A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quarta-feira, fevereiro 23, 2011

Vicenç Navarro: Quem apoiou a ditadura de Túnis?

Mundo

Vermelho - 22 de Fevereiro de 2011 - 6h41
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O estabelecimento e a manutenção da ditadura de Ben Ali na Tunísia teve o apoio dos governos dos Estados Unidos e da França, da Otan, do FMI e da Internacional Socialista, até ser confrontada pelas mobilizações que forçaram a queda do ditador, as quais tiveram papel determinante de setores da classe trabalhadora.


Por Vicenç Navarro, no Informação Alternativa

É uma pena que Pontecorvo, na minha opinião o melhor realizador de cinema que existiu no século 20, não esteja agora entre nós e possa fazer um filme sobre Túnis, o qual poderia intitular-se “A Batalha de Túnis”, que completasse o seu excelente “A Batalha de Argel”. O caso de Túnis é paradigmático do que tem vindo a ocorrer nos países árabes.

Na verdade, lembra-me muito o que se passou no Irã durante o tremendamente repressivo reinado do Xá, estabelecido com o apoio dos governos ocidentais, liderados pelos EUA, a fim de travar as exigências populares lideradas, naquele momento, por movimentos laicos de raízes democráticas e socialistas.

Apresentavam o Xá como o elemento estabilizador (argumento utilizado amplamente para apoiar ditaduras inapresentáveis). No dia de Ano Novo de 1977, o Presidente Carter apresentou o Xá do Irã como o pilar de estabilidade que o Oriente Médio precisava. Dois anos mais tarde, em 16 de janeiro de 1979, o Xá teve que fugir do Irã, nomeando um governo fantoche que durou apenas umas semanas.

Algo semelhante ocorreu em Túnis. O governo do Presidente Ben Ali tinha recebido o apoio de todos os países da Otan e do Fundo Monetário Internacional (FMI), como o eixo de estabilidade do Norte de África. Dez dias depois de um jovem desempregado de 26 anos se tentar suicidar, como protesto face à crueldade e dureza existente, Ben Ali teve que fugir do país, formando-se um governo fantoche que duraria apenas alguns dias. Milhares e milhares de cidadãos saíram à rua e forçaram a saída da camarilha que rodeava Ben Ali em Túnis.

O que é interessante é observar a mudança fulminante dos governos que o tinham apoiado. Ben Ali teve que mudar o rumo do seu avião durante a sua fuga, já que, quando estava a voar para Paris, o governo de Sarkozy lhe comunicou que não podia aterrar em França, e teve que ir para a Arábia Saudita, o regime ditatorial que foi recolhendo os ditadores mais inapresentáveis de África e da Ásia, tais como Idi Amin do Uganda e Pervez Musharraf do Paquistão.

O Presidente Sarkozy, na verdade, tinha assinalado o governo de Ben Ali como um dos regimes mais avançados do mundo árabe e, nos primeiros dias da rebelião popular, a Ministra de Relações Exteriores francesa, Michele Alliot-Marie, indicou à Assembleia Nacional que a França estava disposta a enviar tropas para ajudar o governo de Ben Ali como parte do convênio de colaboração entre ambos os países. E o Ministro da Cultura do mesmo governo de Sarkozy, Frederic Mitterrand, tinha indicado que definir o regime liderado por Ben Ali como uma ditadura era claramente "um exagero". Semanas mais tarde, o Presidente Sarkozy negava-lhe a permissão de se exilar em França.

Mas três coisas merecem especial menção. Uma foi a mobilização de grandes setores da classe trabalhadora exigindo o despedimento do governo, tendo sido as bases dos sindicatos (infiltrados pelos partidos clandestinos de esquerda) os que se constituíram como centro dos movimentos sociais de rejeição àquela ditadura. Tal como ocorreu na cobertura mediática do Egipto, este elemento de grande importância mal teve visibilidade [1].

A outra observação foi que o partido no qual Ben Ali baseava a sua rede de corrupção (o Partido Democrático Constitucional) era membro da Internacional Socialista (como o era o partido do ditador Mubarak do Egipto), mostrando o grau de confusão e cumplicidade desta Internacional. E o outro fato é que o Diretor Geral do FMI, o “socialista” Dominique Strauss-Kahn, candidato preferido entre os socialistas para competir com Sarkozy nas próximas eleições (mostrando a confusão dos Socialistas franceses) tinha recentemente visitado Ben Ali e louvado as suas políticas de austeridade de despesa pública social, apresentando-o como um exemplo a seguir, declarando-se amigo e conselheiro de Ben Ali.

Por último, como era previsível, o governo estado-unidense era um dos maiores defensores de Ben Ali, devido ao seu apoio incondicional aos EUA na sua política de apoio a Israel. Foram o governo estado-unidense e os seus aliados na Otan aqueles que armaram e apoiaram Ben Ali.

Tal como sublinhou Fulvio Martini, antigo diretor dos serviços secretos militares SISMI, em declarações ao parlamento italiano, "em 1985-1987, a Otan organizou o golpe militar em Túnis que destruiu Burguiba e apresentou Ben Ali como seu substituto". A partir de então, o governo federal dos EUA foi o máximo provedor de armas daquele sistema ditatorial, incluindo US$ 282 milhões em armamento durante a Administração Obama.

Todos estes aliados não podem alegar nenhum tipo de ignorância do carácter repressor daquele regime. A Anistia Internacional tinha vindo a documentar a enorme violação dos direitos humanos naquele país, e o próprio Departamento de Estado, no seu relatório confidencial, publicado no WikiLeaks, explicava com detalhe a corrupção e a repressão daquele regime. A história repete-se.

Uma última observação. Este artigo escrevi-o no mesmo dia em que o Presidente das Cortes Espanholas, o Sr. José Bono (membro destacado do PSOE), visitou a Guiné à frente de uma delegação parlamentar espanhola. Na Guiné existe uma das ditaduras mais brutais que existiram em África, dirigida por um dos ditadores mais sangrentos e repressivos que se conheceram naquele continente. E qual seria a minha enorme surpresa quando o socialista Bono o saudou indicando que "entre a Guiné e Espanha temos mais coisas que nos unem do que aquelas que nos separam".

Imaginam Pablo Iglesias a dizer algo semelhante a Hitler? Tal comportamento ofende não só qualquer socialista, mas qualquer cidadão com sensibilidade democrática. O que José Bono, que não merece representar o povo espanhol, estava a dizer com aquela frase é que os interesses econômicos da Guiné, a sua riqueza petrolífera, era mais importante que a denúncia do comportamento repugnante daquele ditador.

E esta é a razão pela qual os governos europeus (incluídos os seus partidos socialistas governantes) estão a apoiar governos ditatoriais como o de Túnis, perante a rejeição das suas populações.

[1] Ver o meu artigo O que não se sabe sobre o Egito, 17/02/2011.

Fonte: Vicenç Navarro

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segunda-feira, fevereiro 14, 2011

Tunísia e Egito: crise alimentar foi o combustível da ira popular - Michael R. Krätke

Mundo

Vermelho - 14 de Fevereiro de 2011 - 18h17
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Os distúrbios rebentaram depois de meses de inflação nos preços dos alimentos. Ambos os países se converteram nos precursores de uma nova crise alimentar mundial.

Michael R. Krätke*

Tinha sido anunciada no Verão passado: avizinha-se a próxima crise alimentar para a maioria da população mundial. As Nações Unidas alertaram para novas revoltas da pobreza no início de 2011. Disseram que a crise alimentar mundial de 2008, que levou os alimentos básicos a preços recordes e provocou revoltas sociais do México à Indonésia, poderia repetir-se. Ficou agora demonstrado que os funcionários da ONU tinham razão. Em 2008 a necessidade já tinha levado a sangrentos distúrbios nos países pobres, não apenas no Haiti, mas também no Egito.

O índice dos preços dos alimentos da Organização para a Agricultura e a Alimentação (FAO, na sigla inglesa) – uma cesta básica com trigo, milho, arroz, soja, açúcar, azeite e produtos lácteos – chegou ao seu ponto mais elevado desde 1990, primeiro ano da sua elaboração. Atingiu os 215 pontos, acima dos 213,5 pontos de junho de 2008, quando a crise alimentar atingiu o seu ponto culminante. Em dezembro passado os índices do trigo, azeite, milho, arroz, carne e leite pulverizaram todos os recordes: o milho registrou uma subida de 60%, o trigo de 43% e o açúcar de 77%. Inclusive na Europa do bem-estar os preços ao consumidor aumentaram, num ano que se despedia com inflação, enquanto noutras regiões do mundo se tentava travar a má nutrição e luta diária para a sobrevivência que a alta de preços provoca.

A maioria dos países africanos dependem hoje da importação de alimentos, enquanto os estados árabes, com o Egito à cabeça, se consolidaram já como os maiores importadores de cereais do mundo. Na Tunísia, em Argélia e no Egito as famílias têm de investir entre 40 e 50% dos seus recursos na compra de alimentos, de modo que a alta dos preços de 20 e até 25% que se viveu a partir de Novembro não pôde ser bem absorvida. Muito menos por uma população esmagadoramente jovem que sofre um insuportável desemprego. Sem trabalho não há salário, o pão é pouco e a carne ainda é menos. Não é, pois, qualquer surpresa que as pessoas tenham trazido o seu desespero para as ruas.

O governo de Mubarak subsidiou a importação de alimentos. Chegou a destinar 7% do Produto Interno Bruto (PIB) do país com o objetivo de manter (mal) a estabilidade dos preços. No entanto, está claro que esta medida não consegue compensar a alta dos preços do mercado mundial. No Egito, só a carne valia mais 25% que antes da mudança do ano, o que provocou que os restaurantes cairotas não tivessem já pratos de carne nas suas ementas. Ao fim e ao cabo quem é que os podia pagar?

Há que dar graças ao dinheiro barato

A atual crise alimentar compreende várias regiões do planeta apesar do que pode ser considerada em grande parte a boa colheita média de 2010, comparável com as de 2007 e 2008. Pela primeira vez, os principais governos dos países industriais declararam querer pôr fim à especulação nas bolsas de futuros. Naturalmente, o aplauso a estas medidas não é unânime: os economistas do sistema estão contra, a especulação não poderá influenciar nos preços das mercadorias porque estes são o resultado da oferta e da procura. Infelizmente, as bolsas de futuros funcionam de forma muito diferente, já desde meados do século XIX.

Mesmo que o volume do mercado de matérias-primas, especialmente dos mercados agrário e de alimentos, seja pequeno, comparado com o mercado de divisas ou de ações, nas últimas décadas ele cresceu de maneira clara e proporcionou a cada vez mais investidores um campo de ação lucrativo. Há já muito tempo que as bolsas de futuros de alimentos foram sequestradas pelos bancos, fundos de investimentos e hedge-founds, o que é o mesmo que dizer: sequestrados pelos especuladores profissionais melhor organizados.

O Goldman Sachs, o JP Morgan, o Barclays e o Deutsche Bank movimentam ali o dinheiro dos investidores, a quem, por sua vez, vendem certificados com enorme sucesso nas bolsas de futuros, extremamente atrativos para os possuidores de grandes fortunas, porque muitos destes fundos especiais ganham em pouco tempo 20% e mais em relação ao capital inicial. Como consequência, o dinheiro flui para o comércio de matérias-primas.

Grandes especuladores, fundos de investimentos ou hedge-founds individuais estão comodamente junto do computador, onde podem comprar sete, oito ou dez por cento da colheita mundial de cacau, arroz ou trigo. Os preços não são imperturbáveis. A quantidade de contratos futuros de alimentos que se comercializam nas bolsas de todo o mundo (sobretudo em Chicago) subiram como se fossem espuma. Dezenas de milhares destes contratos, com um volume de milhares de milhões, são exatamente iguais na hora das transações, onde os grandes bancos e os hedge-founds controlam em grande escala as matérias-primas e os alimentos e atuam inflacionando os preços.

A proposta da U.S. Commodity Futures Trading Commission (CFTC), na última semana de janeiro, de limitar a 25% os itens da especulação nas bolsas de futuros que um mesmo especulador pode ter ao mesmo tempo, diz tudo. Todavia, na Europa não há uma só norma que obrigue a informar sobre os derivados de valores agrários. Sem uma política de dinheiro barato e a inundação como a que a Reserva Federal estadunidense e outros bancos centrais propuseram não se verificaria este desenvolvimento. Os negócios especulativos de alimentos movimentam-se, como sempre, a crédito. O que foi válido em 2008 será válido em 2011.

O que os governos podem fazer contra a especulação – a compra de estoques alimentares, como o fazem a Arábia Saudita ou a Argélia, ou a proibição de exportações, como a Rússia e a Ucrânia – poderá gerar nos preços do mercado mundial um «boom» adicional. Não será nenhuma surpresa se até o Banco Mundial lançar um grito de alerta sobre a existência de uma guerra comercial à volta dos alimentos e das matérias-primas artificialmente encarecidas. Há muito que esta guerra se trava, sem qualquer piedade e com bons rendimentos

* Michael Krätke, professor de Ciência Política e de Economia.Publicado no Diario.info. Tradução de José Paulo Gascão

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quinta-feira, fevereiro 10, 2011

El Dominó Árabe

Lunes 7 de febrero de 2011 por CEPRID
PHYLLIS BENNIS
ZNET
Traducido para el CEPRID (www.nodo50.org/ceprid) por María Valdés
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¿Es así como finalizan los imperios, con la gente inundando las calles, exigiendo la dimisión de sus líderes y obligando a los dictadores locales a largarse? Tal vez no del todo, pero la amplitud y profundidad de las protestas, la difusión, la impotencia de los gobiernos apoyados por Estados Unidos para detenerlos, y la rápida disminución de la capacidad de los Estados Unidos para proteger a sus clientes desde hace mucho tiempo son sin duda la muestra de un nivel de fervor revolucionario no era visible en el Oriente Medio desde hace una generación. El legado de los gobiernos dominados por Estados Unidos en la región no será el mismo. El imperio de EE.UU. sobre los países ricos en recursos y estratégicamente vitales de Oriente Medio ha sido sacudido hasta sus cimientos.
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Hay en marcha un efecto dominó en el mundo árabe. Túnez fue la chispa, no sólo porque su levantamiento fue primero, sino porque el pueblo de Túnez ha ganado y huyó del dictador. Egipto sigue siendo para los Estados Unidos el más importante aliado árabe estratégico.
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La caída del dictador respaldado por EE.UU., Hosni Mubarak, quien ha estado en el poder durante más de tres décadas, podría significar el fin de la capacidad de Washington de apoyarse en El Cairo para evitar el nacionalismo árabe y la independencia. También marca el fin del papel de Egipto como colaborador en la ocupación israelí de Palestina. Pase lo que pase, lo más probable, aunque no inevitable, es que nunca más volverá Túnez a ser utilizado como punto de tránsito o Egipto como un "lugar negro" de las prisiones secretas de las agencias de EE.UU. dedicadas a la "rendición extraordinaria" de los detenidos para su interrogatorio y la tortura.
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Indicios del rechazo popular ya están en marcha en el Yemen y Jordania. Las otras monarquías respaldadas por EE.UU. y pseudo-democracias de la región están sintiendo el calor. El imperio de EE.UU. en la región se está desmoronando.
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Puntos de inflexión
Las alianzas de los últimos cincuenta años se rompieron, el viejo orden está terminando. ¿Qué será lo próximo? Como siempre ocurre cuando los procesos revolucionarios entran en erupción, es todavía demasiado pronto para decirlo. Las cosas se mueven lentamente hasta un punto de inflexión súbita, y entonces es demasiado rápida, demasiado brusca para mantenerse al día.
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La amplitud de la participación del pueblo es clave para entender las implicaciones de estos levantamientos.
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En Túnez, participan en las protestas los trabajadores y profesionales de clase media, pero fueron iniciadas por los desempleados privados de sus derechos, sin poder, y con educación. Mohammed Bouazizi, un hombre joven en la empobrecida ciudad de Sidi Bouzid, se prendió fuego en protesta no sólo por el desempleo sino la pobreza, la humillación y la degradación que enfrentó.
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Entre los cientos de miles a través de tunecinos, que marcharon, cantaron, exigieron y obtuvieron la abdicación de su dictador, miles son los jóvenes, hombres y mujeres cuyos títulos universitarios no han proporcionado seguridad, cuyas vidas se vieron limitadas por la falta de puestos de trabajo, la falta de oportunidades y la falta de esperanza.
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En Egipto, la participación fue aún más amplia. Los miles y cientos de miles de personas que llenan las calles, la más famosa la Plaza ocupada de Tahrir (Liberación), incluyen no sólo los más pobres de los tugurios urbanos de Egipto, labradores y campesinos. También se incluyen las clases medias, incluso muchos de los ricos, todos finalmente diciendo que no a la falta de dignidad y libertad en que viven. Su demanda era clara: no sólo la reforma, no sólo nuevas elecciones sino el fin del régimen de Mubarak.
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También es importante reconocer que las demandas en Túnez y más fundamentalmente en Egipto no se ven cerca de cumplirse. No manifiestan una oposición a los Estados Unidos, no hemos visto la quema de la bandera de EE.UU. o las multitudes atacar la embajada de EEUU. Ni siquiera critican los cerca de treinta años que Egipto viene colaborando con la ocupación de [Palestina] por Israel, especialmente su papel en el mantenimiento del sitio de Gaza. Su posición, tal vez el mejor punto, es la unidad política del país. La gente ha sido muy clara - y muy pública en los medios - sobre su conciencia y su indignación hacia el hecho de que los EEUU arme a Mubarak con las mismas armas con las que matan a manifestantes en las calles, esos botes de gas lacrimógeno “Made in USA” de Jonestown (Pensilvania). Pero las demandas de esta movilización se dirigen a cuestiones internas, encaminadas a cambiar la naturaleza de las estructuras de poder del país y su impacto en los ciudadanos. La política exterior va a venir un poco más tarde.
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El alcance del apoyo a la protesta también es crucial. En Túnez, la policía se dividió y muchos se negaron a disparar contra los manifestantes. El ejército en Túnez. A diferencia de Egipto y otros países, ha sido tradicionalmente apolítico, incluso en los niveles superiores, se negó a apoyar a la dictadura y de hecho fue un oficial de alto rango quien se hico eco de la demanda de los manifestantes para la renuncia de Zine el- Abidine Ben Ali.
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En Egipto, los organismos de seguridad y la odiada policía, con el respaldo de Mubarak y el Ministerio del Interior, intentaron reprimir con dureza las protestas pero a pesar de infligir numerosas víctimas, en muchas partes fueron simplemente dominados. Los miliares, por el contrario, en su gran mayoría se negaron a hacer frente al movimiento popular. Si bien el Ejército en su estrato superior es una cohorte privilegiada y estrechamente vinculada con el régimen de Mubarak, está compuesto de reclutas pobres que no estaban dispuestos a usar las armas contra sus conciudadanos. Apenas unos días después de la revuelta, los soldados, conductores de tanques, oficiales proclamaban con orgullo su unidad con el pueblo en las calles y eran recibidos con flores y dulces.
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A pesar de los1.500 millones de dólares o más en la ayuda militar que Washington ha proporcionado a Egipto cada año desde 1979, el gobierno de Mubarak no ha sido capaz de utilizar a los militares en contra de la revuelta popular.
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Los manifestantes en Túnez y Egipto están llamando a profundos cambios elementales en sus sociedades. No se trata de demandas económicas por sí solas, a pesar de terminar con la corrupción y la petición de puestos de trabajo, la educación y la salud. Estos no son sólo cuestiones de los derechos humanos, aunque la liberación de los presos políticos, así como los derechos de reunión y protesta están en el orden del día. Los manifestantes no son principalmente islamistas, aunque poderosos, pero siempre cautelosos los Hermanos Musulmanes de Egipto se unieron a las protestas callejeras el 28 de enero. (No es explícitamente secular tampoco). En Egipto, en especial los jóvenes, expertos en medios sociales y activistas con experiencia en la red, están jugando un papel de liderazgo inusual en la región, aunque recuerda a los jóvenes activistas del primer levantamiento palestino o intifada en 1987. Ellos se han ganado el respeto y la autoridad significativa de los antiguos líderes más experimentados con los que se han unido en una coalición amplia de oposición.
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Estas son movilizaciones para pedir el fin de no sólo décadas sino de generaciones de la dictadura y de una nueva era de la democracia y el poder popular. Están llamando a la democracia participativa y no sólo a nuevas elecciones, lo que hace a la región un conjunto mucho más difícil de controlar para los Estados Unidos.
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Paralelismos con América Latina
Las protestas de Egipto hasta el momento parecen más cerca de la destitución de las personas, como ocurrió con el dictador filipino Ferdinand Marcos en 1986, que ningún precedente internacional. Existen grandes diferencias entre las movilizaciones de Egipto y la movilización de Irán contra el sha de 1978-1979. Allí, las protestas masivas se compusieron principalmente de numerosos competidores, contendientes y movimientos sociales a veces antagónicas divididos en líneas políticas, sectarias y de organización.
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En el plano regional de Oriente Medio, no es algo que tenga un paralelo en los cambios del cono sur de América Latina en la década de 1980, cuando las dictaduras respaldadas por EE.UU. en Brasil, Argentina, Uruguay y otros fueron derribadas. La larga lucha por la democracia fue dirigida por experimentadas coaliciones políticas, coherentes en torno a amplios movimientos sociales progresistas, las federaciones sindicales, y partidos de izquierda que hicieron posible la negociación directa con el poder. A partir de Brasil, con el aumento del Partido de los Trabajadores, estos movimientos sociales lograron por vez primera poner fin a las dictaduras militares, a continuación, tomó la lucha aún más difícil contra los gobiernos civiles que siguen dependiendo de los EE.UU. y siguen apostando por los modelos económicos neoliberales que devastaron las poblaciones pobres e indígenas en todo el continente.
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Esas fuerzas sociales no tienen equivalentes exactos en el mundo árabe, donde años de mayor represión de los movimientos sociales (salvo en las mezquitas) las dejó relativamente menos orgánicamente unificadas. La democracia no se levantó de inmediato cuando las dictaduras militares fueron barridas en el patio trasero de Washington. Pero en ese gran bloque latinoamericano, donde las luchas populares continuaron, los Estados Unidos perdieron el control de esa zona estratégica, donde una vez reinó de manera suprema. Con las variedades de los gobiernos de centro-izquierda, progresistas en general sólidamente en el poder en Brasil, Chile, Argentina, Bolivia, Uruguay, Paraguay, y más allá, el imperio de EE.UU. ha sido debilitado, pero no ha sido derrotado. Tal vez sea un modelo que los movimientos sociales del mundo árabe, ahora aglutinador de todos el tunecino / modelo egipcio, buscan emular.
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La organización y la oposición: Túnez
Los manifestantes que ocupan las calles de Túnez, y la incapacidad / falta de voluntad de la policía y en especial de los militares a recuperar las calles para la dictadura, obligó a la caída del reinado de 23 años de duración Ben Ali, apoyado en su brutalidad y corrupción por EEUU. La oposición en las calles no surgió como un sistema unificado, con jerarquía disciplinada, organizada, sino más bien un poco anárquica, en parte espontánea y coordinada a menudo brillantemente por Twister e impulsada por fuerzas política y geográficamente dispares. Los líderes islamistas de la oposición tunecina, hace mucho tiempo obligados al exilio, parecen estar dispuestos a regresar a sus hogares para unirse a las protestas, pero al igual que sus homólogos egipcios no están tomando el control. Esta no es una revolución religiosa o sectaria.
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Es particularmente interesante que a medida que la oposición saborea su victoria, el único apoyo internacional que pidió no fue financiero o militar o diplomática, si no legal. Le pidieron a la Interpol hacer cumplir una orden de detención internacional para el ex dictador y su familia, así como por delitos contra la nación.
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Así Túnez, contra todos los pronósticos y expectativas, comenzó la trayectoria revolucionaria del Oriente Medio de hoy. Sin embargo, Túnez es un país relativamente pequeño, y ocupa un lugar insignificante en la lista de productores mundiales de petróleo (el 69). Ben Ali ha sido útil a los Estados Unidos (como en permitir vuelos de tránsito para ser interrogar detenidos), pero sin ninguna base militar de EE.UU. porque su valor estratégico era secundario. El presidente Barack Obama podría afirmar que "los Estados Unidos de América está con el pueblo de Túnez", en su discurso del Estado de la Unión.
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Egipto es otra historia. La siguiente frase en el discurso de Obama, que los Estados Unidos también "apoya las aspiraciones democráticas de todas las personas" de repente se convirtió en mucho más complicado.
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La organización y la oposición: Egipto
Si el pueblo de Egipto - con su unidad extraordinaria - logra ganar su llamado para la transformación estructural y no sólo a nuevas elecciones, la democracia participativa real y no sólo la reforma electoral, el más importante aliado de de Washington pronto será un conjunto mucho más difícil de controlar. La jugada de Mubarak, Omar Suleiman como su vice-presidente, provocó aplausos sin duda en la Sala de Situación de Casa Blanca - es un amigo de larga data de los militares de EE.UU. y de los funcionarios israelíes de todos los colores - pero acogido con burla en las calles de El Cairo. Ha sido durante años jefe de inteligencia de Egipto, aunque con un papel internacional principalmente. Él no era conocido por su participación directa en el régimen de los aparatos de represión y tortura, pero es ampliamente despreciado como uno de los más cercanos colaboradores de Mubarak. Su nombramiento no satisfará a nadie para pedir el fin del régimen de Mubarak.
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Por el momento, las calles de Egipto pertenecen a su pueblo. Los momentos icónicos poderosos siguen llegando en bruto y de forma rápida. El viernes, en el gran puente de El Cairo, un transporte blindado se trasladó al puente para obligar a los manifestantes a retirarse. Se movía entre la multitud, lentamente, pero la gente se volvió y se reunieron delante de él, obligándolo a detenerse a menos que el conductor estuviese dispuesto a estrellarse contra la multitud. No estaba, se retiró. A pesar de los resultados completamente diferentes, fue un momento que visualmente evocó la confrontación de 1965 entre la policía estatal y los manifestantes no violentos por los derechos civiles en el Puente Edmund Pettus en Selma, Alabama.
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Las protestas han sido extraordinariamente no violentas e inclusivas. El viernes,cuando los muecines cantaron la llamada desde los minaretes de las mezquitas de El Cairo, miles de manifestantes se alinearon en la calle para decir sus oraciones. Miles más no, estos no fueron las protestas religiosas, y los islamistas estaban simplemente presentes entre la multitud de personas. No estaban ni en las primeras filas ni controlando. En Suez, la estratégica ciudad contigua al Canal, 4.000 policías adicionales fueron enviados para hacer frente a las manifestaciones del viernes, pero no pudieron, con algunos uniéndose a los manifestantes. Una estación de policía, famosa por haber sido ocupada por Israel durante la guerra de 1967, fue el único objetivo de ese día. En Alejandría, la policía se dividió y no pudo recuperar el control de las calles.
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Ha habido saqueos, y la gente en muchos barrios ha respondido mediante la formación de equipos locales de guardia con puestos de control y en algunos casos, tomándose la justicia por la mano. Algunos de los saqueadores han sido capturados con armas, identificados como del gobierno y sin duda hay temor de una posible campaña por el régimen para crear la anarquía, sembrar el temor y el caos como la única. Pero hasta ahora, el valor ha triunfado sobre el miedo.
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Una relación incierta: Egipto e Israel
Una de las grandes incertidumbres es cómo el impacto de la transformación actual afectará a los lazos, orquestados por EEUU, entre Egipto e Israel. El tratado de paz de Camp David en 1979, el primero firmado por un estado árabe con Israel, sigue siendo la pieza central de la doctrina de la seguridad de Israel y el núcleo de la relación de EE.UU. y Egipto. Las autoridades israelíes, no es de extrañar, están aterrorizadas ante la perspectiva del colapso del régimen de Mubarak. Como ex embajador de Israel de Egipto señaló: "Las únicas personas en Egipto que están comprometidos con la paz son las personas del círculo íntimo de Mubarak y si el próximo presidente no es uno de ellos, vamos a estar en problemas".
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Tácitamente reconociendo que la relación de Israel con el gobierno egipcio es posible sólo porque no hay rendición de cuentas democrática en Egipto, el viceprimer ministro, Silvan Shalom, fue más allá, diciendo que "si los regímenes de vecinos del Estado de Israel son reemplazados por sistemas democráticos, la seguridad nacional de Israel de manera significativa se vería amenazada”.
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Sin embargo, dos cosas sobresalen. En primer lugar, las demandas de los manifestantes están mayoritariamente centradas en los problemas internos de Egipto - libertad, derechos humanos, economía – y aglutinadas en la demanda de poner fin a la dictadura de Mubarak. Aunque es cierto que la inmensa mayoría de la gente en las calles no están contentos con las décadas de de colaboración en la ocupación de Israel de Gaza y más allá, esta no es su prioridad. En segundo lugar, es poco probable que cualquier nuevo gobierno que llegue al poder, ya sea provisional o permanente, se encamine hacia una ruptura a gran escala con los Estados Unidos e Israel, como el "desconocimiento" del acuerdo de paz de Camp David. Aparte de todo lo demás, los 1.500 millones de dólares que los EE.UU. ofrecen de ayuda a Egipto cada año se basan en los términos de Camp David. Ningún gobierno egipcio nuevo es probable que renunciase a eso, al menos de inmediato.
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¿Qué es una posibilidad probable para cualquier nuevo gobierno, transitorio o provisional, buscando la credibilidad de su propio pueblo? Sin duda, sería un movimiento inmediato para abrir el paso fronterizo de Rafah entre Egipto y Gaza, lo que permite la libre circulación de personas y mercancías. Que no terminaría, pero neutralizará en gran medida de la ocupación israelí y el asedio de Gaza. Esto permitiría a los estudiantes palestinos llegar a sus escuelas en el extranjero, permitiría a los pacientes buscar tratamiento médico en Egipto o en otros lugares, y permitir que las familias simplemente saliesen del hacinamiento de la diminuta Franja que ha sido una prisión para los 1,5 millones de palestinos que allí por lo menos los últimos cinco años. Sería una gran jugada, que termina el apoyo del Estado árabe y el sustento de las políticas de ocupación de Israel. Hay un peligro, por supuesto, que la respuesta de Israel sería una afirmación de que debido a que Israel está ahora más aislado necesita más ayuda militar y un compromiso de EE.UU. para apoyar una aún más la postura agresiva en la región, tales como un nuevo asalto contra Gaza o Líbano o incluso un ataque contra Irán. Israel probablemente rechazaría cualquier pedido de EEUU de nuevas negociaciones.
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Sin embargo, dado el continuo fracaso de las conversaciones, ya que no está basado en los requisitos de los derechos humanos y del derecho internacional, el fin de la ilusión del "proceso de paz" podría ser una buena cosa. Se requerirá una gran cantidad de la educación y la movilización aquí en los Estados Unidos para mantener lejos a nuestro gobierno de un abrazo de un aún más militarizado Israel. Pero un nuevo Oriente Medio sin por lo menos algunas de las dictaduras respaldadas por EE.UU. en todo el mundo árabe, todavía significa nuevas posibilidades de una paz justa basada en el derecho internacional y los derechos humanos.
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El que está en juego para Washington
La apuesta de los Estados Unidos en el derrocamiento de Mubarak y el aumento de - lo que todos esperamos que sea - una verdadera democracia, un gobierno basado en las personas de una especie totalmente nueva en Egipto, no podría ser mayor. En el pasado, además de la relación con Israel, Estados Unidos necesitaba Egipto, el mayor país árabe, para asegurar que el resto del mundo árabe siguiese siendo un bastión pro-estadounidense. En 1991 los Estados Unidos estaba desesperado por una "coalición árabe" para unirse a su guerra contra Saddam Hussein, por lo que Egipto fue clave. A pesar de la oposición pública masiva, la aprobación de Mubarak llevó a la coalición árabe contra Irak. (Washington perdonó el 50% de la deuda externa de Egipto como gesto por este apoyo).
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La pregunta ahora es ¿qué ha cambiado? ¿Tiene temor Washington todavía a que una verdadera independencia de Egipto sea peligrosa, porque el mantenimiento de los aliados árabes esclavos sigue siendo clave para mantener la hegemonía de EE.UU. en todo el Oriente Medio? Los Estados Unidos tiene bases militares en Egipto, vale la pena Egipto para garantizar su acceso y control efectivo del canal de Suez, y se basa en Egipto para llevar a cabo el interrogatorio por todos los medios necesarios a los detenidos en la llamada "guerra global contra el el terror" ¿Qué podría ser diferente ahora?
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Durante la Guerra Fría, Washington temía que la falta de alineación de Egipto [fue uno de los fundadores del Movimiento de Países no Alineados] realmente significaba que estaba en el campo soviético, la estrategia de EE.UU. fue a sacarlo. En 1956 cuando Israel, Gran Bretaña y Francia atacaron Egipto en una campaña para arrebatarle el control del Canal, los Estados Unidos se pusieron del lado de Egipto para detenerlo, dando una nueva influencia EE.UU. en El Cairo. Pero no fue hasta 1970, cuando el presidente Gamal Abdel Nasser murió y llegó al poder Anwar Sadat que Estados Unidos logró sacar a Egipto totalmente del campo de los nacionalistas árabes y los movimientos no alineados y ponerlo en su propia órbita. Cuando el presidente Jimmy Carter negoció el tratado de Camp David en 1979 con Sadat y el primer ministro israelí Menachem Begin, Egipto fue aislado en todo el mundo árabe. Sadat fue asesinado en 1981 como consecuencia de ello. Mubarak ha estado en el poder desde entonces.
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Otros gobernantes árabes como el rey saudita Abdullah y el rey jordano Abdullah II están en el lado de Mubarak: Abdullah ha "condenado" las protestas, y Abdullah II fue "tranquilizado" en una llamada con Mubarak. Según al-Jazeera, los medios de comunicación oficiales palestinas informaron de que el presidente palestino, Mahmoud Abbas, llamó por teléfono a Mubarak y "reafirmó su solidaridad con Egipto y su compromiso con su seguridad y estabilidad". Traducción: "Egipto" = su régimen, no su pueblo. De hecho el 29 de enero, según Human Rights Watch, la fuerza de Abbas en Ramallah, la policía disolvió una manifestación palestina en solidaridad con Egipto.
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¿La administración de Obama empieza a comprender los límites de la capacidad de Washington para influir, y controlar, en los acontecimientos en el país árabe que durante mucho tiempo ha visto como su aliado más cercano? ¿O se trata, como en 1978, pocos meses antes de que el Shah de Irán fue obligado a salir del poder por un levantamiento popular masivo, cuando Carter brindó por el sha como una "isla de estabilidad" en Oriente Medio?
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Los funcionarios de la administración Obama no han sido sordos. Por lo menos retóricamente, hay un cierto reconocimiento de que este es ya un muy nuevo Oriente Medio. El 26 de enero, el presidente Obama expresó su apoyo a un gobierno que responda a las aspiraciones del pueblo egipcio. La secretaria de Estado Hillary Clinton reconoció que el nombramiento de un vice-presidente y nuevo primer ministro no fue suficiente para responder a las preocupaciones de su pueblo. Eso es importante - la defensa del régimen de Mubarak y su versión de "estabilidad" ya no es el único tema sobre la mesa de EEUU. Pero sin embargo no lo están haciendo muy bien todavía. El portavoz de Clinton, PJ Crowley, admitió que el gobierno estaba "viendo" la ayuda militar concedida a Egipto todos los años, pero no dijo que Washington estuviese dispuesto a cortarla. Tanto Obama como Clinton están haciendo hincapié en la necesidad de una "ordenada" transición - y dado que el actual levantamiento popular en las calles no plantea eso lo de ordenada suena muy parecido a este gobierno no está aceptando esta transición en sus propios términos.
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Clinton declaró explícitamente que Estados Unidos no ayudaría a reformas que no lleven a la democracia. Y en una clara referencia a la Hermandad Musulmana, dijo que Washington no favorece una transición donde eche raíces una nueva forma de opresión. Una se pregunta, si Obama y Clinton piensan realmente que EEUU todavía tiene el poder, y mucho menos la derecha, para decidir lo que es una transición lo suficientemente "ordenada". ¿Es realmente Washington el que tiene que elegir el tipo específico de democracia o de fuerzas que que pudieran ser admitidas a participar en un gobierno de transición post-Mubarak?
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La esperanza
Ciertamente, todas estas consideraciones pueden cambiar rápidamente. La aparición de una oferta específica de negociaciones por el frente amplio de oposición conocido como la Coalición Nacional para el Cambio, liderada por el ex jefe de la Atómica OIEA y premio Nobel, Mohamed ElBaradei, podría significar un cambio en la posición de Washington. Si el gobierno de Obama deja claro que se trata de poner fin al apoyo financiero para Mubarak, y que da la bienvenida a las negociaciones como base para una verdadera solución de la crisis, los debates de urgencia podría tener lugar de inmediato entre el régimen de Mubarak y la oposición que podría llevar rápidamente a Mubarak y sus principales funcionarios a dimitir y una transición a un gobierno interino.
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Por supuesto que tal medida podría tener lugar de cualquier manera sin la aprobación de EEUU. Pero en un momento en que parece haber por lo menos un mínimo de reconocimiento en la Casa Blanca acerca de la profundidad de este mar de cambios en Medio Oriente, tal vez no es demasiado esperar que el gobierno de Obama tratará de moverse con la historia, y no en contra. La presión está en marcha. La oposición de Egipto ha llamado a una huelga general el lunes, 31 de enero y el martes, 1 de febrero para una "protesta de los millones".
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EE.UU. se enfrenta a un desafío estratégico en el Medio Oriente más allá incluso de lo que muchos estrategas de la Casa Blanca y del Pentágono reconocen. Los años en los que Washington tenía la última palabra en la región basada en las exigencias del petróleo, Israel y una versión de "estabilidad" han quedado definitivamente atrás. Una posibilidad es que los EE.UU. simplemente pierdan, una pieza más del imperio que se desmorona. Al igual que en América Latina, donde las dictaduras militares respaldadas por EE.UU. dieron origen a las versiones civiles con respaldo de Washington mientras continuó apoyando a los militares pero finalmente perdió el poder ante unos movimientos sociales organizados exigiendo mucho cambios más fundamentales, los EE.UU. sólo podría perder influencia en el Oriente Medio.
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Hay, sin embargo, otra posibilidad, a través del cual EE.UU. - no Washington, sino el pueblo de los Estados Unidos - en realidad podría ganar una mayor influencia, mayor seguridad real y mayor estatura en el mundo. Para ello sería necesario algo más que una "nueva estrategia en Oriente Medio." Eso significaría cambiar la misma definición de "estrategia" e "intereses estratégicos" que ha dado forma a la política exterior de los EE.UU. durante generaciones. Si la administración Obama adoptase un enfoque totalmente diferente, basado en un compromiso real con la igualdad global y el internacionalismo, un serio compromiso con el derecho internacional y el respeto de otras naciones, una nueva comprensión de los derechos de las personas, no sólo los gobiernos, para determinar su propio futuro, imagínense lo que sería una "nueva estrategia para Oriente Medio". El imperio de EE.UU. se derrumba en el Oriente Medio.
Los verdaderos intereses del pueblo de los Estados Unidos no tienen por qué hacerlo.
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Ya Washington ha perdido una gran parte de su poder e influencia en la región. Pero como mi colega y experto regional Joshua Landis, señaló, “mientras Bush habló de democracia y promovió la guerra civil y las dictaduras, tal vez Obama sea recordado como el presidente de los EEUU que dejó caer a los dictadores y apostó por la democracia”. Esa no sería una mala herencia.
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Phyllis Bennis es miembro del Instituto de Estudios Políticos de EEUU.
Nota del CEPRID: este artículo fue escrito el día 30 de enero. La rapidez con que se producen los acontecimientos hace que algunas partes se hayan quedado algo desfasadas, pero el análisis global que hace no pierde valor alguno.

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sábado, fevereiro 05, 2011

Fogo e tempestade no mundo árabe por Henrique Rattner


blog da Revista Espaço Acadêmico

ISSN 1519-6186, mensal, ANO X


Posted: 05/02/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colunista da REA
por HENRIQUE RATTNER*
FEA/USP
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A auto-imolação de um jovem tunisiano de 26 anos de idade em dezembro de 2010 foi o estopim de uma onda de protestos e revoltas contra as autoridades ditatoriais e opressores no mundo árabe que se estende desde o Atlântico até o Oceano Índico. São 320 milhões de pessoas que vivem no imenso território da África do Norte, de quase 11 milhões de km², divididos em países por fronteiras artificiais impostas pelos ex-colonizadores europeus nas primeiras décadas do século XX, outrora dominados pelos sultões turcos, a partir da distante Istambul. Com o desmoronamento do império otomano na primeira guerra mundial, França e Inglaterra dividiram entre si os espólios, impondo reis fantoches (Iraque, Jordânia) ou ditadores submissos aos interesses das metrópoles. Em todos esses países instalaram-se oligarquias que, ávidas de enriquecer, usurparam os recursos naturais e as rendas provindas do comércio exterior, enquanto mantiveram seus súditos na mais absoluta miséria.
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Com o fim da era de colonização no período pós-segunda guerra mundial, a inexistência de instituições republicanas, a ausência de eleições e de liberdades civis levou a que o poder caísse nas mãos de ditadores militares, desde a Argélia, passando pela Líbia, Egito, Iraque e Síria, ladeados do lado ocidental pelo reino dos Marrocos e no oriente pelos monarcas autocráticos da Arábia Saudita, Kuwait e Emirados.
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A partir da década dos oitenta do século vinte, os países da América Latina e do sudeste asiático derrubaram os regimes ditatoriais e iniciaram um período de democratização de suas instituições, com o estabelecimento do estado de direito, das liberdades civis e da imprensa. A principal conseqüência dessas transformações sociais e políticas foi um processo de crescimento econômico, alimentado por investimentos de capitais internos e estrangeiros, resultando em melhoria significativa das condições de vida, sobretudo da massa de pobres e carentes do mínimo para a sobrevivência. Outro resultado foi um processo intenso de mobilidade social ascensional que levou à incorporação das classes C e D ao mercado de trabalho e de consumo.
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Essas transformações parecem ter passado despercebidas ao largo do mundo árabe, caracterizado por regimes autocráticos, ditatoriais e politicamente retrógrados, embora apoiados por razões econômicas e geopolíticas pelas potências ocidentais. As pressões acumuladas de insatisfação e revolta estouraram e se propagaram por toda a região na virada dos anos 2010/2011.
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O movimento de protestos e de contestação dos regimes iniciou-se na Tunísia, após a morte de um jovem vendedor ambulante que teve sua banca de frutas confiscada, sendo ofendido e espancado pela polícia. Vinte e sete dias após o estouro das manifestações, o ditador Zine El Abidine Ben Ali fugiu do país para a Arábia Saudita, levando em sua bagagem uma e ½ toneladas de ouro, além de outros valores. As manifestações contra os regimes ditatoriais não pararam nas fronteiras da Tunísia. Ao contrário, violentos protestos irromperam na Argélia e, sobretudo, no Egito, governado com mão de ferro pelo general Hosni Mubarak, há mais de 30 anos e que transformou no epicentro da revolta das massas árabes.
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O Egito é o mais populoso e, relativamente, o mais rico país da região, com quase meio milhão de forças armadas, generosamente supridas com armamentos modernos pelos Estados Unidos. O Egito vive, há mais de trinta nos, sob a lei de emergência que suspende os direitos civis e a liberdade da imprensa. Mas, tal como nos outros países da região, o Egito sofreu profundas transformações sociais que ocorreram nas últimas décadas, sem que a economia acompanhasse as demandas crescentes de uma população jovem, melhor educada e ansiosa de ingressar o mercado de trabalho e de consumo urbano. A expectativa de vida subiu de 51 para 70 anos; a mortalidade infantil caiu de 98 para 38 mortos para cada mil nascimentos e a proporção da população em idade escolar aumentou de 34% para 64%. Apesar de uma alta taxa de analfabetismo total de 40%, entre os jovens na faixa de 15-24 anos ela caiu para 10% entre os homens e 18% entre as mulheres. A população urbana cresceu de 30% para 60% de um total de 320 milhões, com a conseqüente concentração de favelados, mendigos e miseráveis que sobrevivem com menos de um  dólar por dia nas grandes cidades ( Cairo tem mais de 14 milhões de habitantes) enquanto as riquezas são concentradas nas mãos de uma elite parasita e corrupta que se apropria das receitas da exploração de gás, petróleo e do turismo. A taxa de desemprego é alta – varia de 10% no Egito a 30% na Líbia e na Mauritânia, aumentando a frustração e revolta dos jovens que observam o fausto e o consumo opulento das elites, expostos pelos meios de comunicação modernos, a TV via Satélites, os celulares, a internet e a onipresente Al Jazeera cujo noticiário está ao alcance das massas. Em vão os governantes árabes tentaram cortar as comunicações e os contatos com a TV e a internet. A revolta alastrou-se, convocando para a praça pública dezenas de milhares, apesar do toque de recolher imposto pelos governantes. Até esta data (3/2/2011), mais de quinhentas pessoas teriam sido mortas e mais de duas mil feridas pela polícia que ainda obedece às ordens do ditador, embora o exército tenha se contido de intervir como força repressora.
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Paradoxalmente, o Egito tem perdido espaço e potencial econômico sob o governo do coronel Nasser e, posteriormente, sob Anwar Sadat, assassinado em 1981 e de Hosni Mubarak. Com poucas indústrias e uma agricultura de subsistência, a economia e o comércio do Egito perderam seu fôlego, apesar da nacionalização do Canal de Suez nos anos de 1950 e a construção pela ex-União Soviética da represa de Assua. Os elementos mais dinâmicos, empresários e profissionais, em sua maioria de origem estrangeira, foram expropriados e expulsos pelo governo sob Nasser, sem que houvesse substituição de empreendedores, comerciantes e profissionais formados pelo sistema educacional egípcio, com o conseqüente empobrecimento das massas.
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Apesar de toda a efervescência e expectativas de uma democratização no maior e mais importante país da região, paira a sombra do regime dos aiatolás no Irã, herdeiro do regime autocrático do Xá Reza Palevi, derrubado em 1979 por um levante popular liderado pelos pregadores islâmicos. A ausência de partidos políticos e de uma sociedade civil organizada, participante efetivo de um processo político democrático, abriu um vácuo de poder  preenchido pelas milícias fanáticos que se regem pelas leis da Sharia, totalmente opostas ao estado de direito moderno. Observadores e analistas políticos discutem sobre o provável papel da Irmandade Muçulmana, maior grupo oposicionista que, apesar de proibido e perseguido pelo regime, ganhou 80 assentos no parlamento nas últimas eleições. A percepção e a consciência de que regimes não democráticos constituem uma anomalia no mundo moderno são muito agudas entre os jovens manifestantes, avessos a um regime militar e ditatorial. Apesar das advertências do ministro do Interior que as manifestações de rua não seriam mais toleradas, dezenas de milhares de pessoas desafiaram a ordem de recolher, colocando fogo em veículos e edifícios públicos. As massas parecem simpatizar com os manifestantes que clamam por democracia e saudaram a volta de Mohamed ElBaradei, prêmio Nobel da Paz e cientista respeitado que chefiou a AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica, considerado como possível candidato à presidência de um governo de transição.
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A cada dia, aumentam as pressões e manifestações populares o que levou o ditador a prometer pela TV, a sua saída do cargo, exigindo um prazo de seis meses durante o qual seriam convocadas novas eleições. Tanto Mohamed ElBaradei quanto os líderes da Irmandade Muçulmana recusaram e denunciaram o gesto como manobra de protelação. Numa nova manifestação na Praça Tahrir, o centro de Cairo, muitos participantes levantaram seus sapatos sobre suas cabeças, considerado um sinal extremamente ofensivo no mundo árabe. A cada dia que a crise se prolonga, a economia egípcia sofre pesadas perdas. O turismo, principal fonte de renda do país, praticamente parou e os estrangeiros lotam os aeroportos para retornar a seus países. O comércio fechou as portas e os preços de produtos alimentícios sumiram do mercado, provocando alta exagerada dos preços.
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Outro problema que se vislumbra no horizonte com a provável mudança de governo no Egito, é a relação com o Estado de Israel. Durante quase trinta anos, após a assinatura de um tratado de paz com o Egito e a Jordânia, as hostilidades cessaram e voltou à tranqüilidade nas fronteiras, mesmo durante os conflitos armados com o Hezbola e o Hamás.  Também, sinal significativo de mudança na política externa, é a mensagem dirigida pela secretária de Estado Hilary Clinton ao ditador, cobrando uma “transição rápida e ordenada” do poder. Isto ocorre poucos dias depois da manifestação do vice-presidente dos EUA, Joe Biden, afirmando que “Mubarak não é um ditador”. Outra manifestação esdrúxula do mundo ocidental veio da França onde a ministra de Relações Exteriores propôs o envio de tropas francesas à Tunísia, para “restabelecer a ordem”!
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Ao mesmo tempo em que crescem as manifestações no Egito, novos focos de protestos surgiram em outras capitais do mundo árabe, com destaque à auto-imolação de duas pessoas em Rabat, capital dos Marrocos. Do outro lado do mundo árabe, ocorreu a dissolução do governo e a destituição do primeiro ministro da Jordânia, pelo rei Abdullah 2º, acompanhada de promessas de reformas e o anúncio de convocação de eleições municipais, “o mais rápido possível” pela Autoridade Palestina, pela primeira vez em cinco anos. A TV Al Jazeera que cobre todos os acontecimentos no mundo árabe, continua a irradiar notícias, apesar da proibição do governo e o confisco dos equipamentos pela polícia.
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Tal como na Tunísia onde o comandante-chefe das forças armadas  pronunciou-se a favor do movimento de protestos e de reivindicação por democracia, também no Egito, o exército – passivo diante as demonstrações – terá um papel fundamental na restauração da normalidade, ao garantir o estado de direito, o fim da corrupção e uma melhoria das condições econômicas.
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Há décadas que os países árabes têm sua dignidade ferida por regimes corruptos, autocráticos e opressores. Entretanto, tanto os Estados Unidos quanto os países europeus sustentaram esses regimes, com receio de uma radicalização islâmica. Esta atitude míope parece estar mudando com o pronunciamento de Barak Obama que elogiou a “coragem e a dignidade” do povo tunisiano. Mas, a radicalização dos movimentos exige mais do que declarações retóricas a favor da democracia. A onda de protestos e manifestações que varre o mundo árabe proporciona ao ocidente a oportunidade de mudar sua atitude de hipocrisia de apoiar com bilhões de US dólares e fornecimento de armas sofisticadas aos regimes claramente obsoletos, necessitando urgentemente de reformas profundas. O pendulo da História está em pleno movimento, evidenciando ventos de mudança no mundo árabe, inclusive nas monarquias reacionárias da Arábia Saudita, dos Marrocos, da Jordânia e dos Emirados. Mas, as centenas de mortos e milhares de feridos em choques com as “forças da ordem” nas cidades de vários países pronunciam dias sombrios de incertezas e mais confrontações e violência no mundo árabe.
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* HENRIQUE RATTNER é Professor da FEA (USP), IPT, membro da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Lideranças (ABDL) e colunista da Revista Espaço Acadêmico.
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quarta-feira, fevereiro 02, 2011

Egito: “A grande peça” do tabuleiro de xadrez do Oriente Médio? por Ubiracy de Souza Braga

blog da Revista Espaço Acadêmico

ISSN 1519-6186, mensal, ANO X

Posted: 02/02/2011 by Revista Espaço Acadêmico in colaborador(a), política internacional

UBIRACY DE SOUZA BRAGA*
Para Régia Agostinho, com admiração.
Desconfia duma nação de mercadores ambiciosos que na Índia negocia com as vidas e as coroas dos soberanos”. (Karl Marx & Friedrich Engels, Sobre o colonialismo. Vol. 1. Lisboa: Editorial Estampa, 1978, p. 106).
Este ensaio tem como parti pris um excerto publicado no New-York Daily Tribune, de 7 de janeiro de 1857, coisa rara, em termos da mediocridade dos jornais em geral no Brasil, e particularmente esses pasquins como temos o jornal O Povo, na cidade de Fortaleza, passados mais de 150 anos para não falarmos, no resto mundo:
“´desconfia duma nação de mercadores ambiciosos que na Índia negocia com as vidas e as coroas dos soberanos`. Para roubar um ladrão, arranja outro ladrão. Em Teerã, a capital da Pérsia, a influência inglesa é muito reduzida, porque, não contando com as manobras russas, a França ocupa uma posição proeminente e, dos três piratas, a Pérsia pode recear mais os britânicos. Neste momento, está a caminho ou talvez já tenha chegado a Paris uma embaixada da Pérsia, e o problema persa será o tema das disputas diplomáticas naquela cidade” (cf. Marx – Engels, 1978: 106).
Atualmente, 80 milhões de pessoas vivem no Egito. Dois terços são jovens com menos de 30 anos – e 90% deles estão desempregados; 40% da população vivem com menos de dois dólares por dia. É o país árabe mais populoso, têm liberdades políticas limitadas e graves problemas sociais, incluindo, pobreza, desemprego, forte preconceito étnico e racial por parte dos Estados Unidos da América – EUA, alta taxa de analfabetismo, além de vários escândalos de corrupção administrativa. Estatisticamente falando, o país ocupa a trágica 101ª posição, se refletirmos em termos de civilização, no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da ONU – Organização das Nações Unidas. As mobilizações populares na Tunísia, no Egito, no Iêmen e em outras regiões, são um alerta para o chamado “mundo desenvolvido”, se conforme entendemos, “desenvolver-se é vir a ser aquilo que se é”, e de fato seria um grande avanço para a “democracia como valor universal” (cf. Coutinho, 1972; 1979; 1984), se esta região que permanece “imersa na violência, [sobretudo a condição feminina], em fraudes eleitorais e miséria crescente da população recebesse o devido apoio de solidariedade internacional”, nesse momento da globalização política.
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No exterior, se me permitem uma digressão, o letrado e escritor marxista, baiano, vivendo no Rio de Janeiro, ensinando em universidades, Carlos Nelson Coutinho viveu na Itália, em Portugal e na França. Ficou impressionado com as exigências de renovação que se manifestavam no chamado “eurocomunismo”. Aprofundou seu vínculo ético-político com o Partido Comunista Italiano – PCI e, relendo os escritos de Antônio Gramsci, do qual tem sido tradutor e ensaísta, donde extrairá além das posições teóricas do fundador do PCI, implicações e consequências que foram além do alcance das interpretações feitas na época em que o havia traduzido para o português. Isto é importante. Voltou ao Brasil no final de 1979, quando já se percebia a chegada da Anistia (que se supunha ampla, geral e irrestrita), com aqueles militares idiotas indo para o armário com seus pijamas sujos. Lançou, então, um ensaio que repercutiu como uma verdadeira “bomba” no pensamento político de esquerda brasileiro, intitulado: “A democracia como valor universal”, publicado no n.º 9 da revista Encontros com a Civilização Brasileira e depois incluído no livro A democracia como valor universal e outros ensaios, que teve duas edições, uma pela Livraria Editora Ciências Humanas e outra pela Salamandra.
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É notável a sua weltanschauung quando afirma:
“a cultura universal, assim, não era algo externo, imposto pela força, à nossa formação social, mas sim algo potencialmente interno, que se ia tornando efetivamente interno à medida que (ou nos casos em que) era reconhecido e assimilado por uma classe ou bloco de classes ligado ao modo de produção brasileiro. Nascido no momento em que se forma o mercado mundial, e como consequência de sua expansão, o Brasil – desde sua origem – já é herdeiro daquele patrimônio cultural universal de que falam Marx e Engels. A história da cultura brasileira, portanto, pode ser esquematicamente definida como sendo a história dessa assimilação – mecânica ou crítica, passiva ou transformadora – da cultura universal (que é certamente uma cultura altamente diferenciada) pelas várias classes e camadas sociais brasileiras. Em suma: quando o pensamento brasileiro importa uma ideologia universal, isso é prova de que uma determinada classe ou camada social de nosso País encontrou (ou julgou encontrar) nessa ideologia a expressão de seus próprios interesses de classe” (cf. Coutinho, 1979: 23, grifos do autor).
Tema que pra quem não viveu esta questão, não sabe sobre a degradação humana, seja como fardo de farda, seja como “viado degradado nos campos de concentração” (cf. Arendt, 1980; 1999). Nesse ensaio – como notou Francisco Weffort (cf. Weffort, 1968a; 1968b; 1972), intelectual importante, dentro e fora da Academia, pela aproximação com Luís Inácio Lula da Silva – Lula – um marxista empreendia sobre a questão democrática uma reflexão mais vigorosa do que aquela que até então vinha sendo feita pelos liberais, mesmo os liberais radicais, conforme as acepções no âmbito da teoria política clássica, como Raimundo Faoro o fizera, no premiado ensaio Os Donos do Poder, de 1947, cito de memória. Fazia uma opção radical pela democracia, daí a ideia vulgarizada por Francisco Weffort no livro: “Porque democracia”?, que trazia com ela uma proposta de socialismo necessariamente nova, capaz de absorver elementos provenientes da tradição liberal, como a preservação dos direitos humanos e garantias individuais, o fortalecimento da cidadania, a proteção das minorias, o pluripartidarismo, o respeito à alternância no poder, etc. progênie de um “sindicalismo de resultados”, mas que não trataremos agora (cf. Braga, 1991).
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Mutatis mutandis, no que se refere à história social do Egito propriamente dita teve uma grande evolução nas últimas décadas. As periodizações tradicionais, de “três reinos” autoritários e centralizados, intercalados por três períodos intermédios e seguidos de uma época de decadência, se têm respeitado por razões práticas e pedagógicas, mas não refletem de forma alguma, do ponto de vista estético, artístico, político e filosófico as vicissitudes da história interna do Antigo Egito. Na bibliografia tradicional é frequente, se seguirmos nessa direção, a utilização do conceito de “Império” aplicado à periodização de controle centralizado, mas o uso desta terminologia procede simplesmente de uma interdição da palavra alemã Reich utilizado por Lepsius, e cuja tradução correta é Estado. Mas em nosso modo de entender, ultrapassando a ideia clássica de Marx & Engels do Manifesto Comunista de 1848, enquanto “comitê executivo da classe dominante”, são e representam pois, todas e quaisquer práticas que produzem efeitos de poder político (Foucault, 1979; 1984). A bibliografia de língua inglesa e francesa, para sermos breves, por razões de suas próprias idiossincrasias utilizam os conceitos de Kingdom e de Empire respectivamente. Contudo, o termo reino seria o mais adequado para a realidade dos Egípcios que só tiveram de território conquistado fora do seu país durante o reino médio e novo e não em toda a duração da sua história até nossos dias.
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Do ponto de vista ideológico, se quisermos concordar com o maior filósofo marxista desde a década de 1970, sem termos que ser precisos quanto a isso, o fato é nessa definição, “a ideologia é a relação imaginária do homem com as suas condições reais de existência” (cf. Althusser, 1970; 1972; 1974), pois está que diferenças importantes entre os levantes na Tunísia e no Egito têm sido apontadas: a) pelo articulista Gilles Lapouge, no jornal O Estado de São Paulo. Segundo ele, a primeira nação pretendia-se “moderna, laica e tolerante”; por lá, a educação é notável, com jovens muito cultos. Ou seja, “na Tunísia, são os jovens universitários que estão na origem dos tumultos”.
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No Egito, quase não se veem estudantes. Estão lá, “mas na espera”. Mesmo reconhecendo afastamentos, no entanto, Lapouge admite as semelhanças entre os dois processos históricos. “Tanto no Cairo quanto na Tunísia, as ações são conduzidas por jovens e o fundamentalismo islâmico se mantém discreto”; b) já o jornalista Raphael Tsavkko Garcia pondera, talvez sem saber, aludindo à formulação ideal típica weberiana, pois admite que: “somente a legitimidade popular garante a sobrevivência de um regime. Chega um momento em que a pressão da população, a desobediência civil e o descontrole causado pelo não funcionamento das estruturas mais básicas do Estado acabam por destruir as bases desse mesmo Estado”.
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Contudo, com as aparentemente duras críticas ao “silêncio” da nossa mídia, que acaba por transformar o Egito quase em um “ilustre desconhecido”, para utilizarmos esse jargão, o também jornalista Eduardo Guimarães avalia, que: “os choques entre população” egípcia e as forças de repressão da ditadura estão sendo de um grande didatismo para a humanidade, ao deixarem claras as hipocrisias americana e midiática, como de fato no Brasil, que mantêm regimes contrários aos EUA, “sob fogo cerrado”, enquanto silenciam sobre os regimes simpáticos à potência decadente do Norte do hemisfério, por mais criminosos que sejam. A “Revolução de Jasmim” na Tunísia, os levantes no Egito e outros protestos políticos no chamado “mundo árabe” são o estopim de um modelo há muito esgotado. Talvez ponha em xeque tanto a capacidade de povos majoritariamente islâmicos de viver em democracia, quanto das grandes potências imperialistas e racistas como os EUA do ambiente internacional de aceitar os “produtos políticos” dessas sociedades. O que está em jogo aqui é a análise de conjuntura. Ou seja,
a l`aide d`une analyse objective des structures de la société capitaliste, Marx aurait démontré  que ces structures ´se transformeront nécessairement em structures socialistes. Lenine cite les passages que Marx avait déjà empruntés à son interprète russe de l`époque: Marx considérait la critique, non  comme la confrontation entre un fait et un ideal, mais entre un fait et un autre fait. La théorie doit `rendre fidèlement le véritable processos, et rien plus`, tandis que la perispective d`avenir, ou programme d`action, reste suffisamment ouverte, limitée à quelques indications générales, soucieuse de déceler les éléments déjà presentes, et qui donnoront naissance à la future société. ´Aucun marxiste n`a jamais fondé ses conceptions sócio-démocratiques sur autre chose que sur la concordance de la théorie avec la réalité, et sur l`histoire des conditions sociales et économiques donées´” (Fleisher, 1978: 281, grifado no texto).
O mundo Árabe se revolta: em 17 de dezembro, o vendedor de vegetais tunisiano Mohamed Bouazizi ateou fogo em si mesmo depois que a polícia confiscou seus produtos. Bouazizi morreu semanas depois, tornando-se um mártir para multidões de estudantes e desempregados que questionavam as condições de vida no país. Após um mês de protestos nas ruas, em 14 de janeiro o presidente Ben Ali encerrou um período de 23 anos no poder e fugiu do país, criando uma situação inusitada: o vazio no poder. Pela primeira vez em várias gerações, um líder árabe caiu devido a protestos públicos, o que foi visto como um alerta para o restante da região, ainda dominada por regimes autocráticos. Na Argélia, no começo de janeiro, cinco dias de protestos violentos contra a carestia deixaram cinco mortos e mais de 800 feridos. O governo ordenou cortes nos preços dos alimentos básicos e prometeu continuar subsidiando o trigo, o leite e a eletricidade. Em 22 de janeiro, a tropa de choque da polícia dispersou uma manifestação pró-democracia proibida. Vinte pessoas ficaram feridas. Duas auto-imolações fatais e seis tentativas de suicídio com fogo foram registradas desde 14 de janeiro. O mauritano Yacoub Ould Dahoud ateou fogo ao próprio corpo em um protesto contra o governo em 17 de janeiro por estar “infeliz com a situação no país e furioso com o governo”.
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No Sudão, um jovem sudanês de 25 anos que havia ateado fogo em um subúrbio de Cartum morreu em decorrência dos ferimentos. O descontentamento generalizado com a economia e a política no Norte do Sudão levou a protestos esporádicos nas últimas semanas. Na Jordânia, milhares de jordanianos tomaram as ruas de Amã e outras cidades do país em 14 de janeiro para protestar contra os preços das comodities em elevação, o desemprego e a pobreza. Em 16 de janeiro, mais de 3 000 sindicalistas, islamitas e esquerdistas jordanianos sentaram em frente ao Parlamento em protesto contras as políticas econômicas do governo. No dia 21, mais de 5 000 pessoas participaram da marcha após as orações semanais em Amã e em outras cidades jordanianas. Em Omã, por exemplo, duzentas pessoas protestaram em 17 de janeiro contra a carestia e a corrupção, um fato raro na monarquia do Golfo Pérsico. No Iêmen, a polícia iemenista dispersou centenas de manifestantes que cantavam slogans pró-Tunísia na Universidade de Sanaa, em 18 de janeiro.
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A explosão do modelo político já era esperada por analistas políticos e mesmo que um ou outro regime consiga sobreviver aos levantes populares recentes, os governos não passarão sem reformas políticas. Sem reformas há revolução; sem sexo há traição. O paradigma, oriundo da chamada Guerra Fria e, recentemente, amplamente interligado aos atentados de 11 de Setembro às torres gêmeas nos EUA (cf. Braga, 2000; Braga, 2006a; Braga, 2006b), consiste do apoio direto americano a ditaduras que, por sua vez, ganharam a incumbência de reprimir movimentos radicais na região: os casos clássicos são Egito e Arábia Saudita. O falo americano penetra no próprio cu de onde ele nasceu. O governo de Hosni Mubarak, há três décadas no poder, e (USA) no mundo. Já esteve entre os três que mais recebiam, junto com Israel e Colômbia em “nuestra América” (cf. Plano Colômbia), agora figura na nada modesta quarta posição, atrás de Israel, Paquistão ­ outro país que recentemente foi integrado ao perigoso modelo dos regimes árabes –, e Afeganistão.
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Hosni Mubarak teve como escopo a tradicional e muito influente Irmandade Muçulmana, organização islâmica extremamente popular em todo mundo muçulmano, mas banida da política egípcia pelo ditador. Para se ter uma ideia da influência da “Irmandade”, basta percorrer a tradição do islamismo radical, amplamente apoiada nos escritos dos clérigos egípcios. O puzzle aqui é que se Mubarak conseguiu durante os últimos 30 anos manter a Irmandade Muçulmana longe do poder, o fez com o desgaste gradativo da sua imagem não somente entre os partidários da organização mas também entre a própria população, que não vê com bons olhos um governo que reprime “movimentos islâmicos”, na falta de melhor expressão, ainda mais com o apoio de Washington DC. Ao mesmo tempo, como se não bastasse, o governo egípcio, com isso, alimentou um forte sentimento antiamericano. A política é assim, ou calça de veludo ou bunda de fora. No frigir dos ovos (dos homens ao que parece), a bunda está mesmo de fora.
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Do ponto de vista da análise comparada, temos o caso semelhante da Arábia Saudita, também tradicional aliado americano, aonde a situação vai se refletir na ampla presença de nacionais do país no atentado ao World Trade Center. Dos 19 atores sociais terroristas, 15 eram sauditas, 1 era egípcio. Também em Riad, um governo com amplas relações com Washington não permite qualquer manifestação política fora de seu controle – e muitas vezes na Arábia Saudita, como no Egito, o termo “radical” é utilizado para evitar qualquer tipo de oposição ao regime oficial –, alimentando o ressentimento em relação à Casa de Saud, a família real. No chamado “mundo árabe”, talvez seja possível ver revoluções democráticas de forte conotação antiamericana, o que no mínimo, é bastante embaraçoso a qualquer ocupante da Casa Branca e à própria tradição política na América, vista na pena do autor de Da democracia na América (1835) que é um texto clássico de autoria de Alexis de Tocqueville sobre os Estados Unidos da América dos anos 30 do século XIX, descrevendo as suas virtudes e defeitos.
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Como se não bastasse, problemas de aceitação no tabuleiro de xadrez internacional, tendem a aparecer após os supostos processos de democratização ainda em função do modelo político adotado. Na obra-prima do cinema sueco, Ingmar Bergman, autor de Det Sjunde Inseglet, com brilhante interpretação de Max Von Sydow, destaca que no século XV, um cavaleiro sueco volta de luta nas Cruzadas e encontra sua terra natal assolada pele peste negra; quando a morte lhe aparece, ele propõe um jogo de xadrez para adiar a sua hora. Trata-se de parábola existencial sobre a relação solitária e incerta que o homem tem por vezes com o próprio homem. Daí que, com a radicalização gerada e os ressentimentos em jogo, não será surpresa se posições mais radicais conseguirem alçar o poder por meio do voto popular.
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Isso pode trazer instabilidade, mal comparando, no caso da política e das sociedades a outros governos árabes, alimentando o radicalismo nos contextos nacionais mais próximos, bem como questões de segurança para o estado de Israel, como já vimos noutra oportunidade. Ou seja, não somente há a possibilidade de se ter presente, no chamado “mundo árabe”, processos de democratização com forte conotação antiamericana, como os próprios produtos políticos dessa dinâmica podem gerar novos desequilíbrios ao cenário estratégico do Oriente Médio. Como o Hamas ganhou as primeiras eleições democráticas na Palestina, por exemplo, grandes favoritos para pleitos semelhantes no Egito e na Arábia Saudita são a Irmandade Muçulmana e seguidores obtusos de Osama bin Laden.
Bibliografia geral consultada
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* UBIRACY DE SOUZA BRAGA é Sociólogo (UFF), Cientista Político (UFRJ), Doutor em Ciências (USP). Professor da Coordenação do curso de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Ceará (UECE).
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