A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quinta-feira, julho 16, 2009

Propaganda socialista no Financial Times?


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O colunista Ben Funnell não é nem de longe um socialista. Mas a causa socialista ganhou um tento com seu artigo, A dívida é o pequeno truque sujo do capitalismo, publicado no jornal inglês Financial Times. Ele fornece dados ''de nocautear'' sobre a concentração de renda nos Estados Unidos durante o apogeu neoliberal. Explica ''por que não houve uma revolução''. Escorrega no final, quando discorre sobre ''o que pode ser feito''; mas também não é de admirar, em alguém que nem de longe é socialista.

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Por Bernardo Joffily



Sam Walton, do clã mais rico que 100 milhões
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Funnell não se detém na crise capitalista atual, mas nas décadas precedentes, de razoável crescimento e ''pensamento único'' neoliberal. Sua conclusão: ''Em palavras simples, os benefícios do crescimento econômico foram para os bolsos dos plutocratas''.

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''São dados de nocautear''

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Ele dá dados: segundo economistas do banco Société Generale, a renda da quinta parte mais rica da população dos EUA aumentou 60% desde 1970; ao mesmo tempo, a renda dos quatro quintos restantes caiu mais de 10%.

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Somente a família Walton, dona da rede multinacional Wal-Mart de supermercados, tem mais dinheiro que todo o terço mais pobre da população dos EUA. Uma família tem mais dinheiro que 100 milhões de americanos...

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''Por que não houve uma revolução?

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''São dados de nocautear, confirmados pelos sempre crescentes índices de Gini, due mede as disparidades de renda, nos EUA e no Reino Unido'', comenta Funnell. ''Outra forma de colocar o problema é que a divisão das fatias do Produto Interno Bruto está no nível de 100 anos atrás, ou estava até recentemente''.

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''Então por que não houve uma revolução?'', indaga Funnell. E chega então ao seu raciocínio central: ''Por que havia uma saída: o endividamento''.

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''O excessivo endividamento da sociedade ocidental nos últimos anos era a única forma de manter altos níveis de vida para a maioria da população em uma época onde a elite concentrava mais e mais riqueza'', comenta. E a seguir mostra como o sonho acabou, ''o que significa um crescimento econômico mais baixo por muitos anos no futuro''.

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Um recuo para longe do abismo

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Depois de apanhar em flagrante a iniquidade da pirâmide social americana (e, de quebra, também da inglesa), Ben Funnell chega à parte das saídas. E aí o seu texto fica ainda mais interessante: o leitor atento há de notar como ele sente que talvez tenha se excedido, chegado perto demais do abismo que um colunista do mais que centenário jornal financeiro britânico jamais deve sequer admitir, e ensaia uma meia-volta-volver.

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''O que pode ser feito? Primeiro, embora não seja o ideal, não devíamos ser açodados demais em abandonar o modelo capitalista. Ele é menos mau que qualquer outro sistema já inventado'', assevera o colunista, para o alívio de seu editor no Financial Times.

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Tarde demais, Ben Funnell

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Depois da meia-volta, o artigo termina em enticlímax. A montanha pare um rato, embora seja um rato ''estrutural'', segundo assevera seu autor: ''Precisamos de um novo consenso político, destinado a uma redução de conjunto dos níveis de endividamento, enquanto reduzimos as disparidades encorajando a educação, o empreendorismo e o investimento em inovação''.

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Tarde demais, Ben Funnell. O último parágrafo do artigo, com sua lengalenga, evidentemente não encaixa e não convence (exceto uma acurada constatação de que ''os atuais níveis de disparidade de renda são uma bomba-relógio política''). Quem ler seu artigo, verá, ao concluirá, ao contrário, que é precisamente o modelo capitalista que faz água e precisa ser abandonado. Portanto, a causa socialista, enternecida, agradece.

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A concentração da renda e da riqueza faz parte da lógica do sistema capitalista. Isto pode ser constatado estatisticamente, não só nos EUA e na Inglaterra, e não apenas nas décadas de ouro do neoliberalismo. A ''distribuição'' de renda possível, no capitalismo, é esta deletéria e destrutiva que o mundo assiste com a crise. Não há ''reforma estrutural'' capaz de criar um ''capitalismo virtuoso'', frugal, piedoso, preocupado com os pobres e blindado contra crises.

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in Vermelho -
15 DE JULHO DE 2009 - 17h04
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sábado, julho 11, 2009

G8 agoniza; Europa lança G14, Obama não sabe, Lula quer G20

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A cúpula em L'Aquila, Itália, deve ter sido a última do G8. A crise capitalista global decretou o fim do prazo de validade desse coletivo dos sete países mais ricos do mundo, mais a Rússia. Ficou patente que as grandes nações em desenvolvimento não podem mais ficar de fora – nesta sexta-feira (10), Barack Obama citou a China, a Índia e o Brasil como exemplos. Mas se a morte do G8 parece certa, não há acordo sobre qual ''G'' o substituirá, para não falar das críticas da maioria excluída de países.

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Por Bernardo Joffily

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O G8 na verdade nasceu G6: em 1975. No ano seguinte virou G7, com a inclusão do Canadá. E em 1998 acoplou a Rússia, que não era tão rica mas retornara ao capitalismo e é uma grande potência nuclear. O grupo de elite, que se reúne anualmente para coordenar ações em política mundial, sempre foi visto de esguelha pelo resto do planeta.

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Com a crise, o G8 fez água

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Quando a crise econômica tingiu sua fase aguda, em setembro passado, o fechado clube dos ricos, que já se reunira 34 vezes, sentiu que precisava de ajuda. O desenvolvimento desigual do capitalismo gerara economias emergentes nos países em desenvolvimento (a começar pela China, que já é a segunda do mundo, pelo sistema de paridade de poder de compra, e a quarta na contabilidade tradicional) sem as quais discutir a crise seria perda de tempo.

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Assim surgiu, em novembro passado, nos Estados Unidos, a primeira reunião do G20: o G8, mais 11 grandes países em desenvolvimento, mais a União Europeia (veja a tabela). Em abril, houve nova reunião, em Londres. A lógica do debate no G20 mostrou-se polarizada: de um lado ficam os ricos do velho G8, de outro os recém-chegados em desenvolvimento.

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Levando isso em conta, o primeiro ministro italiano, Silvio Berlusconi, anfitrião e presidente de turno da cúpula do G8, resolveu testar um outro formato, mais restritivo. E surgiu o G14, que teve sua estreia em L'Aquila.

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Opiniões diversas sobre o número do ''G''

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Os líderes que se reuniram na pequena cidade italiana sairam dali com opiniões distintas sobre qual ''G'' deve se afirmar. O único consenso, embora temperado por fórgumas diplomáticas, é que o velho e ultrafechado G8 já deu o que tinha que dar. Mesmo assim, é um consenso nuanceado; a chanceler alemã, Angeka Merkel, acha que o grupo ainda seria "a organização apropriada" para "alguns problemas".

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Obama deixou sua posição em aberto. ''Estamos em um período de transição, estamos tentando encontrar o formato certo', disse, Segundo o presidente americano, economias emergentes influentes precisam fazer parte de qualquer esforço colaborativo para lidar com os desafios globais. Ele mencionou a China, a Índia e o Brasil, sem arriscar a defesa de uma composição específica.

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Nesta manhã, Berlusconi, disse que um G14 que reunisse além ricos e emergentes seria o organismo mais adequado para as grandes decisões globais.

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O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, deichou L'Aquila expressando uma posição nítida. “É preciso que haja manutenção do G20 até concluirmos toda essa discussão de economia. Se tivesse que escolher entre o G14 e o G20 eu escolheria o G20”, afirmou Lula nesta sexta, em coletiva à imprensa.

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Lula também registrou a permanência da polarização Norte-Sul na reunião do G14: “Temos um pouco de divergências por que achamos que é preciso combinar aqueles que fazem pagamento pelo sequestro de carbono com a diminuição das emissões. Se ficar apenas no pagamento pelo sequestro os países ricos, como tem dinheiro, vão continuar emitindo gás de efeito estufa e pagar para os outros sequestrarem”, avaliou.

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Por que não o G192?

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Por fim, convém assinalar que mesmo o G20, embora mais amplo que o fechado G8 ou o entreaberto G14, deixa de fora a grande maioria dos países. Alguns deles são economias consideráveis, como a Espanha, 12º lugar no ranking mundial do PIB (Produto Interno Bruto), ou o Irã, 17º PIB e com uma grande população.

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A maioria de nações pequenas e médias interroga por que não se discute os problemas do planeta na Organização das Nações Unidas, que foi criada em 1945 exatamente para isso.

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Argumenta-se que a ONU é grande demais e operacional de menos, não teria a agilidade requerida pelos problemas na ordem do dia, a começar pela crise. Os barrados no G8, no G14 e no G20 evidentemente não concordam. Principalmente os países mais pobres, que, sendo maioria numérica e populacional, teriam mais condições de fazer ouvir seus reclamos na ONU, o G192 (as Nações Unidas contam hoje 192 Estados-membros).

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in Vermelho - 10 DE JULHO DE 2009 - 18h37
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sábado, abril 19, 2008

Letícia desvenda movimento sufragista das índias yawanawa

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Letícia Yawanawa, da aldeia Mutum da Terra Indígena Rio Gregório, no Acre, retrata uma realidade indígena bastante dinâmica ao dar entrevista ao Vermelho na véspera deste 19 de abril. Nada está parado no tempo, como uma certa visão ingênua da questão indígena tenta fazer crer. Por exemplo: direitos das mulheres. No povo de Letícia, os yawanawas, agora as mulheres já podem votar, ser votadas e liderar comunidades. Duas delas, Rusharu e Putanin, chegaram até a condição de pajés, coisa inimaginável nas gerações passadas.


Por Bernardo Joffily



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Letícia: "A gente faz força para ter qualidade"
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Letícia fala com conhecimento de causa: militante do Movimento de Mulheres Indígenas do Acre, já percorreu o Brasil como Organização de Mulheres Indígenas e é uma feminista engajada: "Mesmo respeitando a nossa cultura, nós, mulheres indígenas, temos que lutar. Às vezes a gente vai devagar, para respeitar a cultura. Mas no nosso povo os homens líderes podem ter várias mulheres, mas as mulheres líderes não podem ter vários maridos", reclama.


"Ela já pisou no terreiro mais sagrado"


Para se ir de Rio Branco à aldeia Mutum leva uma hora de avião, até Tarauacá, mais uma de carro, até as margens do Rio Gregório, e quatro dias de barco. Mutum não tem luz elétrica, "é tudo com lamparina", o Programa Luz para Todos não chegou ali, continua a ser "um grande sonho". Mas outras coisas chegaram, inclusive em comunidades yawanawas ainda mais distantes, a 10 e até 14 dias de viagem rio acima.


O voto feminino é uma dessas novidades. "Antigamente a mulher não podia votar, só os homens. Nossos ancestrais diziam que mulher não pode pisar na flexa, na lança, porque ela engravida e menstrua", relata Letícia. Mas de 2004 para 2005 isso mudou. E, para Letícia, "é o maior exemplo na história do nosso povo".


"Na minha aldeia, a líder é uma mulher. Ela já pisou no terreiro mais sagrado [privilégio dos pajés] e já comeu a batata mais sagrada, que antes uma mulher não podia nem ver", relata. Letícia grarante também que "hoje os homens apóiam" essa conquista do sufragismo talvez desconhecida do movimento feminista em geral.


"Um povo pequeno mas está crescendo"


O povo yawanawa, da família pano, só existe em Tarauacá e hoje é formado por pouco mais de 800 pessoas e seis comunidades. Ali "ainda tem precariedade de saúde", conta Letícia. Há alguns agentes indígenas de saúde, mas "é uma luta do povo yamanawa para formar os seus próprios jovens". Ela conta que "tem crianças que morrem, porque a Funasa tem feito muito pouco", mas "os pajés curam com a medicina tradicional" e "também tem nascido bastante criança".


Com isso, "é um povo pequeno mas está crescendo", orgulha-se a líder feminina. Com 40 anos de idade, ela mesma tem três filhos e uma filha. Mas não ache que isto tenha sido uma grande contribuição, pois uma "verdadeira mulher guerreira" yamanawa tem 12 ou até 14 filhos.


Novo tratamento a araras e tracajás


Outra questão é defender a cultura yamanawa. "Nós somos pequenos, somos poucos, mas a gente faz força para ter qualidade", explica ela. "Se nasce um menino yamanawa o pai tem a responsabilidade de ensinar para ele ser um futuro guerreiro e caçador. A mesma coisa com a menina. Tem que aprender a língua, a cultura, os costumes", diz ela. Letícia esclarece ainda que também há nesse currículo uma disciplina sobre "a cultura do não-indígena".


Defender, porém, não é petrificar. Os yamanawas são famosos por suas pinturas corporais com o vermelho vivo do urucu, e também por "aqueles cocares lindos", mas já não caçam araras e outros pássaros para usar suas penas. Agora, criam as araras na aldeia, e tiram as penas poupando a vida do pássaro.


Outra mudança recente foi a proibição de caçar tracajá – a tartaruga amazônica de água doce, de carne apreciadíssima. "Um tempo atrás teve uma reunião das aldeias para explicar: se caçar demais, acaba o tracajá. Estava em extinção. Então, há dois anos não caçamos mais tracajá", conta Letícia.


Esses exemplos contrariam a visão estereotipada de que as culturas indígenas são coisas imóveis, petrificadas, e quando se movem é por influência da "civilização". Isso é falso. Os yamanawas, como os demais povos indígenas, e qualquer outro povo sobre a face da Terra, são culturas vivas e portanto em permanentes transformações. Uma parte delas se deve à troca cultural com outros povos, mas a a essência transformadora vem da própria dinâmica cultural interna.


População indígena cresceu 7 vezes em 50 anos


No capítulo das trocas culturais, os yamanawas plantaram a sua primeira safra de profissionais de nível universitário. Letícia tem seu filho mais velho, de 23 anos, estudando Gestão Ambiental e o segundo, de 20, na Escola de Enfermagem. Outros três yamanawas cursam Direito, Serviço Social e Ciências Sociais, todos em Rio Branco.


"A gente espera que vai dar certo", diz Letícia. Mas afirma que os cinco "estão fazendo um sacrifício" e "nas férias vão todos para a aldeia".


Graças a esta dinâmica – em parte aprendida de fora mas também desenvolvida a partir da sua própria experiência – a população indígena brasileira deixou de se reduzir e está crescendo mais depressa que a média nacional. O fundo do poço aconteceu por volta de 1950, quando os indígenas chegaram a cerca de 100 mil, depois de terem sido em torno de 5 milhões, conforme as estimativas, quando teve início a conquista européia. Mas no Censo de 1991 o IBGE contou 294 mil índios, e no de 2000 o número saltou para 734 mil, inclusive, acredita-se, porque uma parcela dos habitantes do país, que antes não se auto-identificava como indígena, passou a fazê-lo.

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in Vermelho - 18 DE ABRIL DE 2008 - 19h45

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