A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quarta-feira, fevereiro 27, 2013

Juntos pela mudança ~Vozes pelo 12 de Março

27 Fevereiro 2013


Jumtos pela mudança

Vozes pelo 2 de Março


Onde pára a democracia?Para onde quer que se olhe, os sinais que avançam e nos cercam são os de um país que empobrece e se afunda, enquanto uma caixa negra nos nega as mais nítidas evidências do imenso desastre que para nós preparam.

1. A Dívida, quê?
A dívida, quê? A dívida Soberana é como se chama a uma dívida assumida e garantida por um ser ou uma entidade soberana (um estado ou o seu banco central). Este par (nome + adjectivo) joga, com a gramática, um jogo que te leva à certa. Só compreenderás o que ele significa, se compreenderes que, no fim de qualquer passo de dança, a dívida deixou de ser uma propriedade ou uma qualidade do estado. O que ela exprime é que é ela que é soberana. Quem manda na política sou eu, a dívida. Tal como quem manda nisto tudo são os bancos (privados).

2. Soberania
Que Europa é esta que nos atou ao pescoço o BPN, em cujo buraco o estado enterrou vai para sete mil milhões de euros, e não nos autoriza o investimento de 1300 milhões de euros para o saneamento financeiro da TAP, o maior exportador do país e uma empresa estratégica para o nosso desenvolvimento soberano? É certamente a mesma Europa que fica sentada à espera que o governo português manobre de forma a tornar aceitável o inaceitável, a destruição dos estaleiros de Viana do Castelo.

3. Incomensurável, inaceitável hipocrisia.
As manifestações como aquela a que se assistiu nas instalações do ISCTE, em que um grupo de estudantes calou essa figura inenarrável de licenciado-com-emprego (Miguel Relvas), equiparado a governante, «suscitam necessariamente», disseram eles, os da sua pandilha, «o repúdio da parte de todos quantos prezam e defendem as liberdades individuais, designadamente o direito à livre expressão no respeito pelas regras democráticas». E, coisa espantosa, eis que se lhe juntam alguns outros, de outra pandilha, mas da mesma troika, usando os mesmos argumentos e tiques de quem se prepara para criminalizar o protesto.

4. O desemprego
Em Portugal, 51 % dos jovens licenciados estão no desemprego. É uma violência que lhes é feita, assim como ao país que se vê por essa via impedido de utilizar o seu trabalho qualificado. A dor humana do desemprego jovem é a dor causada por uma amputação social de perspectivas de vida. Entretanto cresce também o desemprego de longa duração. Às suas vítimas cabe agora o sofrimento de verem desqualificada e ofendida a sua experiência de vida. Jogar uns contra os outros é uma jogada miserável contra o trabalho. Torna-se cada vez mais claro que esta ofensiva contra direitos individuais e colectivos é uma révanche do grande capital, que quer arrancar aos trabalhadores assalariados tudo o que foi obrigado a ceder-lhes ao longo do último século e que constitui uma plataforma civilizacional avançada.

5. Saúde pública
Ela entrou na nossa sala, como se fosse uma pequena ventania que se libertasse e disse: «eu e o Óscar, foi já demasiado tarde que nos apercebemos que ela não aviava na farmácia as receitas por inteiro. Agora sei que deitá-los de lá abaixo já não é só um objectivo político, tornou-se uma necessidade urgente de saúde pública».

6. A organização da nossa legítima defesa
Tendo perdido o medo ou a repugnância que lhe provocavam certas palavras e frases que usamos, sobretudo em circunstâncias em que se trata de atribuir intenções a certos gestos ou modos de agir, chegou um dia em que a ouvimos dizer, muito calma e cheia de fúria: «mas eles estão a matar-nos; eles querem matar-nos». A nota de espanto que soava na sua voz indicava que ela já estava preparada para compreender que se tratava de pôr na ordem do dia a organização da nossa legítima defesa.

7. Quem somos nós?

Nós somos «a esperança que não fica à espera».

Quem pode ser no mundo tão quieto
Que o não movem nem o clamor do dia
Nem a cólera dos homens desabitados
Nem o diamante da noite que se estilhaça e voa
Nem a ira, o grito ininterrupto e suspenso
Que golpeia aqueles a quem a voz cegaram
Quem pode ser no mundo tão quieto
Que o não mova o próprio mundo nele.

sábado, novembro 17, 2012

Daniel Filipe - A invenção do amor



* Daniel Filipe

A invenção do amor

Em todas as esquinas da cidade
nas paredes dos bares à porta dos edifícios públicos nas janelas dos autocarros
mesmo naquele muro arruinado por entre anúncios de aparelhos de rádio e detergentes
na vitrine da pequena loja onde não entra ninguém
no átrio da estação de caminhos de ferro que foi o lar da nossa esperança de fuga
um cartaz denuncia o nosso amor

Em letras enormes do tamanho
do medo da solidão da angústia
um cartaz denuncia que um homem e uma mulher
se encontraram num bar de hotel
numa tarde de chuva
entre zunidos de conversa
e inventaram o amor com carácter de urgência
deixando cair dos ombros o fardo incómodo da monotonia quotidiana


Um homem e uma mulher que tinham olhos e coração
e fome de ternura
e souberam entender-se sem palavras inúteis
Apenas o silêncio  A descoberta  A estranheza
de um sorriso natural e inesperado

Não saíram de mãos dadas para a humidade diurna
Despediram-se e cada um tomou um rumo diferente
Embora subterrâneamente unidos pela invenção conjunta
de um amor subitamente imperativo

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
colado em todas as esquinas da cidade
A rádio já falou   A TV denúncia
iminente a captura A policia de costumes avisada
procura as dois amantes nos becos e avenidas
Onde houver uma flor rubra e essencial
é possível que se escondam tremendo a cada batida na porta
fechada para o mundo
É preciso encontrá-los antes que seja tarde
Antes que o exemplo frutifique
Antes que a invenção do amor se processe em cadeia

Há pesadas sanções paras os que auxiliarem os fugitivos

Chamem as tropas aquarteladas na província
convoquem os reservistas  os bombeiros  os elementos da defesa passiva
Todos
Decrete-se a lei marcial com todas as suas consequências
O perigo justifica-o
Um homem e uma mulher
conheceram-se  amaram-se  perderam-se no labirinto da cidade
É indispensável encontrá-los dominá-los convencê-los
antes que seja demasiado tarde
e a memória da infância nos jardins escondidos
acorde a tolerância no coração das pessoas

Fechem as escola 
Sobretudo protejam as crianças da contaminação
Uma agência comunica que algures ao sul do rio
um menino pediu uma rosa vermelha
e chorou nervosamente porque lha recusaram
Segundo o director da sua escola é um pequeno triste
Inexplicavelmente dado aos longos silêncios e aos choros sem razão
Aplicado no entanto Respeitador da disciplina
Um caso típico de inadaptação congénita disseram os psicólogos
Ainda bem que se revelou a tempo
Vai ser internado
e submetido a um tratamento especial de recuperação
Mas é possível que haja outros. É absoIutamente vital
que o diagnóstico se faça no período primário da doença
E também que se evite o contágio com o homem e a mulher
de que se fala no cartaz colado em todas as esquinas da cidade

Está em jogo o destino da civilização que construímos
o destino das máquinas das bombas de hidrogénio
das normas de discriminação racial
o futuro da estrutura industrial de que nos orgulhamos
a verdade incontroversa das declarações poIíticas

Procurem os guardas dos antigos universos concentracionários
precisamos da sua experiência onde: quer que se escondam
ao temor do castigo

Que todos estejam a postos
Vigilância é a palavra de ordem
Atenção ao homem e à mulher de que se fala nos cartazes
À mais ligeira dúvida não hesitem denunciem
Telefonem à policia ao comissariado ao Governo Civil
não precisam de dar o nome e a morada
e garante-se que nenhuma perseguição será movida
nos casos em que a denúncia venha a verificar-se falsa

Organizem em cada bairro  em cada rua  em cada prédio
comissões de vigilância. Está em jogo a cidade
o país  a civilização do ocidente
esse homem e essa mulher têm de ser presos
mesmo que para isso tenhamos de recorrer às medidas mais drásticas

Por decisão governamental estão suspensas as liberdades individuais
a inviolabilidade do domicílio o habeas corpus o sigilo da correspondência
Em qualquer parte da cidade um homem e uma mulher amam-se ilegalmente
espreitam a rua pelo intervalo das persianas
beijam-se soluçam baixo e enfrentam a hostilidade nocturna
É preciso encontrá-los
É indispensável descobri-los
Escutem cuidadosamente a todas as portas antes de bater
É possível que cantem
Mas defendam-se de entender a sua voz
Alguém que os escutou
deixou cair as armas e mergulhou nas mãos o rosto banhado de lágrimas
E quando foi interrogado em Tribunal de Guerra
respondeu que a voz e as palavras o faziam feliz
Lhe lembravam a infância
Campos verdes floridos  Água simples correndo  A brisa nas montanhas

Foi condenado à morte é evidente
É preciso evitar um mal maior
Mas caminhou cantando para o muro da execução
foi necessário amordaçá-lo e mesmo assim desprendia-se dele
um misterioso halo de uma felicidade incorrupta

Impõe-se sistematizar as buscas   Não vale a pena procurá-los
nos campos de futebol no silêncio das igrejas nas boites com orquestra privativa
Não estarão nunca aí
Procurem-nos nas ruas suburbanas onde nada acontece
A identificação é fácil
Onde estiverem estará também pousado sobre a porta
um pássaro desconhecido e admirável
ou florirá na soleira a mancha vegetal de uma flor luminosa,
Será então aí
Engatilhem as armas   invadam a casa  disparem à queima roupa
Um tiro no coração de cada um
Vê-los-ão possivelmente dissolver-se no ar  Mas estará completo o esconjuro
e podereis voltar alegremente para junto dos filhos da mulher

Mais ai de vós se sentirdes de súbito o desejo de deixar correr o pranto
Quer dizer que fostes contagiados Que estais também perdidos para nós
É preciso nesse caso ter coragem para desfechar na fronte
o tiro indispensável
Não há outra saída  A cidade o exige
Se um homem de repente interromper as pesquisas
e perguntar quem é e o que faz ali de armas na mão
já sabeis o que tendes a fazer   Matai-o  Amigo  irmão que seja
matai-o Mesmo que tenha comido à vossa mesa e crescido a vosso lado
matai-o Talvez que ao enquadrá-lo na mira da espingarda
os seus olhos vos fitem com sobre-humana náusea
e deslizem depois numa tristeza liquida
até ao fim da noite Evitai o apelo a prece derradeira
um só golpe mortal misericordioso basta
para impor o silêncio secreto e inviolável

Procurem a mulher o homem que num bar
de hotel se encontraram numa tarde de chuva
Se tanto for preciso estabeleçam barricadas
senhas salvo-condutos horas de recolher
censura prévia à Imprensa tribunais de excepção
Para bem da cidade do país da cultura
é preciso encontrar o casal fugitivo
que inventou o amor com carácter de urgência

Os jornais da manhã publicam a notícia
de que os viram passar de mãos dadas sorrindo
numa rua serena debruada de acácias
Um velho sem família a testemunha diz
ter sentido de súbito uma estranha paz interior
uma voz desprendendo um cheiro a primavera
o doce bafo quente da adolescência longínqua
No inquérito oficial atónito afirmou
que o homem e a mulher tinham estrelas na fronte
e caminhavam envoltos numa cortina de música
com gestos naturais alheios Crê-se
que a situação vai atingir o climax
e a polícia poderá cumprir o seu dever

Um homem uma mulher um cartaz de denúncia
A voz do locutor definitiva nítida
Manchetes cor de sangue no rosto dos jornais

É PRECISO ENCONTRÁ-LOS ANTES QUE SEJA TARDE

Já não basta o silêncio a espera conivente o medo inexplicado
a vida igual a sempre conversas de negócios
esperanças de emprego contrabando de drogas aluguer de automóveis
Já não basta ficar frente ao copo vazio no café povoado
ou marinheiro em terra afogar a distância
no corpo sem mistério, da prostituta anónima
Algures no labirinto da cidade um homem e uma mulher
amam-se espreitam a rua pelo intervalo das persianas
constroem com urgência um universo do amor
E é preciso encontrá-los  E é preciso encontrá-los

Importa perguntar em que rua se escondem
em que lugar oculto permanecem resistem
sonham meses futuros   continentes à espera
Em que sombra se apagam em que suave e cúmplice
abrigo fraternal deixam correr o tempo
de sentidos cerrados ao estrépito das armas
Que mãos desconhecidas apertam as suas
no silêncio pressago da cidade inimiga

Onde quer que desfraldem o cântico sereno
rasgam densos limites entre o dia e a noite
E é preciso ir mais longe
destruir para sempre o pecado da infância
erguer muros de prisão em circulos fechados
impor a violência a tirania o ódio

Entanto das esquinas escorre em letras enormes
a denúncia total do homem da mulher
que no bar em penumbra numa tarde de chuva
inventaram o amor com carácter de urgência

COMUNICADO GOVERNAMENTAL À IMPRENSA

Por diversas razões sabe-se que não deixaram a cidade
o nosso sistema policial é óptimo estão vigiadas todas as saídas
encerramos o aeroporto patrulhamos os cais
há inspectores disfarçados em todas as gares de caminhos de ferro

É na cidade que é preciso procurá-los
incansavelmente sem desfalecimentos
Uma tarefa para um milhão de habitantes
todos são necessários
todos são necessários
Não sem preocupem com os gastos a Assembleia votou um crédito especial
e o ministro das Finanças
tem já prontas as bases de um novo imposto de Salvação Pública

Depois das seis da tarde é proibido circular
Avisa-se a população de que as forças da ordem
atirarão sem prevenir sobre quem quer que seja
depois daquela hora  Esta madrugada por exemplo
uma patrulha da Guarda matou no Cais da Areia
um marinheiro grego que regressava ao seu navio

Quando chegaram junto dele acenou aos soldados
disse qualquer coisa em voz baixa e fechou os olhos e morreu
Tinha trinta anos e uma família à espera numa aldeia do Peloponeso
O cônsul tomou conhecimento da ocorrência e aceitou as desculpas
do Governo pelo engano cometido
Afinal tratava-se apenas de um marinheiro qualquer
Todos compreenderam que não era caso para um protesto diplomático
e depois o homem e a mulher que a policia procura
representam um perigo para nós e para a Grécia
para todos os países do hemisfério ocidental
Valem bem o sacrifício de um marinheiro anónimo
que regressava ao seu navio depois da hora estabelecida
sujo insignificante e porventura bêbado

SEGUE-SE UM PROGRAMA DE MÚSICA DE DANÇA

Divirtam-se atordoem-se mas não esqueçam o homem e a mulher
Escondidos em qualquer parte da cidade
Repete-se  é indispensável encontrá-los
Um grupo de cidadãos de relevo ofereceu uma importante recompensa
destinada a quem prestar informações que levem à captura do casal fugitivo
Apela-se para o civismo de todos os habitantes
A questão está posta   É preciso resoIvê-la
para que a vida reentre na normalidade habitual
Investigamos nos arquivos  Nada consta
Era um homem como qualquer outro
com um emprego de trinta e oito horas semanais
cinema aos sábados à noite
domingos sem programa
e gosto pelos livros de ficção cientifica
Os vizinhos nunca notaram nada de especial
vinha cedo para casa
não tinha televisão,
deitava-se sobre a cama logo após o jantar
e adormecia sem esforço

Não voltou ao emprego o quarto está fechado
deixou em meio as «Crónicas marcianas»
perdeu-se precipitadamente no labirinto da cidade
à saída do hotel numa tarde de chuva
O pouco que se sabe da mulher autoriza-nos a crer
que se trata de uma rapariga até aqui vulgar
Nenhum sinal característico nenhum hábito digno de nota
Gostava de gatos dizem Mas mesmo isso não é certo
Trabalhava numa fábrica de têxteis como secretária da gerência
era bem paga  e tinha semana inglesa
passava as férias na Costa da Caparica.

Ninguém lhe conhecia uma aventura
Em quatro anos de emprego só faltou uma vez
quando o pai sofreu um colapso cardíaco
Não pedia empréstimos na Caixa  Usava saia e blusa
e um impermeável vermelho no dia em que desapareceu

Esperam por ela em casa: duas cartas de amigas
o último número de uma revista de modas
a boneca espanhola que lhe deram aos sete anos
Ficou provado que não se conheciam
Encontraram-se ocasionalmente num bar de hotel numa tarde de chuva
sorriram inventaram o amor com carácter de urgência
mergulharam cantando no coração da cidade

Importa descobri-los onde quer que se escondam
antes que seja demasiado tarde
e o amor como  um rio inunde as alamedas
praças becos calçadas quebrando nas esquinas

Já não podem escapar  Foi tudo calculado
com rigores matemáticos  Estabeleceu-se o cerco
A policia e o exército estão a postos  Prevê-se
para breve a captura do casal fugitivo
(Mas um grito de esperança inconsequente vem
do fundo da noite envolver a cidade
au bout du chagrin une fenêtre ouverte
une fenêtre eclairée)





quarta-feira, abril 14, 2010

Excesso de sexo desnuda impotência do papa

Colunas

Vermelho - 12 de Abril de 2010 - 0h01


Carlos Pompe *

Sucedem-se revelações de novos casos de padres católicos pedófilos. Com a mesma triste insistência, o Vaticano nega conhecimento dos fatos e, quando flagrado em torpe mentira, admite o acobertamento dos celerados e pede desculpa às vítimas – mas não leva os criminosos aos tribunais e nem dá assistência às crianças. Acuado, contra-ataca com declarações desastrosas, das quais depois tem que pedir vênia. Seria uma comédia dos erros, se não fosse uma tragédia em que só as vítimas são punidas.

Os casos se multiplicam. No dia 6 de abril, a Igreja Católica da Noruega e o Vaticano admitiram que a renúncia ao cargo foi a única punição que o bispo de Trondheim, Georg Mueller, sofreu pelos abusos sexuais que cometeu. Mas mesmo essa reprimenda é rara.
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Ocorreu em 2002, com Juliusz Paetz, arcebispo de Poznan, na Polônia, e em 1995, com o cardeal Hans Hermann, de Viena, ambos também pedófilos. Os inúmeros casos acontecidos nos EUA, Europa, América Latina e outras regiões continuam impunes e, a maioria, abafados.
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No caso de Mueller, o papa Bento XVI ainda encobriu o verdadeiro motivo da repreensão ao molestador de crianças, ao divulgar que ele havia sido “renunciado” pela lei canônica 401/2, que declara que o bispo deve apresentar sua desistência caso se torne "inadequado para o preenchimento do cargo".  Convenhamos: abusar sexualmente de uma criança ou adolescente é mais, muito mais do que ser inadequado a qualquer cargo, mesmo que da hierarquia católica. É caso de cadeia, não de renunciação.
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Outra revelação recente: o padre Joseph Jeyapaul, que violentou dois menores de idade nos Estados Unidos, em vez de punido foi transferido pelo Vaticano para escolas católicas na Índia, mesmo um arcebispo americano tendo informado o fato à Santa Sé. A Congregação para a Doutrina da Fé se limitou a pedir ao arcebispo de Jeyapaul que monitorasse o facínora "para que não constituísse um risco para menores e não gerasse um escândalo entre os fiéis". Numa estranha deturpação do Evangelho, não é oferecida outra face, mas crianças de outra nacionalidade ao agressor.
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Impotente para enfrentar a súcia voluptuosa que encontra na batina o valhacouto para seus vícios, o papa aciona seus pares para injuriar as vítimas dos lascivos.  O decano dos cardeais, monsenhor Angelo Sodano, prestou-se ao serviço de dizer ao “Osservatore Romano”, jornal oficial do Vaticano, que o que está existindo é uma mera “divergência cultural” e que as denúncias e clamor de justiça são "ataques injustos contra o papa” que ocultariam “conceitos da família e da vida contrárias ao Evangelho".
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Já seu irmão de fé, frei Raniero Cantalamessa, pregador da Casa Pontifícia, que durante a homilia da missa de Sexta-Feira Santa comparou as reações aos escândalos de pedofilia na Igreja Católica com a perseguição sofrida pelos judeus – e que não contava com a reação judaica ao seu disparate –, foi desautorizado pelos seus superiores e teve que fazer-se de arrependido. Lançado às feras pelos colegas de batina, afirmou que não teve a intenção de "ferir as sensibilidades nem de judeus nem de vítimas de pedofilia." Embora Bento XVI tenha sido comunheiro, com seu silêncio, do despautério quando foi pronunciado, Cantalamessa ainda tentou livrar a honra do Sumo Pontífice: "O papa não inspirou (o sermão) e, como todos os demais, ouvia pela primeira vez as palavras que pronunciei."
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As orgias clericais não são algo de novo sob o Sol. A novidade é a revelação e a exposição massiva da alta hierarquia católica no encobrimento dos episódios. Em 1743, em Lisboa, foi publicado um Romance Católico, anônimo, pois naqueles entonces o Vaticano podia queimar quem o contrariasse. A obra tratava da devassidão de costumes em conventos e seminários. Com as palavras iniciais dessa obra em versos peço a bênção aos leitores e vou cuidar dos meus afazeres.
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Pecadores, que engolfados
no mar do mundo andais,
às loucuras ponde termo,
a Lei Divina observai:
lástima é, ó humanos,
que seja alegria tal,
que em lugar de honrar a Deus,
tanto assim Deus ofendais?
Mas ai que chegou a tanto,
o vosso enorme pecar,
que até por divertimento
a vosso Deus tratais mal.
Santo do Céu suspendei
o louvor, Anjos pasmai,
que o que em voz é glória a Deus,
no mundo é pena infernal:
atendei para estes homens,
no seu estilo de cantar,
chorareis com ânsia amarga,
o seu delírio, o seu mal!

Satanizemos no Twitter: http://twitter.com/Carlopo

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* Jornalista e curioso do mundo.
* Opiniões aqui expressas não refletem necessáriamente as opiniões do site.
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  • a cegueira

    12/04/2010 18h43 eu sou catolico mesmo , mas nao sou idiota , como que essas coisas estao acontecendo na nossa frente e ninguem faz nada , inclusive a propria igreja catolica esta acobertando esses criminosos. é muito triste o que esta acontecendo , o proprio papa é o principal a dar cobertura a esses criminosos . a igreja catolica ta tomando um rumo bastante perigoso com esse papa no comando. as pessoas de bem de dentro da igreja ,tem começar a protestar contra esse papa . mas desviando de assunto nao existe pedofilos so na igreja catolica nao ,existe em todo seguimento da sociedade e em todas religioes. nao estou defendo ninguem nao , mas se para atirar que atire em todo mundo. nao pode poupar ninguem.

    mineiro
    belo horizonte - MG

  • PEDÓFILOS NA IGREJA DE MINAS

    12/04/2010 13h13 Em 2008, na paróquia de Carmo da Mata-MG, pertencente ao Bispado de Oliveira_MG, depois de intensas investigações da Polícia Civil, foi preso em flagrante delito, com um garoto de 12 anos em seu apartamento em BH, o Padre Cléber, então pároco da Cidade de Carmo da Mata-MG. As investigações prosseguiram e outros casos vieram à tona. Uma adolescente denunciou o pároco de abuso sexual cometido durante os dois anos anteriores. Testemunhas (donos de hotéis-fazendas da região, onde o Padre mantinha encontro com a adolescente, se dizendo tio dela) confirmaram o fato no inquérito instaurado pela justiça. No ano passado, final de 2009, Padre Cléber foi condenado a 09 anos de prisão. A Igreja não comentou o fato. A imprensa denunciou e Padre Cléber foi transferido, respondendo pelo crime, em liberdade. Hoje não se sabe o seu paradeiro. A única certeza que temos é que ele se encontra sob a proteção da Igreja Católica, e livre para molestar quem quer que seja.

    onipresente
    bh - MG

  • Graças a Deus

    12/04/2010 10h43
    Sim, graças a Deus que me deu inteligência e raciocínio, não me submeto a dízimos e nem ofertas para sustentar aqueles que não percebem que é com o suor do seu rosto que ganharás o pão de cada dia, que dirá daquele que, escondendo-se por traz de uma batina ou terno e gravata, praticam os mais abomináveis atos contra crianças ou adolescentes indefesos. Alertem-se aqueles que não observam o que o próprio Jesus disse: Ai daquele que abusar de um desses pequeninos. Pois é, faço minhas as palavras cantadas por Gil: Quando eu quiser falar com Deus, tenho que ficar a sós e seu eu quiser fazer caridade faço diretamente, sem intermediários.
    Antonio de Freitas
    Camaçari - BA
    .