A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sábado, setembro 18, 2010

Niko Schvarz: Sarkozy, ciganos e Chaplin

Mundo

Vermelho - 18 de Setembro de 2010 - 10h25

Uma enxurrada de críticas caiu sobre o governo de Sarkozy por sua decisão de expulsar os ciganos da França, exposta em uma circular de 5 de agosto, que tem sido descrita como "a circular de vergonha." A alta comissária para Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, condenou, na última segunda-feira, "a nova política da França para os ciganos, o desmantelamento de seus acampamentos e as deportações coletivas para seus países de origem".


Por Niko Schvarz, em La República

O Parlamento Europeu colocou no pelourinho a França e Nicolas Sarkozy, pela repatriação de ciganos romenos e húngaros em um tenso debate, no qual classificou essas decisões como ilegais e contrárias ao direito comunitário. O mesmo acaba de fazer a Comissão Europeia, para quem as expulsões em massa de ciganos são vergonhosas e não deveriam ter lugar na Europa.

Esta atitude é assumida pelo governo de Sarkozy, ao mesmo tempo em que lança um ataque concentrado contra a legislação social do seu país, expressa em primeira instância em seu projeto de aumentar a idade mínima de aposentadoria, contra o qual houve uma greve geral de milhões de trabalhadores, que será seguida por outra jornada com características semelhantes.

O povo cigano sofreu duríssimas perseguições ao longo da história, e, no último período, nas mãos dos nazistas. Chegaram à Europa a partir do norte da Índia, da região do Punjab e do Sinth, fugindo das conquistas muçulmanas e das invasões mongóis. Ao cruzar a Pérsia, os imigrantes de várias tribos casaram-se e uniram-se, dando origem aos povos Dom e Rom, que se tornaram um povo nômade e, um belo dia, cruzaram o Bósforo indo para a Grécia e o Egito.

Na Península Ibérica, chegaram a partir deste último país; Afonso V de Aragão outorgou-lhes um salvoconduto para cruzar seu reino e começou a chamá-los de egiptanos, de onde derivou a palavra gitanos (ciganos). Na Andaluzia, se integraram de tal maneira que grande parte de sua música e de sua tradição literária tornou-se reconhecida como a essência da Andaluzia.

Basta pensar em Federico García Lorca. Há palavras que decorrem diretamente da língua romani, como eles chamam. Mas depois toda a Europa começou a olhá-los com desagrado e passaram a ser bode expiatório para todos os atentados cometidos em seu entorno. Disso se podem recolher inúmeros relatos na literatura (em um sentido ou outro), desde Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, até uma novela Conan Doyle, com Sherlock Holmes como protagonista.

Na Alemanha nazista, os teóricos do racismo promoveram a perseguição dos ciganos no mesmo nível que a dos judeus, sugerindo que eles eram submetidos a trabalhos forçados e à esterilização em massa, porque "colocavam em perigo o sangue puro" dos alemães. Os ciganos foram presos em grandes números e, a partir de 1938, eles foram internados em blocos especiais nos campos de concentração de Buchenwald, Mauthausen, Gusen, Dautmergen, Natzweiler e Flossenburg.

O tenebroso líder da SS de Hitler, Heinrich Himmler, criou um espaço especial em um campo na sua propriedade em Ravensbrück para sacrificar mulheres ciganas que era submetidos a experiências médicas. Foram esterilizadas 120 meninas ciganas. No hospital em Duesseldorf-Lierenfeld foram esterilizadas ciganas casadas com não-ciganos. Milhares de ciganos foram deportados da Bélgica, Holanda e França, para o campo de concentração de Auschwitz, na Polônia.

No gueto de Lodz, também na Polônia, nenhum dos cinco mil ciganos sobreviveu. Na Iugoslávia, se executava tanto ciganos quanto judeus no bosque de Jajnice. Os agricultores recordam ainda os gritos das crianças ciganas levadas aos lugares de excução.

Estes dados foram publicados pelo La Jornada, do México, e reproduzidos por Fidel Castro em sua Reflexão "A infinita hipocrisia do ocidente". Lá, se agrega: "Nos campos de extermínio, apenas o amor dos ciganos pela música foi, às vezes, um conforto. Em Auschwitz, com fome e cheio de piolhos, se reuniam para tocar e alentavam as crianças a dançar. Mas também era lendária a coragem dos guerrilheiros ciganos que militavam na resistência polonesa na região de Nieswiez".

Somente na Ioguslávia socialista de Tito os ciganos foram reconhecidos com os mesmos direitos das minorias croatas, albanesas e macedônias. Após os julgamentos de Nuremberg (1945), os ciganos foram totalmente esquecidos.

É a esta luz que deve ser julgado o comportamento racista do governo Sarkozy, condenado em manifestações na França e em frente a embaixadas em várias capitais europeias.

Um dado final: o gênio do cinema Charlie Chaplin era cigano, filho de uma cantora de cabaré cigana e de um ator da mesma etnia.

Fonte: La República
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sábado, setembro 11, 2010

Franceses lutam contra cerceamento de direitos dos trabalhadores


Mundo

Vermelho - 9 de Setembro de 2010 - 18h47

Dois milhões e meio de pessoas saíram às ruas em Paris e outras cidades francesas na terça-feira (7), em uma greve nacional que foi amplamente seguida por todo o país, para repudiar o projeto do presidente Nicolás Sarkozy (já alçado à Assembleia Nacional) que aumenta a idade para a aposentadoria.

Por Niko Schvarz

Em 15 de setembro haverá outra greve geral e manifestações com o mesmo objetivo. Em essência, o objetivo destas ações de luta é o mesmo que mobilizou a classe operária e o povo grego contra o plano de governo de Papandreu (e da União Europeia) de sair da crise cerceando a legislação social e os direitos dos trabalhadores.

E é o mesmo que colocarão em marcha os sindicatos espanhois, Comissões Operárias e UGT, em sua já anunciada greve nacional de 29 de setembro, em repúdio a uma reforma trabalhista "inoportuna, injusta e lesiva".

Em vários países da Europa, como se vê, estão sendo cozidas as mesmas favas. No caso da França, além disso, a massiva jornada de protesto (que se expressou na paralisação da edição da mídia impressa, na paralisação de boa parte dos transportes, inclusive aviões e metrô, nos hospitais, nas escolas e no setor público, tudo isso em uma proporção maior à verificada no dia 24 de junho passado) tem outras duas causas de repúdio à política do presidente Sarkozy: uma, sua xenofobia galopante, que levou à expulsão de ciganos, um ato vituperado que lhe valeu uma condenação geral, inclusive do parlamento europeu; e os atos clamorosos de corrupção governamental, que envolvem diretamente seu ministro de Trabalho, Eric Wörth (que foi em determinada época tesoureiro de seu partido, e é o encarregado de levar adiante a reforma das aposentadorias), metido até as orelhas na maracutaia com a herdeira milionária da L'Oreal, Lilianne Bettencourt.

Este escândalo abriu a Caixa de Pandora do financiamento ilegal dos partidos, em primeiro lugar a UMP de Sarkozy. Pode somar-se a isto, todavia, como terceiro motivo, as medidas repressoras adotadas por Sarkozy em matéria de segurança pública, para obter a adesão de eleitores da Frente Nacional.

Leia aqui o fragmento inicial da crônica de um correspondente em Paris: "Em um dia ensolarado logo após as férias, a Praça da República estava transbordando de manifestantes. Não eram os tradicionais jubilados convocados pela Intersindical, mas sim uma mistura de avós, netos, pais, filhos, bisnetos em carrinhos de bebê, crianças em bicicletas, de skate ou patins, reunidos em uma das maiores marchas que Paris viu desde os protestos contra a invasão do Iraque em 2003”.

“Não só estavam presentes os operários como também a classe média em massa e os empregados do Estado, especialmente dos hospitais e o setor social. Ao ritmo de vuvuzelas, que ensurdeciam por cinco euros, música tecno que saía das vans, que encabeçavam cada coluna e também com a participação de uma escola de samba brasileira, solidária e em marcha no que se podia dizer 'festa de protesto'".

A mobilização aconteceu nas grandes cidades francesas, onde foram gerados vários problemas com o transporte, nos voos desde e para a capital, nas escolas e em algumas grandes empresas. Analistas estimaram previamente que se fossem menos de dois milhões de manifestantes, então Sarkozy teria superado o braço de ferro com os movimentos sociais. No entanto, ao superar a meta, forçaram o governo a anunciar concessões.

Embora o premiê tenha anunciado que manteria a base de seu programa de reforma das aposentadorias, em particular a passagem da idade mínima de 60 para 62 anos, posteriormente o Palácio do Eliseu admitiu a possibilidade de manter, em alguns casos, a idade mínima de 60 anos (por exemplo, para aqueles que têm um certo grau de incapacidade, os que passaram por carreiras prolongadas e os que têm várias pensões).

A próxima greve geral, de 15 de setembro, propõe um alcance ainda maior que a de quarta-feira e avaliará o estado do movimento.

O tema em debate é extremamente sensível, já que as conquistas em matéria de legislação social existem desde a época da Frente Popular, de 1936. Alguns dos manifestantes diziam que seu objetivo era "permanecer vivos até a aposentadoria, para poder desfrutar a vida", que havia uma massa de pensões "realmente miseráveis", que o projeto colocava em perigo os valores da solidariedade, e que deviam resolver-se simultaneamente os problemas de trabalho: o dos jovens que não têm trabalho e o de maiores de 50 anos que ninguém contrata.

Fonte: La República
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sexta-feira, setembro 10, 2010

Niko Schvarz: A única verdadeira vitória é conquistar a paz


Mundo

Vermelho - 8 de Setembro de 2010 - 6h00

O discurso de Fidel Castro na sexta-feira passada (3 de setembro) na escadaria da Universidade na qual ingressou há 65 anos merece ser difundia por toda a parte como uma contribuição efetiva à paz mundial, para criar consciência universal sobre a necessidade de mobilizar-se para alertar sobre o gravíssimo perigo de uma guerra nuclear.


Por Niko Schvarz*

Há pouco o mundo recordou também os 65 anos do holocausto de Hiroshima e Nagasaki (o maior e mais desnecessário crime de guerra da história) e agora a situação se reproduz, agravada. E mais ainda: entramos na contagem regressiva. Com efeito: a data para começar a aplicar as sanções decretadas pela maioria do Conselho de Segurança contra o Irã (com o rechaço do Brasil e da Turquia e a abstenção do Líbano) seria o dia 9 de setembro, ou inclusive o dia 7 segundo outra versão; e a tentativa de inspecionar os navios que cheguem ao Irã, o que este país rejeita,poderia ser a chispa de um incêndio nuclear de imprevisível extensão.

O líder cubano, cuja voz adquiriu ressonância universal nestes meses por sua prédica persistente a favor da paz, recordou suas origens na Universidade, valorizou a obra da revolução cubana (na qual se entrelaçou a luta pela libertação nacional com o esforço tenaz dos trabalhadores por sua libertação social) e se concentrou de cheio no objetivo de preservar a paz mundial. Em suas palavras: “A pretensão de domínio econômico e militar dos primeiros em utilizar esses aterradores instrumentos de destruição e morte (em Hiroshima e Nagasaki conduziram a humanidade à possibilidade real de perecer que hoje ela enfrenta. O problema dos povos hoje em dia é impedir que tal tragédia ocorra”.

Como prova da crescente consciência que se vai gerando em torno desse tema crucial, citou uma das centenas de mensagens por ele recebidas, na qual uma análise justa da atual situação crítica se condensa na frase que adotei para o título deste artigo: “A única verdadeira vitória é conquistar a paz”. Que se complementa com esta outra, que modificando uma difundida e contraditória divisa, expressa: “Se queres a paz, prepara-te para mudar tua consciência”.

Como vem fazendo ao longo destes três meses, Fidel Castro analisa de forma minuciosa todas as informações e novos elementos de juízo que confirmam sua tese do aumentado perigo de guerra nuclear. Entre eles, um artigo publicado nos últimos dias por George Friedman, diretor executivo do prestigioso centro Stradford, que conta com antigos analistas da CIA entre seus colaboradores, assinala: “Uma nova onda de vazamentos sobre um ataque contra os objetivos nucleares do Irã que Israel está preparando junto com os Estados Unidos desta vez parece ter um fundamento real". (Recordamos por nossa parte – Veja-se a nota de 9 de agosto sob o título “Ex-oficiais da CIA advertem que Israel planeja bombardear o Irã” – que ex-oficiais dos serviços secretos agrupados no “Veteran Profesionals for Sanity” (VPS) notificaram Obama através de memorando que o governo de Netanyahu projetava um ataque surpresa ao Irã em data próxima, com a ideia de obrigar os EUA a proporcionar um apoio total de seu exército à campanha militar).

Voltando à análise de Friedman, este adverte que outra grave consequênc ia de um ataque contra o Irã seria que este país bloquearia o Estreito de Ormuz, entre o Golfo Pérsico e o Golfo de Omã, o que levaria ao colapso 45% do fornecimento mundial de petróleo, fazendo com que disparasse seu preço e dificultando a recuperação da economia mundial depois da recessão. 
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Cita-se também uma opinião de Tony Blair, formulada na terça-feira da semana passada, 1º de setembro, em entrevista à BBC por ocasião da apresentação do seu livro de Memórias, no sentido de que a comunidade internacional poderia não ter outra alternativa do que a opção militar se o Irã desenvolver armas nucleares (do que o estão acusando falsamente, mas seria o pretexto para a agressão).

Em tal caso, deve considerar-se que há no mundo cerca de 25 mil armas nucleares, sem contar as armas convencionais em enorme proporção. UM ataque desse tipo já se produziu em 1981 contra um centro de pesquisa nuclear iraquiano e o mesmo se fez em 2007 contra um centro de pesquisas sírio, ainda que este último, por misteriosas razões nunca foi publicitado. A conclusão de Fidel é a seguinte: “Não abrigo a menor dúvida de que a capacidade de resposta convencional do Irã provocaria uma guerra feroz, cujo controle escaparia das mãos das partes beligerantes e a mesma se tornaria irremediavelmente um conflito nuclear global”.

Consigna-se também uma recente opinião do ministro de Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, que (apesar de que seu país votou as sanções contra o Irã no Conselho de Segurança) afirmou que as mesmas não levarão a nenhum lugar e que o problema iraniano não deve ser resolvido por nenhum método de força.

A opinião da Rússia não pode ser ignorada, estima Fidel. Também entra em cena a China, já que de acordo com um recente despacho noticioso examinado, a União Europeia, através de sua responsável de política externa, Catherine Ashton, está pressionando a China para que suas empresas não ocupem o lugar deixado por outras companhias que abandonaram o Irã devido às sanções.

O que se deve reter particularmente é o chamamento final de Fidel Castro a intensificar a ação pela paz na medida em que nos aproximamos da data que pode se tornar fatídica. Faltam muito poucos dias. Seu chamamento se dirige aos estudantes universitários, mas na realidade vale para qualquer pessoa honesta, como ele as chama, em qualquer lugar do mundo: “Exorto-os a não deixar de batalhar nessa direção de luta pela paz. Nesta, como em muitas lutas do passado, é possível vencer”.

*Jornalista e escritor uruguaio, membro da direção da Frente Ampla e do Grupo de Trabalho do Foro de São Paulo
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Publicado no jornal La República em 5 de setembro de 2010. 
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