A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
Mostrar mensagens com a etiqueta Islão. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Islão. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, fevereiro 14, 2011

"O Ocidente esquece seus vizinhos árabes", diz escritor sírio


Mundo | 13.02.2011

O escritor sírio Rafik Schami vive na Alemanha desde 1971. Em entrevista à Deutsche Welle, ele comenta a onda de protestos no mundo árabe e critica as posturas hesistantes da UE e dos EUA em relação à região.

Deutsche Welle: Em seu romance Die dunkle Seite der Liebe (O obscuro lado do amor), de teor parcialmente autobiográfico, o protagonista Farid luta contra represálias de um regime autocrático, mas sem sucesso. Por que essa consciência da necessidade de justiça, liberdade e democracia envolve as sociedades do Oriente Médio como um todo exatamente agora, de tal forma que surgem até movimentos de massa a partir daí?

Rafik Schami: Muita coisa aconteceu. Por um lado, os governantes ficaram, de fato, 30, 40 anos sem fazer nada. Isso foi se acumulando e as mentiras perderam, com o tempo, sua credibilidade perante a maioria da população. No início, apenas cidadãos críticos – intelectuais talvez, professores universitários e jornalistas – percebiam que tudo era mentira. Mas a maioria é sempre lenta. Até que entendam, é preciso de tempo.

Por outro lado, os meios de comunicação de massa sofreram uma revolução. O intercâmbio crescente de informação levou a uma concentração do ódio. A pobreza, a humilhação e a postura fraca dos soberanos frente à nação – que pensam, acima de tudo e de forma brutal, no enriquecimento próprio – contribuíram. Reunindo tudo isso, poderia-se explicar por que isso tudo está acontecendo agora e não aconteceu há 10 ou 20 anos. 

Em sua obra, você denuncia o profundo marasmo cultural e as incongruências tanto em sua terra natal, a Síria, quanto em outros países árabes. A mudança política, que observamos ali no momento, é uma mudança de toda a sociedade ou apenas fogo de palha, que vai se apagar daqui a pouco?

Para não ser ingênuo, é preciso cogitar as duas possibilidades. Há sempre a possibilidade de um retrocesso. Sempre houve revoluções que se autodevoraram e se transformaram em ditaduras sangrentas. Mas os egípcios criaram uma nova alternativa. Como povo antiquíssimo, eles conduziram, pela primeira vez na história da humanidade, uma revolução pacífica, com o apoio de oito a nove milhões de cidadãos, que agora reconhecem o quanto são capazes de agir.

Esses cidadãos carregam agora as flores que brotam, como na primavera, dessas novas conclusões. Mas para que daí surjam frutos, é necessário abelhas, como sabemos em analogia ao universo das plantas. E é preciso haver ajuda de fora e situações favoráveis. Esses jovens não só deixaram para trás os intelectuais, como também ignoraram todos os partidos.

Jovens egípcios tomaram a frente em prol de mudançasBildunterschrift: Jovens egípcios tomaram a frente em prol de mudanças
.
Se os partidos fossem sinceros, eles precisariam admitir que estão ficando defasados. Quais serão os efeitos disso na consciência da população? Ainda não se pode dizer. Só é possível esperar que tudo não acabe em uma guerra civil. Para um povo que destituiu um ditador de forma pacífica, o conceito da "paz" é muito fértil.

Acabamos de ver que o impulso da revolução veio diretamente do povo, dos jovens. Os países ocidentais não intervieram. Como você vê o papel do Ocidente na região depois dos últimos acontecimentos?

Para ser sincero, acho o papel do Ocidente vergonhoso, principalmente essa hipocrisia dos EUA. De súbito, eles ficam preocupados com a liberdade e tal. E eles nos repreendem diante da possibilidade de que a Irmandade Muçulmana possa assumir o poder. É tudo mentira. A Irmandade Muçulmana representa uma força política de aproximadamente 10%. Ou seja, eu não iria agora questionar a democracia porque um partido mais à direita governa.

No Egito, há uma ampla gama de todas as forças políticas: religiosas, nacionalistas, liberais, socialistas, independentes, mentes absolutamente livres, talvez também anarquistas. Esses são os egípcios e o Ocidente fica olhando. Há três semanas, as pessoas lutam por meio do bem mais precioso da democracia, ou seja, através das manifestações pacíficas. E ninguém lhes ajuda. As pessoas percebem que se o Ocidente quisesse ajudar, reagiria de outra forma.

Na sua opinião, o Ocidente passou tempo demais observando e apoiando Estados árabes autocráticos?

Sim, mas acredito que nem tenha sido com más intenções. Acho que o Ocidente confia rápido demais nos governantes; confia demais no silêncio tumular, que impera nesses países; confia rápido demais que o consumo poderia mudar alguma coisa. Isso é um lado, mas o Ocidente – e me refiro aqui, em primeira linha, à Europa – esquece muito rapidamente que os países do Mediterrâneo são seus vizinhos.

Nicolas Sarkozy e Ben Ali, em 2008: 'apoio constrangedor', diz Schami 
.
A Itália está localizada em frente à Tunísia e ao Norte da África. Aqui ainda não se tem de forma alguma a consciência, de que aquilo que acontece lá, também diz respeito ao Ocidente. Quando se vê como os governantes em todos os países europeus, não somente na Alemanha, reagem, e quando se vê como a França apoiou Ben Ali até o último minuto, percebe-se o quanto a situação é estimada de maneira errônea. A imbecilidade dessa oferta a Ben Ali foi tamanha que dava para quase ter pena de Sarkozy.

Por muito tempo acreditou-se que os povos árabes não estavam preparados para uma democracia. E que só podiam escolher entre ditadura e Estado religioso. Qual é sua opinião sobre isso?

Já ouvi esse argumento com frequência e tive também meus medos, porque faço parte de uma minoria cristã. Mas, depois de um tempo, passei a não acreditar mais nisso. É sempre possível haver retrocessos, mas eles também podem existir em uma democracia. A população foi mantida quieta, anos a fio, sob mão de ferro. Os islâmicos e a Irmandade Muçulmana eram o único grupo protegido pela Arábia Saudita: com recursos financeiros, propaganda, treinamentos.

E o Ocidente via isso com prazer. Enquanto eles podiam ser instrumentalizados como anticomunistas, eram até cortejados. Mais tarde, as forças conservadoras autocráticas pareciam ser a única alternativa. Mas tudo aquilo que estava fermentando entre a população, isso a mídia não entendeu, nem a árabe, nem a europeia.

Rafik Schami (65) é um conceituado escritor sírio, radicado na Alemanha desde 1971. Entre suas obras mais conhecidas estão O obscuro lado do amor, de 2004, e O segredo do calígrafo, lançado em 2008.

Entrevista: Nader Alsarras (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque
.

sábado, fevereiro 05, 2011

Fogo e tempestade no mundo árabe por Henrique Rattner


blog da Revista Espaço Acadêmico

ISSN 1519-6186, mensal, ANO X


Posted: 05/02/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colunista da REA
por HENRIQUE RATTNER*
FEA/USP
.
A auto-imolação de um jovem tunisiano de 26 anos de idade em dezembro de 2010 foi o estopim de uma onda de protestos e revoltas contra as autoridades ditatoriais e opressores no mundo árabe que se estende desde o Atlântico até o Oceano Índico. São 320 milhões de pessoas que vivem no imenso território da África do Norte, de quase 11 milhões de km², divididos em países por fronteiras artificiais impostas pelos ex-colonizadores europeus nas primeiras décadas do século XX, outrora dominados pelos sultões turcos, a partir da distante Istambul. Com o desmoronamento do império otomano na primeira guerra mundial, França e Inglaterra dividiram entre si os espólios, impondo reis fantoches (Iraque, Jordânia) ou ditadores submissos aos interesses das metrópoles. Em todos esses países instalaram-se oligarquias que, ávidas de enriquecer, usurparam os recursos naturais e as rendas provindas do comércio exterior, enquanto mantiveram seus súditos na mais absoluta miséria.
.
Com o fim da era de colonização no período pós-segunda guerra mundial, a inexistência de instituições republicanas, a ausência de eleições e de liberdades civis levou a que o poder caísse nas mãos de ditadores militares, desde a Argélia, passando pela Líbia, Egito, Iraque e Síria, ladeados do lado ocidental pelo reino dos Marrocos e no oriente pelos monarcas autocráticos da Arábia Saudita, Kuwait e Emirados.
.
A partir da década dos oitenta do século vinte, os países da América Latina e do sudeste asiático derrubaram os regimes ditatoriais e iniciaram um período de democratização de suas instituições, com o estabelecimento do estado de direito, das liberdades civis e da imprensa. A principal conseqüência dessas transformações sociais e políticas foi um processo de crescimento econômico, alimentado por investimentos de capitais internos e estrangeiros, resultando em melhoria significativa das condições de vida, sobretudo da massa de pobres e carentes do mínimo para a sobrevivência. Outro resultado foi um processo intenso de mobilidade social ascensional que levou à incorporação das classes C e D ao mercado de trabalho e de consumo.
.
Essas transformações parecem ter passado despercebidas ao largo do mundo árabe, caracterizado por regimes autocráticos, ditatoriais e politicamente retrógrados, embora apoiados por razões econômicas e geopolíticas pelas potências ocidentais. As pressões acumuladas de insatisfação e revolta estouraram e se propagaram por toda a região na virada dos anos 2010/2011.
.
O movimento de protestos e de contestação dos regimes iniciou-se na Tunísia, após a morte de um jovem vendedor ambulante que teve sua banca de frutas confiscada, sendo ofendido e espancado pela polícia. Vinte e sete dias após o estouro das manifestações, o ditador Zine El Abidine Ben Ali fugiu do país para a Arábia Saudita, levando em sua bagagem uma e ½ toneladas de ouro, além de outros valores. As manifestações contra os regimes ditatoriais não pararam nas fronteiras da Tunísia. Ao contrário, violentos protestos irromperam na Argélia e, sobretudo, no Egito, governado com mão de ferro pelo general Hosni Mubarak, há mais de 30 anos e que transformou no epicentro da revolta das massas árabes.
.
O Egito é o mais populoso e, relativamente, o mais rico país da região, com quase meio milhão de forças armadas, generosamente supridas com armamentos modernos pelos Estados Unidos. O Egito vive, há mais de trinta nos, sob a lei de emergência que suspende os direitos civis e a liberdade da imprensa. Mas, tal como nos outros países da região, o Egito sofreu profundas transformações sociais que ocorreram nas últimas décadas, sem que a economia acompanhasse as demandas crescentes de uma população jovem, melhor educada e ansiosa de ingressar o mercado de trabalho e de consumo urbano. A expectativa de vida subiu de 51 para 70 anos; a mortalidade infantil caiu de 98 para 38 mortos para cada mil nascimentos e a proporção da população em idade escolar aumentou de 34% para 64%. Apesar de uma alta taxa de analfabetismo total de 40%, entre os jovens na faixa de 15-24 anos ela caiu para 10% entre os homens e 18% entre as mulheres. A população urbana cresceu de 30% para 60% de um total de 320 milhões, com a conseqüente concentração de favelados, mendigos e miseráveis que sobrevivem com menos de um  dólar por dia nas grandes cidades ( Cairo tem mais de 14 milhões de habitantes) enquanto as riquezas são concentradas nas mãos de uma elite parasita e corrupta que se apropria das receitas da exploração de gás, petróleo e do turismo. A taxa de desemprego é alta – varia de 10% no Egito a 30% na Líbia e na Mauritânia, aumentando a frustração e revolta dos jovens que observam o fausto e o consumo opulento das elites, expostos pelos meios de comunicação modernos, a TV via Satélites, os celulares, a internet e a onipresente Al Jazeera cujo noticiário está ao alcance das massas. Em vão os governantes árabes tentaram cortar as comunicações e os contatos com a TV e a internet. A revolta alastrou-se, convocando para a praça pública dezenas de milhares, apesar do toque de recolher imposto pelos governantes. Até esta data (3/2/2011), mais de quinhentas pessoas teriam sido mortas e mais de duas mil feridas pela polícia que ainda obedece às ordens do ditador, embora o exército tenha se contido de intervir como força repressora.
.
Paradoxalmente, o Egito tem perdido espaço e potencial econômico sob o governo do coronel Nasser e, posteriormente, sob Anwar Sadat, assassinado em 1981 e de Hosni Mubarak. Com poucas indústrias e uma agricultura de subsistência, a economia e o comércio do Egito perderam seu fôlego, apesar da nacionalização do Canal de Suez nos anos de 1950 e a construção pela ex-União Soviética da represa de Assua. Os elementos mais dinâmicos, empresários e profissionais, em sua maioria de origem estrangeira, foram expropriados e expulsos pelo governo sob Nasser, sem que houvesse substituição de empreendedores, comerciantes e profissionais formados pelo sistema educacional egípcio, com o conseqüente empobrecimento das massas.
.
Apesar de toda a efervescência e expectativas de uma democratização no maior e mais importante país da região, paira a sombra do regime dos aiatolás no Irã, herdeiro do regime autocrático do Xá Reza Palevi, derrubado em 1979 por um levante popular liderado pelos pregadores islâmicos. A ausência de partidos políticos e de uma sociedade civil organizada, participante efetivo de um processo político democrático, abriu um vácuo de poder  preenchido pelas milícias fanáticos que se regem pelas leis da Sharia, totalmente opostas ao estado de direito moderno. Observadores e analistas políticos discutem sobre o provável papel da Irmandade Muçulmana, maior grupo oposicionista que, apesar de proibido e perseguido pelo regime, ganhou 80 assentos no parlamento nas últimas eleições. A percepção e a consciência de que regimes não democráticos constituem uma anomalia no mundo moderno são muito agudas entre os jovens manifestantes, avessos a um regime militar e ditatorial. Apesar das advertências do ministro do Interior que as manifestações de rua não seriam mais toleradas, dezenas de milhares de pessoas desafiaram a ordem de recolher, colocando fogo em veículos e edifícios públicos. As massas parecem simpatizar com os manifestantes que clamam por democracia e saudaram a volta de Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz e cientista respeitado que chefiou a AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica, considerado como possível candidato à presidência de um governo de transição.
.
A cada dia, aumentam as pressões e manifestações populares o que levou o ditador a prometer pela TV, a sua saída do cargo, exigindo um prazo de seis meses durante o qual seriam convocadas novas eleições. Tanto Mohamed ElBaradei quanto os líderes da Irmandade Muçulmana recusaram e denunciaram o gesto como manobra de protelação. Numa nova manifestação na Praça Tahrir, o centro de Cairo, muitos participantes levantaram seus sapatos sobre suas cabeças, considerado um sinal extremamente ofensivo no mundo árabe. A cada dia que a crise se prolonga, a economia egípcia sofre pesadas perdas. O turismo, principal fonte de renda do país, praticamente parou e os estrangeiros lotam os aeroportos para retornar a seus países. O comércio fechou as portas e os preços de produtos alimentícios sumiram do mercado, provocando alta exagerada dos preços.
.
Outro problema que se vislumbra no horizonte com a provável mudança de governo no Egito, é a relação com o Estado de Israel. Durante quase trinta anos, após a assinatura de um tratado de paz com o Egito e a Jordânia, as hostilidades cessaram e voltou à tranqüilidade nas fronteiras, mesmo durante os conflitos armados com o Hezbola e o Hamás.  Também, sinal significativo de mudança na política externa, é a mensagem dirigida pela secretária de Estado Hilary Clinton ao ditador, cobrando uma “transição rápida e ordenada” do poder. Isto ocorre poucos dias depois da manifestação do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmando que “Mubarak não é um ditador”. Outra manifestação esdrúxula do mundo ocidental veio da França onde a ministra de Relações Exteriores propôs o envio de tropas francesas à Tunísia, para “restabelecer a ordem”!
.
Ao mesmo tempo em que crescem as manifestações no Egito, novos focos de protestos surgiram em outras capitais do mundo árabe, com destaque à auto-imolação de duas pessoas em Rabat, capital dos Marrocos. Do outro lado do mundo árabe, ocorreu a dissolução do governo e a destituição do primeiro ministro da Jordânia, pelo rei Abdullah 2º, acompanhada de promessas de reformas e o anúncio de convocação de eleições municipais, “o mais rápido possível” pela Autoridade Palestina, pela primeira vez em cinco anos. A TV Al Jazeera que cobre todos os acontecimentos no mundo árabe, continua a irradiar notícias, apesar da proibição do governo e o confisco dos equipamentos pela polícia.
.
Tal como na Tunísia onde o comandante-chefe das forças armadas  pronunciou-se a favor do movimento de protestos e de reivindicação por democracia, também no Egito, o exército – passivo diante as demonstrações – terá um papel fundamental na restauração da normalidade, ao garantir o estado de direito, o fim da corrupção e uma melhoria das condições econômicas.
.
Há décadas que os países árabes têm sua dignidade ferida por regimes corruptos, autocráticos e opressores. Entretanto, tanto os Estados Unidos quanto os países europeus sustentaram esses regimes, com receio de uma radicalização islâmica. Esta atitude míope parece estar mudando com o pronunciamento de Barak Obama que elogiou a “coragem e a dignidade” do povo tunisiano. Mas, a radicalização dos movimentos exige mais do que declarações retóricas a favor da democracia. A onda de protestos e manifestações que varre o mundo árabe proporciona ao ocidente a oportunidade de mudar sua atitude de hipocrisia de apoiar com bilhões de US dólares e fornecimento de armas sofisticadas aos regimes claramente obsoletos, necessitando urgentemente de reformas profundas. O pendulo da História está em pleno movimento, evidenciando ventos de mudança no mundo árabe, inclusive nas monarquias reacionárias da Arábia Saudita, dos Marrocos, da Jordânia e dos Emirados. Mas, as centenas de mortos e milhares de feridos em choques com as “forças da ordem” nas cidades de vários países pronunciam dias sombrios de incertezas e mais confrontações e violência no mundo árabe.
.

* HENRIQUE RATTNER é Professor da FEA (USP), IPT, membro da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL) e colunista da Revista Espaço Acadêmico.
.

quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Egito: “A grande peça” do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio? por Ubiracy de Souza Braga

blog da Revista Espaço Acadêmico

ISSN 1519-6186, mensal, ANO X

Posted: 02/02/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a), política internacional

UBIRACY DE SOUZA BRAGA*
Para Régia Agostinho, com admiração.
Desconfia duma nação de mercadores ambiciosos que na Índia negocia com as vidas e as coroas dos soberanos”. (Karl Marx & Friedrich Engels, Sobre o colonialismo. Vol. 1. Lisboa: Editorial Estampa, 1978, p. 106).
Este ensaio tem como parti pris um excerto publicado no New-York Daily Tribune, de 7 de janeiro de 1857, coisa rara, em termos da mediocridade dos jornais em geral no Brasil, e particularmente esses pasquins como temos o jornal O Povo, na cidade de Fortaleza, passados mais de 150 anos para não falarmos, no resto mundo:
“´desconfia duma nação de mercadores ambiciosos que na Índia negocia com as vidas e as coroas dos soberanos`. Para roubar um ladrão, arranja outro ladrão. Em Teerã, a capital da Pérsia, a influência inglesa é muito reduzida, porque, não contando com as manobras russas, a França ocupa uma posição proeminente e, dos três piratas, a Pérsia pode recear mais os britânicos. Neste momento, está a caminho ou talvez já tenha chegado a Paris uma embaixada da Pérsia, e o problema persa será o tema das disputas diplomáticas naquela cidade” (cf. Marx – Engels, 1978: 106).
Atualmente, 80 milhões de pessoas vivem no Egito. Dois terços são jovens com menos de 30 anos – e 90% deles estão desempregados; 40% da população vivem com menos de dois dólares por dia. É o país árabe mais populoso, têm liberdades políticas limitadas e graves problemas sociais, incluindo, pobreza, desemprego, forte preconceito étnico e racial por parte dos Estados Unidos da América – EUA, alta taxa de analfabetismo, além de vários escândalos de corrupção administrativa. Estatisticamente falando, o país ocupa a trágica 101ª posição, se refletirmos em termos de civilização, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU – Organização das Nações Unidas. As mobilizações populares na Tunísia, no Egito, no Iêmen e em outras regiões, são um alerta para o chamado “mundo desenvolvido”, se conforme entendemos, “desenvolver-se é vir a ser aquilo que se é”, e de fato seria um grande avanço para a “democracia como valor universal” (cf. Coutinho, 1972; 1979; 1984), se esta região que permanece “imersa na violência, [sobretudo a condição feminina], em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio de solidariedade internacional”, nesse momento da globalização política.
.
No exterior, se me permitem uma digressão, o letrado e escritor marxista, baiano, vivendo no Rio de Janeiro, ensinando em universidades, Carlos Nelson Coutinho viveu na Itália, em Portugal e na França. Ficou impressionado com as exigências de renovação que se manifestavam no chamado “eurocomunismo”. Aprofundou seu vínculo ético-político com o Partido Comunista Italiano – PCI e, relendo os escritos de Antônio Gramsci, do qual tem sido tradutor e ensaísta, donde extrairá além das posições teóricas do fundador do PCI, implicações e consequências que foram além do alcance das interpretações feitas na época em que o havia traduzido para o português. Isto é importante. Voltou ao Brasil no final de 1979, quando já se percebia a chegada da Anistia (que se supunha ampla, geral e irrestrita), com aqueles militares idiotas indo para o armário com seus pijamas sujos. Lançou, então, um ensaio que repercutiu como uma verdadeira “bomba” no pensamento político de esquerda brasileiro, intitulado: “A democracia como valor universal”, publicado no n.º 9 da revista Encontros com a Civilização Brasileira e depois incluído no livro A democracia como valor universal e outros ensaios, que teve duas edições, uma pela Livraria Editora Ciências Humanas e outra pela Salamandra.
.
É notável a sua weltanschauung quando afirma:
“a cultura universal, assim, não era algo externo, imposto pela força, à nossa formação social, mas sim algo potencialmente interno, que se ia tornando efetivamente interno à medida que (ou nos casos em que) era reconhecido e assimilado por uma classe ou bloco de classes ligado ao modo de produção brasileiro. Nascido no momento em que se forma o mercado mundial, e como consequência de sua expansão, o Brasil – desde sua origem – já é herdeiro daquele patrimônio cultural universal de que falam Marx e Engels. A história da cultura brasileira, portanto, pode ser esquematicamente definida como sendo a história dessa assimilação – mecânica ou crítica, passiva ou transformadora – da cultura universal (que é certamente uma cultura altamente diferenciada) pelas várias classes e camadas sociais brasileiras. Em suma: quando o pensamento brasileiro importa uma ideologia universal, isso é prova de que uma determinada classe ou camada social de nosso País encontrou (ou julgou encontrar) nessa ideologia a expressão de seus próprios interesses de classe” (cf. Coutinho, 1979: 23, grifos do autor).
Tema que pra quem não viveu esta questão, não sabe sobre a degradação humana, seja como fardo de farda, seja como “viado degradado nos campos de concentração” (cf. Arendt, 1980; 1999). Nesse ensaio – como notou Francisco Weffort (cf. Weffort, 1968a; 1968b; 1972), intelectual importante, dentro e fora da Academia, pela aproximação com Luís Inácio Lula da Silva – Lula – um marxista empreendia sobre a questão democrática uma reflexão mais vigorosa do que aquela que até então vinha sendo feita pelos liberais, mesmo os liberais radicais, conforme as acepções no âmbito da teoria política clássica, como Raimundo Faoro o fizera, no premiado ensaio Os Donos do Poder, de 1947, cito de memória. Fazia uma opção radical pela democracia, daí a ideia vulgarizada por Francisco Weffort no livro: “Porque democracia”?, que trazia com ela uma proposta de socialismo necessariamente nova, capaz de absorver elementos provenientes da tradição liberal, como a preservação dos direitos humanos e garantias individuais, o fortalecimento da cidadania, a proteção das minorias, o pluripartidarismo, o respeito à alternância no poder, etc. progênie de um “sindicalismo de resultados”, mas que não trataremos agora (cf. Braga, 1991).
.
Mutatis mutandis, no que se refere à história social do Egito propriamente dita teve uma grande evolução nas últimas décadas. As periodizações tradicionais, de “três reinos” autoritários e centralizados, intercalados por três períodos intermédios e seguidos de uma época de decadência, se têm respeitado por razões práticas e pedagógicas, mas não refletem de forma alguma, do ponto de vista estético, artístico, político e filosófico as vicissitudes da história interna do Antigo Egito. Na bibliografia tradicional é frequente, se seguirmos nessa direção, a utilização do conceito de “Império” aplicado à periodização de controle centralizado, mas o uso desta terminologia procede simplesmente de uma interdição da palavra alemã Reich utilizado por Lepsius, e cuja tradução correta é Estado. Mas em nosso modo de entender, ultrapassando a ideia clássica de Marx & Engels do Manifesto Comunista de 1848, enquanto “comitê executivo da classe dominante”, são e representam pois, todas e quaisquer práticas que produzem efeitos de poder político (Foucault, 1979; 1984). A bibliografia de língua inglesa e francesa, para sermos breves, por razões de suas próprias idiossincrasias utilizam os conceitos de Kingdom e de Empire respectivamente. Contudo, o termo reino seria o mais adequado para a realidade dos Egípcios que só tiveram de território conquistado fora do seu país durante o reino médio e novo e não em toda a duração da sua história até nossos dias.
.
Do ponto de vista ideológico, se quisermos concordar com o maior filósofo marxista desde a década de 1970, sem termos que ser precisos quanto a isso, o fato é nessa definição, “a ideologia é a relação imaginária do homem com as suas condições reais de existência” (cf. Althusser, 1970; 1972; 1974), pois está que diferenças importantes entre os levantes na Tunísia e no Egito têm sido apontadas: a) pelo articulista Gilles Lapouge, no jornal O Estado de São Paulo. Segundo ele, a primeira nação pretendia-se “moderna, laica e tolerante”; por lá, a educação é notável, com jovens muito cultos. Ou seja, “na Tunísia, são os jovens universitários que estão na origem dos tumultos”.
.
No Egito, quase não se veem estudantes. Estão lá, “mas na espera”. Mesmo reconhecendo afastamentos, no entanto, Lapouge admite as semelhanças entre os dois processos históricos. “Tanto no Cairo quanto na Tunísia, as ações são conduzidas por jovens e o fundamentalismo islâmico se mantém discreto”; b) já o jornalista Raphael Tsavkko Garcia pondera, talvez sem saber, aludindo à formulação ideal típica weberiana, pois admite que: “somente a legitimidade popular garante a sobrevivência de um regime. Chega um momento em que a pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases desse mesmo Estado”.
.
Contudo, com as aparentemente duras críticas ao “silêncio” da nossa mídia, que acaba por transformar o Egito quase em um “ilustre desconhecido”, para utilizarmos esse jargão, o também jornalista Eduardo Guimarães avalia, que: “os choques entre população” egípcia e as forças de repressão da ditadura estão sendo de um grande didatismo para a humanidade, ao deixarem claras as hipocrisias americana e midiática, como de fato no Brasil, que mantêm regimes contrários aos EUA, “sob fogo cerrado”, enquanto silenciam sobre os regimes simpáticos à potência decadente do Norte do hemisfério, por mais criminosos que sejam. A “Revolução de Jasmim” na Tunísia, os levantes no Egito e outros protestos políticos no chamado “mundo árabe” são o estopim de um modelo há muito esgotado. Talvez ponha em xeque tanto a capacidade de povos majoritariamente islâmicos de viver em democracia, quanto das grandes potências imperialistas e racistas como os EUA do ambiente internacional de aceitar os “produtos políticos” dessas sociedades. O que está em jogo aqui é a análise de conjuntura. Ou seja,
a l`aide d`une analyse objective des structures de la société capitaliste, Marx aurait démontré  que ces structures ´se transformeront nécessairement em structures socialistes. Lenine cite les passages que Marx avait déjà empruntés à son interprète russe de l`époque: Marx considérait la critique, non  comme la confrontation entre un fait et un ideal, mais entre un fait et un autre fait. La théorie doit `rendre fidèlement le véritable processos, et rien plus`, tandis que la perispective d`avenir, ou programme d`action, reste suffisamment ouverte, limitée à quelques indications générales, soucieuse de déceler les éléments déjà presentes, et qui donnoront naissance à la future société. ´Aucun marxiste n`a jamais fondé ses conceptions sócio-démocratiques sur autre chose que sur la concordance de la théorie avec la réalité, et sur l`histoire des conditions sociales et économiques donées´” (Fleisher, 1978: 281, grifado no texto).
O mundo Árabe se revolta: em 17 de dezembro, o vendedor de vegetais tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo depois que a polícia confiscou seus produtos. Bouazizi morreu semanas depois, tornando-se um mártir para multidões de estudantes e desempregados que questionavam as condições de vida no país. Após um mês de protestos nas ruas, em 14 de janeiro o presidente Ben Ali encerrou um período de 23 anos no poder e fugiu do país, criando uma situação inusitada: o vazio no poder. Pela primeira vez em várias gerações, um líder árabe caiu devido a protestos públicos, o que foi visto como um alerta para o restante da região, ainda dominada por regimes autocráticos. Na Argélia, no começo de janeiro, cinco dias de protestos violentos contra a carestia deixaram cinco mortos e mais de 800 feridos. O governo ordenou cortes nos preços dos alimentos básicos e prometeu continuar subsidiando o trigo, o leite e a eletricidade. Em 22 de janeiro, a tropa de choque da polícia dispersou uma manifestação pró-democracia proibida. Vinte pessoas ficaram feridas. Duas auto-imolações fatais e seis tentativas de suicídio com fogo foram registradas desde 14 de janeiro. O mauritano Yacoub Ould Dahoud ateou fogo ao próprio corpo em um protesto contra o governo em 17 de janeiro por estar “infeliz com a situação no país e furioso com o governo”.
.
No Sudão, um jovem sudanês de 25 anos que havia ateado fogo em um subúrbio de Cartum morreu em decorrência dos ferimentos. O descontentamento generalizado com a economia e a política no Norte do Sudão levou a protestos esporádicos nas últimas semanas. Na Jordânia, milhares de jordanianos tomaram as ruas de Amã e outras cidades do país em 14 de janeiro para protestar contra os preços das comodities em elevação, o desemprego e a pobreza. Em 16 de janeiro, mais de 3 000 sindicalistas, islamitas e esquerdistas jordanianos sentaram em frente ao Parlamento em protesto contras as políticas econômicas do governo. No dia 21, mais de 5 000 pessoas participaram da marcha após as orações semanais em Amã e em outras cidades jordanianas. Em Omã, por exemplo, duzentas pessoas protestaram em 17 de janeiro contra a carestia e a corrupção, um fato raro na monarquia do Golfo Pérsico. No Iêmen, a polícia iemenista dispersou centenas de manifestantes que cantavam slogans pró-Tunísia na Universidade de Sanaa, em 18 de janeiro.
.
A explosão do modelo político já era esperada por analistas políticos e mesmo que um ou outro regime consiga sobreviver aos levantes populares recentes, os governos não passarão sem reformas políticas. Sem reformas há revolução; sem sexo há traição. O paradigma, oriundo da chamada Guerra Fria e, recentemente, amplamente interligado aos atentados de 11 de Setembro às torres gêmeas nos EUA (cf. Braga, 2000; Braga, 2006a; Braga, 2006b), consiste do apoio direto americano a ditaduras que, por sua vez, ganharam a incumbência de reprimir movimentos radicais na região: os casos clássicos são Egito e Arábia Saudita. O falo americano penetra no próprio cu de onde ele nasceu. O governo de Hosni Mubarak, há três décadas no poder, e (USA) no mundo. Já esteve entre os três que mais recebiam, junto com Israel e Colômbia em “nuestra América” (cf. Plano Colômbia), agora figura na nada modesta quarta posição, atrás de Israel, Paquistão ­ outro país que recentemente foi integrado ao perigoso modelo dos regimes árabes –, e Afeganistão.
.
Hosni Mubarak teve como escopo a tradicional e muito influente Irmandade Muçulmana, organização islâmica extremamente popular em todo mundo muçulmano, mas banida da política egípcia pelo ditador. Para se ter uma ideia da influência da “Irmandade”, basta percorrer a tradição do islamismo radical, amplamente apoiada nos escritos dos clérigos egípcios. O puzzle aqui é que se Mubarak conseguiu durante os últimos 30 anos manter a Irmandade Muçulmana longe do poder, o fez com o desgaste gradativo da sua imagem não somente entre os partidários da organização mas também entre a própria população, que não vê com bons olhos um governo que reprime “movimentos islâmicos”, na falta de melhor expressão, ainda mais com o apoio de Washington DC. Ao mesmo tempo, como se não bastasse, o governo egípcio, com isso, alimentou um forte sentimento antiamericano. A política é assim, ou calça de veludo ou bunda de fora. No frigir dos ovos (dos homens ao que parece), a bunda está mesmo de fora.
.
Do ponto de vista da análise comparada, temos o caso semelhante da Arábia Saudita, também tradicional aliado americano, aonde a situação vai se refletir na ampla presença de nacionais do país no atentado ao World Trade Center. Dos 19 atores sociais terroristas, 15 eram sauditas, 1 era egípcio. Também em Riad, um governo com amplas relações com Washington não permite qualquer manifestação política fora de seu controle – e muitas vezes na Arábia Saudita, como no Egito, o termo “radical” é utilizado para evitar qualquer tipo de oposição ao regime oficial –, alimentando o ressentimento em relação à Casa de Saud, a família real. No chamado “mundo árabe”, talvez seja possível ver revoluções democráticas de forte conotação antiamericana, o que no mínimo, é bastante embaraçoso a qualquer ocupante da Casa Branca e à própria tradição política na América, vista na pena do autor de Da democracia na América (1835) que é um texto clássico de autoria de Alexis de Tocqueville sobre os Estados Unidos da América dos anos 30 do século XIX, descrevendo as suas virtudes e defeitos.
.
Como se não bastasse, problemas de aceitação no tabuleiro de xadrez internacional, tendem a aparecer após os supostos processos de democratização ainda em função do modelo político adotado. Na obra-prima do cinema sueco, Ingmar Bergman, autor de Det Sjunde Inseglet, com brilhante interpretação de Max Von Sydow, destaca que no século XV, um cavaleiro sueco volta de luta nas Cruzadas e encontra sua terra natal assolada pele peste negra; quando a morte lhe aparece, ele propõe um jogo de xadrez para adiar a sua hora. Trata-se de parábola existencial sobre a relação solitária e incerta que o homem tem por vezes com o próprio homem. Daí que, com a radicalização gerada e os ressentimentos em jogo, não será surpresa se posições mais radicais conseguirem alçar o poder por meio do voto popular.
.
Isso pode trazer instabilidade, mal comparando, no caso da política e das sociedades a outros governos árabes, alimentando o radicalismo nos contextos nacionais mais próximos, bem como questões de segurança para o estado de Israel, como já vimos noutra oportunidade. Ou seja, não somente há a possibilidade de se ter presente, no chamado “mundo árabe”, processos de democratização com forte conotação antiamericana, como os próprios produtos políticos dessa dinâmica podem gerar novos desequilíbrios ao cenário estratégico do Oriente Médio. Como o Hamas ganhou as primeiras eleições democráticas na Palestina, por exemplo, grandes favoritos para pleitos semelhantes no Egito e na Arábia Saudita são a Irmandade Muçulmana e seguidores obtusos de Osama bin Laden.
Bibliografia geral consultada
FLEISHER, Helmut, “Lénine et la Philosophie”. In: Histoire du marxisme contemporain. Tome 4: Lénine. Paris: Collection 10/18, 1978, pp. 281 e ss; FOUCAULT, Michel, A verdade e as formas jurídicas. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1979; Idem, “Genealogia e Poder”. In: Microfísica do Poder. 4a edição. Rio de Janeiro: Graal, 1984; MARX, Karl & ENGELS, Friedrich, Sobre o colonialismo. Vol. 1. Editorial Estampa, Estampa,1978; SAID, Edward W., Orientalismo: o orientalismo como invenção do ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 2003; ARENDT, Hannah, L` Impérialisme. Les origines du totalitarisme. Paris: Seuil, 1980; Idem, Eichmann em Jerualém. São Paulo: Cia das Letras, 1999; BRAGA, Ubiracy de Souza, Sindicalismo voltado para o futuro? Uma interpretação. Rio de Janeiro: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro – PUC-Rio, março de 1991; Idem, “´Café sem açúcar, dança sem par`: ego fictício e nova guerra no Afeganistão”. Fortaleza: UECE – Universidade Estadual do Ceará, 2000; Idem, “Bergman e o espelho da angústia contemporânea”. In: www://dapraianet. blogspot.com/2007; Idem, “A Questão Israelense-Palestina: histórias míticas?”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, Ce, 7 de outubro de 2006a; Republicado (I). In: DimensõesRevista de História da UFES – Universidade Federal do Espírito Santo. Vitória, n. 11, pp. 121 e ss., jul-dez. 2006b; Idem, “Pragmatismo e política: O 11 de setembro revisitado”. In: Jornal O Povo. Caderno Mundo. Fortaleza, 16 de setembro de 2006b; COUTINHO, Carlos Nelson, O Estruturalismo e a Miséria da Razão. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1972: Idem, “Cultura e Democracia no Brasil”. In: Encontros com a Civilização Brasileira. Vol. 17. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979: Idem, A Democracia como Valor Universal e outros ensaios. Rio de Janeiro: Editora Salamandra, 1984; WEFFORT, Francisco C., Classes Populares e Política (Contribuição ao Estudo do ´Populismo`). Tese de Doutorado. F. F. L. C. H/ USP. São Paulo, 1968; Idem, “El Populismo en la Política Brasileña”. In: Brasil Hoy. México: Siglo Veintiuno Editores, 1968; Idem, Sindicatos e Política. Tese de Livre-Docência. F. F. L. C. H/USP. São Paulo, 1972; ALTHUSSER, Louis, “Idéologie et Appareils Idéologiques d` Etat”. In: Pensée. Paris, jun. 1970; Idem, Montesquieu la Politique et L` Histoire. Paris: Presses Universitaires de France, 1972; Idem, Ideologia y aparatos ideológicos de Estado. Buenos Aires, Nueva Visión, 1974.

* UBIRACY DE SOUZA BRAGA é Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências (USP). Professor da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

Protestos no Egito – Blog acompanha em tempo real



por Gustavo Chacra
28.janeiro.2011 08:33:56
blog acompanha em tempo real os protestos contra o regime de Hosni Mubarak. Publicarei notícias e análises ao longo do dia. No Twitter @gugachacra
.
22h30 – Exército e Polícia – A Polícia foi mobilizada mais uma vez para as ruas do Cairo. Nos últimos dois dias, a segurança estava apenas nas mãos do Exército. Segundo analistas, os policiais seriam, na visão da população, os representantes de Mubarak. Os soldados, mais populares, da era pós-Mubarak. No sábado, quando houve aumento da violência urbana, os policiais fizeram de tudo para provar que, sem eles, o Cairo viraria o caos. Eles teriam inclusive envolvimento em saques, vandalismo e na libertação de presos. O temor desta segunda é de que comecem choques entre a polícia e o Exército
19h05 – Hillary Clinton – “Somos muito claros ao dizer pública e privadamente que as autoridades egípcias devem iniciar um processo de diálogo nacional que leve para uma transição em direção à democracia. O próprio presidente Mubarak disse isso outro dia, ao afirmar que daria passos para reformas democráticas e econômicas. Esperamos que isso aconteça”, disse a secretária de Estado, Hillary Clinton, em entrevista para a rede de TV CBS. Para a ABC, ela descartou a suspensão da ajuda militar de US$ 1,3 bilhões para o Egito neste momento e repetiu o pedido de democratização.
19h – Entrevista – Leiam entrevista com escritor egípcio no blog da Adriana Carranca
18h45 – Comentário Oposição no Egito - Falta à oposição egípcia um líder forte. O Nobel da Paz Mohammad El Baradei é respeitado, mas passou muito tempo fora do país, sendo desconhecido em partes do Egito. Ayman Nour, tradicional líder opositor, está com problemas de saúde e quase não aparece. Mesmo a Irmandade não tem uma grande figura. Agora há pouco, o Ayman Nour disse que ele e o El Baradei estão organizando uma comissão opositora. Vamos acompanhar
17h – Comentário Egito e o Irã – O Egito não pode ser comparado ao Irã pré-Revolução Islâmica. Há duas diferenças fundamentais. Primeiro, o Egito é majoritariamente sunita e o Irã, xiita. Entre os sunitas, não há um clero ou líder religioso como o aiatolá. Entre os xiitas, existe esta figura e a hierarquia. Em segundo lugar, não há na Irmandade Muçulmana uma liderança carismática como o aiatolá Khomeini no Irã
16h30 – Comentário “Estratégia Turca para o Egito”– Os Estados Unidos trabalham com a “estratégia turca” para o Egito. Os americanos querem uma redemocratização similar à da Turquia nos anos 1980 e 90, com a abertura sem a inclusão de partidos islâmicos. Além disso, o Exército se manteria com um pólo de força. Isso evitaria a chegada da Irmandade Muçulmana ao poder. Mas existem diferenças. Os turcos possuíam mais tradição democrática e não havia uma organização islâmica tão poderosa como a Irmandade. O AKP, atualmente no poder em Ancara, não pode ser comparado ao grupo egípcio. São moderados, mais próximos dos democrata-cristãos europeus.
16h – Comentário Israel e os acontecimentos no Egito – Israel deve ficar mais reticente em assinar acordos de paz com regimes autoritários caso os acontecimentos no Egito levem ao rompimento de relações entre os dois países. Claro, este cenário ainda está distante. Mesmo sem Mubarak, a cúpula militar egípcia é próxima dos israelenses. Com Omar Suleiman, o novo vice, as relações são ótimas. Mesmo um governo democrático poderia manter a paz. Porém poderia haver mais divergências, similares às da Turquia com Israel atualmente. Os dois países são aliados, mas os turcos criticam os israelenses abertamente. A segurança de Gaza está em risco
15h20 Comentário Irmandade – A Irmandade Muçulmana não é um grupo coeso. Há divergências internas sobre qual rumo a organização deveria tomar. Alguns defendem a atuação política. Outros são contra. O poder também é dividido entre a nova e a velha guarda. O uso da violência foi colocado de lado há anos. Mas, apesar destas diferentes visões, é a segunda instituição mais organizada do Egito depois do Exército. Em caso de vácuo de poder, tendem a ocupar espaço
15h15 – O Nobel da Paz e líder da oposição, Mohammad El Baradei participa de manifestações na praça Midan al Tahrir, a principal do Cairo. Apesar do toque de recolher, há dezenas de milhares de pessoas nas ruas
14h15 – Hillary Clinton “Os que estão no poder, começando pelo presidente Mubarak, seu novo vice-presidente, seu novo premiê, devem dar início a um processo de aproximação, criando um diálogo com ativistas pacíficos e representantes da sociedade civil  para o estabelecimento de um plano que atenda às reivindicações do povo egípcio”, disse a secretária de Estado. Além de frisar que haverá eleições em setembro, ela disse que o destino de Mubarak “está nas mãos dos egípcios”.
13h55 – Análise – Os países do Oriente Médio, muitas vezes colocados como se fossem um bloco homogêneo, apresentam diferenças nas suas questões domésticas, seus conflitos externos, na configuração de suas economias e na importância para os Estados Unidos e outras nações ocidentais. “Não dá para comparar o Iêmen com o Egito”, diz Reva Bhalla, diretora de Oriente Médio da agência de risco político Stratfor.
Apesar disso, segundo Marwan Mausher, do Carnegie Endowment for International Peace, os Estados Unidos sempre adotaram uma definição de “moderados e radicais baseando-se na postura diante do processo de paz entre israelenses e palestinos”.
Desta forma, a Síria, sendo um regime internamente quase idêntico ao do Egito, é alvo de sanções unilaterais dos americanos por dar apoio a grupos como o Hezbollah e o Hamas, além de ser acusada de sabotar as negociações de Israel com a Autoridade Palestina. Já os egípcios assinaram um acordo de paz com os israelenses há mais de três décadas e contribuem na solução do conflito. Em troca, recebem uma ajuda militar de US$ 1,3 bilhão por ano.
De acordo com Mausher, o mesmo se aplica para os países com petróleo. Tanto o Irã, que é persa e não árabe, como a Arábia Saudita desrespeitam os direitos das mulheres. Mas como os sauditas lançam iniciativas em defesa da solução de dois Estados, enquanto o presidente Mahmoud Ahmadinejad já deu declarações contra a existência de Israel, os iranianos são vistos como párias e os sauditas, como aliados.
“O histórico saudita nos direitos das mulheres e na diversidade política não indica uma postura moderada. Tampouco o Egito com o banimento de partidos. O sistema de governo jordaniano dificilmente se encaixaria em um perfil de moderação”, afirma Mausher. Mas todos são apoiados pelos americanos.
Segundo o especialista, os EUA se acostumaram ao longo do tempo com ditaduras seculares ou monarquias islâmicas absolutistas descritas como “moderadas”. Por este motivo, acabaram não pressionando pela democratização destes países. Na avaliação de Bhalla, da Stratfor, os americanos, assim como a população destes Estados árabes, possuíam uma “barreira de medo”, temendo o que viria depois do fim de um regime ditatorial. Este temor aparentemente se reduziu com os eventos na Tunísia e no Egito. Não haverá, necessariamente, um regime islâmico e há chance de democratização, dizem os analistas.
13h35 – El Baradei diz à CNN que a Irmandade Muçulmana concorda que o Estado não seja religioso. O Nobel da Paz também pediu que Mubarak deixe o poder hoje. Oposição egípcia diz que os EUA estão “do lado errado da história” ao não se posicionarem contra o regime
12h50 – Caças fazem sobrevoo baixo na praça Midan Al Tahrir, no centro do Cairo, onde se concentram as manifestações. Exército parece querer endurecer para reduzir os protestos. Em seguida, provavelmente forçariam a saída de Mubarak.
11h20 – Análise – “Os protestos levaram a administração de Obama de volta para a agenda da liberdade de Bush”, em defesa da democracia no mundo árabe, de acordo com Robert Danin, do Council on Foreign Relations, em Nova York.  O dilema americano, de acordo com analistas, é defender a democratização destes países sem que os governos emergentes sejam contrários aos interesses americanos na região, conforme ocorreu com a vitória do Hamas nas eleições palestinas, o fortalecimento de grupos pró-Irã no Iraque e um governo libanês com enorme influência do Hezbollah.
11h10 – Relatos de uma rede de TV do Egito indicam que o ministro do Interior e um empresários ligado a Mubarak teriam sido presos. O governo egípcio decidiu fechar a rede de TV Al Jazeera e revogou as credenciais de seus jornalistas
10h50 – Análise – Com seus aliados enfrentando dificuldades de Sanaa ao Cairo, a administração de Barack Obama começa a estudar adoção da agenda da liberdade para a democratização do mundo árabe, lançada e abandonada pelo ex-presidente George W. Bush em meados da década passada. A avaliação é de analistas que têm acompanhado os acontecimentos na Tunísia e no Egito.
10h30 (domingo) – Mubarak, em demonstração de força, visitou hoje base militar. Nas ruas, continuam os protestos. Juízes se juntaram às manifestações na praça Midan al Tahrir, no centro do Cairo, onde está o Museu Egípcio. Movimentos políticos pedem a formação de um governo de transição liderado pelo Nobel da Paz e ex-diretor da Agência Interrnacional de Energia Atômica, Mohammad El Baradei. Benjamin Netanyahu, premiê de Israel, disse torcer pela estabilidade no Egito e pediu respeito aos acordos de paz
Domingo
23h15 – muitos passageiros no aeroporto do Cairo tentam sem sucesso sair do país. Outros, nos EUA e na Europa, não conseguem embarcar. Há atrasos e cancelamentos nas duas direções
21h25 – Exército do Egito está dando um tempo para Mubarak sair, segundo análises de risco político que acabei de ler. E o prazo é curto
21h15 Comentário – A previsão neste ano era de que os três principais eventos no Oriente Médio seriam a tentativa palestina de buscar unilateralmente a sua independência, o risco de uma nova guerra civil no Líbano e mais pressões contra o programa nuclear iraniano. Claro, todos falavam das eleições do Egito, mas como cartas marcadas. E também da saúde do rei Abdullah da Arábia Saudita
Até acontecer a queda de Ben Ali na Tunísia e os acontecimentos de agora no Egito. Ainda não sabemos qual será a postura palestina. O Líbano está inacreditavelmente calmo nos últimos dias. Israel está mais preocupado com o Cairo do que com Teerã. E precisamos abrir os olhos para a Arábia Saudita. É a velha teoria do Cisne Negro que sempre falo aqui no blog. Os eventos mais importantes nunca são previstos por ninguém. Foi assim com a Revolução Islâmica no Irã em 1979 e o 11 de Setembro. Dois momentos que mudaram para sempre o Oriente Médio. Agora, vivemos mais um deles
21h – O governo está perdendo o controle no Egito. Há relatos de que vilas no Sinai estão nas mãos de tribos de beduínos. A fronteira com Gaza estaria sem polícia. Patrulhas são formadas para garantir a segurança de regiões nos subúrbios do Cairo. Países árabes enviaram aviões para retirar os seus cidadãos do Egito. Apesar do toque de recolher, os protestos prosseguem. Há temor de vandalismo em locais como o Museu Egípcio. Israel está em alerta diante da possibilidade de mudança de regime
19h20 – Duas discussões no momento – 1) Cenário pós-Mubarak  2) Saques nos subúrbios do Cairo
18h10 – Situação nos subúrbios do Cairo começa a ficar fora de controle durante a noite, com saques e violência. Não há presença da polícia fora do centro. Foram formadas algumas patrulhas nestes bairros afastados para combater a violência
18h05 – Análise – Michael Collins, do Middle East Institute, de Washington – “As nomeações de Shafiq para premiê e de Suleiman para vice podem ter ocorrido tarde demais. Deveriam ter sido realizadas na segunda-feira”
18h – Breaking News – Exército do Egito não está mais policiando a passagem de Rafah, entre o Egito e a Faixa de Gaza. Hamas começa a querer se envolver na crise egípcia e matém contatos com a Irmandade Muçulmana
14h15 – Suleiman, novo vice-presidente, não vai querer ser presidente. O candidato do regime e provável líder egípcio é Ahmad Shafik, novo premiê. O blog adiantou ontem em análise que ele seria o futuro nome forte do Egito. Os filhos de Mubarak já estão em Londres
14h10 - Ahmed Shafik será o novo premiê. O blog adiantou ontem no início do dia que ele era uma das figuras cotadas para substituir Mubarak

13h55 – Análise – A estratégia parece ser a seguinte – Mubarak fica no poder até a eleição de setembro ou renuncia em breve alegando problemas de saúde. Omar Suleiman, respeitado pelos EUA e Israel, assumiria o poder em uma transição para a democracia que afastaria o risco de a Irmandade Muçulmana tomar as rédeas em possível vácuo de poder – Omar Suleiman é chefe da inteligência e foi nomeado vice-presidente há poucos minutos
13h50 – Não descartem a possibilidade de que a escolha de Suleiman tenha sido o primeiro passo para o fim do regime de Mubarak. O novo premiê, muito bem relacionado com os EUA, assumiria o poder e poderia levar adiante reformas
13h35 – Israel não deve se envolver na questão egípcia. Qualquer declaração israelense a favor de Mubarak, que é um aliado, apenas enfraqueceria mais o regime
BREAKING NEWS 13h30 – Omar Suleiman, chefe da inteligência, será o novo vice-presidente. Ele sempre foi muito forte dentro do regime e cotado para substituir Mubarak. Possui ótimas relações com os EUA e Israel. Porém sempre teve uma imagem muito atrelada à do atual presidente egípcio. Em caso de deposição de Mubarak, teria dificuldades de conseguir apoio da população
13h25 – Análise – Os Estados Unidos tendem a voltar a defender a agenda da liberdade de George W Bush. A administração de Barack Obama não concorda mais com o status quo do mundo árabe, divido entre monarquias absolutistas e ditaduras seculares – apenas o Líbano e o Iraque possuem frágeis democracias. A expectativa é de que os acontecimentos na Tunísia e agora no Egito levem a uma terceira via, da democracia. Há o risco de o efeito ser contrário e governos hostis aos EUA, ainda que mais democráticos, emergirem. Outra possibilidade seriam novas ditaduras
13h16 – Os protestos prosseguem hoje no Cairo, apesar do toque de recolher ter sido antecipado para às 16h locais. A internet permanece bloqueada, apesar dos pedidos dos EUA para que fosse liberada
12h – A experiência de cobertura em tempo real ontem valeu a pena. É claro, gostaria de estar no Cairo, acompanhado de perto os acontecimentos, como fiz no Haiti, Israel-Gaza e Honduras. Mas, sem alternativa, montei o esquema de atualizar o blog e o twitter o tempo todo. E voltarei a qualquer momento.
Apenas para vocês saberem os bastidores, eu fiquei com a TV na CNN, acompanhava a Al Jazeera no iPad, seguia uma série de fontes de informação no Twitter, lia os principais órgãos de imprensa internacionais e conversava com amigos analistas. Muitos leitores deram informações fundamentais
Com estas fontes, o blog conseguiu dar em primeira mão a prisão do Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, em uma mesquita do Cairo. Também informamos antes dos outros o apedrejamento de Ayman Nour. No fim do dia, fomos na via errada, assim como muita gente, ao cogitar a possibilidade de que Hosni Mubarak havia sido destituído.
As análises ajudaram. O cenário da manhã se provou correto. Escrevi às 9h45 de ontem (6h45 aqui de Nova York) – Três cenários estudados pela agência de risco político Eurasia - 1) (Mais provável) Hoje é apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tende a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo 2) (pouco provável) Como na Tunísia, os militares chegarão à conclusão de que é melhor remover Mubarak do poder 3) (menos provável) Governo obtém sucesso na repressão aos protestos
Ainda é cedo para definir o que ocorrerá no Egito no médio prazo. Mais tarde, volto com mais posts.
BREAKING NEWS – Mubarak na TV- Demitiu seu gabinete, mas ele continua no poder. Segundo o analista Fareed Zakaria, na CNN, o Exército optou por apoiar Mubarak. “Não foi como a Tunísia”, disse, se referindo aos militares tunisianos, que se voltaram contra Ben Ali. Na avaliação dele o líder egípcio tentou se mostrar forte. “Mas pode ter sido um cálculo errado”, concluiu
BREAKING NEWS – Mubarak na TV do Egito – “Devemos ficar um ao lado do outro. Vi as demonstrações. Disse ao governo para dar a eles o espaço para que digam o que quiserem e precisarem. Depois disso, estava tão preocupado com os oficiais e os civis feridos. Era óbvio que as forças de segurança quiseram que os protestos fossem pacíficos e dentro da lei.
Como presidente deste país e com todo o poder que a Constituição me dá, garanto que estamos dando liberdade de opinião desde que respeitem a lei. Há uma linha tênue entre liberdade e caos. Estou do lado da liberdade de cada cidadão. Ao mesmo tempo, estou ao lado da segurança do Egito. Não vou deixar que nada perigoso ameace a paz e a lei.
Egito é o maios país da região. E está sob as leis de sua Constituição. Devemos tomar cuidado com qualquer coisa que provoque o caos. Nenhuma democracia pode permitir o caos. Estas manifestações queriam demonstrar as suas opiniões para ter mais empregos, para reduzir os preços e combater a pobreza. Eu sei sobre todos estes problemas que as pessoas estão pedindo. Trabalho para isso todos dias.”
20h20 – Agora, a Nile TV, do Egito, diz que Mubarak fará um discurso. O Canal 10 de Israel, por sua vez, afirma que Mubarak está em um avião a caminha da Suíça
BREANKING NEWS – PRESIDENTE DO PARLAMENTO IRÁ FALAR NA TV DO EGITO. HÁ ESPECULAÇÕES DE QUE MUBARAK PODE TER DEIXADO O PODER
20h – Conclusão – O dia termina no Egito com o cenário mais provável indicado no início deste post se realizando. Hoje foi apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tende a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo. Pode haver instabilidade e rachas no regime.
Os Estados Unidos adotaram uma posição contrária às atitudes do regime egípcio de reprimir os protestos e bloquear o uso da internet. O presidente Barack Obama sequer conversou por telefone com Hosni Mubarak. Porém o governo americano não defendeu a renúncia do líder egípcio e tampouco o fim do regime. Mubarak foi a grande peça ausente do dia. Ninguém sabe se ele está no Cairo ou Sharm el Sheikh, no Sinai. Prometeu fazer um discurso, mas desapareceu.
18h15 – Casa Branca – “Obama recebeu relatório durante a madrugada sobre a situação. Ficou 40 minutos discutindo a situação no Egito. Nossa embaixadora está em contato, mas o presidente não falou com Mubarak. Não é escolher entre uma pessoa ou um país. Forças de Seguranças e manifestantes devem evitar a violência. A internet e sites devem ser desbloqueados. As reivindicações devem ser atendidas pelo governo, através do diálogo. Liberdade de expressão e de social. Esta situação será resolvida pela população do Egito. É importante para o governo egípcio. Vamos rever a nossa assistência (financeira) com base no que ocorrer nos próximos dias.”
[galeria id=23]
17h15 - A Casa Branca decidiu adiar a divulgação de um comunicado oficial sobre a situação no Egito. Não foi dada uma explicação oficial. O líder egípcio, Hosni Mubarak, também anunciou que faria um discurso três horas atrás. Mas, até agora, ele não falou. Uma comissão da alta cúpula militar egípcia está em Washington para reunião estratégicas que já estavam previstas. Começam a crescer especulações de que Mubarak pode ser afastado nos próximos dias, dependendo de como o cenário evoluir
16h50 – As manifestações  prosseguem agora à noite no Cairo, Alexandria, Suez e outras cidades do Egito três horas depois do início do toque de recolher e com o Exército nas ruas. O presidente Hosni Mubarak anunciou ao redor das 18h no Cairo (14h no Brasil) que faria um discurso. Até agora, não apareceu. Tampouco está claro se ele está na capital egípcia ou no balneário de Sharm el Sheikh, onde costuma passar a maior parte do tempo. A Casa Branca deve divulgar um comunicado oficial sobre a situação nos próximos minutos.
15h50 Análise – Quem seria o homem que o regime indicaria para o lugar de Mubarak, se ele cair? O chefe da inteligência Omar Suleiman? Reva Bhalla, diretora de Oriente Médio da Stratfor – “Suleiman é muito respeitado, por ser o mais antigo. Era a solução de compromisso até pouco tempo atrás. Mas, agora, perdeu força. O mais poderoso, que foi chefe da Força Aérea e hoje atua como ministro da Aviação Civil, é Ahmed Shafik.”
BRAKING NEWS – Hillary comenta Egito – 15h12 – A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, defendeu reformas no Egito e pediu para que o regime de Mubarak permita as manifestações. A seguir, trechos do discurso dela -  “Estamos preocupados com o uso da força. Pedimos ao governo Egito que contenha as suas forças de segurança. Os manifestantes devem ter o direito de se expressar pacificamente. Defendemos os direitos universais, como o direito à associação e à expressão. O Egito deveria permitir as manifestações. O Egito não deveria cortar as comunicações e precisa entender que a violência não ajudará a superar as reivindicações do povo. O Egito deveria fazer reformas, disse o presidente Obama. E o Egito é nosso parceiro. Nós acreditamos fortemente que eles deveriam se envolver em reformas econômicas, políticas e sociais. Os egípcios deveriam viver em uma sociedade democrática com respeito aos direitos humanos”.
15h – Análise – A população não bate de frente com os militares. Significa, talvez, que eles ainda respeitem esta instituição, mas não o regime. Consequentemente, a possibilidade de o Exército remover Mubarak não pode ser descartada. Seria igual ao que ocorreu na Tunísia com Ben Ali. E o presidente ainda não apareceu para pronunciamento
14h45 – A Casa Branca divulgou comunicado afirmando que os EUA “estão muito preocupados com a violência no Egito. O governo deve respeitar os direitos sociais do povo egípcio e liberar as redes sociais e a internet”
Breaking News – Incêndio na sede do partido de Mubarak no Cairo – 14h30 – Há um incêndio na sede do Partido Nacional Democrata, de Hosni Mubarak. Há explosões perto do Ministério da Informação. O líder do regime deve falar nos próximos minutos
14h25 – Egípcios continuam nas ruas, apesar do toque de recolher imposto pelo regime, iniciado às 18h do Cairo (14h de SP). Todos aguardam o discurso de Hosni Mubarak, previsto para os próximos minutos. Há informações de que mais de mil pessoas foram detidas. O líder da oposição e Nobel da Paz, Mohammad El Baradei, está sob prisão domiciliar
BREAKING NEWS – MUBARAK FARÁ DISCURSO DAQUI A POUCO – Líder egípcio deve entrar em rede nacional, segundo a CNN. Deve ser nos próximos minutos. A decisão de enviar o Exército para as ruas foi do próprio Mubarak, segundo a mídia estatal. Pode ser uma tentativa de mostrar que o presidente ainda está no comando. Al Jazeera exibe cena de manifestantes tentando empurrar veículo militar para o rio Nilo. Toque de recolher foi imposto no Cairo
13h30 - Toque de recolher será imposto às 18h (14h de São Paulo) pela polícia em todo o Egito. Dificilmente será respeitado. A polícia está invadindo neste momento o prédio de operam diversas organizações de imprensa estrangeiras, ao lado da Midan Al Tharir. A Al Jazeera temem que sua transmissão seja interrompida. Manifestantes mais uma vez começam a fazer as orações islâmicas antes do pôr do sol diante dos policiais. É um dos símbolos da manifestações. Há incêndios em Alexandria. Em Suez, os manifestantes superam a polícia
Breaking News 13h10 – Exército saiu para as ruas do Cairo. Não está claro ainda se em grande quantidade e tampouco de que lado estão. Eles costumam ser mais respeitados do que a polícia pela população. Alguns celebraram os soldados. A posição dos militares será chave para definir o futuro de Mubarak. Segundo Ibrahim Arafat, da Universidade do Qatar, a presença dos militares significa que a polícia fracassou. O futuro está nas mãos dos militares. Na Tunísia, eles foram decisivos para a queda de Ben Ali. Mubarak está nas mãos do Exército.E confirmada a prisão domiciliar de El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz
12h46 - Informações não confirmadas ainda, mas que circulam por mídias sociais, indicam que El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz, teria sido levado da mesquita, onde estava detido, segundo a rede de TV Al Jazeera, para prisão domiciliar no Cairo. Repórter da BBC que apareceu sangrando no ar confirmou ter sido agredida pela polícia
12h37 – A pergunta principal no momento é sobre qual será a atitude do Exército diante das manifestações. Na Tunísia, Ben Alin renunciou no momento em que os militares se recusaram a combater os protestos. No Egito, até agora, a polícia permanece responsável por lidar com os levantes contra o regime de Mubarak. Conforme os protestos se intensificarem, talvez seja necessário recorrer aos militares. Por enquanto, o Exército se mantém calado. Um analista, na Al Jazeera, acabou de dizer que, se fosse integrante do partido do Mubarak, “estaria urinando nas calças”.
12h20 – Análise – Reva Bhalla (diretora de Oriente Médio da Eurasia) – Mesmo antes dos protestos, muitos militares da velha guarda estavam irritados com ao possível apoio de Mubarak ao seu filho Gamal nas eleições de setembro. Eles preferem que assuma um deles próprios. Note como Mubarak está quieto e, mais importante, a ida de Gamal para Londres. Eles estão prestando atenção nos protestos. Se perceberem que o foco está no Mubarak, trabalharão por sua renúncia. Mas eles precisam tomar cuidado, ao mesmo tempo, para não perder o controle das ruas.
12h05 – Até agora, o governo dos Estados Unidos não se manifestou sobre os protestos de hoje no Cairo. Barack Obama está recebendo informações o tempo todo sobre o cenário. O Egito é um aliado dos EUA, recebendo bilhões em ajuda militar. Por enquanto, a posição americana é cautelosa, esperando para ver o rumo dos acontecimentos. Para a próxima semana, está previsto um diálogo sobre questões militares envolvendo autoridades dos dois países. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h55 – Al Jazeera exibe imagens de civis feridos nas ruas do Cairo. Muitos sangrando. Manifestantes começam a lançar pedras contra a polícia, forçando o recuo do blindado na principal ponte do Cairo, sobre o rio Nilo. Analistas dizem que o Egito nunca voltará mais ao status quo anterior
11h40 – Em algumas partes de Alexandria, policiais começam a se juntar aos protestos. “Também somos do povo”, dizem alguns membros das forças de segurança ao se juntaram aos atos contra Mubarak. “Não vamos lutar contra vocês”. Em outras áreas da cidade mediterrânea, há confrontos. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h35 - Momento Praça Tiananmen na ponte 6 de Outubro no Cairo. Manifestantes conseguem fazer blindado da polícia recuar. Também superam policiais com pedras. Há uma explosão no meio das forças de segurança, que começam a perder o controle do Cairo. Fumaça na ponte principal da capital egípcia, sobre o rio Nilo. Seria um coquetel Molotov lançado pelos manifestantes.
11h30 - Políticos ligados ao governo começam a criticar regime em redes de TV árabes. Podem ser os primeiros rachas. Em Suez, policiais são cercados pela população e param de combater os protestos. Chama a atenção a ausência do Exército. Correspondente da BBC em árabe aparece no ar sangrando. Ayman Nour, líder da oposição, foi apedrejado. El Baradei, Nobel da Paz, está preso em uma mesquita (relatos abaixo)
11h15 – Ayman Nour, secular e líder da oposição egípcia, foi apedrejado quando deixava uma mesquita no Cairo. Está na UTI. Ele sofre de diabetes. Nas ruas do Cairo, pessoas começam a rezar diante dos policiais. Cristãos coptas prometem dar abrigo a membros da Irmandade Muçulmana caso eles sejam perseguidos pelo regime
11h10 – A polícia perdeu o controle em Suez. Em Alexandria, há incêndios e a violência se disseminou por toda a cidade. Cartazes de Mubarak são queimados. Manifestantes continuam saindo às ruas. No Cairo, protestos se aproximam do Palácio Presidencial. Uma menina morreu. El Baradei é mantido preso dentro e uma mesquita na capital egípcia.
11h05 – A prisão de El Baradei, líder da oposição e Nobel da Paz, começou uma hora antes das orações de sexta, que começa às 12h (hora do Cairo). Quando ele entrou na mesquita, a polícia estava dentro. Assim que acabou a cerimônia, alguns foram para o lado de fora e começaram a se manifestar dizendo “Deus é Grande” e pedindo o fim do regime. El Baradei não estava entre eles. Os policiais reagiram com violência. Os manifestantes voltaram para dentro da mesquita. Havia mulheres e crianças. Um homem sofreu um ataque cardíaco. Outrocs ficaram feridos. Mais uma vez, tentaram ir para as ruas. A polícia impôs um cerco e proibiu a saída de El Baradei, de seu irmão e de seus assessores de dentro de mesquita. Ele continua lá dentro.
11h05 – Chama a atenção a ausência do Exército nas ruas. Apenas a polícia está combatendo. Talvez tenha havido ruptura. Os protestos são considerados os maiores da história do Egito. Há 20 manifestantes para cada policial
11h - Alguns jornalistas estrageiros são impedidos de entrar no Egito. Outros omitem ser da imprensa para conseguir ingressar no país
10h25 – Cenas da Al Jazeera são impressionantes. Informações indicam que dezenas ou mesmo centenas de milhares de pessoas estão nas ruas no Cairo, Suez e Alexandria. Há muitas mulheres e crianças. Protestos aumentaram depois do fim das orações muçulmanas de sexta-feira. Gritam diantes dos policiais que querem o fim do regime e a queda do Mubarak. Um manifestante entrou na frente da câmera da rede de TV e gritou “Acabou Mubarak”. Em determinados pontos, as forças de segurança perdeu o controle. Nos choques há muitos feridos, incluindo jornalistas estrangeiros. Não há relatos de mortos ainda. El Baradei, líder da oposição, foi preso, segundo a rede de TV.
10h20 - Polícia retirou a câmera da  CNN e impediu a equipe da rede de TV de seguir trabalhando na praça Midan Al Tahrir. Al Jazeera exibe imagens da população partindo para cima dos policiais, que reagem com violência. Há cartazes pedindo para Mubarak ir embora. Protestos no Cairo, apesar da repressão, começam a crescer
10h05 – Há duas versões sobre o destino de El Baradei. Uma delas diz que foi levado para a prisão. Em outra, ele estaria retido pela polícia em uma mesquita e impedido de falar com a imprensa e participar das manifestações
10h – EL BARADEI PRESO – El Baradei, Nobel da Paz e um dos líderes da oposição do Egito, foi preso pelo regime de Mubarak enquanto rezava na mesquita, de acordo com a rede de TV Al Jazeera
9h55 - Em Alexandria, centenas de pessoas começam a emergir das mesquitas entoando gritos para que Mubarak seja deposto. Arrancam cartazes do governo. Há choques com a polícia. A situação é caótica, descrita como pandemônio. Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, está preso, segundo a rede de TV Al Jazeera.
EL BARADEI ESTÁ PRESO - Informação é da rede de TV Al Jazeera
9h50 – AL Jazeera – Mohammad El Baradei, Nobel da Paz e líder da oposição, teria sido preso. Imagens de centenas de pessoas cruzando ponte no Cairo em direção à praça Midan Al Tahrir, no centro da cidade. Em seguida, elas começam a correr na outra direção por serem perseguidas pela polícia
9h45 – Três cenários estudados pela agência de risco político Eurasia - 1) (Mais provável) Hoje é apenas o início de uma série de manifestações da oposição contra o regime, que usará a força para tentar combatê-las. O envolvimento da classe média tenfe a crescer. A economia do Egito será afetada por quedas no mercado financeiro e redução drástica no turismo 2) (pouco provável) Como na Tunísia, os militares chegarão à conclusão de que é melhor remover Mubarak do poder 3) (menos provável) Governo obtém sucesso na repressão aos protestos
9h35 – Ben Wedeman (CNN) - “As pessoas estão tentando protestar na praça Midan al Tahrir, mas a polícia começou a reprimir. Pode ser o começo de um dia muito violento. A polícia parte para cima dos jornalistas e de manifestantes pacíficos. Alguns policiais estão inflitrados com roupas civis no meio da população. No momento, os manifestantes estão correndo. Não dá para enviar mensagens de texto pelo celular”
9h30 (hora de SP) – Reva Bhalla (diretora de risco político da Stratfor) – “Mesmo antes dos protestos, muitos militares da velha guarda estavam irritados com ao possível apoio de Mubarak ao seu filho Gamal nas eleições de setembro. Eles preferem que assuma um deles próprios. Note como Mubarak está quieto e, mais importante, a ida de Gamal para Londres. Eles estão prestando atenção nos protestos. Se perceberem que o foco está no Mubarak, trabalharão por sua renúncia. Mas eles precisam tomar cuidado, ao mesmo tempo, para não perder o controle das ruas.”
9h20 (hora de SP) - Apesar da repressão policial, as pessoas estão nas ruas e protestando. Há relatos de choques com a polícia. As orações da sexta já terminaram. Neste momento, as manifestações devem crescer. Em Alexandria, a polícia começou a usar gás lacrimogêneo. De acordo com o Ministério do Interior, protestos hoje no Egito serão considerados ilegais
8h50 (hora de SP) - Facebook, Twitter e Blackberry estão bloqueados no Egito. Em alguns momentos, tampouco há internet Ação do governo visa sabotar manifestações de hoje. Protestos estão proibidos pelo governo, com segurança espalhada por toda a cidade. Mesmo assim, manifestantes disem que irão às ruas. Há relatos de que jornalistas não podem sair de seus hotéis. Tradicionais orações islâmicas das sextas foram banidas em algumas mesquitas
8h30 – Reva Bhalla (diretora de risco político da Stratfor) afirmou para mim – “As próximas 24 horas serão decisivas, com os protestos marcados para hoje. As manifestações dos últimos dias quebraram a barreira do medo de se opor ao regime. A população acredita que pode protestar. Hoje, por ser sexta (dia de folga no Egito), mais pessoas poderão sair às ruas. Desde que estas manifestações começaram, o tom dos oficiais, sempre confiantes, mudou um pouco. Por este motivo, haverá uma tolerância zero hoje. Não podemos esquecer que o Egito tem um forte aparato de segurança.”
.

527 Comentários 
  • 28/01/2011 - 08:56
    Enviado por: Ali Abdulhamid
    O Governo do Egito está colocando 1.5 milhão de policiais nas ruas…
    Duvido que segurará muita coisa… mas eu não posso garantir nada…
    Espero que estes protestos não sejam iguais aos do que ocorreu no Irã…
    .
  • 28/01/2011 - 09:09
    Enviado por: Florentina
    Tenho percebido que muitos que acompanham estes movimentos de protestos prol a reformas políticas nestes países com maioria árabe imaginam mudanças democráticas, dentro do modelo de democracias ocidentais.
    Não se percebe ainda o perfil do protestante quanto a isso.
    Estes países continuam com maioria árabe, inclusive no Egito, com participação numerosa de ativistas, que são também ativistas por regras religiosas, como a obrigatoriedade do véu é da proibição do uso de burkina (não estou criticando o uso do véu e a favor da burkina, apenas apontando perfis sociais diferentes).
    .
    Portanto não se pode assegurar que o modelo político que buscam seja a democracia modelo ocidental.
    Não estou criticando o Islã, apenas mostrando que temos diferentes linhas de pensamentos quanto a reformas políticas, e estas no mundo oriental, continuam sendo nos moldes árabes.
    .
    Vejo que a decisão para uma solução deste caso pode estar mais nas mãos das Forças Armadas que de Hosni Mubarak.
    .
    • 28/01/2011 - 10:46
      Enviado por: Youssef S
      Florentina,
      Em minha opinião, penso q vc misturou e generalizou.
      O egipcio é árabe, fala árabe porém está dentro da órbita política ocidental, porisso não tem sentido falar em “moldes árabes”. Também é multireligioso, como o Líbano, apesar dos radicais, por isso tem que se tomar cuidado em apontar já que um grupo religioso irá tomar o poder, instalar a ditadura da burka, etc… Oxalá não seja por ai. ENFIM ha que se analisar a conjuntura do Egito. O que os manifestantes querem são coisas mais pueris: aumento do salário mínimo, mais liberdade de imprensa, menos corrupção…Lembre-se que quase 70% da população tem menos de 30 anos ou seja querem um outro representante, e estes jovens compoe a maior parcela dos desempregados, que não é pequena.
      .
      Concordo com o Ali, eles tem todo o direito de se manifestar contra este estado de coisas. Impossivel não se espelhar no que nós democracias ocidentais, com todas as imperfeições, temos de bom, justo e meritório, mas não somos exemplos perfeitos, até por que “democarcias ocidentais” tb é um termo amplo demais pra generalizar.
      Abraço.
      .
    • 28/01/2011 - 11:01
      Enviado por: MBraz
      Florentina, estou acompanhando os acontecimentos também, e se vc for ao site da CNN e ouvir a entrevista do El Baderei e de alguns protestantes, o que eles querem sim é uma democracia nos moldes ocidentais. O que não tem nada a ver com a religião do país, ou seja, eles querem uma democracia moderna com liberdade religiosa, não uma nova teocracia como no Irã.
      .
      O desejo do povo egípcio é claro e nítido, e eles estão desapontados com o silêncio dos EUA (como os anti-americanos-comunas/piás-de-prédio dizem por aqui, os EUA usam o “dois pesos, duas medidas” quando o assunto é criticar regimes ditatoriais, o que é verdade)
      .
      Obama tá numa sinuca de bico e, quando ele ver o regime degringolar de vez, deverá sair do muro e apoiar as reformas democráticas. Obama é o Reagan assistindo a queda do Muro de Berlim. Sucesso para o Egito, Tunísia, Jordânia…
      .
    • 29/01/2011 - 12:03
      Enviado por: José Maciel
      Também fiquei bastante preocupado com o que poderia acontecer caso a Irmandade Muçulmana exercesse influência demais sobre o processo de mudança política no Egito. Uma simples pesquisa na velha Wikipedia (em inglês) me deixou mais aliviado:
      .
      É claro, os enormes ganhos nas eleições de 2005 permitiram à Irmandade colocar “um desafio político democrático ao regime, não um desafio teológico” .Inicialmente, houve ceticismo generalizado sobre o comprometimento do movimento em usar a sua influência para levar o Egito em direção à democracia.(…) No entanto, considerando suas ações no parlamento egípcio desde 2005, parece que esses céticos julgaram mal. Em um artigo, Samer Sehata da Universidade de Georgetown e Joshua Stacher da Universidade Britânica no Egito afirmam que foi a Irmandade Muçulmana que reviveu um parlamento que até então tinha “uma reputação de ser um carimbo do regime”. De acordo com suas observações, o movimento não simplesmente “se focou em banir livros e legislar sobre o comprimento das saias” Em lugar disso, o envolvimento do movimento mostra tentativas de reformar o sistema político. Ao contrário de outros membros do parlamento, os associados com a Irmandade tomaram suas responsabilidades parlamentares com muita seriedade. (…) Além disso, eles também tomaram seu papel como membros da oposição ao NDP muito seriamente. Um exemplo significativo é a criação de uma oposição considerável à extensão da Lei de Emergência quando parlamentares associados à Irmandade “formaram uma coalizão com outros legisladores de oposição e com membros do NDP simpáticos à ideia, para protestar contra a extensão”. O comportamento geral do movimento levou Shelata e Stacher à conclusão de que a Irmandade convincentemente tentou transformar “o parlamento egípcio em um corpo legislativo real, em uma instituição que representa os cidadãos e em um mecanismo que mantém o governo transparente”.
      .
      A Irmandade Muçulmana no Egito iniciou seu trabalhos na cidade de Ismailia (uma das cidades onde ocorreram protestos notáveis, vejam só). Tinha uma postura conservadora, embora fosse bastante comprometida com os direitos dos trabalhadores. Com a influência britânica continuando mesmo com a independência do Egito, um golpe de estado em resposta a isso em 1952 e os regimes autoritários subsequentes, a Irmandade ganhou um caráter mais violento. Durante a década de 30, cultivou laços com os nazistas (em aversão à influência britânica no país). Em 1948, um membro do movimento assassinou o primeiro-ministro, em resposta ao fato de que a Irmandade havia sido ilegalizada. Sob o regime de Gamal Abdel Nasser, houve muita perseguição e tortura, e uma acusação de participação na tentativa mal-sucedidade de assassinato do ditador, em 1954.
      .
      A Irmandade sempre foi bem vista por suas várias iniciativas em prol do bem-estar social, como a contrução de escolas, farmácias e hospitais. Ultimamente, sua ideologia se volta para uma “democracia Islâmica” no Egito. O movimento tem, no entanto, se liberalizado através de seus membros que adotaram a Internet como um meio de fazer política. Eles se distanciam da ala “off-line” do movimento, criticando-o por posturas conservadoras, como a defesa da proibição de que cristãos coptas e mulheres possam ocupar o cargo de presidente.
      .
      Voltando às minha palavras: acredito que a Irmandade Muçulmana tenha aprendido, com sua marginalização do processo político por tanto tempo, que só numa democracia sua voz poderia ser realmente ouvida. A eleição de 88 represantantes do movimento para o parlamento ainda deu à Irmandade uma experiência de atuação no proceso político de uma República invejável (lembrem-se do segundo parágrafo). Fiquei bastante contente com o fato de que ela está se liberalizando, especialmente devido ao ativismo on-line. Vale lembrar também uma coisa: desde ontem estou passando períodos consideráveis do dia ligado na tranmissão da Al-Jazeera pela Internet ( http://english.aljazeera.net/watch_now/ ). Uma das coisas que eu mais ouço os analistas abordarem é o fato de que a força responsável pelas manifestações é uma rainbow coalition (coalizão arco-íris): tem muitas forças políticas distintas, de liberais a ultra-conservadores. Como todas essas entidades políticas têm importância no processo, o único meio de agregá-las é dando voz a todas elas, e isso só é possível numa democracia. E, algo importantíssimo, hoje de manhã, nos protestos massivos e pacíficos, havia muitas mulheres. Uma das cenas que mais me marcaram foi a de uma moça de burqa levantando um grande cartaz amarelo. Não, não acho que o Egito se torne o Irã-2011
      . .
      .