A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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segunda-feira, janeiro 18, 2010

Lula: sobre paz, bomba atômica e imperialismo





Brasil


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Vermelho - 6 de Dezembro de 2009 - 14h47


As idéias de Lula sobre política externa ao contrário do que tentam propagar notórios embaixadores e articulistas da grande imprensa, não apontam para a “partidarização petista" da cúpula do Itamaraty. Pelo contrário, partindo da complexidade do cenário internacional, o governo formula uma agenda que reafirma a soberania da diplomacia brasileira, sem contemporizar com hegemonismos de qualquer ordem.

Por Gilson Caroni Filho, na Carta Maior*

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É nesse contexto que devem ser entendidas as palavras do presidente em sua recente viagem à Alemanha. Salientando que é preciso " muita paciência com o Irã", Lula lembrou que, para pedir a um país que não desenvolva arma atômica, Estados Unidos e Rússia deveriam desativar as suas. Quem interpretar tal observação como petição bizantina, destinada apenas a agradar aos setores de esquerda de sua base de governo, estará gastando munição barata para analisar o que não consegue entender.
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Se a questão fundamental da atualidade é a da guerra e da paz, devemos fazer algumas indagações sobre o discurso hegemônico que paira sobre ela. Pode haver garantia efetiva contra o uso ou ameaça de emprego de armas nucleares se as cinco potências que comandam o Conselho de Segurança da ONU (EUA, Rússia, China, França e Inglaterra) continuam presas à noção de que tais armas devem ser sua exclusiva e perpétua propriedade, em detrimento da segurança de outros países?
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Como destacou o ex-embaixador Celso de Souza e Silva, em artigo escrito para o Jornal do Brasil, em outubro de 1983, "nenhuma declaração unilateral, especialmente quando colocada em termos gerais e imprecisos, pode contrabalançar a real ameaça à segurança dos países não possuidores de armas nucleares, representada pela existência desses artefatos nas mãos de um seleto clube mortífero."
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Com efeito, é importante lembrar que o direito de autodeterminação, certamente, não é monopólio das potências nucleares existentes. Se elas não reconhecem limites ao direito de garantir a própria segurança, ao custo da posse de 26 mil ogivas nucleares, não podem esperar que outros países se abstenham durante muito tempo do exercício dessa mesma opção.
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Segundo o Instituto Internacional para as Pesquisas sobre a Paz de Estocolmo (Sipri), o armamento concentrado pelas cinco potências seria o suficiente para destruir o mundo várias vezes. Diante disso, indaga-se se uma estável ordem mundial pode ser construída sobre duplos padrões destinados a perpetuar o poderio de poucos e a impotência de muitos?
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Em abril, o presidente Barack Obama, perante milhares de pessoas, em Praga, disse acreditar em "um mundo sem armas". Como as raízes do militarismo estão na natureza econômica e de classe do imperialismo, que jamais desistirá da força militar como instrumento de sua política, resta saber até onde vai a disposição do líder estadunidense. Como afrontará os invernos planejados pelo Pentágono? A intensiva preparação para novas guerras é parte constitutiva do processo de acumulação capitalista. Se pairar alguma dúvida sobre esse ponto, basta observar o quanto o orçamento norte-americano destina ao complexo industrial-militar. Sem contar, é obvio, a generosa concessão de fundos e verbas ao Ministério da Defesa.
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O que propõe Obama em médio prazo? Uma reconversão da economia norte-americana? Talvez, em Berlim, Lula o tenha alertado para o perigo de platitudes que arrebatam platéias, mas não movem a história.

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* Fonte: Carta Maior (http://www.cartamaior.com.br)

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segunda-feira, agosto 10, 2009

Gilson Caroni: Nicarágua, trinta anos de uma revolução partida

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Estamos longe de 1979 e cada vez mais próximos das determinações de Sandino. Ter a história nas mãos deixou de ser uma promessa do universo poético de Victor Jara. O presidente Ortega e as demais lideranças populares eleitas democraticamente no continente sabem disso.

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por Gilson Caroni Filho


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Sempre haverá lacuna em qualquer análise que se pretenda dialética. Se o pensamento realiza o esforço de se abrir para a apreensão de todas as contradições, muitas vezes a urgência da intervenção na política provoca um curto-circuito na reflexão e termina por suprir algumas determinações.

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É preciso muito cuidado quando, passados pouco mais de 30 anos, relembramos a Revolução Sandinista. Aquele 19 de julho de 1979, dia em que foi derrubado o ditador Anastasio Somoza, trouxe tamanha carga de dramaticidade e esperança para as forças progressistas da região que sua importância histórica não pode ser relativizada, por maiores que tenham sido os erros cometidos posteriormente. E, convenhamos, não foram poucos.

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O escritor nicaragüense Sérgio Ramírez se pergunta, em artigo publicado em “La Insígnia”, em 2004, se ”houve alguma vez uma revolução?”, afirmando que nunca a riqueza esteve tão concentrada como no período imediatamente posterior ao governo de Daniel Ortega, coordenador do governo revolucionário e principal liderança do movimento popular que prometia enquadrar econômica e politicamente a burguesia, ampliando e aprofundando a organização das massas trabalhadoras.

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É fato que houve retrocessos. Se nos três primeiros anos, os sandinistas lograram modificar substancialmente a estrutura agrária, distribuindo terras férteis que antes pertenciam a apenas 1% da população, os camponeses terminaram abandonados à própria sorte, sem créditos nem recursos produtivos.

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Uma campanha nacional, apoiada internacionalmente, inclusive com a ajuda do educador brasileiro Paulo Freire, fez com que o número de analfabetos caísse vertiginosamente. Como registrou na época J. Monserrat Filho, “milhares de alfabetizadores voluntários ocuparam o país numa maratona emocionante, que acabou sendo premiada pela UNESCO, sendo um modelo de como lutar contra o analfabetismo em condições de profundo atraso e subdesenvolvimento"

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Apesar da agressão imperialista, os direitos democráticos fundamentais da população foram significativamente ampliados. O sistema de economia mista evoluiu no sentido de um controle crescente do processo produtivo pelo poder sandinista. Embora o setor privado continuasse largamente majoritário, tanto na agricultura como na indústria, havia um enquadramento quase total do crédito e do comércio exterior pelo governo. Se o setor estatal não representava mais que 30% das atividades agrícolas, ele estava estreitamente ligado a um setor cooperativo em constante desenvolvimento.

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Na indústria, as expropriações sucessivas levaram ao setor público cerca de 40% da produção. Houve um momento em que a burguesia nicaragüense perdeu o essencial do seu poder de decisão. Foi contra isso, uma experiência que surgia como força de exemplo, que se voltou o poderio militar, propagandístico e econômico dos Estados Unidos. Mas Reagan não estava sozinho na agressão financiada com recursos ilegais.

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Sem apoiar a intervenção direta na América Central, a social-democracia européia deu mostras de procurar um distanciamento cada vez maior do governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), cedendo às pressões estadunidenses. Felipe Gonzáles, à época primeiro-ministro da Espanha, e Willy Brandt, ex-primeiro ministro alemão, enviaram uma carta aos dirigentes sandinistas expressando o seu descontentamento pelo fato de que “os princípios da revolução estivessem sendo violados"

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Margareth Tatcher, a “Dama de Ferro” do neoliberalismo, apoiou incondicionalmente as ações armadas norte-americanas que chegaram a incluir um bloqueio naval à Nicarágua. Tentativas realizadas pelo grupo de Contadora (México, Venezuela, Panamá e Colômbia) para abrir uma solução negociada para o conflito foram rejeitadas por países satélites dos Estados Unidos à época: Guatemala, El Salvador, Costa Rica e Honduras, sendo que esse último cederia seu território como base para ações armadas e operações terroristas contra o regime de Manágua.

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Não considerar que a realidade geopolítica da região era totalmente distinta da que temos hoje é ignorar evidências históricas. O governo de Daniel Ortega teve que concentrar todos os seus esforços na guerra. A luta contra os paramilitares patrocinados pelos Estados Unidos custou a vida de 50 mil pessoas. Acusar, como fez Ramírez, que o insucesso se deveu a "uma ética revolucionária que se perdeu" ou responsabilizar os retrocessos por "uma cultura autoritária constitutiva do sandinismo, inspirada no marxismo ortodoxo" revela uma estreiteza de análise tão simplória quanto conveniente a um intelectual entediado.

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Em 2006, Ortega, após a derrota eleitoral de 1990, voltou à presidência da Nicarágua. Seu discurso revelou um homem que aprendeu com as circunstâncias vividas. Ao defender investimentos estrangeiros e falar em reconciliação, demonstrou a maturidade de quem sabia ter uma revolução a ser retomada. Cerca de 80% dos nicaragüenses vivem com, no máximo, US$ 2 por dia. Permanece atual a célebre afirmação de Augusto César Sandino: "Nosso exército é o mais disciplinado, abnegado e desinteressado em todo o mundo porque tem consciência do seu papel histórico". O que marca a diferença é que esse exército, ao contrário de 1979, não está mais sozinho na América Latina.

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O Departamento de Estado dos Estados Unidos não ignora esse fato. Alguns analistas também deveriam levar isso em conta, principalmente quando a ampliação de forças norte-americanas em bases militares colombianas vem a se somar com a reativação da Quarta Frota na linha territorial do pré-sal brasileiro.

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Basta uma leitura rápida para verificarmos o que tem unificado a linha editorial da grande imprensa latino-america. Trata-se de condenar de forma veemente a formulações de políticas externas que ampliam a margem de manobra dos países da região. Em contraponto aos avanços alcançados pelos movimentos populares, as oligarquias que controlam as oficinas de consenso, mais uma vez, revelam qual é o seu papel histórico. No entanto, para seu infortúnio, dessa feita o novo já pode nascer. Estamos longe de 19 de julho de 1979 e cada vez mais próximos das determinações de Sandino. Ter a história nas mãos deixou de ser uma promessa do universo poético de Victor Jara. O presidente Ortega e as demais lideranças populares eleitas democraticamente no continente sabem disso. Não há espaço para recuos.

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*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

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Fonte: Carta Maior

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in Vermelho - 2 DE AGOSTO DE 2009 - 21h25
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quinta-feira, julho 09, 2009

Gilson Caroni: Berços latinos, novas hegemonias

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A vitória indígena no Peru, obrigando o Parlamento daquele país a revogar dois decretos sobre exploração de recursos naturais, é mais um sinal de que a impotência da solidão, termo criado pelo escritor uruguaio Eduardo Galeano, é um sentimento que se distancia do continente latino-americano. A região do mundo, outrora fraturada e abandonada em mil pedaços, aos poucos, abandona a moldura institucional forjada para privilégios de suas oligarquias e se apresenta como um bloco com identidade e interesses próprios.

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Por Gilson Caroni Filho no Jornal do Brasil*


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Um avanço inegável, por mais lentos e complicados que sejam os processos de integração entre economias tão assimétricas. É contra isso que a direita latino-americana se reagrupa, fazendo de Honduras seu balão de ensaio.

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A assinatura do tratado de criação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul), em maio do ano passado, deu personalidade jurídica a um organismo que tem por objetivo a coordenação social, política e econômica em âmbito regional Algo tão inédito quanto a Cúpula da América Latina e Caribe para o Desenvolvimento e Integração (Calc) que, em dezembro, reuniu 33 chefes de Estado ou seus representantes. Sem presença ou permissão dos Estados Unidos, países até então contaminados por velhos rancores, uniram-se para resolver algumas urgências compartilhadas, como a de evitar que “os impactos da crise financeira afetassem os planos de desenvolvimento, superação da pobreza e crescimento econômico sustentável da região”.

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Como destacou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim “é inacreditável que em 200 anos de independência a América Latina, quando tem uma reunião internacional, tenha que ter ou EUA ou União Européia, o rei da Espanha ou o presidente de Portugal”. Natural que a leitura da direita tenha seguido em rota contrária. Para alguns setores da mídia, o evento serviu apenas de palco para as bravatas de Chávez e Evo Morales, sem trazer qualquer resultado positivo para o bloco da América do Sul e do Caribe. Mas, se o choro é livre, o que conta é a sucessão de inflexões a que temos assistido.

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Alain Touraine já havia observado que um dos maiores erros cometidos pelas elites locais foi o de acreditar que a América Latina só avançaria se sacrificasse o bem-estar da maioria para construir uma infraestrutura moderna. Era falsa a crença de que o modelo capitalista liberal fosse uma referência próxima da realidade latino-americana. Se o Chile está perto de apresentar indicadores de países centrais, isso não se deve, como apregoaram muitos ideólogos do capital, aos experimentos neoliberais do governo Pinochet mas à realização de uma reforma agrária, iniciada no governo Frei e ampliada por Allende, que permitiu o desmantelamento de antigos latifúndios e a criação de uma classe ativa de empresários agrários. Convém não esquecer que o sistema educacional chileno nunca deixou de primar pela qualidade.

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Na Bolívia, que sofria a perda de suas fontes de prata e estanho, um presidente aymara erradicou o analfabetismo, repetindo o êxito da Venezuela de Hugo Chávez. Rafael Correa, presidente do Equador, cumpre promessa de governo e cancela grande parte da dívida do país. Tabaré Vázquez, que preside o primeiro governo socialista do Uruguai, mantém, em seu último ano de governo, popularidade que bate na casa dos 61%. Passados 74 anos da Guerra do Chaco, os presidentes do Paraguai, Fernando Lugo, e da Bolívia, Evo Morales, proclamam o que chamam de “irmandade binacional”, reiterando compromisso de não mais haver enfrentamento entre os dois países. É intensa a percepção de que separados não teremos destino.

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O que acontece na América Latina é a ruptura de um paradigma que não admitia que a oposição de esquerda se fizesse a partir da auto-organização da classe trabalhadora, de partidos novos, de sindicatos e de movimentos sociais que não estavam ligados de forma clara à luta de classes, como o dos indígenas que adquire centralidade cada vez maior na região. Os blocos de poder conservadores, com seus discursos estruturados e argumentados, que apareciam como o “dever ser”, o “poder ser” e o “que vai ser”, perderam, junto com a esquerda tradicional, para uma política que se reinventa no interior das contradições, dos conflitos e da tessitura tensa dos mundos do capital e do trabalho. Uma bela lição que balança o berço das oligarquias e da burguesia liberal do continente. Uma aula de hegemonia posta à prova em Tegucigalpa.

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* Fonte: Jornal do Brasil

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in Vermelho - 6 DE JULHO DE 2009 - 14h32

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segunda-feira, maio 25, 2009

Cuba, a indenização devida


Gilson Caroni Filho


Se o objetivo do presidente Barack Obama é, de fato, “melhorar a vida do povo cubano", não há outra saída que não passe pelo levantamento total do injustificável embargo imposto ao país há quase meia década.

Por Gilson Caroni Filho*



É um ótimo sinal o anúncio recente feito pelo presidente Barack Obama, dando conta do levantamento de algumas medidas do bloqueio comercial dos Estados Unidos a Cuba. Mas se, tal como afirmou o porta-voz da Casa Branca, o objetivo é “melhorar a vida do povo cubano", não há outra saída que não passe pelo levantamento total do injustificável embargo imposto ao país há quase meia década. Algo que Fidel definiu com precisão, quando falou em ”política genocida que custa vidas e que demonstrou ser um total fracasso"

Uma reorientação efetiva da política estadunidense teria um significado que ultrapassaria os limites da Ilha. Demonstraria uma sintonia fina com o que vem ocorrendo nos últimos anos na América Latina. E que não parece dar mostras de retrocesso.

Um redesenho de dinâmica política que só pode ser entendido a partir das raízes históricas da opressão e das lutas dos povos latino-americanos. Um continente que, sem receio de incorrer em argumentação simplificadora, se desenvolve seguindo dois traçados antagônicos: ou incorporando o elemento popular como protagonista ou elaborando processos de exclusão que remontam à época colonial.

Há 50 anos, o caminho escolhido por Fidel Castro, Juan Almeida, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, entre outros, foi o primeiro, o da incorporação. Aquele que vence porque os povos têm um instinto que os guia em seus grandes movimentos. Como destacou o historiador Hélio Silva, “os líderes só se afirmam quando conseguem captar, interpretar os sentimentos do povo. Não importa que ele apareça somente no fundo do quadro, deixando o proscênio livre para os heróis se destacarem. Há uma orquestração inaudível, uma coreografia silenciosa, que são imprescindíveis porque as primeiras figuras cairiam no vácuo se as suas atitudes não correspondessem ao movimento de massa".

É a isso, e não às alegadas disposições ditatoriais do regime instalado em 1959, que Fidel deve sua longevidade política. E, na quadra atual, é dentro desse marco que deve ser compreendida a popularidade das lideranças de esquerda da região. Não entender o processo é jogar com as pedras do imperialismo e da direita golpista.

Cuba, no ano da revolução, tinha 6,5 milhões de habitantes, dos quais 1 milhão e 200 mil estavam radicados em Havana, a pequena "Miami" dos cabarés e bordéis da máfia americana. Brilhavam os neons dos famosos magazines, iluminando o caminho para o desfile de carros do ano que, reluzentes, cortavam a cidade transportando uma burguesia alheia ao resto do país, colaboradora da dilapidação da sociedade cubana, cúmplice do alto índice de prostituição, do tráfico de drogas e do desemprego.

No entorno, como macabro contraponto ao luxo da capital, a massa de trabalhadores rurais, além de não dispor de qualquer tipo de amparo social, sequer tinha certeza do trabalho, pois terminada a safra da cana, nada havia a fazer. Eram quatro meses de trabalho por ano, depois não havia comida. Restava viver em "bohios"- choupanas feitas de folha de palmeira - sem água, luz elétrica, ou instalações sanitárias. Segundo o censo de 1953, uma entre 4 pessoas em Cuba não sabia ler nem escrever.

A taxa de mortalidade infantil era de quase 40 para cada mil nascidos vivos. Vinte anos depois (em 1979), como conseqüência das prioridades do governo revolucionário, a taxa recuou para 19,3, uma das menores do mundo. As promessas do tempo de guerrilha se transformaram em realidade através de um rigoroso plano de saúde, que ampara desde o momento da gravidez até a fase adulta.

Na educação, as mudanças não foram menos expressivas. Até a chegada de Fidel ao poder, 50% da população infantil não estudava. Após a revolução, a educação escolar foi nacionalizada. Como trabalho básico, foi organizada uma gigantesca campanha de alfabetização que erradicaria essa carência em 1961.

O Sistema Nacional de Educação, criado em seguida, assegurou ensino gratuito em todos os níveis. Não foram poucos os estrangeiros de países capitalistas que foram estudar na Ilha devido a excelência obtida em diversas especialidades. Era o homem novo que o embargo impediu que surgisse em outros países da América Latina.

Desde a fundação da Escola Nacional de Arte de Cubanacán, o ensino gratuito de múltiplas de manifestações artísticas, se estendeu a quase 50 escolas, com um número aproximado de 5 mil alunos. Eis a poética revolucionária que o imperialismo tolheu no restante da região.

O que era o esporte antes do triunfo da revolução? Uma coisa restrita ao boxe e ao beisebol profissionais, controlados pelas grandes máfias que transformavam Cuba em um grande celeiro para os empresários esportivos estadunidenses. O que veio depois? Coordenação e promoção maciça do esporte. Organizou-se uma Escola Superior de Educação Física e, atualmente, existem escolas provinciais de educação física com milhares de matrículas a cada ano. Vários cubanos são recordistas olímpicos e mundiais e Cuba ocupa posição de destaque no boxe, vôlei, atletismo e beisebol.

O presidente Obama diz que sua nova política pode alcançar o que o embargo nunca conseguiu uma verdadeira mudança política na Ilha. Se o objetivo é esse, o malogro não tardará a cobrar seu preço. Apesar das dificuldades decorrentes do bloqueio imperialista, a sociedade cubana ainda registra avanços notáveis. O que se espera dos EUA não são favores sujeitos a condicionalidades, mas indenização por uma prática criminosa. Não se barganha a soberania.

* Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Observatório da Imprensa.





in Vermelho - 23 DE MAIO DE 2009 - 16h16
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