A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sexta-feira, dezembro 17, 2010

Strawberry fields forever - Clara Ferreira Alves

0:01 Sábado, 22 de Dezembro de 2007

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Os homens europeus descem sobre Marrocos com a missão de recrutar mulheres. Nas cidades, vilas e aldeias é afixado o convite e as mulheres apresentam-se no local da selecção. Inscrevem-se, são chamadas e inspeccionadas como cavalos ou gado nas feiras. Peso, altura, medidas, dentes e cabelo, e qualidades genéricas como força, balanço, resistência. São escolhidas a dedo, porque são muitas concorrentes para poucas vagas. Mais ou menos cinco mil são apuradas em vinte e cinco mil. A selecção é impiedosa e enquanto as escolhidas respiram de alívio, as recusadas choram e arrepelam-se e queixam-se da vida. Uma foi recusada porque era muito alta e muito larga. São todas jovens, com menos de 40 anos e com filhos pequenos. Se tiverem mais de 50 anos são demasiado velhas e se não tiverem filhos são demasiado perigosas. As mulheres escolhidas são embarcadas e descem por sua vez sobre o Sul de Espanha, para a apanha de morangos. É uma actividade pesada, muitas horas de labuta para um salário diário de 35 euros. As mulheres têm casa e comida, e trabalham de sol a sol. É assim durante meses, seis meses máximo, ao abrigo do que a Europa farta e saciada que vimos reunida em Lisboa chama Programa de Trabalhadores Convidados. São convidadas apenas as mulheres novas com filhos pequenos, porque essas, por causa dos filhos, não fugirão nem tentarão ficar na Europa. As estufas de morangos de Huelva e Almería, em Espanha, escolheram-nas porque elas são prisioneiras e reféns da família que deixaram para trás. Na Espanha socialista, este programa de recrutamento tão imaginativo, que faz lembrar as pesagens e apreciações a olho dos atributos físicos dos escravos africanos no tempo da escravatura, olhos, cabelos, dentes, unhas, toca a trabalhar, quem dá mais, é considerado pioneiro e chamam-lhe programa de "emigração ética". Os nomes que os europeus arranjam para as suas patifarias e para sossegar as consciências são um modelo. Emigração ética, dizem eles. 
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Os homens são os empregadores. Dantes, os homens eram contratados para este trabalho. Eram tão poucos os que regressavam a África e tantos os que ficavam sem papéis na Europa que alguém se lembrou deste truque de recrutar mulheres para a apanha do morango. Com menos de 40 anos e filhos pequenos. As que partem ficam tristes de deixar o marido e os filhos, as que ficam tristes ficam por terem sido recusadas. A culpa de não poderem ganhar o sustento pesa-lhes sobre a cabeça. Nas famílias alargadas dos marroquinos, a sogra e a mãe e as irmãs substituem a mãe mas, para os filhos, a separação constitui uma crueldade. E para as mães também. O recrutamento fez deslizar a responsabilidade de ganhar a vida e o pão dos ombros dos homens, desempregados perenes, para os das mulheres, impondo-lhes uma humilhação e uma privação. Para os marroquinos, árabes ou berberes, a selecção e a separação são ofensivas, e engolem a raiva em silêncio. Da Europa, e de Espanha, nem bom vento nem bom casamento. A separação faz com que muitas mulheres encontrem no regresso uma rival nos amores do marido.
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Que esta história se passe no século XXI e que achemos isto normal, nós europeus, é que parece pouco saudável. A Europa, ou os burocratas europeus que vimos nos Jerónimos tratados como animais de luxo, com os seus carrões de vidros fumados, os seus motoristas, as suas secretárias, os seus conselheiros e assessores, as suas legiões de servos, mais os banquetes e concertos, interlúdios e viagens, cartões de crédito e milhas de passageiros frequentes, perdeu, perderam, a vergonha e a ética. Quem trata assim as mulheres dos outros jamais trataria assim as suas. Os construtores da Europa, com as canetas de prata que assinam tratados e declarações em cenários de ouro, com a prosápia de vencedores, chamam à nova escravatura das mulheres do Magreb "emigração ética". Damos às mulheres "uma oportunidade", dizem eles. E quem se preocupa com os filhos? Gostariam os europeus de separar os filhos deles das mães durante seis meses? Recrutariam os europeus mães dinamarquesas ou suecas, alemãs ou inglesas, portuguesas ou espanholas, para irem durante seis meses apanhar morango? Não. O método de recrutamento seria considerado vil, uma infâmia social. Psicólogos e institutos, organizações e ministérios levantar-se-iam contra a prática desumana e vozes e comunicados levantariam a questão da separação das mães dos filhos numa fase crucial da infância. Blá, blá, blá. O processo de selecção seria considerado indigno de uma democracia ocidental. O pior é que as democracias ocidentais tratam muito bem de si mesmas e muito mal dos outros, apesar de querem exportar o modelo e estarem muito preocupadas com os direitos humanos. Como é possível fazermos isto às mulheres? Como é possível instituir uma separação entre trabalhadoras válidas, olhos, dentes, unhas, cabelo, e inválidas? Alguns dos filhos destas mulheres lembrar-se-ão. Alguns dos filhos destas mulheres serão recrutados pelo Islão. Esta Europa que presume de humana e humanista com o sr. Barroso à frente, às vezes mete nojo.
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sábado, novembro 20, 2010

Marrocos prossegue repressão no Saara Ocidental Limpeza étnica em El Aiún





«”Somos testemunhas do genocídio”», disseram os activistas Isabel Terraza e António Velázquez»

Depois do brutal desmantelamento do acampamento de Gdaim Izik, as forças ocupantes marroquinas prosseguem uma sanha repressiva contra a população saaráui. As informações dão conta de uma autêntica limpeza étnica em El Aiún.
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O balanço marroquino da operação de desmantelamento do campo de protesto fala em 13 mortos (11 polícias e dois civis) e 163 detidos. O responsável da polícia de El Aiún afirmou que ninguém se encontra desaparecido. Mas os números da Frente Polisario são bem diferentes dos dados oficiais admitidos pelos ocupantes.
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Pelo menos 21 pessoas morreram só no assalto a Gdeim Izik e nas primeiras ondas de choque que se seguiram, diz a Polisario. A repressão dos dias posteriores nas cidades de El Aiún e Smara fez, no entanto, disparar o número de feridos para próximo dos 4500. Mais de 2000 pessoas encontram-se detidas, diz a organização.
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Com rigor, ninguém pode fazer um balanço exacto, já que o território encontra-se fechado desde o assalto das autoridades fieis à monarquia ao acampamento, no passado dia 8.
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Jornalistas, deputados e cooperantes de vários países têm sido impedidos de entrar, mas as informações que a República Árabe Saaráui Democrática (RASD) consegue apurar, e que jornalistas e activistas expulsos por Marrocos ou escondidos em casas de saaráuis vão revelando, indicam que está em curso uma autêntica limpeza étnica.

Bestialidade

Embora em cidades como Smara ou Djala os protestos saaráuis do final da semana passada tenham sido reprimidos com violência, a situação é particularmente grave na capital ocupada, El Aiún.
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As rusgas e as detenções sucedem-se. De acordo com a activista Sultana Jaya, só de uma vez foram levados mais de 400 homens, os quais terão sido encaminhados para os quartéis da polícia, uma escola e até campos de futebol.
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Para além destes centros de detenção e tortura (o cidadão espanhol Ahmed Lecuara é um testemunho vivo, apresentado pela Fundação Saara Ocidental, da extensão da tortura por estes dias no território), os saaráuis identificados com a luta do seu povo são igualmente levados para a «prisão negra de El Aíun», onde, há cerca de uma semana, familiares desesperados exigiram a sua libertação. A revolta foi invariavelmente dispersa com brutalidade.
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Nas ruas, o cenário é de pura bestialidade e impunidade. Os saaráuis são obrigados a gritar «viva o rei» e «Saara marroquino». Sultana Jaya relatou também que os marroquinos são instigados a usar gorros brancos para se colocarem a salvo do turbilhão criminoso.
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A Associação de Familiares de Presos e Desaparecidos Saaráuis afirma que as autoridades marroquinas ordenaram aos colonos que constituíssem milícias, as quais saqueiam habitações e lojas, queimam carros de saaráuis.
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Corpos de saaráuis são deixados degolados e cravejados de balas nas artérias de El Aiún para provocar terror, denuncia, por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD, Mohamed Uld Salek.

Relatos contra a indiferença

«Somos testemunhas do genocídio que está a ser cometido sobre a população», disseram os activistas Isabel Terraza e António Velázquez num comunicado postado no Youtube e divulgado pelas organizações Resistência Saaráui e Fundação Saara Ocidental.
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Ambos se encontram escondidos há vários dias em El Aiún, única forma de garantirem a sua segurança. «Querem-nos matar porque podemos dar o nosso testemunho», sublinharam.
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Terraza e Velázquez apelaram, ainda, à Cruz Vermelha para que assista as vítimas da repressão e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que garanta os direitos humanos daquele povo.
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«Esta é uma emergência internacional. É necessário deter o massacre», insistiram no vídeo que, aparentemente, não despertou qualquer iniciativa por parte da chamada comunidade internacional.
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No mesmo sentido expressou-se o jornalista francês Guillaume Bontoux, para quem o Saara Ocidental está em «estado de sítio». O profissional da Rádio Nacional de Espanha e os activistas espanhóis Silvia García e Javier Sopeña, que como ele foram expulsos do Saara Ocidental, enfatizaram ainda que «não é possível expressar a magnitude do que está a acontecer».
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Avante 2010 11 18
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