A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quarta-feira, julho 31, 2013

Serafim Lobato - FEIOS, PORCOS E MAUS

tabanca de ganturé


quarta-feira, 31 de julho de 2013


FEIOS, PORCOS E MAUS


1 – Em 1976, o realizador italiano Etore Scolla fez um filme, que se chamou em português “feios, porcos e maus”, como um sátira realista à putrefacção de uma família do lumpem proletariado de um bairro da lata dos subúrbios de Roma.

O enredo do filme tem todos os ingredientes demonstrativos como o capitalismo (ao longe vêem-se os prédios de arranha-céus impecáveis das classes médias-altas e altas) transforma um proletário, a quem atribui uma mísera indemnização – elevada, na perspectiva da família que está na fossa – de um milhão de liras por um acidente de trabalho, que o confinou a uma barraca deplorável, destruindo, deste modo, a sua condição económica e moral.

 
Assim surge nessa família – cerca de 20 pessoas entre filhos, noras e genros e netos e uma avó inválida, a única com uma misérrima pensão, que serve de “peça de caça”, logo no acto de a receber, a uma corja de seres humanos embrutecidos e depravados, mesmo nas relações sexuais entre familiares.

E que não têm pejo de procurar todos os meios para sacar o dinheiro da indemnização do antigo operário, embrutecido pelo álcool.

Um comportamento humano, todo ele, forjado e forçado pelas condições de vida no mais abjecto individualismo.

O que predispõe esse tipo de pessoas para servirem de tropa de choque das acções mais reacionárias.

2 -  Quando em Outubro de 2012, o senhor Fernando Ulrich, presidente do Conselho de Administração do Banco BIP, afirmou, alto e bom som, depois do seu banco, na falência, ter recebido uma capitalização em dinheiro, sacado ao contribuinte, de cerca de mil milhões de três mil de euros, para o “salvar” , que as classes trabalhadoras poderiam continuar a serem roubadas nos seus salários e pensões, porque elas aguentavam esse esbulhamento.

Cínica e arrogantemente,  ele estava, pura e simplesmente,  a tornar público, vangloriando-se, o que constituía, em todo o seu esplendor, o triunfo, em Portugal, da lúmpen grande burguesia financeira.

(A trama do BPN, do BANIF, dos sawps, representa, simplesmente  o exemplo acabado desse domínio: especulação financeira  corrupção a rodos, aumento das dívidas e toda uma dissimulação constante do aumento do décife a favor dessa fracção de classe, em nome da austeridade).

Na realidade, no período em apreço, ou seja, por alturas daquelas declarações, o governo de Passos Coelho, sem hesitações, deu de mão beijada, ao sistema financeiro bancário português 5,6 mil milhões de euros, lançando o ónus da “desgraça” para cima das classes assalariadas e de certos sectores da média burguesia.

Eram eles, para aquele governo, os sectores sociais que viviam acima das suas posses.

//Convém referir que os 5,6 mil milhões euros foram distribuídos pelo BCP (três mil milhões), BIP (1,5 mil milhões) e BANIF (1, 1 milhões)//.

Para Ulrich, um descendente de judeus alemães, ligado umbilicalmente  por via familiar, ao capital que apoiou Salazar, e que ascendeu ao cargo pela via das ligações estreitas com o poder capitalista vigente no pós-25 de Abril – foi chefe de gabinete dos ministros das Finanças João Salgueiro e Morais Leitão, que não levantou um dedo contra o anterior regime, não admite que seja posto em causa o seu salário milionário de um inútil de 60 mil euros por mês.

Ou seja vive à custa do Orçamento de Estado, embora diga e bata no peito que trabalha numa empresa privada.


Este mesmo Ulrich, que antes da crise de 2008, lançou o banco, a que preside, no lamaçal dos negócios especulativos, que o afundaram, tem a lata de que não admite que ninguém o possa pôr em causa e o seu modo de vida.

E a sua fortuna – e dos outros seus iguais, como os Jardim Gonçalves, Paulo Teixeira Pinto, João Salgueiro,  Lobo Xavier, Valente de Oliveira, Armando Vara, Maldonado Gonelha, Oliveira Costa, Dias Loureiro, Ferreira do Amaral, entre outros -  advem, pois, da rapinagem do tesouro nacional, dos salários e das pensões dos portugueses, dos negócios especulativos dos seus lacaios do governo em sawps, privatizações a custo zero, dos concursos transacionados, com distribuição equitativa pelo sistema financeiro onde está inserido.

São eles que dominam, como lumpem grande burguesia, o poder político (Presidência da República, Governo, Assembleia da República), o poder económico (a banca, as bolsas especulativas, os negócios chorudos das grandes obras públicas), que superintende a própria administração do Estado, colocando nos lugares-chave os seus homens de mão, desde os Ministérios até às empresas estatais e paraestatais.

Como chacais esfomeados, colocaram o Estado no estertor da falência, e, com as garras cravadas no pescoço do contribuinte querem mais lucro, mais juros, mais controlo do dinheiro no seu sector.

Já o afirmava o velho Karl Marx, há mais de 160 anos, no seu texto “As lutas de classes em França” – cujo conteúdo é actual  na sua temática teórica e argumentativa – que “no seu modo de fazer fortuna, como nos seus prazeres, a aristocracia financeira não é mais do que o renascimento do lumpen proletariado nos topos da sociedade burguesa”.


http://tabancadeganture.blogspot.pt/2013/07/feios-porcos-e-maus.html

sexta-feira, dezembro 28, 2012

Serafim Lobato - Ladrões de bicicletas


tabanca de ganturé


quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

LADRÕES DE BICICLETAS




1 - Na segunda metade dos anos 80 do século passado, assisti, como jornalista profissional, ao julgamento judicial do falecido antigo ministro da Qualidade de Vida Francisco Sousa Tavares, de um governo do bloco central liderado pelo então Primeiro-Ministro Mário Soares. 

Causou-me impressão ver ali, acabrunhado e, aparentemente, destroçado, o antigo arrogante senhor do novo sistema político, acusado, precisamente, num caso que abalou o chamado "mundo político e económico" da altura, com certas semelhanças ao que agora está na berra, com o nome de "Monte Branco": a massiva fuga de capitais, branqueamento de dinheiro dos poderosos deste país. E tal como agora, em plena crise financeira e económica....

Pensei, que face às acusações provadas, que Francisco Sousa Tavares acabaria por ter uma pesada pena. 

Que a justiça, como era "cega" actuaria com mão de ferro sobre quem estava a arruinar o país, colocando em paraísos fiscais as mais valias retiradas a quem trabalha. 

Oh, "ingenuidade" minha: os juízes são seres humanos normais e pertencem as mesma confrarias.

Sousa Tavares, em Abril de 1989, teve uma condenação de 30 dias de prisão perdoados em troca do pagamento de mil escudos por dia (hoje cinco euros). 

Um mês depois, Tavares está em Macau, dizendo-se em "gozo de férias", mas, na realidade, a trabalhar como consultor jurídico do governo de Macau, presidido por Carlos Melancia, onde auferia ou iria auferir um vencimento de 150 contos mensais. (Expresso). 

Apesar desta "pesada" pena, Sousa Tavares foi apenas o "boi de piranha" (o termo é, metafórico, de origem brasileira: para cruzar, as manadas, em rios infestados de piranhas, escolhia-se um bovino velho e mais fraco, que se sangrava e lançava ao rio num local mais abaixo do trilho de passagem dos restantes animais) seleccionado para "dar uma satisfação" ao povoléu sobre as altas vigarices e ladroagens feitas ao contribuinte português no então "Caso Dopa".

Convém fazer um breve resumo do que foi, naquela altura, a maior fuga de capitais do país e ao mesmo tempo uma tremenda traficância ilegal de divisas, efectuadas, precisamente, por uma parte substancial das mais altas personalidades da política e da economia do país.

Quem era a DOPA e como seguiu a trama? 

A DOPA (Dragagens e Obras Públicas) tinha sido fundada por Joaquim Manuel Queirós de Andrada Pinto em 1977, como firma do sector da construção civil. 

O seu escritório central estava em Lisboa e começou a ser "visitado" por um número elevado de clientes. 

Parecia próspera no ramo. Prometia juros entre 10 a 14 %, atribuídos em moeda estrangeira, a quem ali depositasse dinheiro. 

Fazia-o com a chamada cobertura do segredo bancário suíço.

As transferência sigilosas efectuavam-se com o banco suíço Trade Development Bank

O primeiro caso detectado - pelo menos inscrito na acusação - ocorreu em 1983, numa altura em que o gerente do Banco Pinto & Sotto Mayor em Mira (do grupo Champallimaud) procurou depositar 200 mil contos na DOPA. 

O caso teve mais de 200 arguidos, e um só condenado, como atrás foi descrito. 

Seis anos demorou o processo. Vejam só---seis anos. 

Segundo a acusação, o caso "DOPA foi responsável "pelas maiores fugas de capital jamais verificadas em Portugal", com uma previsão anual de 1,5 milhões de contos. Isto entre 1977 e 1985, pelo menos.

Em 1993, o Supremo Tribunal de Justiça - essa entidade cheia de pergaminhos balofos de independência e de cumplicidades intrincadas em jogos de bastidores - considerou legal o tráfico de capitais. 

Numa busca à sede da DOPA, foram encontradas listas, um delas com 235 clientes que faziam a traficância de dinheiro. 

Tinham apelidos sonantes da nossa praça, como, entre outros, Vanzeller, Pinto Basto, D´Orey, Avillez, Roquette, Lumbrales, Breyner, Mendia. 

Mas também havia, segundo um dos juízes implicados na investigação, outras listas, um delas - feita desaparecer - de políticos, onde constaria, por exemplo, um homem, filiado como o número do PSD, de apelido Balsemão. 

Veio a descobrir-se, mais tarde, e o "Expresso" noticiou tal que havia escutas telefónicas que indiciavam a mãozinha do então Ministro da Justiça Mário Raposo (cujo chefe de gabinete era então um jovem advogado e magistrado do Ministério Público chamado Isaltino de Morais) na gestão "criteriosa" do processo.

Raposo negou, com a sua pretensa dignidade ferida, ele que fora até bastonário da Ordem dos Advogados.

A evidência acabou com o orgulho, mas a argumentação continuou: Ele somente estivera no caso "como advogado" para redigir o recurso para a libertação do patrão da DOPA!!!

Tal como agora, não havia dinheiro para pagar a trabalhadores, mas havia licença para exportar, ilicitamente, o dinheiro do contribuinte para paraísos fiscais.


2 - Em 2010, as manchetes dos jornais lusos apontavam que os quatro maiores bancos privados portugueses - BCP, BES, BPI e Santander Totta - lucravam, só nos três primeiros meses do ano, 391,7 milhões de euros, o que equivalia a 4,35 milhões de euros por dia.

De repente, este lucro desaparece, como por magia. 

Os banqueiros começam a gritar que estão na "miséria", que era preciso obter dinheiro para a sua capitalização, caso contrário seria o caos no país. 

Queriam dinheiro fresco, sem juros, e, começavam a exigir contenções salariais, diminuição das prestações sociais, mudanças na legislação laboral, entre outros roubos em perspectiva.

Em Dezembro de 2011, uma reportagem do jornal I, referia, com todas as letras, que "todos os dias são transferidos, em média, mais de 5,4 milhões de euros para paraísos fiscais".

E continuava: "De acordo com dados do Banco de Portugal, de Janeiro a Outubro, saíram de Portugal1.647 milhões de euros com destino a off-shores. Este montante, apesar de em linha com valores de 2010, contribui para a forte descapitalização do país, sobretudo se somado ao investimento directo de Portugal no exterior, que aumentou 74 %, para 9.505 milhões de euros. No total, a saída de capitais eleva-se, até ao final de Outubro, a mais de 11.152 milhões de euros".

E um pouco mais à frente: "Segundo as estatísticas do Banco de Portugal, o investimento de Portugal no exterior representava em Setembro 30,6 % do PIB, enquanto o investimento de carteira ascendia a 72,9% da riqueza nacional". 

"Número de empresas e particulares a procurar regimes fiscais mais favoráveis que o português reflecte a actual conjuntura (comentário meu, a crise é provocada pela fuga de capitais). A manter-se este ano (2011) o ranking elaborado pelo Fundo Monetário Internacional em 2010, o paraíso fiscal *eleito* pelos portugueses (os graúdos, naturalmente!!!) são as Ilhas Caimão. A escolha foi confirmada, recentemente, com a notícia de que o banco estatal (CGD, vejam bem...)está a transferir as contas da zona franca da Madeira para as Ilhas Caimão. O fim da isenção de IRC para operações com não residentes, do imposto sobre juros e do imposto do selo - os principais atractivos  da zona franca da Madeira - está a levar os bancos portugueses, como CGD, BCP e BES, a procurar outras praças para gerir as relações com os clientes fora de Portugal". 

Além das Caimão, a fuga de capitais, segundo o I, tem como principal destino as IlhasVirgens Britânicas, as Antilhas Holandesas, Guernsey e Bermudas. 

Noutro local, aquele jornal, citando o economista Eugénio Rosa, que não foi desmentido, assinala que, entre 2000 e 2010 "foram transferidos para o estrangeiro mais de 147 mil milhões de euros, causando a descapitalização do país". (ou seja, em termos terra a terra, a origem da crise financeira). 

Ainda citando Rosa, daquele montante, 71 %% dos rendimentos transferidos (quase 105 mil milhões) resultaram de "investimentos de carteira e de outros investimentos" que, na sua maioria, "não criaram qualquer riqueza em Portugal, limitando-se a apropriar-se de riqueza interna criada por outros, transferindo-a depois para o estrangeiros, e muitos deles sem pagar qualquer imposto ao Estado, uma vez que estes rendimentos de não residentes estão isentos de impostos".

Quem foram os "lucradores" do dinheiro alheio?:

 "Todas estas transferências beneficiaram grandes grupos económicos e financeiros".

3 - Apontado, em Dezembro, a dedo e um *réu* confesso: Ricardo Espírito Santo Salgado. Capitalista financeiro desclassificado. Presidente do grupo BES.

O semanário Sol, de 21 de Dezembro, titulava em letras garrafais vermelhas: "Milhões lá fora".

E afirmava Ricardo Salgado teve vários milhões depositados através da Akoya, em nome pessoal (sublinhando meu), mas pagou voluntariamente os impostos e rectificou o IRS, pelo que não foi constituído arguido no processo Monte Branco. 

Fugiu com dinheiro, recebeu brutos juros lá fora, foi apanhado com as calças na mão por um crime cometido (roubou dinheiro do sistema bancário e colocou-o em seu nome), fez regressar o dinheiro sem o perder, pagou meia dúzia de milhares de euros de impostos. 

E tudo ficou com dantes, quartel general em Abrantes. 

Continua a ser banqueiro e a fazer as mesmas patifarias...

Isto só mostra uma coisa, que nunca é de mais repisar: o actual sistema político saído do golpe de Estado de 25 de Novembro de 1975, e, no caso presente, de maneira visível e miserável, o actual governo PSD/CDS, da dupla Passos Coelho/Paulo Portas está nas mãos da alta burguesia financeira.

E essa dependência, que foi efectuada quando se deu rédea solta, aos financeiros mais rapaces e desclassificados, levou aqueles a jogar com a própria fuga de capitais para sacar sempre e sempre mais dinheiro à custa do erário público. (Ulrich, despudoradamente, afirma a plena pulmões: "O país aguenta mais austeridade, pois aguenta, aguenta..."

E este erário público são os contribuintes que não podem fugir ao fisco. Os seja, todos os dependentes: classes trabalhadoras e profissões afins.



Os financeiros obrigam o Estado, através do governo a transformar a dívida privada em dívida pública, o que produz, na prática, mais endividamento do Estado, pois os banqueiros vão buscar aos Bancos Centrais, europeu, no caso da União Europeia, norte-americano, no caso dos Estados Unidos, mais dinheiro. Bancos Centrais esses, que, curiosamente, são bancos privados.

Ora, os Bancos Centrais emprestam aos bancos nacionais a custo zero ou quase, e os bancos privados especulam, depois, com empréstimos ao Estado ou a empresas descapitalizadas, e até a particulares, a juros exorbitantes.

Ou seja, a dívida pública tornou-se (e continua a tornar-se) em principal fonte de enriquecimento dos banqueiros. 

Descaradamente, sem qualquer punição. 

É um crime de lesa pátria. 

E um crime desta natureza merece uma punição exemplar, sem remissão.

domingo, dezembro 09, 2012

"Pedofilia é pior que o crime de fotocopiar", diz Gianluigi Nuzzi

JN

o às 00.19

NUNO MIGUEL ROPIO

Há um ano, Gianluigi Nuzzi revelou, no seu programa de televisão, uma carta secreta do núncio apostólico Carlo Viganò ao Papa. Nos meses seguintes, bombardeou o mundo com cartas e documentos confidenciais de Bento XVI, expondo um Vaticano de traições, guerras de poder e influência de máfias. Nunca revelou as suas fontes, mas presos na Santa Sé estão já Paolo Gabriele, mordomo do Papa, que alegadamente fotocopiou tudo, e o informático Claudio Sciarpelletti. Na apresentação do seu livro "Sua Santidade", em Portugal, Nuzzi acusou o Vaticano de só ter agido contra os denunciadores.
foto REINALDO RODRIGUES/GLOBAL IMAGENS
"Pedofilia é pior que o crime de fotocopiar", diz Gianluigi Nuzzi
Gianluigi Nuzzi
Refere no prefácio: "Não esperava que o Vaticano chegasse a prender alguém por suspeita de passar informações aos jornalistas". Mas prendeu. Vamos ficar por aqui?
A detenção de Paolo Gabriele é um gesto muito exagerado. Se um facto análogo ocorresse num outros país europeu democrático haveria pessoas na rua a protestarem. É indecente que alguém que passe fotocópias seja preso. A detenção das fontes de um jornalista é um sinal muito mau.
Choca-o Gabriele estar preso?
(Silêncio) Gabriele é católico. Uma pessoa que Wojtyla [João Paulo II] chamava carinhosamente de Paulus. Alguém que serviu Ratzinger [Bento XVI] durante muitos anos, fazendo chegar-lhe notícias de violações e outras situações que, de uma outra forma, não chegariam ao Papa. Creio que o perdão do Papa já foi assinado, mas haverá alguém que não quer que seja libertado, com medo que ele fale, porque não é um sujeito controlável. Fazer o Paolo Gabriele passar o Natal na prisão, privando a sua filha do pai, num momento tão importante para a vida de qualquer católico, faz a Igreja recuar séculos, a um período obscurantista.
Esta investigação irá atingir mais alguém?
Acho que este processo está encerrado. Quer o Gabriele, quer o Claudio (Sciarpelletti), têm recursos em curso. Não creio que haja uma continuação desta perseguição. Considero mais grave o crime de pedofilia do que o crime de fotocopiar.
O porta-voz do Vaticano afirmou que a investigação sobre o caso de fuga de documentos confidenciais do Papa vai continuar.
Vamos ver. Aceito apostas. O que é mais grave aqui: que o Paolo Gabriele tenha dado informação dos crimes ou quem cometeu esses crimes? Quem faz mal à Igreja? O Paolo?
Porque só são acusados os informadores?
Há uma vontade de deslocar o foco da informação para o informador. Quando leio notícias, não quero saber quem foi a fonte, mas se a informação é verdadeira. O que salta à vista é que todos os cardeais envolvidos são italianos. O livro testemunha a crise muito forte da Cúria Romana. O dogmatismo de Bento XVI tem de ser premiado pela purificação da Igreja, mas não soube escolher as pessoas que o rodeiam.
Algumas ligadas a máfias?
Até há poucos anos atrás o Vaticano era um paraíso fiscal. O crime de lavagem de dinheiro só foi introduzido em 2010. O IOR [Instituto das Obras Religiosas - Banco do Vaticano], nas décadas de 80 e 90, "lavou" dinheiro da máfia. É algo que vem escrito nas sentenças que os juízes emitiram após a morte do presidente do IOR [Roberto Calvi], encontrado morto, em Londres, em 1982. Na década de 90, o IOR "lavou" dinheiro da corrupção política. Era um banco offshore da Europa. Só depois do 11 de setembro [de 2001], com as políticas de transparência exigidas pelos americanos e o Banco Mundial, que motivaram os governos europeus e o Banco Central Europeu, o IOR começou a atuar de acordo com as regras financeiras, para evitar que o pusessem numa lista negra, que o excluiria de qualquer atividade financeira com os países mais importantes.
A máfia que refere é a italiana ou de outros países?
Quando os juízes no caso Calvi aludem à máfia, referem-se à "Cosa Nostra". Mas nos anos 80 e 90 [do século XX] havia notas do FBI que apontavam o Banco Ambrosiano [cujo o Banco do Vaticano era o principal acionista], de Roberto Calvi, como a ligação entre a finança e o Cartel de Medellín [rede de traficantes de droga colombianos]. Quando estive em Buenos Aires [Argentina], entrevistei a Ayda Levy, mulher do Roberto Suárez [boliviano considerado o rei da cocaína na América], que referiu que o marido tinha um amigo na Europa chamado Calvi. E que, seis meses antes de morrer, Calvi tinha pedido ajuda ao marido, porque Pablo Escobar [o traficante mais rico do mundo] queria recuperar o dinheiro que tinha depositado no Banco Ambrosiano. Estes são factos que voltam a surgir após alguns anos. Mas o julgamento em Roma, contra Calvi, acabou com imensas absolvições. Decorre agora um julgamento contra quatro indivíduos, cuja a identidade é desconhecida.
Ninguém na Justiça italiana pegou nesta obra? Porque só o Vaticano a usou para prender as fontes.
Este livro tem como ponto fulcral o Vaticano, um Estado que não colabora habitualmente com as autoridades italianas. Todos os pedidos de assistência judicial não recebem respostas ou recebem respostas genéricas. Não existe em Itália um único juiz satisfeito com as respostas obtidas do Vaticano. Por isso, imagino este livro como um aprofundamento para a grande família da Igreja, mais do que um instrumento para a Justiça italiana.
Ainda que o Vaticano não atue, a Itália tem neste livro alguns cidadãos como atores principais. A Justiça não agiu nestes seis meses porquê?
Com que hipótese e a quais crimes se esta a referir?
Não conheço o sistema judicial italiano. Mas, vejamos: tráfico de influências, fuga de capitais, formação de cartéis...
Talvez no Vaticano não. Com o meu outro livro, "Vaticano SA", os magistrados italianos apreenderam todo o meu arquivo para as suas investigações sobre casos de corrupção decorridos em Itália. Mas isto aconteceu muitos meses depois do livro sair.
Não acha invulgar que perante tais denúncias de corrupção, apenas o mordomo esteja na cadeia?
Este livro denuncia indivíduos com responsabilidades morais. Também mostra como as lógicas, dentro do Vaticano e do Vaticano com outros estados, são mais fortes que pensamos. Mostra a lógica, sistemas e mecanismos da corrupção. Veja, nenhuma das pessoas que, ao longo de anos, reparou que Gabriele fotocopiava papeis foi atingida, perseguida, despedida ou transferida. Porém, aqui temos um mordomo do Papa que, desde 2006, andou a fotocopiar papeis e ninguém reparou nisso? O responsável da segurança, Domenico Giani, ex-agente secreto, foi confirmado nessa função. O secretário pessoal do Papa, monsenhor Georg Gänswein, que atribuía funções de secretaria ao Paolo Gabriele, foi promovido a arcebispo. O único que continua na prisão é Gabriele.
Qual foi a sensação quando chegou às suas mãos tal documentação?
Para o primeiro livro, "Vaticano SA", juntei 4000 documentos. Quando os vi pela primeira vez fiquei atónito, porque nunca tinha visto documentos do IOR. Quando li os extratos do Giulio Andreotti [sete vezes primeiro-ministro de Itália, entre 1972 e 1992], com valores de 30 milhões de euros, fiquei estupefacto. Então liguei-lhe e perguntei-lhe porque tinha tal conta num banco offshore. Não sei qual é o respeito que os políticos portugueses têm para com os jornalistas, mas Andreotti respondeu-me, através da secretária, que não se lembrava de ter essa conta. 30 milhões de euros! Isto, em Itália, diz-se que é "gozar na cara de alguém".
Mas, em relação a esta obra?
Quando vi a primeira assinatura de Bento XVI, com uma letra muito pequena, tive uma emoção muito forte. Porque essa caligrafia, tão pequenina, demonstra o poder desse homem, mas também a sua solidão. Paolo Gabriele disse em julgamento que Ratzinger não era informado do que se passava como deveria. Nos últimos meses tentaram silenciar Gabriele.
Qual foi a imagem do Vaticano que começou a construir na sua mente, com o desenvolvimento desta investigação?
Imagine que o Vaticano é como o mar, profundo, profundo. Onde não se consegue conhecer a maioria das espécies marinhas, porque estão a uma profundidade tal, que não somos capazes de chegar lá.
O Vaticano mudou com este livro?
Ainda é cedo. Este livro abre um precedente, permitindo às pessoas que estão fora do sistema saber o que está debaixo do tapete, os fatos desconhecidos e os fatos graves. Pela primeira vez na história tivemos informação do Vaticano, o único país da Europa com um só jornal diário.
O Vaticano não gosta de jornalistas?
(Risos) Veja o que eles fizeram recentemente: um julgamento com jornalistas selecionados. Não sei se sabe que grande parte dos orçamentos de entidades e organismos que compõem o Vaticano são completamente privados. O temor dos seus colegas correspondentes estrangeiros é que lhes retirem a acreditação e não possam entrar nas salas do Vaticano.
A contratação do jornalista americano Greg Burke para assessor do Vaticano alterou alguma coisa?
Um jornalista da Opus Dei?
O correspondente da Fox News em Roma.
(Agita a cabeça)
Que sinal é esse?
Que quer que comente? Essa nomeação...
Nada mudou, é isso?
Eles mostraram as celas onde Paolo esteve detido?
Como são essas celas?
O Paolo disse que a primeira cela em que esteve era tão pequena, que não conseguia abrir os braços. Será que foi torturado ? Porque não chamam jornalistas de Londres para ver estas salas. Qual é o medo da transparência?
Pensou colocar os documentos num site, como o WikiLeaks?
Não. Aliás, quem falou em "VatiLeaks" foi Lombardi [Federico, porta-voz do Vaticano]. Entre o "WikiLeaks" e esta história há um abismo. Assange [Julian, jornalista australiano] recebeu documentos sobre a segurança militar dos Estados Unidos e encontrou apoio no movimento contra o imperialismo americano. Sou jornalista, tive acesso a documentos, fiz entrevistas, fiz viagens, investigações e criei um livro. Se fosse algo sobre a segurança do Vaticano não publicaria.
Uma das principais personagens do livro é o cardeal Tarcisio Bertone [secretário de Estado do Vaticano]. Que me pode dizer sobre ele?
Qual é a outra pergunta?
E sobre Joseph Ratzinger?
Esse já é melhor. (Pausa) É um pastor revolucionário. Um pastor que defendeu que as questões de pedofilia deveriam ser resolvidas pelos tribunais civis. Deixa uma obra de purificação impensável no mundo latino, que encontrou muitas resistências. Penso que é um ancião e está cansado. Não pode mudar o seu secretário de Estado [Bertone], mesmo que queira, porque teria um eco muito forte. Significaria colocar uma hipoteca sobre o pontificado. O próximo Papa não pode ser italiano.
Porquê?
Porque há cardeais melhores em todo o mundo.
Falamos de vícios?
A riqueza da Igreja reside no fato de ser de todos. Há uma região na Itália, que se chama Ligúria, muito pequena, que tem cinco cardeais. Entende? O Vaticano não pode ser "italiano cêntrico". O eixo deve deslocar-se. Imagine um papa chinês, filipino ou brasileiro.
Tem um discurso generoso para com Bento XVI, o homem dogmático atrás de João Paulo II.
Mas era outra época. Uma outra Europa. Havia outros limites. No Vaticano ainda hoje sobrevive uma parte dessa mentalidade, onde uma critica é vivida como um ataque.
É a mesma personagem que se manteve nos bastidores e agora está na liderança, a quem não é desconhecida a realidade retratada pelo seu livro.
Não perdoo ninguém porque não é esse o meu papel.
É jornalista. Esta é a sua obra. E, no final da leitura estamos perante alguém que não tem um comportamento tão criticável? Apenas alguém que não consegue controlar uma máquina.
É o juízo que faz depois de ler o livro. Que eu ate posso partilhar. Seguramente acho mais criticável as atitudes de outras pessoas que rodeiam o Papa.
Esta obra está a cumprir o seu desígnio?
Sim, porque ela dá-nos a oportunidade de, através documentos privados, dar a volta ao mundo católico, observando as contradições, os jogos de poder e, sobretudo, a hipocrisia de quem apresenta uma cruz sem ver quem está crucificado nela.
Crê que haverá consequências?
Acredito que a informação acelera os processos de mudança. A informação não é a mudança. Posso garantir que o meu primeiro livro, "Vaticano SA", conseguiu acelerar os processos de transformação do sistema financeiro do Vaticano. Isso é uma satisfação. Compreendo que este livro testemunhe a violação da confiança do papa. Mas a informação é nosso dever. Não podemos guardar a notícia na gaveta, senão faríamos outro trabalho.
Sente-se perseguido?
Nunca me armei em vítima e não o farei agora.
É católico?
Sou cristão e batizado.
Depois desta obra, com as consequências que teve, é menos religioso?
A fé é um património pessoal. Entre a Igreja de todos e a Igreja do Vaticano vai uma grande distancia.
Até porque este livro não é sobre fé!
É um livro sobre pessoas que têm uma fé mal depositada.
E os efeitos deste livro são os que esperava?
Em que aspeto?
De certeza que não o queria para enfeitar uma prateleira, certo? Sucesso não lhe falta...
Até trabalho mais.
Os negativos também posso referir: uma alegada fonte sua está hoje presa...
Sofro pelo Gabriele estar preso. Estava consciente dos riscos. Mas acho uma profunda injustiça. (Silêncio) Estou convicto que quando Gabriele sair da prisão virá mais forte, porque é uma pessoa sã e honesta. Vou-lhe dizer algo que nunca contei a ninguém. Quando visitei o Gabriele, transmiti algo à minha mulher - algo que nunca fazia: "Valentina, hoje conheci uma pessoa que tem luz nos olhos". Depois, é claro, sei que nunca irei trabalhar para a televisão pública italiana [RAI], que não dedicou um minuto a este livro. Nunca me entrevistaram. Dão-me pena aqueles jornalistas que baixam a cabeça. Eu posso olhar no espelho todas as manhas, já eles não sei.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Deutsche Bank acusado de ocultar 9 mil milhões de euros em dívida [perdas] para fugir a resgate



O Deutsche Bank é acusado de ter escondido dívidas para evitar o resgate do Governo alemão.
Banco alemão é ainda acusado de ter despedido dois funcionários por retaliação às denúncias MARTIN OESER/AFP


O Deutsche Bank é acusado de ter escondido 9230 milhões de euros em dívidas durante o pico da crise financeira para mascarar as contas e evitar um resgate pelo Governo alemão.
 A notícia é avançada nesta quinta-feira pelo Financial Times, que afirma que três antigos funcionários do banco alemão apresentaram queixas nos EUA, alegando que o banco alemão, com o conhecimento dos dirigentes executivos, não registou muitas das perdas nas operações de mercado entre 2007 e 2009.
Num comunicado emitido também nesta quinta-feira, o banco germânico afirma que as acusações já datam de 2011, altura em que o banco terá desenvolvido “uma cuidadosa e rigorosa investigação”, que chegou à conclusão de que as acusações são “totalmente infundadas”. No mesmo comunicado, o Deutsche Bank afirma que as acusações partem de funcionários que não têm conhecimento, nem são responsáveis pelas principais operações do banco alemão.
Segundo o Financial Times, as queixas dos três funcionários terão sido apresentadas separadamente entre 2010 e 2011 à entidade norte-americana que regula dos mercados financeiros, a Securities and Exchange Commission, e que terão ainda apresentado documentos do Deutsche Bank.
Dois dos três antigos funcionários do banco alemão que apresentaram as queixas afirmam ter sido afastados depois terem mencionado, internamente, o processo de ocultação de dívidas. Um deles, Matthew Simpson, um dos principais responsáveis pelo comércio de derivados, queixa-se de ter sido afastado pelo Deutsche Bank dias depois de ter apresentado a queixa à entidade reguladora norte-americana.
Matthew Simpson já havia alegado a existência de irregularidades no registo da avaliação do caderno de derivados. No seguimento da sua saída, Simpson recebeu 680 mil euros de indeminização do Deutsche Bank, depois de o antigo funcionário ter acusado o banco alemão de ter agido por “retaliação”. Eric Ben-Artzi, o outro funcionário que se queixa de ter sido afastado por retaliação a comentários sobre irregularidades do Deutsche Bank, apresentou também uma queixa à Securities and Exchange Commission. 
Notícia corrigida às 16h13
Altera designação de mercado de "derivativos" para "derivados".
Banca
Anónimo
A tradução de "derivatives" em "financial derivatives" é derivados. Derivados financeiros. Não "derivativos". Pelo menos em português de portugal. E o banco não está a ser acusado de esconder 9230M€ em dívidas, mas em perdas.

Anónimo
O Deutsch Bank é, como toda a gente sabe, desde o terceiro Reich a casa mãe do BES. Aliás, uma vez estive a fazer manutenção a um escritório do Ricardo Salgado e estava lá uma foto do mesmo com o presidente do Deutsch Bank e o Hitler em pessoa.