A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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domingo, fevereiro 28, 2010

Madeira - Cada um tem a casa naquilo que é seu e Água que mata

Notícia 1 de 4
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Telma, de 16 anos, no pátio da casa onde vivia com os pais e seis irmãos
Madeira

Cada um tem a casa naquilo que é seu

A maior parte das vítimas mortais das enxurradas de sábado passado na Madeira são das terras altas. De povoações como o Caminho do Moinho, ou o Pico do Cardo de Dentro, onde cada um constrói a sua casa no terreno que herdou, sem autorização ou quaisquer condições de segurança. Por Paulo Moura (texto) e Enric Vives-Rubio (fotos)


O Rex e a Violeta estão sozinhos em casa. Estão sozinhos no bairro, fechados no quintal. Ladram se alguém se aproxima, o que é raro. Desde a tempestade que ninguém aqui vem, excepto para retirar das casas alguns objectos de valor, ou para alimentar os animais. Não é fácil chegar cá. Depois de atravessar a pequena ponte de ferro que cruza a ribeira, é preciso enterrar os pés na lama até aos tornozelos, num equilíbrio difícil por entre os troncos e os pedregulhos.
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Antes de chegar a casa da D. Inês, passa-se pelo pátio da senhora Mena e da filha, mesmo por baixo do alpendre da D. Cecília, que morreu junto a esta pedra. Ainda se vê a marca do corpo, retirado pelos bombeiros. Cecília de Fátima da Câmara. O funeral foi segunda-feira, às 16h. E aqui, neste pátio onde a lama ainda está mole, é onde ficaram soterrados cinco dos sete filhos da D. Inês. "Sobreterrados", como dizem as pessoas deste "casal", como que para dar mais expressão ao peso da lama. Por milagre, todas as crianças se salvaram. As casas estão cravadas na encosta íngreme, em socalcos, ou nem isso. Estão penduradas, equilibradas, encaixadas umas nas outras e na terra, suspensas.
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A casa de cima é a maior e mais luxuosa. Dentro, tem escadarias de mármore. Nunca ninguém lá viveu. É do filho do compadre do Carlos, marido da D. Inês. Acabou de ser construída há menos de um ano, com o dinheiro que o proprietário vai ganhando na ilha de Jersey, e que ainda não chegou para a mobília. A casa está vazia. Por dentro, só mármores e esmaltes. O filho do compadre do Carlos precisa de trabalhar mais uns anos em Jersey, até ganhar o suficiente para mobilar a casa. Então poderá voltar. Eram esses os planos, disse aos vizinhos, antes da tempestade.
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Logo abaixo da sua casa fica a dos pais, que são compadres do Carlos e da D. Inês, cuja casa fica abaixo da daqueles. A encosta é tão íngreme que, vistas da estrada do outro lado da ribeira, as casas parecem estar umas em cima das outras, como um sinuoso arranha-céus.
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Está tudo coberto de lama, troncos de eucalipto atravessaram os telhados como lanças, enormes pedaços de terra desabaram ou estão prestes a transformar-se em avalanchas. Em baixo passa a ribeira, furiosa.
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A porta da casa da D. Inês está aberta. Ao entrar está-se na sala de estar, que não tem mais de dez metros quadrados. Quer dizer, o quarto. Quer dizer, a sala de jantar. O chão está coberto de colchões e de montanhas de roupa muito suja, numa desarrumação que se percebe anterior à tempestade e à lama. A família de nove pessoas dormia nesta divisão. Só há mais duas: uma cozinha e uma casa de banho, minúsculas. Com as derrocadas, a terra em que assentava descolou-se do ângulo posterior direito do edifício, deixando o chão da casa de banho pendente no vazio. As paredes apresentam rachas frescas. "Se este lado da casa cair, o resto não se aguenta", diz o namorado da Telma, de 16 anos, uma das filhas da D. Inês. Com as chuvas que estão previstas, isso pode acontecer hoje, ou amanhã.
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Há 16 anos que a família andava a pedir uma casa. No mês passado, uma assistente social fez-lhe uma visita. Veredicto: poderiam viver mais algum tempo na miséria e na promiscuidade. "Eles eram pobres, mas muito felizes", diz o namorado da Telma. "Podiam ser remediados, mas o que a gente se divertia!" Dava-se bem com o pai da namorada, por isso passava cá muito tempo. Com ele, a família eram dez. "Faziam churrascos aqui neste pátio, convidavam-me. Ríamo-nos durante a tarde inteira." É o pátio onde a máquina de lavar nova sobreviveu, porque Carlos lhe construiu uma protecção especial em cimento, e onde as crianças ficaram soterradas. A mais nova tem três anos.
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"Eu vi o que eles corriam, aos gritos, coitadinhos", diz Bebiana, uma das vizinhas do "casal" da encosta em frente, do outro lado da ribeira. Os dois aglomerados de casas constituem um "sítio", chamado Caminho do Moinho, pertencente à freguesia de Santo António, a poucos quilómetros do Funchal. As casas da margem direita foram destruídas pelas enxurradas, as da esquerda não sofreram nada. "Fiquei aflita, mas o que é que podia fazer? Pensei que iam morrer todos." Tiago, o neto de Bebiana, também viu, da varanda. "Houve uns rapazes daqui que tentaram ir lá salvá-los, mas ficaram com a lama até à cintura. Tiveram de voltar para trás."
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Tiago, que tem 12 anos, vive na última casa do "carreiro", mais perto da estrada e da ribeira. Bebiana Andrade, que tem 50, vive na casa a seguir, num socalco mais alto da encosta. Não é por acaso. O "carreiro" vai descendo em degraus, com as gerações. No cimo da encosta situa-se a casa dos avós de Bebiana. Logo abaixo desta, a dos pais. Depois vem a casa dela, e a seguir a da filha, com o respectivo marido e filhos.
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"Isto era tudo um terreno que o meu avô comprou, há 33 anos", explica Bebiana. "Ele construiu a sua casa lá em cima, e depois deu uma parcela do terreno ao filho, que também construiu uma casa." Foi aí que Bebiana viveu até se casar, aos 16 anos. Nessa altura, o avô ofereceu-lhe também um terreno, para construir. Ofereceu outro à irmã.
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O "carreiro" tem hoje seis casas, onde vivem 20 pessoas, todas da mesma família. As mais novas vivem mais abaixo, as mais velhas mais acima. Ao lado deste "carreiro" há mais quatro, com histórias idênticas. Todas as casas têm pequenos pátios e quintais com cães, galinhas e porcos, que estão agora sozinhos, pelo menos durante a noite. Não há ninguém, em todo o Caminho do Moinho, que esteja a dormir em casa. Passam aqui o dia, mas pernoitam em casa de familiares noutras zonas, ou no quartel do regimento de Guarnição 3, ou num dos outros abrigos disponibilizados pelas autoridades.
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Nenhuma das casas sofreu danos com o temporal da semana passada. Mas os habitantes têm medo. De quê? Da parede.
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Obras de risco e imaginação
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Bebiana aponta para o topo da encosta. Um muro, ainda com andaimes, está a ser construído num local sobranceiro a todos os "carreiros". "Dizem que eles tiveram autorização para construir uma parede de quatro metros, mas já vai em 12. É para segurar uma plataforma onde vão construir quatro casas. Toda a gente acha que aquilo vai cair em cima de nós", diz.
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Todas as casas do Caminho do Moinho foram construídas ilegalmente, sem qualquer fiscalização. "A câmara diz que não dá licenças, porque isto é Zona Verde", explica Bebiana. Por isso constrói-se sem licença. Ninguém proíbe ou fiscaliza. "O meu avô construiu a casa ele próprio, com a ajuda de amigos. E toda a gente faz o mesmo. Só os mais ricos contratam um empreiteiro."
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O local e a forma de construção são decididos pelos proprietários. Em alguns casos, são obras de risco e imaginação. Há casas em lugares impossíveis, onde nem se percebe como assentam as fundações, onde o terreno é íngreme, o espaço exíguo, o solo instável. "Há sítios em que é difícil acreditar que vão conseguir construir uma casa", diz Bebiana. "Muitas vezes penso: "Não era eu que dormia ali"", acrescenta ela, olhando para a encosta em frente. Mas a verdade é que se constrói em virtualmente todo o lado, e as casas lá iam resistindo, o que encorajava a arriscar ainda mais. Mas agora essa confiança irracional sofreu um abalo. O maior número de vítimas mortais da tempestade surgiu aqui, nas terras altas. Muitas das casas situadas ao lado de ribeiras, no trajecto de enxurradas, em terrenos instáveis, ficaram destruídas. E aquilo que surgia aos olhos das pessoas como uma paisagem normal parece-lhes agora altamente perigoso. A parede de 12 metros, por exemplo. Nem Bebiana nem nenhum dos vizinhos consegue agora dormir sob aquela ameaça. "Ninguém confia naquela parede. Se chover muito outra vez, ela vai cair-nos em cima."
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Proibido construir
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Seguindo a estrada alguns quilómetros para cima, chega-se a outra povoação, o Pico do Cardo de Dentro, onde a destruição foi ainda maior do que no Caminho do Moinho. É lá que tem o seu estaleiro um conhecido empreiteiro da zona.
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"Aquela parede está muito bem construída, não oferece perigo nenhum", garante ele. "Tem fundações na encosta, sapatas no terreno. É feita com betão que vem de fora, mais resistente do que o que temos cá. Aquilo nunca vai cair. Pelo contrário, se não existisse a parede, aqueles terrenos teriam provavelmente desabado."
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No sítio do Pico do Cardo de Dentro poucas casas ficaram inteiras. Das primeiras casas da rua quase não há vestígios, enterradas que ficaram no solo. De uma delas foi retirado quarta-feira o corpo de um homem de 28 anos, ainda enrolado no cobertor onde dormia. As casas seguintes rolaram pela encosta, até se desfazerem na ribeira que corre ao fundo, ou desapareceram, ou ficaram reduzidas a pedaços de parede, sem tecto. Uma das casas era nova e tinha três andares. O próprio estaleiro do empreiteiro foi derrubado pelo tronco de um eucalipto que caiu da encosta superior.
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"O problema disto são os eucaliptos", é a teoria dele. "Não foi a água que fez nada desta desgraça. Olhe para ali. Há eucaliptos de dez, de 20 toneladas. E com mais de 70 metros de comprimento. Vieram a voar por aí abaixo."
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Com efeito, o cenário da destruição está pejado de eucaliptos gigantes. Vêm com as raízes e são visíveis, nos terrenos sobranceiros, os buracos de onde foram arrancados. Quase todas as casas se situavam do lado de baixo da estrada. Para cima, há uma encosta íngreme, de onde veio a enxurrada. À passagem, arrancou os eucaliptos, que se abateram contra a povoação.
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"Se não houvesse eucaliptos, nada disto teria ficado destruído. Nestas zonas de construção, isto deveria ser tudo limpo de eucaliptos. O problema é que a Guarda Florestal não deixa. E os tipos da Quercus." É um facto que a zona estava toda construída, mas não é propriamente uma zona de construção. Aliás, teoricamente, é proibido construir aqui.
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"Se não se pode construir, então porque fizeram a estrada?", argumenta o empreiteiro, que quer manter o anonimato, com receio de que deixem de lhe dar trabalho. "O Alberto João está sempre a dizer: "Construam naquilo que é vosso.""
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As pessoas compraram terrenos nestas zonas, com autorização apenas para o cultivo agrícola. "Mas a agricultura aqui não dá nada", queixa-se o empreiteiro. "Eu tive ali uma horta. Mas quando tentava vender os produtos no mercado, havia sempre outros mais baratos, vindos do continente. É impossível viver disso. As pessoas constroem aqui as suas casas, porque não têm outro lugar."
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Constroem onde têm os seus terrenos, e não onde seria mais seguro construir. "Mas se fôssemos só a construir onde há segurança, então não se poderia construir nada na Madeira", diz o empreiteiro. "Mas é claro que é preciso fazer as coisas bem feitas. E nós fazemos com todas as condições."
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Um colega do empreiteiro, que também já teve a sua própria empresa e agora trabalha para o primeiro, explica: "Todas as casas têm fundações, têm sapatas, que as fixam ao terreno. São todas seguras."
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Mas o que parece evidente é que é o próprio terreno que não é seguro. "Há sítios muito piores do que este, onde se fartaram de construir apartamentos", diz o empreiteiro, coberto de lama, à frente da casa de onde foi retirado o homem enrolado no cobertor.
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"Isto é um terreno seguro!", acrescenta ele, apontando para a encosta completamente revirada, coberta de lama negra, esfolada e marcada pelos buracos dos eucaliptos desentranhados.
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Aqui no sítio do Pico do Cardo de Dentro praticamente todos os habitantes se dedicam à indústria da construção. O seu negócio é fazer casas em locais improváveis.
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"Eu pensava sempre: como é que é possível, naquele lugar? Um dia vai haver uma desgraça", diz Bebiana, a olhar para a encosta em frente. O neto Tiago não diz nada, mas tem passado os dias a olhar para a encosta em frente. Mostra-se tranquilo e confiante, mas percebe-se-lhe no sorriso uma grande insegurança. Está ansioso por que recomecem as aulas, apesar de, para chegar à escola, ter de percorrer vários quilómetros a pé, e mais uns tantos de camioneta. Diz que quando for grande quer ser arquitecto.
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A água que mata

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2010 DUARTE SA/REUTERS

Por Ricardo Garcia
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Todos apontam o dedo acusatório às ribeiras, mas há outros culpados na tragédia da Madeira. Um deles: o desconhecimento da população urbana em como reduzir o risco dos maus humores da natureza

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Elas vêm lá de cima. A de Santa Luzia nasce nas franjas do Pico do Arieiro, a quase 1800 metros de altitude, e num piscar de olhos já está cá em baixo. As duas outras - a de João Gomes e a de São João - também correm da mesma maneira, ao longo de vales que começam a 1500, 1700 metros, para desaguar no oceano, junto à cidade, pouco mais de dez quilómetros adiante. O Tejo, por comparação, percorre mil quilómetros para vencer o mesmo desnível.
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.As imagens daquelas três ribeiras enfurecidas a rasgar a cidade do Funchal, com as águas turvas em jorros revoltos de inacreditável velocidade, talvez tenham sido as mais marcantes da catástrofe de há uma semana na ilha da Madeira. Não admira por isso que, na busca de um único responsável, o dedo da acusação lhes seja apontado.
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O desastre da Madeira, porém, foi muito mais complexo. A chuva excepcional que caiu no sábado passado mexeu com tudo. A água subjugou a ilha a um poder incontrolável. Desestabilizou os seus solos, entupiu os seus cursos de água e, sobretudo, surpreendeu a sua gente. "Apresentar como principal factor as ribeiras é redutor", afirma o geólogo Domingos Rodrigues, da Universidade da Madeira.
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Algumas pessoas morreram por terem sido arrastadas pela água. Outras foram apanhadas por fluxos de lama e detritos que escoaram directamente das encostas. Há vítimas que sucumbiram a aluimentos. Houve quem morresse dentro do seu automóvel.
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Domingos Rodrigues chama a atenção para a participação humana no resultado da tragédia. "Um factor decisivo foi o comportamento das pessoas", diz o especialista. Essencialmente, pouca gente que vive na cidade sabe o que fazer numa situação como aquela - se o melhor é ficar dentro do carro, ou dentro de casa, ou fugir para a rua. Domingos Rodrigues exaspera-se ao recordar as imagens de cidadãos a cruzarem correntes da água rasas mas fortes, sujeitos a que qualquer objecto sólido em grande velocidade - uma pedra, um tronco de árvore, um automóvel - os derrube e os mate.
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Uma educação específica para as situações de perigo ajudaria a reduzir a vulnerabilidade das populações, diz o geólogo. A isto somam-se outras medidas, como as que procuram minimizar a fúria das ribeiras, cujos efeitos devastadores pontuam a história recente do arquipélago. Há registos de cheias e aluviões pelo menos desde 1611. O pior episódio de que se tem memória são as cheias de 1803, que terão matado mais de mil pessoas.
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Foi na sequência desta catástrofe que se fizeram obras de fundo para ajudar a conter as ribeiras na cidade. Sucessivamente melhoradas ao longo do tempo, o que lá está hoje parece correcto a Rui Rodrigues, director dos serviços de monitorização dos recursos hídricos no Instituto da Água (Inag). "Do que tenho visto, acho que grande parte daquelas regularizações está bem feita", afirma, referindo-se aos canais que correm abertos, impermeabilizados no fundo de modo a evitar a erosão do leito.
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O encanamento por baixo das ruas, na parte final de algumas ribeiras, não é, porém, visto da mesma forma. A capacidade de vazão fica mais limitada e a possibilidade de entupimento com pedras e detritos aumenta - "Quando se fecha [uma ribeira], ocorrem milhões de problemas", resume Rui Rodrigues.
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Mas ali não estará senão uma pequena parte da culpa pelo que aconteceu. Os maiores problemas ocorrem antes, mais acima. As enxurradas da Madeira não trazem só água, mas arrastam consigo terra, pedras, troncos de árvores. Mesmo obras de engenharia hidráulica calculadas para suportar grandes cheias podem não ser suficientes quando o que corre pelos canais é um fluido de detritos. "A cheia líquida, isto a engenharia resolveria", afirma António Betâmio de Almeida, professor catedrático do Instituto Superior Técnico, em Lisboa. "O problema é a carga sólida que é transportada.
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Onda de cheia
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Sendo difícil contê-la, o que se pode é evitar que seja agravada por outros factores, como o afunilamento nos canais ou a construção de pontes com pilares na água, que entulham facilmente, formando pequenas barragens. Quando essas acabam por ceder, liberta-se uma onda de cheia suplementar, capaz de surpreender fatalmente qualquer pessoa que julgue estar segura. "Isso é o que mata", afirma António Valério, coordenador do Projecto de Controlo de Cheias da Região de Lisboa, do Inag.
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Segundo Valério, não foi diferente o que aconteceu em outras cheias em Portugal. As de 1967, na região de Lisboa, fizeram cerca de 500 mortos. Outras voltaram a matar em 1981 (30 mortos), 1983 (19) e 1997 (11).
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Para controlar o risco de cheias súbitas, provocadas por muita chuva concentrada num curto espaço de tempo, várias obras têm sido feitas pelo projecto do Inag. A capacidade de vazão de algumas ribeiras foi aumentada, pontes foram substituídas e nalguns casos foram construídas bacias de amortecimento - pequenas estruturas para conter a água.
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Mas ainda há muito por fazer. O risco de novas cheias em Cascais - fortemente afectada em 1983 - mantém-se. Uma ribeira, a das Vinhas, corre encanada no seu troço final, com uma vazão de apenas 30 metros cúbicos de água por segundo.
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Em cada período de cem anos, é expectável que a ribeira receba um fluxo seis vezes superior. Só agora, quase três décadas depois, está a ser lançado um projecto de uma bacia de retenção, para reduzir parte do risco. "Já é o terceiro que fazemos", diz António Valério.
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Na Madeira, uma série detalhada de medidas para reduzir o risco de cheias foi identificada no seu Plano Regional de Água, concluído em 2003 mas aprovado só em 2008. Miguel Gamboa da Silva, especialista do Instituto Superior Técnico e responsável pelo capítulo das cheias no plano, diz que se deve "atacar o problema na cabeceira das linhas de água". Proibir o pastoreio nas terras altas e evitar que troncos de árvores sejam deixados no terreno quando se corta uma floresta de produção são exemplos de medidas que podem reduzir o transporte de sólidos para os cursos de água.
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O plano, na verdade, aponta para um conjunto muito mais vasto de medidas, desde a cabeceira até à foz das ribeiras, bem como em outras áreas.
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Estudos precisam-se
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Incluída está a sugestão de se realizarem estudos sobre as cheias na região, algo que alguns defendem que seja feito já para o episódio da semana passada. "Era útil avançar para o terreno", diz o especialistas em hidrologia Rodrigo Proença de Oliveira, que quando era estudante no Instituto Superior Técnico, em 1983, foi mobilizado, juntamente com meia centena de colegas, para recolher dados sobre as cheias de Cascais.
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Betâmio de Almeida concorda e também vê utilidade na formação de uma equipa interdisciplinar para avaliar o que se passou. Mas, à margem da compreensão detalhada das cheias - um elemento fundamental para planos de emergência -, Betâmio de Almeida também identifica no comportamento das pessoas um dos cernes do problema. "Estamos predispostos a achar que as cidades são cem por cento seguras", afirma. "Vivemos na sociedade do risco zero."
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Domingos Rodrigues, que tem percorrido a ilha todos os dias desde há uma semana para documentar o que ocorreu, diz que em algumas zonas mais afastadas, mesmo que varridas por grandes deslizamentos, não houve mortos. "Essas pessoas não são urbanas, conhecem os sítios onde vivem, sabem onde está o perigo", afirma.
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Segundo Rodrigues, as cheias mostraram mesmo isso: muitos dos mortos terão sido vítimas da incapacidade da sociedade urbana em avaliar o risco. "Essa para mim é a grande lição."
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sexta-feira, fevereiro 26, 2010

Reconstrução na Madeira pode demorar dez anos e custar mil milhões


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Nas zonas altas, ainda há localidades isoladas

Reconstrução na Madeira pode demorar dez anos e custar mil milhões

26.02.2010 - 07:40 Por Tolentino de Nóbrega


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A toda a velocidade, prosseguem os trabalhos de limpeza na baixa do Funchal, para acolher os turistas. Mas a reconstrução das zonas afectadas pela catástrofe de sábado, quer na capital madeirense quer no resto da Madeira, se for planeada e executada numa perspectiva de futuro, poderá demorar uma década, segundo especialistas ouvidos pelo PÚBLICO.
Quatro mil turistas desembarcam domingo no Funchal com 
"circuitos alternativos" à sua espera 
Quatro mil turistas desembarcam domingo no Funchal com "circuitos alternativos" à sua espera (Enric Vives-Rubio (arquivo))
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Os prejuízos provocados pela enxurrada rondam os mil milhões de euros e esse número, essencial para accionar os apoios da República e o fundo de solidariedade europeu, será apresentado hoje pelo Executivo liderado por Alberto João Jardim. Também o número de mortos, 42 já confirmados, poderá subir nos próximos dias aos 60, como admitiu ontem o presidente do governo regional.
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Na baixa da capital madeirense, a operação de limpeza avança a grande ritmo e ficará concluída este fim-de-semana, a tempo de receber os 4.500 turistas que desembarcam domingo em dois navios de cruzeiro. Serão os primeiros a pisar o porto do Funchal depois da tragédia e, a pensar neles, o governo criou "circuitos alternativos, em colaboração com os agentes turísticos", bem distantes das zonas mais problemáticas. É a face mais visível da operação de marketing lançada pelo Turismo madeirense para evitar mais cancelamentos de reservas e que passará também por acções de promoção da ilha no exterior. Nas zonas altas, longe do centro do Funchal, a realidade é bem diferente: há localidades que continuam isoladas e a ajuda tarda em chegar.
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"A Madeira não pode ser a mesma depois de 20 de Fevereiro. Tem que ser estrategicamente planeada para fazer face a este tipo de catástrofes", diz o engenheiro Danilo Matos, ex-director do gabinete de planeamento da Câmara do Funchal. "O perigo é continuar o estilo e o método de trabalho da Madeira "nova" e não querer parar para pensar."
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Tal como o geógrafo Raimundo Quintal, Danilo Matos aponta como exemplo a reconstrução de Angra de Heroísmo, após o sismo de 1980. A catástrofe potenciou a maior operação de regeneração urbana alguma vez empreendida em Portugal, com o financiamento do Estado confiado a um Gabinete de Apoio à Reconstrução, cuja acção preparou a candidatura à inclusão na lista dos locais Património da Humanidade da UNESCO, concretizada em 1983. Mas o modelo açoriano não deverá ser seguido pelo governo da Madeira, que nunca abdicou de gerir directamente os fluxos financeiros canalizados pelo Estado e União Europeia para a região. "Não vamos criar novas estruturas", garantiu ontem Conceição Estudante, porta-voz do governo nesta crise.
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Prejuízos avultados
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Danilo Matos reforça que a reconstrução deve ser entregue "a quem sabe, pondo um ponto final no aproveitamento político e no oportunismo de alguns". Os políticos, acrescenta, devem distanciar-se e dar lugar a uma equipa técnica e científica, multidisciplinar, que agarre não apenas os trabalhos de reconstrução imediata mas, sobretudo, "prepare a Madeira para o futuro".
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Aproveitando a onda de solidariedade pós-catástrofe, a Madeira está a intensificar os contactos com o governo da República e instituições da União Europeia para angariar o máximo de meios financeiros para fazer face à reconstrução. Os prejuízos da destruição de 100 quilómetros de estardas (um quinto da rede regional), 500 viaturas, 60 habitações e centenas de equipamentos rondam os mil milhões de euros, o que representa metade do orçamento regional. Será este o número que o governo regional apresentará hoje, após um levantamento preliminar elaborado pelos departamentos governamentais e autarquias.
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Mas a avaliação financeira da catástrofe não deverá incluir apenas os prejuízos de bens e infra-estruturas, mas também os custos de um conjunto de obras e planos que têm de ser feitos para minimizar consequências no futuro. "O perigo é querer reconstruir tudo para que tudo volte à mesma. Há coisas que não só não devem ser reconstruídas como terão que ser alteradas ou simplesmente destruídas", diz Matos.
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Para o geógrafo Raimundo Quintal, "mais laurissilva significará menor risco de aluvião" e a recuperação da floresta indígena, para além dos benefícios no domínio da biodiversidade, garantirá uma maior infiltração de água e uma protecção mais eficaz dos solos. Além disso, para minimizar os efeitos das cheias, diz ser necessária uma gestão cuidada dos canais de escoamento e políticas urbanas que impeçam a instalação de explorações agrícolas, habitações e armazéns nos leitos de cheia. Até porque "parte do que agora aconteceu é o resultado de 33 anos de Madeira "nova" - uma Madeira sem modelo, sem planeamento e governada para ganhar eleições". 
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sexta-feira, janeiro 22, 2010

Carl Lindskoog: O que você não ouve sobre o Haiti, mas deveria



 

América Latina

Vermelho - 18 de Janeiro de 2010 - 11h04

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Nas horas seguintes ao terremoto que devastou o Haiti, CNN, New York Times e outras importantes agências de notícias adotaram a mesma interpretação para a grave destruição: o terremoto de 7 graus foi tão devastador porque atingiu uma zona urbana extremamente povoada e pobre. Casas “construídas umas em cima de outras” e feitas pelo próprio povo pobre fizeram da cidade um local frágil. 

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Por Carl Lindskoog*, em Opera Mundi

Os muitos anos de subdesenvolvimento e caos político do país fizeram com que o governo haitiano estivesse mal preparado para responder a um desastre desse tipo. É verdade. Mas essa não é toda a história. O que falta é uma explicação do motivo de existirem tantos haitianos vivendo dentro e nos arredores de Porto Príncipe e de tantos deles serem forçados a sobreviver com tão pouco.
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Na verdade, até quando uma explicação é dada, muitas vezes é escandalosamente falsa, como o depoimento de um ex-diplomata norte-americano à CNN dizendo que a superpopulação de Porto Príncipe estava prevista pelo fato de que haitianos, como a maioria no Terceiro Mundo, não sabem nada sobre controle de natalidade.
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Pode assustar os norte-americanos, famintos por notícias, saber que essas condições que a mídia atribui corretamente ao aumento do impacto deste tremendo desastre foi em grande parte produto da política de Washington e seu modelo de desenvolvimento.
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De 1957 a 1971, os haitianos viviam sob à sombra escura de "Papa Doc" Duvalier, um ditador cruel que tinha apoio dos EUA porque era visto pelos norte-americanos como um anti-comunista confiável. Depois de sua morte, o filho de Duvalier, Jean-Claude "Baby Doc", tornou-se presidente vitalício aos 19 anos de idade e governou o Haiti até que finalmente foi derrubado em 1986. Foi nas décadas de 1970 e 1980 que Baby Doc, o governo dos EUA e a comunidade empresarial trabalharam juntos para colocar o Haiti e a capital do país nos trilhos.
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Depois da posse de Baby Doc, planejadores norte-americanos dentro e fora do governo iniciaram seus planos de transformar o Haiti na “Taiwan do Caribe”. Este pequeno e pobre país situado convenientemente perto dos EUA foi instruído a abandonar o passado agrícola e a desenvolver um forte setor industrial de exportação orientada. Ao presidente e seus aliados, foi dito que este era o caminho para a modernização e o desenvolvimento econômico.
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Planos da Usaid
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Do ponto de vista do Banco Mundial e da Agência para Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid), o Haiti era um candidato perfeito para uma reforma neoliberal. A pobreza enraizada do povo haitiano poderia ser usada para forçá-lo a trabalhar por baixos salários costurando bolas de beisebol e montando outros produtos.
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Mas a Usaid também tinha planos para a zona rural. Não eram somente as cidades que se tornariam bases de exportação, mas também o campo, com a agricultura haitiana reformulada com as linhas de exportação orientada e produção baseada no mercado. Para realizar isso, a Usaid, ao lado de industriais urbanos e grandes proprietários, trabalhou para criar instalações de agroprocessamento, mesmo enquanto eles aumentavam a prática de dumping para produtos agrícolas excedentes dos Estados Unidos ao povo haitiano.
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Essa “ajuda” dos norte-americanos, juntamente com mudanças estruturais no campo de maneira previsível, forçaram os camponeses haitianos que não poderiam sobreviver ali a migrar para as cidades, especialmente para Porto Príncipe, onde os novos trabalhos na indústria supostamente estariam. No entanto, quando eles chegaram lá, não encontraram emprego suficiente para todos na indústria. A cidade ficou cada vez mais lotada. As favelas se expandiram. E para satisfazer a necessidade de habitação de camponeses desalojados, casas foram sendo erguidas rapidamente e a um preço mais baixo, algumas vezes “umas em cima das outras”.
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Muito tempo atrás, porém, planejadores norte-americanos e elites haitianas decidiram que talvez seu modelo de desenvolvimento não funcionaria tão bem no Haiti, e o abandonaram. No entanto, as consequências dessas mudanças lideradas pelos norte-americanos continuam.
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Na tarde e noite de 12 de janeiro de 2010, quando o Haiti vivenciou o terrível terremoto, depois do abalo não havia dúvidas que a destruição foi profundamente agravada pela real superpopulação e pobreza de Porto Príncipe e arredores. Mas os norte-americanos chocados podem fazer mais que balançar a cabeça e, com piedade, fazer uma doação. Eles podem confrontar a responsabilidade do seu próprio país pelas condições de Porto Príncipe que aumentaram o impacto do terremoto, e admitir o papel dos EUA de impedir o Haiti de alcançar um desenvolvimento significativo.
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Aceitar a história incompleta do Haiti oferecida pela CNN e pelo The New York Times é culpar os haitianos por terem sido vítimas de um esquema que não foi criado por eles. Como John Milton escreveu, “eles, que tiraram os olhos das pessoas, são aqueles que as reprovam por sua cegueira”.
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* Carl Lindskoog é ativista da cidade de Nova York e historiador doutorando da City University of New York. Artigo originalmente publicado no site Common Dreams. 

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quinta-feira, agosto 13, 2009

Angola: Governo de Luanda apoia iniciativa das comissões de moradores

12-08-2009 21:59
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Encontro
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Luanda - As autoridades administrativas do Governo de Luanda comprometeram-se hoje (quarta-feira) em apoiar todas as iniciativas que forem desenvolvidas pelas comissões de moradores no sentido de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos.
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Este pronunciamento foi feito à imprensa pela governadora de Luanda, Francisca do Espírito Santo, no final do encontro com os membros das comissões de moradores do município do Rangel, onde reiterou a intenção do GPL em apoiar as iniciativas positivas que se verificam em alguns bairros, principalmente no complexo de edifícios do bairro Caputo e nos prédios dos Efs.
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A dirigente afirmou que o GPL vai ajudar as comissões de moradores, pois se o trabalho for conjunto será possível melhorar a imagem da cidade, sobretudo as condições ambientais, sanitárias e a qualidade de vida dos cidadãos.
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De acordo com a governadora, existem investimentos que não estão ao alcance da comissão de moradores, mesmo com a contribuição monetária dos interessados.
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A título de exemplo apontou os prédios do Bairro Caputo que precisam de ter as telhas substituídas. “É um investimento que não esta ao alcance da comissão de moradores, então o GPL verá em que medida é possível entrar numa parceria para resolver este problema”, salientou.
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Segundo a governadora, todas as outras localidades onde os moradores organizados estão a tomar algumas medidas para melhorar a qualidade de vida dos residentes e o estado físico dos imóveis em que habitam deverão contar também com a parceria da institucional.
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A ministra sem pasta adiantou que durante o encontro foi definido um grupo de trabalho para liderar e enquadrar as acções a realizar, quer a nível da comissão de moradores como nas parcerias estabelecidas com o governo de Luanda.
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A governante apontou o trabalho realizado pelo GPL na zona das Gajajeiras e no projecto de iniciativa da comissão de moradores dos prédios do Caputo como o resultado de uma maior articulação entre o governo local e os moradores.
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“O exemplo de algumas associações de moradores do Rangel deve ser seguida por outros cidadãos, pois a tendência é reforçar o exercício de participação e de cidadania", frisou.
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No decorrer do encontro houve a exposição de algumas inquietações relativas ao saneamento básico e os esgotos que precisam de voltar a funcionar depois das obras estruturantes em curso, visando a requalificação do Rangel.
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O problema de iluminação pública em alguns bairros, a necessidade de maior trabalho de educação para a cidadania e respeito ao bem público, o combate à delinquência e a insuficiência na recolha dos resíduos sólidos foram igualmente analisadas no encontro.

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AngolaPress

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Grupo egípcio vai construir «cidade» em Luanda



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O grupo Bahgat, pertencente ao milionário egípcio Ahmed Bahgat Abdel Fattah, vai construir uma "cidade" em Luanda, nos próximos quatro anos, divulga o Jornal de Angola.
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O projecto de construção da cidade, na sede comunal do Sambizanga, tem as mesmas características da que foi criada pelo grupo Bahgat no Cairo, denominada Dream Land Egypt, que conta com casas, prédios, hospitais, hotéis, parques de diversões, lojas, campos de golfe, serviços de lavandaria, piscinas e outros equipamentos desportivos e sociais.

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O milionário egípcio Ahmed Bahgat Abdel Fattah declara que também vão ser construídas indústrias e um projecto de telecomunicações, que vão tornar o Sambizanga "na melhor cidade de Luanda".

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"Criámos o Projecto Sambizanga, agora vamos trabalhar no plano geral do município, mas antes de iniciarmos os trabalhos temos de transferir as pessoas que residem na sede comunal para outras zonas. Também teremos de saber quantas pessoas e famílias são transferidas", indicou ao Jornal de Angola.

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O milionário egípcio, que esteve em Angola na semana passada, para o arranque do Projecto Sambizanga, referiu que o Grupo Bahgat tem também em carteira a construção em Talatona, nos arredores de Luanda, uma zona residencial, com dez prédios para mercados de médio e alto rendimento e investir no sector do turismo.

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Segundo o diário angolano, o grupo Bahgat vai construir também dez parques de estacionamento na cidade de Luanda.

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Diário Digital / Lusa - terça-feira, 11 de Agosto de 2009 | 17:4
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NOTA VN - Outrora Sambizanga era um museque (bairro de lata) - Se ainda fôr. para onde serão deslocados os seus habitantes e como serão alojados? Na era colonial, a cidade de asfalto ia crescendo ocupando o terreno dos musseques cujos habitantes eram empurrados para novos musseques, cada vez mais distantes do centro.
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terça-feira, agosto 26, 2008

terça-feira, abril 22, 2008

sexta-feira, abril 18, 2008

Urbanismo (5) e corrupção - Avelino Ferreira Torres

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* Manuela Teixeira / Tânia Laranjo
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Fotos - José Rebelo
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clicar nas imagens para ler
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in Correio da Manhã 2008.04.17
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quarta-feira, abril 16, 2008

terça-feira, abril 15, 2008

Prevalência dos interesses privados

Terrenos para plataformas logísticas


O PCP acusou o Governo de subordinar o sector de transportes e logística aos interesses dos grupos económicos. Em vez de afirmar o primado do interesse nacional sempre que são abordadas as estratégias para o sector e respectivos projectos (concepção, execução, financiamento e exploração), a opção governativa vai em sentido contrário, isto é, numa direcção que serve objectivamente os interesses privados, «seja na lógica de privatização “à nascença” destas infra-estruturas seja até no regime de expropriação e alienação de terrenos».
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O mais recente exemplo disso mesmo é a proposta do Governo de atribuir o poder de expropriar imóveis e direitos a eles relativos a entidades públicas ou privadas com interesse na promoção ou exploração de plataformas logísticas. Prevista em proposta de lei recentemente em debate no Parlamento, esta nova regra que confere a uma entidade privada a faculdade de expropriar terrenos foi considerada «inaceitável» pelo deputado comunista Bruno Dias, que sublinhou a propósito a necessidade absoluta de haver «clareza, transparência e rigor nestes processos».
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É que estamos em presença de um enorme negócio – o dos terrenos - , pelo que, na perspectiva dos comunistas, há que clarificar e estabilizar o enquadramento territorial e de planeamento das áreas destinadas às plataformas logísticas.
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O que coloca ainda a questão da participação dos municípios na definição destas infra-estruturas e sua implantação territorial, facto que levou Bruno Dias a inquirir sobre a «concertação que foi feita com os municípios nesta matéria».
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in Avante 2008.04.10
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terça-feira, abril 08, 2008

Urbanismo (4) e Corrupção

Manuel Moreira
08 Abril 2008 - 00.30h

Corrupção autárquica

Isaltino tinha 1,3 milhões na Suíça e na Bélgica

Isaltino Morais obteve entre 1993 e 2002, período em que foi presidente da Câmara de Oeiras e ministro das Cidades no Governo de Durão Barroso, um rendimento líquido total de quase 352 mil euros, mas, no mesmo período temporal, depositou "em numerário" um total de 1,38 milhões de euros, nos bancos UBS, na Suíça, e KBC Bank Brussel, na Bélgica, e em contas tituladas por Paula Nunes, por intermédio desta funcionária da Câmara de Oeiras, no banco Internacional de Crédito (BIC). Em dez anos, o autarca de Oeiras, que é arguido num processo relacionado com esta situação, fez depósitos bancários num montante cerca de quatro vezes superior ao seu rendimento líquido total.

Conheça todos os pormenores em exclusivo, na edição do ‘Correio da Manhã’ desta terça-feira.

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» COMENTÁRIOS no CM on line
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08 Abril 2008 - 10.53h | Informado
Oeiras é um concelho com grandes discrepâncias..Os limites do Conncelho serviram para albergar grande parte dos bairros problemáticos das áreas limitrofes inclusive de fora do concelho..Nalguns slogans usados pela CMO é mais "fogo de vista" que outra coisa..Quem lá vive sabe bem do que fala.Paga caro e não tem reciprocidade nos serviços.Escolas Básicas s/ condições,onde nem sq existe uma porta
08 Abril 2008 - 09.32h | Re(con)formado
É extraordinário ler este tipo de comentários que levam a acreditar que cada vez mais neste país só se faz obra bem feita a troco de enrequecimento fácil e que ser pouco honesto compensa .Porque é que não o põem a fazer a nova ponte ?Se calhar já estava feita . O seu custo ? Que interessa ? É preciso é estar feita .É vergonhoso ,desmotivante e imoral. Alhos Vedros
08 Abril 2008 - 09.22h | Victor C
É com naturalidade que leio estas notícias. A iliteracia e a falta de cultura faz dos portugueses uns ingénuos sobre políticas. Alguém de senso acha mesmo que estes indivíduos quando concorrem a estes lugares o fazem por altruismo?
08 Abril 2008 - 09.12h | fkfgwç
è sempre a andar upsss sempre a roubar que o povo paga.
08 Abril 2008 - 08.57h | Licinio
Se ficar provado que I.M. de facto recebeu dinheiro de empreiteiros ou outros agentes económicos, fico pasmado com a aceitação por parte de quem justifica com o facto de que apresentou obra.Por esta e outras é que Portugal Chegou aonde chegou.
08 Abril 2008 - 04.24h | Inconformado
Este senhor pode receber... luvas ou mesmo desviar... mas como já foi dito aqui ele mostra Obra Oeiras esta cada vez mais moderna! Aí se todos os politicos fossem assim estavamos muito bem! Parabens Isaltino voltarei a votar por ti!
08 Abril 2008 - 02.30h | fernanda gaspar
Por mim serei sempre Isaltino enquanto puder ser eleito.Prefiro um Pres. de Camara que apresenta obra como ele o faz e transformou Oeiras do que um outro honesto mas que nada faz e apenas fica tranquilo c/o seu salário e o distrito entregue às baratas.Se ele recebe "luvas" e não vai aos cofres públicos é-me indiferente.Já outros tão honestos...traficam influencias,ocupam lugares de relevo.Oeiras
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in Correio da Manhã
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Comentários no CM on line no dossier publicado no dia seguinte.
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09 Abril 2008 - 18.00h | Operador
Entretanto o Z´e Povinho quadriplica as dividas para comer......
09 Abril 2008 - 11.27h | Lince
Mais um. Só em meia dúzia de notícias aqui, 3 reportam a autarcas que lesaram/roubaram as Camaras em muilhares de euros. Mas está tudo bem, só o ensino, educação, saúde, segurança, etc. é que está mal. Justiça precisa-se. FARO
09 Abril 2008 - 09.17h | Zé Povinho
Ainda dizem que os depositos a prazo dão poucos juros, este senhor antes de por o dinheiro a prazo já tinha uns juros brutais
09 Abril 2008 - 09.09h | Amilcar
A Rainha S. Isabel começou com o milagre dos pães. Agora os autarcas e outros que tais, fazem o milagre da multiplicação dos euros...
09 Abril 2008 - 09.06h | JL
Este é o espelho dos "politicos, autarcas e outros funcionários publicos" que roubam que se farta, por isso a situação miserável na Saúde, Ensino, Assistência Social, Desemprego, etc...que grassa pelo País....como ainda por cima são depois encobertos pelo poder judicial...temos o diagnóstico da situação do País...
09 Abril 2008 - 08.54h | jose antunes
À FOME em Portugal e há doentes que sofrem com falta de dinheiro para medicamentos. É uma vergonha
09 Abril 2008 - 08.35h | Paulo
Vamos todos "tentar" fazer o mesmo, no nosso País ninguém é detido com esta Justiça tardia.
09 Abril 2008 - 00.48h | TUNDRA
Sem comentários de grande monta, pois todos estes casos , já se pronunciam ,tao banais...Apenas uma lembramça! Em França, por actos semelhantes, a Justiça deteu, o ministro Bernard Tapie, o filho , do defunto Framçois Mitterrand, e, o grande patrao da maior petrolifera framcesa...entre ,muiots mais...!!! Em Portugal, o problema apenas reside no seu sistema...
09 Abril 2008 - 00.31h | o unico
grande proeza ( multiplicação dos €€€€€€€€€ )
09 Abril 2008 - 00.26h | flcamacho
Ouvi dizer que este senhor seguiu as peugadas de todos os presidentes de câmara, políticos, deputados, etc...Macau
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mais comentários »
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08 Abril 2008 - 22.58h | R.Mendes
Fiscalizem todos os autarcas e não só, depois comentem, só é penalizado o pequenino
08 Abril 2008 - 22.54h | francisco
Todo o mundo vem reclamendo pelo bom funcionamento da Justiça. Que a Justiça não deve ser pressionada. Ora aqui temos um caso original para que se possa provar que a n/ Justiça funciona mesmo. Vamos lá acompanhar o processo c/ atenção...e ver se de facto HÁ JUSTIÇA
08 Abril 2008 - 22.41h | j.silva
Mas qual é problema ? é assim que o povo gosta
08 Abril 2008 - 19.32h | Zé Paga
Se existisse autoridade, este indivíduo e outros não estariam ao serviço de autarquia ou qualquer serviço público até o assunto ser averiguado! Mas os portugueses parecem masoquistas, até os legitimam com mais mandatos! Encontrar um autarca com “mãos limpas” será como encontrar agulha em palheiro! Que venham investigar o centro porque também é Portugal!...
08 Abril 2008 - 19.22h | Silvia Ribeiro
Qual é o espanto!? Chama-se "milagre da multiplicação" e já é conhecido desde o tempo de Jesus Cristo!
08 Abril 2008 - 17.44h | p.silva
São rendimentos do sobrinho que está na suiça, coitado como é que ele pode viver com o salário de presidente de camara, nós sim com 600€ é que vivemos bem, este país é um espectaculo, depois na tv não se passa nada dizem eles, cá nos temos de aguentar com eles.
08 Abril 2008 - 17.23h | Ricardo
O que mais me repugna é que este senhor não cumprirá nunca uma eventual pena!
08 Abril 2008 - 16.58h | Zé Povinho
Realmente neste país quem tiver dinheiro para um bom advogado safa-se sempre.
08 Abril 2008 - 16.52h | Aristides
Acho que não restam dúvidas de que estes rendimentos não foram obtidos apenas com o vencimento de presidente de câmara e de ministro.
08 Abril 2008 - 16.51h | AVerdade
Para o Zé ... eu verifiquei e comparei com os ministros e seretários de estado e anexos de 2002 a 2005. são o triplo dos processos com menos de metade de dirigentes... isto é... por cada um do PS que rouba há três do pSD que se abotoa. Isto tá lindo está.
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08 Abril 2008 - 16.16h | José C. Leitão (Setúbal)
Não acredito! Aquilo é dinheiro do sobrinho! Vão vêr que é!
08 Abril 2008 - 14.40h | João G.Oliveira
Isto só vem provar que quem trabalha "Honestamente" não se governa, aliás contribuí para estas "Sumidades", contribuí e de que maneira pagando impostos.
08 Abril 2008 - 14.34h | margonça
Em causa os princípios MORAIS.(não confundir com nomes)IRLANDA:primeiro ministro Bertie Ahern,demite-se agora, porque em 1984 aceitou 50 mil de construtor. PORTUGAL:semelhante caso, com 1,2 milhões, provaca endeusamento e reeleição. Afinal de que se lamenta o Povo Português? somos o que merecemos ser! Obrigado CM, ajuda-nos a compreender! VNG
08 Abril 2008 - 13.16h | Victor C
Então achavam que ele detinha aquele cargo por altruísmo?
08 Abril 2008 - 12.54h | Manuel Lobato
e depois aparecem estes senhores na tv com cara de santinhos, mas eu pergunto para quando uma lei emque quando haja suspeitas sobre qualquer pessoa, com cargos politicos ou autarquicos,seja suspenso ate terminarem as investigaçoes. isto tem de acabar o povo anda farto de ver ler e ouvir as noticias o dia a dia sobre corrupçao e nada acontece a estes senhores porra.
08 Abril 2008 - 12.51h | da silva
e anda um homem a pagar IRS e a levar aumentos de 2% durante 10 anos, haver individuos a "limpar" milhares de euros? onde está a justiça célere ? onde está o FISCO? que nos diz o Sr. Ministro das Finanças acerca disto? que raio de País é este? com que direito se lixam sempre os mesmos? de certeza que no tempo do Marcelo Caetano , casos destes davam prisão......
08 Abril 2008 - 12.11h | Aristides
E como é possível ainda haver gente a defender este tipo de pessoas e a dar-lhe maiorias obsolutas?
08 Abril 2008 - 12.11h | Jorge Campos
Há quanto tempo deveria o Morais estar suspenso de funções autárquicas? Só para se prvenirem possíveis obstruções à aplicação da Justiça...
08 Abril 2008 - 11.43h |
Bom trabalho. Agora verifiquem os ministros, secretários de estado e anexos, de 1995 a 2001. Tanta surpresas....
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Urbanismo (3) - As «casas» de Sócrates

Nuno Alegria / Lusa
* Carlos Ferreira

23 Fevereiro 2008 - 05.24h

Reportagem CM

As casas de Sócrates: Aldeias à margem da polémica

A D. Maria José está assustada. Meteram-lhe medo por causa da casa onde vive. “Foi o meu irmão que tratou de tudo e já morreu”, diz a anciã, de 71 anos, enquanto sai de um anexo à habitação ampliada em 1982 com um projecto assinado por José Sócrates.

Em Faia, como noutras aldeias do concelho da Guarda, onde o actual primeiro-ministro assinou dezenas de projectos, a censura das populações vai mais para as suas políticas do que para as polémicas assinaturas na década de 1980.

Agarrada a duas bengalas que a ajudam a enfrentar as agruras da vida e ultrapassado o receio inicial, a D. Maria José conta alguns detalhes da história da Casa do Barrôco, uma das três de Faia cujos projectos foram assinados por José Sócrates: “Isto foi uma ampliação, a base ainda é de pedra – agora já não se podia fazer assim porque vêm aqui muitos turistas – mas não sei mais nada. O meu irmão é que sabia.”

A anciã é interrompida bastas vezes por outras quatro mulheres da aldeia, que abandonaram as escadas solarengas da capela frente à casa para conhecerem os motivos da agitação causada pelos estranhos que têm aparecido nos últimos dias. “O que nós lhe pedimos [a Sócrates] é que dê casas novas a quem as não tem”, interrompe Fernanda Maria, de 59 anos, apressada ao encontro do marido para lhe entregar o almoço no trabalho. “Nunca esteve uma crise assim”, diz a mulher. Antes de seguir caminho, junto à capela cuja chave guarda, acrescenta: “Deviam era olhar para isto, está toda estragada, com o telhado a cair...”

A questão política pouco interessa às gentes que de repente viram as suas aldeias e habitações nas televisões e na internet. Quem assinou ou não os projectos também lhes é indiferente. E a ironia é muitas vezes escolhida para responder às questões sobre os projectos de ‘Socras’ – como insistem em chamar ao primeiro-ministro, engenheiro que exerceu a profissão na década de 1980 no concelho da Covilhã. Próximo do largo da capela de Faia, junto a um fontanário onde os escritos avisam que não está ligado à rede pública – “Água não vigiada”, diz o aviso – Maria Hermínia, de 70 anos, desabafa: “Mais valia continuar a fazer casas do que estar a governar o País como está!” Há quem pense o contrário, devido à falta de qualidade arquitectónica da generalidade dos edifícios.

Paredes-meias com outra das habitações de Faia alvo da polémica espoletada no início do mês vive Casimiro Monteiro Lopes, de 65 anos. O reformado, um antigo pedreiro que ajudou a construir a Casa do Barrôco, explica que os proprietários vivem na Guarda, a 13 quilómetros da aldeia, e só ali passam alguns fins-de-semana.

Aliás, a maioria dos prédios é de antigos ou actuais emigrantes ou de segunda habitação. “Olhe, eu é que ainda vou a ministro”, diz bem-disposto, por ter trabalhado na construção de uma obra assinada por José Sócrates. Berta Costa, de 66 anos, proprietária de uma vivenda na aldeia, forrada a azulejo e com um painel evocativo de Nossa Senhora de Fátima – igual aos existentes noutras habitações da região – é menos expansiva, até porque o marido, Leonel Costa, está ausente. Enquanto pendura a roupa no estendal colocado na fachada, justifica que em 1983 eram emigrantes. “Eu nem o conheci!”, exclama, entrando de seguida em casa.

A menos de cinco quilómetros, pela EN16, fica a aldeia de Covadoude, onde nasceu Joaquim Valente, o actual presidente da Câmara Municipal da Guarda, também envolvido na polémica. As casas de pedra, algumas em ruínas, as ruas estreitas em paralelos ou cimento, não são muito diferentes das de Faia.

Em qualquer delas saltam à vista as obras mais recentes, que desvirtuam o casario típico, mas respondem às necessidades dos proprietários, muitos dos quais passaram parte da vida a trabalhar emigrados pa-ra poderem construir uma vivenda, às vezes “tipo maison”, na sua terra Natal.

Em Cavadoude há duas casas do ‘Socras’. Uma delas, na rua do Carvalinho, está à venda pelos proprietários, que são emigrantes e estão ausentes. Na outra vive Elisabete Paixão, de 30 anos, nada afectada com a questão das assinaturas: “O casal que a mandou fazer já morreu e eu não sei nada. Nem estou preocupada.” A mulher, que comprou a casa há dez anos, só estranha a situação porque os jornalistas a andam a “chatear” e apressa-se a continuar a sua vida, enquanto outra mais velha e de palavra fácil, que assiste à conversa, intervém: “Eu sei lá o que se passou! Isto é tudo uma luta de políticos!” E fica assim feita a síntese do que pensam muitos dos moradores das aldeias do concelho da Guarda sobre os projectos assinados pelo primeiro-ministro. Tanto mais que, como dizem, os prédios não valorizam mais por causa disso, nem estão a pensar vendê-los. E viver num projectado por José Sócrates apenas serve para animar as conversas de café e as brincadeiras entre vizinhos e amigos.

Mesmo assim, e apesar da maioria das pessoas acompanhar o assunto com fair-play, há quem manifeste menos vontade em falar sobre as já chamadas casas de Sócrates. Em Amoreiras do Mondego, onde há duas, Gonçalves Abel e Idalina nem ultrapassam o relvado até à grade da vivenda sobranceira à estrada principal da terra. Falam à distância, desvalorizando as perguntas, perante o olhar atento de uma vizinha, que acompanha a conversa da janela de uma maison. “Não quero falar disso. Não sei o que se passou”, diz Idalina, que esteve emigrada em França com o marido durante 40 anos.

“Sei que paguei tudo o que tinha a pagar e só soube do problema quando vi na televisão e no debate no Parlamento”, destaca, pronta a acabar com as explicações quando chega Abel Gonçalves, chamado a conselho da vizinha que continua à janela. “Olhe, os políticos são todos iguais. Não é só aqui, é em todo o Mundo”, sentencia, enquanto a mulher, agora já mais à vontade, termina: “Se fizeram o que não deviam [Sócrates e alguns engenheiros da Câmara da Guarda], então que paguem todos por isso.” A verdade é que, do ponto de vista legal, nada a sublinhar: os projectos foram aprovados pelos órgãos autárquicos, apesar das críticas ou dúvidas levantadas em relação a alguns deles.

A meia hora de caminho da Guarda, pela EN18, no sentido de Manteigas, fica Valhelhas. Anexa às Escadinhas da Mina, no bairro dos Barreiros, forrada a azulejo e com um painel de Nossa Senhora de Fátima, situa-se a casa de um militar da GNR, reformado, que também é proprietário de um terreno e uns anexos em frente, do outro lado da estrada.

A família não vive no concelho e só de vez em quando é vista na terra. José Reis de Oliveira, de 73 anos, ex-emigrante em França por duas vezes, no total de 22 anos, aproveita a tarde solarenga de Inverno para engraxar calçado no seu quintal e não resiste à curiosidade. Dispõe-se a dar algumas informações sobre a vivenda do vizinho, com projecto assinado em 1982 pelo primeiro-ministro.

“Não ligo a política, religião e desporto, embora seja católico e do Benfica, mas pouco”, começa por dizer o reformado, rematando a sua opinião sobre a polémica de forma lacónica: “Deus é Deus e também não agrada a todos!?” Em Valhelhas há quem diga, depois do que viu na televisão, que “a casa do GNR é clandestina”. Não é verdade em relação a esta, nem a qualquer outra das dezenas que têm projectos assinados por José Sócrates. Apenas vão ficar nos anais da política porque um jovem engenheiro técnico a caminho de ser primeiro-ministro lhes pôs a sua assinatura.

CASA PEQUENA EM PEDRA DEU LUGAR A DOIS PISOS

A ampliação da casa onde vive a D. Maria José, em Faia, terá sido projectada em 1982 por Joaquim Valente, actual presidente da Câmara da Guarda - segundo afirmam os familiares da idosa - mas os documentos foram assinados pelo primeiro-ministro. A original era em pedra.

AUTORIA DOS PROJECTOS

A notícia de que José Sócrates assinou dezenas de projectos de arquitectura e engenharia relativos a edifícios no concelho da Guarda, na década de 1980 – cuja autoria alguns donos das obras garantem não ser dele – foi revelada no início do mês pelo jornal ‘Público’. O primeiro-ministro assumiu de imediato “a autoria e a responsabilidade de todos os projectos”. Mas muitos foram atribuídos a engenheiros técnicos seus antigos colegas de curso e então funcionários da Câmara da Guarda, que não podiam assiná--los por impedimento legal.

"NEM SEQUER LI A PLANTA"

O Ti Casimiro – Casimiro Lopes – vive paredes-meias com uma das casas da polémica desde 1983 e ajudou a construir outra, no largo da capela de Faia. “Era pedreiro e andei lá com outros a fazer as obras de ampliação. Andávamos a trabalhar ao dia para aí durante um ano”. E o projecto do Sócrates, viu-o? “Nem sequer li a planta.” “As pessoas têm mais que fazer, não ligam a estes assuntos. Eu agora é que ainda vou a ministro”, ironiza, de braços abertos no meio da rua, sorridente.

SOBRE UMA PALHEIRA

Uma das casas mais polémicas foi projectada em 1986 em Rapoula e mereceu logo a contestação de um vizinho. Orlindo Ferreira, de 54 anos, dono de oficinas de reparação e venda de motos, ainda hoje está revoltado e promete voltar a protestar. “Fizeram aqui um masmorra, que me prejudica e estragou esta zona.” A casa foi construída sobre uma palheira (um curral de vacas) sem drenagem de esgotos, com janelas viradas para o quintal do reclamante.

OS MAIS POBRES FORAM AJUDADOS

José Sócrates não recebeu dinheiro pela maioria dos projectos que assinou, segundo uma fonte do gabinete do primeiro-ministro. Mas o caso de José Sócrates não é o único. Em Amoreiras do Mondego, o engenheiro Fernando Caldeira é elogiado junto a outra casa assinada por José Sócrates: “Ele fez muitos projectos de borla. Isto agora só acontece tudo porque o Sócrates é primeiro-ministro”, diz o filho de José Mário, agricultor, ausente a “tratar da sua vida”. “Os meus pais estão-se a marimbar para o caso. Nesta aldeia, Fernando Caldeira deu muitos projectos aos mais pobres”, conclui o filho dos agricultores.

CÂMARA CRIA COMISSÃO

O presidente da Câmara da Guarda (PS) anunciou quarta-feira (dia 13) a nomeação de uma comissão para averiguar alegadas irregularidades no licenciamento de obras particulares no concelho na década de 1980, relativas a projectos assinados por José Sócrates. “Fundamentalmente o que queremos que fique claro é se, pelo facto de ser o engenheiro José Sócrates o responsável pelos projectos, houve violação da legislação”, explicou Joaquim Valente. O processo de averiguações também vai apurar “se houve facilitação nos procedimentos que visavam a aprovação dos projectos nas Reservas Agrícola e Ecológica”.

DESCOBRIU INTERNET AOS 71 ANOS

A D. Maria José não consegue perceber muito bem o que está a acontecer. “Sei que apareci na televisão e na internet. No início meteram-me muito medo, mas agora está tudo bem.” Não reconhece onde está o interesse do tema: “Na altura não era primeiro-ministro e agora é...”, diz. Quando fica mais sossegada, com a ajuda e descontracção das vizinhas, explica que a Casa do Barrôco tem o nome porque sob ela passa um ribeiro, que foi desviado. Quanto à construção pouco sabe, porque esteve tudo a cargo do seu único irmão, já falecido. Seja como for, teve uma experiência que dificilmente sonharia aos 71 anos de idade: viu-se a ela e à sua casa na internet, em casa de um sobrinho, de 38 anos.

NOTAS

ANTIGOS COLEGAS EM COIMBRA

O grupo envolvido na polémica é composto por Fernando Caldeira, António Patrício e Joaquim Valente, ex-colegas de Sócrates no Instituto Superior de Engenharia de Coimbra.

AUTORIA INQUESTIONÁVEL

O presidente da Câmara da Guarda, Joaquim Valente, afirma que a titularidade dos projectos de arquitectura e engenharia assinados por Sócrates “é inquestionável”.

279

A freguesia de Faia é aquela onde existem mais projectos (três), se exceptuarmos a sede de concelho. Tem 9,63 km² de área e 279 habitantes (Census 2001).

LOCALIZAÇÕES IGNORADAS

Em algumas aldeias só através de cópias das fotografias das casas, publicadas na internet os moradores conseguiram localizá-las.

'TORRES' ENTRE CASÁRIO DE PEDRA

As novas habitações, muitas das quais resultaram de ampliações, apresentam agora grande contraste com o casario típico em pedra.

INFORMADOS PELO 'CONTRA'

“Eu soube disto pelo ‘Contra-Informação’, quando a casa apareceu com o boneco do primeiro-ministro a gritar “Assinei! Assinei! Assinei!”, exclama um popular em Rapoula.

FOSSA DESPEJA PARA O QUINTAL

“Ainda hoje a fossa despeja para o meu quintal. Tem divisões muito pequenas, não tem licença de habitabilidade e estraga o largo”, diz Orlindo Ferreira, em Rapoula.

JURISTAS VÃO FAZER INQUERITO

A comissão nomeada pela Câmara da Guarda é composta por José Guerra e Delfim Silva, ambos da autarquia, e pelos juristas Alberto Garcia, Daniela Capelo e Tatiana Adro.

23

Até agora foram reveladas 23 construções com projectos assinados por José Sócrates, em oito aldeias e na cidade da Guarda. Mas existem mais.

CONSIDERADAS COISAS NORMAIS

Um casal residente no bairro de São Domingos desvaloriza a questão das assinaturas. “Eram coisas normais, havia trocas entre eles”, dizem, pedindo para não serem identificados.

ENTREVISTA LEVOU A INVESTIGAÇÃO

Foi uma entrevista de Abílio Curto, ex-presidente da Câmara da Guarda, à Rádio Altitude que originou a polémica. Ex-autarca nega agora ter duvidado da autoria dos projectos.

COVILHÃ PARA A GUARDA

O primeiro-ministro trabalhava na Covilhã quando assinou os projectos na Guarda na década de 1980 enquanto engenheiro técnico.

FEITAS NA TERRA DO AUTARCA

Em Cavadoude, terra do actual presidente da Câmara, foram identificadas duas casas com projectos assinados por José Sócrates.

Urbanismo (2) e Corrupção

* Eduardo Dâmaso / António Sérgio Azenha

Francisco Paraíso
07 Abril 2008 - 12.00h

Corrupção Autárquica: Lisboa sob suspeita

Resultados em Junho para 39 casos

As investigações à Câmara de Lisboa por suspeitas de corrupção já desencadearam a abertura de 53 inquéritos criminais. Neste momento, apesar de alguns desses processos terem sido arquivados, estão ainda em curso, segundo apurou o CM, 39 inquéritos e seis averiguações preventivas, que poderão desembocar na abertura de novos inquéritos criminais.

Os casos estão repartidos por três estruturas de investigação – Polícia Judiciária, Unidade Especial de Investigação liderada por Maria José Morgado e 9.ª secção do DIAP de Lisboa. A coordenação é assegurada pela equipa de Maria José Morgado e o clima tem sido de grande cooperação entre os investigadores. O nosso jornal sabe que uma parte dos inquéritos em investigação deverá ter resultados em Junho, tendo em conta os prazos e as intenções da equipa.


O ponto de partida numa parte dos inquéritos a cargo da equipa especial é a sindicância administrativa feita pela magistrada Elizabete Matos. Considerado um verdadeiro guião para aquilo que tem sido a organização e a prática da Câmara de Lisboa nas últimas duas décadas, a sindicância abriu a porta para dezenas de irregularidades e de indícios criminais.


Em apenas dois anos, desde que a Polícia Judiciária efectuou as primeiras buscas aos departamentos do Urbanismo e do Património da autarquia lisboeta em Dezembro de 2005, magistrados e polícias passaram a Câmara de Lisboa a pente fino. Das 53 investigações desencadeadas pelas autoridades foram arquivados seis inquéritos, uma averiguação preventiva e uma investigação foi incorporada noutro processo.


Com estes arquivamentos continua ainda em investigação um total de 45 processos, dos quais 39 estão em fase de inquérito e seis em processo de averiguação preventiva. Como estão em causa suspeitas de 'criminalidade que utiliza o abuso dos poderes públicos na instrumentalização da política de solos para enriquecimento ilícito', como já disse Maria José Morgado, mais de metade das investigações é da responsabilidade do DCICCEF: 23.


As restantes investigações estão distribuídas por quatro organismos: 15 na equipa de Maria José Morgado, cinco no DIAP, uma na Directoria de Lisboa da PJ e uma na Direcção de Finanças de Santarém.


Segundo as várias fontes contactadas pelo Correio da Manhã, fica a ideia de que a cidade de Lisboa tem sido alvo de um ataque organizado nos últimos anos a tudo o que é solo edificável ou que possa adquirir tal estatuto mediante decisões camarárias.


Isso mesmo foi amplamente denunciado pelo vereador José Sá Fernandes e pelo ex-vereador Nuno Gaioso Ribeiro.


DOIS PROTAGONISTAS-CHAVE


Por motivos diferentes, Carmona Rodrigues e José Sá Fernandes são dois protagonistas-chave em todo o processo de investigações criminais à Câmara de Lisboa. Desde logo foi o próprio ex--presidente da autarquia lisboeta, em substituição de Santana Lopes, que pediu à Procuradoria-Geral da República a realização de uma sindicância à Câmara, iniciativa destinada a clarificar as crescentes suspeitas de corrupção na autarquia. Carmona acabou por apresentar a demissão do cargo, por ter sido constituído arguido no caso Bragaparques e dar origem a eleições intercalares na capital. Hoje é vereador.


José Sá Fernandes é também vereador e integra o executivo socialista de António Costa. O vereador do BE denunciou vários negócios suspeitos relacionados com a autarquia lisboeta e ficou conhecido, sobretudo, pela sua acção contra os negócios da Câmara com a Bragaparques.


DISCURSO DIRECTO: 'FALTA CRIME DE ABUSO URBANÍSTICO': Maria José Morgado, coordenadora do DIAP

Correio da Manhã – Portugal deveria ter o crime de abuso urbanístico?

Maria José Morgado – O Direito Comparado diz-nos que a Espanha, por exemplo, tem essa incriminação. O Direito Penal é a ‘ultima ratio’ mas não pode ser uma ‘ratio nula’. O Código Penal devia incluir a previsão de um crime que envolva as questões mais graves na área urbanística.


– Que questões são essas?

– Estamos a falar de todas as situações em que se considere que um interesse público é lesado, ou seja, uso de informação privilegiada, de manipulação dos planos directores municipais, do solo edificável.


– Os negócios urbanísticos desafiam o Estado de Direito?

– São negócios que instrumentalizam poderes públicos ao serviço de interesses particulares e, por isso, devem ter uma previsão penal muito específica.


SINDICÂNCIA DEU GRANDE IMPULSO


A investigação administrativa que foi conduzida pela magistrada Elizabete Matos aos serviços da Câmara de Lisboa deu um impulso decisivo a uma acção que pode vir a ser de verdadeira limpeza no município. Foram passados a pente fino loteamentos, alterações ao plano director municipal, atribuições de capacidade construtiva, contratação de pessoal e dezenas de outros aspectos da organização e actividade do município.


O documento assinado por Elizabete Matos está na origem das demissões das chefias do Urbanismo, decididas pelo presidente da Câmara, AntónioCosta, após conhecer os resultados da investigação. Mas está, também, na origem do aumento do número de casos em investigação, grande parte dos quais está a cargo da Unidade Especial de Investigação chefiada por Maria José Morgado. Aqui, estão a ser feitos verdadeiros levantamentos sobre as principais áreas de Lisboa com capacidade construtiva, está a ser minuciosamente analisada a organização da câmara, as relações familiares e de amizade de alguns técnicos e dirigentes do município que trabalham por fora.


A investigação em curso tem vindo a destapar uma das omissões da legislação nacional na área do crime económico. Uma parte significativa das práticas dos serviços municipais que abrem a porta ao tráfico de influência e à corrupção não é criminalizada directamente pela legislação penal portuguesa. Alguns são ilícitos puramente administrativos, ou nem isso, e dificilmente enquadráveis em crimes como a prevaricação, abuso de poder, participação económica em negócio, entre outros, que têm servido de ‘muletas’ para uma acusação.


O facto de não existir em Portugal o crime de abuso urbanístico – que em Espanha tem dado dezenas de pesadas condenações a autarcas, funcionários e empresários da construção civil – é um claro impedimento a uma acção mais eficaz da Justiça.


QUEM É QUEM NA INVESTIGAÇÃO DA CORRUPÇÃO

MARIA JOSÉ MORGADO

DIAP - Sucessora de Francisco Van Dunem

‘Apito Dourado’ - Início das equipas com a sua ‘marca’

Prazos - Obsessão

Maria José Morgado dá rosto e voz a um dos raros discursos bem estruturados no País sobre o combate à corrupção. Esteve na Polícia Judiciária até 2002 onde liderou o combate ao crime económico numa das fases mais prósperas do departamento em matéria de presos e recuperação de receita para oEstado. O procurador-geral entregou-lhe a missão de salvar o ‘Apito Dourado’ do arquivamento certo e de coordenar as investigações à Câmara de Lisboa.


TERESA ALMEIDA

Procuradoria - Foi onde esteve antes

Método - Gosta de trabalhar em equipa

Bragaparques - Fez a acusação

Coordenadora da 9.ª secção do DIAP, Teresa Almeida é uma procuradora muito experiente. Esteve com Cunha Rodrigues na Procuradoria-Geral da República e agora trabalha com uma equipa de magistrados já muito especializada em crimes urbanísticos. A 9.ª secção temos principais casos da CML.


MOREIRA DA SILVA

Macau - Foi onde começou a carreira

Alípio Ribeiro foi buscá-lo para a PJ

Responsável pelo crime económico

Antigo funcionário judicial, este magistrado é o director da DirecçãoCentral da PJ que tem a responsabilidade de apresentar serviço no combate à corrupção. Sob a sua tutela estão os investigadores que têm os processos da Câmara Municipal de Lisboa mas também muitos outros a envolver municípios.


TRÁFICO DE SOLOS (A Opinião de Paulo Morais, Professor universitário)

A gestão do Urbanismo nas câmaras municipais transformou-se na mais rentável fonte de corrupção. Constitui o maior cancro da democracia. As práticas mais comuns e perversas consistem na alteração, sem regra e contra o interesse público, da capacidade construtiva de terrenos. Áreas agrícolas que apenas permitiam uma actividade de subsistência a pobres agricultores mudam de mãos (e para que mãos!) e, como que por milagre, aí nascem edifícios de vinte andares. São as alterações aos planos directores municipais, feitas a pedido ou por ordem de quem domina o poder político. Mas há mais. Quantas vezes são licenciados edifícios de seis ou mais andares, onde os instrumentos de planeamento apenas permitiriam a construção de vivendas. Tudo graças a uma conivência promíscua entre promotores imobiliários e vereadores do Urbanismo; também devido a um caldo legislativo confuso que incita a arbitrariedades; e a uma burocracia que ajuda ao descontrolo. Com estas práticas conjugadas, terrenos de cem mil euros podem passar a valer dois milhões. O ‘negócio’ do Urbanismo gera assim margens de lucro de dois a três mil por cento, só comparáveis em Portugal às do tráfico de droga. Não é de admirar que se instale, na política local, o mesmo tipo de mecanismos perversos, as mesmas máfias.Traficando a capacidade construtiva excessiva, os vereadores do Urbanismo convertem-se em dealers, sequazes dos hábeis promotores imobiliários – são os artífices de todas as burlas, dominam os partidos e financiam-nos. Ou, mesmo que não sejam convictamente corruptos, são cúmplices, fecham os olhos – são os medrosos, muitos e muito baratos. Há excepções: os resistentes, que combatem esta vergonhosa permeabilidade da gestão da coisa pública a interesses privados. Inconformados, acabam por sair, desiludidos ou saneados.


PORMENORES

23 NA DCICCEF

Das 45 investigações na Câmara de Lisboa, 23 são do Departamento Central de Investigação e Combate à Criminalidade Económico-Financeira (DCICCEF), da PJ.

15 NA UEI

A Unidade Especial de Investigação (UEI), liderada por Maria José Morgado, também tem uma fatia importante dos processos investigados: 15.

CINCO NO DIAP

O Departamento de Investigação e Acção Penal (DIAP), integrado na Procuradoria-Geral da República (PGR), tem cinco processos de investigação.

URBANISMO COM 109 AVENÇADOS

A Direcção Municipal da Gestão Urbanística (DMGU) tinha 109 funcionários avençados. Este número representava cerca de 10% do total do pessoal avençado na autarquia, que ascendia a 1148 pessoas.

URGENTE MODERNIZAÇÃO

A sindicância considera que 'os serviços de urbanismo precisam de urgente modernização'. E sugere que se equacione 'um trabalho com entidades externas' no sentido de analisar as tarefas.

AMANHÃ

Os processos que atingem câmaras na área de Lisboa, em particular os casos de Oeiras, Amadora e Cascais

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» COMENTÁRIOS no CM on line
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08 Abril 2008 - 02.00h | xpto
Para quando a verdade sobre o favorecimento dos empregados da familia Soares, numa casa da GEBALIS, FAVORECIMENTO ESSE DADO PELA SENHORA HELENA lOPES DA COSTA
07 Abril 2008 - 18.08h | Ambrósio Lopes Vaz
Os processos estão em boas mãos.A juiza Maria José Morgado é competente e a pesar de todas as dificuldades vai conseguir levar "a carta a Garcia"Pena foi que a Celeste Cardona e sr. Portas a tivessem posto fora da investigação,quando foram para o governo.Porque alguns já tinham prestado contas muito mais cêdo.Mas os tais salvadores da Pátria fizeram a limpesa e meteram gente de sua confiança.
07 Abril 2008 - 17.36h | ex-assessor
Passei a «ex-assessor» porque fui(fomos) despromovido a executivo-bacharel pela eficaz reestruturação da função pública.Agora e de facto desde há dez anos, «assessores»,só os badalados ajudantes dos políticos.Entre muitos destes regista-se um radical pragmatismo, a pretexto da pseudo anti-burocracia da Lei e da técnica,o que por sinal tem semeado por essas câmaras e serviços turbulentos problemas.
07 Abril 2008 - 13.09h | PV
AGORA E QUE VAMOS VER A COMPETÊNCIA DA SRªPROCURADORA. ESPERO QUE ELA CONSIGA EXPLICAR, E LEVAR A JULGAMENTO, A FALÊNCIA DA C. LISBOA, QUE POR SINAL E COINCIDENTE COM A RIQUEZA RECENTE DE ALGUMAS ENTIDADES PRIVADAS ENTRE AS QUAIS ALGUMAS ENTIDADES DESPORTIVAS DESTA REGIÃO. FICO Á ESPERA, MAS PARA JÁ NÃO ESTÁ A SER NADA RÁPIDO
07 Abril 2008 - 12.34h | M. Gonçalves
Porque não fazem como em Espanha? Já que Sócrates é tão amigo de Zapatero, porque não faz como ele? Ou só imita o que é mau e nos prejudica? Braga
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in Correio da Manhã
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