por Miguel Urbano Rodrigues
Li em 1961, na Guiné Conakri, a tradução francesa da História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS, revista e aprovada em 1938 pelo Comité Central do PCUS. Em Portugal, por iniciativa do camarada Carlos Costa, a referida História foi publicada em 2010 [1] com o subtítulo Breve Curso e um prefácio, muito elogioso, de Leandro Martins, então chefe da redação do Avante!. A iniciativa gerou polémica no PCP.
[1] História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS , Edição de Para a História do Socialismo, Portugal, Agosto de 2010, 527 páginasOLHARES INCOMPATÍVEIS SOBRE A HISTÓRIA Tenho na minha biblioteca de Gaia a citada História do Partido Comunista (bolchevique), diferentes edições da História da União Soviética, editadas em espanhol pela Editorial Progresso de Moscovo [2] , e a tradução portuguesa da História da Grande Revolução Socialista de Outubro da mesma editora [3] , editada en 1977. A História do PCUS publicada em 1938 e aprovada pelo Comité Central do Partido foi traduzida em 67 línguas e dela foram vendidos mais de 42 milhões de exemplares. Mas, após o XX Congresso, foi retirada das livrarias e bibliotecas soviéticas. Não foi sem uma sensação de mal-estar que decidi expressar a minha opinião sobre essa obra, a da Revolução de Outubro e uma das Histórias da Rússia e da URSS, a elaborada pelos historiadores A. Fadeiev, Bridsov, Chermensky, Golikov e A. Sakharov, membros da Academia das Ciências da União Soviética. Foi editada em espanhol, também pela Progresso, em 1960. Porquê o mal-estar? Por estar consciente da extrema dificuldade de estabelecer fronteiras entre o positivo e o negativo, entre a evocação da História e a deturpação da História que, por vezes no mesmo capítulo, ora coincidem ora se fundem ou cruzam em confusão labiríntica. Na História do Partido Comunista (bolchevique) os primeiros três capítulos são dedicados ao combate pela criação de um partido operário revolucionário (o futuro Partido Operário Social Democrata da Rússia - POSDR, inicialmente marxista), à luta dos bolcheviques contra os mencheviques e à primeira revolução russa (1904/1907). A narrativa é interessante, com destaque para o papel decisivo que Lenin desempenhou nessa fase histórica. Os capítulos 4, 5 e 6 incidem sobre o período que vai da reação stolypiana à Revolução de Fevereiro de 17 que derrubou a autocracia czarista. Uma informação muito rica e inédita para os leitores do Ocidente valoriza essas páginas que iluminam a ascensão e o fortalecimento contínuo do Partido bolchevique e a importância da obra teórica de Lenin como ideólogo. As Teses leninistas de Abril, que implicaram uma viragem decisiva na linha do Partido, merecem atenção especial. Ao exigir "todo o Poder aos Sovietes", Lenin sepultou a ideia da longa duração da revolução democrático-burguesa, mobilizando o Partido e os trabalhadores contra o Governo Provisório da Rússia, esboçando a estratégia da revolução proletária rumo ao socialismo. No capítulo 7 os autores da História do Partido evocam os acontecimentos que precederam a Revolução de Outubro e a preparação desta, com muitas citações de Lenin que facilitam a compreensão das lutas travadas contra o Governo de Kerenski e no próprio Soviete de Petrogrado. Mas a linguagem do livro, a partir do 4º capítulo, dedicado à reação stolypiana no período que precedeu o início da guerra de 1914/18, muda muito e distancia-se do rigor, da serenidade e isenção exigíveis a historiadores responsáveis, como são académicos soviéticos de prestígio mundial como Evgueni Tarlé. Para caracterizar o oportunismo dos mencheviques, dos economicistas, dos empiriocriticistas e denunciar e criticar os erros de Kamenev, Zinoviev, Rikov, Preobrazhensky, Trotsky e demonstrar a sua incompatibilidade com o leninismo, os autores da História do Partido Comunista (bolchevique) da URSS recorrem a uma adjetivação agressiva e insultuosa e deturpam grosseiramente a História. Repetidamente, Stalin começa a aparecer em muitas páginas, sendo-lhe atribuídas decisões e iniciativas importantes numa época em que era ainda um dirigente pouco destacado do Partido, embora próximo de Lenin. Não é verdade que Trotsky tenha aderido ao Partido para o minar por dentro, com o objetivo de o destruir. Kamenev e Zinoviev assumiram nas vésperas da insurreição de Outubro posições que levaram Lenin a qualificá-los de traidores, mas a atitude de Trotsky, que era presidente do Soviete de Petrogrado, não suscitou então qualquer crítica de Lenin. Relativamente às negociações de Brest Litovsk os autores da História do Partido Comunista deturpam também os acontecimentos. Lenin censurou Trotsky, que era o chefe da delegação soviética, por não ter cumprido as instruções para assinar a paz com os alemães, mas nunca chamou traidores a ele e a Bukharin, que assumira uma posição ultraesquerdista, nem a Radek e Piatakov. Afirmam os referidos historiadores que eles formavam um grupo anti bolchevique que travou "no seio do partido uma luta furiosa contra Lenin". É falso que planeavam "prender V.I. Lenin, J.V. Stalin e I.M. Sverdlov, assassiná-los e formar um novo governo de bukharinistas, trotskistas e sociais revolucionários de esquerda". É falso que Trotsky, tendo "como lugar tenentes na luta Kamenev, Zinoviev e Bukharin, tentava "criar ma URSS uma organização politica da nova burguesia, partido da restauração capitalista". A prova de que não tinham agido como conspiradores e traidores foi a nomeação posterior de todos eles para tarefas da maior responsabilidade, precisamente por indicação de Lenin. Trotsky foi Comissário da Defesa durante o período mais dramático da guerra civil e da intervenção militar das potências da Entente, dos EUA e do Japão; Zinoviev assumiu a presidência da III Internacional com a aprovação de Lenin; Bukharin foi chefe da redação do Pravda de l924 a 1929, com o aval de Stalin. No capítulo 9 a deturpação da História prossegue. Ainda em vida de Lenin, Trotsky, durante o debate sobre os Sindicatos e a função da NEP assumiu posições que foram duramente criticadas por Lenin, mas continuou no Politburo com a aprovação deste. Nas páginas dedicadas ao XIII Congresso do Partido, a breve referência à Carta que Lenin, já inválido, lhe dirigiu a 24 de dezembro de 1922, meses antes de sofrer o último e devastador derrame cerebral, omite o conteúdo e significado desse documento fundamental. Os autores da História afirmam que "Nos acordos tomados pelo XIII Congresso foram levadas em conta todas as indicações feitas por Lenin nos seus últimos artigos e cartas". Trata-se de uma indesculpável inverdade. A Carta de Lenin e a adenda do dia 4 de Janeiro de 1923 foram lidas a muitos delegados mas não publicadas. Somente foram publicamente divulgadas na URSS em 1956. Porquê? Nessa Carta Lenin transmitia ao Congresso a sua opinião sobre os mais destacados membros do Comité Central, cuja ampliação ele propunha. A CARTA DE LENIN AO XIII CONGRESSO Pela sua importância transcrevo a seguir excertos da extensa carta de Lenin ao XIII Congresso na qual chamava a atenção para o grave perigo que ameaçava o Partido se não fossem introduzidas alterações na sua estrutura de direção: "O camarada Stalin, tendo chegado a secretário-geral, tem concentrado nas suas mãos um enorme poder, e não estou seguro de que o utilizará sempre com suficiente prudência. Por outro lado, o camarada Trotsky, como já demonstrou a sua luta contra o CC devido ao problema do Comissariado do Povo para as Vias de Comunicação, não se destacou apenas pela sua grande capacidade. Como pessoa, embora seja o homem mais dotado do atual CC, tem demasiada confiança em si mesmo e é excessivamente atraído pelas facetas puramente administrativas das coisas". Esboçava depois em poucas linhas os perfis de Kamenev, Zinoviev, Piatakov, e Tomsky que eram então, com Bukharin, Trotsky, Stalin e ele, membros do Politburo. A Bukharin apontava as fragilidades, mas elogiava-o também muito. Sobre Stalin advertia nessa adenda: "É demasiado brutal e esse defeito, perfeitamente tolerável nas relações entre nós, comunistas, não o é nas funções de secretário-geral. Proponho portanto aos camaradas que estudem uma forma de o transferir e nomear para esse lugar uma outra pessoa que somente tenha em todas as coisas uma única vantagem, a de ser mais tolerante, mais leal, mais educado, e mais atento para com os camaradas, de temperamento menos caprichoso, etc. Essas características podem parecer apenas pormenores, mas pelo que disse antes das relações entre Stalin e Trotsky, não são ínfimos pormenores mas pormenores que podem assumir uma importância decisiva". Contrariando especulações frequentes em historiadores do Ocidente, a hipótese de Trotsky ser nomeado secretário-geral é absurda. A velha guarda do Partido nunca o aceitaria. Há leves discrepâncias entre as traduções em inglês, francês, português e espanhol da Carta de Lenin ao Congresso e da adenda posterior. Mas são irrelevantes. A EPOPEIA DA RECONSTRUÇÃO DA RUSSIA E DA INDUSTRIALIZAÇÃO O capítulo 10 é o melhor do livro. A Rússia saíra arruinada da guerra mundial, da civil e da agressão das potências da Entente. Dezenas de cidades e centenas de aldeias tinham sido destruídas. A produção na agricultura e na indústria caíra para níveis muito inferiores aos de 1913. Durante a catastrófica seca de1921/22 milhões de pessoas morreram de fome. O governo soviético enfrentou tremendos desafios. As fábricas existentes eram obsoletas. Transcrevo da História do Partido: "Era necessário construir toda uma serie de setores industriais desconhecidos na Rússia czarista; construir novas fábricas de máquinas e ferramentas, de automóveis, de produtos químicos e metalúrgicos; organizar uma produção própria de motores e de materiais para a instalação de centrais elétricas; aumentar a extração de metais e carvão, pois assim o exigia a causa do triunfo do socialismo na URSS. Era necessário criar uma nova indústria de guerra, construir novas fábricas de artilharia, de munições, de aviões, de tanques e de metralhadoras, porque assim o exigiam os interesses de defesa da URSS nas condições do cerco imperialista. Era necessário construir fábricas de tratores, fábricas de máquinas agrícolas modernas para abastecer a agricultura, para dar a milhões de pequenos camponeses individuais a possibilidade de passarem à grande produção kolcosiana, porque assim o exigiam os interesses do triunfo do socialismo no campo". Essas tarefas gigantescas exigiam milhares de milhões de rublos. Ora os cofres do Tesouro estavam vazios. Como o Poder soviético havia anulado todas as dívidas a países capitalistas contraídas pela autocracia czarista, o crédito estrangeiro era uma impossibilidade absoluta. Os excedentes da agricultura eram a única fonte a que o Poder soviético podia recorrer. Mas para os obter era indispensável que a agricultura estivesse em condições de os produzir. Um duplo desafio se colocava: empreender a coletivização das terras e modernizar em tempo mínimo a agricultura, dotando os kolkhoses e os sovkhoses (quintas do Estado) de meios técnicos adequados. O Poder Soviético, contra as previsões de Paris, Londres e Washington, que consideravam impossível a sua sobrevivência, ganhou essa batalha épica. Ela coincidiu com intensas lutas internas no Partido (Trotsky foi expulso em 1927 e deportado para o Cazaquistão, Kamenev e Zinoviev também foram expulsos, embora tenham sido posteriormente readmitidos) e exigiu a destruição dos kulaks que tinham enriquecido enormemente durante a NEP. Não há precedentes na História da Humanidade para transformações tão profundas e rápidas como as que então ocorreram na URSS. Em 1926/27 foram investidos na indústria mil milhões de rublos, três anos depois 5 mil milhões. Nesse breve período foram construídas a Central Elétrica do Dnieper, o caminho-de-ferro que ligou o Turquestão à Sibéria, a gigantesca fábrica de tratores de Stalinegrado, a fábrica de automóveis AMO. Em 1928 a superfície dos kolkhoses era de 1 390 000 hectares; em 1929 ultrapassava 4 262 080 hectares e em 1930 15 milhões de hectares. No triénio 1930/33 a indústria cresceu o dobro. Esses êxitos foram porem manchados por graves desvios dos princípios e valores leninistas. Na coletivização das terras não foram apenas os kulaks o alvo da repressão. Ela atingiu também e brutalmente, milhões de pequenos camponeses que resistiram à integração nos kolkhoses. Stalin criticou os "excessos esquerdistas" de quadros do Partido num artigo em que denunciou os "graves erros daqueles que se tinham desviado da linha do Partido" através de medidas de coação administrativa". São obviamente fantasistas as estatísticas forjadas no Ocidente segundo as quais dezenas de milhões de camponeses russos e ucranianos foram mortos no processo de coletivização. Mas é inegável que cabem a Stalin grandes responsabilidades por crimes cometidos nesse período. A História do Partido Comunista (bolchevique) é omissa a esse respeito. As ideias de Lenin sobre a coletivização eram incompatíveis com a política de Stalin para a agricultura e com os métodos a que recorreu num contexto de exacerbada luta dentro do Comité Central. Mas, a minha discordância frontal da estratégia do secretário-geral do PCUS, já investido do enorme poder que Lenin temia e denunciou, não me impede de reconhecer que ele foi um revolucionário excecionalmente dotado que realizou em menos de uma década uma obra colossal. Distancio-me totalmente dos elogios insistentes e ditirâmbicos a Stalin, mas registo que, terminado com êxito antes do prazo o I Plano Quinquenal, a Rússia se transformara de país agrário atrasado, com estruturas medievais, num grande país industrial. Um país em que quase 75% da população adulta era analfabeta tornou-se um país instruído e culto com uma rede impressionante de escolas superiores, secundárias e básicas em que eram ensinadas as línguas de dezenas de nacionalidades que conviviam no espaço soviético do Báltico e do Mar Negro ao Pacífico; o primeiro país do mundo em que o Estado garantia a saúde a educação gratuita a todos os cidadãos. CONCLUSÕES No capítulo das Conclusões os autores da História do Partido (bolchevique) tentam apresentar o regime soviético no final dos anos 30 como a concretização do leninismo. Stalin seria o seu intérprete fiel. O andamento da História demonstrou a falsidade dessa aspiração. Já na época, o culto da personalidade de Stalin era incompatível com o projeto de Lenin. Somente em 1956 no XX Congresso do PCUS foi levantado o tema. Khrushchov, que nunca havia dirigido a mais leve critica ao secretário-geral, esboçou dele um perfil medonho. Posteriormente soube-se que o famoso Relatório ao Congresso estava semeado de informações falsas. Mas o culto da personalidade de Stalin, por ele estimulado, foi uma realidade. A chamada desestalinização não pode esconder que a chegada ao poder de Khrushchov assinalou o início da política revisionista que conduziu à destruição da URSS. Quem enterrou o Socialismo na União Soviética foi Gorbatchov, mas quem abriu a cova foi Khrushchov. SOBRE A HISTÓRIA DA GRANDE REVOLUÇÃO SOCIALISTA DE OUTUBRO A versão portuguesa, publicada em 1977 pela Progresso foi preparada por um grupo de académicos, mas a editora soviética não cita os seus nomes. Pelo estilo, pela linguagem e pelas fontes consultadas (que ocupam 71 páginas no índice) é uma obra muito diferente da História do Partido Comunista (bolchevique) de 1938. As primeiras referências a divergências na fração bolchevique do POSDR aparecem somente nas páginas 152 e 163. Os autores sublinham que Trotsky, Kamenev e Zinoviev não acreditavam na "vitória da revolução socialista na Rússia", Os dois últimos denunciaram mesmo num artigo a preparação da insurreição do 7 de novembro (25 de Outubro no calendário Juliano, ainda vigente) o que levou Lenin a acusá-los de "traidores". A III Parte da História em apreço é dedicada à Edificação do Estado Soviético e a Transformações Revolucionárias no País. Nas 200 páginas que ocupa são frequentes as críticas a Kamenev e Zinoviev e escassas as referencias a Stalin e Trotsky. As críticas a Trotsky surgem a propósito das posições contraditórias que assumiu como chefe da delegação soviética nas negociações de paz de Brest Litovsk com os alemães e os austríacos. Mas a linguagem dessas críticas não é agressiva. Os autores escrevem que "Tal como os comunistas "de esquerda" (então liderados por Bukharin), Trotsky não acreditava na possibilidade de conservar o Poder Soviético sem o apoio das revoluções nos países da Europa ocidental. Lenin tinha dado instruções para assinar o tratado de paz se os alemães apresentassem um ultimato". E Trotsky, como chefe da delegação, ignorou as indicações de Lenin, refugiando-se na fórmula absurda "nem paz nem guerra!" Mas quando os alemães retomaram a ofensiva a 18 de Fevereiro, Trotsky, na reunião de emergência do Comité Central, votou com Lenin pela assinatura imediata do tratado imposto pelos alemães, o que se fez a 3 de Março. Os autores não referem sequer a expulsão de Trotsky do Partido em 1927 e a sua deportação para a Ásia Central. Esse grupo de historiadores são obviamente seguidores disciplinados da linha revisionista adotada pelo PCUS após o XX Congresso. E refletem na sua História um tipo de sectarismo tão condenável como o dos redatores da História do Partido Comunista (bolchevique). A escassez de referências a Trotsky não se justifica. Se é falso que ele tenha sido o cérebro de um plano tenebroso que visaria desmembrar a URSS, entregando o Extremo Oriente aos japoneses e a Ucrânia a Hitler, é indesmentível que o fundador da IV Internacional conspirou permanentemente no exílio contra a União Soviética. UMA HISTÓRIA DA URSS TAMBÉM POLÉMICA A História da URSS preparada pelos cinco membros da Academia das Ciências citados no início deste artigo é também uma obra polémica na qual a deturpação dos acontecimentos históricos reflete o espirito do revisionismo khrushchoviano. É um manual pouco ambicioso destinado à juventude. O título é aliás incorreto porque os autores tentam condensar em quatrocentas e poucas páginas a história dos povos que desde o paleolítico se instalaram ao longo dos séculos no espaço da futura União Soviética. O Capítulo I, de Bridsov e A. Sakharov, é dedicado às comunidades primitivas e ao período da escravidão. No Capítulo II, de Sakharov, o tema é o feudalismo e abrange a fundação do Estado Russo, as invasões mongóis, a desintegração da Horda de Ouro, e finda com o desenvolvimento na Rússia das relações capitalistas. A perspetival marxista não é facilmente identificável nessas páginas que contêm informações muito interessantes, ausentes nos trabalhos de historiadores ocidentais sobre esses períodos. O nome de Stalin aparece pela primeira vez na página 141, incluído numa lista de bolcheviques que lutavam contra os mencheviques. Kamenev é citado na página 202 como líder dos "oportunistas de direita". Bukharin e Preobrazhensky na página 206 como "capituladores". Trotsky é criticado (pág. 212) por "ter violado as instruções do CC do Partido e do governo soviético, negando-se a assinar as condições de paz". A Stalin é atribuído, com Vorochilov, o êxito da vitória sobre Krasnov (pág. 231) em Tsaristsin (futura Stalinegrado). O trotskismo volta a ser citado criticamente na pág. 258. Bukharin e Rykov são qualificados de "grupo anti partido de oportunistas" (pág. 261) Nas páginas dedicadas à coletivização da agricultura a violação dos princípios do Partido é atribuída a funcionários e aos sovietes locais e valorizada como importante a crítica de Stalin a esses desvios. Mas não há referências aos crimes cometidos e à deportarão maciça de camponeses. O Historiador não alude sequer aos processos dos anos 30 que findaram com os fuzilamentos de Kamenev, Zinoviev, Rakovsky, Bukharin, Preobrazhensky e outros velhos bolcheviques. As primeiras referências ao culto da personalidade de Stalin aparecem na página 281. O autor do capítulo afirma que "a idolatria a Stalin infligiu graves danos ao Partido Comunista e à sociedade soviética" e sublinha que os êxitos obtidos pelo Partido e as massas populares foram injustamente atribuídos a Stalin. No capítulo dedicado à II Guerra Mundial salienta-se que Stalin "assumiu a direção militar, económica e politica dom país, concentrando nas suas mãos a plenitude do Poder do Estado" (pág. 287). No Capítulo IV, o académico F. Golikov dedica largo espaço (página 312 e seguintes) ao XX Congresso, informando que nele foi discutido o relatório do primeiro secretário, Khrushchov, sublinhando que "a questão de superar o culto da personalidade de Stalin e as suas consequências" mereceu especial atenção. "O Congresso – escreve Golikov – revelou audaz e sinceramente as faltas e as deficiências no trabalho, resultantes da idolatria a Stalin, sobretudo nos últimos anos da sua vida e atividade. Alheio ao espirito do marxismo-leninismo e à natureza do regime socialista da sociedade, a androlatria travou o desenvolvimento da democracia soviética e impediu o avanço da União Soviética para o comunismo. Mas, ao criticar os "aspetos erróneos da atividade de Stalin" a nova direção do Partido afirma que "como fiel marxista-leninista e firme revolucionário Stalin ocupará o seu devido lugar na História". Na sessão plenária do CC de junho de 1957 salienta-se que "foi derrotado e desmascarado o grupo anti partido integrado por Malenkov, Kaganovitch, Molotov, Bulganin e Shepilov". Seguem-se páginas apologéticas dos extraordinários êxitos que o PCUS sob a direção de Khrushchov estaria alcançando e que permitiriam à URSS "ocupar nos próximos 15 anos o primeiro lugar no mundo tanto quanto ao volume global da produção como à produção per capita. No país será criada a base material e técnica do comunismo". Para mal da humanidade, essa previsão otimista foi desmentida pela História. Pelo estilo e linguagem, no Ensaio em apreço transparece com clareza a mentalidade revisionista que empurrou a URSS para a sua desagregação e a reimplantação na Rússia do capitalismo. É um trabalho que não contribuiu para o prestígio da historiografia soviética. Transcorridas décadas, é minha convicção firme que a História do Partido Comunista (bolchevique) de 1938, a História da Grande Revolução de Outubro e as diferentes Histórias da URSS editadas nos anos 70 deturparam todas, com objetivos opostos, a História real de acontecimentos que deixaram marcas inapagáveis no caminhar da humanidade. É útil recordar que a grande maioria dos historiadores ocidentais, epígonos do capitalismo, longe de contribuírem para iluminar a história real da União Soviética, a deturpam com perversidade para demonizar o marxismo e Lenin. Em vésperas das comemorações do centenário da Revolução de Outubro, sinto a necessidade de afirmar que, não obstante as graves deformações que desnaturaram o projeto de Lenin, o desaparecimento da URSS configurou uma tragédia para a humanidade. A vitória da Revolução Socialista foi o maior acontecimento da História e a sua herança confirma que foi a experiência mais justa e ambiciosa de libertação do homem da sua exploração milenária. [2] História da Grande Revolução Socialista de Outubro, Edições Progresso, Moscovo, 1977, 676 páginas [3] Historia de la URSS (Ensayo), publicada em 1960 pelas Edições Progresso, de Moscovo, 422 páginas Serpa e Vila Nova de Gaia, Setembro e Outubro de 2016 O original encontra-se em www.odiario.info/reflexao-sobre-historias-polemicas-do-pcus/ Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ . |
"e como que a experiência é a madre das cousas, por ela soubemos radicalmente a verdade" (Duarte Pacheco Pereira)
A Internacional
__ dementesim
.
.
Do rio que tudo arrasta se diz que é violento
Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem.
.
_____
.
Quem luta pelo comunismo
Deve saber lutar e não lutar,
Dizer a verdade e não dizer a verdade,
Prestar serviços e recusar serviços,
Ter fé e não ter fé,
Expor-se ao perigo e evitá-lo,
Ser reconhecido e não ser reconhecido.
Quem luta pelo comunismo
.
.
Só tem uma verdade:
A de lutar pelo comunismo.
.
.
Bertold Brecht
Mostrar mensagens com a etiqueta Revolução de Outubro. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Revolução de Outubro. Mostrar todas as mensagens
quarta-feira, novembro 02, 2016
Reflexão sobre histórias polémicas do PCUS, da Revolução de Outubro e da URSS
Etiquetas:
Estaline,
história,
Lenine,
miguel Urbano Rodrigues,
Resistir.info,
Revolução de Outubro,
Socialismo,
Trotsky,
URSS
quinta-feira, fevereiro 07, 2013
Serasfim Lobato - OS "ESQUERDISTAS" QUE FOGEM DA REVOLUÇÃO
tabanca do ganduré
domingo, 3 de fevereiro de 2013
OS "ESQUERDISTAS" QUE FOGEM DA REVOLUÇÃO
1 - Uma curiosidade irónica está a percorrer a sociedade portuguesa: certos responsáveis pela actual situação transformaram-se em “esquerdistas ferrenhos”, desdenham, com toda a desfaçatez aquilo que fizeram, ou fazem uma “mea-culpa” sem qualquer efeito prático, pretendendo transformar-se, seja qual for o argumento, em bandeiras na luta pelo bem-estar social, pela justiça, pela revolução social.
Não estou a brincar, vou transcrever, noutros transler da imprensa, e não deixar de pedir, tal como os responsáveis de hoje, que sejam levados à justiça.
Palavras de António Costa, actual Presidente da Câmara de Lisboa, ex-ministro dos Assuntos Parlamentares, e do Estado e da Administração interna, ex-secretário de Estado.
Foi também o membro do governo responsável pela Expo'98, em 1997/99, presidiu ao Grupo Parlamentar do PS, de 2001 a 2004 e foi deputado e vice-presidente no Parlamento Europeu, entre 2004 e 2005. Agora em manobras conspiratórios para se tornar primeiro-ministro, quando viu que a “maçã está madura”.
*A situação a que chegámos não foi uma situação do acaso. A União Europeia financiou durante muitos anos Portugal para Portugal deixar de produzir; não foi só nas pescas, não foi só na agricultura, foi também na indústria, por ex. no têxtil.
Nós fomos financiados para desmantelar o têxtil porque a Alemanha queria (a Alemanha e os outros países como a Alemanha) queriam que abríssemos os nossos mercados ao têxtil chinês basicamente porque ao abrir os mercados ao têxtil chinês eles exportavam os teares que produziam, para os chineses produzirem o têxtil que nós deixávamos de produzir.
E portanto, esta ideia de que em Portugal houve aqui um conjunto de pessoas que resolveram viver dos subsídios e de não trabalhar e que viveram acima das suas possibilidades é uma mentira inaceitável.
Nós orientámos os nossos investimentos públicos e privados em função das opções da União Europeia: em função dos fundos comunitários, em função dos subsídios que foram dados e em função do crédito que foi proporcionado.
E portanto, houve um comportamento racional dos agentes económicos em função de uma política induzida pela União Europeia. Portanto não é aceitável agora dizer? podemos todos concluir e acho que devemos concluir que errámos, agora eu não aceito que esse erro seja um erro unilateral dos portugueses.
Não, esse foi um erro do conjunto da União Europeia e a União Europeia fez essa opção porque a União Europeia entendeu que era altura de acabar com a sua própria indústria e ser simplesmente uma praça financeira. E é isso que estamos a pagar!
A ideia de que os portugueses são responsáveis pela crise, porque andaram a viver acima das sua possibilidades é um enorme embuste.
Quem viveu muito acima das sua possibilidades nas últimas décadas foi a classe política e os muitos que se alimentaram da enorme manjedoura que é p orçamento de Estado.
A administração central e local enxameou-se de milhares de "boys", criaram-se institutos inúteis, fundações fraudulentas e empresas municipais fantasma. A este regabofe juntou-se uma epidemia fatal que é a corrupção.
Os exemplos sucederam-se. A Expo 98 transformou uma zona degradada numa nova cidade, gerou mais-valias urbanísticas milionárias, mas no final deu prejuízo. Foi ainda o Euro 2004, e a compra dos submarinos, com pagamento de luvas e corrupção provada, mas só na Alemanha. E foram as vigarices de Isaltino Morais, que nunca mais é preso. A que se juntam os casos de Duarte Lima, do BPN e do BPP, as parcerias público-privadas 16 e mais um rol interminável de crimes que depauperaram o erário público.
Todos estes negócios e privilégios concedidos a um polvo que, com os seus tentáculos, se alimenta do dinheiro do povo têm responsáveis conhecidos. E têm como consequência os sacrifícios por que hoje passamos.
Enquanto isto, os portugueses têm vivido muito abaixo do nível médio do europeu, não acima das suas possibilidades. Não devemos pois, enquanto povo, ter remorsos pelo estado das contas públicas.
Devemos antes exigir a eliminação dos privilégios que nos arruínam. Há que renegociar as parcerias público-privadas, rever os juros da dívida pública, extinguir organismos…Restaure-se um mínimo de seriedade e poupar-se-ão milhões. Sem penalizar os cidadãos.
Não é, assim, culpando a castigando o povo pelos erros da sua classe política que se resolve a crise. Resolve-se combatendo as suas causas, o regabofe e a corrupção. Esta sim, é a única alternativa séria à austeridade que nos querem condenar e ao assalto fiscal que se anuncia”.
Esta mentira só é ultrapassada por uma outra. A de que não há alternativa à austeridade, apresentada como um castigo justo, face a hábitos de consumo exagerados. Colossais fraudes. Nem os portugueses merecem castigo, nem a austeridade é inevitável”.
Um outro gabirú, este um grande gabirú, - não esquecemos os mortos que tiveram lugar na sua Região Militar, quando estavam presos camaradas seus em Custóias - que, agora saiu da toca, foi o general Pires Veloso.

Em Setembro de 1975, foi nomeado pelo directório político militar “clandestino” que veio a sair vencedor em Novembro desse ano (Mário Soares, Sá Carneiro, Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, general Soares Carneiro, tenente-coronel Eanes, majores Melo Antunes, Costa Brás, Garcia do Santos, Loureiros dos Santos, Vasco Lourenço, Sousa e Castro, contra-almirante Vítor Crespo, entre outros), para comandante da Região Militar Norte, sedeada no Porto, o que o levou ao Conselho de Revolução.
Da imprensa recente:
“O general Pires Veloso, um dos protagonistas do 25 de Novembro de 1975 que naquela década ficou conhecido como "vice-rei do Norte", defende um novo 25 de Abril, de raiz popular, para acabar com "a mentira e o roubo institucionalizados".
"Vejo a situação actual com muita apreensão e muita tristeza. Porque sinto que temos uma mentira institucionalizada no país.
Não há verdade. Fale-se verdade e o país será diferente. Isto é gravíssimo", disse hoje, em entrevista à Lusa.
Para o general, que enquanto “governador” militar do Norte foi um dos principais intervenientes no contra-golpe militar de 25 de Novembro que pôs fim ao "Verão Quente" de 1975, "dá a impressão de que seria preciso outro 25 de abril em todos os termos, para corrigir e repor a verdade no sistema e na sociedade".
Pires Veloso, 85 anos, considera que não poderão ser as forças militares a promover um novo 25 de Abril: "Não me parece que se queiram meter nisto. Não estão com a força anímica que tinham antigamente, aquela alma que reagia quando a pátria está em perigo".
"Para mim, o povo é que tem a força toda. Agora é uma questão de congregação, de coordenação, e pode ser que alguém surja" a liderar o processo.
Inversão de valores
E agora que "o povo já não aguenta mais e não tem mais paciência, é capaz de entrar numa espiral de violência nas ruas, que é de acautelar", alertou, esperando que caso isso aconteça não seja com uma revolução, mas sim com "uma imposição moral que leve os políticos a terem juízo".
Como solução para evitar que as coisas se compliquem, Pires Veloso defendeu uma cultura de valores e de ética. "Há uma inversão que não compreendo desses valores e dessa ética. Não aceito a actuação de dirigentes como, por exemplo, o Presidente da República, que já, há pelo menos dois anos, como economista tinha a obrigação de saber em que estado estava o país, as finanças e a economia. Tinha obrigação moral e não só dizer ao país em que estavam estavam as coisas”, defendeu.
Pires Veloso lamentou a existência de “um gangue que tomou conta do país. Tire-se o gangue, tendo-se juízo, pensando no que pode acontecer.
E ponha-se os mais ricos a contribuir para acabar a crise. Porque neste momento não se vai aos mais poderosos”.
O general deu como exemplo o salário do administrador executivo da Eletricidade de Portugal (EDP) para sublinhar que "este Governo deve atender a privilégios que determinadas classes têm".
"Não compreendo como Mexia recebe 600 mil euros e há gente na miséria sem ter que dar de comer aos filhos. Bem pode vir Eduardo Catroga dizer que é legal e que os acionistas é que querem, mas isto não pode ser assim. Há um encobrimento de situação de favores aos mais poderosos que é intolerável. E se o povo percebe isso reage de certeza", disse.
Para Pires Veloso, "se as leis permitem um caso como o Mexia, então é preciso outro 25 de abril para mudar as leis", considerando que isto contribui para "a tal mentira institucionalizada que não deixa que as coisas tenham a pureza que deviam ter".
Casos como este, que envolvem salários que "são um insulto a um povo inteiro, que tem os filhos com fome", fazem, na opinião do militar, com que em termos sociais a situação seja hoje pior, mesmo, do que antes do 25 de Abril: "Na altura havia um certo pudor nos gastos e agora não: gaste-se à vontade que o dinheiro há de vir".
Quanto ao povo, "assiste passivamente à mentira e ao roubo, por enquanto. Mas se as coisas atingirem um limite que não tolere, é o cabo dos trabalhos e não há quem o sustenha. Porque os cidadãos aguentam, têm paciência, mas quando é demais, cuidado com eles".
"Quando se deu o 25 de Abril de 1974, disseram que havia de haver justiça social, mais igualdade e melhor repartição de bens. Estamos a ver uma inversão do que o 25 de Abril exigia”, considerou Pires Veloso, para quem “o primeiro-ministro tem de arrepiar caminho rapidamente”.
Passos Coelho "tem de fazer ver que tem de haver justiça, melhor repartição de riqueza e que os poderosos é que têm que entrar com sacrifícios nesta crise", defendeu, apontando a necessidade de rever rapidamente as parcerias público-privadas.
"Julgo que Passos Coelho quer a verdade e é esforçado, mas está num sistema do qual está prisioneiro. O governo mexe nos mais fracos, vai buscar dinheiro onde não há. E, no entanto, na parte rica e nos poderosos ainda não mexeu. Falta-lhe mais tempo?
Não sei. Sei é que tem de mudar as coisas, disse Pires Veloso”.
Finalmente, para completar o leque, o ex-ministro das Finanças de Santana Lopes, Bagão Félix, que foi um dos fomentadores da bagunça no sistema português de Segurança Social, transferindo pensões dos trabalhadores da Caixa Geral de Depósitos para pagar o chamado défice, ou seja a injecção de dinheiro no sistema bancário.
Não se esquece que foi administrador da Lusoponte….
Ei-lo. Agora, na sua exuberância.
Retirado de um artigo inserto num jornal diário:
“Por: António Bagão Félix
“Aprovado o OE 2013, Portugal arrisca-se a entrar no "Guinness Fiscal" por força de um muito provavelmente caso único no planeta: a partir de um certo valor (1350 euros mensais), os pensionistas vão passar a pagar mais impostos do que outro qualquer tipo de rendimento, incluindo o de um salário de igual montante!
Um atropelo fiscal inconstitucional, pois que o imposto pessoal é progressivo em função dos rendimentos do agregado familiar [art.º 104.º da CRP], mas não em função da situação activa ou inactiva do sujeito passivo e uma grosseira violação do princípio da igualdade [art.º 13.º da CRP].
Por exemplo, um reformado com uma pensão mensal de 2200 euros pagará mais 1045 ? de impostos do que se a trabalhar com igual salário (já agora, em termos comparativos com 2009, este pensionista viu aumentado em 90% o montante dos seus impostos e taxas!).
Tudo isto por causa de uma falaciosamente denominada "contribuição extraordinária de solidariedade" (CES), que começa em 3,5% e pode chegar aos 50%. Um tributo que incidirá exclusivamente sobre as pensões. Da Segurança Social e da Caixa Geral de Aposentações. Públicas e privadas. Obrigatórias ou resultantes de poupanças voluntárias. De base contributiva ou não, tratando-se por igual as que resultam de muitos e longos descontos e as que, sem esse esforço contributivo, advêm de bónus ou remunerações indirectas e diferidas.
Nas pensões, o Governo resolveu que tudo o que mexe leva! Indiscriminadamente. Mesmo - como é o caso - que não esteja previsto no memorando da troika.
Esta obsessão pelos reformados assume, nalguns casos, situações grotescas, para não lhes chamar outra coisa. Por exemplo, há poucos anos, a Segurança Social disponibilizou a oferta dos chamados "certificados de reforma" que dão origem a pensões complementares públicas para quem livremente tenha optado por descontar mais 2% ou 4% do seu salário.
Com a CES, o Governo decide fazer incidir mais impostos sobre esta poupança do que sobre outra qualquer opção de aforro que as pessoas pudessem fazer com o mesmo valor? Ou seja, o Estado incentiva a procura de um regime público de capitalização (sublinho, público) e logo a seguir dá-lhe o golpe mortal. Noutros casos, trata-se - não há outra maneira de o dizer - de um desvio de fundos através de uma lei: refiro-me às prestações que resultam de planos de pensões contributivos em que já estão actuarialmente assegurados os activos que caucionam as responsabilidades com os beneficiários.
Neste caso, o que se está a tributar é um valor que já pertence ao beneficiário, embora este o esteja a receber diferidamente ao longo da sua vida restante. Ora, o que vai acontecer é o desplante legal de parte desses valores serem transferidos (desviados), através da dita CES, para a Caixa Geral de Aposentações ou para o Instituto de Gestão Financeira da S. Social!
O curioso é que, nos planos de pensões com a opção pelo pagamento da totalidade do montante capitalizado em vez de uma renda ou pensão ao longo do tempo, quem resolveu confiar recebendo prudente e mensalmente o valor a que tem direito verá a sua escolha ser penalizada. Um castigo acrescido para quem poupa.
Haverá casos em que a soma de todos os tributos numa cascata sem decoro (IRS com novos escalões, sobretaxa de 3,5%, taxa adicional de solidariedade de 2,5% em IRS, contribuição extraordinária de solidariedade (CES), suspensão de 9/10 de um dos subsídios que começa gradualmente por ser aplicado a partir de 600 euros de pensão mensal!) poderá representar uma taxa marginal de impostos de cerca de 80%! Um cataclismo tributário que só atinge reformados e não rendimentos de trabalho, de capital ou de outra qualquer natureza! Sendo confiscatório, é também claramente inconstitucional.
Aliás, a própria CES não é uma contribuição. É pura e simplesmente um imposto. Chamar-lhe contribuição é um ardil mentiroso. Uma contribuição ou taxa pressupõe uma contrapartida, tem uma natureza sinalagmática ou comutativa. Por isso, está ferida de uma outra inconstitucionalidade.
É que o já citado art.º 104.º da CRP diz que o imposto sobre o rendimento pessoal é único. Estranhamente, os partidos e as forças sindicais secundarizaram ou omitiram esta situação de flagrante iniquidade. Por um lado, porque acham que lhes fica mal defender reformados ou pensionistas desde que as suas pensões (ainda que contributivas) ultrapassem o limiar da pobreza. Por outro, porque tem a ver com pessoas que já não fazem greves, não agitam os media, não têm lobbies organizados.
Pela mesma lógica, quando se fala em redução da despesa pública há uma concentração da discussão sempre em torno da sustentabilidade do Estado social (como se tudo o resto fosse auto-sustentável?). Porque, afinal, os seus beneficiários são os velhos, os desempregados, os doentes, os pobres, os inválidos, os deficientes? os que não têm voz nem fazem grandiosas manifestações.
E porque aqui não há embaraços ou condicionantes como há com parcerias público-privadas, escritórios de advogados, banqueiros, grupos de pressão, estivadores. É fácil ser corajoso com quem não se pode defender.
Foi lamentável que os deputados da maioria (na qual votei) tenham deixado passar normas fiscais deste jaez mais próprias de um socialismo fiscal absoluto e produto de obsessão fundamentalista, insensibilidade, descontextualização social e estrita visão de curto prazo do ministro das Finanças. E pena é que também o ministro da Segurança Social não tenha dito uma palavra sobre tudo isto, permitindo a consagração de uma medida que prejudica seriamente uma visão estratégica para o futuro da Segurança Social.
Quem vai a partir de agora acreditar na bondade de regimes complementares ou da introdução do "plafonamento", depois de ter sido ferida de morte a confiança como sua base indissociável? Confiança que agora é violada grosseiramente por ditames fiscais aos ziguezagues sem consistência, alterando pelo abuso do poder as regras de jogo e defraudando irreversivelmente expectativas legitimamente construídas com esforço e renúncia ao consumo.
Depois da abortada tentativa de destruir o contributivismo com o aumento da TSU em 7%, eis nova tentativa de o fazer por via desta nova avalanche fiscal. E logo agora, num tempo em que o Governo diz querer "refundar" o Estado Social, certamente pensando (?) numa cultura previdencial de partilha de riscos que complemente a protecção pública. Não há rumo, tudo é medido pela única bitola de mais e mais impostos de um Estado insaciável.
Há ainda outro efeito colateral que não pode ser ignorado, antes deve ser prevenido: é que foram oferecidos poderosos argumentos para "legitimar" a evasão contributiva no financiamento das pensões. "Afinal, contribuir para quê?", dirão os mais afoitos e atentos.
Este é mais um resultado de uma política de receitas "custe o que custar" e não de uma política fiscal com pés e cabeça. Um abuso de poder sobre pessoas quase tratadas como párias e que, na sua larga maioria, já não têm qualquer possibilidade de reverter a situação. Uma vergonha imprópria de um Estado de Direito.
Um grosseiro conjunto de inconstitucionalidades que pode e deve ser endereçado ao TribunalConstitucional.
PS1: Com a antecipação em "cima da hora" da passagem da idade de aposentação dos 64 para os 65 anos na função pública já em 2013 (até agora prevista para 2014), o Governo evidencia uma enorme falta de respeito pela vida das pessoas. Basta imaginar alguém que completa 64 anos em Janeiro do próximo ano e que preparou a sua vida pessoal e familiar para se aposentar nessa altura.
No dia 31 de Dezembro, o Estado, através do OE, vai dizer-lhe que, afinal, não pode aposentar-se. Ou melhor, em alguns casos até poderá fazê-lo, só que com penalização, que é, de facto, o que cinicamente se pretende com a alteração da lei. Uma esperteza que fica mal a um Governo que se quer dar ao respeito.
PS2: Noutro ponto, não posso deixar de relevar uma anedota fiscal para 2013: uma larga maioria das famílias da classe média tornadas fiscalmente ricas pelos novos escalões do IRS não poderá deduzir um cêntimo que seja de despesas com saúde (que não escolhem, evidentemente).
Mas, por estimada consideração fiscal, poderão deduzir uns míseros euros pelo IVA relativo à saúde? dos seus automóveis pago às oficinas e à saúde? capilar nos cabeleireiros. É comovente?”.
Estes argumentos, bem forjados ditirambicamente, representam presentes envenenados.
Todas estas cabeças pensadoras estiveram no “carro da morte” e querem saltar antes que uma nova meta surja e os coloque de “cabeça no cepo”.
São víboras terríveis, que somente apresentam, na actualidade, um chamado “lado bom”: estão a dar razão àqueles que sempre afirmaram que esta sociedade está podre.
Como única alternativa: a manutenção do actual estado de coisas. “Querem que algo mude, para tudo ficar na mesma”.
O que é que eles sugerem para ultrapassar a podridão existente?
Não há alternativa fora do sistema, talvez um governo de iniciativa presidencial, ou então um vago novo 25 de Abril, um regresso ao marcelismo mais moderado.
Mas fazer concretamente o quê para mudar? Bem isso.
Fazer a ruptura social com o sistema actual? Ah, isso não, é preciso diálogo para criar a estabilidade política, arremedam.
2 - //um aparte: como se transforma dinheiro dos assalariados em capital privado ao serviço do bancos!!!
A notícia já tem uns largos meses, mas é significativa face à situação actual. Pois os fundos de pensões entraram nos cofres do bancos.
Retirada do jornal i:
“A transferência dos fundos de pensões da banca para o Estado vai incluir o Banco de Portugal. A informação foi confirmada ao i por fonte oficial do ministério das Finanças, segundo a qual o fundo de pensões do banco central também será integrado.
No final do ano passado este fundo de benefício definido tinha um património de 1.231 milhões de euros que garantia um nível de financiamento das responsabilidades de quase 100%. São beneficiários deste fundo cerca de 3900 pessoas, entre funcionários no activo e reformados. Este universo inclui economistas que são figuras públicas e que já desempenharam ou desempenham cargos de destaque, ex-ministros das Finanças - Manuela Ferreira Leite ou Campos e Cunha -, o ex-governador do Banco de Portugal e vice-governador do Banco Central Europeu, Vítor Constâncio e o Presidente da República, Cavaco Silva. Até o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, foi quadro do Banco de Portugal até 2010. O banco central tem ainda outro fundo com cerca de cinco milhões de euros que visa complementar a reforma dos funcionários que passaram a descontar para a Segurança Social este ano.
O fundo de pensões do banco central tinha sido até agora poupado às transferências decididas por vários governos de fundos de pensões de empresas públicas.
O objectivo foi sempre o de obter receitas extraordinárias para cobrir derrapagens orçamentais e assegurar metas de redução do défice público.
A lista vai desde o BNU, uma decisão do governo de António Guterres, passando pelo fundo dos CTT, integrado pela ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite, continuando com as transferências de parte do fundo da Caixa Geral de Depósitos em 2004 por Bagão Felix, até à passagem do fundo da Portugal Telecom para a Caixa Geral de Aposentações - entidade que paga as pensões aos trabalhadores do Estado - em 2010.
Com a integração dos fundos de pensões do sector bancário, os objectivos mantêm-se, mas a dimensão dos montantes em causa é muito mais elevada e o período de concretização da medida será alargado.
Se incluirmos o Banco de Portugal e o fundo de pensões que ficou na Caixa Geral de Depósitos, com activos avaliados em 1,4 mil milhões de euros, então o património a transferir para a Segurança Social e Caixa Geral de Aposentações pode atingir os 14 mil milhões de euros, a valores do final de 2010, o que representa 8% do PIB.
O pouco que se sabe desta operação foi revelado na sexta-feira pelo representante da Comissão Europeia na troika. Jürgen Kröeger explicou que o governo ia integrar de forma faseada os fundos de pensões da banca na Segurança Social.
A medida deverá permitir já este ano corrigir uma derrapagem na despesa de quase 600 milhões de euros com a venda do BPN e gastos da Madeira.
As negociações vão começar com a Associação Portuguesa de Bancos (APB) em Setembro.
O presidente da APB, António de Sousa, disse ao i que ainda não tinha indicação do universo de fundos de pensões a abranger, mas outra fonte adianta que a medida deverá incluir todos os fundos da banca.
Banca a favor, bancários contra A ideia de transferir as responsabilidades com reformas para o Estado agrada aos banqueiros que já fizeram a proposta no passado. Os fundos de pensões são uma das dores da cabeça da banca nacional, sobretudo numa fase de desvalorização dos mercados financeiros.
Uma das questões que a banca quer assegurar, avançou ontem o "Jornal de Negócios", é a passagem da dívida pública (na realidade, é dívida privada, transformada em pública, mas escapar ao pagamento pelo bancos!!!, sublinhado meu) em carteira ao valor nominal e sem reflectir o desconto da desvalorização em mercado. Mas o mais provável é que os bancos tenham de reforçar os fundos antes de os transferir para o Estado para garantir que a operação será neutral para os bolsos dos contribuintes.
Mas se a banca está disponível para conversar, é já certa a oposição dos sindicatos que representam o sector bancário.
A Febase (federação de sindicatos da banca) já pediu uma reunião ao ministro das Finanças e deverá debater hoje a matéria. Os fundos da banca são responsáveis pelo pagamento da totalidade da reforma do trabalhador e os bancários receiam que a passagem para a Segurança Social possa implicar o plafonamento da sua pensão - a introdução de um tecto às contribuições e às reformas, que será uma das das intenções do governo. A reforma média paga pela banca é substancialmente superior à praticada na Segurança Social ”//.
3 – Ora, o que temos de colocar na ordem do dia é que é possível uma alternativa fora do sistema criado em 25 de Novembro de 1975, mas que essa alternativa, para ser favorável às classes laboriosas, somente pode ser encontrada numa sociedade socialista.
.+Rose+Zehner+en+el+centro.+Fotograf%C3%ADa+de+Willy+Ronis..png)
Dirão, com sonoras gargalhadas e ditos jocosos na grande imprensa da nossa praça, os intelectuais de serviço, alguns dos quais já bateram no peito no antanho, jurando que apenas uma outra sociedade, essa mesma sociedade socialista, poderia modificar radicalmente o actual estado de coisas,
Atiram os comentadores de algibeira (de agora ou reciclados ao poder capitalista) que pupulam, saltitantes de televisão em televisão, de rádio em rádio, de jornal diário em jornal diário: mas a tal sociedade socialista esteve no poder na União Soviética, na China e noutros Estados e produziram poderes contra-revolucionários.
É verdade. Fizeram-se revoluções. Propuseram-se programas revolucionários socialistas.
Houve retrocessos.
Quando deu a última grande revolução histórica mundial na Rússia czarista em 1917 (que teve seguimentos similares na China em 1949, e noutros países em períodos semelhantes), por um lado, pelas repercussões crescentes que teve nas reivindicações populares durante dezenas de anos, e, por outro lado, pela mudança a que obrigou o próprio sistema capitalista a “humanizar-se” dentro de grande medida, criando o chamados Estado Sociais, para conter os eventuais ímpetos revolucionários que surgiam como cogumelos, ficamos ofuscados, sem raciocínio crítico, perante a evolução do curso contra-revolucionário que se estava a processar, embrulhado numa pretensa linguagem classista, progressista.
Foi, justamente, da importância da grande experiência revolucionária, que se levou a obscurecer, acriticamente, ou por críticas sectoriais sem consistência, o rumo enviesado que começava a percorrer negativamente, e se abafou, em nome de uma falsa unidade de acção, toda a crítica materialista, e impediu que se tivesse uma outra visão de classe sobre as ilusões que a Revolução Soviética, inicialmente profundamente revolucionária, trouxeram nos anos seguintes à evolução, atrozmente, contra-revolucionária dos projectos programáticos partidários, que se multiplicavam com o nome de aplicação do comunismo.
Essencialmente, não se tivemos a visão de reflectir, com profundidade, que, desde os finais da década de 20 do século passado, a evolução económica mundial, mesmo com o alastramento da revolução soviética, com o fim da sua guerra civil em 1923, e dos grandes processos reivindicativos que se multiplicaram na década seguinte, particularmente em França, com os governos de Frente Popular (salários, férias, segurança social, etc. etc, bem com a vitória republicana em Espanha) não estava a um nível emtodo o espaço internacional – com destaque para todo o Oriente –amadurecido para levar a uma superação, rápida, do sistema produtivo capitalista.
E, de modo evidente, não tiramos lições, erramos, profundamente, de que a revolução soviética sozinha – o chamado socialismo num só país era um absurdo histórico – poderia vingar, sem que rebentasse uma revolução socialista, simultaneamente, na parte ocidental do Mundo.
O que sucedeu, realmente, é que o caminho da revolução soviética de 1917 levou a própria grande burguesia a efectuar, a acelerar a sua própria “revolução” económica para sobreviver, a fazer expandir a industrialização e o avanço tecnológico para os vários continentes, a colocar, em certa medida, como bases contratuais no seu relacionamento com as classes trabalhadoras, propostas de aumentos de bem-estar, de melhorias reais, ainda que limitadas da próprio nível de vida (desde o salariato à educação).
E este facto foi evidente, mais do que em qualquer outro país na Europa, no pós II Grande Guerra. Mas, estendeu-se para a China, Japão, Coreia, Índia, Paquistão, e em muitos países africanos.
4 – Mas a Revolução soviética, tal como se verificou antes com a derrota da Comuna de Paris e o massacre odioso e impiedoso da grande burguesia cobarde sobre os revoltosos parisienses, mostrou que as épocas subversivas, por si só, não são imparáveis.
Apesar do ascenso revolucionário que se produziu desde 1917 até meados dos anos 20 do século passado, o revolucionamento económico não correspondia aos movimentos progressistas e soluçantes que emergiam em larga escala – estava estribado em profundas fraquezas de atraso económico e social.
Esse movimento, todavia, que apresentou uma dimensão de uma grandeza mundial no tempo, e que deu mesmo indícios de rupturas revolucionárias em vários países, levou a que a grande burguesia se retraísse, involucrada num processo gigantesco de unidade sem precedentes entre as suas várias fracções, desde a liberal Inglaterra à reaccionária burguesia alemã e se *enquistasse” numa política de natureza musculada ou abertamente ditatorial, que, inclusive, penetrou nas altas esferas político-económicas dos Estados Unidos (Ford e o grande capital desde os Rothschild aos Warburg que se aliara nitidamente com Hitler; o próprio rei inglês Eduardo VIII era claramente pró-nazi e teve de abdicar).
Todas as Revoluções até à soviética, mas vindas já de séculos anteriores, casos da Revolução inglesa do século XVII, da Revolução francesa do século XVIII, das revoluções europeias do século XIX – França, Alemanha, Hungria, quer a própria Comuna de Paris, apesar da sua originalidade, traziam “um vício” que as enfraquecia, mas que trazem a sua datação histórica própria:
- Foram conduzidas por forças políticas, ou mesmo programas, por vezes muito gerais e sem uma rota definida, que defendiam a libertação dos povos trabalhadores, principalmente das suas classes laboriosas, despojadas de posses, a não ser a sua força de trabalho, que ascenderam ao poder como expressão de uma minoria esclarecida, que, aparentemente, adquiriram o estatuto propagandístico de o exercerem em nome de todo o povo desfavorecido.
Claro que trouxeram vitórias, e o caso da Revolução Soviética, na sua primeira fase, foram de uma importância transnacional, mesmo totalmente mundial, cujos slogans reivindicativos ainda têm, presentemente, validade e consistência: jornadas das oito horas, trabalho igual, salário igual, papel preponderante das comissões ou conselho de trabalhares nas empresas, controlo dos grandes meios produtores e bancários.
Todavia, o desenvolvimento social mundial foi realizado, essencialmente, em todo o século XX pela evolução crescente do sistema de produção burguês, saltou, sofisticou-se, concentrou na sua pujança, também, o próprio poder político mundial.
As classes laboriosas não conseguiram fugir a esta asfixia, apesar das várias tentativas de envergadura de ganhar a sua própria autonomia e direcção em fases específicas, como foi o Maio de 68, e as lutas internas nos Estados Unidos contra as guerra na Indochina, ou em fase mais adiantada as lutas ferozes contra as ditaduras sul-americanas (o Perú chegou a ter um governo de cariz militar com inspiração em algumas consignas revolucionárias como a Reforma Agrária).
Mas o que sucedeu, realmente, é que o capitalismo estava em ascensão – fez nesse século com que muitas formas intermédias de produção incipiente capitalistas dessem saltos enormes, como aconteceu no Brasil, na Argentina e nas próprias Rússia e China (embora aqui sob a forma de capitalismo de Estado e um forma poder, que erradamente, chama de comunismo).
5 – Ora, neste período dilatado perdeu-se a noção materialista do que representa, na realidade, o progresso da sociedade sob o seu poder socialista.
Houve desânimos, houve formas propagandísticas de denegrir o que representa o avanço histórico para uma nova sociedade, as teorias que defendiam o comunismo baixaram o braço e não entraram no estudo do que errado havia no passado.
Na ordem do dia, coloca-se, pois, a necessidade de uma teoria de ruptura de sociedade que reabilite a nova História que se aproxima.
E isto porque a propaganda burguesa, segundo a qual o capitalismo é eterno, está a ser abalado pela própria crise enorme e avassaladora do capitalismo financeiro, da economia capitalista, da própria sociedade mais aberta que o sustenta, a democracia parlamentar.
A última crise de 2008 mostra à saciedade que a produção, a distribuição, a troca entre as sociedades humanas são modelostransitórios e datados historicamente.
O avanço galopante do capitalismo desde 1973 até aos dias de hoje trouxe uma nova dinâmica à sociedade, hoje claramente mundial, no seu modo de produção capitalista.
Estão a modificar-se de uma maneira rápida e espantosamente trucidante todas as relações económicas. Um pequeno país como a Islândia, ainda que enquadrado pela produção capitalista, indicou-nos que esse mesmo capitalismo está podre.
Como vai surgir a nova sociedade? Não se pode dar um caminho completo, elaborado, feito a régua e esquadro, nestes momentos de mudança. Nem se pode dizer, antecipadamente, como uma revolução irá triunfar.
O avanço da produção capitalista deu-nos a lição, até pelos erros das revoluções fracassadas, que a nova ordem não pode ser enquadrada por uma minoria esclarecida, mas centrada na fixação no próprio terreno nos interesses da maioria, à medida que as raízes revolucionárias comecem a germinar.
Os tempos mostraram-nos que a ideia de que a sociedade socialista desaparecera dos manuais e da acção um termo sem senso. A História escreve-se caminhando sempre.
E só vingará se o poder político e económico, a produção e a distribuição ficarem, seguramente, na mão dessa maioria.
publicada por serafim lobato à(s) 15:49 sem comentários:
http://tabancadeganture.blogspot.pt/2013/02/os-esquerdistas-que-fogem-da-revolucao.html
Subscrever:
Mensagens (Atom)