A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quarta-feira, outubro 31, 2012

Quais os benefícios e deduções fiscais em aplicáveis a rendimentos de 2012 e a declarar em 2013?


Todo o economista é um leigo, todo o leigo é economia


A dois meses do final do ano recordamos os nossos leitores vários artigos que fomos editando ao longo do ano e que apresentam quais os  benefícios e deduções fiscais em aplicáveis a rendimentos auferidos no ano 2012 e a declarar em 2013. Até ao final do ano ainda poderá afinar a gestão fiscal a estes limites. Deixamos assim a dica de (re)leitura dos seguintes artigos:
Com a divulgação da proposta de Orçamento de Estado para 2012 (via Negócios) ficámos a conhecer os prováveis  escalões de IRS para 2012 (falta a aprovação final do Orçamento que não deverá trazer alterações significativas).  Os escalões são… iguais aos de 2011, ou seja, ignorou-se a taxa de inflação verificada em 2011 ou a prevista para 2012 para efetuar uma atualização pelo que, na prática, o IRS em 2012 vai aumentar.
Assim a partir de 2012 contaremos com os mesmo 8 escalões de IRS definidos da seguinte forma:
Rendimento Colectável
Taxas Rendimentos de 2012
Até 4.98911,5
De mais de 4.989 até 7.41014
De mais de 7.410 até 18.37524,5
De mais de 18.375 até 42.25935,5
De mais de 42.259 até 61.24438
De mais de 61.244 até 66.04541,5
De mais de 66.045 até 153.30043,5
Superior a 153.300*46,5
 Quem estiver neste escalão de rendimento, terá de pagar uma sobretaxa de 2,5% sobre a parte do rendimento que excede os 153300€.

Deduções à Coleta no IRS em 2012 – limites máximos

A proposta de Orçamento de Estado de 2012 (via Negócios) estabelecem limites máximos às deduções a coleta em sede de IRS diferenciados de acordo com os distintos escalões. Os dois escalões mais baixos continuam sem limite e os contribuintes colocados no 7º e 8º escalão continua sem poder deduzir qualquer valor, à semelhança do que sucedia em 2011.
Os restantes têm agora os milites máximos que abaixo indicamos e que podem ser majorados em 10% por cada criança a cargo. Note-se que estes limites máximos de dedução aplicam-se ao acumulado de deduções com despesas de saúde, educação, empréstimos à habitação, lares e pensões de alimentos o que representa um significativa alteração face ao que vigorava até este Orçamento de Estado.
(em atualização) 
Rendimento Colectável
Taxas Rendimentos de 2012Deduções máximas à coleta
Até 4.98911,5Sem Limite
De mais de 4.989 até 7.41014Sem Limite
De mais de 7.410 até 18.37524,51250
De mais de 18.375 até 42.25935,51200
De mais de 42.259 até 61.244381150
De mais de 61.244 até 66.04541,51100
De mais de 66.045 até 153.30043,50
Superior a 153.30046,50


IRS 2012: Dedução com despesas de saúde limitada a 10% e a 838,44€


Em 2012, por cada 100€ de despesas de saúde será possível deduzir apenas 10€ contra os 30€ admitidos até 2011. Note-se que esta possibilidade apenas é admitida a quem não esteja no 7º ou 8º escalão do IRS (ver aqui “Escalões IRS 2012“).
Para os restantes contribuintes, haverá um limite máximo específico equivalente a dois IAS (ou seja, a 838,44€) que poderá ser majorado em 30% do IAS (mais 125€) por cada filho além do segundo desde que todos tenham despesas de saúde. Note-se que esta dedução concorrerá para o limite máximo de deduções que o agregado poderá receber (ver o artigo “Deduções à Coleta no IRS em 2012 – limites máximos“).

IRS 2012: dedução com habitação limitada a 15% dos juros pagos


Em 2012, por cada 100€ de despesas com juros da habitação própria e permanente  será possível deduzir apenas 15€. Recorde-se que até 2011 era possível deduzir 30% sobre despesas com juros e amortizações. O limite máximo de dedução para despesas com habitação mantêm-se nos 591€. Deverão manter-se as majorações por via da eficiência energética já existentes.
Note-se que esta possibilidade de dedução com despesas de habitação apenas é admitida a quem não esteja no 7º ou 8º escalão do IRS (ver aqui “Escalões IRS 2012“). Para os restantes contribuintes, além do limite máximo específico para a dedução de despesas com a habitação haverá ainda o limite máximo de deduções que o agregado poderá receber (ver o artigo “Deduções à Coleta no IRS em 2012 – limites máximos“).

IRS 2012: Rendimento de deficientes tributados em 90% mas com dedução máxima

Eis a formulação que se pode ler no Orçamento de Estado de 2012 no que concerne à tributação que incide sobre cidadãos com deficiência:
Artigo 103.º
Disposições transitórias no âmbito do IRS
6 – Os rendimentos brutos de cada uma das categorias A, B e H auferidos por sujeitos passivos com deficiência são considerados, para efeitos de IRS, apenas por 90 %em 2012.
7 – Não obstante o disposto no número anterior, a parte do rendimento excluída de tributação não pode exceder em 2012, por categoria de rendimentos, € 2 500.

IRS 2012: pensão de alimentos só tem em conta 419,22€ por filho/mês

Segundo a proposta de Orçamento de Estado de 2012, a dedução em sede de IRS para despesas com pensões de alimentos continua a ser de 20% mas sobre um valor mensal máximo equivalente a um IAS por mês, por beneficiário, ou seja, a 419,22€ por filho. Se por hipótese a pensão de alimentos for de 600€ por mês, só serão considerados para a efeito de apuramento do valor a abater à coleta 419,22€ o que, na prática, se traduz, numa abatimento teórico máximo por mês, 83,84€/mês, ou seja, 1006€/ano.
Note-se que esta possibilidade apenas é admitida a quem não esteja no 7º ou 8º escalão do IRS (ver aqui “Escalões IRS 2012“). Para os restantes contribuintes a dedução concorrerá para o limite máximo de deduções que o agregado poderá receber (ver o artigo “Deduções à Coleta no IRS em 2012 – limites máximos“).

IRS 2012: valor da dedução com despesas de educação


Qual a poupança fiscal que poderá obter no IRS com as despesas de educação incorridas ao longo do ano 2012?
As despesas com a educação dos sujeitos passivos e membros do agregado familiar, incluindo encargos com creches, lactários e jardins-de-infância, bem como com a formação artística, educação física e ensino da informática são dedutível em 30% e podem representar uma poupança fiscal máxima de 760 € acrescida de 142,5€ por cada dependente quando existam pelo menos 3 com despesas de educação.
Note, contudo, que surgiu em 2012 um valor máximo global dedutível para o qual concorrem todas as deduçõess sejam elas de educação, saúde, habitação… Pode consultar os limites máximos referentes a cada escalão de IRS no artigo: “Deduções à Coleta no IRS em 2012 – limites máximos“.

Rendas com habitação deduzem €502 no IRS 2013 (OE 2013 – proposta oficial)

O valor máximo dedutível em sede de IRS 2013 por conta de rendas pagas com a habitação própria e permanente deverá ser de €502 (era de €591 em 2012). Este é o valor que se encontra inscrito na proposta de orçamento do estado entregue pelo governo para aprovação no parlamento português.
Recorde-se que os valores das deduções acumulam e estão sujeitos a uma limite máximo comum que pode consultar aqui: Limites máximos de deduções à coleta por escalão do IRS (OE 2013 – proposta oficial)

terça-feira, dezembro 13, 2011

O capitalismo não tem solução



  • João Dias Coelho
    Membro da Comissão Política


A luta organizada dos trabalhadores é o motor da transformação social
Avante!
Com a luta, os trabalhadores hão-de derrotá-lo!
O capital que tantas lágrimas chora na época natalícia pelos pobres e coitados, não abdica de explorar sempre até à medula aqueles que só dispõem da sua força de trabalho. O princípio da exploração está na natureza do capital, que vê na força de trabalho a sua fonte principal de enriquecimento. A venda da força de trabalho é o único meio que os trabalhadores têm para sobreviver e é por isso que o capital cada vez mais a desvaloriza.

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Num tempo de crise global do sistema capitalista em que se confirma mais uma vez a teoria marxista, desenvolvida no século XIX e comprovada na prática, sobre a baixa tendencial da taxa de lucro, o capital procura recuperar parcelas perdidas – baixando salários, roubando subsídios, aumentando o tempo de trabalho, reduzindo ao mínimo o pagamento do trabalho suplementar, liquidando direitos, anulando apoios sociais, aumentando os impostos sobre os já magros rendimentos do trabalho, destruindo a contratação colectiva.
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No quadro da competitividade inter-imperialista, o capital, no «desespero» de aproveitar rapidamente a actual correlação de forças resultante do desaparecimento da URSS e do socialismo como sistema mundial, procura acelerar ainda mais o processo de concentração e centralização capitalista em cada país e à escala transnacional, aumentando a exploração e o domínio e colonização das economias mais frágeis e periféricas.
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É neste contexto que se insere a reclamada aceleração do processo federalista na UE como elemento chave para salvar a Europa do capital, com a introdução da chamadagovernação económica, que colhe o apoio do PS, do PSD e do CDS e de gradas figuras da nossa praça. Neste plano enquadra-se também o BE, com o seu sentido federalista.
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Esta é mais uma expressão da tentativa de aumentar ainda mais a perda de soberania dos países mais frágeis no plano da sua capacidade de decisão e da sua estrutura produtiva, impondo regras draconianas no plano fiscal e social de forma a garantir a sobrevivência dos mais fortes. Os senhores do capital que dominam a UE falam cada vez menos no mitigadomodelo social europeu. A sua preocupação está centrada nas finanças e na salvação do euro como instrumento de confronto nas relações de troca e de especulação financeira entre as superpotências que se digladiam entre si na partilha do mundo e que, para isso, querem estabelecer uma espécie de cordão sanitário em torno dos países mais fortes para a defesa do euro e das suas economias.

A luta não pára

Como Lénine escreveu em 1915, no seu artigo Sobre os Estados Unidos da Europa, do ponto de vista das condições económicas do imperialismo, isto é, da exportação de capitais e da partilha do mundo pelas potências coloniaisavançadas e civilizadas, os «Estados Unidos da Europa, sob o capitalismo, ou são impossíveis ou são reaccionários». «Os Estados Unidos da Europa, no capitalismo, equivalem ao acordo sobre a partilha das colónias. Mas no capitalismo é impossível outra base, outro princípio de partilha que não seja a força.»
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A realidade está a confirmar tal análise, pois apesar do esforço imenso para ocultar a natureza da UE, mascarando-a como a Europa dos povos, a verdade é que ela é uma criação do capital transnacional europeu para servir os seus próprios interesses.
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Na verdade, importa perguntar porque é que há crise. Porque é que há sobreprodução mundial, quando a população cresceu, as necessidades de consumo aumentaram e a fome mata milhões de seres humanos. Tal facto resulta de uma injusta repartição da riqueza, de uma ordem económica internacional injusta, desajustada da realidade e das necessidades dos povos, mas que serve inteiramente o capital à escala mundial – que reparte (competindo entre si) as partes do globo onde pode captar mais e mais lucro.
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Enquanto uns continuam a acumular riqueza à custa da exploração dos trabalhadores, dos povos e nações, através da ocupação territorial militar e económica, explorando riquezas naturais que não são suas, outros – os trabalhadores e os povos – morrem de fome e de miséria.
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O capitalismo não tem solução, não é reformável, nem humanizável. Ele resiste na sua agonia. Mas um dia os trabalhadores e os povos, com a sua luta organizada, hão-de derrotá-lo. Eles sabem, embora o neguem, que o motor da transformação social é a luta organizada dos trabalhadores e dos povos. Luta que não parará enquanto houver injustiça, fome e miséria. Luta de resistência que incorpora elementos de ofensiva e de transformação social e que conhece no nosso País e no mundo avanços e progressos e na qual o nosso Partido assume o seu papel de vanguarda.
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N.º 1984 
7.Dezembro.2011 

quinta-feira, dezembro 08, 2011

Maioria PSD/CDS-PP aprova Orçamento do Estado para 2012


Avante!

Só a luta pode travar a política de desastre nacional

Este é o orçamento da recessão

A maioria parlamentar PSD/CDS-PP, com a abstenção do PS, aprovou o Orçamento do Estado para 2012.Trata-se de «mais um passo» no sentido do desastre, adverte o PCP, entendendo por isso que a hora é de «agir para derrotar o pacto de agressão e salvar o País».

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Face à «política de terra queimada» seguida pelo Governo, não há outra resposta patriótica que não seja a da luta popular para «libertar Portugal da ditadura do grande capital» e do «domínio estrangeiro», sublinhou o deputado comunista Francisco Lopes, expressando da tribuna do hemiciclo aquele que é o sentimento de indignação e protesto que varre o todo nacional e que a essa mesma hora soava estridente pela voz de milhares de manifestantes junto às escadarias de S. Bento.
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Vozes que clamavam por mudança, dando corpo a essa luta que ganhou novo ímpeto e grandeza na histórica greve geral de 24 e que vai continuar e intensificar-se, na certeza de que essa é a única via para «libertar a Constituição da República das amarras que a amachucam e espezinham», abrindo caminho à efectiva concretização dos valores que a mesma acolheu e consagrou: «o projecto de democracia, desenvolvimento, justiça, soberania e progresso social».

Confiança no povo

Forte confiança na luta dos trabalhadores e das populações, solidamente reforçada pela perspectiva de demonstração de que há uma política patriótica e de esquerda alternativa ao actual «rumo de suicídio nacional», foi, pois, o sentido principal da mensagem deixada pelo Grupo Parlamentar do PCP na ponta final do processo legislativo das contas do Estado para o próximo ano.
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Um orçamento que é o produto directo desse pacto ignóbil selado por PS, PSD e CDS-PP – pacto cuja aplicação é indissociável da «natureza do capitalismo, do processo de integração na UE e da política de direita», como bem assinalou Francisco Lopes –, e cujos impactos e repercussões estão a fazer-se sentir de modo brutal sobre o País (com as suas dificuldades agravadas) e sobre a vida de milhões de portugueses, a braços com o desemprego e a pobreza, com o roubo do subsídio de Natal, com um aumento incomportável do custo de vida, nomeadamente dos transportes públicos, da electricidade e do gás.
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Foi contra estas orientações que os deputados comunistas batalharam com firmeza durante todo o processo de debate do OE, quer apresentando propostas de alteração (todas chumbadas) quer denunciando as opções, prioridades e objectivos nele firmados, os quais, do seu ponto de vista, dão corpo a «uma política e um rumo de exploração, empobrecimento, injustiças sociais, recessão económica e desemprego, de comprometimento do regime democrático e da soberania nacional». Factores, todos eles, em suma, convergindo naquilo que Francisco Lopes definiu como «o orçamento da política de desastre nacional».

Direitos sociais sob fogo

Por isso a consequente oposição e o voto contra da bancada comunista (PEV e BE votaram de igual modo) relativamente a um OE que, além do roubo dos salários e dos subsídios, tem no ataque aos serviços públicos e às funções sociais do Estado outra das suas marcas de água..


«Estrangula o Serviço Nacional de Saúde, provoca o encerramento de serviços, aumenta as taxas moderadoras, dificulta e impede o acesso aos cuidados de Saúde a uma grande parte da população», enumerou Francisco Lopes, antes de sublinhar que o mesmo se passa no plano da Educação, ao limitar o direito ao Ensino por via do fecho de escolas, do despedimento de dezenas de milhares de professores e outros profissionais, da degradação das condições de Ensino e dos seus elevados custos sem uma efectiva acção social escolar. Relevado, ainda neste capítulo, foi o ataque à Segurança Social e a apoios sociais fundamentais, e, noutra esfera, às medidas em curso no sentido da «desagregação do sistema de transportes públicos».
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Os deputados comunistas não se cansaram ainda durante quase um mês – o tempo que mediou entre a discussão na generalidade e a sua votação final global faz hoje oito dias (quarta-feira, 30) – de chamar a atenção para as consequências nefastas de um OE que avança a todo o gás para o desmantelamento de importantes sectores da administração pública, que atinge os trabalhadores, os profissionais das forças de segurança, os militares, que ataca a autonomia do poder local democrático, através de «cortes, ingerências e extinções».

Opções pelo capital

Mas a verdadeira natureza das opções de classe deste Governo, cavando ainda mais fundo as desigualdades e injustiças, emerge com particular clareza quando comparado o tratamento dado ao capital e ao trabalho.
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Bem se esforçaram maioria parlamentar e Governo em apregoar e repetir formulações sem conteúdo como a famigerada «ética na austeridade». O ministro das Finanças, Vítor Gaspar, foi um dos mais fervorosos protagonistas da rábula, insistindo, na sua intervenção de encerramento, em afirmar que nunca dele esteve ausente o «princípio da equidade social».
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Nada mais falso, como tratou de demonstrar a formação comunista. É que o Governo que saqueia trabalhadores e reformados, que sufoca a vida dos micro, pequenos e médios empresários, é o mesmo que mantém intocáveis os benefícios e privilégios (ver caixa) de grandes grupos monopolistas, que vêem continuamente engrossar os seus lucros; é o mesmo que lança milhares de milhões para tapar os buracos do BPN e do BPP;o mesmo que alimenta o negócio ruinoso para o Estado das parcerias público privadas; o mesmo que oferece de mão beijada garantias e injecção directa de milhares de milhões de euros à banca privada.
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«Dizem que não há dinheiro sempre que verdadeiramente é preciso para o povo e o País, mas para alimentar a especulação ele aparece sempre», observou, mordaz, a propósito, Francisco Lopes, para quem este é, simultaneamente, o OE da privatização de empresas e sectores estratégicos, esse verdadeiro bodo a preços de saldo para o capital transnacional, comprometendo «os recursos e as bases de sustentação e desenvolvimento do País».

Recessão profunda

Da análise ao OE resulta ainda claro – e esta foi outra tónica colocada no debate pelos deputados do PCP – o seu carácter recessivo. «O corte no investimento, a quebra do poder de compra e medidas como o aumento do IVA, designadamente na restauração ou na cultura, levam à recessão», alertou Francisco Lopes, convicto de que não será «uma qualquer recessão» mas «uma recessão profunda». Foi mesmo mais longe e quantificou-a, admitindo que corresponda a «uma eliminação da produção da riqueza em 2012 equivalente à despesa total com Educação», um «salto de dez anos para trás, com centenas de milhares de novos desempregados e a dívida que dizem querer pagar a aumentar e cada vez mais impagável».
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Tudo somado, a justificar, pois, a luta que vai prosseguir e intensificar-se contra um pacto de agressão que destrói vidas e bloqueia o futuro, por uma política patriótica e de esquerda.
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N.º 1984 
7.Dezembro.2011

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Autoritarismo do PS de Sócrates ultrapassa "centralismo democrático" de Lenine, segundo Ana Benavente

 
Ana Benavente integrou a direcção política do PS com Ferro Rodrigues  
Ana Benavente integrou a direcção política do PS com Ferro Rodrigues 
(Foto: Manuel Roberto)

Ana Benavente tece violentas críticas a seis anos de governação

Autoritarismo do PS de Sócrates ultrapassa "centralismo democrático" de Lenine

07.02.2011 - 08:54 Por Nuno Simas
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Ana Benavente é cáustica com os anos de governação do primeiro-ministro. E aponta tiques de autoritarismo, de distribuir "lugares e privilégios" e render-se ao neoliberalismo.

É um retrato arrasador do PS, do Governo e de José Sócrates. A ponto de Ana Benavente, secretária de Estado da Educação de António Guterres (1995-2001), dizer que jamais pertenceria a um Governo de José Sócrates com uma pasta idêntica. "Porque, se o fosse, já teria apresentado a minha demissão." A confissão da ex-dirigente socialista é feita numa entrevista à Revista Lusófona de Educação.

O tema é a educação na luta contra a exclusão e pela democracia, mas a conversa vai até à política pura e dura e o actual estado do Governo do PS e da liderança de José Sócrates. Aí, mais uma vez, Benavente é dura. Muito dura. O PS tornou-se "neoliberal" - "fazer do capital financeiro o dono e árbitro do desenvolvimento económico é uma capitulação face ao neoliberalismo que não é digna de um partido socialista". Mas há mais. No PS, há falta de debate interno e Ana Benavente critica "o autoritarismo da actual liderança". "Tornou-se autocrata, distribuindo lugares e privilégios, ultrapassando até o "centralismo democrático" de Lenine. Alimentando promiscuidades que recuso", lê-se na entrevista.

Cinco teses para reconstruir

Na conversa publicada ao longo de 15 páginas, é pedido à antiga governante que aponte "sete pecados mortais" do PS. Ana Benavente fá-lo (ver texto em baixo) e, entre eles, aponta a "falta de ética democrática e republicana".

Na lista de divergências de Benavente registem-se mais umas quantas. Por exemplo, a acusação de o PS de Sócrates ter assumido "políticas de direita" - termo muito usado pelo PCP ou pelo Bloco - através das privatizações ou das reduções drásticas no sector público. Ou ainda de o PS ter abdicado "da defesa dos trabalhadores e dos mais desfavorecidos".

O Orçamento do Estado de 2011, aprovado depois de uma negociação com o PSD, é "o revelador máximo" das divergências: "Estado abusador, castigo para os pobres, poupanças nas políticas sociais".

O futuro é encarado com algum cepticismo pela ex-dirigente nacional do PS, que integrou o secretariado quando Ferro Rodrigues foi líder.

E de pouco valeria, perante estes "pecados", "a confissão e a absolvição com mais ou menos "castigos" e rezas". O problema é "mais grave".

"O PS hipotecou o seu papel na sociedade portuguesa e deixou-nos sem perspectivas de um futuro melhor. Assumiu o papel que antes pertencia aos centristas do PSD, ocupou o seu espaço e tornou o país mais pobre, política e economicamente."

O caminho passa, para Benavente, por o PS partir do seu "papel histórico" de conseguir um "reforço dos direitos dos trabalhadores, desenvolvimento dos direitos de cidadania e do consumidor, reforço da assistência pública, mudança do paradigma energético, desenvolver um sistema de saúde solidário e alargar o sector público". "Novas vagas de democracia" serão exigidas por todos os que, "assustados pelo eventual desemprego, comprados por um hiperconsumo esmagador e com medo da anunciada recessão", vão "querer respirar livremente e reconstruir a paz".

Na área da Educação, a ex-governante acusa Sócrates e o Governo de, nos últimos seis anos, terem "maltratado" a escola pública com políticas educativas "marcadas pela centralização" ou pelo "questionamento da qualidade" dos professores através do sistema de avaliação ou da publicação de rankings de escolas.

Os sete pecados mortais do PS, segundo Ana Benavente

1. Adoptou "políticas neoliberais e, portanto, abandonou a matriz ideológica socialista";

2. "Autoritarismo interno e ausência de debate, empobrecendo o papel do PS no país";

3. "Imposição de medidas governativas como inevitáveis e sem alternativa, o que traduz dependências nacionais e internacionais não assumidas nem clarificadas para o presente e o futuro";

4. "Marketing político banal e constante, de par com uma superficialidade nas bandeiras de modernização da sociedade portuguesa";

5. "Falta de ética democrática e republicana na vida pública e na governação";

6. "Sacrifício de políticas sociais construídas pelo próprio PS em fases anteriores";

7. "Falta de credibilidade, quer por incompetência quer por hipocrisia, dando o dito por não dito em demasiadas situações de pesadas consequências".

O que eles dizem

"[A liderança de Sócrates] tornou-se autocrata, distribuindo lugares e privilégios, ultrapassando até o 'centralismo democrático' de Lenine que tanto criticámos. Alimentando promiscuidades que recuso."

"Sócrates e os seus amigos serviram-se de uma ideologia incompatível com a essência do socialismo democrático."

"O PS hipotecou o seu papel na sociedade portuguesa e deixou-nos sem perspectivas de um futuro melhor. Assumiu o papel que antes pertencia aos centristas do PSD, ocupou o seu espaço e tornou o país mais pobre, política e economicamente."
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segunda-feira, fevereiro 07, 2011

PCP - Propostas para responder aos problemas do país


Sessão de Abertura
I
As visitas realizadas no âmbito destas Jornadas Parlamentares permitiram confirmar no terreno as principais preocupações que o PCP tem manifestado quanto à situação económica e social do distrito de Santarém.
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A grave situação económica e social do distrito acompanha os problemas do país: destruição aparelho produtivo nacional, desemprego, precariedade, baixos salários, emprego não qualificado, recurso generalizado a empresas de subcontratação de mão-de-obra. O número de desempregados registados é de 19 000 trabalhadores, sendo que 27% não tem qualquer apoio em situação de desemprego. A falta de investimento público no distrito tem tido consequências graves no encerramento e falência de empresas de construção civil. 
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Os trabalhadores estão confrontados com a perda de direitos individuais e colectivos: imposição do banco de horas em sectores onde não está consagrado na contratação colectiva; tabela salarial abaixo do salário mínimo nacional, como no sector da construção e madeiras onde são praticados salários de 459€; boicote do patronato à actualização salarial e caducidade dos contratos colectivos de trabalho; medidas repressivas e autoritárias sobre os trabalhadores; boicote e desrespeito pelos direitos sindicais; ineficácia acção ACT; dificuldade de acesso à justiça por parte dos trabalhadores e das suas organizações representativas e aumento das custas judiciais. Subsiste ainda e apesar do compromisso do Governo e das Associações Patronais o incumprimento do acordo de fim da discriminação salarial na cortiça. 
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A destruição do aparelho produtivo, manifestou-se no distrito de Santarém com particular gravidade, nomeadamente com os processos de insolvências de inúmeras empresas, entre as quais, só no sector das madeiras, a João Salvador, Manuel Freitas Lopes e IFM-Platex, que colocaram no desemprego cerca de 620 trabalhadores, e na agricultura, com o fim da produção e transformação da beterraba sacarina no Vale do Sorraia. 
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O encontro com a Associação dos Agricultores dos Concelhos de Abrantes, Constância, Sardoal e Mação, permitiu confirmar os inúmeros estrangulamentos e obstáculos à prevenção estrutural na floresta. Foram feitas referências ao PRODER (baixo nível dos incentivos, desadequação da legislação para a pequena agricultura, burocracia), ao Fundo Florestal Permanente, com o desvio das verbas para o suporte dos gabinetes florestais dos municípios e à descredibilização das ZIF, que em geral não passaram do papel, “abandonadas” pelo Governo. Não é aceitável que numa região que possui dos solos mais férteis do país, a agricultura não seja considerada como um factor central para o desenvolvimento económico da região e do país.
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Por outro lado, acentuou-se o processo de encerramento de serviços públicos no distrito, pondo em causa direitos sociais fundamentais. Assumem a este respeito particular gravidade, o encerramento de serviços de saúde e a falta de médicos de família e outros profissionais de saúde em inúmeras localidades, prejudicando especialmente as populações mais idosas e de menores recursos.
No início do presente ano lectivo, encerraram no distrito de Santarém, 46 escolas do ensino básico, dificultando o acesso à escolaridade por parte de largas centenas de crianças.
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Foram ainda encerrados recentemente vários balcões da segurança social, numa altura em que mais são precisos, sendo previsível o encerramento de muitos outros a curto prazo.
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Esta política economicista de encerramento de serviços públicos acentua a desertificação do país, aumenta as assimetrias regionais, afecta gravemente a economia da região, condenando muitas localidades ao envelhecimento e ao declínio, e põe em causa direitos fundamentais das populações. 
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O ataque aos serviços públicos com o objectivo de privatização de serviços essenciais traduz-se na falta de trabalhadores e no recurso à subcontratação da mão-de-obra, nomeadamente médicos, enfermeiros, auxiliares de acção educativa sem formação profissional; no congelamento das admissões na administração pública; no não pagamento horas extraordinárias; na utilização de transporte próprio dos trabalhadores para garantir serviço público; na falta de trabalhadores nos serviços de finanças e consequente aumento ritmos de trabalho levando a situações de ruptura que culminam no encerramento e redução do atendimento, como é o caso dos serviços de segurança social na Golegã.
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As dificuldades também são sentidas no sector das IPSS’s com a diminuição da comparticipação do Estado e consequente aumento das prestações das famílias. 
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A freguesia do Couço, concelho de Coruche, é neste momento um caso paradigmático de exemplo daquilo que é o encerramento de serviços públicos um pouco por este país fora. A constituição da Unidade de Saúde Familiar veio criar problemas na freguesia uma vez que os profissionais de saúde que aí trabalham têm de reforçar as equipas que funcionam na sede de concelho. Os serviços da Segurança Social encerraram. Em matéria de educação, foi criado um mega agrupamento no concelho, no qual se fundiu o agrupamento de escolas do Couço, sem o parecer positivo deste. 
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À semelhança do que se passa nas unidades hospitalares do país, no Hospital de Tomar também se sentem as consequências das políticas de desinvestimento na saúde, nomeadamente os elevados tempos de espera no serviço de urgência, resultado da insuficiente acessibilidade aos cuidados primários de saúde e da carência de meios humanos. 
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Em reunião com a Comissão de Utentes da Ponte de Constância, o Grupo Parlamentar do PCP teve oportunidade de ouvir de viva voz as preocupações das populações que ficaram, desde 20 de Julho, privadas daquela infra-estrutura e de confirmar a urgência de garantir uma alternativa. Tendo em consideração que o encerramento desta ponte causa enormes incómodos e avultados prejuízos às populações e às autarquias de Constância e Vila Nova da Barquinha, tendo impactos muito significativos em toda a vida económica e social da região. 
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Considerando para além disso, que a ligação encerrada tem uma importância estratégica para a região, tendo em conta os perímetros militares de Santa Margarida e de Tancos, os acessos a importantes unidades industriais e o acesso aos CIRVER situados no concelho da Chamusca, torna-se indispensável encontrar uma solução rápida e eficaz para restabelecer a normalidade da circulação rodoviária na ponte de Constância.
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Assim, o GP do PCP vai apresentar ainda esta semana um projecto de resolução com o objectivo de garantir a celeridade na adopção de medidas urgentes com vista à reabertura da Ponte sobre o Tejo em Constância e a adopção de medidas de cooperação técnico-financeira destinados a compensar esse município dos prejuízos decorrentes do encerramento dessa infra-estrutura rodoviária, previstas na Lei das Finanças Locais.
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Ao nível das acessibilidades, a somar ao problema já referido da ponte de Constância, assumem particular gravidade, o sistemático adiamento da construção de acessibilidades de há muito prometidas, como sejam, as novas travessias do Tejo a norte do distrito, sendo certo que há mais de um século que não se constrói qualquer ponte sobre o Tejo a norte da cidade de Santarém, bem como a conclusão dos troços do IC 3 e do IC 9. Porém, em vez de resolver estes problemas, o Governo tenciona acrescentar um novo problema para as populações, com a absurda e injusta introdução de portagens na A23.
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Esta medida, numa via estruturante para a vida e a economia da região e que não possui qualquer alternativa viável, viria lesar de forma drástica uma população já sacrificada por inúmeros problemas sociais. O GP do PCP assume por isso o compromisso de fazer tudo o que estiver ao seu alcance para impedir a imposição desta medida. 
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II
O país está confrontado com uma das mais graves crises das últimas décadas. O grave défice que enfrentamos é o défice de produção, bem reflectido no crescente endividamento externo da economia portuguesa.
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A persistência numa política vinculada aos interesses dos grupos económicos e financeiros, de abdicação dos interesses nacionais, de desaproveitamento dos seus recursos e potencialidades está, não só na origem dos gravíssimos problemas que o país enfrenta – estagnação e recessão económica, aumento da dependência externa, desemprego e défices estruturais (alimentar, energético, industrial, tecnológico) – como é um factor de agravamento da actual situação e de condicionamento do futuro do país.
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Portugal não é um país pobre. A defesa da produção e do aparelho produtivo nacional são uma incontornável resposta ao actual processo de declínio económico.
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É fundamental inverter este rumo de destruição do aparelho produtivo, e de ataque ao emprego e aos direitos, e combater decididamente este quadro de dependência e fragilidade da economia nacional.
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Estas Jornadas incluíram uma visita ao Parque Oficinal do Entroncamento da EMEF (Empresa de Manutenção de Equipamento Ferroviário, pertencente à CP). Aqui pudemos confirmar as enormes potencialidades deste importante pólo ferroviário, não só na manutenção e reparação de material circulante mas também no fabrico e exportação, designadamente de vagões de mercadorias. Esta empresa tem provas dadas pela sua qualidade e capacidade instalada, pela elevada qualificação e especialização dos seus trabalhadores, pelo potencial de produção e desenvolvimento que têm dado – e devem continuar a dar ao País.
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Estamos perante um sector de importância fundamental para a nossa economia, cuja privatização (já anunciada pelo actual Governo) tem de ser travada e combatida. Pelo contrário, a EMEF tem de ser defendida e valorizada, numa estratégia de modernização e procura de novos mercados. E isso implica investimento público de qualidade, para dotar o país de infra-estruturas e garantir uma substancial e efectiva incorporação da indústria nacional em todas as vertentes. É preciso defender este sector, ultrapassando as fragilidades causadas pelo desmantelamento de indústrias de base que concorrem a montante para a sua cadeia produtiva (de que são exemplos a siderurgia e a laminagem, onde a dependência do exterior se traduz já na importação de todo o aço e dos componentes utilizados para a produção). 
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Essa dependência é muito nítida no caso da Mitsubishi, multinacional de capital maioritariamente alemão a funcionar no Tramagal e que assume grande importância para a região e para a economia nacional. Esta empresa, dotada com elevada capacidade tecnológica, funciona presentemente num único turno, muito abaixo das suas possibilidades. A empresa tem todas as condições para aumentar muito significativamente a produção, com a correspondente criação de postos de trabalho e criação de riqueza, estando porém esse aumento dependente de decisões tomadas fora de Portugal. 
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O Grupo Parlamentar visitou ainda a Martifer, empresa portuguesa, cujas áreas de negócio passam pelas energias renováveis, pela construção naval, pela produção agrícola de cereais, mas também pela metalomecânica, tem a sua área de produção desta última vertente no concelho de Benavente. Porém, o valor dos salários pagos aos trabalhadores, o facto de não ter havido aumentos em 2009 e de os aumentos de 2010 terem apenas chegado a metade dos trabalhadores, com critérios que não são claros, levou à revolta dos trabalhadores.
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Decidimos assim propor a realização de um debate temático em Plenário sobre a questão da produção nacional, onde possamos confrontar o Governo com a necessidade de uma política económica que ponha em primeiro plano o aumento da capacidade produtiva do país, diminuindo os défices externos e criando emprego.
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Apresentaremos também um Projecto de Resolução com vista à tomada de medidas para reduzir os acidentes mortais no meio rural, designadamente a sinistralidade com tractores.
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III
Portugal não pode aceitar o espartilho de regras contra a economia portuguesa e contra os direitos do nosso povo que sistematicamente a União Europeia pretende impor, para proteger os interesses dos maiores países e dos grandes grupos económicos. Não pode aceitar absurdos critérios de redução do défice totalmente incompatíveis com as necessidades de desenvolvimento da economia nacional. Não pode estar sujeita a uma política de corte sistemático no investimento e designadamente nas áreas produtivas, que desperdiça até os fundos comunitários e adia o crescimento económico. Não pode submeter-se às inaceitáveis orientações de destruição dos serviços públicos. Não pode tolerar que tendo perdido o Banco de Portugal competências para o BCE, este esteja impedido de emprestar dinheiros aos Estados, mas empreste dinheiro a baixos juros aos grandes bancos, que depois emprestam aos Estados a juros altíssimos.
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As medidas anunciadas e aprovadas não acalmam os especuladores. A prova é que quanto mais o Governo aprova mais a especulação exige como bem se viu nos últimos dias.
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O Governo, o PSD e também o CDS subscrevem e aplicam esta política. São autores e cúmplices do ataque às prestações sociais, aos salários e às reformas e pensões. E com isso agravam a desigualdade social, aprofundam a crise económica e tornam certa a recessão. E com ela mais dificuldades haverá para equilibrar as contas públicas. É o défice a matar a economia em vez de ser a economia a matar o défice.
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Um orçamento do Estado com a continuação e aprofundamento desta política não resolve, antes agrava os problemas do país. Essa é a questão fundamental que está em decisão no próximo orçamento e que nem o Governo nem o PSD querem abordar, porque na realidade convergem nas questões essenciais e querem ambos a continuidade da política de direita. Querem ambos uma política de corte drástico nas políticas sociais e de redução efectiva dos salários, seja no sector público, seja no privado. 
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Bem pode agora o PSD encenar profundas divergências com a política do PS. É caso para perguntar, de que discorda o PSD? O PSD está ou não de acordo com os privilégios fiscais da banca? Com os cortes salariais? Com a destruição da administração pública e dos serviços públicos? Com as sucessivas tesouradas no investimento público? Está.
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Foi ou não o PSD, que tanto fala de PPP, a lançar as parcerias público privadas da saúde, aliás continuadas pelo PS, que custarão ao Estado mais de 7500 milhões de euros, isto é, um valor equivalente ao valor de 15 dos 100 submarinos de que fala Passos Coelho. 
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O PSD, que aprovou o actual Orçamento, o PEC e várias outras medidas adicionais, vem agora dizer que se não houvesse eleições presidenciais apresentaria uma moção de censura. É preciso lembrar ao PSD que já houve uma moção de censura nesta legislatura e que o PSD não a votou. O PSD chumba a censura quando ela existe e ameaça com ela quando a Assembleia da República já não pode ser dissolvida. É o estilo conhecido popularmente como “agarrem-me senão eu mato-o” aplicado à política nacional. 
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Do que precisamos no próximo Orçamento do Estado é de um aumento real dos salários, das reformas e pensões, que reponha uma parte da perda de rendimento dos últimos anos e que seja também um instrumento de combate à pobreza e de dinamização do crescimento económico. Precisamos de um orçamento que aumente o investimento público com vista ao crescimento económico.
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Precisamos de um Orçamento que aumente os impostos onde isso é justo e indispensável e que corte na despesa onde isso é útil e justificável.
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Relativamente à receita fiscal, o PCP insiste que é possível, (sem aumentar a carga fiscal já muito pesada sobre os trabalhadores ou os reformados, e sobre as micro e pequenas empresas), obter níveis de receita fiscal significativamente superiores, seja através do alargamento da base de incidência – começando finalmente a tributar rendimentos e lucros que hoje nada pagam -, seja através da aplicação de taxas mais justas e equitativas a rendimentos cujo nível de tributação é inaceitavelmente pequena, seja através da eliminação de benefícios fiscais injustos e injustificados.
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Assim, no que respeita ao aumento da receita fiscal, o PCP propõe 5 medidas:
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1. A criação de um novo imposto, (o Imposto sobre as Transacções e Transferências Financeiras, ITTB), que taxa em 0,2% todas as transacções bolsistas realizadas no mercado regulamentado e não regulamentado e que taxa em 20% as transferências financeiras para os paraísos fiscais. (receita adicional mínima de, respectivamente 260 milhões de euros e 1500 milhões de euros;
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2. A tributação extraordinária do património imobiliário de luxo, através da introdução temporária de uma taxa de 10% de IMT (Imposto Municipal sobre Transacções Onerosas), e de uma taxa de 1% de IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis), onerando a aquisição e a detenção de imóveis e propriedades de valor superior a um milhão de euros (receita não definida); 
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3. A tributação agravada sobre a aquisição ou posse de bens de luxo, (em sede de ISV, Imposto sobre Veículos, e de IUC, Imposto Único de Circulação), incidindo sobre aviões particulares, iates de recreio e veículos de custo superior a 100 000 euros (receita não definida);
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4. A tributação das mais-valias bolsistas, alargando a sua incidência a rendimentos do património mobiliário obtidos por Sociedades Gestoras de Participações Sociais (SGPS), entidades residentes no estrangeiro e fundos de investimentos. (receita adicional mínima de 250 milhões, equivalente à que o Governo estima obter com a tributação em IRS de rendimentos individuais de mais-valias mobiliárias, não entrando naturalmente em linha de conta com a receita da tributação das mais-valias obtidas pela PT pela venda da VIVO); 
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5. A aplicação de uma taxa efectiva de IRC de 25% ao sector bancário e grandes grupos económicos com lucros superiores a 50 milhões de euros, eliminando os benefícios fiscais que actualmente usufruem, e alargando este regime ao sector financeiro que opera na Zona Franca da Madeira. (receita estimada 700 milhões de euros, cerca de 350 para a banca, o restante para os grupos económicos).
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O PCP propõe igualmente 5 medidas de redução da despesa fiscal:
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1. Suspensão temporária do regime fiscal de isenção plena de IRS e IRC, ou de quase isenção em sede de IRC (taxa máxima de 5%), aplicável na Zona Franca da Madeira a empresas não financeiras, passando a ser aí aplicável pelo menos a taxa de IRC de 12,5% que incide sobre empresas localizadas no interior do País; (diminuição de despesa fiscal não inferior a 400 milhões de euros, face ao total de 1090 milhões de euros estimado no Relatório do OE de 2010);
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2. Redução, de quatro para três anos, do período máximo durante o qual são permitidas deduções de prejuízos fiscais aos lucros tributáveis (diminuição de despesa não definida);
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3. Eliminação dos benefícios fiscais, (por exemplo, de IMT e de imposto de selo), aplicáveis a operações de reestruturação empresarial (fusões e cisões empresariais); (diminuição de despesa não definida);
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4. Revogação dos benefícios fiscais concedidos a PPR (corte na despesa fiscal de 100 milhões de euros);
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5. O fim dos benefícios fiscais para os seguros de saúde – 100 milhões de euros
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No que respeita à despesa, o PCP propõe 5 medidas de corte na despesa: 
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1. A participação das Forças Armadas em todas as operações no estrangeiro - 75 milhões de euros;
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2. Abonos variáveis /indemnizações por cessão de funções - cortar 20% – 16 m€;
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3. Aquisição de bens e serviços correntes – 1515 m€ , dos quais 396 em estudos, pareceres e outros trabalhos especializados e outros serviços dos quais propomos cortar 50% - cerca de 200 milhões de euros;
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4. O fim da transferência de verbas da ADSE para os hospitais privados, cujo montante, certamente de dezenas de milhões de euros, continua a não ser divulgado pelo Ministério das Finanças;
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5. O fim definitivo do escandaloso negócio do terminal de Alcântara com a Liscont, que agora avança para um Tribunal Arbitral por proposta da APL, figurino altamente favorável aos grupos privados, como o exemplo do hospital Amadora – Sintra demonstrou.
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Para além destas propostas imediatas e concretas, o PCP apresenta ainda 5 medidas contra o desperdício de dinheiros públicos no futuro:
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1. A redução para um máximo até cinco membros, de todos os Conselhos de Administração de Empresas Públicas e Entidades Públicas Empresariais, e para um número máximo até três membros dos Conselhos Directivos de Institutos Públicos, não podendo as suas remunerações serem superiores à do Presidente da República; 
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2. A redução para metade do número do pessoal dos gabinetes dos membros do Governo e de todos os altos cargos do Estado cujos titulares tenham direito a gabinetes idênticos aos de ministros e idêntica redução, para metade, do número do pessoal dos gabinetes dos Conselhos de Administração das empresas públicas; 
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3. O não estabelecimento de qualquer nova Parceria Público Privada, como forma de concretizar infra-estruturas ou realizar investimentos, a extinção das entidades reguladoras e a reintegração das suas funções na Administração Central, de onde foram retiradas; A não transferência de funções do Estado para empresas públicas em substituição de serviços da administração pública, como acontece com a transferência para uma empresa pública (GERAP) das contratações para o Estado assumindo que é para contratar privados para o desenvolvimento dessas funções;
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4. Elaboração urgente, pelo Tribunal de Contas, de uma auditoria completa a todos os fenómenos de desorçamentação no Estado, incluindo as situações de migração para o direito privado e, ainda, para a determinação completa do nível de endividamento do Estado, incluindo o (designado) endividamento oculto;
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5. O fim das injustificadas e milionárias contratações de software proprietário na Informática do Estando, cujos custos totais o próprio Governo afirma desconhecer e a efectiva opção pelo software livre.
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O PCP vai ainda propor, como forma de melhorar os instrumentos para o combate ao crime fiscal, e na sequência de anteriores iniciativas sobre a eliminação do sigilo bancário que vieram a ter a aceitação parcial na Lei 37/2020, de 2 de Setembro, a eliminação do efeito suspensivo de qualquer recurso judicial sobre decisões tributárias para aceder a informação bancária.
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IV
A entrada em vigor a 1 de Agosto de 2010 do Decreto-Lei n.º 70/2010, provocou graves e preocupantes situações de perdas brutais de rendimentos a famílias que, para sobreviver, recorrem às prestações sociais de combate à pobreza, apoio à família, entre outras. Prestações como subsídio social de desemprego, abono de família, bolsas de estudo, comparticipação de medicamentos, rendimento social de inserção, entre outras sofreram cortes significativos, levando a população que menos pode e menos tem a situações de maior pobreza e exclusão social. 
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São demasiados os exemplos chocantes de como o Governo, através da alteração das regras de atribuição – alteração da fórmula de cálculo dos rendimentos do agregado e alargamento deste, inclusão das próprias prestações sociais nos rendimentos considerados – causou o empobrecimento imediato de centenas de pessoas: pessoas que com o corte no rendimento social de inserção passam a viver com 98 euros por mês; ou o exemplo concreto de uma pessoa com deficiência, que recebendo pouco mais de 150 euros de pensão de invalidez perdeu 50 euros da pensão por morte do seu pai ou mesmo a suspensão de prestações sociais como o subsídio social de desemprego para efeitos de reavaliação, deixando os desempregados sem qualquer rendimento.
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A tudo isto, junta-se um burocrático e maquiavélico processo de prova de recursos via internet, ao qual os serviços não dão resposta, ficando milhares de pessoas sem as suas prestações sob a filosofia, corta-se agora, provem se conseguirem.
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O Governo faz pagar os mais pobres e os mais necessitados uma crise pela qual não são responsáveis, cometendo um verdadeiro crime social ao negar o direito a viver com dignidade. Assim, o PCP irá apresentar um projecto de lei que visa revogar este Decreto-Lei repondo as anteriores regras de atribuição, com o compromisso de continuar a lutar pela melhoria das prestações sociais e pelo seu reconhecimento como direitos.
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Sob pretexto do equilíbrio das contas públicas, o Governo aprofunda o desinvestimento na saúde, transferindo cada vez mais os custos com a saúde para os utentes. Tem sido esta a matriz que caracteriza a política do medicamento. As sucessivas medidas do Governo nesta matéria vão no sentido de atacar o direito à saúde, colocando em causa o princípio constitucional, que se consubstancia no acesso e à prestação de cuidados de saúde. 
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Um conjunto de medidas recentemente aprovadas pelo Governo impõe mais sacrifícios ao povo português através da diminuição do preço de referência dos medicamentos, da diminuição nas comparticipações dos medicamentos nos pensionistas, passando de 100% para 95%, o que significa que os pensionistas passarão a assumir um acréscimo de cerca de 5 milhões de euros e a diminuição da comparticipação nos medicamentos do escalão A de 95% para 90%, o que acresce o custo de cerca de 13 milhões de euros para os utentes. Outra das medidas reside na alteração da comparticipação dos medicamentos antiulcerosos/antiácidos e anti-inflamatórios não esteróides que se transferem do escalão B para o escalão C, mas também na impossibilidade de invocar o regime especial para os medicamentos antidepressores, passando a comparticipação de 69% para 37%, o que para os utentes se traduz num aumento dos encargos com medicamentos em mais de 100 milhões de euros.
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É inadmissível que através destas medidas milhares de portugueses abandonem os tratamentos iniciados por dificuldades económicas na aquisição dos medicamentos. Não só discordamos destas políticas, como consideramos que o Governo tem de garantir o direito à saúde a todos os portugueses, onde a política do medicamento assume uma centralidade nesta área. Neste sentido, o PCP irá requerer a apreciação parlamentar do Decreto-Lei nº 106-A/2010, de 1 de Outubro. 
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No passado dia 10 de Outubro assinalou-se o Dia mundial da Saúde Mental, mas o Governo em vez de melhorar a resposta dos cuidados públicos de saúde mental, diminui a comparticipação nos medicamentos antidepressores, passando de escalão B para escalão C. Ou seja, quando cerca de 20% da população portuguesa sofre de perturbações mentais, a resposta do Governo é diminuir o apoio.
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O Código Contributivo, cuja entrada em vigor foi adiada, contém aspectos negativos que importa corrigir. O Governo PS, durante todo este tempo não apresentou nenhuma proposta para corrigir os aspectos mais gravosos deste código. Aspectos como a redução em 1% da taxa contributiva para todos os contratos sem termo, cujos impactos financeiros o Governo nunca quantificou (que de acordo com cálculos da CGTP, por cada 1% de redução da Taxa Social Única em 2009 levou a uma diminuição de 378 milhões de euros de contribuições) e que podem resultar em sérios riscos para a sustentabilidade financeira da segurança social; o agravamento das taxas contributivas dos pescadores, agricultores, IPSS´s, colectividades e sector cooperativo; a possibilidade de alteração das taxas contributivas por mero despacho de um membro do Governo ou a aplicação de 5% de taxa contributiva para os recibos verdes (que, em vez de combater os falsos recibos verdes, irá incentivá-los) são algumas das normas que urge alterar.
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Por outro lado o Código Contributivo não melhora nem inova os mecanismos de obtenção de receitas para a segurança social. Hoje, as contribuições não podem apenas ter como base os salários dos trabalhadores importa ter em conta a riqueza criada, as mais-valias, no cálculo das contribuições das entidades patronais para a Segurança Social. 
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O PCP assume as suas responsabilidades e o compromisso de apresentação de propostas de alteração ao Código Contributivo que o tornem mais justo e num instrumento capaz de responder aos desafios que a Segurança Social enfrenta, garantindo o seu carácter público, universal e solidário e a sua sustentabilidade.
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