A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sábado, maio 09, 2009

Elogio das revoluções


Duzentos e vinte anos depois de 1789, o corpo da Revolução ainda mexe. Apesar de François Mitterrand ter convidado Margaret Thatcher e Joseph Mobutu para confirmarem o seu enterro, aquando das cerimónias do bicentenário. E porque esse ano das comemorações foi também o da queda do Muro de Berlim, Francis Fukuyama anunciou o «fim da história», ou seja, a eternidade da dominação liberal exercida sobre o mundo e o encerramento, a seu ver, do parêntesis revolucionário. Mas a crise do capitalismo está de novo a abalar a legitimidade das oligarquias no poder. O ar está agora mais ligeiro, ou mais pesado, segundo as preferências. Aludindo «aos intelectuais e artistas que apelam à revolta», o diário Le Figaro mostrou-se desolado: «François Furet parece ter-se enganado: a Revolução Francesa não terminou» [1].


No entanto, como muitos outros, o historiador em questão não se poupou a esforços para esconjurar a lembrança da Revolução e para que as tentações se afastassem dela. Outrora considerada expressão de uma necessidade histórica (Marx), de uma «nova era da história» (Goethe), de uma epopeia encetada pelos soldados do Ano II cantados por Victor Hugo – «E víamos marchar os soberbos maltrapilhos nesse mundo deslumbrado» –, dela já se mostrava apenas o sangue que tinha nas mãos. De Rousseau a Mao, uma utopia igualitária, terrorista e virtuosa, teria espezinhado as liberdades individuais, parido o gélido monstro do Estado totalitário. Depois, a «democracia», voltando a sentir-se senhora de si, vencera – jovial, pacífica, de mercado. Também ela herdeira de revoluções, mas de uma outra espécie, à inglesa ou à americana, mais políticas do que sociais, «descafeinadas» [2].


Em Inglaterra também tinham decapitado um rei. Mas, como a resistência da aristocracia ali fora menos vigorosa do que em França, a burguesia, para assentar o seu domínio, não sentiu necessidade de fazer uma aliança com o povo. Nos meios favorecidos, um tal modelo, sem maltrapilhos nem revolucionários radicais, parecia mais distinto e menos arriscado do que o outro. Assim sendo, Laurence Parisot, presidente do patronato francês, não traiu o sentimento dos seus constituintes ao confidenciar a um jornalista do Financial Times: «Adoro a História de França, mas não gosto muito da Revolução. Foi um acto de extrema violência, de que ainda hoje padecemos. Obrigou cada um de nós a situar-se num determinado campo». Acrescentando: «Nós não praticamos a democracia com tanto sucesso como a Inglaterra» [3].



É pois uma lamentável polarização social isso de as pessoas se «situarem num campo», porque todos deveriam, pelo contrário, mostrar-se solidários com a sua empresa, com o seu patrão, com a sua marca – nunca saindo, é claro, cada qual do seu lugar. O que a revolução tem de mais errado, para quem a encara com maus olhos, não é a violência, fenómeno tristemente banal na história – é uma outra coisa, infinitamente mais rara: a convulsão da ordem social que irrompe ao ocorrer uma guerra entre ricos e proletários. Em 1988, em busca de um argumento de grande peso, o presidente George Herbert Bush admoestou assim o seu adversário democrata, Michael Dukakis, um tecnocrata perfeitamente inofensivo: «O que ele quer é dividir-nos em classes. Isso é bom para a Europa, mas não existe na América». Classes, na América! Imagine-se o horror de semelhante acusação! Vinte anos depois, quando o estado da economia americana parecia impor sacrifícios tão desigualmente repartidos como os benefícios que os haviam antecedido – um verso da Internacional reclama que «o ladrão restitua pela força aquilo de que se apoderou de forma indevida»… –, o actual ocupante da Casa Branca considerou urgente neutralizar a fúria popular: «Uma das lições mais importantes a tirar desta crise é que a nossa economia só funciona se estivermos todos unidos. (…) Não podemos dar-nos ao luxo de ver um demónio em cada investidor ou empresário que tenta obter lucros» [4]. Contrariamente ao que afirmam alguns dos seus adversários republicanos, Barack Obama não é um revolucionário…


«A revolução é antes de mais nada uma ruptura. Quem não aceite esta ruptura com a ordem estabelecida, com a sociedade capitalista, não pode aderir ao Partido Socialista.» Assim falava François Mitterrand em 1971. Desde então, as condições de adesão ao Partido Socialista (PS) francês tornaram‑se menos draconianas, visto não repugnarem ao director‑geral do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss‑Kahn, nem ao da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. A ideia de uma revolução também refluiu por outras bandas, inclusive nas formações mais radicais. O que levou a direita a apoderar‑se da palavra, aparentemente ainda portadora de esperança, para a transformar num sinónimo de restauração, de aniquilamento das protecções sociais conquistadas, ou arrancadas, à «ordem estabelecida».


Censura‑se, contudo, a violência das grandes revoluções. Há quem se choque, por exemplo, com o massacre dos guardas suíços na altura da tomada das Tulherias, em Agosto de 1792, ou com o da família imperial russa, em Julho de 1918, em Ekaterinburgo, ou com a liquidação dos oficiais do exército de Chang Kai‑Chek, após a tomada do poder pelos comunistas chineses em 1949. Nesse caso, teria sido melhor não haverem anteriormente ocultado as fomes do Antigo Regime sobre o pano de fundo dos bailes em Versalhes ou do dízimo que os padres extorquiam; as centenas de manifestantes pacíficos de Petrogrado massacrados pelos soldados de Nicolau II, num certo «domingo vermelho» de Janeiro de 1905; os revolucionários de Cantão e de Xangai atirados vivos, em 1927, para dentro das caldeiras das locomotivas. Sem falar das violências quotidianas exercidas pela ordem social que outrora se pretendia derrubar.


O episódio dos revolucionários queimados vivos não marcou apenas quem se interessa pela história da China, é conhecido dos milhões de leitores do romance de André Malraux, A Condição Humana. Porque, durante décadas, os maiores escritores e os maiores artistas formaram um conjunto indissolúvel com o movimento operário, celebrando as revoluções, os amanhãs que cantam. Inclusive – é certo – menorizando as decepções, as tragédias, as lívidas madrugadas (polícia política, culto da personalidade, nepotismo familiar, campos de trabalho, execuções).


Em contrapartida, desde há trinta anos, só se fala disso; é mesmo recomendado a quem queira ter êxito na universidade e na imprensa, ou para brilhar na Academia. «Quem diz revolução, diz irrupção da violência», assevera Max Gallo. «As nossas sociedades são extremamente frágeis. A maior responsabilidade de quem tem acesso à palavra pública é advertir contra essa irrupção. » [5] François Furet, por seu lado, considerava que qualquer tentativa de transformação radical era totalitária ou terrorista, que «a ideia de uma outra sociedade tornou‑se quase impensável». Sendo pois esta a sua conclusão: «Estamos condenados a viver no mundo em que vivemos» [6]. Não é difícil imaginar que um tal destino correspondia às expectativas dos seus leitores, em geral protegidos das tormentas por uma existência agradável de jantares e de debates.


A fobia às revoluções e o seu corolário, a legitimação da ordem estabelecida, encontraram muitos outros retransmissores, além de Max Gallo e François Furet. Basta pensarmos nas opções dos media, incluindo o cinema. Desde há trinta anos, os media pretenderam demonstrar que fora da democracia liberal só havia regimes tirânicos e conivência entre eles. A importância dedicada ao Pacto Germano‑Sovietico foi pois muito maior do que a atribuída a outras alianças contranatura, como os Acordos de Munique e o aperto de mão de Adolf Hitler e Neville Chamberlain. O nazi e o conservador comungavam, pelo menos, no ódio às frentes populares. Esse mesmo medo de classe inspirou os aristocratas de Ferrara e os donos da siderurgia da região do Ruhr, quando favoreceram a ascensão ao poder de Mussolini e do III Reich [7]. Ainda será permitido lembrar estas coisas?

Nesse caso, podemos ir mais longe… Embora Léon Blum tenha teorizado com clamor a sua rejeição de uma revolução de tipo soviético, classificada por um dos seus amigos como «blanquismo com molho tártaro», essa figura socialista, tão respeitada pelos professores de virtude, reflectiu sobre os limites de uma transformação social cujo único talismã seria o sufrágio universal. «Não estamos muito seguros», preveniu ele em 1924, «de que os representantes e dirigentes da sociedade actual não saiam eles próprios da legalidade quando os seus princípios essenciais lhes parecerem muito gravemente ameaçados». Com efeito, desde então, as transgressões desse género não têm faltado, do pronunciamento de Franco em 1936 ao golpe de Estado de Augusto Pinochet em 1973, sem esquecer o derrube de Mohammad Mossadegh no Irão, em 1953. Sublinhava então o dirigente socialista que «nunca a República foi proclamada em França pela virtude de um voto legal, exprimido segundo as formas constitucionais. Ela sempre foi estabelecida, contra a legalidade existente, pela vontade do povo insurrecto» [8].


Evitar as restaurações conservadoras oriundas do saber



Deste modo, o sufrágio universal, agora invocado para desqualificar as outras formas de intervenção colectiva (entre as quais as greves nos serviços públicos, assimiladas a sequestros de reféns), teria passado a ser o princípio e o fim de toda a acção política. Mas as questões que Léon Blum levantou a este respeito não envelheceram nada: «Será hoje (o sufrágio universal) uma realidade plena? Não pesará sobre os eleitores a influência do patrão e do proprietário, juntamente com as pressões das forças do dinheiro e da grande imprensa? Será todo o eleitor livre no sufrágio que exprime, livre pela cultura do seu pensamento, livre pela independência da sua pessoa? Para o libertar, não será justamente necessária uma revolução» [9] Murmura‑se agora, todavia, que o veredicto das urnas fez abortar, em três países europeus – Holanda, França e Irlanda –, as pressões conjugadas do patronato, das forças do dinheiro e da imprensa. Mas, precisamente por isso, esse veredicto não foi tido em conta…


«Perdemos todas as batalhas, mas éramos nós que tínhamos as mais belas canções.» Esta declaração, cujo autor terá sido um combatente republicano espanhol que procurou refúgio em França após a vitória de Franco, resume à sua maneira o problema dos conservadores e da sua lancinante pedagogia da submissão. Ditas estas coisas simplesmente, as revoluções deixam na história e na consciência humana um vestígio indelével, inclusive quando falharam, inclusive quando foram aviltadas. Com efeito, elas incarnam o momento, tão raro, em que a fatalidade se subleva, em que o povo ganha vantagem. Daí a sua ressonância universal. Porque, cada qual à sua maneira, os amotinados do Potemkin, os sobreviventes da Longa Marcha ou os barbudos da Sierra Maestra ressuscitaram o gesto dos soldados do Ano II, esse gesto que levou o historiador britânico Eric Hobsbawm a dizer que «a Revolução Francesa revelou a força do povo de uma forma que nunca nenhum governo pôde dar‑se ao luxo de esquecer – quanto mais não seja por terem de se lembrar do improvisado exército de recrutas que venceu, sem preparação militar, a poderosa coligação constituída pelas mais experimentadas tropas de elite das monarquias europeias» E [10].


Não se trata apenas de uma «lembrança»: o vocabulário político moderno e metade dos sistemas jurídicos existentes no mundo inspiram‑se no Código que a Revolução Francesa inventou. Quem pensar no «terceiro‑mundismo» da década de 1960 bem pode perguntar‑se se uma parte da sua popularidade na Europa não terá vindo da sensação de reconhecimento (no duplo sentido da palavra) que ele fez nascer. De facto, o ideal revolucionário das Luzes, igualitário e emancipador, pareceu renascer no Sul, em parte graças a vietnamitas, argelinos, chineses e chilenos que tinham passado pelo Velho Continente.


Nesse tempo, o Império empastava‑se, antigas colónias revezavam‑se, a revolução prosseguia. A situação actual é diferente. A emancipação da China ou da Índia, a sua afirmação na cena internacional, suscitam aqui e ali curiosidade e simpatia, mas não remetem para nenhuma esperança «universal», ligada, por exemplo, à igualdade, ao direito dos oprimidos, a um outro modelo de desenvolvimento, à preocupação de evitar as restaurações conservadoras oriundas do saber e da distinção.


Se é maior o entusiasmo internacional que a América Latina suscita, é porque ali a orientação política se revela simultaneamente democrática e social. Desde há vinte anos, uma certa esquerda europeia tem justificado a prioridade que atribui às solicitações das classes médias teorizando o fim do «parêntesis revolucionário», o apagamento político das camadas populares. Ora, pelo contrário, os governantes da Venezuela ou da Bolívia mobilizam de novo estas últimas provando‑lhes que a sua existência é tida em conta, que o seu destino histórico não está encerrado, que, em suma, a luta continua.


Por mais desejáveis que continuem a ser, as revoluções são raras. Elas pressupõem, ao mesmo tempo, uma massa de descontentes prontos a agir, um Estado cujas legitimidade e autoridade são contestadas por uma fracção dos seus defensores habituais (devido à sua imperícia económica, à sua incúria militar ou a divisões internas que o paralisam e desmembram) e, por último, a preexistência de ideias radicais que ponham em causa a ordem social, extremamente minoritárias à partida mas às quais poderão apegar‑se todas as pessoas cujas antigas crenças ou lealdades se dissolveram [11].


A historiadora norte‑americana Victoria Bonnell estudou os operários de Moscovo e São Petersburgo nas vésperas da Primeira Guerra Mundial. Como se trata do único caso em que este grupo social foi o actor mais importante de uma revolução «bem sucedida», merece ser referida a sua conclusão: «O que caracteriza a consciência revolucionária é a convicção de que as queixas só podem ser satisfeitas transformando as instituições existentes e estabelecendo uma outra organização social» [12]. Ou seja, essa consciência não surge de forma espontânea, sem uma mobilização política e uma ebulição intelectual prévias.


Tanto mais que em geral, e é a isso que actualmente assistimos, as exigências dos movimentos sociais começam por ser defensivas, desejando restabelecer um contrato social que consideram ter sido violado pelos patrões, pelos proprietários de terras, pelos banqueiros, pelos governantes. Ficam na ordem do dia o pão, o trabalho, a habitação, a escolaridade, um projecto de vida – não (ainda) um «futuro radioso», apenas «a imagem de um presente liberto dos seus aspectos mais dolorosos» [13]. Só depois, quando se torna manifesta a incapacidade dos dominantes para cumprir as obrigações que legitimam o seu poder e os seus privilégios, é por vezes levantada a questão, extravasando os círculos militantes, de saber «se os reis, os capitalistas, os padres, os generais e os burocratas continuam a ter utilidade social» [14]. Pode então falar‑se de revolução. Podendo a transição de uma etapa para a outra ocorrer rapidamente – dois anos em 1789, uns meses em 1917 – ou nunca acontecer.


Desde há quase dois séculos, milhões de militantes políticos ou sindicais, de historiadores e sociólogos, têm examinado as variáveis que determinam esse desenlace. Está a classe dirigente dividida e desmoralizada? Está o seu aparelho repressivo intacto? Estão as forças sociais que aspiram à mudança organizadas e capazes de se entenderem? Curiosamente, onde estes estudos têm sido mais abundantes é nos Estados Unidos, onde muitas vezes se tratou de compreender as revoluções, de admitir todos os seus contributos, para esconjurar melhor a sua pavorosa perspectiva.


Mas a fiabilidade desses estudos tem‑se revelado… aleatória. Em 1977, por exemplo, a maior preocupação era ali a «ingovernabilidade» das sociedades capitalistas. Surgindo, por contraste, esta pergunta: por que motivo é a URSS tão estável? Neste último caso, sucediam‑se as explicações: preferência dos dirigentes e da população soviética pela ordem e pela estabilidade; socialização colectiva fortalecedora dos valores do regime; natureza não cumulativa dos problemas a resolver, podendo assim o partido único ter campo de manobra; bons resultados económicos que contribuíam para a estabilidade desejada; melhoria do nível de vida; estatuto de grande potência; etc. [15]. Já então imensamente célebre, o politólogo Samuel Huntington, da Universidade de Yale, concluía da seguinte maneira essa enxurrada de índices concordantes: «Nenhum dos desafios previstos para os próximos anos parece ser qualitativamente diferente daqueles a que o sistema soviético já conseguiu dar resposta» [16].


Todos sabemos o que veio depois…

quinta-feira 7 de Maio de 2009

Notas

[1] Le Figaro, Paris, 9 de Abril de 2009.

[2] «Em suma, o que a sensibilidade liberal exige é uma revolução descafeinada, uma revolução que não tenha o sabor da revolução», resume Slavoj Zizek em Robespierre: entre vertu et terreur, Stock, Paris, 2008, p. 10.

[3] Financial Times Magazine, Londres, 7‑8 de Outubro de 2006.

[4] Conferência de imprensa de 24 de Março de 2009.

[5] Le Point, Paris, 25 de Fevereiro de 2009.

[6] François Furet, Le Passé d’une illusion, Robert Laffont/Calman‑Levy, 1995, p. 572 (O Passado de uma Ilusão, Presença, Lisboa, 1996).

[7] Em 1970, este assunto foi abordado pelos realizadores Vittorio de Sica (Il giardino dei Finzi‑Contini, O Jardim dos Finzi‑Contini) e Luchino Visconti (La caduta degli dei, Os Deuses Malditos).

[8] Léon Blum, «L’idéal socialiste», La Revue de Paris, Maio de 1924.

[9] Ibid.

[10] ric J. Hobsbawm, Aux armes, historiens. Deux siècles d’histoire de la Révolution française, La Découverte, Paris, 2007, p. 123 (Ecos da Marselhesa. Dois Séculos Revêem a Revolução Francesa, Companhia das Letras, São Paulo, 1996).

[11] Ler Jack A. Goldstone, Revolution, Wadsworth Publishing, Belmont (Califórnia), 2002, e Theda Skocpol, States and Social Revolutions, Cambridge University Press, 1979.

[12] Victoria Bonnell, The Roots of Rebellion. Workers’ Politics and Organizations in St. Petersburg and Moscow, 1900‑1914, University of California Press, Berkeley, 1984, p. 7.

[13] Barington Moore, Injustice. The Social Bases of Obedience and Revolt, Sharpe, White Plains (Nova Iorque), 1978, p. 209.

[14] Ibidem, p. 84.

[15] Cf. Seweryn Bialer, Stalin’s Successors. Leadership, Stability, and Change in the Soviet Union, Cambridge University Press, 1977.

[16] Samuel Huntington, «Remarks on the Meaning of Stability in the Modern Era», Seweryn Bialer e Sophia Sluzar (ed.), Radicalism in the Contemporary Age. 3 – Strategies and Impact of Contemporary Radicalism, Westview Press, Boulder (Colorado), 1977, p. 277.

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in Le Monde Diplomatique - Maio 2009

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terça-feira, novembro 27, 2007

Porqué no te callas?



* Boaventura Sousa Santos

Não se imagina um chefe de Estado europeu a dirigir-se nesses termos publicamente a um seu congénere europeu... Mas "¿porqué no te callas?" é ainda reveladora a outros níveis. Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda europeia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra "socialismo" e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Artigo de Boaventura de Sousa Santos publicado na Visão em 22 de Novembro de 2007, disponível em Centro de Estudos Sociais

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Esta frase, pronunciada pelo Rei de Espanha, dirigindo-se ao Presidente Hugo Chávez durante a XVII Cimeira Iberoamericana, corre o risco de ficar na história das relações internacionais como um símbolo das contas por saldar entre as potências ex-colonizadoras e as suas ex-colónias. Não se imagina um chefe de Estado europeu a dirigir-se nesses termos publicamente a um seu congénere europeu quaisquer que tenham sido as razões do primeiro para reagir às afirmacões do último. Como qualquer frase que intervém no presente a partir de uma história não resolvida, esta frase é reveladora a diferentes níveis.


Revela a dualidade de critérios na avaliação do que é ou não democrático. Está documentado o envolvimento do primeiro-ministro de Espanha, José Maria Aznar, no golpe de Estado que em 2002 tentou depor um presidente democraticamente eleito, Hugo Chávez, com a agravante que na altura a Espanha presidia à União Europeia. Para Chávez, Aznar, ao actuar desta forma, comportou-se como um fascista. Pode questionar-se a adequação deste epíteto. Mas haverá tanta razão para defender as credenciais democráticas de Aznar, como fez pateticamente Zapatero, sem sequer denunciar o carácter antidemocrático desta ingerência? Haveria lugar à mesma veemente defesa se o presidente eleito de um país europeu colaborasse num golpe de Estado para depor outro presidente europeu eleito? Mas a dualidade de critérios tem ainda uma outra vertente: a da avaliação dos factores externos que interferem no desenvolvimento dos países.


Zapatero criticou aqueles que invocam factores externos para encobrir a sua incapacidade de desenvolver os países. Era uma alusão a Chavez e à sua crítica do imperialismo norte-americano. Podem criticar-se os excessos de linguagem de Chávez, mas não é possível fazer esta afirmação no Chile sem ter presente que ali, há trinta e quatro anos, um presidente democraticamente eleito, Salvador Allende, foi deposto e assassinado por um golpe de Estado orquestrado pela CIA e por Henry Kissinger. Tão pouco é possível fazê-lo sem ter presente que actualmente a CIA tem em curso as mesmas tácticas usando o mesmo tipo de organizações da "sociedade civil" para destabilizar a democracia venezuelana.


Tanto Zapatero como o Rei ficaram particularmente agastados pelas críticas às empresas multinacionais espanholas (busca desenfreada de lucros e interferência na vida política) feitas, em diferentes tons, pelos presidentes da Venezuela, Nicarágua, Equador, Bolívia e Argentina. Ou seja, os presidentes legítimos das ex-colónias foram mandados calar mas, de facto, não se calaram. Esta recusa significa que estamos a entrar num novo período histórico, o período pós-colonial, um período longo que se caracterizará pela afirmação mais vigorosa na vida internacional dos países que se libertaram do colonialismo europeu, assente na recusa das dominações neocoloniais que persistiram para além do fim do colonialismo. Isto explica porque é que a frase do Rei de Espanha, destinada a isolar Chávez, saiu pela culatra. Pela mesma razão têm falhado as tentativas da UE para isolar Roberto Mugabe.


Mas "¿porqué no te callas?" é ainda reveladora a outros níveis. Saliento três. Primeiro, a desorientação da esquerda europeia, simbolizada pela indignação oca de Zapatero, incapaz de dar qualquer uso credível à palavra "socialismo" e tentando desacreditar aqueles que o fazem. Pode questionar-se o "socialismo do século XXI" - eu próprio tenho reservas e preocupações em relação a desenvolvimentos recentes na Venezuela - mas a esquerda europeia deverá ter a humildade para reaprender, com a ajuda das esquerdas latinoamericanas, a pensar em futuros pós-capitalistas.


Segundo, a frase espontânea do Rei de Espanha, seguida do acto insolente de abandonar a sala, mostrou que a monarquia espanhola pertence mais ao passado da Espanha que ao seu futuro. Se, como escreveu o editorialista de El País, o Rei desempenhou o seu papel, é precisamente este papel que mais e mais espanhóis põem em causa, ao advogarem o fim da monarquia, afinal uma herança imposta pelo franquismo. Terceiro, onde estiveram Portugal e o Brasil nesta Cimeira? Ao mandar calar Chávez, o Rei falou em família. O Brasil e Portugal são parte dela?


in Esquerda.net - 24-Nov-2007

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Ver também Pedro Campos - Por quê não abdicas tu?

segunda-feira, novembro 26, 2007

Conselho Mundial da Paz ratifica apoio à política de Chávez



Representantes de organizações de 22 países membros do Conselho Mundial da Paz (CMP) debateram neste domingo (18), em Hanói, os perigos que ameaçam os povos e manifestaram apoio total ao processo revolucionário que se forma na Venezuela, sob o comando do presidente Hugo Chávez. O Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz) esteve presente no Vietnã, na figura de sua presidente, Socorro Gomes.

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“Queremos expressar nosso respaldo à Revolução Bolivariana, que tem o apoio das massas, especialmente no seu objetivo de aprofundar a democracia e a participação popular”, disse o secretário-geral do CMP, Thanassis Pafilis, em seu discurso inaugural.


O ativista grego enfatizou a necessidade de apoiar esse processo, que se depara com todo tipo de provocações e ataques “por parte dos que estão perdendo seus privilégios e por forças intervencionistas estrangeiras”.


“Consideramos que os povos têm o alienável direito de escolher seu próprio caminho, bem como a lutar contra qualquer tipo de intervencionismo”, completou Pafilis.


Alba


“Esse é o melhor contexto para celebrar no próximo mês de abril a Assembléia e Conferência Mundial da Paz, em Caracas, Venezuela”, assinalou o cubano Orlando Fundora, presidente do CMP.


Já Elke Zwinge-Makamizile, líder do Conselho Alemão da Paz, afirmou que propostas como a Alba reforçam a necessária cooperação Sul-Sul. Sob esse prisma, ele também destacou a criação do Banco do Sul na América Latina, “que ajudará os povos a romper as cadeias que os vinculavam com o FMI”.

Fonte: Agência Prensa Latina - 18 DE NOVEMBRO DE 2007 - 17h56
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terça-feira, setembro 25, 2007

Projecto bolivariano mostra resultados

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Revolução resgata milhares da miséria
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Em 1998, mais de metade dos venezuelanos eram pobres
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Quase uma década depois de Hugo Chávez ter assumido a presidência da Venezuela, os números mostram que o povo é o principal beneficiário do processo de transformação no país.

Os dados divulgados terça-feira pelo Instituto Nacional de Estatísticas venezuelano revelam que, desde 1998, centenas de milhares de pessoas foram resgatadas da miséria fruto das correcções introduzidas na distribuição da riqueza criada.
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No final de 2006, diz o INE, menos de um terço dos venezuelanos eram considerados pobres, número que assume importância se tivermos em conta que há cerca de uma década mais de metade da população, cerca de 55,4 por cento, de acordo com a mesma fonte, encontrava-se naquelas condições.
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A pobreza extrema, a quase indigência, caiu no mesmo período de 10,6 para 7,8 por cento, continua o INE, resultado que as autoridades atribuem ao avanço dos programas sociais implementados pela revolução bolivariana em prol da população.
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«Missões» como a que diz respeito à subsidiação pelo Estado de um cabaz de 52 géneros alimentares básicos para uma família de cinco pessoas, ou a que actua na prevenção de doenças através da prestação gratuita de cuidados de saúde primários, fizeram a Venezuela subir alguns lugares nos índices de desenvolvimento humano.

Recursos ao serviço do país

Para o sucesso das políticas sociais bolivarianas contribuí em muito a nacionalização dos recursos naturais do país, com destaque para o sector petrolífero. Assim, no ano transacto, só a estatal Petróleos da Venezuela, SA (PDVSA), canalizou quase 12 mil milhões de dólares para o desenvolvimento das «missões», dos quais 280 milhões para a ajuda nutricional e idêntica cifra para a educação; 592 milhões para o auxílio médico e medicamentoso; e 234 milhões para a requalificação profissional e aquisição de novas competências, programa especialmente direccionado para os trabalhadores desempregados.

Educação é prioridade

Entretanto, durante as cerimónias oficiais de abertura do novo ano escolar, Hugo Chávez precisou que aproximadamente 60 por cento da população já frequenta o ensino público venezuelano, num total de quase 14 milhões de pessoas. O objectivo bolivariano é atingir a plenitude nos próximos cinco anos.
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Nestes dados estão contabilizados os alunos dos graus obrigatórios de ensino, os estudantes universitários e os que integram programas de combate ao analfabetismo.
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Sublinhado, também, para o facto do número de docentes ter crescido mais de 200 por cento. Hoje existem no país quase 300 mil professores, quando em 1998 este número não chegava aos 100 mil. O número de alunos por professor passou de 62 para 28, um salto qualitativo e uma vitória do processo bolivariano que como anunciou o presidente Chávez entra agora numa nova e desafiante fase, a da construção do socialismo.
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in Avante 2007.08.30