A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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segunda-feira, abril 25, 2011

Estado pisca-pisca - Óscar Mascarenhas

 

2011-04-25

Se o dia 25 de Abril tivesse a tradição do Ano Novo e o reservássemos para tomar decisões de fundo para o rumo das nossas vidas - uma espécie de «medidas estruturais», a bem dizer -, hoje eu aderiria ao pensamento único.
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Até agora tenho-me mantido - sem ganhos que se vejam, confesso - fora do 'mainstream', não sei se por caturrice, se por me aborrecer a ausência de diversidade. Mas descobri que o pensamento único é divertido e variado, nada monocórdico - e a caturrice pode sempre vencer-se.
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O pensamento único não é uma coisa fixa, sempre com a mesma formulação: pode até ter manifestações contraditórias e contém o mesmo sortilégio lúdico do sabonete que tentamos apanhar no fundo da banheira: quando o julgamos agarrado - split! - lá fugiu.
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O pensamento único, afinal, é assim: tudo pode ser o que é ou o seu contrário - desde que o resultado final seja não mudar o que está. O modo como se explicam as contradições é apenas um exercício de ginástica meníngea para combater o Alzheimer - o único alemãozinho que o pensamento único permite que se combata, até ver...
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Descobri esta riqueza criativa do pensamento único quando vi e ouvi os «unicopensadores» encartados da nossa praça a acusarem de «falta de sentido de Estado» a recusa do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda em irem dizer onde lhes dói a alma aos médicos a domicílio - clínicos de receita única, claro! - que acorreram ao 112 que quatro banqueiros mandaram o Governo chamar.
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Ora, até agora, não havia político que, estando no estrangeiro, não recusasse pronunciar-se sobre a situação em Portugal, nomeadamente sobre divergências internas - em nome do sentido de Estado. Era até considerado quase traição, no mínimo «enfraquecer a imagem do Estado», ir lá para fora criticar o Governo, por muito que se discordasse dele.
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Agora, pedir a estrangeiros soluções que não foram sufragadas pelo povo português (privatizações, reduções do salário mínimo) não é falta de sentido de Estado. Falta de sentido de Estado é dizer-lhes que há uma entidade única com quem devem dialogar - o Governo que, bem ou mal, é a única entidade legitimada pelo voto popular. O Estado é uma entidade pisca-pisca, ora existe, ora não, ao serviço do que for preciso fazer segundo as imposições do pensamento único.
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Ná! Apesar de tudo ainda não é já que adiro ao pensamento único. E vou hoje fazer o que sempre tenho feito: juntar-me na rua com muitos milhares que não têm sentido de Estado mas que, mais do que ninguém, têm sentido o estado em que os deixaram.

segunda-feira, abril 11, 2011

Siza Vieira e o Compromisso Patronal !

JN

 

Meu caro Siza Vieira

00h30m

Vemo-nos de dez em dez anos e em locais improváveis - um comboio apinhado a caminho de Bombaim, um aeroporto europeu - mas episódios dos nossos encontros fazem-me fanfarronar que sou seu amigo, que me dou bem consigo.
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Tenho por si uma admiração incontida, pelo artista mas muito mais pela vertical intransigência de homem que me habituei a ver em si. Sem, provavelmente, jamais termos votado na mesma força política, sinto-me consigo do «lado do não» face aos mandadores do baile ou, para aproveitar a imagem de João Cabral de Melo Neto, do «lado do sim» nesta imensa sala negativa.
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Por isso, caro Siza Vieira, que faz o seu nome no meio de quarenta e sete subscritores do estranho apelo à unidade come-e-cala e à resignação do manda-quem-pode? Como pode você aparecer ao lado de cartolas tão patriotas que ameaçam expatriar os seus capitais ao mínimo aumento de impostos? Como se deixou figurar no meio de uma camioneta de vencidos da vida e outros convencidos de terem assinatura importante?
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E para pedir, afinal, o quê, Siza Vieira? «Em primeiro lugar, um compromisso entre o Presidente da República, o Governo e os principais partidos, para garantir a capacidade de execução de um plano de acção imediato, que permita assegurar a credibilidade externa e o regular financiamento da economia, evitando perturbações adicionais numa campanha eleitoral», blá-blá; e «em segundo lugar, um compromisso entre os principais partidos, com o apoio do Presidente da República, no sentido de assegurar que o próximo Governo será suportado por uma maioria inequívoca», patati-patatá.
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Basicamente, o papel diz: o povo que não se intrometa com a sua vontade de votar no que no que tem de ser decidido já pelos «principais partidos» (quais são, Siza Vieira, a sua lista coincidirá com a dos outros 46?) e sob os auspícios de Cavaco Silva, cuja única missão parece ser a de explicar que «não é FMI, é Fê-é-é-éfe, Fê-é-é-éfe», mais parecendo um 'zombie' político...
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Com tal documento, com a sua assinatura, imagine o alívio que os socialistas de Sócrates não terão encontrado ao sentirem-se livres para largar as bandeiras do Serviço Nacional de Saúde, do ensino público, da segurança social pública, da Caixa pública, da justa causa de despedimento - tudo isso em nome de uma unidade que «tem-de-ser» e que tem tanta força que «até o Siza Vieira assina por baixo».
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Diga-lhes que não, Siza Vieira. Ou pelo menos diga-me em segredo que não, que a si perdoo-lhe tudo - desde que me perdoe esta minha impertinência.
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sábado, abril 09, 2011

12 se Março - as manifestaões espontâneas e o que mais se ker+a - Óscar Mascarenhas

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A minha folha A4

2011-03-14

Foi bonita a festa da luta, no sábado. Foi única. Isto é, irrepetível. Nunca uma manifestação pôde ser presa tão fácil de grupos despropositados ou mesmo provocadores.
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Não aconteceu no sábado - duvido que não aconteça num segundo evento lançado da maneira como este foi. Um desfile é um empreendimento complicado, que envolve alguma logística e gente preparada para enquadrar a marcha e dissuadir a provocação. A espontaneidade é linda - quando tudo corre bem. Mas espontaneamente nascem, lado a lado, flores - e ervas daninhas. E, na política, estas não são fruto do acaso - são plantadas.
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Quem não tem estruturas para enquadrar um desfile de rua, faz melhor se marcar um local de concentração, montar palco e instalação sonora que possa controlar - e abrir ali a festa da luta. Sem aventuras potencialmente trágicas.
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E agora a seguir? Como dar sentido a toda a energia da revolta que se manifestou de forma tão diferente pelas ruas de Portugal? Dois factores sobressaíram na jornada de sábado: a mobilização por rede social - e a pluralidade de opções políticas e ideológicas para o mesmo grito contra a injustiça.
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No momento de saber «o que querem mesmo» os jovens que se manifestaram chegar-se-á à conclusão de que não haverá consenso. E ainda bem. Porque não é tempo de sonhar utopicamente - e perigosamente - com uma «força nova» agregadora da ideia. Pelo contrário, há que aproveitar o que une na diversidade. Isto significa que não se trata de criar uma organização nova, mas resgatar as existentes e que nasceram como focos de esperança e mobilização: os partidos e os sindicatos. Sucedeu, nas últimas décadas, que foram usurpados pelas burocracias e redes de interesse, por falta de vigilância cívica dos militantes. É preciso que haja a perseverança de entrar nos partidos e nos sindicatos e devolvê-los ao seu destino original. O uso de redes sociais pode até permitir a conjugação de esforços interpartidários de exigência e vigilância, porque mais importante do que a lógica de partido é a realidade da indignação que irmana pessoas de opções políticas diferentes, como se viu.
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Pluralidade e rede - pode ser a consigna. Uma espécie de cumplicidade entre militantes de partidos diferentes para não os deixar nas mãos de usurpadores instalados.
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Pluralidade, rede - e internacionalização. Porque a cumplicidade da revolta tem de chegar a outros lados onde o problema se repete e onde acrescem, além dos egoísmos partidários, os nacionais.
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Não é fácil. Mas foi o que me coube numa folha A4.
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Tempos do Reviralho - Óscar Mascarenhas

JN
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Tempos de reviralho

2011-03-28

Quando, há seis anos, o PS ganhou as eleições, uma certeza ancorou nas conjecturas dos portugueses, qualquer que fosse a opção ideológica e partidária: o então recente Código do Trabalho, de Bagão Félix, louvado por uns e execrado por outros, iria ser a primeira coisa a mudar com a nova governação.
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Ninguém tinha dúvidas! Todos se recordavam do ardor posto na contestação do código, em especial por Vieira da Silva, à época um militante inquebrantável de esquerda, dos tesos, dos que não cediam um milímetro. Além disso, o homem ia ficar com a pasta do Trabalho - favas contadas!
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Pois o país assistiu, paralisado de estupefacção, a uma reviravolta: o piar do Governo passou a ser mais fininho, o Código do Trabalho não só não foi revogado como se lhe acrescentaram mais medidas de instabilização do trabalho com os resultados que estão à vista.
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E desde então o Governo nunca mais deixou de mentir, que nisto o que custa é começar. Depois, torna-se um hábito. Em seguida um vício - e acaba em maneira de ser.
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Não surpreende que o Governo esteja a provar da sua própria cicuta na hora de se ir embora. Ninguém pode dizer que foi transparente o modo como foi derrubado e como se formou a aliança dos contrários para o apear. 
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Mas, convenhamos, o Governo é o último com direito a queixar-se. É o tempo do reviralho: o importante é chegar ao poder, nem que seja para fazer a mesma coisa que os que lá estavam.
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O PSD nem quis discutir o PEC 4. Por discordar dele de ponta a ponta? Nada. Internamente disse que «há limites para tudo». À suserana Merkel foi dizer que este PEC é «insuficiente e ineficiente». É, portanto, preciso mais - e mais duro.
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E, para a lágrima, ainda há os velhinhos com reformas pequeninas. Não se toca nelas, que é crueldade! Mas quando o parceiro CDS propôs garantir em lei que as pensões mais baixas seriam sempre actualizadas segundo a inflação, tira-se-lhe o tapete que, nessas coisas, o PSD é mais pelo Estado Social à PS de Sócrates...
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No livro que escreveu, 'Mudar' (para que tudo fique na mesma?), Pedro Passos Coelho condena os impostos indirectos porque são socialmente mais injustos. Mas, agora, se for preciso, aumenta-se o IVA. Porquê? Para não sacrificar as míseras pensões!
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Com o PEC do PS, não há aumentos das pensões para o ano que vem. Como tudo o que os pensionistas pobres recebem é gasto no consumo, com o PEC do PSD, as coisas ficam mais caras desde já, subindo o IVA. Olha que santo protector foram arranjar para os velhinhos!
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O reviralho é que está a dar, malta!
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sábado, janeiro 22, 2011

O casaco fofinho - Oscar Mascarenhas



 

O casaco fofinho

2011-01-17

A velhota declina nome completo: «Maria de Fátima da Conceição Pereira.» O candidato, de passagem por Ponte de Lima, experimenta a textura do casaco da idosa: «É... é fofinho», elogia. «Pois é, é fofinho», concorda Maria de Fátima, para logo lhe dizer ao que vinha: «A ver se o Senhor Cavaco me arranjava qualquer coisinha, eu precisava de um bocadinho de reforma...» Alguns riem-se. A mulher olha descoroçoada para o candidato: «Não percebe...»
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Cavaco Silva puxa a mulher por um braço: «Esta é a minha senhora. Esta senhora trabalhou praticamente a vida toda.» Maria de Fátima contrapõe, com voz sumida: «Também eu...» O candidato nem a ouve. Tem uma arenga para despachar, não pode perder a oportunidade: «Sabe qual é a reforma dela? Não chega a 800 euros por mês. Foi professora em Moçambique, em Portugal, mas ainda ninguém descobriu, em Portugal, a reforma da minha mulher. Portanto depende de mim, tenho de trabalhar para ela. Mas como ela está sempre ao meu lado e não atrás, merece a minha ajuda.»
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Maria de Fátima vê assim «indeferido» o seu pedido de ajuda. Pudera! Quem a manda ir 'atrás' - e não 'ao lado' do candidato?...
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É visível que as muitas dúvidas que têm sido levantadas acerca dos negócios de Cavaco Silva o deixaram de asa ferida e este choro sobre a reforma da mulher é o contra-ataque aos que lhe movem a «campanha suja». Mas contra-ataque vesgo e bisonho que não o deixa mais limpo, pelo contrário.
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É pequena a reforma da senhora professora? Há três explicações para isso: ou os professores ganham muito mal - o que não consta; ou a senhora não trabalhou, afinal, «a vida inteira» e está a receber uma fracção proporcional ao tempo de serviço efectivo; ou o cálculo das pensões é um roubo ao trabalhador - coisa que nunca se ouviu Cavaco Silva denunciar em dez anos de primeiro-ministro e cinco de Presidente - mas não percamos a esperança, que ainda falta uma semana de campanha onde vale tudo, até promulgar os cortes salariais de Função Pública e sair à rua a clamar que é uma injustiça, que muitos ricos ficaram de fora!
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Como pode um candidato-presidente, perante uma modesta velhinha que teve a infeliz ingenuidade de lhe pedir ajuda na rua, queixar-se de que a mulher tem uma reforma pequenina - e que tem de ser sustentada por si, porque «merece»? Quantas piscinas municipais de chá precisa um homem destes de beber antes de ser digno do lugar que ocupa?
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Vá-se lá embora em paz, senhora Maria de Fátima. Vai mais aconchegada no seu casaco fofinho do que com as lamúrias do «senhor Cavaco»
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http://www.jn.pt/Opiniao/default.aspx?content_id=1758979&opiniao=Oscar%20Mascarenhas
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