A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sábado, maio 17, 2008

Israel - 60 anos de dor na Palestina

Israel comemora 60 anos. Palestinos lamentam o Nakba (tragédia)

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Os palestinos realizaram marchas e eventos no aniversário de 60 anos do Nakba, ou "Tragédia", como é conhecida o éxodo de 700 mil palestinos que em 1948, quando o Estado de Israel foi criado, abandoram ou foram expulsos de suas terras e se refugiram na Cisjordânia, Faixa de Gaza e países vizinhos. Calcula-se que hoje o número de refugiados ultrapasse 4 milhões.
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Em Ramallah foi realizado um evento em frente à antiga residência do presidente palestino Yasser Arafat, onde o ex-líder está enterrado. Na Cisjordânia foram soltos 21.900 balões negros, cada um representando um dia de ocupação da terra palestina. A idéia era que o vento os levasse até Jerusalém, informou a BBC.
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Na Faixa de Gaza, policiais abriram fogo contra manifestantes na fronteira com o Egito. Refugiados palestinos no Líbano realizaram uma marcha até a fronteira israelense para a formação de um cordão humano. O evento foi batizado de “A Marcha do Retorno”.
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O direito dos refugiados de retornarem ao país é considerado um dos maiores obstáculo para um acordo de paz entre israelenses e palestinos.

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Na Periferia do Império......................

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quinta-feira, dezembro 13, 2007

As tramas do liberalismo

por Augusto Buonicore*



Publico aqui a resenha do livro “Liberalismo: Entre civilização e barbárie”. Ela foi publicada originalmente no último número da revista Crítica Marxista nº 25, segundo semestre de 2007. O título foi alterado para esta coluna.





Cena do filme Batalha de Argel



Os liberais, ao longo do século 20, realizaram uma verdadeira “operação ideológica” visando a demonstrar que a democracia e a cidadania modernas teriam resultado da evolução gradual e sem traumas do próprio liberalismo. Os pais do liberalismo, Locke, Montesquieu, os federalistas, Mill, Benjamin Constant, Tocqueville e Stuart Mills, foram promovidos à condição de pais da democracia, pouco importando que grande parte deles fosse contra o sufrágio universal e chegasse mesmo a justificar a escravidão.


Nestas últimas décadas o marxista Domenico Losurdo dedicou-se ao trabalho intelectual de “desconstruir” esta colossal mistificação, que impregnou inclusive as hostes socialistas. Os artigos que compõem o livro Liberalismo. Entre Civilização e Barbárie, publicado pela editora Anita Garibaldi, se inserem nesse esforço ao analisarem as relações contraditórias entre o liberalismo e a democracia e entre os processos de emancipação e desemancipação ocorridos durante a expansão planetária do capitalismo.





Em Civilização, barbárie e história mundial: relendo Lênin, Losurdo destaca o importante papel desempenhado pelo revolucionário russo no processo de desmascaramento da filosofia burguesa da história, segundo a qual “as raças superiores se sentem investidas da sagrada missão de conquistar e ‘civilizar’ o mundo inteiro”.




A oposição colonialista entre civilização e barbárie, nascida com os iluministas e radicalizada pelos liberais, passou por uma verdadeira revolução nos textos leninistas. Não foi sem uma ponta de ironia que Lênin escreveu: os “políticos mais liberais e radicais da livre Grã-Bretanha (...) quando se tornam governadores da Índia transformam-se em verdadeiros Gengis Khan”. Essa interessante inversão de papeis se encontra em artigos como “A Europa atrasada e a Ásia avançada” De repente, pelas mãos do bolchevique, as esperanças da revolução, do progresso e da própria democracia se voltam para o oriente economicamente mais atrasado que a Europa.




No segundo artigo, Estado nacional e valores universais. Aventuras do universalismo na era contemporânea, Losurdo trata do caráter regressivo do universalismo liberal, quando comparado ao universalismo dos iluministas. Apesar dos seus limites, os filósofos da luzes tinham uma visão mais aberta e positiva em relação aos povos não-europeus. Isso, no entanto, mudaria sensivelmente com a ascensão da ideologia e das políticas liberais. Tocqueville, por exemplo, referindo-se à China, censuraria os iluministas por suas simpatias por “aquele governo imbecil e bárbaro”. Essa visão preconceituosa levaria os liberais a festejar a vitória britânica sobre o Império Chinês na famigerada Guerra do Ópio.




A principal razão para esse fenômeno segundo Losurdo, foi que o triunfo do liberalismo, coincidindo “com a vitória da expansão colonial”, estimulou “o apego ao etnocentrismo e o maniqueísmo”. Assim a Europa pode “conservar sua certeza de representar a civilização, na medida em que estava aquém do conceito universal de homem”.




Ele volta a abordar o problema dos valores universais entre os liberais ortodoxos de ontem e de hoje no artigo seguinte, Marx, a tradição liberal e a construção histórica do conceito universal de homem. Lembra que, em 1848, Tocqueville já se batia contra os novos direitos políticos e sociais estabelecidos pela revolução francesa de fevereiro daquele ano. Estes, entre os quais se incluía a redução da jornada de trabalho para 12 horas, foram considerados socializantes e, portanto, antiliberais.



Passados cem anos Hayek, referindo-se à Declaração Universal dos Direitos do Homem, afirmou ironicamente que ela buscaria assegurar “ao camponês, ao esquimó e talvez também ao abominável homem das neves ‘férias periódicas remuneradas’”. Para ele, esse documento seria “uma tentativa de fundir os direitos da tradição liberal ocidental com a concepção completamente diferente da revolução marxista russa”. A idéia de que não pode haver liberdade sem que haja um patamar mínimo de igualdade do plano social era inaceitável para ele. Parecia-lhe uma injustificável concessão ao bolchevismo.




Fica patente em posições como essa, enfatiza Losurdo, a desconfiança dos liberais “em relação à categoria dos direitos universais do homem (...)”; “emerge mais uma vez o caráter ideológico e mistificador da profissão de fé que o liberalismo clássico e o neoliberalismo fazem do ‘individualismo’. (...) A democracia moderna não pode ser compreendida sem as idéias e as lutas da tradição democrático-socialista, sendo que a última tem um mérito ainda maior: aquele de ter contribuído de forma decisiva para a elaboração de conceito universal de homem, inexistente, até aquele momento, para a tradição liberal”.




Em Idéia de época histórica em Marx e análise do nosso tempo, o autor trava uma polêmica com as interpretações economicistas do marxismo, esclarecendo que “a contradição entre as relações de produção e as forças produtivas determina o quadro geral, mas não significa que a revolução política ecloda no país onde tal contradição se manifesta mais intensamente”. O próprio Marx havia escrito em As lutas de classe na França que seria “natural que as explosões violentas se manifestem antes nas extremidades do corpo burguês que no seu coração, porque, no coração, há maiores possibilidade de um re-equilíbrio”.




Para Marx a revolução alemã “que se desenha no horizonte é pensada não como o resultado de um impetuoso desenvolvimento capitalista (...) mas sim a partir da defasagem e do conflito entre o atraso alemão e o desenvolvimento econômico, político e ideológico dos países europeus mais avançados”. Partindo destas referências, Losurdo afirma que a contradição entre as forças produtivas e as relações de produção valeria “acima de tudo, em nível internacional e para uma época histórica considerada no seu conjunto”.



O autor passa então a tratar dos limites da revolução política burguesa. Ao contrário do que afirma toda a literatura liberal sobre a evolução natural e progressiva dos direitos da cidadania, o que se verificou foi uma dialética maléfica: “o desenvolvimento da democracia americana e o fim da discriminação censitária andaram pari passo com o agravamento da opressão dos negros e dos peles vermelhas. Nos EUA, a revolução que suprime o significado político da propriedade é, ao mesmo tempo, uma contra-revolução que acentua o significado político da cor da pele.”




Desse modo busca demonstrar a falsidade da tese de que a “cesta de direitos” que compõem a cidadania moderna foi preenchida de maneira gradual e cumulativa, sem contradições e sem momentos de recuos. Na realidade o processo de ampliação dos direitos foi menos idílico e mais contraditório.



A conquista dos direitos eleitorais pela população masculina adulta dos países capitalista centrais, por exemplo, foi acompanhada pela expansão do colonialismo e de todas as suas mazelas: opressão nacional, servidão e racismo. Na tradição liberal, afirma ele, “a teorização ou celebração da liberdade avança a par e passo com a enunciação de cláusulas de exclusão, pelo que a liberdade em última análise acaba por se configurar como privilégio”.




Para Losurdo foi uma “revolução planetária vinda de baixo” que “constrangeu os dirigentes estadunidenses (...) a liquidar os aspectos mais visíveis e revoltantes do regime da white supremacy”. No Ocidente, “o fim da revolução burguesa não pode ser pensado sem a contribuição de um movimento iniciado com uma revolução que agita a bandeira do socialismo e da luta contra a burguesia”. Assim, “a supressão do significado político da qualificação étnica é obra fundamentalmente de um outro ciclo revolucionário que, se valendo do impulso do ‘outubro bolchevista’, termina com as revoluções anti-coloniais”.




No último artigo, Guerra preventiva, americanismo e anti-americanismo, o autor mostra os pontos de contato entre o nazismo e alguns elementos presentes na cultura estadunidense. Defende que foi “o contexto econômico diverso, mais que a história ideológica e política distinta” que “explicaria a falência do Invisible Empire nos Estados Unidos e o advento do Terceiro Reich na Alemanha”. Em outras palavras, o ovo da serpente existiria nos dois países, mas apenas na Alemanha dos anos 1930 ele conseguiu as condições ideais para se desenvolver.





Prova disso é que os nazistas foram procurar o seu modelo de sociedade assentada na discriminação racial no sul dos Estados Unidos. Um dos principais ideólogos do nazismo, Rosenberg, não cansava de celebrar os Estados Unidos “como ‘esplêndido país do futuro; que teria tido o mérito de formular a feliz ‘nova idéia de Estado racial’, idéia que agora se trataria de aplicar, ‘com força juvenil’, por meio de expulsão e deportação dos ‘negros e amarelos’”.



Este artigo nos recorda, também, que uma das principais obras do anti-comunismo e do anti-semitismo foi escrita pelo respeitável industrial (e liberal) Henry Ford e se chamava curiosamente O Judeu Internacional. Nela a revolução soviética é apresentada como parte do complô judeu internacional. O líder nazista Himmler chegou a afirmar que o foi o livro de Ford que o alertou para a “periculosidade do judaísmo”. Ainda segundo ele, o livro de Ford teria indicado às lideranças nazistas “a via a percorrer para libertar a humanidade do seu maior inimigo em todos os tempos, o judeu internacional”.





Os textos presentes neste livro revolucionam as interpretações sobre a democracia estadunidense. “Sem a escravidão (e a subseqüente segregação racial), escreveu Losurdo, nada se pode compreender da ‘liberdade americana’: ambas crescem juntas, uma sustentada na outra”. E para definir esta democracia liberal restrita, ele empresta o termo Herrenvolk democracy – ou seja, uma democracia para os povos dos senhores. Esta categoria, inicialmente, foi utilizada na definição dos regimes segregacionistas que imperavam no sul dos Estados Unidos e na África do Sul, mas Losurdo deu a ela uma abrangência bem maior.




O Herrenvolk democracy é a “democracia” que vigoraria apenas para os homens brancos, excluindo-se os pobres, negros, índios, amarelos e as mulheres. Aplicada no plano das relações internacionais ela significa a opressão da maioria da humanidade que vive fora dos círculos do poder das potências capitalistas ocidentais. Deste modo, a categoria seria útil para entendermos “a história do Ocidente como um todo” e, especialmente, a política e a ideologia imperialistas nos dias de hoje.











*Augusto Buonicore, Historiador, mestre em ciência política pela Unicamp






* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.




in Vermelho - 12 DE DEZEMBRO DE 2007 -

segunda-feira, julho 02, 2007






Ex-combatentes: Stress de guerra
Os hospitais e centros do Serviço Nacional de Saúde não têm preparação suficiente para criarem a rede nacional de apoio aos antigos combatentes que sofrem de stress pós-traumático de guerra, afirmou ontem João Gonçalves, dirigente no núcleo de Viseu da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA).
» Comentários
Quinta-feira, 28 Junho
- Carlos Gomes É vergonhoso que o Estado Português se esqueça dos homens que enviou para combater pela sua Pátria, muitos deles já não regressaram com vida, outros com deficiências físicas e outros ainda com problemas psicológicos. Deve-se honrar estes homens que um dia foram em auxílio do nosso Povo.
- ANTONIO TRINDADE Mas a quem e que querem enfiar o GORRO? Tenham mas é vergonha, e o Ministro da Defesa que se demita. (EUA)
- Antonio - Parede Qual falta de preparação qual carapuça! O que não há é vontade politica de canalizar dinheiro para esse fim.Como ex-combatente sinto vergonha pelo modo como somos tratados.Verdade se diga que não é só de há 33 anos para cá, já no regime anterior éramos tratados abaixo de cão. Agora, dão-nos uma esmolinha de cento e cinquenta euros por ano, até ver, e ficam todos com a consciência tranquila.
in Correio da Manhã 2007.06.28
Atrocidades da guerra colonial

Será possível esquecer
Estas fotografias chocam mesmo. Pela violência e pela crueldade dos assassínios - cometidos em 1961 pelos membros da UPA. Pela forma serena e quase sorridente com que os nossos soldados se deixaram fotografar frente a cabeças espetadas em paus ou corpos esventrados - com o mesmo ar com que posam para a fotografia de fim de curso.
Mas esta foi a realidade dos anos 60 em Angola. Compreenda-la é perceber melhor o que foi aquela guerra e não deixar esquecer aquilo que as guerras, sejam elas quais forem, fazem aos homens.
As fotografias que aqui mostramos nunca foram publicadas porque a censura nao deixou. Os horrores e violações flagrantes dos mais básicos direitos Humanos passaram-se no norte de Angola. São imagens da violência da guerra e, sobretudo, do terrorismo da guerra - na Fazenda Tabi, os membros da União dos Povos de Angola (UPA) liderada por Holden Roberto, mataram os administradores brancos a golpes de catana, e na Fazenda Cassoneca esventraram um soba (chefe de uma tribo) e mataram toda a sua família, porque se recusou a deixar de trabalhar para os brancos. Os negros que trabalhavam nas fazendas de café administradas por portugueses - um objectivo “militar” a atingir porque destruir a economia é uma das formas de vencer a guerra - e que eram identificados por usarem uma fita colorida á volta da cabeça, eram decapitados e as suas cabeças espetadas em paus.
Além de trabalharem para os brancos, os negros assassinados pertenciam a outras etnias. Eram originários do Sul de Angola e tinham sido trazidos propositadamente pelos colonizadores que os julgavam mais dóceis e facilmente domináveis do que os naturais do Norte.
Os soldados portugueses foram chamados a proteger estas áreas e era nessa função que aqui se encontravam. A sua expressão impassível revela bem que assistir a massacres deste tipo, contra civis, se tornou facilmente um hábito.
Numa guerra de guerrilha toda a população é o “inimigo”. E as tropas portuguesas não demoraram muito a utilizar os mesmos métodos, instigadas pelo treino que, depois, passaram a receber antes de embarcarem. Da preparação para a guerra constavam ainda slogans de conteúdo racista, que apresentavam indiscriminadamente, o “preto” como inimigo, música e canções guerreiras.
Estas histórias e as dos massacres cometidos pelas tropas portuguesas estão registadas em fotografias e filmes que estão na posse das chefias militares e de ex-combatentes da guerra colonial. Mas em Portugal, os poderes político e militar e a sociedade, de uma maneira geral, têm evitado discutir esta página negra do vida do país.
A APOIAR (Associação de Apoio aos ex-Combatentes Vítimas de Stress de Guerra) prepara-se para mandar a primeira pedra. Em Abril foi inaugurada uma exposição com material “tirado do baú”.
A violência alimenta a violência e é disso que são feitas as guerras.
Ao ver estas fotografias não é difícil perceber como funciona este ciclo de ódio.
In Notícias Magazine, diário Notícias 17 de Março de 1996

sábado, junho 30, 2007


Tabula-Nova 1579 autor - Abraham Ortelius
África Colonial - 1913 (potências colonizadoras no final do post)


Àfrica Politíca contemporânea



A África na mira do imperialismo

Puseram em marcha um perigosíssimo programa de expansão militar
* Albano Nunes

Quando o Governo de J. Sócrates exibe como um troféu a possível realização durante a presidência portuguesa da União Europeia de uma Cimeira UE/África, mais necessário se torna saber o que está realmente em jogo na relação do imperialismo com o martirizado continente africano e como se situa Portugal nessa relação.
Nunca é demais denunciar o cinismo e a hipocrisia com que, no quadro da sua ofensiva recolonizadora, o imperialismo conduz um novo assalto a África. A ideologia da «missão civilizadora» e da «evangelização de povos selvagens» que parecia definitivamente enterrada pelos grandes avanços libertadores que varreram o século XX, está a regressar sob novas roupagens. Da Sida ao «terrorismo», da imigração «ilegal» à segurança de embaixadas, da fome ao narcotráfico, de conflitos étnicos e religiosos a disputas fronteiriças – tudo serve de pretexto ao imperialismo para imposições políticas, económicas e militares.
Como esperado a chamada «ajuda» à África foi um dos temas mais mediatizados da cimeira do G8 na Alemanha. Uma das maiores «preocupações» dos líderes deste clube de concertação informal das grandes potências capitalistas terá incidido no combate a flagelos como a Sida, a tuberculose e a malária tendo sido (re)anunciadas cifras sonantes de um pacote financeiro de «ajuda». Trata-se porém de uma manobra propagandística, tão escandalosa, que começou a ser desmontada no próprio dia em que foi anunciada além de que, como sempre, condiciona a concretização de vagas promessas a novas cedências aos insaciáveis apetites das multinacionais e às ambições geo-estratégicas do imperialismo. Não é casual que metade da «ajuda» caiba precisamente aos EUA que, para se apoderarem da maior fatia possível dos recursos petrolíferos africanos (nomeadamente no arco que une o Sudão ao Golfo da Guiné) e contrariar a crescente influência da China, puseram em marcha um perigosíssimo programa de expansão militar, que envolve a criação de bases militares em vários países e a instalação no continente de um comando militar específico.
Acorrida imperialista para África encerra sérias disputas e rivalidades entre as grandes potências. As pretensões hegemónicas dos EUA inquietam importantes fracções do grande capital com base na Europa. Mas o que continua a predominar é a concertação de interesses de classe comuns visando intensificar a exploração dos trabalhadores e recolonizar o planeta. É o que confirma uma primeira análise desta reunião do G8. E o que se vê, tanto no quadro da NATO como das relações bilaterais UE/EUA, é coordenação e partilha de tarefas para a realização de uma mesma política neoliberal, militarista e agressiva de contornos crescentemente fascizantes.
A política externa e de defesa do Governo português insere-se neste curso sem distanciamentos nem reservas de monta. Mais ainda. Na linha das piores tradições de um capital monopolista profundamente parasitário e entreguista, e militando com fervor pela «causa euro-atlântica», o Governo do PS oferece os seus préstimos como intermediário dos projectos dos EUA, da NATO e da UE em África a troco de algumas migalhas do saque imperialista. O Público (10.06.07) escreve mesmo a respeito da recente visita do Ministro da Defesa ao Pentágono que «de acordo com Severiano Teixeira os americanos têm interesse em assuntos privilegiados pela presidência portuguesa como a parceria estratégica entre a União e a NATO, ou as questões ligadas a África, onde os EUA vão instalar um comando operacional». É inquietante. Na senda da «cimeira da guerra» de Durão Barroso, o Governo Sócrates está a arrastar o país para situações igualmente humilhantes. É por isso necessário que soe mais alto a voz de quantos não querem a diplomacia e as forças armadas portuguesas enfeudadas à estratégia de rapina e agressão imperialista.
in Avante 2007.06.14
Mapa de África Colonial em 1913 (Potências colonizadoras)

██ Bélgica (amarelo)
██ França (azul claro)
██ Alemanha (verde)
██ Grã-Bretanha (violeta claro)
██ Itália (verde vivo)
██ Portugal (violeta escuro)
██ Espanha (violeta intermédio)
██ Estados independentes (branco)
Para conhecer mais ver:

sexta-feira, junho 08, 2007


Boca calada
*Antunes Ferreira
Tentou levantar-se, mas caiu para o lado, como um saco de café desamparado. Fechou, de novo, os olhos castigados e passou a língua pelos lábios inchados, gretados e secos. O sabor adocicado do sangue não lhe tirava a sede. Estava acampado por todo o seu miserável corpo em crostas escuras que sobressaíam da cor da pele. Levara muita porrada, aiué.


No entanto, o filho da puta do inspector e os três flechas que o tinham massacrado não haviam tido o prazer de ouvi-lo cantar alguma coisa. Gritara, isso sim, um homem não é de pau. Mas conseguira calar-se, emudecer quanto às perguntas, acompanhadas de murros, pontapés, pauladas. Até lhe tinham ligado o coiso a uma ficha eléctrica, com um fio.


Aka, isso doeu mesmo. Foi um raio que ziguezagueou até ao esqueleto. A corrente eléctrica era danada. E ele sabia-o perfeitamente. Era mulato, mas também enfermeiro. Aliás, estudara em Lisboa, para onde viera com os pais, catraio vindo de Angola, trabalhara no Hospital de Santa Marta, o doutor Figueiredo até lhe dissera um dia – Malaquias, tens de ir para a Faculdade. Com o que já sabes e com o que lá aprenderes, vais sair um bom médico.


Não fora. O pai, viúvo da mãe Zeferina, também insistira com ele. Vai, Jorge, vai. Deixa-te dessas trampas da Casa dos Estudantes do Império e ganha o teu futuro. Sei que és homem para isso. Era. Mas, não ia. Podia aprender mais umas coisas no hospital, mas muitas mais na Casa.


Com toda a malta porreira que o introduzia no Marx, no Lenine no Mao, que discutia dialéctica, que coleccionava cartazes do Che e do Comandante Fidel, colados pelas paredes.


Um dia veio a PIDE e fechou as instalações por ser um cóio de subversivos. Portugal que era uno e indivisível, do Minho a Timor, não podia permitir que um grupo de garotelhos conspirasse nas barbas da guardiã política do regime. Todos para o xelindró. Jorge Malaquias foi enrolado nos outros. Em Paço de Arcos, o quartel da Polícia Móvel, um tipo lingrinhas disse-lhe para se pôr na alheta. Se voltas cá, nem sabes o que te faço.


Uns quantos foram directamente para o Aljube. Decidiu ir visitá-los quando pudesse ser. Carlos Almiro Saraiva, da Camabatela, filho dum fazendeiro de café podre de rico, tentara dissuadi-lo.


Olha lá, ó pá. Tu só te vais lixar com essa merda da visita. E para já, nem sabes quando a autorizam. Os chuis são uns javardos, toma cuidado.


O passeio da merda


O tanas! Tretas, Almiro, tretas. Mal possa, vou logo. Está-me mesmo a pular o pé para a dança. Eles precisam da nossa solidariedade, aquilo é um nojo, o pessoal não tem quaisquer condições, os nossos cagam e mijam em baldes que depois levam a despejar, com carcereiros a guarda-los. Mesmo assim, disse-me o Soares, é a única altura em que saem das celas. Chama-lhe o passeio da merda.


Acabara por não ir. De modo algum porque o de Camabatela o tinha alertado. Estava-se borrifando para a advertência. Conselhos nem do pai Malaquias, quanto mais do filho dum cabrão dum roceiro. O facto foi que, após umas galhetas a sério, a maior parte dos detidos saiu para a rua e os poucos que ficaram ala para Peniche, onde não havia visitas para ninguém.


Quando voltou ao hospital, a Lena com quem saía há uns tempos, loira de Moimenta da Beira, de onde viera catraia, ainda falava de quando em vez axim, disse-lhe que o Dr. Figueiredo andara à procura dele e soubera umas coisas. Queria falar-lhe. Jorginho, vê lá no que te metes, amorzinho. Calminha jéjé. A sorte não é eterna, bem pelo contrário. E eu quero-te para voltarmos às nossas noites «de serviço».


A Madalena era auxiliar de radiologia, tinha umas pernas de sonho e umas mamas de alto lá com o charuto. Os biquinhos, tesíssimos, eram de um vermelho escuro, mais carregado do que a pele de ele. Ela, pelo contrário era muito branca, só os mamilos, as axilas e a cova do amor coloriam o alabastro acetinado em que ela fora esculpida. Mas, sardenta, clara.


Na cama, era uma perdição. Ele, que se julgava uma autoridade na matéria e andara a rapar atrás dela, quando se viu nu agarrado a tudo o que ela, nuinha também, tinha, decidira ensina-la, instrui-la nas práticas do amor. Falsa partida, pois ficara-se nas boxes. De imediato quem conduzira fora Lena, artista, malabarista, contorcionista .


Aluno obediente e esforçado, Malaquias nem queria acreditar que tal tivesse acontecido. Um hospital, que de certo modo se pode considerar um espaço concentracionário, era o local ideal para se saber tudo. Quando fora falar com o médico, os assistentes dele, os internos estagiários, os enfermeiros segredavam apontando-o entre sorrisos e insinuações. Sortudo. Com uma gaja daquelas...


Eu bem te aviseiAlbano Figueiredo, especialista em ortopedia, com o eterno estetoscópio ao pescoço, não fora de modas. Eu bem te avisei. Da Lena? Perguntara Jorge entre o acanhado e o satisfeito. Deixa-te de fitas. Sabes bem que não. Da ramboia da politiquice. Quando devias andar a tirar o canudo, vais-te meter com malta de má fama, para estes gajos que estão no poder.


Penso que nem são, apenas idealistas, mas para o caso tanto faz. Para os pides – são uma cambada de comunas. Juízo, caraças, juizinho.Estava farto de admoestações. Lisboa, a partir de então, já era. Cidade bonita, gente gira, os eléctricos para o Carmo, os passeios empedrados, a ponte que levava o nome do abutre agoirento. Porque era assim que já tratava o malandro de São Bento. Mas que passara a não lhe dizer nada, ele que se considerava alfacinha quanto mais não fosse adoptivo. Ou melhor, adoptado.


Os navios da Colonial e da Nacional andavam transportando tropas. Para Angola, rapidamente e em força, bramara o fradalhão de Santa Comba. Arranjou de enfermeiro no Uige. Cunha do pai Saraiva, para isso eram os amigos dos amigalhaços. A escada de portaló foi o início da aventura, no porto de Luanda.


Em seguida a Marginal espreguiçando-se na baía. Uns dias depois, poucos, entrava na base do MPLA, seu destino final. A malta da Casa dos Estudantes era organizada, não eram em vão as ligações com o PC. Nem queria acreditar na facilidade com que tudo decorrera. Na cabina do camião Dodge, ao lado do Raul camionista, até tinham discutido o Benfica e o Eusébio, que já não era o que fora, quando em 1966 encantara os bifes, mas que ainda ia à selecção.


Na fazenda Maria Fernanda, tal como estava marcado, afastou-se para urinar e – até depois que se faz tarde, adeus minhas encomendas. Foi uma enorme mijadela. Começara então uma nova vida para Jorge Malaquias. Esteve no acampamento uns quantos meses, como enfermeiro e a fazer de médico, do médico que não havia. Mas, a dada altura, não aguentou mais aquela sacana de nova situação confinada.~


Disse que queria ir para a guerrilha, na mata, nas picadas, onde quer que fosse. Até em Luanda, sendo caso disso. O comandante Trovão no Escuro, ainda que lamentando a falta que faria na base, os camaradas já se tinham habituado a ele, às suas resoquinas, aos seus adesivos, à sua tintura, ao seu mercurocromo, aceitou. Perdia um homem que dava, assim, a sensação de que lhes cobria a retaguarda. Mas ganhava um combatente.Mulato Vermelho


E que combatente, diziam os outros. Corajoso, destemido, sabedor, e ao mesmo tempo cauteloso, prudente, excelente analista de situações difíceis, planeador e comandante. Em breve era o melhor da zona, ganhou de golpe a qualificação, chefiou, naturalmente. E os êxitos foram-se sucedendo, aumentando, até chegar a mito. Mulato Vermelho. Só.


A carne é e será sempre… carne. No quimbo ali mesmo ao lado encontrara uma menina de 16 anos, gazela de pernas esguias mas cheias e seios pontiagudos, a Rosinha. Coisa daquelas teria levado um santo – se é que eles existissem – a sair do altar para ir deitar-se com ela. Ao longe, muito longe, cada vez mais longe, a Lena ia-se dissolvendo, liquefazendo, reintegrando-se no plasma universal do esquecimento.


Até já combinara o alambamento a dar ao futuro sogro, de resto o soba do povo, duas cabras, três mantas coloridas, uma bicicleta e uns óculos escuros. Estava tudo bem. Para concretizar a combina tivera de ir a Luanda. Nada de receios parvos. Ninguém o conhecia na capital. Passara, apenas, por lá. E estava informado que nas Ingombotas poderia comprar quase tudo, excepto obviamente as cabras, o que se resolveria na mata.


Na primeira noite luandense, decidira aproveitar a viagem para dar um salto ao Miramar, ver a Revolta na Bounty, com o Marlon Brando. No intervalo, quando as luzes se acenderam, duas mãos pesadas caíram-lhe nos ombros. Ainda tentou levantar-se, opor resistência. Quieto, cão.


Mexe um dedinho do pé dentro da bota e enfio-te um tiro nos cornos.


Quem fora o bufo?


Na PIDE, ali ao pé da Meteorologia, tentara fingir que não era nada com ele, tratava-se de um engano, talvez alguém parecido com ele, chipala igualzinha. Seu safado, julgas que nos comes por parvos? Denunciaram-te, apanhámos-te, estás fodido e mal pago. Nem sabes no que te meteste.


E agora, deita cá para fora tudo. Tudinho!


O inspector, limpando o ouvido com uma unha comprida e escura, em tons de tabaco e cerume, gozava. Ouve lá, o filho dum cabrão, sabes qual é a diferença entre um branco, um preto e um mulato? És mesmo matumbo, não sabes. O branco é filho de deus; o preto é filho do diabo… e o mulato é filho da puta. Gargalharam. Vá, já chega de recreio. Vomita!


Medo tinha. Muito. Mas vomitar, não. Pelo contrário; engolira o cagaço e fechara a boca, transformada numa linha dura colada a Pattex, dali não saía nada. Falas? Pela última vez – falas? Nós sabemos tudo. Só queremos confirmar. Abres as goelas e cantas meu seripipi do caralho. Senão, cortamos-te as ditas goelas. Mas, antes, arrancamos-te os colhões, ficas capado, lá tem a Rosinha que fazer umas pívias, antes de te pôr os cornos.


Fora tudo muito arrastado, muitíssimo lento, para que o «tratamento» fizesse efeito, os flechas eram especialistas. Porrada atrás de porrada, os olhos iam-se enevoando, o chão a fugir-lhe debaixo dos pés. Mato-te, avançava o chefão, que usava a mesma unha encardida para palitar os dentes. Matamos-te como um cachorro, que é o que mereces.


Horas a fio seguiu aquele tormento. Amanhã há mais, melro. Não perdes pela demora. E as pústulas e as nódoas negras e as dores malditas até na piça. Quem teria sido o bufo? No Puto, os métodos eram iguais. Todos da mesma escola. Mas jurou para si próprio que não diria nem um milímetro. Nem que lhe arrancassem o coração pelas costas como fizera o Dom Pedro aos assassinos da Inês. O Cru.


imagem - tortura Elifas Andreato- cartaz para Mortos sem Sepultura (1977)

sábado, maio 26, 2007


Ainda sobre os Índios do Brasil


O Brasil Indígena - site rico em conteúdo sobre a história dos índios brasileiros, a cultura indígena, as tribos, população nativa e índios famosos. Destaque para um dicionário de tupi e imagens que fazem parte deste belo site. Muito bom para trabalhos escolares e pesquisas em geral.Avaliação: 9.0

Índios do Brasil - aborda os principais conteúdos da cultura indígena brasileira, destacando as lendas indígenas e os rituais. Fala sobre o Dia do Índio (19 de abril), o toré, o kaurup, os toantes e as manifestações do folclore. Possui fotos de índios.Avaliação: 8.5

19 de Abril: Dia do Índio - parte do portal do IBGE Teen. Este site apresenta de forma resumida os principais temas relacionados à cultura dos nativos brasileiros. Mostra a diversidade, a importância do respeito e a origem dos índios. Destaque para os gráficos e estatísticas que mostram a distribuição da população nativa do Brasil, as etnias e as línguas. Bom para quem procura dados estatísticos confiáveis sobre o tema em questão.Avaliação: 8.0

Os Índios - site governamental da Funai (Fundação Nacional do Índio). Retrata a origem dos povos americanos, a chegada dos portugueses e o choque cultural, o deslocamento da população nativa, as línguas indígenas e os índios isolados.Avaliação: 8.0

Arte Indígena Brasileira - retrata a arte pré-histórica do Brasil e a arte dos povos nativos. Apresenta várias informações e fotos do artesanato indígena, tecelagem, arte plumária, cerâmica, máscara e pintura corporal.Avaliação: 8.0

http://www.arteducacao.pro.br/historia/prebrasil.htm

Acessar História do Brasil
http://www.mundosites.net/historiadobrasil

Outros temas desta área - Escravidão no Brasil
http://www.mundosites.net/historiadobrasil/escravidao.htm

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Dia do índio: faça sua pesquisa pela internet

O Terra Educação elaborou um guia de sites para você pesquisar informações sobre os índios brasileiros. Nos links abaixo, há dados sobre as tribos e suas culturas, mitos, línguas e crenças.

O brasil indígena Passados 500 anos de convivência sempre conflituada, o índio continua sendo pouco mais do que um mito brasileiro.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_1.htm

A população nativa Existem pelo menos 50 grupos que jamais mantiveram contato com o homem branco, 41 dos quais sequer se sabe onde vivem.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_2.htm

As tribos Após 500 anos do descobrimento, ainda existe 215 nações e 170 línguas indígenas diferentes. Leia sobre algumas destas nações sobreviventes.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_7.htm

Os brancos de alma indígena Conheça Rondon, o maior dos humanistas brasileiros e o mais respeitado defensor dos índios em todo o continente.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_3.htm

Os índios famosos O xavante Juruna e o txucarramãe Raoni são os dois índios mais conhecidos do Brasil.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_4.htm

Pequeno dicionário Tupi-Guarani Saiba o significado de abaetê, itajubá e várias outras palavras.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_5.htm

O futuro dos índios Às vésperas do terceiro milênio, o Brasil ainda trata seus nativos como mero entrave ao avanço da civilização.
http://www.terra.com.br/almanaque/indios_6.htm

500 anos Site sobre os 500 anos do Brasil. Contém dados sobre a viagem de Cabral, a carta de Caminha, textos sobre os primeiros 100 anos e muito mais.
http://www.terra.com.br/500anos/

Enciclopédia da História do Brasil Imagens históricas de índios e textos sobre o "Brasil Colônia" produzidos por professores titulares da UFF (Universidade Federal Fluminense). Site exclusivo para assinantes Terra.
http://historiadobrasil.terra.com.br/historiadobrasil

Museu do Índio O museu oferece a estudantes e professores programas especiais que informam sobre diferentes culturas indígenas.
http://www.museudoindio.org.br/

Expectativa de vida dos índios A expectativa de vida ao nascer dos indígenas brasileiros é de apenas 48 anos. Na Amazônia, a expectativa de vida dos índios é menor ainda, 42 anos.
Kamayura e Urubu-KaaposBelíssimo site sobre as tribos Kamayura e Urubu-Kaapos. Traz interessantes textos e imagens sobre mitos, hábitos e crenças destas tribos. O site ganhou o primeiro lugar, entre 110 trabalhos do mundo todo, no concurso Web Prize 98 da Unesco.
http://www.geocities.com/RainForest/Canopy/8767/expecta.htm

WebCiência Trata da história, cultura e mitos dos índios.

http://www.webciencia.com/09_indios.htm

Socio Ambiental Informações sobre os povos indígenas no Brasil.
http://www.socioambiental.org/website/povind/index.html

FunaiSite coloca à disposição estatísticas sobre as tribos.
http://www.funai.gov.br/

Indígenas no Ceará Dados sobre os índios do Ceará (em que parte do estado vivem, cultura etc.)

http://www2.insoft.softex.br/~edumat/

Grupo de Trabalho de Línguas Indígenas Site concebido como meio para divulgar as atividades de pesquisa científica dos lingüistas que integram o Grupo de Trabalho de Línguas Indígenas (GTLI) da Associação Nacional de Programas de Pós-Graduação e Pesquisa em Letras e Lingüística (ANPOLL).

http://www.gtli.locaweb.com.br/

sexta-feira, maio 25, 2007




COISAS QUE NÃO SE DEVE DIZER DO ÍNDIO NO DIA DO ÍNDIO

Novamente estamos chegando em abril e como que de súbito, as escolas brasileiras redescobrem o indígena brasileiro como os portugueses há 500 anos atrás. E nessa redescoberta, vários mitos também são ressuscitados, seja nas reportagens “especializadas” na questão indígena, seja por boa parte dos nossos livros didáticos. Neste texto, apresentarei alguns destes mitos gerados nestes 500 anos de conquista e preconceito em relação a estes povos.

Descoberta

Em relação à essa palavra muito já foi dito, mas, nunca é demais lembrar que o que aconteceu nas praiasdo Brasil em 22 de abril de 1500, não foi uma descoberta, mas, sim, uma conquista violentíssima, com conseqüências funestas para os povos originários destas terras. Falar em descoberta ou conquista, não é apenas uma questão de semântica, mas de postura histórica, a idéia de descoberta absolve o conquistador de todas suas vilezas e violência contra os povos colonizados, que, segundo esta versão, foram descobertos, não domesticados e subjugados. É uma visão oportunista da história construída e veiculada pelas classes dominantes na tentativa de camuflar os crimes coloniais perpetrados pelos povos europeus.

Os povos indígenas não foram descobertos; foram conquistados, o que é obviamente é bem diferente. Falar em descoberta, não é apenas ingênuo, antes disso, beira o oportunismo histórico e político.

Índios

Inicialmente não existem “índios brasileiros”, mas, sim, centenas de povos indígenas divididos e caracterizados por culturas distintas. São grupos culturais diversos possuidores de língua, costumes e universos religiosos próprios. Daí, ser complicado falar a famigerada frase; “os índios do Brasil eram assim...”, além de ser falsa, possui o marca da intolerância. Nas palavras de Albert Memmi: “O indígena/colonizado jamais é caracterizado de maneira diferencial: só tem direito ao afogamento coletivo anônimo. (“Eles são isso...Eles são todos os mesmo)”. Esta marca do plural, utilizada indistintamente para designar os diversos povos indígenas do Brasil, termina por desumanizar e descaracterizar toda riqueza cultural destes grupos, entendidos como “’índios” e não como povos. Não se fala em povo Xavante, Guarani ou Xerente, como modos próprios de ser, mas, apenas e simplesmente, índios. Por tudo isso, deve-se evitar o termo “índios” e trabalhar com a perspectiva de povos indígenas.

Povos do passado

É bastante comum nos livros didáticos existirem frases do tipo: “Antigamente os índios do Brasil viviam dessa forma...”, “nos tempos da descoberta , os indígenas moravam dessa forma...”, como se atualmente estespovos não mais morassem e não mais vivessem de forma alguma. Estes diversos livros e textos didáticos nos falam de um indígena que não existe mais, e cuja lembrança não passa de um sombra longínqua perdida no tempo das caravelas. Ignorando, desta maneira, as dezenas de povos que atualmente existem e reivindicam sua etnicidade junto a sociedade não-índia, como os Pankararu da favela Real de Parque da grande São Paulo. Os povos indígenas, antes de tudo, são povos do presente e devem ser tratados, estudados e pesquisados neste âmbito.


Aculturação

Desde de muito cedo, um determinado indígena nos é apresentado como sendo legítimo: ele fala Tupi, crê em Tupã, mora na oca, veste-se de penas e tem um filho chamado curumim (que de certa forma é personificado pelo personagem Papa-Capim de Maurício de Sousa), pois bem, este indígena não existe. Na verdade existem povos Tupi como os Guarani, os Tenharim e os Parintintin, mas nenhum deles encaixa-se nesta representação que vem do período colonial e passa pelo romantismo brasileiro do século XIX. Porém, informado deste estereótipo, rotulamos todo e qualquer indígena que não possua estas caraterísticas como aculturado. É muito comum, após incursões as comunidades Guarani próximas aos grandes centros urbanos, os visitantes (sejam alunos, professores ou mesmo curiosos) regressarem com a nítida sensação de que estiveram com um grupo indígena aculturado. Não percebem que estes grupos continuam falando a língua materna e possuem um modo originalíssimo de ver e perceber o mundo. Mas, afinal, não usam penas – usam roupas, e consomem produtos manufaturados em vez de viverem da caça e da pesca (que sequer existe mais em suas pequenas reservas). Estes olhares não conseguem penetrar além da aparência física e perceber que ali existe uma cultura distinta em constante reelaboração, o que não quer dizer, uma cultura dominada e morta. É necessário entender estas culturas como sujeitas a acréscimos e reorganizações constantes. Aliás, como qualquer cultura.


O que fazer?

Como já disse o Guarani Luís Euzébio, da comunidade de Brakuí no Rio de Janeiro: “no dia do índio façam qualquer coisa, mas não fantasiem as crianças de índios e venham para a aldeia sem sequer avisar ou pedir autorização para as lideranças”. Provavelmente, a melhor coisa a fazer é, quando possível, refletir com os alunossobre a atual situação destes povos, assim como elaborar projetos nos quais os alunos possam não só discutir sobre a temática indígena, como intervir. Em 1995 em Itanháem/SP, foi elaborado uma proposta para a Semana do Índio junto a escolas estudais e municipais que culminaram em centenas de cartas para o então presidente da República Itamar Franco, exigindo a demarcação das terras indígenas.

Discuta quais povos existem no estado, qual sua situação, suas terras são demarcadas? Ou seja, na Semana do Índio (que deveria ser Semana dos Povos Indígenas) importa mais discutir sobre o presente e o futuro destes povos, do que sobre seu passado, afinal, a única aliança que é possível constituir é com gente de carne e osso, real, como os povos indígenas que continuam existindo (e crescendo demograficamente!) em todo território brasileiro. E por último, nunca é demais lembrar a necessidade de trabalhar com a temática indígena durante o ano inteiro através de projetos relacionados a cidadania, e não apenas cinco dias de abril. Os povos indígenas agradecem.


Recomendações de Leitura:

Essa terra tinha dono - FDT
Benedito Prezia e Eduardo H.

As veias abertas da América Latina - Paz e Terra
Eduardo Galeano

Ymã, ano mil e quinhentos: relatos e memórias indígenas sobre a conquista – Mercado de Letras
Paulo Humberto Porto Borges

Uirá sai em busca de Deus – Paz e Terra
Darcy Ribeiro

Retrato do colonizador precedido pelo retrato do colonizado – Paz e Terra
Albert Memmi


in http://www.highrisemarketing.com/djweb/historia/textos/diadoindio.htm

sexta-feira, maio 04, 2007

Cenas da Guerra Colonial (2)

O Cuanhama, aiué

* Antunes Ferreira

Chove se deus a manda. Cordões de água empapam a terra vermelha, acompanhados por raios e coriscos - uma trovoada das antigas – que fazem doer a alma da gente. Em miúdo, na sanzala, a mãe Miquelina atirava-lhe com berros e aiués pela mania que ele tinha de correr, nu, pelo terreiro tomando um banho que lhe tirava os caramunhos da cabeça. Minino você tens de aprender a ser um home civilizado. Seu pai lhe queria que tu fosse assim.

Ele não respondia. O seu pai. Por onde andaria ele, algarvio de torna viagem, que estivera ali sediado durante a enormidade de dois anos com um comércio geral de fancaria e que emprenhara a Zefa Catemba, em resultado do que nascera ele, José Paulo de Carvalho Simões, mulato claro, de olhos verdes como os do sacana do progenitor. E continuava a correr na chuva, conduzindo com mestria um auto de arame, rodas, volante e imaginação, tudo em arame, já disse.

Um dia, já a mãe o tinha metido na escola da Missão, o padre Filomeno, italiano de barba branca sobre a sotaina branca (que raio, o gajo andava sempre num brinco, branco era branco, ponto), chamara-o à presença dele. E dera-lhe para a mão um papel de carta em que ele, entre o desconfiado e o espanto, dera a ler o que lá dizia. Era do pai. E tinha preso por agrafe metálico, um tanto enferrujado, um bilhete de barco para Lisboa. O que lhe pareceu o mais importante, no meio da confusão que se lhe instalara na cabeça, por baixo mesmo do cabelo liso. Os outros miúdos bem o chateavam por não usar carapinha.

Convencido de ser branco

Dona Zefa ainda hesitou. Mas o homem que fora o seu, era o pai do minino. Você faz o que queres, já tem idade pra isso. Mas eu lhi aconselho que vás. Foi. Em terceira classe, no Niassa, navio-motor lhe chamavam, que então era quase novinho em folha. Da viagem – só boas recordações. A camarata para 12 pessoas era o menos. O mar era o mais. E, como não enjoava, fartou-se de comer coisas boas, de brancos, convencido de que já era um deles.

Resumindo. O pai, que tinha o mesmo nome, tinha uma taberna e carvoaria, ali para os lados da Morais Soares, quase em frente o cemitério, do outro lado ficava a Praça do Chile. E os eléctricos iam e vinham, à mistura com as carretas funerárias da Agência Abreu. Passou a trabalhar com ele e o sôr Simões pô-lo a estudar à noite, na escola comercial. Uns anos depois, era ajudante de contabilista da praça, do Senhor Raimundo, que fazia as escritas de uma porrada de lojecas e, até, de algumas lojas mais apessoadas.

Pensava meter-se no Instituto Comercial, ali a Santa Catarina, quando rebentou a guerra na Angola que acreditava ter esquecido. Mas o Salazar, ou os gajos quo acolitavam, deu-lhe passagem para lá, depois de ter feito o CSM. Furriel miliciano, farda amarela de caqui, ei-lo que desembarca em Luanda, que coincidência, no mesmo Niassa, agora mais encarquilhado, mal cheiroso a bedum da animalada que transportava e a que chamavam transporte de tropas. Mantendo o navio-motor, diga-se.

A sanzala Serrador

A companhia de caçadores independente passou seis fugazes dias na capital e seguiu em coluna militar para Nambo. A picada relembrara-lhe os anos da infância. E ainda levava a esperança de rever a Mãe Zefa na sanzala, à beira do caminho. Mas, o que viu, gelou-o. Só havia paus a pique queimados, dois cães esqueléticos e uma cabaça rachada. Ninguém a quem perguntar pelo povo.

Já no aquartelamento, ao lado do que fora o clube desportivo, tinham-lhe dito para tentar averiguar algo com o Malaquias do chuto. E quando este, já com uns valentes bagaços no buxo, e por entre fumaças de liamba, lhe contara que ninguém escapara, a militança que viera de Luanda vingara-se das atrocidades da UPA, olho por olho, dente por dente, só um velho ficara para contar, a ele, José Paulo de Carvalho Simões, subira-lhe pela espinhela até chegar ao cocuruto. Nas palhotas, disseram, para justificar a metralha, acoitavam-se muitos bandidos autores dos mais bravios assaltos.

O resto da comissão passou-o na agonia de vingar os mortos da sanzala Serrador, entre os quais a Mãe Zefa. Mas, o que, na verdade, o perseguia era a visão do que não vira: o povo de borco ou de costas, tanto faz, pelo chão, litros de sangue empapando e reforçando o chão já de si avermelhado, homens, mulheres, velhos, velhas e, sobretudo, meninos ou meninas. Raiados a metralha.

Fez o pedido legal para passar à disponibilidade em Angola, alegando (justificadamente, diga-se) que era a sua terra. Entretanto, chegara-lhe do Puto um telegrama. O pai Simões finara-se, qualquer merda do coração, parece que estava a montar uma catraia de vinte e poucos anos, dera-lhe o badagaio, finara-se. A mulher, a legítima - porque a Mãe Zefa fora apenas a que o parira, que o deitara ao Mundo desgraçado que era este – fugira-lhe um ano antes com um marinheiro turco, levando uma porradaria de contos.

Peluda. Conversas no Rangel e no Sambizanga. Numa noite sem luar saíra de São Paulo de Luanda, à boleia de um camionista indicado pelos novos camaradas, tipo seguro, ainda que não seja dos nossos, afirmara-lhe, convicto, o Pintado das ferragens, militante do MPLA, a que aderira também. A vingança teria de ser forte, sentida pelos filhos da puta dos portugas, mas a independência seria ainda mais importante. Fossem chacinar para a cona da mãe da terra deles.

Os tugas já tinham aprendido

A chuva abrandou. Zé Paulo puxa do maço de Hermínios, aponta-lhe um fósforo, engole o fumo até tão fundo que quase lhe chega aos tomates. Fuma também de raiva. O golpe de mão que tentara executar fora um flop de todo o tamanho. Os gajos seus companheiros de Bilhete de Identidade – de mais, não – também já sabiam muito. Tinham-lhe trocado as voltas e o grupo dele, de 12 ficara reduzido a cinco. Sendo que dois muito estragados, um sem uma perna e o outro cego do olho direito. Uma ganda foda.

Com as mãos em concha tenta preservar a pirisca da ex-catarata que o envolve. Acabou-se: a beata e a euforia. Hoje, tudo aquilo que tinha acumulado de sucessos, fora-se, sem ai, nem ui. Tenho de me redimir, cogita. Tenho de os agarrar pela pele dos colhões e dar-lhes cabo da saúde. Levanta-se e anda, silenciosos, para trás e para diante, no meio das folhas de mandioca, em Cabinda fazem um esparregado com elas, o saca-folha, de comer e chorar por mais.

A noite vai-se transformando em matina, já nasceu um sol que tenta desesperadamente, apenas acordou, penetrar as ramas folhosas. Os companheiros foram até ao charco próximo, lavar-se e dar água aos feridos. Um deles, o Cachimba volta para trás. Camarada o cego escapa, o Cuanhama não se safa. Está a acabar. Já não tem sangue quase mesmo. Pediu no Cavibonde que lhi leva a foto da filha pra dar na mãe da minina.

Que idade ela tem? Cachimba olha, surpreso. Afinal o camarada Simões tem coração. Está a perguntar pela menina do Cuanhama. Ninguém diria. Olha camarada, repara só na foto. Tem cinco anos e si chama Joana. Que lhi parece?

A Mãe Zefa; sente que ela lhe põe a mão no ombro como fazia antes de. Zé Paulo, filho, essa minina Joana também é nossa, também é tua. Conserva-lhe. Você não tens filho, agarra ela e que ela lhi chama pai. Puxa da carteira ensebada, de couro andaluz, comprou-a em Sevilha, tinha ido lá numa excursão da escola nocturna, até engatara uma chavala, Mercedes, 22 anos, um espanto na cama. Fora no Parque Maria Luísa que a encontrara, quando se preparava para dar uma volta de charreta com quatro colegas. A bolsa que já foi castanha e brilhante tem a Virgem da Macarena em relevo. Tinha. Dela tira cuidadosamente a única foto que tem, teve e terá da Mãe Zefa.

Junta as duas, a da senhora e a da miúda. Mete-as na carteira. Está decidido. Quem sabe se ainda chegar a tempo, quem sabe quando a guerra vai acabar, quem sabe se arranjará um irmão para a Joana. Depende. Da guerra e da viúva. E dirige-se ao charco. Para também ele se lavar sumariamente. Para mais nada. O Cuanhama já se foi, aiué, como dizia a Mãe Zefa.


Texto retirado do Blog Travessa do Ferreira

e reproduzido no PortugalClub
Cenas da Guerra Colonial (1)

O rio e a sorte

* Antunes Ferreira


Q
uando os maçaricos chegavam, ainda a cheirar a cueiros e já carregados de saudades, os veteranos costumavam gozar com eles. O que é mais do que natural, sobretudo em teatro de operações. Já tinham passado pela rábula da caça aos gambozinos, na recruta, noite em claro agarrados aos sacos de serapilheira, à espera. Já tinham engolido os pedidos/ordens dos instrutores – vai-me ali buscar a caixa das estrias. Porra! Mas ali era diferente.

Uma boa parte das saídas era pelo rio, margem acima, margem abaixo, que sacana de vida, então para que raio eram os fusos? Esses é que estavam preparados para a guerra aquosa – ou outra merda qualquer – mas eles, não. E os velhos: cuidado com os tubarões. Mas aqui há tubarões. Não, maricas, os crocodilos comeram-nos todos. E as sanguessugas atirando-se ao couro dos polainitos em busca de sangue fresco, que vida de peixe de rio. Nem a tainha, nem o sável, nada.

Mais abaixo, na curva mais pronunciada do rio, é o local onde nós atacamos. Os tugas, mais ou menos preparados, mais ou menos prevenidos, mais ou menos acagaçados, nem mesmo assim tomam as precauções imprescindíveis. Xi, camarada, essis gajos num tem nada nos cabeça. Antão não repara que esse é o sítio das makas? São burros mesmo. Muitos vão voltar no Puto dentro do sobretudo de pau.

Até dois Cabinda tem

É um grupo lixado, o nosso. Vinte e três patrícios, de muitas sanzalas e muitas diferenças. Repara só, mano, até dois Cabinda tem. Só que todos são MPLA, e o comandante é o Adão que esteve dois anos em São Nicolau – e sobreviveu. Do povo vêm umas mulheres que trazem na malta comida e munições. E desenferrujam os nossos coiso. Um homem está na mata, tem de se alimentar, mas também precisa de fêmea. Todos os bichos fornica, os negros também tem direito.

Eu sou o Sabonete João. Já ando nesta vida há muitos meses. Quase quatro ano. Tem que chega? Não. É preciso atirar os portugas no mar. Para a terra deles, prá cona das mães deles. Pró cu do Salazar. Aka! Muitas vezes me pergunto quem é esse Salazar. É o soba grande dos tugas, disse-me o Sebastião Moluto que andou até ao quinto ano do Salvador Correia. Chama-lhe o pai da pátria, o salvador de Portugal e também lhe conhecem por Esteves.

O Sebastião explica que o gajo chama-se António de Oliveira Salazar. Nunca ninguém avisa onde vai ele amanhã. A PIDE tem ordens para impedir que digam que amanhã o Senhor Presidente do Conselho vai estar na Feira das Indústrias. Podem lhe querer fazer mal, um tiro, uma bomba, sabe-se lá. Por isso é que os jornais, a rádio e agora a televisão dizem sempre que esteve ontem na inauguração do mercado de Palhavã... Por isso, dizem que é o Esteves.

Palmatoada nos preto

Sei ler e escrever, aprendeu no livro com os mininos da mocidade portuguesa na capa. Até sei de cor os rios de Portugal e os seus eflu... afluente, julgo que se diz assim. Do Norte até no Sul, no Algarve. E as linha do caminho de ferro com ramal e tudo. Os padre missionários ensinava tudo direitinha na gente. Se não sabia, pimba, lá vinha a minina de cinco olho, a dar palmatoada nos preto.

Fui ajudante de contínuo na Fazenda, ali na Mutamba, com o senhor director-geral Mendonça. Bom home. A mulher, a Dona Joaquina nem por isso. Dava na lavadeira e nos três criado, uma sardinha e dois batatas pró almoço e eles que cozinhava. E tirava-lhe um dia no salário se faltavam meio dia no serviço. Era cabrita e toda a gente sabe que o patrício diz que o branco é filho de Deus, o preto é filho do Diabo e o mulato, principalmente, o cabrito é filho da puta. Quando o senhor Martins, chefe da repartição me avisou que tens de ir na tropa, fugi. Do Casa Branca até aqui foi uma confusão. Mas cheguei e cá estou.

Pronto. O camarada Adão está lhes chamando para combinar uma emboscada. Vai ser amanhã, ao lusco-fusco, quando o sol ainda não estendeu os raios. Eu fico com a bazuca, o Ganguela com o morteiro, os outros com as Kalachas. Boas arma, essas russas, de carregador em gancho, tem mais bala que a G3 dos colonialistas. Diz o comissário Tunda que se o Salazar não manda comprar elas, os tugas perde a guerra contra os patriota.

Patriota somos nós. O grupo todo é unido e patriota. O comissário nos explicou que patriota é aquele que conquista a sua Pátria. O cipaio não é patriota é chulo. Serve os branco. E os administrador cabo-verdeanos também é traidor. Batem mais que os brancos e não pagam imposto geral mínimo. Até os funcionário paga, mas administrador não paga. Então porque é geral?

Os «voluntário da corda»

Estou a limpar a arma com escovilhão até. Amanhã, na madrugada, ela não vai encravar. Não pode. Senão quem encrava mesmo sou eu, Sabonete João, natural do Golungo Alto, terra do camarada Agostinho Neto. Tudo brilhante, a mira bem aberta, pra acertar neles. Assim, já não pago mais o antigo imposto de palhota. Acaba os escravos, com a luta do povo angolano. O Tarcísio me mostrou uma fotografia de uma fila de pretos atados pelas garganta com uma corda grossa de sisal. Me disse que eram os voluntários para a colheita do café. Os «voluntários da corda» - e fartou-se de gargalhar.

Tenho quatro cigarros e meio, AC, maço vermelho e branco com os letra a preto. Os portuga dizem encarnado, vermelho é comunista, a PIDE proíbe. Essa polícia é futida mesmo. Prende um preto, lhe enfia uma carga de porrada, mas também dá nos branco. Diz que viu que bate menos por ser da mesma cor. Não sei. O agente que eu conheceu na Maria Fernanda (boa fazenda de café, pertinho do Bico do Pato), Almeida qualquer coisa mais, disse que não tem medo de ninguém, nem do governador-geral, nem do bispo.

Que se tramem o Almeida, o governador e o bispo. O Adão chega junto de mim e agarra na arma para lhe experimentar e examinar. Leva a culatra atrás, espreita no cano faz hun-hun e devolve-me a canhota. Lá no céu já estão as primeiras estrela, é noite de lua cheia, bom sinal para daqui a bocado. O Lucungo prepara a mina para pôr debaixo da água, no sítio em que passa os soldados.

É preciso muito cuidado, essas mina são terríveis, rebenta por um cabelinho. Para a armar tem de se ter todos os olhos bem aberto. Todos não. O do fundo das costas deve estar bem apertadinho, quer dizer que tem maúfa, ou se não tem, duvido do herói que não nasce como o capim, à farta. Tem sim de ter muita atenção e muito cuidado, a maldita pode explodir nos nossos não neles.
... ... ... ... ... ... ... ... ... ...

Às quatro da manhã, o primeiro homem põe o pé no sítio da mina. É um soldado preto, desses que ficaram no lado da tropa, com vontade ou sem vontade. Não interessa. Adão deixa-lhe passar, seguem-se os outros, quase um pelotão. Com a água barrenta pela cintura os camuflados semi-flutuam, diluídos no cinzento da madrugada, vão avançando, cuidadosamente, em bicha-de-pirilau. Já estão todos na zona da morte.

O estrondo, medonho, abana o tempo e o ar. Ergue-se uma coluna líquida carregada de espuma e já tinta de sangue. Os gritos são uivos de animal caçado e estralhaçado. Uma nuvem de pó acastanhado e de fumo de enxofre paira por momentos e vai caindo sobre as águas ainda revoltas. Ter-se-á safado algum? Por certo, mas não vale a pena ir lá abaixo contar as baixas. Adão levanta o braço direito, a mão espalmada, em aceno para que a malta se retire, devagarinho, sem sobressaltos nem barulhos.

Vai chegando, no meio da desgraça, o reforço que de nada servirá. O que tinha de se fazer, está feito. Sabonete João estou a coçar o olho direito. Espinho de árvore, lasca de madeira explodida, areia mais grossa arremessada pela deflagração? Ou lágrima pelos muitos que, sem saberem bem porquê, foram mandados para o matadouro no rio? Raio de sorte de quem se habituou, apenas, a obedecer. Uma merda, co'escafandro.

Texto retirado do Blog Travessa do Ferreira e

reproduzido no PortugalClub

Do P.Club.:

Fantasias de fascista\Socialista?. Não. Não são só fantasias! Este é, e era o agir desses fascistas Socialistas , traidores da Pátria e dos Ideais de Um PORTUGAL grande. O Ideal desta gente era só a URSS. Observem como se referem aos portugueses de Cor, naturais das Provincias, e aos cabo verdianos?. Depois acusam os "Colonos" de racistas?. Casimiro