A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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domingo, dezembro 26, 2010

Kosovo, as atrocidades têm um nome



  • Luís Carapinha


Kosovo, as atrocidades têm um nome
O relatório do Conselho da Europa (CE) que traça as responsabilidades do actual primeiro-ministro do Kosovo e antigo comandante do UÇKi, Hashim Thaçi, num rol de crimes repugnantes não pode deixar de trazer a lume a sórdida história da guerra de desmembramento da Jugoslávia. 
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A natureza eminentemente criminosa da ocupação militar da NATO da antiga província da Sérvia no seio da federação jugoslava está há muita profusamente demonstrada. Assim como o processo da transformação do Kosovo num protectorado do imperialismo e a tentativa da sua legitimação por via da orquestrada «declaração unilateral de independência» de 2008.
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O relatório do senador suíço Dick Marty que, curiosamente, foi divulgado no rescaldo das eleições parlamentares de 12 de Dezembro que deram a vitória à formação de Thaçi, não traz em si, na essência, nada de novo, pese embora o interesse do material factual e descritivo que contém.

O quadro dantesco que é corroborado pelas alegações de Marty situa-se, objectivamente, nos antípodas da narrativa mistificadora emanada de Washington: os «combatentes» do UÇK pelos supremos «direitos humanos e os valores americanos», reciclados depois em Corpo de Protecção do Kosovo, são na realidade uma organização criminosa responsável por assassinatos em massa e a limpeza étnica das minorias. A morte de prisioneiros para extrair e traficar rins e outros órgãos era uma das especialidades da organização terrorista albanês-kosovar [instruída e equipada, como se sabe, pelos serviços secretos dos EUA, Alemanha e Israel]. Dedicaram-se, ainda, ao tráfico de droga e de armas, à exploração da prostituição, lavagem de dinheiro e a muitas outras tenebrosas práticas ilícitas que incluem espancamentos, tortura, raptos e desaparecimento de cidadãos inimigos ou suspeitos, não apenas sérvios, mas também albaneses, ciganos, etc. As actividades criminosas do cartel dominante, chefiado pelo primeiro-ministro Thaçi e também líder do Partido Democrático do Kosovo, prosseguiram sob diversas formas até aos dias de hoje, abarcando, inclusive, a «monopolização violenta dos principais sectores económicos» do Kosovo, dos combustíveis à construção civil, relata o documento. Uma autêntica «feira capitalista dos pequenitos» é, pois, este Kosovo independenteCamp Bondsteel, a maior criada de raiz desde a guerra no Vietname. 
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É este o cenário da real «catástrofe humanitária» do Kosovo que os média dominantes sempre esconderam.

Bem mais comedido ou omisso sobre os aspectos medulares da questão, o relatório de Marty não deixa de expressar perturbação pela passividade da «comunidade internacional» – desde os governos dos EUA e países aliados até às autoridades da UE no terreno –, que fecharam «os olhos aos crimes de guerra da organização» que coadjuvou a KFOR na ocupação e verdadeira limpeza étnica do Kosovo. 
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Nada disto é novo. 
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Também já se conhecia o papel do TPI para a antiga Jugoslávia, como órgão de justiça dos vencedores, que é discretamente apontado pelo relatório como negligente na investigação e de, pasme-se, ter destruído provas reunidas dos crimes dos responsáveis kosovares, algo que para a antiga inquisidora, Carla del Ponte era «inconcebível» …

A sessão plenária da APCE de Janeiro ajudará porventura a iluminar os meandros deste desfiar do novelo criminoso que envolve os representantes do poder fantoche em Pristina, após mais de uma década de alheamento cúmplice sobre a matéria por parte do CE e de todas as instâncias da arquitectura capitalista na Europa. 
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Com a Albânia já dentro da NATO e a direita, no poder em Belgrado, cheia de vontade de fazer render o país aos seus carrascos, talvez seja o momento indicado para deitar fora alguma roupa suja. 
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Não haverá «revelação» ou manobra de diversão que bastem para tornar irrelevantes os crimes supremos do imperialismo e assegurar a hegemonia do sistema social que lhe está na raiz. 
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Avante N.º 1934
23.Dezembro.2010
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sábado, novembro 07, 2009

Nas estepes da Mongólia - Uma vitória transcendente do internacionalismo



Nas estepes da Mongólia
Uma vitória transcendente do internacionalismo



Na historiografia ocidental são raras as referências à batalha travada junto ao rio Khalkhin-Gol entre Maio e Setembro de 1939. A severa derrota ali infligida pelas tropas conjuntas da Mongólia Popular e da União Soviética ao exército de Kwantung do Japão imperialista permanece amplamente ignorada, tal como o significado da curta mas intensa guerra de Khalkhin-Gol. Facto ainda mais sonante porque contrasta com a vastíssima campanha ideológica de deturpação e revisão da história do século XX, visando extirpá-la dos seus avanços revolucionários e libertadores e denegrir e apagar o papel dos comunistas e da URSS, hoje empreendida. Campanha de cariz anticomunista que ultrapassa todos os limites imagináveis num passado recente, chegando ao ponto de pôr em causa as próprias decisões do Tribunal de Nuremberga(1).

E, contudo, na véspera do início da II Guerra Mundial o desaire do militarismo japonês naquela região remota da Mongólia oriental junto à fronteira chinesa da Manchúria – que desde 1931 se encontrava sob a ocupação do regime fascista nipónico – haveria de exercer uma influência profunda no próprio curso da mais destrutiva guerra de sempre na História.
Tóquio arquitectou a intervenção militar de 1939 na República Popular da Mongólia(2) como uma «questão fronteiriça», socorrendo-se, inclusive, de mapas topográficos falseados em que a linha da fronteira mongol oriental aparecia deslocada mais de vinte quilómetros para ocidente, alcançando o curso do rio Khalkhin-Gol. Um pretexto que pretendia encobrir as reais motivações, de carácter expansionista, do imperialismo japonês, nomeadamente os planos que apontavam em direcção ao território da Sibéria e extremo oriente da URSS. Para o Japão, o corredor mongol delimitado pelo rio Khalkhin-Gol, funcionando como barreira natural, representava uma via privilegiada de acesso em direcção à Transbaicália e ao coração da cobiçada Sibéria Oriental. E a visão da tenaz que se fecharia sobre a URSS a partir de ocidente e oriente era cara ao militarismo japonês e aos propósitos megalómanos das potências fascistas do Eixo(3). A argumentação urdida pelos estrategas japoneses em Khalkhin-Gol seria totalmente desmascarada depois do final da II Guerra Mundial no decurso do Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente que julgou os crimes de guerra do imperialismo japonês.
Um ano antes, também invocando pretensões de carácter fronteiriço, o Japão já tinha provocado um conflito militar com a URSS no extremo oriente. A incursão de unidades japonesas, a partir do território coreano, na zona da URSS da fronteira tripartida entre a URSS, China e Coreia, desencadeada no final de Julho de 1938 e que ficou conhecida como a batalha do Lago Khasan, acabou por ser repelida pelas forças soviéticas comandadas pelo marechal Bliúkher ao fim de duas semanas de combates encarniçados(4).
Quando, em Maio de 1939 as tropas japoneses cruzaram a fronteira da Mongólia na zona de Khalkhin-Gol, o expansionismo japonês na Ásia oriental era já uma realidade em pleno desenvolvimento. A Coreia fora anexada ainda em 1910. Na Manchúria, depois da invasão do exército de Kwantung (que integrava as mais numerosas e bem preparadas unidades do Exército Imperial Japonês), o Japão orquestrou a criação, em 1932, do estado títere de Manchukuo (designado Grande Império Manchukuo), à frente do qual colocou como regente o último representante da decadente dinastia chinesa Qing. A intervenção japonesa numa China há décadas sujeita ao jugo e disputa das principais potências imperialistas ampliou-se com a segunda guerra sino-japonesa, lançada sem declaração prévia por Tóquio em 1937. Pequim e Nanquim – na altura a capital da República da China – tombaram sob a ocupação japonesa, que ficou marcada por monstruosas atrocidades. O Massacre de Nanquim constitui um dos mais abomináveis crimes de guerra e genocídio do século XX.
«Guerra não declarada em Khalhin-Gol». É assim que Jukov, o mais destacado comandante militar da URSS, que em Khalkhin-Gol celebraria a sua primeira grande vitória militar como comandante de tropas – que lhe valeu a primeira das quatro estrelas douradas de Herói da União Soviética com que foi agraciado – qualifica o confronto militar de 1939 na Mongólia com o Japão imperialista, ao qual dedica um capítulo das suas memórias(5).
A direcção soviética avaliou o ataque surpresa, em Maio de 1939, das forças manchus e japonesas contra as tropas fronteiriças da Mongólia e o seu avanço até à margem esquerda (oriental) do Khalkhin-Gol, não simplesmente como uma mera escaramuça numa terra inóspita e, escassamente, povoada por nómadas, mas como uma «perigosa aventura militar» que tinha como principal alvo a própria URSS.
No início de Junho, Gueorgui Jukov, talentoso tenente-general, perto de completar 44 anos, e vice-comandante da Região Militar da Bielorrússia, é chamado a Moscovo e imediatamente enviado para a Mongólia a fim de inteirar-se da situação e, se necessário, assumir o comando das operações do 57.º Corpo de Forças Especiais soviéticas em defesa da integridade territorial da Mongólia(6). A 5 de Junho Jukov já se encontra em Tamsak-Bulak, o quartel-general das forças soviéticas (deslocadas da Região Militar da Transbaicália) na Mongólia, situado a cerca de 120 quilómetros da linha da frente.
Avaliada a situação no terreno, que confirmou a superioridade numérica do 6.º Exército japonês e das forças fantoches manchus, Jukov solicitou ao Estado-Maior em Moscovo, o reforço de unidades de infantaria, de tanques pesados, aerotransportadas e da aviação. O plano aprovado pelas forças conjuntas soviéticas e mongóis previa o sólido fortalecimento das posições defensivas na margem direita do rio Khalkhin-Gol e a preparação de um contra-ataque demolidor, para desbaratar e expulsar o inimigo de território mongol.
Durante mais de dois meses, a acção das tropas soviéticas – em conjunto com as unidades mongóis comandadas por Choibalsan – foi crucial para travar e repelir o ímpeto das sucessivas vagas ofensivas japonesas. Estas apenas uma vez lograram transpor a margem direita do Khalkhin-Gol, sendo forçadas quase de imediato a recuar, sofrendo pesadas baixas. Porém, o inimigo continuava entrincheirado em território da Mongólia.
Nas batalhas daquelas semanas, sob o escaldante calor estival da estepe quase desértica, participaram dezenas de milhares de homens e um elevado número de aviões, tanques, blindados e peças de artilharia de cada lado. O poeta e escritor soviético, Konstantin Simonov – para quem Khalkhin-Gol constituiu a estreia na frente de batalha e que, como correspondente de guerra do jornal Krasnaia Zvezda (Estrela Vermelha), cobriu toda a II Guerra Mundial, acompanhando as tropas soviéticas até Berlim –, lembraria mais tarde, em «Longe no Oriente(7), a intensidade das batalhas naquele Verão de 1939, referindo, por exemplo, jamais ter presenciado, ao longo da sua vasta experiência de guerra, uma tal quantidade de aviões de combate no ar em simultâneo – «várias centenas de cada lado» –, como em Khalkhin-Gol.
Com as linhas de abastecimento a 700 quilómetros da frente de batalha, o Exército Vermelho montou uma extraordinária operação logística por terra, determinante para o sucesso da operação.
O impasse em Khalkhin-Gol foi quebrado a 20 de Agosto: antecipando-se aos planos de um novo ataque japonês, as tropas comandadas por Jukov lançaram uma manobra fulminante de larga escala, surpreendendo as tropas ocupantes. Em três dias de intensos combates as forças japonesas foram cercadas. A batalha prosseguiu até dia 31 quando as últimas posições japonesas em território da Mongólia foram completamente derrotadas. O 6º Exército Imperial do Japão acabara de sofrer uma derrota humilhante em Khalkhin-Gol na véspera do início da II Guerra Mundial. Com a ajuda da União Soviética, a soberania e integridade territorial da Mongólia tinham sido defendidas. A 15 de Setembro, Tóquio assinava o acordo de cessar-fogo e dois anos depois(8) reconhecia o traçado da fronteira da Mongólia.
A dura lição recebida na Mongólia aplacou definitivamente a veleidade agressiva do Japão em relação à URSS. A derrota categórica do Japão foi um dos factores determinantes que impediu que a URSS fosse obrigada a combater em duas frentes na guerra de 1941-45. A confirmação de que o Japão não tencionava atacar a URSS, transmitida de Tóquio por Richard Sorge (que avisara a direcção soviética para o início da operação Barbarossa pela Alemanha nazi, desencadeada a 22 de Junho de 1941) permitiu, nos dias especialmente críticos do Outono de 1941, a transferência para os arredores da capital soviética de importantes reforços militares provenientes do extremo oriente – entre os quais algumas das unidades que tinham combatido em Khalkhin-Gol.
A derrota nazi na batalha de Moscovo, comandada por Jukov – impedindo a queda da capital e contendo a progressão alemã –, marcaria o início da contra-ofensiva da URSS e da reviravolta na II Guerra cujo destino seria decidido em Stalingrado.
No caminho da imortal vitória do povo soviético sobre o nazi-fascismo, que configurou o mundo e a ordem internacional que chegaram aos nossos dias, Khalkhin-Gol constituiu, como recorda Jukov(9), uma valiosa escola de internacionalismo e experiência de combate.
O seu exemplo não foi em vão e não será esquecido.

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(1) Veja-se os exemplos da vergonhosa resolução anticomunista do Conselho da Europa (2006) e da recente moção aprovada pela Assembleia Parlamentar da OSCE que coloca em plano de igualdade a Alemanha nazi e a União Soviética. O processo de grotesca mistificação da história e branqueamento dos crimes do fascismo revela-se também – assumindo contornos ainda mais inquietantes – na reabilitação oficial ou semi-oficial das legiões nazis e forças fascistas e nacionalistas que colaboraram com o ocupante nazi que se verifica – contando com a conivência silenciosa de Bruxelas – em diversos países da UE, com especial destaque para as três repúblicas bálticas e também na Ucrânia.
(2) Depois da segunda e definitiva declaração da independência e a vitória da revolução, em 1921, sob a influência e com o apoio da gesta revolucionária russa e da URSS, constituída no final de 1922, a República Popular da Mongólia foi proclamada em 1924.
(3) Em 1936, o Japão assinou com a Alemanha nazi o Pacto Anti-Comintern dirigido contra a URSS e o movimento comunista internacional.
(4) Cabe aqui igualmente recordar que depois da revolução de Outubro, em 1918, as tropas japonesas desembarcaram em Vladivostok e participaram na ocupação da região de Primórie no extremo oriente da Rússia, que terminou apenas após a vitória do poder soviético na guerra civil russa.
(5) A versão electrónica da 12.ª e mais recente edição das memórias de Jukov – Jukov G. K., Vospominania i Razmychlenia (Memórias e reflexões), em dois tomos, Moscovo, Olma-Press, 2002 – está disponível em http://militera.lib.ru/memo/russian/zhukov1/index.html
(6) O tratado de amizade e aliança entre Moscovo e Ulan-Bator, renovado em 1936, previa a ajuda militar da URSS à Mongólia em caso de agressão externa.
(7) Konstantin Simonov, Sobranie Sochinenia (Colectânea de Obras), tomo 10, Moscovo, Khudojestvennaia Literatura, 1984.
(8) Em Abril de 1941 a URSS e o Japão assinaram um tratado de não-agressão.
(9) Diferentemente da guerra de 1939-1940 na Finlândia.


in Avante 2009.11.05
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sábado, maio 16, 2009

O assalto no Leste


O assalto ao Leste

Diz-se que na política não há coincidências. Não o foi certamente a realização pela UE em Praga, nas vésperas do 64.º aniversário da vitória sobre o nazi-fascismo, assinalado dia 9 de Maio nos países da antiga URSS, de duas iniciativas de monta na frente activa do Leste. A Cimeira da Parceria Oriental, reunida dia 7 de Maio, através da qual Bruxelas pretende atrelar seis ex-repúblicas soviéticas (Arménia, Azerbaijão, Bielorrússia, Geórgia, Moldávia e Ucrânia) e a minicimeira energética, pomposamente designada «Corredor do Sul – nova Rota da Seda», realizada no dia seguinte, cuja peça central é o gasoduto Nabucco, velho projecto dos EUA e UE para garantir fornecimentos alternativos à Rússia desde as jazidas dos países do Cáspio e Ásia Central.
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Lembre-se que em toda a tortuosa geografia dos corredores energéticos, ditada pelos objectivos políticos e geoestratégicos mais profundos do imperialismo e não por apregoados critérios de racionalidade económica – atente-se que um dos grandes produtores mundiais de gás, o Irão, é excluído do mapa –, um dos países chave para o «livre-trânsito» é precisamente a Geórgia, onde na mesma semana a NATO iniciou exercícios militares que se prolongarão até 1 de Junho. Restará saber se tão longa permanência militar na república do Cáucaso, quando permanece bem viva a memória da guerra de Agosto na Ossétia do Sul, visa segurar o debilitado regime de Saakashivili em Tbilissi ou, ao invés, assegurar a transição controlada para o senhor(a) que se segue de uma oposição encartada, reeditando os acontecimentos de 2003 que sacrificaram o anterior vassalo, Shevarnadze.

Da UE multiplicaram-se as garantias do carácter benigno e mesmo altruísta da «parceria oriental» que acena com a magra quantia de 600 milhões de euros até 2013 aos seis países associados, tal como as explicações descartando qualquer «mentalidade de bloco» ou o objectivo de estabelecer esferas de influência... A própria declaração conjunta da cimeira de 7 de Maio revela porém o contrário. Entre os eixos da parceria oriental de Bruxelas contam-se a tutelar cooperação nos planos da «Democracia e boa governação», a «integração e convergência Económicas com as políticas sectoriais da UE» e a [malfadada] «segurança Energética».
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A obstinação de Washington e Bruxelas no crescentemente crucial capítulo energético roça as margens do irracional ao insistir num gasoduto para o qual não existem fornecedores. A recusa do Casaquistão, Uzbequistão e Turquemenistão em assinar o acordo do «corredor do Sul», indiciando novamente a opção preferencial nas ligações em direcção a Norte e Leste, transforma o Nabucco num projecto-fantasma.

No xadrez do imperialismo são múltiplas as frentes que se cruzam na questão dos corredores do Cáucaso. Num plano mais vasto, um dos objectivos centrais do «assalto a Leste» é furar o domínio energético do capitalismo russo no espaço pós-soviético e limitar a sua projecção europeia, aprofundando ao mesmo tempo o «cordão sanitário» e o anel militar ofensivo dos EUA e NATO que se fecha em torno das fronteiras da Rússia, não desistindo do inconfessável objectivo de uma mudança de poder que abra as portas à livre exploração dos recursos daquele que o III Reich proclamou o seu «espaço vital».
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O isolamento do Irão e a mudança de regime e a questão do «controlo» do Médio Oriente, tal como a guerra pela hegemonia na Ásia Central e a pressão sobre a China e as suas fontes de abastecimento energético são outros dos factores sensíveis num contexto de acelerada rearrumação de forças global e profunda crise sistémica do capitalismo.
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Não é pois inocente a tentativa de «obnubilação geopolítica» dos conflitos em curso, visando excluir ou subverter a luta dos trabalhadores e povos. Como alguém já referiu a «geopolítica
não é mais do que a ideologia da expansão imperialista».
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in Avante - 2009.05.14
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quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Dez anos de Revolução Bolivariana

• Luís Carapinha

Para a revolução bolivariana as maiores batalhas e desafios estão ainda pela frente


A vitória alcançada pelas forças bolivarianas no referendo venezuelano à emenda constitucional do passado domingo possui um valor estratégico para o processo de mudança vivido no país sul-americano. A possibilidade de Chávez se candidatar às eleições presidenciais de 2012 e continuar o projecto de transformações iniciado há precisamente uma década é reconhecida como uma necessidade histórica por todas as forças progressistas e revolucionárias na Venezuela e apoiada pelo seu povo. Há a consciência de que a revolução bolivariana está longe de ser um dado irreversível. A necessidade do seu aprofundamento qualitativo na via anti-imperialista e anticapitalista é hoje mais premente do que nunca, face ao avolumar do caudal de contradições internas próprio de um complexo processo de ruptura desigual e inacabada e, também, às crescentes ameaças e impactos resultantes da crise económica mundial do capitalismo. Porém, nenhuma lacuna, tarefa não concluída, erro político, problema ou desafio poderão diminuir a importância para o povo venezuelano, especialmente as suas classes mais desfavorecidas, destes dez anos de revolução bolivariana e o seu significado para a vaga de emancipação que se formou na América Latina.
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Apesar da ofensiva permanente do imperialismo e do boicote dos grandes media, as conquistas da revolução são uma realidade tangível: uma Constituição, democrática e progressista, que abriu amplos espaços de participação popular; a redução das taxas de pobreza, desigualdade social e desemprego; a erradicação do analfabetismo e a extensão da oferta educativa a todos os níveis; o acesso de milhões de venezuelanos, antes discriminados, à saúde; a rede nacional de mercados alimentares a preços subsidiados; a nacionalização de facto da estatal petrolífera e de sectores estratégicos da economia; a recuperação das mãos do latifúndio de cerca de 30% das terras produtivas (metade das quais foi distribuída aos camponeses) são apenas alguns dos aspectos mais destacados. Mas talvez a conquista mais transcendente seja a recuperação da dignidade pelo povo da pátria de Bolívar. Ligada a uma repolitização da sociedade e à colocação, massiva, da exigência do socialismo na ordem do dia – numa época de contraciclo e refluxo mundial das forças progressistas e revolucionárias. Certamente que, num ambiente de intensa luta de classes, o perigo do voluntarismo e sobretudo do arrivismo político e ideológico não poderá ser subestimado, precisando ser correctamente enquadrado e combatido. Assim como as práticas de corrupção, esbanjamento de recursos, burocratismo e ineficácia para as quais alertou o presidente venezuelano no comício de festejo da noite de domingo.
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Para a revolução bolivariana as maiores batalhas e desafios estão ainda pela frente. O velho estado da IV República não está vencido, tal como – apesar dos colossais esforços empregues – o modelo económico baseado na renda petrolífera, com todos os factores de deformação social inerentes. E os EUA prosseguem a estratégia de militarização e ingerência na região.
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Mas o caminho já percorrido através de 14 vitórias eleitorais (apenas uma derrota no referendo constitucional de 2007), com permanente mobilização e protagonismo populares, representa uma oportunidade extraordinária para a acumulação de forças. O fortalecimento das forças revolucionárias em condições de assegurar o aprofundamento do processo de libertação nacional na via de uma transição que aponte ao socialismo representa um repto histórico.Na Venezuela e América Latina cresceu o sentimento da necessidade de soberania associada à superação do capitalismo. A unidade de acção e direcção de todas as forças que compõem a revolução bolivariana, assinalada pelo PCV como um dos factores da vitória de dia 15, é um sinal de confiança para as lut as que se seguem.
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in Avante 2009.02.19
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sábado, setembro 06, 2008

O perigoso novelo do Cáucaso

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O perigoso novelo do Cáucaso

Demorará tempo a assentar a poeira no Cáucaso, após o acto de agressão protagonizado pelo regime protofascista de Saakashvili, a 8 de Agosto, contra a Ossétia do Sul. A operação relâmpago para alterar o estatuto da autoproclamada república independente através do terror, destruição e a morte, algo impensável sem o apoio dos EUA, fracassou estrepitosamente – a provocação militar georgiana acabou por abalar irremediavelmente o anterior status quo. A Rússia respondeu com o reconhecimento da independência da Ossétia do Sul e da Abkházia, objectivo pelo qual Tsinkhvali e Sukhumi se bateram ao longo das últimas duas décadas.
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O mesmo não se poderá dizer da perigosa estratégia de confrontação lançada pelo imperialismo norte-americano contra a Rússia (o plano B ou A?), que se eleva agora a um novo patamar. A ofensiva em que, não obstante as diferenças de tom e método, se alinham os EUA, NATO e UE coloca também à prova, na região do Cáucaso em particular, frágeis equilíbrios no seio da própria multinacional Federação Russa.

É assim evidente que os actuais desenvolvimentos do conflito no Cáucaso galgam as margens da questão «específica» da auto-determinação da Ossétia do Sul e Abkházia, para confluirem no mar da crescente tensão e choque entre os EUA/NATO/UE e a Rússia. No âmago deste processo encontra-se a irreprimível lógica exploradora e expansionista do imperialismo expressa no alargamento da NATO e tentativa de forçar a inclusão da Geórgia e Ucrânia, na criação de novas bases militares e instalação do escudo antimíssil dos EUA na Europa de Leste (visando aniquilar o equilíbrio nuclear estratégico existente) e nas desesperadas tentativas para assegurar direitos extra-territoriais sobre recursos e corredores energéticos.

Importará, ao mesmo tempo, aprofundar o conhecimento da complexa realidade histórica do Cáucaso e as raízes dos conflitos da Ossétia do Sul e Abkházia. E lembrar – algo que a perversa campanha mediática em curso olimpicamente ignora – os efeitos desastrosos do desmantelamento da URSS na sua génese e manifestação.
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Foi sob o aplauso das «democracias ocidentais» que o exacerbado nacionalismo georgiano se converteu num dos agentes activos do enfraquecimento e desagregação soviéticas, rompendo os equilíbrios internos e reactivando velhas disputas étnicas. Eram os tempos da divisa «A Geórgia para os georgianos» do antigo presidente Gamssakhurdia, em que Saakashvili hoje se inspira, da abolição das autonomias e das fratricidas campanhas militares e de limpeza étnica. Em 1991, a Geórgia boicotou o referendo sobre a URSS em que 75% dos soviéticos disseram sim à sua manutenção. Mas na Abkházia este realizou-se e o sim venceu. O resto é conhecido. A 8 de Dezembro de 1991, era dado o golpe de misericórdia nos destinos do Estado soviético, fundado em 1922. E a figura, que emergiu, então, como o seu principal coveiro – Iéltsin – apressava-se a comunicar a boa nova – em «primeira mão» – a Bush (pai), para só depois informar o já totalmente desqualificado inquilino do Krémlin, Gorbatchov, do inconstitucional – e contrário à esmagadora vontade popular – desenlace.

No plano internacional, uma nova linha parece ter sido traçada. Para onde caminhará, no presente contexto mundial de agravamento de contradições e crise sistémica do imperialismo, uma Rússia capitalista que almeja deixar definitivamente para trás 20 anos de subserviência e (re)afirmar-se como potência, é uma questão que subsiste.
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Na certeza, de que a escalada de tensões em que apostam os EUA e a NATO, só aumentará os riscos à paz e segurança do planeta, ameaçando empurrar a humanidade em direcção ao abismo.
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Avante
Nº 1814
04.Setembro.2008
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Cáucaso, 100 etnias para 21 milhões de habitantes, a maior densidade etnolinguística do mundo

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segunda-feira, abril 07, 2008

Iraque - Resistência está viva



Bastou a insurgência iraquiana intensificar as suas acções para que se percebesse uma verdade já sabida, embora ocultada pela manipulação mediática: sem o apoio militar e a repressão terrorista da coligação ocupante americano-inglesa o poder fantoche iraquiano encarnado pelo primeiro-ministro Maliki rapidamente se desmoronaria.

O facto é profundamente incómodo e inquietante para o imperialismo norte-americano. As areias iraquianas tornaram-se um atoleiro para os EUA, que em 2007 aumentaram o seu contingente militar para 160 mil soldados.

Há 15 dias, ao assinalar os cinco anos da invasão do Iraque, Bush declarara que os EUA estavam no caminho certo para obter uma grande vitória (Reuters, 19.03.08). A situação no terreno, onde as tropas «aliadas» já perderam mais de 4300 efectivos, desmente uma vez mais as suas palavras.

A escassos 10 meses da mudança de inquilino na Casa Branca, o desespero em mostrar o «progresso» dos seus sequazes precipitou a operação Ataque dos Cavaleiros, «conduzida» pelas forças iraquianas financiadas e armadas pelos EUA. A demonstração de força dirigida contra a desobediência civil convocada pelo denominado Exército de Mahdi, conotado com o líder político-religioso Moqtada al-Sadr, estendeu-se de Bagdad às principais cidades de maioria xiita do sul do país e contou com a participação, por terra e ar, de militares norte-americanos e britânicos. Mas após dias de intensos combates, centenas de vítimas e expirado o ultimato decretado por Maliki (que chegou a considerar os insurrectos «piores do que a Al Qaeda», Reuters, 29.03.08), a verdade é que as forças da resistência iraquiana detinham o controlo total ou parcial de Bassorá, Nassiriya e outras importantes cidades, o que atesta o apoio popular de que dispõem.

Importa ainda salientar que o recuo entretanto anunciado (segundo o USA Today.com de 30.03 negociado no Irão por representantes e aliados do partido de Maliki sob a mediação de um general iraniano...) não significou uma entrega das armas pela resistência e foi precedida pela reafirmação de Moqtada do objectivo estratégico do fim da ocupação do Iraque.

A luta pela libertação do Iraque é uma batalha longa e espinhosa. Uma batalha também de resistência contra o tempo, com os seus altos e baixos, avanços e recuos. A resistência à brutal ocupação e a recuperação da soberania e independência são um direito legítimo e sagrado do povo iraquiano que não pode ser confundido com o terrorismo.

O imperialismo sabe-o. Por isso, a invasão criminosa do Iraque – que dados insuspeitos indicam ter já provocado mais de um milhão de mortos entre a população iraquiana – não poupa esforços no sentido de criminalizar a resistência e apagar o seu carácter nacional. Nomeadamente através da multiplicação de massacres e da instigação da violência sectária.

Uma situação que só poderá ser ultrapassada através de esforços gigantescos de união das forças resistentes e superação das divisões e barreiras de cariz étnico e confessional.

Realidade que reforça a importância da solidariedade. Porque, tal como referido no acto público do PCP de denúncia desta guerra injusta, a resposta da resistência dá «objectivamente um contributo para a contenção dos intentos de dominação global do imperialismo norte-americano e para a esperança num futuro de paz, justa e duradoura, respeitador da soberania dos povos e da integridade territorial dos países».

Resistir é já vencer e o povo iraquiano resiste.
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in Avante 2008.04.03
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sábado, janeiro 05, 2008

A desestabilização do Paquistão




O mundo transitou para 2008 sob o signo da turbulência. A desconfiança e o nervosismo tomam conta das praças financeiras internacionais, expondo as fragilidades da descomunal economia de casino que molda o capitalismo contemporâneo. A gravidade da alastrante crise financeira global é tal que o primeiro-ministro britânico Gordon Brown na sua mensagem de Ano Novo já a qualifica como «o desafio mais imediato para todas as economias». No reverso da moeda, intensifica-se a escalada ofensiva e o aventureirismo do imperialismo, aumentando ainda mais o grau de imprevisibilidade e risco no mundo, onde as desigualdades e desequilíbrios não param de se agravar.
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Neste contexto, a morte violenta de Benazir Bhutto no crepúsculo de 2007 surge, mais além da carga simbólica prenunciadora da tormenta, como marca impressiva do carácter sumamente perigoso, instável e de profunda incerteza da época actual.

Internamente, o assassinato «previamente anunciado» mas não evitado da líder do Partido do Povo do Paquistão (PPP) é mais uma acha na desestabilização e divisão do Paquistão que atravessa uma das piores crises desde a sua fundação em 1947.
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Mas a convulsão deste país de cerca de 165 milhões de habitantes não deixará de se repercutir em toda uma vasta região, do Médio Oriente à Ásia Central e sub-continente indiano, incluindo as fronteiras da China e os «contrafortes» da Rússia.
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Esta situação só confirma o carácter explosivo da famigerada estratégia da «guerra ao terrorismo», encabeçada pelos EUA. Mais: é ao imperialismo e à sua prática intervencionista e neocolonialista que têm que ser assacadas as principais responsabilidades da realidade que conduziu à morte de Bhutto e coloca em risco a unidade do país e região.

O crescente desgaste e desprestígio do regime ditatorial do Presidente Musharraf obrigam Washington a congeminar novos cenários. A apologia da democracia, repetida exaustivamente, soa a farsa intolerável. A aparente tentativa de impor um «pacto» de divisão do poder, permitindo o regresso do exílio de Bhutto, fracassou. Na véspera do atentado fora revelada a existência de um acordo com o Governo de Musharraf para instalar no país tropas dos EUA, no âmbito do combate à insurgência afegã (The Washington Pos, 26.12.07), possibilidade também defendida pela líder desaparecida do PPP.
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A história mostra porém que a estratégia de dominação do imperialismo se move sempre em múltiplos tabuleiros. É oportuno lembrar aqui a extensa teia promíscua que num passado recente juntava a CIA, a ditadura e secreta paquistanesas (ISI), o obscurantismo e fundos sauditas, os mujaedine e, depois, o regime dos taliban. Agora decretou a cruzada universal contra o «inimigo de estimação» ainda há pouco municiado, impondo a engrenagem da «guerra ao terrorismo» e avançando na profusão de regimes fantoches. No Afeganistão anuncia-se a próxima nomeação de um «super-pretor» da NATO, actuando em nome da ONU! E quando o manto desta não é possível, envereda pelo caminho da mais aberrante ilegalidade, como é o caso actual do Kosovo.

Estratégia de dominação que só a luta das massas poderá inverter. O factor chave da mudança no sentido de um mundo melhor reside na sua acção e no protagonismo das forças políticas que representam as suas genuínas aspirações de justiça, progresso e soberania. No Paquistão, como no mundo.
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in Avante.2008.01.03
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imagem retirada daqui

hildegard.kittel/Budismo

quinta-feira, novembro 01, 2007

Bolívia, a conspiração confessa-se


* Luís Carapinha
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J Jorge Quiroga chefia o partido de direita Podemos (Poder Democrático e Social), principal força da oposição ao actual governo progressista boliviano de Evo Morales. O homem que se arvora agora em paladino do Estado de direito e das liberdades, inimigo assumido da polarização ideológica esquerda/direita e neófito do combate à pobreza - que Morales derrotou por uma ampla margem nas presidenciais de 2005 -, até já conduziu, durante um ano, os destinos da Bolívia, após a renúncia, em 2001, do agonizante general Hugo Banzer, de que era vice-presidente. Banzer, recorde-se, em cuja folha de serviços se inclui um golpe de Estado fascista, a ilegalização dos partidos políticos e a participação na cruenta Operação Condor que os EUA, sob supervisão directa do Nobel da Paz de 1973, Henry Kissinger, arquitectaram para a América do Sul. Que, noutra época e já sob as vestes da democracia, voltou à Presidência, sempre para velar pelos mesmos interesses da oligarquia e submissão a Washington. Os interesses que têm hoje em Quiroga o seu principal porta-voz.
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Foi esta personagem que esteve há dias na Venezuela, a convite de um dos partidos da direita local, produzindo declarações que ajudam a perceber a dimensão do conflito de classes hoje existente na América Latina e o ódio que alimenta a grande burguesia boliviana.

Em declarações ao El Universal (14.10.07), o líder do Podemos apresentou o seu país como «satélite do império chavista». Para Quiroga, os avanços populares na região constituem um «radicalismo retrógrado», resultado do «maior projecto político (...) da história da América Latina (...) que emana da Venezuela», e está centrado no «factor de perturbação» que representa Chávez, o «político mais influente da história contemporânea da América Latina». Um projecto de «expansão regional a largo prazo», face ao qual o líder da reacção boliviana preconiza, cinicamente, uma luta «sem violência, nem radicalismos», recorrendo curiosamente a um lema particularmente caro, nos dias que correm, ao ideário e acção de uma certa “esquerda pós-moderna”.
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De que modo a direita está a implementar este princípio nas condições bolivianas já se está a ver: paralisando a Assembleia Constituinte, decidida por uma maioria popular, enveredando pela via aberta do separatismo e da fragmentação do país, organizando e armando, à boa maneira fascista, hordas que se dedicam a actos de agressão e vandalismo; não hesitando em utilizar todos os meios de sabotagem económica, ao mesmo tempo que facilita a agressão mediática contínua, inseparável da cortina de silêncio, em torno da realidade boliviana, que o monopólio dos média ergue para o exterior. Para estes “democráticos” fins, e os restantes facilmente adivinháveis, não faltam os dólares da USAID que jorram aos milhões. Um cenário que está muito longe, aliás, de ser inédito.

Na Bolívia não está em curso uma revolução socialista. Mas a eleição de Morales, na senda da insurreição popular de 2003, em torno da guerra do gás – factor catalisador de um conjunto bem mais vasto de reivindicações populares –, permitiu, apesar das suas contradições e fragilidades, o avanço de um processo de orientação popular e anti-imperialista, com múltiplas expressões, desde a nacionalização do sector gasífero e o projecto de erradicação do latifúndio, à incorporação na ALBA e aos programas sociais em desenvolvimento. São estas as razões que explicam hoje a (re)emergência da agenda golpista e do visceral ódio de classe - do “mais vale morto do que vermelho” -, confirmando que no altiplano está também em cima da mesa o próprio futuro da emancipação latino-americana.
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in Avante - Nº 1769 - 25.Outubro.2007
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Foto - Eleições na Bolívia

sábado, outubro 06, 2007

O sorriso do Dalai


* Luís Carapinha


Entre nós esteve, durante vários dias, o Dalai Lama. Foi o próprio a explicar: «A minha visita não é política, é espiritual e para dar ensinamentos. Às vezes tenho uma agenda política – em Bruxelas ou em Washington – mas aqui vim com o meu sorriso.» (Público, 13.09.07). Mas tal como acontecera na sua última estadia, em 2001, o líder budista gozou de uma vastíssima e privilegiada cobertura na comunicação social. E de facto, o que veio à tona da água nesta sua passagem, para lá do cultivado ambiente místico e da ladainha em torno da defesa dos «direitos humanos», da «não-violência» e da «espiritualidade», foi mais uma ocasião sublime para manter viva a estafada «causa do Tibete» e alimentar a campanha anti-China, tal como ela hoje se perfila internacionalmente a partir dos grandes centros de decisão. Ocasião aproveitada até ao tutano pela corte mediática lusa e toda uma classe política, desde a direita a uma esquerda light de «múltiplas causas», para dar largas à «causa única» do anticomunismo, recorrendo à mentira e desinformação e ao pleno exercício do oportunismo e desonestidade políticas.

Sobre o Tibete, importaria, pois, recordar, neste tempo em que a política de dois pesos e duas medidas é norma e a subversão do direito internacional tenta fazer lei, que se trata de uma região autónoma no seio da China, da qual faz parte há 700 anos. Assim aparecia já nos relatos de viagem de Marco Polo e assim era aquando da proclamação da República por Sun Yat-sen, em 1912. Aliás, nunca, desde o séc. XIII, nenhum Estado do mundo reconheceu o Tibete como Estado independente. Outra coisa será, na linha das invasões britânicas fracassadas de 1888 e 1903 e do ulterior apoio das potências imperialistas ao movimento separatista estimulado entre os lamas e nobres tibetanos, a utilização do movimento separatista e da questão do Tibete para combater a revolução chinesa e impedir a reunificação do país. São os tempos em que a reacção tibetana fundava, com o apoio da CIA, o “Exército de Defesa da Religião”, desencadeando a guerra de 1959-61. Uma guerra civil que opôs as classes empenhadas na preservação do brutal regime teocrático-feudal então vigente, apoiadas pelo imperialismo interessado na divisão da China, às forças do governo popular e dos monges, nobres, escravos e servos comprometidos com a unidade da China e a reforma democrática do Tibete. Poucos dos que escutaram o Dalai Lama no Pavilhão Atlântico saberão que em 1959 os lamas da camada superior e os nobres leigos e seus agentes representavam apenas 5% da população do Tibete, enquanto os servos e escravos correspondiam a 95%. É claro que hoje o Dalai Lama sacode as sombras do passado, negando o regresso ao Tibete antigo, e dizendo mesmo não querer – para mágoa dos seguidores mais incondicionais – a sua independência.

Não nos iludamos, porém. O velho cordão umbilical que o une ao imperialismo mantém-se. A melíflua agenda política do Dalai Lama prosseguirá dentro de momentos. Para já na Alemanha onde se reúne dia 23 com Merkel. Certamente em prol do «respeito pelas regras do jogo internacional». E da política de contenção da China, nas suas múltiplas cambiantes, da venda de armas a Taiwan pelos EUA à manipulação das preocupações ambientais. Porque se o mercado do império do meio oferece hoje mais- valias irrecusáveis ao grande capital, a verdade é que a afirmação da China soberana e do seu papel no mundo assustam muito.

in Avante 2007.09.20

domingo, setembro 23, 2007

O sorriso do Dalai

* Luís Carapinha
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Entre nós esteve, durante vários dias, o Dalai Lama. Foi o próprio a explicar: «A minha visita não é política, é espiritual e para dar ensinamentos. Às vezes tenho uma agenda política – em Bruxelas ou em Washington – mas aqui vim com o meu sorriso.» (Público, 13.09.07). Mas tal como acontecera na sua última estadia, em 2001, o líder budista gozou de uma vastíssima e privilegiada cobertura na comunicação social. E de facto, o que veio à tona da água nesta sua passagem, para lá do cultivado ambiente místico e da ladainha em torno da defesa dos «direitos humanos», da «não-violência» e da «espiritualidade», foi mais uma ocasião sublime para manter viva a estafada «causa do Tibete» e alimentar a campanha anti-China, tal como ela hoje se perfila internacionalmente a partir dos grandes centros de decisão. Ocasião aproveitada até ao tutano pela corte mediática lusa e toda uma classe política, desde a direita a uma esquerda light de «múltiplas causas», para dar largas à «causa única» do anticomunismo, recorrendo à mentira e desinformação e ao pleno exercício do oportunismo e desonestidade políticas.
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Sobre o Tibete, importaria, pois, recordar, neste tempo em que a política de dois pesos e duas medidas é norma e a subversão do direito internacional tenta fazer lei, que se trata de uma região autónoma no seio da China, da qual faz parte há 700 anos. Assim aparecia já nos relatos de viagem de Marco Polo e assim era aquando da proclamação da República por Sun Yat-sen, em 1912. Aliás, nunca, desde o séc. XIII, nenhum Estado do mundo reconheceu o Tibete como Estado independente. Outra coisa será, na linha das invasões britânicas fracassadas de 1888 e 1903 e do ulterior apoio das potências imperialistas ao movimento separatista estimulado entre os lamas e nobres tibetanos, a utilização do movimento separatista e da questão do Tibete para combater a revolução chinesa e impedir a reunificação do país. São os tempos em que a reacção tibetana fundava, com o apoio da CIA, o “Exército de Defesa da Religião”, desencadeando a guerra de 1959-61. Uma guerra civil que opôs as classes empenhadas na preservação do brutal regime teocrático-feudal então vigente, apoiadas pelo imperialismo interessado na divisão da China, às forças do governo popular e dos monges, nobres, escravos e servos comprometidos com a unidade da China e a reforma democrática do Tibete. Poucos dos que escutaram o Dalai Lama no Pavilhão Atlântico saberão que em 1959 os lamas da camada superior e os nobres leigos e seus agentes representavam apenas 5% da população do Tibete, enquanto os servos e escravos correspondiam a 95%. É claro que hoje o Dalai Lama sacode as sombras do passado, negando o regresso ao Tibete antigo, e dizendo mesmo não querer – para mágoa dos seguidores mais incondicionais – a sua independência.
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Não nos iludamos, porém. O velho cordão umbilical que o une ao imperialismo mantém-se. A melíflua agenda política do Dalai Lama prosseguirá dentro de momentos. Para já na Alemanha onde se reúne dia 23 com Merkel. Certamente em prol do «respeito pelas regras do jogo internacional». E da política de contenção da China, nas suas múltiplas cambiantes, da venda de armas a Taiwan pelos EUA à manipulação das preocupações ambientais. Porque se o mercado do império do meio oferece hoje mais- valias irrecusáveis ao grande capital, a verdade é que a afirmação da China soberana e do seu papel no mundo assustam muito.
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in Avante 2007.09.20

domingo, julho 01, 2007



Os trilhos do «escudo» imperialista

É óbvio que os EUA não tencionam abrir mão da sua hegemonia


* Luís Carapinha
Em mais um episódio das tensões existentes, NATO e Rússia não chegaram a acordo para a revisão do tratado das Forças Convencionais na Europa (FCE). A sua última versão permanece por ratificar pelos países da Aliança, que colocam a exigência ad hoc de retirada das tropas russas da Geórgia e Moldova. Numa altura em que os EUA instalam bases militares na Roménia e Bulgária e a NATO actualiza as suas metas expansionistas, o desequilíbrio de forças existente na Europa é por demais evidente. Entretanto, na frente estratégica do escudo antimíssil, o secretário da Defesa dos EUA confirmou aquilo que a visita de Bush à Polónia, logo após a reunião do G-8, já tinha indicado: que os EUA prosseguirão os planos de instalação deste sistema ofensivo na Europa, apesar da ambígua proposta de Pútin de partilha do radar no Azerbaijão. Coisa que, complementarmente, os EUA até nem enjeitariam, atendendo à importância que Washington atribui ao Cáucaso.
É óbvio que os EUA não tencionam abrir mão da sua hegemonia e procurarão aproveitar todas as fragilidades do adversário. No contexto da enorme pressão militar, política e económica exercida sobre a Rússia, nenhuma manobra táctica poderá iludir o carácter ofensivo e as profundas implicações deste projecto dos EUA para a segurança e integridade territorial da federação Russa e a própria estabilidade europeia e mundial.
Se o pilar europeu do sistema global antimíssil – que tem como alvo principal não assumido o potencial dissuasor russo – ocupa o centro das atenções, já o seu vector asiático - invocando a pretensa ameaça norte-coreana mas que de facto tem na mira a China -, tem sido praticamente ignorado. Isto quando se sabe que a Austrália planeia juntar-se ao sistema de defesa antimíssil (DAM) que os EUA desenvolvem com o Japão, na perspectiva do seu alargamento a todo o leste asiático. E que os EUA não descartam a possibilidade de incluir Taiwan no sistema de DAM. O que aliás está em sintonia com as prioridades da aliança militar nipo-norte-americana, que definiu aquele território chinês como «objectivo estratégico comum», de reforço da linha geral de «contenção» da China.
A ser implementado, o ambicioso projecto de DAM dos EUA (que num futuro próximo prevê também a militarização do espaço) converter-se-á num poderoso instrumento de dominação global e de modelação de uma ordem internacional favorável ao imperialismo e aos interesses do grande capital transnacional. Tal como hoje a projecção além-fronteiras da NATO ou a emergência das parcerias militares estratégicas dos EUA com o Japão e a Austrália. Não é pois por acaso que a Austrália anunciou a duplicação das suas forças no Afeganistão, onde em resposta à crescente resistência enfrentada se intensificam as atrocidades das forças invasoras contra a população civil. Afeganistão que, por sinal, se afigura também como potencial local para a instalação de um radar antimíssil na Ásia Central... Quanto ao Japão, que se prepara para enviar para o lixo a (violada) constituição pacifista de 1947, a hora é de neo-militarismo e aprofundamento da aliança militar com os EUA.
O caso japonês é certamente paradigmático do quadro regressivo que atravessa as potências centrais do mundo capitalista: a concentração da riqueza e o retorno ao padrão social de aprofundamento de grandes desigualdades sociais e progressão da pobreza, o relançamento da política intervencionista e a glorificação do passado colonialista são aqui alguns dos seus aspectos relevantes.Uma dinâmica imperialista à escala global que, a não ser travada pela luta dos povos e trabalhadores, conduzirá o mundo a um novo patamar de instabilidade, redobrando as ameaças à paz e à vida no planeta.
in Avante 2007.06.21
Gravura - Capitão América - criação de Joe Simon e Jack Kirby

sexta-feira, abril 20, 2007


ONU, golpe de misericórdia?





Começou mal o mandato do novo secretário-geral da ONU: Ban Ki Moon

Em Bruxelas, primeiro destino da sua tournée internacional inaugural, o responsável da ONU encontrou-se na última semana de Janeiro com os máximos representantes da UE e da NATO, não enjeitando a oportunidade para enfatizar a importância da cooperação da ONU com ambas as organizações supranacionais. São particularmente graves as suas afirmações após se reunir com Jaap de Hoop Scheffer, secretário-geral da NATO. Agradecendo o contributo da NATO «para a paz e estabilidade (…) no Afeganistão, Kosovo ou em África, em estreita coordenação com a ONU (…)» e asseverando que «falamos a uma só voz» (RIA Novosti, 24.01.07), Ki Moon destacou como «objectivos comuns» das duas organizações «a paz, a segurança, a prosperidade e a protecção dos direitos humanos no mundo» e anunciou que «estamos muito comprometidos em trabalhar muito estreitamente no futuro» (EFE, 24.01.07).

Ainda antes da viagem, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros sul-coreano que sucedeu a Kofi Annan, já dera mostras do seu cunho, ao defender a diminuição do estatuto do departamento de Desarmamento da organização, e provocar uma reacção negativa do Movimento dos Não Alinhados.

Estranhamente, tão ostensivas e escandalosas declarações passaram quase «clandestinas» na generalidade dos media. E, no entanto, raras vezes um secretário-geral das Nações Unidas terá ido tão longe na assunção do papel instrumental da organização ao serviço da projecção de uma nova arquitectura mundial imperialista, à medida das necessidades e interesses do grande Capital e das potências dominantes.

Impõe-se pois a pergunta: será que Ban Ki Moon se esqueceu que na base dos processos de «cooperação» que enaltece estão a humilhação da organização a que preside, a brutal violação da Carta da ONU e dos seus princípios básicos por parte da política dos EUA, da NATO e UE, e que essa sim é uma das causas principais da grave situação humanitária e de «segurança» existente? Veja-se o Kosovo, onde precisamente nestes dias a NATO se apressou a aplaudir o plano do representante da ONU, Ahtisaari, que não só eterniza a presença da força militar (KFOR) estacionada no protectorado como delega a tutela política deste na UE, através de um representante com poderes discricionários. Que a leonina e arquimoderna fórmula de «independência condicionada» para o Kosovo – com direito, inclusive, a assento na ONU – vá contra a garantia da «integridade territorial» da Sérvia expressa na resolução 1244 do CS da ONU, parece ser questão irrelevante nesta altura do campeonato…

Obviamente, que Ban sabe e bem que cada vez mais a ONU se converte em «carro-vassoura» humanitário e entidade legitimadora a posteriori das guerras e atrocidades desencadeadas pelo imperialismo. Os exemplos da Jugoslávia, Afeganistão e Iraque falam por si.

Mais: sob a sombra das ameaças da nova escalada belicista dos EUA, as suas palavras enquadram-se perigosamente na actual estratégia da NATO que alarga a sua composição e área de intervenção, estabelece parcerias militares globais (Austrália, Japão, Coreia do Sul) e assume novas funções políticas em clara sobreposição e subordinação da própria ONU.

A crise da ONU não deixa de ser expressão do agravamento das contradições estruturais do capitalismo e do aprofundamento da crise política e militar. O que está realmente em causa não é a possibilidade ilusória de, por si só, mudar a correlação de forças mundial a partir da «reforma» da instituição fundada em 1945. Mas, ao invés, a perspectiva real de uma estocada final nos princípios básicos consagrados na sua Carta e a sua gradual transmutação em apêndice de uma nova ordem totalitária e neocolonial. Nunca como hoje foi tão vivo o espectro da defunta Sociedade das Nações...

Só a luta dos trabalhadores e dos povos, e a vontade e coerência políticas de Estados soberanos poderão contrariar e inverter o cenário sombrio que reverte da «comunhão» entre Scheffer e Ki Moon.


Artigo publicado na Edição Nº1732 do AVANTE 2997.02.08
Cartoon - Banegas

terça-feira, abril 17, 2007


«Escudo» antimíssil, ameaça à Paz


«
Nas últimas semanas, o plano dos EUA de criação de um «sistema global» de defesa anti-míssil (DAM) conheceu novos e vertiginosos desenvolvimentos nas frentes política e militar.

Em Fevereiro, os Governos de Varsóvia e Praga, ignorando a opinião das populações dos seus países, reafirmaram o apoio à colocação de mísseis interceptores na Polónia e dum sistema de radar na República Checa. No mesmo mês, os EUA concluíam a deslocação para as ilhas Aleútes, nas proximidades da linha de fronteira russa no Mar de Bearing, do maior radar do mundo baseado numa plataforma marítima. Fazendo tábua rasa dos alertas que soam de Moscovo advertindo contra uma nova corrida armamentista à escala mundial, Washington não só admitiu ainda estender a DAM a outros países, como revelou, no início de Março, a intenção de incluir também o Cáucaso no seu roteiro (afigurando-se a Geórgia como candidato favorito).

Simultaneamente, e na altura em que crescem os indícios de que os círculos pró-NATO se preparam para relançar em força a sua agenda política na Ucrânia, surgem notícias sobre a possível cooperação com Kiev na esfera da DAM. Isto depois do secretário-geral da NATO ter-se recentemente pronunciado a favor da adesão da Sérvia, Geórgia e Ucrânia à Aliança.

É patente o registo agressivo e desestabilizador crescentemente assumido pela orientação de «cerco à Rússia» do imperialismo norte-americano. A feroz e primária campanha russofoba agitada aos sete ventos por toda a casta de ideólogos (e práticos) do «elo fundamental transatlântico» – os mesmos que ainda ontem se acotovelavam na primeira fila da exaltação das «virtudes» da restauração capitalista e dos crimes «democráticos» de Iéltsin – vem confirmá-lo.

Em Moscovo recorda-se hoje a «promessa» de que a NATO não se moveria para Leste um milímetro que fosse...

Uma situação que, não obstante divergências manifestadas no seio da UE, virá substancialmente agravar a divisão política do continente, traçada antes de mais pelo alargamento da NATO.

Convém ter presente que o «escudo» anti-míssil que os EUA, acenando com irreais e hipotéticas ameaças provenientes de «Estados párias», apelidam de «defensivo» é na realidade a versão contemporânea da famigerada iniciativa de defesa estratégica (vulgo «guerra das estrelas») do tempo de Reagan. A sua instalação pelos EUA, após o abandono unilateral em 2002 do tratado ABM, visa o objectivo muito concreto de aniquilar o equilíbrio nuclear estratégico ainda existente, assente na dissuasão recíproca, abrindo a possibilidade de desferir um ataque nuclear «impune». Sobre o assunto, a revista norte-americana Foreign Affairs publicou há cerca de um ano um artigo em que não só se proclama o «início da era da supremacia nuclear americana», como se antevê o momento em que os EUA estarão em condições de, num primeiro ataque, destruir os arsenais estratégicos da Rússia e China. Perspectiva que Robert Gates parece corroborar. No mês passado, ao apresentar no Congresso a proposta de orçamento militar record dos EUA para 2008, de 716,5 mil milhões de dólares, o chefe do Pentágono invocou, acima de tudo, a indefinição e incerteza da situação na China e Rússia.

Razões para, na altura em que se assinala o quarto aniversário da criminosa invasão do Iraque, recolocar a pertinência do reforço da luta pela paz e da resistência aos obscuros planos de dominação planetária do imperialismo.

in AVANTE 2007.03.15