocava piano e com doze dirigia a Tuna Académica do liceu de Faro. Ainda adolescente, compunha já material para pequenas revistas e actuações amadoras algarvias. Em 1933 chega a Lisboa para continuar os estudos superiores e a sua estreia profissional ocorreu em 1936. O escritor Ferreira de Castro apresentou-o ao empresário de revista Luís de Oliveira Guimarães, que lhe pediu um número para a revista Balance, cuja música estava já toda pronta. Quando a revista estreou, todos os números tinham sido escritos propositadamente por João Nobre, tal fora o agrado com o que o seu número fora recebido.
Foi o início de uma longa carreira onde se incluíram êxitos como O Amor é Louco, Não Venhas Tarde ou Canção do Ribatejo.
in Macua de Moçambique


Organização e Luta das Mulheres em Portugal (2)

Alguns marcos na história das
organizações de mulheres portuguesas

As organizações de mulheres surgem, fundamentalmente, no contexto da luta contra a monarquia, num país flagelado por contradições e miséria. Salários baixíssimos, horários duríssimos, custo de vida elevado, condições insalubres de habitação, uma população operária em crescimento na capital e noutras cidades, uma crise agrícola sem saída no quadro da política do governo monárquico, num país despojado pela emigração e a ruína. As mulheres constituem 34,8% dos trabalhadores na indústria, sendo maioritariamente a mão-de-obra feminina no tabaco, têxteis e papel.

Em 1909 nasce a Liga de Mulheres Portuguesas. A sua primeira presidente, Ana de Castro Osório, escritora, exerceu este cargo até 1911, sucedendo-lhe Maria Veleda.

Em Novembro de 1910, um mês após a implantação da República, a Liga dirigiu-se ao governo provisório solicitando o direito ao voto, o direito ao divórcio, a revisão do Código Civil, a igualdade de direitos para a mulher.

Em 1912, num tempo em que a mulher não tinha direito ao voto, a médica Carolina Beatriz Ângelo vai ser a primeira mulher a votar no país.

Em 1914, num quadro de forte intervenção popular na vida política, sindical e cultural, Adelaide Cabete, médica, co-fundadora da Liga, funda o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas (CNMP), que presidirá.

Carolina Michaellis de Vasconcelos (1851-1925), presidente de honra do CNMP, será a primeira professora catedrática no nosso país.

Em 1924, o CNMP organiza o I Congresso Feminista no qual são apresentadas 17 teses sobre diversos aspectos da realidade da mulher. O II Congresso terá lugar em 1928.

Em 1936 nasce a Associação Feminina para a Paz, congregando mulheres que lutam pela paz e pelos direitos das mulheres. Francine Benoit, Isabel Aboim Inglez, Manuela Porto e Maria Alda Nogueira foram algumas das mulheres que integram esta organização.

Em 1947, o Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, com Maria Lamas como presidente, realiza na Sociedade Nacional de Belas-Artes uma Exposição das Mulheres Escritoras de todo o mundo. Foram expostos mais de uma centena de desenhos de Maria Clementina Carneiro de Moura, Regina Santos, Maria Gago da Silva e Maria de Lurdes Santos Pinto, que retratavam algumas das mulheres mais destacadas do mundo, no campo da literatura, da ciência, do movimento feminino. O cartaz da exposição foi elaborado por Maria Keil. “Milhares de pessoas, de ambos os sexos e de várias categorias sociais, visitaram, hoje, o certame ou assistiram aos serões culturais realizados de 2 a 12 de Janeiro”. “O certame foi como que uma demonstração de vida feminina e o Conselho, ignorado por muitos, até pode gritar – A mulher vive” – Hortense de Almeida, boletim da AFPP, Fevereiro de 1947. A sede do CNMP foi selada pela PIDE, em 28 de Junho de 1947.

Toda a década de 60 e inícios da década de 70, as mulheres desenvolvem um importante papel na luta contra a guerra colonial, contra a degradação das condições de vida e de trabalho, pela liberdade dos presos políticos e por eleições livres. Todavia, foram muitas as reuniões (mais ou menos clandestinas), os debates e os protestos que antecederam o momento em que um grupo de mulheres pode participar em acções conjuntas e com um objectivo bem definido: as eleições para deputados à Assembleia Nacional, em 1969.

Inserindo-se no movimento de oposição CDE (Comissão Eleitoral Democrática), constituem-se em Comissão Democrática Eleitoral de Mulheres, comissão que, em 1969, vai desenvolver uma grande actividade.

Nomeadamente, em Março emite um comunicado sobre o dia Internacional da Mulher, incitando à luta por melhores condições de vida; celebra o dia 8 de Março em Lisboa com um colóquio, onde se falou das exigências sociais e políticas das mulheres e da sua oposição à guerra colonial; em Maio, congrega 150 mulheres de Lisboa e 50 do Porto que vão participar no II Congresso Republicano de Aveiro, denunciando a situação da mulher portuguesa; em Junho, envia uma saudação a todas as mulheres presentes no VI Congresso Mundial de Mulheres (Helsínquia); em Julho, promove uma reunião na Cooperativa Padaria do Povo e elege as suas representantes (do distrito de Lisboa) para a Comissão Distrital da CDE, apresentando, nas listas da Oposição Democrática, uma candidata própria à Assembleia Nacional; em Setembro, emite um documento-chave: “Porquê um Movimento Democrático Eleitoral de Mulheres?”, dirigido a todas as mulheres do distrito de Lisboa para que votem nas eleições de 26 de Outubro.

Finalizado o período eleitoral e extintas as Comissões, estas mulheres adquirem autonomia própria e organizam-se no Movimento Democrático de Mulheres (MDM).

Nos anos seguintes, actuando em semi-clandestinidade, o MDM vai desenvolver diversas iniciativas que, frequentemente, confluem para a celebração do 8 de Março. A título de exemplo:

Em 1970, promove diversos debates sobre vários temas: Situação da mulher e da criança em Portugal; Aumento do custo de vida; Significado do Dia Internacional da Mulher em Lisboa, Porto, Setúbal, Moscavide e Cova da Piedade;

Entre 1970/71, lança uma campanha a favor de uma nova oficialização da educação primária em Portugal e divulga Direitos da Criança;

Em 1973, há um novo período de eleições, pelo que o MDM se insere no Movimento Unitário de Oposição Democrática, participa nas eleições integrando duas candidatas nas listas da Oposição Democrática; participa nos trabalhos do III Congresso da Oposição Democrática (Aveiro), apresentando o tema A necessidade e a importância do MDM; realiza em 21 de Outubro de 1973, em Almada, o seu 1º Encontro Nacional, aprovando um Caderno Reivindicativo e o MDM/Setúbal emite um comunicado onde se protesta contra a política do regime;

Em 1974, com a revolução dos cravos, o MDM desempenha um activo papel na reivindicação e na organização das mulheres portuguesas para a luta pelos seus direitos. È de salientar que, logo no seu 1º documento em democracia, o MDM reivindica: igualdade de salário; protecção efectiva da maternidade; criação de infantários e jardins-de-infância; igualdade jurídica e direito ao aborto.

Após o 25 de Abril, surgiram outros movimentos de mulheres na sociedade portuguesa,que, hoje integram o Conselho Consultivo da Comissão para a Igualdade e os Direitos das Mulheres.

FONTE:

http://www.mdmulheres.com/mulheres.html




ECCE HOMO (1)


Era o dia 26 de Fevereiro

O Pituca morreu!

Encerrado em si

hirto no seu pijama azul

as mãos bonitas e o rosto frio

um vergão em torno do pescoço

o rosto violáceo

o ar sereno.

Longe vai o tempo da minha alegria

das nossas brigas

da nossa amizade

silenciosa

tímida

desajeitada.

Fica-me no pensamento

a lembrança de ti

nas coisas que me deste

os livros os posters

os bibelots as estatuetas

africanas as tuas pinturas

a Marilyn e o Pato Donald

os discos e as cassetes.

Memória da infância perdida

nas palavras silenciadas

Meu irmão!


Victor Nogueira - Poesia

1987.Dezembro.22 (1989.Março.10) - Setúbal



É TEMPO DE CHORAR


É tempo de chorar

silenciosamente

os nossos mortos

irmãos encerrados

encurralados

É tempo de chorar

enquanto

para lá desta hora

a vida se renova

por entre

os bosques e

os regatos

sussurantes

do imaginar o son (h) o estilhaçado

É tempo de chorar o tempo que voa!

(IN MEMORIAM do meu irmão Zé Luís, morto de morte matada
por ele próprio e por muitos outros no tempo
que para ele terminou naquela tarde de
26 de Fevereiro de 1987 ............................. )


Victor Nogueira - Poesia

1989.Fevereiro.03 - Setúbal



Quadro - Dali - A Persistência da Memória