A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
Mostrar mensagens com a etiqueta Horários de Trabalho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Horários de Trabalho. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, outubro 30, 2012

Raquel Varela - “vale tudo no amor e na guerra”… de classes!

 

“vale tudo no amor e na guerra”… de classes!

Um texto imprescindível da greve dos estivadores e dos papel dos sindicatos, escrito pelo sociólogo Alan Stoleroff, do  IUL-ISCTE, que aqui publico com a sua autorização.
All’s fair in love and (class) war
Em consonância com a conhecida expressão inglesa, no amor e na guerra vale tudo e, sobretudo, quando se trata de guerra de classes. E é disso que se trata na crise em curso, uma guerra de classes de grande envergadura. Em Portugal, neste momento, esta guerra tem várias frentes. Todas possuem importância na ofensiva do capital e dos seus gestores políticos neoliberais e todas têm importância para a defesa dos direitos da população trabalhadora pelos sindicatos. Contudo, está em curso uma batalha específica que pode determinar o curso da guerra – o conflito em torno da flexibilização do trabalho portuário e a greve dos estivadores.
O governo e o patronato estão a jogar com a ignorância e a indiferença da população para efectuar grandes transformações na operação dos portos mas, no Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal, uma associação que beneficia de uma sindicalização de quase 100% nos portos incluídos no seu âmbito, encontraram um obstáculo aos seus planos.
Este sindicato está convicto de que o Acordo para o Mercado de Trabalho Portuário celebrado pelas Associações dos Operadores, a UGT e a Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores Portuários, bem como a legislação subsequente produzida pelo governo, visam a desregulação de normas estabelecidas para o seu trabalho e o funcionamento dos portos, um esvaziamento dos legítimos direitos conquistados pelos trabalhadores portuários, despedimentos em larga escala, um incremento da precariedade e redução do emprego dos trabalhadores cobertos pela contratação colectiva.
O governo e o patronato argumentam que a flexibilização do trabalho portuário é necessária para aumentar a competitividade dos portos portugueses, e vários grupos económicos fortes (nomeadamente o Mota Engil) estão posicionados para retirar os benefícios das transformações conseguidas, de forma a ampliar os seus lucros e o seu espaço de intervenção nos portos e zonas logísticas adjacentes.
É verdade que a competitividade dos portos portugueses poderia ser melhorada. Mas o governo e os empregadores põem o ónus da falta de competitividade sobre as normas de trabalho portuário. Todavia, será que o problema essencial da competitividade dos portos portugueses incide no custo do trabalho resultante da sua regulação?
Analisando dados comparados relativos à competitividade, destacam-se como mais relevantes os dados referentes aos custos comparados da exportação e importação de um contentor. De facto, em termos dos custos totais, Portugal está relativamente bem posicionado nos rankings calculados pelo Banco Mundial, encontrando-se em terceiro lugar em relação à exportação (atrás de Singapura e da Finlândia) e em sexto lugar em relação à importação (atrás de Singapura, da Finlândia, da Noruega, da Suécia e da Dinamarca). Em primeiro lugar, deveremos registar destes rankings a observação de que a competitividade não é, necessariamente, um resultado simples do grau de regulação do trabalho portuário e do custo do trabalho, sendo que os portos dos países escandinavos, com os seus fortes sistemas de relações laborais, se apresentam entre os mais competitivos. Em segundo lugar, a contribuição do custo da movimentação da carga nos portos tem de ser relativizada. Efectivamente, Portugal não está muito competitivo neste indicador mas, mais uma vez, a superior competitividade dos países escandinavos em termos destes custos demonstra que o custo do trabalho não é, necessariamente, um factor que impede a competitividade. Factores como a gestão, a tecnologia e a logística entrarão, realmente, com mais peso neste cálculo. Sim, é possível aumentar a competitividade neste campo à custa da retribuição pelo trabalho portuário à moda chinesa – como fizeram os gregos no porto de Pireus, entregando uma parte da zona portuária à administração de uma empresa chinesa. Mas será uma solução inteligente? As condições de trabalho dos trabalhadores gregos sob gestão chinesa são muitíssimo precárias e há uma discrepância significativa no seu nível salarial em relação aos outros portos gregos, sendo essa a razão pela qual a gestão chinesa atingiu a sua melhoria de competitividade. Em terceiro lugar, é outra vez evidente, pelo posicionamento medíocre de Portugal em relação ao custo dos aspectos administrativos e burocráticos envolvidos na movimentação da carga, que o governo poderia fazer muito, neste domínio, para melhorar a competitividade dos portos portugueses. Então, por que é que governo e o patronato canalizam os seus esforços para a flexibilização do trabalho portuário?
A resposta tem a ver com a ofensiva geral do capital, do governo e da troika, aproveitando a crise, contra o que resta de um modelo de relações laborais baseado na regulação do mercado de trabalho através da contratação colectiva. Também tem a ver com os interesses dos grupos económicos que estão prontos para se aproveitarem de novas áreas de negócio portuário, abertas pela transformação das relações laborais estabelecidas.
Quanto ao custo do trabalho portuário, os estivadores grevistas estão a ser vítimas de  uma campanha de desinformação (quiçá intoxicação!), na comunicação social, que procura isolar os estivadores e culpabilizá-los pelos direitos que têm conquistado desde a década de 1980, na sequência das mudanças tecnológicas nos portos. Nesta campanha várias celebridades mediáticas têm vindo a prestar um serviço ao governo e ao patronato. A mentira mais comum é de um sadismo terrível: a afirmação de que os estivadores ganham 5000€ mensais! Quem poderia sentir simpatia ou solidariedade por trabalhadores “braçais” que ganham mais do que um professor catedrático? A ideia transmitida é a de que estes trabalhadores são uns privilegiados que fazem greves fortuitas e que estarão a explorar os… empregadores!!
Num programa recente no canal televisivo SIC Notícias, Sónia Almeida, mulher de um estivador, fez a pergunta relevante: “Em que é que estas figuras baseiam as suas afirmações difamatórias dos estivadores?”. Em primeiro lugar, relativamente à afirmação dos 5000€, trata-se (infelizmente) de uma ficção inventada. Não é verosímil que entre os estivadores em greve hajam muitos trabalhadores que cheguem a salários mensais regulares de 5000€ com base no regime de trabalho normal, desde logo porque uma percentagem importante dos estivadores corresponde a trabalhadores eventuais que trabalham em função dos pedidos das empresas, podendo ser trabalhadores em situação precária ou temporária.
Mas, sim, de facto, é possível chegar a ganhar 5000€ por mês no trabalho portuário. Vamos ver como. A partir da tabela salarial actualmente em vigor e pelo contrato colectivo, consegue-se fazer alguns cálculos simples aplicados a uma das muito variadas combinações possíveis de prestações retribuídas. Trata-se de um horário de serviço extremo – mas o exemplo é útil porque na realidade as condições de laboração, os horários e a duração de trabalho nos portos são tipicamente extremos!
Por exemplo, um trabalhador da mais alta categoria da carreira – superintendente – poderia trabalhar 16 horas por dia, durante 22 dias seguidos, e mais 8 horas por dia todos os Sábados e Domingos do mês. Com esse horário, ele pode chegar a ganhar até aproximadamente 5.685.02€ (incluindo o subsídio de alimentação). Mas vamos analisar estas quantidades: 1) O vencimento de base do superintendente é 1.996,65€, mas 2.326,06€ no total se receber o subsídio de turno e por trabalho nocturno.[1] 2) O trabalho suplementar em dias úteis além do primeiro turno de 8 horas (ou seja, uma semana de 40 horas) – que pelo contrato colectivo é obrigatório quando a empresa mandar e isso acontece regularmente – teria de ser pago, até à aplicação do novo Código do Trabalho, com base numa retribuição estabelecida convencionalmente por turnos; portanto, estamos a calcular 6 horas por dia adicionais a 97,68€ por dia.[2] 3) No fim da semana, o trabalho suplementar tem mais um acréscimo de valor. Pelo primeiro turno o superintendente ganharia 113,57€.
Portanto, este exercício baseou-se evidentemente numa combinação simplificada mas intensiva de prestações e todos os valores referidos referem-se a salários brutos. Podiam-se fazer inúmeras simulações de horários para chegar aos 5.000€ por mês mas isso não adiantaria muito. (Por exemplo, podia tomar em conta ainda os horários de 24 horas seguidas que são uma realidade demasiadamente frequente para alguns trabalhadores.) O facto é que para lá chegar é preciso um regime de trabalho brutal que implicasse viver apenas para o trabalho. Por trabalhar tanto, o trabalhador mereceria não só os 5000€ mas, ainda, o bónus de um Porsche, tal e qual o terceiro carro do seu patrão, e, por último, um caixão de ouro no fim do ano! Por outro lado, o exemplo baseia-se na categoria mais alta da carreira, um trabalhador com responsabilidades exigentes em relação ao trabalho portuário. Para um horário de trabalho igual, o trabalhador médio do Porto de Lisboa (de base tipo B-V) chegaria a ganhar aproximadamente 4.412,58€. Esta retribuição processa-se em função do contrato colectivo e a lei com respeito ao trabalho suplementar. (Com a aplicação do novo Código de Trabalho os valores para o trabalho suplementar podem vir a descer significativamente!) Ora, não faz o mínimo sentido apontar o dedo aos vencimentos daqueles casos de trabalhadores que conseguem de vez em quando realizar um regime de trabalho brutal – o que implica o sacrifício do direito de descanso em troca da retribuição obtida – a não ser que se queira realmente atacar os níveis salariais estabelecidos convencionalmente. E na realidade toda esta história tem por objectivo a reivindicação do governo, patronato e troika de baixar a base salarial obtida pelos sindicatos na contratação colectiva. É isso que conseguiram fazer em Leixões e é isso que querem fazer no Sul!
Portanto, aqueles, como Ângelo Correia, que vieram à televisão fazer afirmações bombásticas deste tipo, têm a responsabilidade de demonstrar como tal é possível e, em vez de fazer acusações moralistas aos estivadores, explicar o que está em causa.
Ao contrário do que foi afirmado, televisivamente, por Ângelo Correia, a nova legislação não visa uma redistribuição “mais justa” das horas extraordinárias de um conjunto de trabalhadores, supostamente privilegiados mas, antes, a redistribuição dessas horas a novas categorias de trabalhadores precários nas áreas do trabalho em terra e de “logística” portuária. É assim que a legislação governamental visa precarizar o trabalho portuário em geral, tendo, por efeito de contágio, um impacto sobre as relações laborais dos trabalhadores sindicalizados. É, por isso, que os estivadores em greve prevêem o desemprego de uma grande parte dos trabalhadores efectivos (ou seja, os trabalhadores cedidos, diariamente, pelas ETPs empresas de trabalho portuário às empresas de estiva) e o afastamento de muitos trabalhadores eventuais, os quais terão contratos precários com essas empresas de cedência de trabalho portuário. Se permitirmos que isso aconteça nos portos, outros ramos de actividade sofrerão, por contágio, os efeitos deste modelo de flexibilização das relações de trabalho. Aliás é o contágio de uma desregulação já realizada das relações de trabalho no Porto de Leixões que está a minar o emprego em todo o sector portuário português!
Por outro lado, qual é o problema se um trabalhador ganhar bem pelo serviço prestado, de trabalho duro, para uma empresa que tem grandes lucros? É um pecado? A pobreza do proletariado do século XIX (ou em Portugal antes do 25 de Abril) será uma virtude melhor, uma meta para as relações laborais de hoje? Será que estas celebridades pensam que é preciso ser pobre para ser um operário honesto? Que argumentação perversa e mentalidade reaccionária! E qual é o problema se um trabalhador ganhar devidamente, devido à boa capacidade negocial do seu sindicato na contratação colectiva, por a sua alta produtividade permitir altos rendimentos ao seu empregador? Não é isso, supostamente, a virtude da função da contratação colectiva em democracia? Ou terá perdido a burguesia o apreço e a tolerância pela democracia e pela negociação laboral?

Vários sinais deveriam ter acordado o movimento sindical quanto à seriedade da situação mas, lamentavelmente, ainda há pouco eco do conflito no debate sindical:
1) Na última semana, várias vozes do patronato pressionaram o Governo, frontalmente, reivindicando o recurso à requisição civil. Aparentemente, o governo vai tentar evitar o risco de um confronto aberto, optando, para obter o mesmo efeito, pela alteração dos critérios dos serviços mínimos, redefinindo-os. Em vez de incidirem apenas no tratamento de produtos perecíveis e de primeira necessidade pretendem, Governo e empresas, que os grevistas tenham ainda o dever de tratar de tudo o que é indispensável à economia nacional. Como tudo o que tem a ver com a exportação – e até com a importação – pode ser invocado como indispensável à economia nacional, nesta crise, o governo vai, efectivamente, retirar força ao direito à greve. Se isso acontecer todo o movimento sindical sofrerá as repercussões desta precedência.
2) Um representante do patronato veio várias vezes a público acusar, de forma policial, o PCP e a CGTP (como se fossem uma entidade única anti-nacional) de estar por detrás da greve. Trata-se de uma táctica McCarthyista das mais elementares. Toda a gente sabe que o sindicato em questão é “independente, livre e democrático”, como rezam os seus estatutos, e que o PCP não tem influência na sua direcção. Algo diferente é que o PCP apoie, de alguma forma, a luta destes trabalhadores, o que os estivadores só poderão agradecer, como reconhecerão o apoio de todas as forças políticas que sustentem a justiça desta luta. E se há alguma convergência entre a greve e os objectivos políticos do PCP e da CGTP, isto é indicativo da situação política no país e não dos objectivos dos estivadores. Mas esse apoio valioso do PCP, e de outras forças da esquerda, de maneira nenhuma significa que se trata de uma greve fomentada por eles. Esta greve é uma resposta legítima de uma classe de trabalhadores que está a sofrer um ataque violento às suas condições de trabalho e de emprego.
Trata-se de um conflito laboral importante e legítimo – que entretanto envolve alguma divisão sindical. O acordo sobre o trabalho portuário que abriu a porta à nova legislação foi assinado pela UGT e pela Federação Nacional dos Sindicatos de Trabalhadores Portuários, federação filiada na UGT e onde se encontra filiado o Sindicato dos Estivadores de Leixões. Embora este sindicato represente, em maioria, os trabalhadores do porto de Leixões, no conjunto de portos portugueses é bastante minoritário. Quanto à UGT, a assinatura deste acordo é, infelizmente, consistente com a sua política de concertação a todo o custo, sendo muito compatível com a sua posição em relação à assinatura do “Compromisso para o Crescimento, Competitividade e Emprego”. Evidentemente, há diversas estratégias sindicais para lidar com os problemas actuais da economia e do emprego. Ora, sem querer entrar no conflito ideológico que divide, disfuncionalmente, o sindicalismo português, é preciso, contudo, constatar que a greve dos estivadores é um conflito exemplar em resposta às reivindicações patronais para a flexibilização e desregulação das relações laborais em torno da competitividade. As repercussões desta situação podem – e vão ser de certeza – sentidas muito além dos portos.
A campanha dos empregadores procura isolar os estivadores em greve da mesma maneira (embora ainda mais radicalmente) que, no geral, se procura dividir os trabalhadores do sectores público e privado no contexto das políticas de austeridade. Também cada vez mais, nos ruídos produzidos na internet e na “opinião pública”, outros trabalhadores do sector dos transportes em conflito, tais como maquinistas da CP, trabalhadores da Soflusa e da Transtejo, etc., estão a ser tratados em conjunto, como se fossem uma aristocracia de trabalho que tem uma vida privilegiada, e associam-se os conflitos, deslegitimando as reivindicações destes trabalhadores.
Os estivadores têm tido evidentes dificuldades em transmitir a sua mensagem. Embora se possa entender que entre sindicalistas da UGT haja um incómodo em relação ao conflito, devido à assinatura, pela UGT, do Acordo sobre o Mercado de Trabalho Portuário, surpreende a falta de empenho do resto do movimento sindical em torno da situação e, sobretudo, a falta de discussão do conflito. Como é que vão reagir se houver uma repressão dos estivadores em greve?
Em conclusão, sugiro uma reflexão sobre a história recente do movimento sindical internacional. Pensemos no sindicalismo americano, por exemplo, e no efeito que em 1981 a repressão, por Reagan, da greve dos controladores aéreos de PATCO, uma profissão reduzida de trabalhadores altamente qualificados e “privilegiados”, teve no declínio do poder negocial dos sindicatos norte-americanos, em geral, e na sindicalização. Consideremos o sindicalismo britânico e o efeito que a derrota em 1984 dos mineiros, outros “privilegiados”, teve nos recuos dos direitos dos trabalhadores desse país. Lembremos, então, o significado do lema sindical “solidarity forever”. Não se trata, apenas, de um slogan do passado histórico ou de uma ideia ideológica abstracta, mas de uma necessidade sindical!
Não esqueçamos o que o governo e o patronato tão bem entendem (e aplicam, se deixarmos): “vale tudo no amor e na guerra”… de classes!

segunda-feira, janeiro 02, 2012

António Vilarigues ~ Trabalho escravo: uma medida com profunda marca de classe



TERRAS DE PENALVA ONDE «A LIBERDADE É A COMPREENSÃO DA NECESSIDADE»
Trabalho escravo: uma medida com profunda marca de classe
                                                                                                                                  
-
  • Um trabalhador em Portugal trabalha, em média, mais 8,4 horas semanais que um trabalhador holandês, e mais 3,3horas que um trabalhador alemão;
  • Segundo o INE, os custos com pessoal representam 14% do total de custos das empresas não financeiras.
  • O aumento da carga horária permitiria “uma redução de custos associados ao trabalho” de 6,25%.
  • O efeito de tal redução nos custos totais das empresas não chegaria a 1% (seria, em média, uma redução de 0,89% no total de custos).
  • Ou seja, um valor perfeitamente negligenciável quando comparado com outros custos, como sejam os da energia, dos transportes, ou, no caso das empresas exportadoras, os custos associados a esta actividade e o das oscilações cambiais.
União Soviética foi o primeiro país do mundo a instaurar a jornada de trabalho de 8 horas (a partir de 1956 foram implementados os dias de trabalho de 7 horas e de 6 horas, bem como a semana de 5 dias). O primeiro a assegurar o direito do homem a um trabalho permanente e fixo. O primeiro a liquidar o desemprego (1930) e a assegurar o pleno emprego.
Em 1919 a jornada de trabalho de 8 horas foi implementada em França.
Desde então generalizou-se e electricidade e a produção em série. A automação e a robotização. A informática e novos processos de produção. A revolução científico-técnica dominou todo o século XX. E prossegue em ritmo acelerado nesta primeira década do século XXI.
Pergunta-se:
Em 1917 era economicamente rentável a jornada de trabalho das 8 horasCEM anos depois deixou de o ser?

domingo, fevereiro 13, 2011

Elmar Altvater: Revolução cultural para a sociedade do trabalho

Mundo

Vermelho - 13 de Fevereiro de 2011 - 17h38

Elmar Altvater

A redução da jornada de trabalho é a unica possibilidade de impedir o aumento do desemprego e do trabalho precário. O bem-estar das nações cresce com o aumento da produtividade. Mas o aumento da produtividade traz consigo a elevação do número de trabalhadores com ocupação precária, dos desempregados, e a difusão da atividade informal.

Por Elmar Altvater*

Tomar apenas o crescimento como referência é algo inadequado para reverter esse desenvolvimento. Chegou a hora de trilhar novos caminhos na sociedade do trabalho.

Com uma economia em crescimento, muitos dos prementes problemas da humanidade parecem ser passíveis de solução. A economia poderia expandir-se a partir das dívidas gigantescas que os Estados provocaram para salvar os patrimônios financeiros. Com a expansão dos mercados, mais mercadorias poderiam ser vendidas. Para a sua produção, seriam criados novos postos de trabalho. O combate contra a miséria e a fome talvez fosse mais eficaz. E os objetivos do milênio estabelecidos pelas Nações Unidas em 2000, tais como educação para todos, redução da mortalidade infantil, combate a Aids e a malaria, talvez pudessem ser atingidos mais facilmente.

Mas apesar de todas as conjuras, as taxas de crescimento baixam em todas as partes do mundo. Nos anos 50, a República Federal da Alemanha teve um crescimento do PIB de mais de 8% ao ano. Nas décadas posteriores essa taxa reduziu-se pela metade, conhecendo depois outras reduções, chegando a 2,6% ao ano. No anos 90, a taxa de crescimento foi de apenas 1,2%. E seguramente, ela será nas primeiras décadas do século XXI ainda mais baixa, mesmo que fale-se muito agora do “milagre do trabalho” e do “Boom-Germany”. É fato que os dados da economia alemã de 2010 foram melhores que os esperados um ano antes. Mas a situação é ainda pior em outras partes da Europa. E o excedente de exportação da Alemanha não é isento de culpa em relação a isso. E há uma série de razões plausíveis envolvendo as perspectivas de longo prazo de uma tendencial queda da taxa de crescimento da economia.

Fim dos recursos naturais

Somente para a manutenção de uma taxa de crescimento constante, é necessário a continua elevação de aumento absoluto do produto interno bruto. E isso vale também para o uso de recursos naturais e para a emissão de poluentes. Caso o atual estoque de petróleo acabe, novas demandas poderão ser atendidas com a descoberta de novas reservas. Mas há um limite para isso, chamado na economia de “Peak Oil”.

Novos campos petrolíferos não poderão ser encontrados de forma ilimitada. A terra já está furada como um queijo suiço. E a exploração do chamado petróleo não convencional, como no mar profundo, é cara e extremamente perigosa, como prova a avaria da plataforma “Deepwater Horizon” na costa sul dos Estados Unidos da América. Ali, no momento, também há crescimento, mas graças ao imenso trabalho de limpeza. Isso não é uma prova convincente de mais bem-estar.

Assim, o crescimento que atinge os limites colocados pelo meio ambiente não é nenhum medicamento sem efeitos colaterais perigosos. Tais efeitos podem ser aceitos em nome da criação de novos postos de trabalho ? No capitalismo, a força de trabalho só pode ser empregada caso gere lucro. Os produtos de seu trabalho devem ser mercadorias em condições de enfrentar a concorrência nos mercados globais. Preço e qualidade devem ser compatíveis, a demanda deve existir. Isso também envolve a produtividade do trabalho e a distribuição de renda, caso haja aumento da ocupação.

A elevação da produtividade do trabalho é um processo muito complexo. Ela exige não apenas progresso técnico, como também a formação e a requalificação da força de trabalho. Ela demanda um rearranjo social e organizativo, a criação das respectivas condições políticas e mudanças culturais. Mas o mercado está pouco inclinado para isso. Os seus atores não pensam a longo prazo, mas a curto prazo. Eles são levados pela busca de ganhos rápidos, e não por perspectivas de desenvolvimento continuado.

Também ocorrem desvalorizações, e investimentos em novas instalações tornam-se necessários para elevar-se a produtividade do trabalho. Mas dessa maneira eleva-se igualmente a intensidade do capital, ou seja, a relação entre o capital aplicado por força de trabalho. Karl Marx chamou isso de “composição orgânica do capital”. Com uma melhor produtividade, a taxa de crescimento da economia pode subir, mas desde que a produção seja competitiva.

No entanto, o aumento da composição orgânica do capital faz baixar a taxa de lucro. E caso isso contribua para diminuir o investimento, a taxa de acumulação se reduz. Então, o capital líquido é preferencialmente investido no setor financeiro, e não na economia real. O que, por sua vez, provoca uma retração do excedente, enquanto as exigências financeiras vão crescendo. Essa é a constelação que faz com que as crises financeiras tornem-se quase inevitáveis, como mostram as experiências mais recentes.

Como constatou Adam Smith, um autor clássico da econômica política, uma elevada produtividade do trabalho aumenta o “bem-estar das nações”. Mas o reverso inevitável é o movimento que torna a força de trabalho supérflua. Por isso, David Ricardo caracterizou-a como sendo uma “população supérflua” (excedente populacional). Trata-se das ocupações precárias, dos desempregados e dos trabalhadores da economia informal dos dias de hoje. Como consequência do avanço produtivo há muita coisa em oferta . Mas o poder de compra não mantem-se e o número da força de trabalho em ocupação normal também não.

A redução da jornada de trabalho

A suposição de que o “exército de reserva” pudesse diminuir com o crescimento da economia, ou seja, com a expansão do volume de trabalho e com novas contratações, já foi criticada por Marx. Os capitalistas querem economizar em trabalho pago. Por isso, os efeitos gerados pelo exército de reserva devem ser mais eficazes do que a ampliação da produção. A inteira compensação do excedente gerado pela força de trabalho socavaria o objetivo em questão, ou seja, a redução dos custos do trabalho.

Diferentemente do capitalismo do século 19, hoje a discussão trava-se em torno de uma nova forma de compensação: precisamente, a redução da jornada de trabalho. De fato, ela é a única possíbilidade de evitar o aumento da “população supérflua” como consequência do progresso da produtividade. Ela exige na sociedade do trabalho uma pequena revolução cultural com possíveis consequências bastante abrangentes: trata-se da transformação do tempo alienado em tempo apropriado, da reorganização do trabalho assalariado, da ampliação do tempo livre e do trabalho comunitário. Trata-se de uma mudança fundamental das relações naturais, externas e internas. Isso indica uma revolução cultural.

Elmar Altvater é professor emérito da Universidade Livre de Berlim e membro do partido Die Linke (A Esquerda).

Tradução de Luciano C. Martorano

.

domingo, julho 25, 2010

A Voz da Razão ou a Ditadura dos Horários, segundo Pereira Coutinho

A Voz da Razão

A ditadura dos horários

Viver em Portugal é conhecer a ditadura dos horários. Que o mesmo é dizer: se não seguimos os hábitos do rebanho, será impossível jantar decentemente à meia-noite; ou fazer compras pelo serão adentro.
  • 24 Julho 2010
Por:João Pereira Coutinho, Colunista
.
Felizmente, esta provinciana mentalidade está a mudar e o governo já permite que os hipermercados possam abrir ao domingo, das seis à meia-noite. Custa a crer que se esperou até 2010 para ver reconhecida esta benesse. Mas também custa a crer que o governo ainda admita excepções, consoante os casos, em que o poder local é que sabe. Não, não sabe. 
.
Quem sabe é o dono do negócio, que devia estabelecer o seu horário de acordo com os interesses da clientela. Dizer-se que a liberalização dos horários comerciais reforça o emprego (entre 2 a 8 mil novos postos) e anima o consumo das famílias é passar ao lado do argumento essencial. E o argumento essencial reduz-se na palavra clássica: liberdade. Ou o poder político respeita a liberdade de comerciantes e consumidores; ou persiste no abuso de se imaginar pai dos portugueses, ordenando-lhes xixi e cama quando o relógio manda.
.
.
  • Comentário feito por:abenjas
  • 24 Julho 2010
Nunca trabalhaste num hyper, nem nunca vais trabalhar... É a classe média alta a borrifar-se para a vida familiar dos de cá de baixo.
  • Comentário feito por:j.guerreiro
  • 24 Julho 2010
mais uma vez os trabalhadores vão pagar os horários extras. pagar aki não tem valor.
  • Comentário feito por: Anónimo
  • 24 Julho 2010
Mais um a defender o capitalismo desenfreado. E a vida familiar dos desgraçados dos funcionários? E a protecção do comércio tradicional? É triste quando uma sociedade vive só no materialismo da mira do negócio.
  • Comentário feito por:sila
  • 24 Julho 2010
Sim, a liberdade é um lado da moeda. Do outro, está a autoridade.E tem sido a falta secular de síntese mental que, dificilmente,fará " disto gente". 
.
.