A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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domingo, dezembro 12, 2010

Evo Morales: Prêmio Nobel nunca será dado a "antiimperialistas"

América Latina

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Vermelho - 13 de Outubro de 2010 - 16h11

Evo Morales: Prêmio Nobel nunca será dado a "antiimperialistas"

As declarações foram dadas numa coletiva de imprensa da qual também participou o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, em que Morales acrescentou que ele “está consciente de que as organizações que outorgam esses prêmios têm o direito de fazer suas escolhas”, ainda assim, afirmou que “essas premiações são muito suspeitas”.

O presidente boliviano Evo Morales afirmou nesta terça que considera “muito suspeita” a seleção dos ganhadores do prêmio Nobel e que depois de refletir sobre o prêmio, concluiu que ele nunca será entregue a personalidades cuja posição política “não apóie o império”.

“Cheguei à conclusão de que o Prêmio Nobel da Paz jamais irá para os movimentos sociais ou personalidades anticapitalistas e antiimperialistas. Estou convencido disso”, disse.

As declarações foram dadas numa coletiva de imprensa da qual também participou o vice-presidente da Bolívia, Álvaro García Linera, em que Morales acrescentou que ele “está consciente de que as organizações que outorgam esses prêmios têm o direito de fazer suas escolhas”, ainda assim, afirmou que “essas premiações são muito suspeitas”.

Para reforçar seu discurso, Morales recordou a premiação em 2009 do Prêmio Nobel da Paz dada ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e a entrega do prêmio de Literatura ao escritor peruano Mario Vargas Llosa, que também é um “personagem da tendência capitalista”.

“Se esse Obama é premiado pelo quesito Paz, como serão os outros prêmios, como o de Literatura, por exemplo, Vargas Llosa, que sempre me ataca, mas nunca respondi”, questionou. Evo reiterou também que sua rejeição ao ganhador desse ano, o chinês Liu Xiaobo, não se “trata de uma atitude presumida”, e sim porque havia potenciais e valentes defensores dos direitos humanos que também mereciam o prêmio.“Por exemplo, as Mães da Praça de Maio, da Argentina, tinham uma candidatura forte, mas não foram eleitas”, expressou-se.

Ao final, manifestou que o prêmio Nobel não será mais forte que seus valores e que manterá sua posição revolucionária. “Não é porque não conseguimos o prêmio que vamos mudar nossos princípios. Eles são baseados em nossos valores”, concluiu.

Evo Morales é tido como candidato ao Nobel da Paz desde 2006, quando chegou à presidência da Bolívia. Recebeu apoio geral de personalidades internacionais de esquerda que apoiam os países progressistas, grupos indígenas e movimentos sociais diversos.

Fonte: Revista Fórum. Texto extraído de Aporrea.
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Magritte - Promesssa da Paz
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quinta-feira, junho 03, 2010

Conselho Mundial da Paz condena agressão de Israel


 Magritte

Mundo

Vermelho - 31 de Maio de 2010 - 16h23

Conselho Mundial da Paz condena agressão de Israel

Diante do ataque das Forças Armadas israelenses a uma frota humanitária que pretendia levar suprimentos à população palestina na Faixa de Gaza, o Conselho Mundial da Paz amitiu nota condenando a agressão e se solidarizando com a Palestina. Veja abaixo a íntegra:


Declaração de condenação ao brutal ataque israelense


à missão de solidariedade à Palestina




O Conselho da Paz Mundial denuncia, de maneira enérgica, a brutal agressão pelas Forças Especiais israelenses contra a missão de solidariedade composta por seis navios de ajuda humanitária para o povo da Palestina. A operação assassina do governo de Israel e seu exército aconteceu em águas internacionais, ao largo da Faixa de Gaza Palestina, contra os civis que estavam a bordo de seis barcos que tentavam se aproximar dos portos de Gaza.




O Conselho Mundial da Paz condena o ataque militar, em que mais de 16 pessoas civis, de diferentes nacionalidades, perderam a vida e mais de 60 pessoas ficaram feridas. Este massacre produzido pelo governo israelense demonstra, mais uma vez, a natureza reacionária de décadas de um regime, que não só nega o direito do povo palestino a um Estado independente, mas também a ajuda humanitária ao povo palestino, que sofre sob a ocupação e as agressões, como a que ocorreu em 2008.




O Conselho Mundial da Paz manifesta a sua solidariedade com o povo palestino em uma causa justa, para o estabelecimento de um Estado independente dentro das fronteiras definidas em 1967 e com Jerusalém Oriental como sua capital. Também expressamos nossa solidariedade com as forças defensoras da paz dentro de Israel, que lutam ao lado do povo palestino contra a ocupação das terras da Palestina.




A recente ação de Israel constitui um crime de dimensão internacional, uma vez que a agressão israelense tem o apoio político e a tolerância dos Estados Unidos, União Europeia e de outras estruturas do imperialismo. O Conselho Mundial da Paz manifesta a sua profunda preocupação com a escalada da agressividade imperialista na região e faz um chamado às forças que apóiam a paz nos países da região, para que estejam alertas e vigilantes ante qualquer ataque iminente.




31 de maio 2010


Secretariado do Conselho Mundial da Paz

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sexta-feira, agosto 08, 2008

Agosto - Mais Brilhante que Mil Sóis

Hiroshima após o bombardeamento/holocausto nuclear. O «senhor» abaixo nunca se arrependeu e dormiu sempre bem, pois limitara-se a cumprir ordens.
Nunca foi julgado nem a cadeia de comando até Harry Truman, como criminosos de guerra e genocidas, num qualquer Tribunal de Nuremberga.


Colonel Paul Tibbets waving from Enola Gay's cockpit before taking off for the bombing of Hiroshima. (USAF Photo)




Desenho de Tibuka





Quadro de Magritte
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sexta-feira, março 14, 2008

O desencanto Público d'Ana Benavente, professora e política do PS


Magritte - Os Amantes



Ana Benavente

Professora universitária, militante do PS

1.

Não sou certamente a única socialista descontente com os tempos que vivemos e com o actual governo. Não pertenço a qualquer estrutura nacional e, na secção em que estou inscrita, não reconheço competência à sua presidência para aí debater, discutir, reflectir, apresentar propostas. Seria um mero ritual.

Em política não há divórcios. Há afastamentos. Não me revejo neste partido calado e reverente que não tem, segundo os jornais, uma única pergunta a fazer ao secretário-geral na última comissão política. Uma parte dos seus actuais dirigentes são tão socialistas como qualquer neoliberal; outra parte outrora ocupada com o debate político e com a acção, ficou esmagada por mais de um milhão de votos nas últimas presidenciais e, sem saber que fazer com tal abundância, continuou na sua individualidade privilegiada. Outra parte, enfim, recebendo mais ou menos migalhas do poder, sente que ganhou uma maioria absoluta e considera, portanto, que só tem que ouvir os cidadãos (perdão, os eleitores ou os consumidores, como queiram) no final do mandato.

Umas raríssimas vozes (raras, mesmo) vão ocasionando críticas ocasionais.

2.

Para resolver o défice das contas públicas teria sido necessário adoptar as políticas económicas e sociais e a atitude governativa fechada e arrogante que temos vivido? Teria sido necessário pôr os professores de joelhos num pelourinho? Impor um estatuto baseado apenas nos últimos sete anos de carreira? Foi o que aconteceu com os "titulares" e "não titulares", uma nova casta que ainda não tinha sido inventada até hoje. E premiar "o melhor" professor ou professora? Não é verdade que "ninguém é professor sozinho" e que são necessárias equipas de docentes coesas e competentes, com metas claras, com estratégias bem definidas para alcançar o sucesso (a saber, a aprendizagem efectiva dos alunos)?

Teria sido necessário aumentar as diferenças entre ricos e pobres? Criar mais desemprego? Enviar a GNR contra grevistas no seu direito constitucional? Penalizar as pequenas reformas com impostos? Criar tanto desacerto na justiça? Confirmar aqueles velhos mitos de que "quem paga é sempre o mais pequeno"? Continuar a ser preciso "apanhar" uma consulta e, não, "marcar" uma consulta? Ouvir o senhor ministro das Finanças (os exemplos são tantos que é difícil escolher um, de um homem reservado, aliás) afirmar que "nós não entramos nesses jogos", sendo os tais "jogos" as negociações salariais e de condições de trabalho entre Governo e sindicatos. Um "jogo"? Pensava eu que era um mecanismo de regulação que fazia parte dos regimes democráticos.

3.

Na sua presidência europeia (são seis meses, não se esqueça), o senhor primeiro-ministro mostra-se eufórico e diz que somos um país feliz. Será? Será que vivemos a Europa como um assunto para especialistas europeus ou como uma questão que nos diz respeito a todos? Que sabemos nós desta presidência? Que se fazem muitas reuniões, conferências e declarações, cujos vagos conteúdos escapam ao comum dos mortais. O que é afinal o Tratado de Lisboa? Como se estrutura o poder na Europa? Quais os centros de decisão? Que novas cidadanias? Porque nos continuamos a afastar dos recém-chegados e dos antigos membros da Europa? Porque ocupamos sempre (nas estatísticas de salários, de poder de compra, na qualidade das prestações dos serviços públicos, no pessimismo quanto ao futuro, etc., etc.) os piores lugares?

Porque temos tantos milhares de portugueses a viver no limiar da pobreza? Que bom seria se o senhor primeiro-ministro pudesse explicar, com palavras simples, a importância do Tratado de Lisboa para o bem-estar individual e colectivo dos cidadãos portugueses, económica, social e civicamente.

4.

Quando os debates da Assembleia da República são traduzidos em termos futebolísticos, fico muito preocupada. A propósito do Orçamento do Estado para 2008, ouviu-se: "Quem ganha? Quem perde? que espectáculo!". "No primeiro debate perdi", dizia o actual líder do grupo parlamentar do PSD "mas no segundo ganhei" (mais ou menos assim). "Devolvam os bilhetes...", acrescentava outro líder, este de esquerda. E o país, onde fica? Que informação asseguram os deputados aos seus eleitores? De todos os partidos, aliás. Obrigada à TV Parlamento; só é pena ser tão maçadora. Órgão cujo presidente é eleito na Assembleia, o Conselho Nacional de Educação festeja 20 anos de existência. Criado como um órgão de participação crítica quanto às políticas educativas, os seus pareceres têm-se tornado cada vez mais raros. Para mim, que trabalho em educação, parece-me cada vez mais o palácio da bela adormecida (a bela é a participação democrática, claro). E que dizer do orçamento para a cultura, que se torna ainda menos relevante? É assim que se investe "nas pessoas" ou o PS já não considera que "as pessoas estão primeiro"?

5.

Sinto-me num país tristonho e cabisbaixo, com o PS a substituir as políticas eventuais do PSD (que não sabe, por isso, para que lado se virar). Quanto mais circo, menos pão. Diante dos espectáculos oficiais bem orquestrados que a TV mostra, dos anúncios de um bem-estar sem fim que um dia virá (quanto sebastianismo!), apetece-me muitas vezes dizer: "Aqui há palhaços". E os palhaços somos nós. As únicas críticas sistemáticas às agressões quotidianas à liberdade de expressão são as do Gato Fedorento. Já agora, ficava tão bem a um governo do PS acabar com os abusos da EDP, empresa pública, que manda o "homem do alicate" cortar a luz se o cidadão se atrasa uns dias no seu pagamento, consumidor regular e cumpridor... Quando há avarias, nós cortamos-lhes o quê? Somos cidadãos castigados!

O país cansa! Os partidos são necessários à democracia mas temos que ser mais exigentes.

Movimentos cívicos...procuram-se (já há alguns, são precisos mais). As anedotas e brincadeiras com o "olhe que agora é perigoso criticar o primeiro-ministro" não me fazem rir. Pela liberdade muitos deram a vida. Pela liberdade muitos demos o nosso trabalho, a nossa vontade, o nosso entusiasmo. Com certeza somos muitos os que não gostamos de brincar com coisas tão sérias, sobretudo com um governo do Partido Socialista.

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Ana Benavente in PÚBLICO
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sábado, junho 02, 2007


Transportes: Administrações vão punir quem não cumpriu serviços mínimos
Dia de greve descontado
* Ana Maria Estrompa
Os trabalhadores do Metropolitano de Lisboa e da Transtejo/Soflusa que participaram na greve ou que não cumpriram os serviços mínimos para os quais tinham sido notificados, na passada quarta-feira, verão o dia descontado no ordenado.
“É o que diz a lei”, justificou fonte oficial de ambas as empresas, acrescentando que os trabalhadores faltosos dos serviços mínimos serão, ainda, alvo de processos disciplinares que poderão ir “de uma mera advertência até ao despedimento, passando por um dia de suspensão”.
Agora, as administrações vão abrir um processo de inquérito e avaliar a gravidade da situação. Se ficar concluído que houve prejuízos muito graves para a empresa poderá justificar-se o despedimento dos trabalhadores. “Se tudo correr com normalidade estes processos podem estar concluídos num mês”, disse o advogado Alcides Martins.Segundo este especialista em Direito do Trabalho, “os sindicatos também poderão vir a ser responsabilizados, uma vez que tinham de providenciar os serviços mínimos”.
Confrontado com esta questão, Joaquim Dionísio, da CGTP, disse que “a empresa não pode evocar prejuízos, uma vez que não é ela a beneficiária dos serviços mínimos, mas sim a comunidade”. Esta organização sindical deve pedir hoje a impugnação dos serviços mínimos em tribunal. O Metropolitano e a Transtejo/Soflusa decidiram, por ora, punir os trabalhadores individualmente e não as organizações sindicais.
DEFESA DA CGTP
IMPUGNAÇÃO
Para defender os trabalhadores a CGTP vai pedir ao tribunal a impugnação da decisão do colégio arbitral que definiu os serviços mínimos nas empresas transportadoras.
PROVIDÊNCIAS
A CGTP poderá emitir providências cautelares para pôr fim aos processos disciplinares instaurados pelas empresas.
COACÇÃO
Ainda em estudo, a CGTP pondera pedir ao Ministério Público para apurar se o Metro ameaçou os trabalhadores para que estes cumprissem os serviços mínimos.
in Correio da Manhã 2007.06.01
Quadro - Gaiola (Magritte)

segunda-feira, maio 14, 2007


O ideal comunista e a luta emancipadora das mulheres

* Domingos Abrantes

01-Nov-2006

A «questão feminina» ocupa na actualidade um significativo espaço na atenção que lhe é dada pelas forças políticas e nos confrontos político-ideológicos suportados por abundante produção teórica e materiais diversos sobre a matéria.

O fenómeno não tem nada de surpreendente. Ele reflecte as profundas alterações no que toca ao papel da mulher na sociedade, nos nossos dias. E, no entanto, não pouca desta produção teórica, mais do que a defesa dos interesses das mulheres, destina-se a conter a sua luta emancipadora nos limites aceitáveis para o capitalismo e, desse modo, perpetuar o seu estatuto discriminatório.

O PCP, como partido que luta por uma sociedade liberta de exploração - o socialismo -, não pode deixar de ter em conta a importância da organização e da luta das mulheres nos nossos dias.

Lénine salientou reiteradas vezes quanto era importante o movimento feminino para a luta de massas, importância - dizia - que, em determinadas condições, se podia tornar decisiva. E foi ainda Lénine que, avaliando o papel das mulheres na Revolução de Outubro, afirmou que «sem elas não teríamos vencido ou então seria pouco provável que vencêssemos!».

Se o papel das mulheres na luta se colocava assim há quase um século, hoje, quando metade da massa trabalhadora é constituída por mulheres, então o problema ganha nova dimensão.

E, no entanto, é duvidoso que exista uma generalizada compreensão teórica e prática quanto à natureza desta questão, com manifestos prejuízos para o desenvolvimento da luta revolucionária.

Naturalmente que a incorporação massiva das mulheres nas organizações e na luta é difícil e defronta enormes obstáculos, mas trata-se de uma batalha decisiva que exige do Partido mais atenção e maior intervenção no plano da luta de ideias.

1. O título deste artigo comporta em si mesmo uma importante tese, nomeadamente de que a emancipação das mulheres, os ideais e a luta dos comunistas são inseparáveis. Uma tese que pode ser apodada de comportar um carácter apologético, mas quando se analisa com objectividade o longo e difícil processo de luta pelo progresso social é fácil comprovar o papel ímpar desempenhado pelos comunistas e pelo movimento operário neste processo. Há quase dois séculos que as mais significativas batalhas travadas contra a exploração e as discriminações têm a marca da acção dos comunistas e do movimento operário.

Há séculos que o problema das discriminações a que são sujeitas as mulheres foi colocado, pelos menos nos planos da constatação do facto e da teoria. Forças e pensadores progressistas, em diferentes épocas, fizeram eco da injustiça que é o estatuto discriminatório das mulheres na sociedade, ainda que muitas vezes não fosse no estatuto das mulheres em geral que pensavam, mas sim no das mulheres das camadas «superiores». Mas foi com o aparecimento das ideias socialistas - utópicas primeiro e científicas depois - que a emancipação das mulheres foi colocada como objectivo e a sua luta considerada como parte integrante da luta libertadora dos trabalhadores e dos povos. Foi com o aparecimento das ideias socialistas que se concluiu que as discriminações das mulheres são em si mesmas um sério obstáculo ao progresso social. Foi ainda com o desenvolvimento do movimento socialista e operário que as verdadeiras causas das discriminações das mulheres foram dilucidadas e que a questão da emancipação foi colocada não só como questão teórica, mas também no terreno da acção prática.

Cabe ao movimento operário revolucionário o mérito de ter inscrito nas suas bandeiras de luta: «a igualdade social da mulher e do homem perante a lei e na vida prática. O reconhecimento da maternidade como função social. A luta sistemática contra as ideologias e as tradições que perpetuaram a escravidão da mulher».

Durante muitos anos, e podemos verificá-lo ainda nos nossos dias, diferentes forças reivindicaram o direito à igualdade, mas esta era e é entendida como igualdade de estatuto da mulher igual ao do homem, uma igualdade ao nível de cada classe.

O conceito de igualdade desligado de profundas transformações sócio-económicas leva fatalmente a escamotear a causa primeira das discriminações, que é o sistema de exploração.

Consequentemente, para os comunistas a questão da emancipação das mulheres deve ser em primeiro lugar considerada como uma questão de emancipação social, a qual não é possível no quadro da exploração capitalista.

As teses marxistas de que «o grau de emancipação da mulher é a medida natural do grau de emancipação geral» e de que «o desenvolvimento livre de cada um é a condição do livre desenvolvimento de todos», como expressão e síntese da essência do humanismo comunista, querem dizer que a liberdade, o desenvolvimento pleno de cada ser humano não é possível no quadro de uma estrutura social em que uns podem explorar e oprimir outros seres humanos.

O ideal comunista, ao pugnar pelo fim da exploração do homem pelo homem é um ideal que não estimula o homem como opressor de outros homens (e das mulheres), antes estimula o seu empenhamento na construção de uma sociedade em que homens e mulheres desempenhem essa tarefa como companheiros.

Naturalmente que estamos a falar de um ideal cujo horizonte se apresenta distante. Mas os comunistas podem dizer com orgulho que os seus ideais inspiraram e continuam a inspirar o que de mais progressista, de mais valioso, de mais abnegado e heróico se revelou na longa e difícil caminhada que é a luta pela emancipação das mulheres.

2. Na actualidade sucedem-se as proclamações e convenções sobre os direitos das mulheres, embora pouco se diga sobre o grau de realização desses direitos proclamados ano após ano. Mais de uma centena de Estados proclamaram oficialmente a igualdade de direitos da mulher e do homem. As mulheres desempenham um papel crescente em praticamente todas as esferas da vida. Surgem novos conceitos acerca da família, da emancipação e da igualdade. Estabelecem-se quotas para a participação das mulheres em órgãos de poder e em vários países adopta-se legislação que consagra importantes direitos civis para as mulheres.

Ao ampliarem-se as possibilidades de mobilização de vastas massas de mulheres, deu-se um salto qualitativo na dimensão e na natureza dos movimentos de massas no plano social e político, dando à luta reivindicativa das mulheres uma nova dimensão.

A participação massiva das mulheres na vida laboral, cujo crescimento se tornou verdadeiramente espectacular nas últimas décadas, operou profundas mudanças no plano social e mesmo nas mentalidades e fez crescer significativamente o exército dos lutadores pelo progresso social.

Se por um lado a incorporação massiva das mulheres no mundo do trabalho é ditada pela necessidade do capital fazer diminuir o valor da mão-de-obra ao seu dispor (as mulheres auferem regra geral salários mais baixos), por outro lado engendrou novas contradições: a participação massiva de mulheres na vida laboral, libertando milhões de mulheres da economia familiar e incorporando-as na economia capitalista, fez ruir velhos mitos e preconceitos sobre a mulher como «deusa do lar», bem como sobre o seu papel na organização da família.

Milhões de mulheres em todo o mundo, libertas da economia doméstica (não das tarefas domésticas), passaram a ter contacto directo com uma realidade social mais vasta e ao participarem na luta de classes elevaram a sua consciência social e política, factos que pesam na evolução da vida política contemporânea e no conteúdo da luta reivindicativa. O anseio das mulheres a viverem melhor, a terem uma vida mais digna e realizada, com direito a construir a sua própria vida ganhou a mente de milhões de mulheres, tornando-se deste modo uma força social, económica e política que nenhuma força política nem nenhum poder podem ignorar.

E, no entanto, este processo não é linear nem isento de contradições e perigos, o que coloca aos comunistas a necessidade de tirar as devidas conclusões destas novas realidades e agir em conformidade.

O assalariamento crescente de mulheres de origem pequeno-burguesa e burguesa, leva a colocar a ênfase em reivindicações de carácter subjectivo e dos direitos individuais (as discriminações sexista, de género), reivindicações nas quais pesa naturalmente a psicologia social e o conteúdo dado pelas condições materiais de vida, próprio dessas classes, em detrimento das reivindicações e da luta pela exigência de grandes transformações sócio-económicas.

As classes dominantes e a social democracia, não podendo ignorar o crescente papel das mulheres e a natureza das suas aspirações, procuram responder-lhes com a proclamação de direitos formais, tanto mais necessários quanto se adensa a gritante contradição entre as aspirações das mulheres a uma maior participação e intervenção nas decisões que lhes dizem respeito e as políticas de regressão social que as atingem gravemente.

Mesmo uma instituição como a Igreja Católica, que ao longo de séculos tratou as mulheres, exceptuando a figura da «Virgem Maria», como seres inferiores e perversos e em cuja hierarquia elas não cabem, viu-se obrigada a burilar os conceitos, desdobrando-se em louvações à mulher sem no entanto alterar o essencial. Fiel ao princípio da sublimação da condição de oprimidos, a grande inovação da Igreja resume-se ao apelo para que as mulheres «descubram o profundo significado da sua feminilidade» e «procurem nessa feminilidade a sua realização», o que, traduzido à letra, quer dizer que a realização da mulher se resume à sua função procriadora, sem que a Igreja diga uma única palavra sobre a necessidade de garantir as condições reais para que a função social da maternidade possa de facto materializar-se e não ser fonte de discriminação das mulheres.

Mesmo as comemorações do Dia Internacional da Mulher - que remontam a 1910, por iniciativa da comunista Clara Zetkin - e que foram concebidas como uma grande jornada internacional de luta das mulheres e suas organizações de classe (políticas, sociais e sindicais) contra a exploração, por direitos políticos e sociais, por melhores salários, contra a guerra (o Dia Internacional da Mulher estava para a sua luta como o 1.º de Maio estava para os trabalhadores) - têm vindo a ser esvaziadas do seu conteúdo reivindicativo e transformadas, sobretudo pelos poderes instituídos e pelos partidos do sistema, numa jornada de louvação da mulher como ser, uma espécie daquelas cerimónias de «beija-mão».

Estas realidades colocam aos comunistas novas exigências e responsabilidades na abordagem da «questão feminina» e no trabalho e organização desta frente.

Quando falamos dos problemas da mulher (no singular), ou dos problemas das mulheres (em geral), obviamente que não estamos a considerar as mulheres como uma realidade social homogénea, mas tão só que as mulheres como seres humanos são, na sociedade capitalista, sujeitas a discriminações pelo facto de serem mulheres e que, por isso, se abrem possibilidades de desencadear lutas comuns de mulheres de origem social e ideias político-ideológicas diversas contra as discriminações. O desenvolvimento de lutas comuns contra todas as formas de discriminação, mesmo que possam ter apenas um carácter conjuntural, assumem grande importância. Os comunistas devem estar na primeira linha na defesa de todas as camadas sujeitas a discriminações, a injustiças. É uma posição marxista tão velha como o marxismo. Mas a participação, e mesmo organização, nessas frentes comuns de luta exige uma demarcação clara e precisa da nossa posição sobre a emancipação da mulher. O valor de certas reivindicações avançadas por movimentos femininos de natureza democrático-burguesa e o seu contributo em determinadas épocas para a denúncia de situações discriminatórias em relação às mulheres - situações que estiveram (e estão) na base da luta comum de sectores muito diversos - é inquestionável.

Mas o facto de, em geral, as reivindicações desses movimentos e correntes de opinião se situarem no campo dos valores ético-morais, de continuarem a elevar os homens à categoria de «adversário social» e a absolutizar o problema das mentalidades como problema primeiro e a alimentarem a ilusão de se poder alterar o estatuto discriminatório no quadro do sistema exige uma demarcação clara por parte do Partido, a começar pelo esclarecimento da natureza e das causas das discriminações.

O Partido deve fixar objectivos próprios e delimitar com rigor os campos. Como diria Clara Zetkin, trata-se de batalhar em conjunto, marchar separadamente.

A participação das mulheres na vida social e política é dificultada por toda uma série de obstáculos de natureza económica, social, política, jurídica e cultural. Mas quando se fala de discriminações, de igualdades, de paridades e outras coisas tais, é absolutamente necessário não esquecer que os obstáculos que se erguem perante as mulheres não representam o mesmo para a mulher operária, camponesa ou burguesa, como não representam o mesmo para a mulher esmagada pelo peso da vida doméstica, dos baixos salários, do desemprego e para as mulheres que não enfrentam esta dura realidade; como o estatuto da mulher exploradora na sociedade não é o mesmo que o das mulheres exploradas, cujas vidas esmagadas pelo «peso do trabalho e do pensamento» se resumem a uma luta permanente pela sobrevivência.

O estatuto discriminatório a que estão sujeitas as mulheres não é o resultado de uma fatalidade, não é o resultado do poder do homem como ser humano sobre a mulher e muito menos é o resultado de um castigo divino por um pretenso pecado original. É o resultado de um processo de desenvolvimento histórico que conduziu a uma estrutura social classista que gera, ela sim, as desigualdades sociais. É por isso que o centro e a direcção principal da nossa luta se dirige contra esta estrutura social classista, o que não pode deixar de levar à separação de águas entre os que crêem ou defendem a igualdade no quadro do sistema e os que, como nós comunistas, lutam contra o sistema.

Sabemos como ninguém quanto é importante para o desenvolvimento da luta o aprofundamento dos direitos democráticos e a sua consagração em lei. Mas também sabemos que há uma enorme distância entre os direitos proclamados no papel e a realidade e que cada direito conquistado tem igualmente que ser defendido permanentemente.

Ao longo dos séculos deram-se profundas transformações sociais; alteraram-se as condições de vida; surgiram novas ideias; abriram-se novas possibilidades de desenvolvimento humano. Uma realidade, entretanto, se mantém inalterável: a posição subalterna das mulheres onde o poder absoluto da riqueza, assente na exploração do homem pelo homem, não foi liquidado.

A emancipação efectiva da mulher está, portanto, indissoluvelmente ligada à luta pelo socialismo.

3. Esta tese consagrada já no primeiro documento programático do movimento operário revolucionário - o Manifesto Comunista (1848) - que se pode justamente considerar como património do pensamento progressista e da luta pelo progresso social e humano - deve ser defendida com redobradas energias quando o capitalismo explorador e opressor desencadeia uma ofensiva para liquidar importantes conquistas alcançadas pela luta de várias gerações.

Certos sectores, sobretudo aqueles sectores para quem o peso das dificuldades económicas e a falta de apoios sociais é irrelevante e, consequentemente, tendem a privilegiar as questões de ordem subjectiva, estribando-se naquilo que dizem ter sido a experiência concreta dos países socialistas e em particular da União Soviética, negam a validade das teses ditas deterministas do marxismo, na medida em que, segundo afirmam, as transformações sócio-económicas operadas nesses países com o socialismo não eliminaram nem as discriminações das mulheres, nem a prevalência de concepções retrógradas acerca do seu papel e da sua natureza. Daí concluírem que os comunistas subestimam a importância do combate pela alteração das mentalidades, dos homens obviamente.

Trata-se de uma simplificação grosseira das teses marxistas-leninistas acerca da emancipação da mulher. Não se encontra nos clássicos nada que diga que o socialismo resolve de uma penada todos os problemas das mulheres (e dos trabalhadores), como não se encontra o que quer que seja donde se possa inferir a ligação automática ente as alterações na base (na estrutura económica) e as mentalidades. Bem pelo contrário.

Sabemos, por experiência das revoluções socialistas e pela nossa própria Revolução de Abril, que as alterações das mentalidades é muito mais lenta do que as alterações sócio-económicas, que a formação de uma nova consciência social retarda em relação às alterações operadas em diversas esferas da vida e da sociedade nos períodos revolucionários. Sabemos igualmente que durante muito tempo perdurará a mentalidade de «senhor» inculcada nos homens (e nas mulheres) desde pequeninos, realidade que torna necessário, sem dúvida, considerar a luta no sentido de inculcar uma nova moral nas relações homem-mulher como tarefa prioritária e permanente.

Também não é difícil admitir que, nesta ou naquela fase do processo revolucionário, os comunistas possam ter subestimado a importância desta tarefa. Mas o que se não pode aceitar é que, com tal pretexto, se procure negar o facto inquestionável de que, com o socialismo, as mulheres - as mulheres em geral e não este ou aquele extracto social - obtiveram conquistas inimagináveis, pela dimensão e pela natureza, na mais democrática das democracias ocidentais.

O primeiro Estado socialista quando existia apenas há dois meses, a par dos decretos da Paz e da Terra, decretou a abolição de todas as leis que consagravam um estatuto discriminatório das mulheres e decretou a igualdade jurídica entre homens e mulheres. Com a Revolução socialista, as mulheres soviéticas, partindo de níveis de atraso e de submissões e discriminações tremendas, nomeadamente na periferia do Império, ascenderam aos mais diversos sectores da sociedade, obtiveram protecção legal efectiva no trabalho, na família e na sociedade. A maternidade foi considerada como função eminentemente social e as mães solteiras passaram a gozar de apoios especiais como em nenhuma outra parte do mundo. A participação e a intervenção das mulheres fez ruir tabus e preconceitos centenários.

As teses marxistas-leninistas, que ligam de forma indissociável a emancipação das mulheres às profundas transformações sócio-económicas, têm na actualidade uma grande importância teórica e prática. É que, hoje, com a liquidação do socialismo e o regresso ao capitalismo nesses países, o que é que vemos? As mulheres são das principais vítimas das democracias que aí teriam sido implantadas: desemprego massivo, perda de apoios sociais, baixíssimos salários, prostituição em larga escala, florescente mercado de exportação de «carne branca» para animar os prostíbulos das democracias ocidentais, reposição, sobretudo nas repúblicas islâmicas, de tradições feudais, etc.


4. O PCP pode legitimamente reclamar-se como o Partido defensor dos interesses das mulheres e da sua luta emancipadora. Significa isso que não tenhamos insuficiências, atrasos no estudo e nas respostas às novas realidades, que os militantes comunistas estão imunes a preconceitos e à mentalidade de senhor? De modo nenhum. No Partido há disso tudo e eventualmente em doses para além do que seria desejável. Mas, nesta matéria, o que marca decisivamente o essencial da actividade do PCP é uma persistente e abnegada luta em defesa dos interesses e dos direitos das mulheres.

O PCP não se limitou a constatar a existência de discriminações. Ao longo dos seus 85 anos, o PCP apontou os caminhos a percorrer para as liquidar e sobretudo empenhou-se em organizar a luta pela conquista de direitos específicos das mulheres, em organizar a sua intervenção contra o fascismo, pelas liberdades e por melhores condições de vida. Pelo menos desde 1930 que o Partido se ocupa dos problemas e da luta das mulheres: luta traduzida em milhares de pequenas e grandes acções por apoios sociais, pela protecção na maternidade, pela redução do horário de trabalho, por melhores salários e por salário igual a trabalho igual, pelo direito á educação, por direitos civis, etc. O Partido foi o primeiro a colocar o problema do aborto como uma questão social, batalha que travou praticamente sozinho durante décadas. Os comunistas podem dizer que a luta do Partido e o que de mais significativo se fez em Portugal pela defesa dos direitos das mulheres em geral, e das mulheres trabalhadoras em particular, verdadeiramente se confundem.

A realização da Conferência Nacional do PCP sobre «A emancipação da mulher no Portugal de Abril» (Novembro/1986) constitui igualmente um acontecimento marcante na história do PCP e na luta emancipadora das mulheres.

Passadas duas décadas e apesar dos retrocessos sofridos pelo processo democrático no nosso país, o essencial da sua análise e conclusões mantém plena actualidade. Razão tinha o camarada Álvaro Cunhal quando, a propósito da importância da Conferência, declarou que ela ficaria «assinalada como um marco na luta do Partido e da mulher portuguesa pela sua emancipação». É que, pelo número de participantes (1069 delegados dos quais 66% eram mulheres, em representação das organizações partidárias de todo o país), pela realização de mais de 800 reuniões para a discussão do documento-base, envolvendo milhares e milhares de membros do Partido e simpatizantes, pela profundidade das discussões e orientações aprovadas, a Conferência Nacional do PCP continua a não ter paralelo no nosso País.

Não foi por acaso que a Conferência do Partido decorreu sob o lema «A emancipação da mulher no Portugal de Abril». É que as mulheres, e em particular as mulheres trabalhadoras, foram quem mais beneficiou com as grandes conquistas democráticas. A Revolução de Abril confirmou o carácter indissociável entre as transformações revolucionárias e as conquistas das mulheres, as quais conquistaram, em pouco tempo, direitos e regalias que não haviam conquistado em décadas de luta: direitos cívicos, políticos e sindicais que, a justo título, foram inscritos entre as grandes conquistas de Abril.

As mulheres portuguesas deixaram de ser consideradas cidadãs de segunda. Pela primeira vez os direitos consagrados em lei foram acompanhados de profundas alterações quanto ao seu papel na sociedade. O processo revolucionário e a participação activa e massiva que nele tiveram as mulheres, nomeadamente as mulheres trabalhadoras, levaram a questionarem-se preconceitos, fizeram ruir ideias retrógradas acerca do papel da mulher na sociedade e na família. E hoje podemos ver o reverso da medalha, isto é, podemos ver como o retrocesso nos direitos das mulheres se acentua à medida que avança o processo contra-revolucionário e restauracionista.

Para além destas e de outras questões, importa ainda salientar duas ideias da Conferência cuja validade se mantém inalterada e que continua a assumir um valor de princípio: uma é que, para o PCP, sem a conquista da independência económica as mulheres não poderão falar de emancipação, nem poderão construir a sua vida pessoal sem outros constrangimentos que não sejam os de ordem natural; outra é que só o exercício efectivo das liberdades e direitos pode garantir às mulheres a verdadeira igualdade na vida política e social.

A Conferência fez um apelo que é um apelo de sempre. O apelo para que as mulheres tomem nas suas mãos a luta pela conquista dos seus direitos. Parafraseando uma célebre tese do movimento operário internacional da autoria de Marx, diríamos que a emancipação da mulher deverá ser obra das próprias mulheres, inserindo a sua luta na luta geral pela emancipação dos trabalhadores e dos povos.

O caminho para a emancipação será porventura mais longo e difícil do que muitos revolucionários terão imaginado. Neste longo e difícil caminho, as mulheres encontrarão muitos obstáculos, inclusivé os obstáculos de mentalidades retrógradas - que não pesam pouco. Marx disse um dia que os homens (e as mulheres) se transfiguravam ao actuarem sobre o mundo circundante e que o esclarecimento autêntico das massas não era possível sem que estas participassem na luta pela sua emancipação.

A participação das mulheres nas diferentes esferas da vida, a sua participação na luta reivindicativa específica e na luta geral, a sua afirmação como força social activa - mais do que as prédicas moralistas sobre os direitos das mulheres - derrubarão muitos obstáculos e preconceitos e serão decisivas para forjar uma nova moral, na qual a mulher seja considerada de corpo inteiro como parte integrante da sociedade humana.

A. Bebel, destacado dirigente do PC Alemão, o comunista que talvez melhor do que ninguém estudou a «questão feminina» disse um dia que o futuro pertence ao trabalhador e à mulher. Com isto, Bebel queria salientar que o destino comum exige a luta comum. Esta é uma bandeira que, hoje como ontem, é preciso erguer com energia.

Ontem como hoje a causa da emancipação da mulher encontra no PCP o seu mais firme e consequente defensor.


(*) Texto que, no essencial, resulta de uma intervenção proferida na «Festa do Avante!» de 2006, num debate do ciclo «À conversa com...»

© 2007 Revista «O Militante»

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Aniversário

Fernando Pessoa
(Álvaro de Campos)


No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,

Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.

No TEMPO em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.

Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida.

Sim, o que fui de suposto a mim-mesmo,
O que fui de coração e parentesco.
O que fui de serões de meia-província,
O que fui de amarem-me e eu ser menino,
O que fui — ai, meu Deus!, o que só hoje sei que fui...
A que distância!...
(Nem o acho...)
O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!

O que eu sou hoje é como a humidade no corredor do fim da casa,
Pondo grelado nas paredes...
O que eu sou hoje (e a casa dos que me amaram treme através das minhas
lágrimas),
O que eu sou hoje é terem vendido a casa,
É terem morrido todos,
É estar eu sobrevivente a mim-mesmo como um fósforo frio...

No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...
Que meu amor, como uma pessoa, esse tempo!
Desejo físico da alma de se encontrar ali outra vez,
Por uma viagem metafísica e carnal,
Com uma dualidade de eu para mim...
Comer o passado como pão de fome, sem tempo de manteiga nos dentes!

Vejo tudo outra vez com uma nitidez que me cega para o que há aqui...
A mesa posta com mais lugares, com melhores desenhos na loiça, com mais copos,
O aparador com muitas coisas — doces, frutas o resto na sombra debaixo do alçado —,
As tias velhas, os primos diferentes, e tudo era por minha causa,
No tempo em que festejavam o dia dos meus anos...

Pára, meu coração!
Não penses! Deixa o pensar na cabeça!
Ó meu Deus, meu Deus, meu Deus!
Hoje já não faço anos.
Duro.
Somam-se-me dias.
Serei velho quando o for.
Mais nada.
Raiva de não ter trazido o passado roubado na algibeira!...

O tempo em que festejavam o dia dos meus anos!...


15/10/1929

*Gravura - "René Magritte - A arte da conversação"


sábado, julho 29, 2006




Sorriste
e

na tua voz

os pássaros vieram de longe

pensando que era madrugada!


Victor Nogueira





Quadro de Magritte