A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sexta-feira, abril 27, 2007


Memórias do Oeste




À parte mais ocidental do País onde a terra acaba e o mar começa, chamaram Estremadura ou, num sentido mais restrito – Oeste, assim designando a faixa alongada do território nacional no sentido Norte - Sul, confinada pela corda de maciços dos Candeeiros, Montejunto, Carregueira, Sintra e pela costa atlântica.

Tendo uma paisagem dominada por vinhedos, pomares e pinheiro bravo, a região exibe miríades de outeiros coroados com ruínas de moinhos de vento, aqui ou ali transformados em habitação de fim de semana, rendendo os moleiros e as moendas que animaram e musicaram o espaço rural, com a rotação dos velames e o zoar das cabaças.

Essa moagem tradicional remonta aos tempos duma produção significativa de cereais de sequeiro que se estendiam até às falésias costeiras, em campos retalhados por canaviais separadores de posse e protectores das ventadas do noroeste que, hoje, soprando do mesmo quadrante, encontram o casario incaracterístico das múltiplas urbanizações balneares, insaciáveis devoradoras do espaço litoral.

Contudo, em terrenos mais recuados, os vinhedos subsistem e neles se alicerça a ilusória independência de pequenos e médios agricultores do Bombarral à Lourinhã, do Cadaval a Torres Vedras, de Mafra ao Sobral de Monte Agraço, lutando por uma sobrevivência dia a dia comprometida, ontem pelas políticas da Junta Nacional do Vinho, hoje pela PAC e demais tramóias comunitárias ao serviço de planos de concentração capitalista da terra.

A famosa e sumarenta fruta das terras de Alcobaça, de Caldas da Rainha e nos demais pomares do Oeste, foi dando lugar a monoculturas onde domina a pêra rocha, com aprimorados acabamentos na cor, no calibre, etc., espécie de produto industrial normalizado. A horticultura que aguarelava o castanho escuro das várzeas com matizados verdes, deu lugar às tiras negras de plástico donde brotam as alfaces, enquanto tomates e pimentos engordam no ambiente artificial de toscos e infindáveis abarracamentos de polietileno.

As profundas transformações operadas no meio rural do Oeste não são meramente paisagísticas, o habitat modificou-se, as tensões sociais afloraram repetidamente no conservadorismo das gentes de pequenas posses e, os comunistas cedo deram conta: das exigências de aumento de jorna dos assalariados rurais no Cadaval, em Julho de 1932; do violento protesto dos pequenos viticultores contra as arbitrariedades do Grémio de Casais do Bombarral, em Janeiro 1935; das confrontações entre os agricultores e a GNR, em A dos Cunhados – Torres Vedras, e das dezenas de viticultores concentrados em Valado de Frades – Alcobaça, protestando contra o arranque da vinha determinado pela Federação Vinícola, em Abril e Junho de 1955.

Os pequenos proprietários, coagidos pelos intermediários que lhes asseguravam o escoamento da produção; sem capitais para investir em equipamentos; foram caindo na ruína, convertendo-se em assalariados e aproximando-se, inexoravelmente, do proletariado.

Essa tendência na dinâmica social, foi longos anos acompanhada pelo PCP.
Sem assistência técnica, sem crédito barato e rápido, sem garantia de preços compensadores, e com elevados custos de produção, os pequenos e médios agricultores foram hipotecando a sonhada independência ou vendendo as heranças aos seus credores.

É na linha do esclarecimento, do despertar de consciências e da mobilização de vontades que é lançado como órgão de imprensa clandestina a «Folha da Pequena Lavoura» - ao serviço da unidade dos camponeses do Oeste e Ribatejo, cujo n.º 1 remonta a Agosto de 1962.


Artigo publicado na Edição Nº1552 2003.08.26

Fados na Amadora




Consoante a geração a que o leitor pertença, o topónimo Amadora identifica a povoação ou o concelho da cintura Norte de Lisboa, onde se operaram profundas alterações económicas, sociais e paisagísticas, particularmente nos últimos 50 anos.

Os mais idosos recordam os tempos dos gloriosos malucos das máquinas voadoras sediados no campo de aviação militar da Porcalhota, outros recuperam imagens duma povoação polvilhada de acolhedoras vivendas de veraneio, nos anos 30 e 40 do século passado. Mas, dos campos recobertos de trigais e dos chalés, pouco ou nada resta na paisagem impermeabilizada pelo cimento e pelo asfalto do vasto dormitório que aí se vem erguendo. Nos anos 50, tudo se transfigurou. Os trabalhadores da capital iniciaram a demanda de habitação mais barata nos arredores; cresceu a construção na vertical, emparedando moradias; como cogumelos, despontaram várias unidades industriais no território circundante da Venda Nova, Alferragide, etc., e com elas chegam as tensões sociais aos novos pólos de desenvolvimento da classe operária.

Dessas lutas temos notícias em crescendo, desde 1955 a 1974. Os operários da Sorefame e das fábricas Bis, Sotanco, Alfredo Alves, CEL-CAT, Cabos Ávila, Cometna e Electro-Arco transformaram-se num contínuo quebra- cabeças para o regime fascista, pela determinação, organização e vigor das suas lutas.

É dessa época que vem a imagem de baluarte comunista, gerado nas múltiplas greves de protesto contra: as más condições de trabalho; as campanhas de produtividade impostas pelo patronato; as horas extraordinárias para compensar feriados; os baixos salários, etc. Em todas elas, a presença do PCP é inquestionável, e se recuperarmos a lista de casas clandestinas e de tipografias que estiveram em actividade na região da Amadora, fica-se com um ideia da íntima ligação da organização clandestina com a luta dos trabalhadores.

Desde 1939 são localizáveis várias casas clandestinas na Venda Nova, no Alto da Damaia, na Buraca, na Amadora (Ago.1960 – Fev.1961, um dos locais onde Álvaro Cunhal esteve algum tempo, depois da fuga de Peniche), na Rua D. Maria, no Bairro da Mina – Amadora (casa de Otávio Pato - 1961), e na Damaia de Baixo (casa de Sofia Ferreira do CL de Lisboa - 1973-1974). Os prelos clandestinos que operaram na área são igualmente merecedores de destaque. O último “Avante!” de 1939 foi impresso na Venda Nova; em 1953-1954, editaram-se folhetos na Buraca; em 1960-1961, o “Avante!” e “O Militante” foram produzidos na R. General Tamagnini n.º 10 – 1º dt, na Damaia, e no ano seguinte, editaram-se na R. Marcos Portugal, na Venda Nova. Mas, o prelo que produzia o “Avante!” e “O Militante” em 1968, foi assaltado pela PIDE, em 20 de Agosto desse ano, encerrando a actividade da tipografia da Praceta Luís Ludovice n.º 2 C/V esq., na Damaia.

Este é o quadro que sobrevive na memória de muitos, e bem poucos sabem dos primeiros comunistas eleitos na Amadora, nas eleições autárquicas de 1925.

Mas, a presença do PCP é mais recuada. - Foi em Setembro de 1923 que se constituiu a primeira comissão administrativa da Comuna da Amadora formada pelos camaradas Manuel Pedrosa, Luna de Carvalho e Adriano Garcia que, em de Novembro desse ano, foram delegados ao I Congresso do PCP. E foi na Amadora, depois do encerramento do Congresso, que se realizou o jantar de homenagem ao delegado da Internacional Comunista, em que participaram 62 militantes, sendo o programa cultural preenchido pelo célebre guitarrista Armandinho e Georgino de Sousa, executando variações de fados.
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Nota da Redacção - Este foi o último texto que o camarada Costa Feijão nos deixou. O seu falecimento, que no passado número noticiámos, marcou infelizmente o fim da sua colaboração com o Avante!. Fica-nos a memória da sua camaradagem e do seu trabalho.


Artigo publicado na Edição Nº1556 AVANTE 2003.09.25

imagem - tipografia clandestina do PCP