A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quinta-feira, dezembro 12, 2013

"Os hospitais desesperam para se verem livres dos doentes que lhes dão prejuízo"

ENTREVISTA

"Os hospitais desesperam para se verem livres dos doentes que lhes dão prejuízo"

O Ministério da Saúde tem de alterar o modelo de financiamento que está a obrigar os hospitais públicos a fazerem “desnatação de doentes”, defende o bastonário da Ordem dos Médicos, o único candidato ao cargo nas eleições desta quinta-feira.
No primeiro mandato como bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, 54 anos, protagonizou várias polémicas e alternou entre elogios e críticas ao ministro da Saúde. Agora que candidata a um segundo mandato, sem adversários (só há corrida eleitoral nos conselhos regionais do Centro e do Sul, com dois candidatos cada), o especialista em Medicina Interna defende que Paulo Macedo é o ministro “mais qualificado” deste Governo, ao mesmo tempo que afirma que ele está mais preocupado em cortar do que em reformar.
Resultado? José Manuel Silva, que dá aulas na Faculdade de Medicina de Coimbra, onde se formou, conclui que o Serviço Nacional de Saúde (SNS) está a “perder qualidade”, que há uma “clara desmotivação dos profissionais” e que os serviços estão a funcionar com “constrangimentos dramáticos”. Dá o exemplo do serviço de urgência do Hospital de Aveiro, onde recentemente viu “39 doentes em macas, alguns há três dias, à espera de cama”.
Quando venceu as últimas eleições, enunciou, no seu discurso de tomada de posse, uma série de compromissos, um dos quais era o da revisão dos estatutos da Ordem, que permitirá acelerar a resposta às queixas dos cidadãos.
Era a questão primeira. O processo de revisão dos estatutos está concluído, elaboramos uma proposta que foi apresentada em Fevereiro ao Ministério da Saúde. Isto é essencial. Temos só cinco elementos nos conselhos disciplinares regionais. Nos novos estatutos está previsto o aumento do número de elementos e são eleitos suplentes,  portanto as decisões da Ordem vão ser muito mais ágeis. Nós temos a consciência de que os atrasos dão muito má imagem [da instituição].

Há médicos condenados em tribunal, por crimes graves, que continuam a exercer. A OM não pode fazer nada nestas situações?
O problema é que também temos o inverso. Há decisões da Ordem impugnadas em tribunal. Dou-lhe o exemplo de um médico que foi condenado a suspensão, por pedofilia [abuso sexual de menores],  mas recorreu para o tribunal administrativo e esse processo está a marinar há três anos.

As pessoas fazem cada vez mais queixas à Ordem?
Sim, mas a esmagadora maioria são queixas sem consistência, sem prova possível. E temos tomado decisões. No último Conselho Nacional de Disciplina decidimos mais uma expulsão. Estamos empenhados em separar o trigo do joio e absolutamente determinados em demonstrar que as nossas decisões de auto-regulação disciplinar não são corporativas. Só que podemos decidir rapidamente sobre questões técnicas mas não sobre decisões que impliquem uma investigação judicial, como por exemplo as fraudes no circuito do medicamento e com receitas.  Vamos ter que esperar que as sentenças transitem em julgado. Em todos estes casos, os médicos  também correm o risco de expulsão. Não queremos pessoas fraudulentas dentro da classe. Agora, se o tribunal ilibar as pessoas não podemos aplicar-lhe uma pena, elas recorrem.

Mas uma coisa é o crime, outra coisa é a deontologia.
Sim, aliás foi exactamente por isso que um psiquiatra do Porto [acusado de violação de uma doente]  foi condenado a expulsão.

No seu discurso de tomada de posse, também dizia que queria criar a figura de provedor do doente. O que é que aconteceu?
Acabamos por não criar essa figura porque achamos que quem se devia assumir como provedor do doente era a própria OM e o bastonário. Temos tido uma associação muito próxima com as associações de doentes.

Quais são as suas prioridades para os próximos três anos?
Defini três grandes linhas de actuação, uma das quais é lançar o debate sobre a proletarização dos médicos e do SNS. Estamos a ter cada vez mais uma medicina a duas velocidades, uma para os ricos e outra para os pobres. Outra passa por alterar a contratualização/financiamento dos cuidados de saúde, que está a distorcer o SNS, a obrigar os hospitais a fazer desnatação de doentes. Também pretendo avaliar as condições de exercício da medicina e a qualidade em todo o continente e ilhas.

O problema central é o do financiamento?
O financiamento hospitalar é absolutamente deficiente. Temos uma situação caricata. Temos uma directiva transfronteiriça que permite a um doente do Algarve ir tratar-se a Berlim, mas há legislação interna que proíbe a um doente do Algarve ir tratar-se a Lisboa. Neste momento as fronteiras internas são mais inultrapassáveis do que as europeias. Está tudo errado porque os hospitais desesperam para se verem livres dos doentes que lhes dão prejuízo. Não se pode financiar doentes cirúrgicos todos pelos mesmo valor [seja qual for o custo que implicam de facto]. Não mexer nesta questão é uma das maiores manchas deste ministério. São situações perversas e paradoxais relativamente às quais não se tem tomado qualquer medida efectiva.

Por que razão é que acha que o ministro Paulo Macedo não altera esta situação?
Porque tem prevalecido a preocupação de cortar e não de reformar. Já basta. Já temos uma despesaper capita muito abaixo da média da OCDE, uma comparticipação directa dos cidadãos para as despesas em saúde muito acima da média da OCDE e os nossos indicadores de saúde já estão a sofrer, por exemplo com o aumento da taxa de mortalidade infantil.

Tem elogiado o actual ministro da Saúde mas, ao mesmo tempo, diz  que ele sofre de uma obsessão financeira.
Tenho uma boa impressão do ministro da Saúde e das suas qualidades técnicas e humanas. Considero até que é o ministro mais qualificado do Governo. Outra questão são as medidas que toma. Não posso deixar de reconhecer que há duas medidas muito positivas – a redução do preço dos medicamentos e o combate à fraude e corrupção na saúde – mas, depois, há outras questões que obviamente criticamos, como o facto de a reforma dos cuidados de saúde primários estar em banho-maria, a contratualização na saúde não existir e não haver uma avaliação de  base para se definir a reforma hospitalar em Portugal.

Está a falar da concentração e do encerramento de serviços hospitalares?
Isso não é reforma. Concentrar serviços  é o que qualquer merceeiro faz. É preciso, primeiro, saber o que é que o país necessita e aonde. Só depois disso é que se pode fazer a reforma hospitalar.

Mas o ministro já pediu estudos sobre a reforma da rede hospitalar a uma série de entidades e de especialistas.
Porque é que será que ainda não fez a reforma? Porque se calhar os estudos estão todos mal feitos.

Como avalia o estado do Serviço Nacional de Saúde, depois dos sucessivos cortes?
Os cortes continuam, até para além daquilo que é recomendado pela troika. Há centenas de jovens especialistas a serem contratados, mas há muitas dificuldades, por exemplo nas urgências que são o espelho do SNS. No Hospital de Aveiro, que visitei recentemente, vi 39 doentes em macas, alguns há três dias, à espera de cama. O Serviço de Medicina Interna chega a ter uma taxa de ocupação superior a 200% (quando deveria ser de 85%), o que é um sinal de péssima qualidade. Agora, a culpa é do conselho de administração? Não. Obrigaram-no a encerrar camas em Estarreja e em Águeda…

Isso significa que o SNS piorou?
O SNS está a funcionar com um claro comprometimento da qualidade. Estamos a perder qualidade no SNS, que está a ser decapitado do topo da carreira. Centenas de médicos reformaram-se antecipadamente. Amputar a hierarquia é uma das piores vilanias que se podem fazer ao SNS. Abriram 130 vagas para assistentes graduados seniores, quando seriam necessárias vinte vezes mais. Há uma clara desmotivação dos profissionais de saúde e constrangimentos dramáticos no funcionamento dos serviços. Depois, o que acontece é como no futebol: mesmo que os jogadores sejam muito bons, a equipa perde.

Tinha dito no seu discurso de tomada de posse que o bastonário da OM não podia correr o risco de se transformar numa espécie de comentador desportivo da saúde.
Isso foi antes de rebentar a crise actual. A crise caiu-nos em cima, o que me obrigou a uma intervenção muito distinta.
 
Os médicos perderam um pouco do prestígio que tinham?
Acho que não, mantêm o prestígio, mas neste momento há muito mais médicos, há mais acessibilidade, o que é bom.

Mas a Ordem não se tem cansado de repetir que estão a ser formados médicos a mais em Portugal.
Dizemos isso com base em dados técnicos. Há um estudo que estima que podemos ter nove mil médicos a mais, até 2025.

Esses médicos podem emigrar, como acontece noutras profissões.
Já estão a fazê-lo. Fazem-no por terem no estrangeiro melhores perspectivas de desenvolvimento e realização profissional, o que está comprometido em Portugal porque os cortes na saúde estão a impedir o acesso à tecnologia e à medicação inovadora. É preciso que entre o Ministério da Saúde e as câmaras municipais se criem medidas de discriminação positiva para fixar médicos no interior do país, de forma a não termos este paradoxo de formar profissionais a mais e haver zonas onde há falta de médicos porque eles emigram.

O que seria, para si, uma boa votação nestas eleições?
O que me deixaria satisfeito seria ter mais votos do que na eleição de há três anos, em valor absoluto [teve cerca de  3700 votos ].

Mas isso é menos do que 10% do universo dos médicos portugueses.
Sim, haverá cerca de 45 mil inscritos na Ordem.

No primeiro mandato, enfrentou oposição interna, quando o parecer sobre o racionamento de medicamentos, depois de ter sido criticado por si, foi considerado equilibrado pelo Conselho de Ética da OM, que até se demitiu.
Não quero voltar a essa polémica. São águas passadas. Foi nomeado um novo conselho de ética e no último número da revista da OM está publicado um novo parecer.

Recentemente foi acusados pelos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde de ter usado expressões grosseiras num editorial a propósito da lei sobre as terapêuticas não convencionais. Vai pedir-lhes desculpa, como eles reclamam?
Não, eles é que deviam pedir desculpa aos portugueses pela forma como a medicina tradicional chinesa foi aprovada.
 

domingo, março 04, 2012

Portugal - Em duas semanas morreram mais de seis mil pessoas

 

Especialistas em saúde pública associam excesso de mortalidade à crise económica

03.03.2012 - 13:37 Por Alexandra Campos

Alterações na estirpe do vírus da gripe estão entre as razões apontadas
Alterações na estirpe do vírus da gripe estão entre as razões apontadas (Foto: Nuno Ferreira Santos)
Responsáveis da Direcção-Geral da Saúde e do Instituto Ricardo Jorge dizem que perfil de mortalidade das últimas semanas não é anormal, já se registou em períodos anteriores, como em 2008/2009.
Em duas semanas apenas, morreram 6110 pessoas em Portugal, pelo menos mais um milhar do que era esperado para esta altura do ano. Os responsáveis da Direcção-Geral da Saúde (DGS) continuam a atribuir este elevado número de mortes ao período de frio extremo, em conjugação com a ocorrência tardia da epidemia de gripe, mas adiantam que está igualmente a ser estudada uma eventual influência de pequenas alterações observadas na estirpe do vírus da gripe que este ano é predominante, a A (H3N3), que afecta sobretudo os mais idosos e que provoca habitualmente um excesso de mortalidade. 

Especialistas como o ex-director-geral da Saúde e professor da Escola Nacional de Saúde Pública Constantino Sakellarides e o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, Mário Jorge Santos, vieram ontem a público defender, porém, que os efeitos da crise económica e do aumento das taxas moderadoras devem também ser levados em linha de conta na análise deste fenómeno. "O facto de as pessoas viverem com mais dificuldades", sentidas no acesso "aos medicamentos e à saúde", e de terem a "electricidade mais cara", são "hipóteses plausíveis" para explicar os anormais picos de mortalidade verificados nas últimas semanas, admitiu Constantino Sakellarides, em declarações à TSF. 

Além do frio e da gripe, que provocam sempre um aumento da mortalidade no Inverno, a manter-se esta tendência, há outros factores que devem ser investigados, como a "perda de rendimento das famílias e o aumento brutal das taxas moderadoras", defendeu Mário Jorge Neves. "Conheço pessoas que deixaram de ir ao hospital, de comprar medicamentos e de fazer alguns exames complementares de diagnóstico por causa das taxas moderadoras", descreveu. 

É preciso ver se as pessoas se estão a vacinar mais ou menos, se retardaram a ida ao médico e se pioraram a sua alimentação, recomenda também Vítor Faustino, coordenador do GripeNet, um sistema de monitorização da actividade gripal. "A gripe mata, mas não pode ser a única explicação. Temos de olhar para todos os lados, não descurar nada, como um detective", afirma o investigador, que lembra que noutros países europeus e nos Estados Unidos não se estão a observar tendências semelhantes. E nos EUA esta foi a gripe mais tardia dos últimos 29 anos.

"São declarações precipitadas", contrapõe o director-geral da Saúde, Francisco George. "Este perfil de mortalidade e de curva epidémica [da gripe] já se registou em anos anteriores, nomeadamente em 2008/2009", ano em que também predominou o A (H3N2), frisa. "Este excesso de mortalidade é da mesma magnitude do observado em 2008/2009", quando houve cerca de 1900 óbitos acima do que era esperado, reforça Baltazar Nunes, bioestatista do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA), o laboratório nacional de referência da gripe. Recuando mais no tempo, em 1998/99 o excesso de mortalidade foi ainda mais expressivo (8500 óbitos acima do habitual). 

O pico de mortalidade começou a ser observado a partir da semana cinco, no final de Janeiro, e tem vindo a crescer desde então. Mas foi na semanas sete e oito (entre 13 e 19 e entre 20 e a 26 de Fevereiro) que se acentuou, com um total de 3030 e 3080 mortes, respectivamente. Estes picos são coincidentes "com um período de frio e uma epidemia de gripe que neste momento está em fase ascendente", diz Baltazar Nunes. O especialista admite que "neste momento todas as hipóteses são passíveis de ser estudadas", até porque só será possível chegar a conclusões depois de desagregadas as causas de morte, mas considera que relacionar o que está a acontecer com a crise é, por enquanto, "muito especulativo".

"É o padrão da actividade gripal do A (H3). Já em 2008 tive de explicar que não se passava nada de anormal, o que é invulgar é que agora se está a assistir em directo [a este fenómeno]", assegura também Paulo Nogueira, especialista em estatística na DGS. 

Quanto às pequenas alterações que estão a ser observadas no vírus A (H3N2), também ainda é cedo para adiantar conclusões. "Parece haver uma alteração muito ligeira, que está a ser estudada em vários países", explica Isabel Falcão, da DGS. Destaca que este fenómeno não é raro, mas necessita de ser estudado "em profundidade". É o que está acontecer neste momento, até porque está a ser preparada a vacina para o próximo Outono.


terça-feira, setembro 28, 2010

Medicamentos comparticipados deixam de ter preços afixados na embalagens

Ministério da Saúde confirma nova "norma Simplex"
28.09.2010 - 19:06 Por Alexandra Campos
Os medicamentos comparticipados pelo Estado vão deixar de ter os preços afixados nas embalagens. Depois de a Direcção da Associação Nacional das Farmácias (ANF) ter afirmado que a tutela se preparava para avançar com esta medida de uma forma "sigilosa" , o Ministério da Saúde (MS) confirmou que "deixa de ser obrigatória a impressão na embalagem" do preço de venda ao público nos medicamentos comparticipados. "É uma norma Simplex", afirma o ministério, em resposta enviada ao PÚBLICO.
A ANF considerou, em comunicado, que "os preços vão ser escondidos dos doentes"  
A ANF considerou, em comunicado, que "os preços vão ser escondidos dos doentes" (PÚBLICO (arquivo))

"Deixa de ser obrigatória a impressão na embalagem dado que, por um lado, não era necessária (...) e, por outro lado, tem obrigado a frequentes e inúteis remarcações de preços. Por exemplo, aquando do aumento do IVA de 5 para 6 por cento foi necessário retirar milhões de embalagens de mercado, imprimir novas embalagens, reimprimi-las e ter nova operação de logística para colocar os medicamentos", justifica o MS.

A Direcção da ANF considerou, em comunicado, que "os preços vão ser escondidos dos doentes". "Se essa medida entrar em vigor, os utentes deixam de ter ao seu dispor na embalagem o preço do medicamento" e isso torna "impossível ou mais difícil" a comparação dos custos, defende a associação.

"A concorrência entre os laboratórios será menor e a opção dos doentes por medicamentos mais baratos será mais difícil", prevê a Direcção da ANF, que nota que esta medida "nunca foi apresentada publicamente" nem foi objecto de discussão ou pedido de parecer. "Aparece assim, de surpresa, sem se saber quem a reclamou e que razões levaram o Ministério da Saúde a aceitar de forma tão sigilosa uma medida desta dimensão".

O novo modelo surge na sequência da redução em seis por cento do preço dos medicamentos e da alteração das regras de comparticipação aprovadas em Conselho de Ministros no dia 17 deste mês e que entram em vigor na sexta-feira. ´

O MS responde que só deixa de ser obrigatória a afixação do preço nos medicamentos comparticipados, "caso em que o utente tem (...) níveis acrescidos de controlo sobre o preço que lhe é aplicado". "Em primeiro lugar, o cidadão pode perguntar o preço do medicamento ao farmacêutico que lhe dará informação do preço efectivamente a pagar", reflectindo o Preço de Venda ao Público (PVP), acentua o MS.

Defendendo que o PVP impresso na embalagem não dá "qualquer informação útil" ao cidadão e que não maior parte dos países da Europa não consta das embalagens, o ministério sublinha ainda que "não serve de comparação" porque não é o preço que o cidadão paga. E isto porque sobre este preço "a indústria pode fazer deduções", a farmácia "pode fazer descontos"´e o custo final depende do escalão de comparticipação do medicamento (95, 69 ou 37 por cento) e do facto de o utente ususfruir ou não do regime especial. Além disso, "o cidadão controla o preço a pagar pelo recibo que sempre lhe é facultado na farmácia".

O Ministério da Saúde garante também que, "através da Central de Conferência de Facturas, o valor que foi cobrado está de acordo com o preço permitido ao medicamento". 
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terça-feira, agosto 03, 2010

Valor médio da descida de preço dos genéricos vai ser de 4,45 euros

Redução de preço entre hoje em vigor

01.08.2010 - 08:29 Por Alexandra Campos
  
A partir de hoje, a maior parte dos medicamentos genéricos vai ficar mais barata. Em média, a descida será de 4,45 euros. A redução de preços determinada pelo Governo abrange 2681 apresentações (formas farmacêuticas e embalagens com dosagens diferentes) que correspondem a 111 substâncias activas (do total das cerca de 180 disponíveis no mercado), adiantou ao PÚBLICO a Autoridade Nacional do Medicamento (Infarmed).
A quota de mercado dos genéricos ronda os 20 por cento  
A quota de mercado dos genéricos ronda os 20 por cento (DR)


Esta nova descida de preço dos genéricos só deixa de fora os que custam até 3,25 euros. O Governo determinou que os genéricos têm de ser 15 por cento mais baratos do que os medicamentos originais (os remédios que entretanto perderam a patente) e, no caso das duas substâncias que mais dinheiro custam ao Estado (a sinvastatina, para a redução do colesterol, e o omeprazol, para o estômago), foi imposta uma redução bem maior - 35 por cento.

Segundo a agência Lusa, as descidas mais significativas vão ser observadas em alguns genéricos como a Sinvastatina 20 mg, que baixa cerca de 50 por cento, enquanto os preços do Omeprazol 20 mg e da Amlodipina 10 mg (para a hipertensão) recuam cerca de 20 por cento.

Mas se há casos em que a baixa de preços é significativa, há outros em que será nula, uma vez que o valor final depende do preço do medicamento de referência (o original), avisa o Infarmed. Sem conseguir precisar quantos fármacos de marca branca vão baixar de preço, a Associação Portuguesa de Medicamentos Genéricos (Apogen) adianta apenas que a redução vai atingir a "grande maioria" dos 4441 existentes no mercado, cujo preço médio "ronda os 15 euros".

Em comunicado, a Apogen lamenta esta nova descida de preços, defendendo que não fará "diminuir a despesa", como pretende o Governo. "Da factura total da saúde (cerca de 9,5 mil milhões de euros), a factura com o medicamento em ambulatório [nas farmácias] é de cerca de 1,5 mil milhões", frisa a associação. E como a quota de mercado dos genéricos ronda os 20 por cento e estes "representam apenas três por cento da despesa total em saúde", "não é aceitável é que cerca de três por cento da factura seja o alvo sistemático das descidas de preço".

A associação defende ainda que estas descidas "limitam o crescimento dos genéricos e é preciso ter em conta que os crescimentos do mercado de genéricos são crescimentos saudáveis, uma vez que por cada euro que este mercado cresce, são poupados vários euros no mercado global". "Preços baixos levam à perda de competitividade dos medicamentos genéricos e à transferência para produtos protegidos por patente, semelhantes do ponto de vista terapêutico, mas de preços muito mais elevados, sem que se verifiquem benefícios terapêuticos adicionais", adiantou. E deu o exemplo do Alendronato+Vitamina D, "sem benefício importante em relação ao Alendronato isolado", e "o uso talvez excessivo de Sinvastatina associada a Ezetimibe, face à Sinvastatina isolada", para além da substituição do Omeprazol por Esomeprazol.

A nova descida de preços integra-se no chamado "pacote do medicamento" com que o Governo pretende poupar milhões de euros até ao final do ano. A partir de agora, os Ministério da Saúde e da Economia vão obrigar os genéricos a baixar de preço sempre que ultrapassem o valor do equivalente original. Quando entram no mercado, os genéricos são obrigados a ter um preço inferior em 35 por cento ao fármaco original, mas como estes últimos iam ficando mais baratos, havia casos em que os primeiros acabavam por custar mais dinheiro. Até aqui, só os medicamentos originais eram submetidos a uma revisão anual de preços, um controlo que passa agora a incidir também sobre os genéricos, para evitar este tipo de disfunções. Nos cinco primeiros meses deste ano venderam-se em Portugal mais de 101 mil embalagens de genéricos, representando um valor superior a 1,365 milhões de euros.

Novas regras: "Confusão generalizada" na comparticipação
O pacote do medicamento inclui novas regras de comparticipação de medicamentos que estão a provocar uma "confusão generalizada", defende a Associação Portuguesa dos Medicamentos Genéricos (Apogen).

O novo regime dos medicamentos para os grupos mais carenciados (pensionistas com menos do que 14 salários mínimos por ano) fez com que passassem a ser gratuitos apenas os cinco remédios mais baratos, quando antes eram comparticipados a 100 por cento todos os genéricos. "Doentes que têm medicamentos gratuitos num mês, podem ter de os pagar no mês seguinte, podem tê-los gratuitos numa farmácia e noutra não, tudo isto com compromisso óbvio da adesão à terapêutica e acarretando riscos para a saúde pública", avisa a Apogen. E pode haver outro problema: como a situação será revista de três em três meses, e os prazos de produção de medicamentos excedem este período, é possível que alguns dos remédios mais baratos esgotem, devido à provável procura acrescida.
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quarta-feira, maio 19, 2010

Crise: professores, saúde e pensões serão os mais afectados




Entrada de docentes no quadro em risco. Saúde pode entrar em colapso
 
15.05.2010 - 08:45 Por Alexandra Campos, Clara Viana, Ana Rita Faria, João d´Espiney

Ainda não deverá ser no próximo ano que milhares de professores que se encontram a contrato verão assegurado o seu ingresso na função pública.
<p>Corrida às reformas está a esvaziar hospitais e centros 
de saúde</p> Corrida às reformas está a esvaziar hospitais e centros de saúde
 (Enric Vives Rubio)
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O Ministério da Educação assumiu este compromisso, mas o congelamento de novas admissões na função pública aprovado esta semana pelo Governo põe em risco a realização do concurso extraordinário previsto para 2011, precisamente com vista à entrada nos quadros de uma parte dos cerca de 23 mil docentes actualmente a contrato.

O Ministério da Educação - que juntamente com os da Saúde e da Administração Interna eram a excepção à regra de 1 (entrada) por 2 (saídas) - indicou ontem que "a questão está a ser avaliada com todo o cuidado" e que "oportunamente se decidirá sobre o assunto". Já o Ministério das Finanças, numa primeira resposta ao PÚBLICO, indicou que, face ao congelamento de novas entradas na função pública, só irão por diante os concursos que "já tenham sido autorizados" pelo ministro Teixeira dos Santos.

Tendo em conta que ainda não estão definidos nem os termos nem o universo exacto a abranger pelo concurso de 2011, o PÚBLICO voltou a questionar os dois ministérios sobre o fim do concurso. O ministério de Isabel Alçada remeteu para as Finanças. O de Teixeira dos Santos respondeu: "Os procedimentos já autorizados, autorizados estão. Os restantes casos serão apreciados individualmente, atendendo a que eventuais admissões serão sempre casos muito excepcionais, devidamente fundamentados, a autorizar pelo respectivo ministro e pelo ministro das Finanças."

A realização de um concurso extraordinário em 2011 faz parte do acordo que, em Janeiro, o ministério celebrou com os sindicatos dos professores. Segundo a Federação Nacional dos Professores, dos cerca de 23 mil professores que este ano lectivo estavam a contrato, 15 mil estariam a assegurar necessidades permanentes. O ministério não apresentou números, mas a ministra comprometeu-se a fazer um levantamento da situação. No mês passado, por iniciativa do PS e do CDS-PP, o Parlamento aprovou uma resolução, já publicada em Diário da República, que recomenda ao Governo a abertura do concurso "no máximo" até Janeiro de 2011. Objectivo: a integração de professores profissionalizados contratados que estejam em funções há mais de 10 anos. Estarão nesta situação entre quatro mil e oito mil docentes. "Nem nos passa pela cabeça que este compromisso não seja cumprido", disse ontem o secretário-geral da Fenprof. Mário Nogueira insistiu que este não foi um compromisso "assumido apenas com os professores, mas sim com o país", lembrando que, desde 2007, passaram à reforma 14.159 professores e apenas ingressaram nos quadros 396.

Vão "estoirar" com o SNS

Aplicada a um sector onde trabalham mais de 123 mil funcionários e onde várias instituições já estão a trabalhar "no limite", o fim da regra um por dois representará a destruição do Serviço Nacional de Saúde, concluem, em uníssono, vários sindicalistas ouvidos pelo PÚBLICO. Carlos Santos, do Sindicato Independente dos Médicos, lembra ainda que, face à corrida às aposentações antecipadas verificada nos primeiros três meses do ano (entre 500 a 600 clínicos pediram a reforma), o Conselho de Ministros aprovou um regime excepcional para recontratar médicos reformados, de forma a evitar o colapso dos serviços. "Temos a procura a aumentar devido ao envelhecimento da população e uma boa parte da classe médica com uma média etária muito elevada. Se isso avançar, estoiram com o SNS."

Isto vai implicar "dificuldades acrescidas de funcionamento, a diminuição de consultas e cirurgias e mesmo alguns encerramentos de serviços", avisa Sérgio Esperança, da Federação Nacional dos Médicos. "Em vez de irem às cinco da manhã para os centros de saúde, os cidadãos passam a ir às quatro; em vez de esperarem um ano para serem operados nos hospitais, esperam dois", descreve, sarcástico, o bastonário da Ordem dos Médicos, Pedro Nunes.

Mas os problemas não se cingem à classe médica. Há falta de enfermeiros, de auxiliares, de técnicos de diagnóstico e terapêutica, de administrativos. Paulo Taborda, da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, está preocupado com um problema que se vai colocar já no final de Junho e Julho, devido à anulação do concurso que ia permitir a passagem de cerca de seis mil funcionários com vínculos precários para contratos com termo indeterminado.

"De acordo com as orientações da OMS, faltam cinco mil enfermeiros nos cuidados de saúde primários e 20 mil nos hospitais", afirma Guadalupe Simões, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, que acredita que uma redução desta ordem porá em causa "a segurança e a qualidade do SNS".

O último (Estudo das Necessidades Previsionais de Recursos Humanos em Saúde) previa que, para manter os rácios actuais, seriam necessários 8231 novos especialistas até 2020. E, para os enfermeiros, estimava um mínimo de 14 mil novas entradas. Questionado sobre a matéria, o Ministério da Saúde remeteu para o Ministério das Finanças. "O Ministério da Saúde, nesta fase, não acrescenta mais informação."

O Centro Nacional de Pensões é outra das vozes que se juntaram ao coro e, no dia 26 de Maio, vai fazer uma greve durante meio-dia em protesto contra a situação de "ruptura" provocada pela falta de pessoal. Segundo Luís Neves, do Sindicato dos Trabalhadores da Função Pública do Sul e Açores, o organismo responsável pela atribuição das pensões passou de 2000 funcionários para pouco mais de 600 em apenas cinco anos. "Há secções sem chefias, atrasos de meses e pessoas a fazer trabalho extraordinário ao sábado, que agora também é cortado", disse ao PÚBLICO o dirigente sindical.

Nos serviços que se queixam já da falta de pessoal, a situação só tenderá a piorar com a decisão do Governo. Mas, em muitos outros organismos públicos, poderá começar também a verificar-se a mesma situação, à medida que forem despachados os pedidos de reforma que a Caixa Geral de Aposentações (CGA) recebeu desde o início do ano. Entre Fevereiro e finais de Abril, 18.132 funcionários públicos pediram a reforma, um número já próximo dos 22 mil pedidos que a CGA esperava para todo ano.
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