A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
Mostrar mensagens com a etiqueta Nicarágua. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Nicarágua. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, agosto 10, 2009

Gilson Caroni: Nicarágua, trinta anos de uma revolução partida

.

Estamos longe de 1979 e cada vez mais próximos das determinações de Sandino. Ter a história nas mãos deixou de ser uma promessa do universo poético de Victor Jara. O presidente Ortega e as demais lideranças populares eleitas democraticamente no continente sabem disso.

.

por Gilson Caroni Filho


.

Sempre haverá lacuna em qualquer análise que se pretenda dialética. Se o pensamento realiza o esforço de se abrir para a apreensão de todas as contradições, muitas vezes a urgência da intervenção na política provoca um curto-circuito na reflexão e termina por suprir algumas determinações.

.
É preciso muito cuidado quando, passados pouco mais de 30 anos, relembramos a Revolução Sandinista. Aquele 19 de julho de 1979, dia em que foi derrubado o ditador Anastasio Somoza, trouxe tamanha carga de dramaticidade e esperança para as forças progressistas da região que sua importância histórica não pode ser relativizada, por maiores que tenham sido os erros cometidos posteriormente. E, convenhamos, não foram poucos.

.
O escritor nicaragüense Sérgio Ramírez se pergunta, em artigo publicado em “La Insígnia”, em 2004, se ”houve alguma vez uma revolução?”, afirmando que nunca a riqueza esteve tão concentrada como no período imediatamente posterior ao governo de Daniel Ortega, coordenador do governo revolucionário e principal liderança do movimento popular que prometia enquadrar econômica e politicamente a burguesia, ampliando e aprofundando a organização das massas trabalhadoras.

.
É fato que houve retrocessos. Se nos três primeiros anos, os sandinistas lograram modificar substancialmente a estrutura agrária, distribuindo terras férteis que antes pertenciam a apenas 1% da população, os camponeses terminaram abandonados à própria sorte, sem créditos nem recursos produtivos.

.
Uma campanha nacional, apoiada internacionalmente, inclusive com a ajuda do educador brasileiro Paulo Freire, fez com que o número de analfabetos caísse vertiginosamente. Como registrou na época J. Monserrat Filho, “milhares de alfabetizadores voluntários ocuparam o país numa maratona emocionante, que acabou sendo premiada pela UNESCO, sendo um modelo de como lutar contra o analfabetismo em condições de profundo atraso e subdesenvolvimento"

.
Apesar da agressão imperialista, os direitos democráticos fundamentais da população foram significativamente ampliados. O sistema de economia mista evoluiu no sentido de um controle crescente do processo produtivo pelo poder sandinista. Embora o setor privado continuasse largamente majoritário, tanto na agricultura como na indústria, havia um enquadramento quase total do crédito e do comércio exterior pelo governo. Se o setor estatal não representava mais que 30% das atividades agrícolas, ele estava estreitamente ligado a um setor cooperativo em constante desenvolvimento.

.
Na indústria, as expropriações sucessivas levaram ao setor público cerca de 40% da produção. Houve um momento em que a burguesia nicaragüense perdeu o essencial do seu poder de decisão. Foi contra isso, uma experiência que surgia como força de exemplo, que se voltou o poderio militar, propagandístico e econômico dos Estados Unidos. Mas Reagan não estava sozinho na agressão financiada com recursos ilegais.

.
Sem apoiar a intervenção direta na América Central, a social-democracia européia deu mostras de procurar um distanciamento cada vez maior do governo da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), cedendo às pressões estadunidenses. Felipe Gonzáles, à época primeiro-ministro da Espanha, e Willy Brandt, ex-primeiro ministro alemão, enviaram uma carta aos dirigentes sandinistas expressando o seu descontentamento pelo fato de que “os princípios da revolução estivessem sendo violados"

.
Margareth Tatcher, a “Dama de Ferro” do neoliberalismo, apoiou incondicionalmente as ações armadas norte-americanas que chegaram a incluir um bloqueio naval à Nicarágua. Tentativas realizadas pelo grupo de Contadora (México, Venezuela, Panamá e Colômbia) para abrir uma solução negociada para o conflito foram rejeitadas por países satélites dos Estados Unidos à época: Guatemala, El Salvador, Costa Rica e Honduras, sendo que esse último cederia seu território como base para ações armadas e operações terroristas contra o regime de Manágua.

.
Não considerar que a realidade geopolítica da região era totalmente distinta da que temos hoje é ignorar evidências históricas. O governo de Daniel Ortega teve que concentrar todos os seus esforços na guerra. A luta contra os paramilitares patrocinados pelos Estados Unidos custou a vida de 50 mil pessoas. Acusar, como fez Ramírez, que o insucesso se deveu a "uma ética revolucionária que se perdeu" ou responsabilizar os retrocessos por "uma cultura autoritária constitutiva do sandinismo, inspirada no marxismo ortodoxo" revela uma estreiteza de análise tão simplória quanto conveniente a um intelectual entediado.

.
Em 2006, Ortega, após a derrota eleitoral de 1990, voltou à presidência da Nicarágua. Seu discurso revelou um homem que aprendeu com as circunstâncias vividas. Ao defender investimentos estrangeiros e falar em reconciliação, demonstrou a maturidade de quem sabia ter uma revolução a ser retomada. Cerca de 80% dos nicaragüenses vivem com, no máximo, US$ 2 por dia. Permanece atual a célebre afirmação de Augusto César Sandino: "Nosso exército é o mais disciplinado, abnegado e desinteressado em todo o mundo porque tem consciência do seu papel histórico". O que marca a diferença é que esse exército, ao contrário de 1979, não está mais sozinho na América Latina.

.
O Departamento de Estado dos Estados Unidos não ignora esse fato. Alguns analistas também deveriam levar isso em conta, principalmente quando a ampliação de forças norte-americanas em bases militares colombianas vem a se somar com a reativação da Quarta Frota na linha territorial do pré-sal brasileiro.

.
Basta uma leitura rápida para verificarmos o que tem unificado a linha editorial da grande imprensa latino-america. Trata-se de condenar de forma veemente a formulações de políticas externas que ampliam a margem de manobra dos países da região. Em contraponto aos avanços alcançados pelos movimentos populares, as oligarquias que controlam as oficinas de consenso, mais uma vez, revelam qual é o seu papel histórico. No entanto, para seu infortúnio, dessa feita o novo já pode nascer. Estamos longe de 19 de julho de 1979 e cada vez mais próximos das determinações de Sandino. Ter a história nas mãos deixou de ser uma promessa do universo poético de Victor Jara. O presidente Ortega e as demais lideranças populares eleitas democraticamente no continente sabem disso. Não há espaço para recuos.

.
*Gilson Caroni Filho é professor de Sociologia das Faculdades Integradas Hélio Alonso (Facha), no Rio de Janeiro, colunista da Carta Maior e colaborador do Jornal do Brasil

.

Fonte: Carta Maior

.
.
in Vermelho - 2 DE AGOSTO DE 2009 - 21h25
.
.

Marcos Piva: O desafio sandinista

.
.

Castigado pela crise econômica e sob forte pressão política, governo de Daniel Ortega comemora 30 anos de revolução de olho na reeleição, em um país extremamente polarizado entre a Frente Sandinista e as demais forças.
.
Por Marco Piva, de Manágua

.
.

Manágua não anda com muita sorte. Dois de seus três últimos prefeitos morreram no cargo. Herty Lewites, com bons índices de aprovação, era o candidato à presidência do Movimento Renovador Sandinista, uma dissidência da Frente Sandinista de Libertação Nacional. Depois de uma bem sucedida operação cirúrgica, entrou otimista na campanha eleitoral de 2006, mas teve um ataque cardíaco e morreu.
.
Três anos depois, a causa de seu falecimento ainda gera especulações acaloradas. O irmão acusa: político carismático, de longa trajetória revolucionária e futuro brilhante pela frente, Lewites foi envenenado. Quem teria feito isso? A suspeita do irmão recai sobre a Frente Sandinista, seu ninho de origem.
.
Recentemente, o ex-campeão mundial de boxe Alexis Argüello, o grande ídolo esportivo de toda a história do país, eleito pela FSLN na polêmica eleição de 2008, deu um tiro no peito durante a madrugada. Pessoas próximas dão versões diferentes para o suicídio, embora todos coincidam que se tratava de uma personalidade psicologicamente instável e que tentava se livrar das drogas.
.
Uns dizem que ele nunca mais foi o mesmo depois que abandonou o boxe, que o alimentava de uma vaidade excessiva. A política foi uma válvula de escape para ser querido pelo povo novamente. Outros dizem que a tragédia foi conseqüência de seu inconformismo diante das freqüentes imposições dos sandinistas sobre o seu governo. Novamente, o dedo acusador aponta na direção da Frente Sandinista.
.
Hipóteses à parte, o fato é que esses dois episódios ilustram bem o nível de polarização entre a FSLN e as demais forças políticas, principalmente liberais e conservadores, organizações que historicamente se amam e se odeiam, mas que têm em comum o apetite pelo poder. Ao derrubar Anastácio Somoza em 19 de julho de 1979, os sandinistas desmontaram não só a máquina de guerra anti-povo do ditador como também colocaram os políticos tradicionais na defensiva.
.
Nos primeiros anos da revolução, no auge do apoio popular e da solidariedade internacional, a FSLN liderou um processo de radicalização política que levou a uma série de medidas de transformação social: reforma agrária, erradicação do analfabetismo, ampliação do sistema de saúde pública e nacionalização do sistema financeiro.
.
A ascensão sandinista coincidiu com a retomada do governo pelos republicanos nos Estados Unidos. Na figura hollywoodiana de Ronald Reagan, que decidiu impedir qualquer efeito dominó na área de influência de Washington, teve início um bloqueio econômico contra o país e uma guerra suja sem precedentes, com cenas típicas dos filmes de James Bond como foi o caso da explosão do estratégico porto de Corinto, em outubro de 1983. Nessa situação, o luto das famílias nicaraguenses se tornou permanente, colocando em dúvida se a defesa nacional valia o sacrifício de seus filhos.
.
A guerra desatada a partir de Honduras, onde as bases contrarrevolucionárias estavam localizadas, produziu um custo altíssimo em vidas, principalmente de jovens alistados compulsoriamente pelo exército. Por outro lado, a crise econômica provocada pela dívida externa nos países dependentes, o desmantelamento em série do bloco socialista e as terríveis restrições de consumo geradas pelo bloqueio norte-americano criaram as condições para que a oposição sandinista recuperasse o governo em 1990, com a eleição de Violeta Chamorro, viúva do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, um histórico opositor da ditadura somozista, assassinado em 1978.
.
Nesse momento, a Frente Sandinista sofreu dois revéses: um eleitoral e outro, interno, com o aprofundamento das divergências não superadas desde os tempos da luta armada. A concentração de poder em torno da figura de Daniel Ortega levou ao acirramento das disputas e à formação, anos depois, do Movimento de Renovação Sandinista, o mesmo do prefeito Herty Lewites, e, a partir deste, o Movimento pelo Resgate do Sandinismo, da comandante Monica Baltodano.
.
No campo da oposição tradicional, a eleição de Violeta Chamorro pacificou liberais e conservadores, que se revezaram no poder nas duas eleições presidenciais seguintes, sempre derrotando Ortega. A unidade anti-sandinista se mostrou vulnerável às ambições pessoais quando o ex-presidente Arnoldo Alemán sofreu uma série de acusações de corrupção que o levariam, mais tarde, à prisão.
.
Foi nesse momento de divisão das forças conservadoras que a FSLN decidiu colocar na mesa sua mais ousada cartada eleitoral: insistiu com Daniel Ortega e indicou como candidato a vice-presidente ninguém menos que o antigo líder da contrarrevolução. Na mesma direção de reconciliação acenou para um adversário histórico: o poderoso cardeal de Manágua, Miguel Obando y Bravo. Com a morte de Lewites e a fragilização das forças tradicionais, Ortega conseguiu o apoio tácito de um expressivo grupo de liberais sob a batuta de, ninguém menos, do que Arnoldo Alemán, o ex-presidente condenado por corrupção.
.
Feitas as contas, era preciso alterar a Constituição e fazer com que a barreira histórica de votação da FSLN (sempre na casa dos 35%) não impedisse a vitória de Ortega. O jeito foi arrumar um mecanismo curioso: para vencer no primeiro turno, o candidato deveria ter 40% ou mais dos votos, ou então uma margem superior a 8% sobre o segundo colocado. Em novembro de 2006, com 37,5% dos votos, Daniel Ortega assumiu a presidência pela segunda vez.
.
Mas, 16 anos depois de sua derrota para Violeta Chamorro, o que significava exatamente a volta à presidência nestas circunstâncias? Quando perdeu a eleição, Ortega entregou um país depauperado pela guerra, porém com forte simbolismo nacional e revolucionário. Todos os governos pós-1990 assumiram a bandeira neoliberal, modelo hegemônico na quase totalidade dos países latino-americanos.
.
O “consenso de Washington” deixou duas heranças. A primeira, a modernização da infra-estrutura do país, fruto da suspensão do bloqueio dos Estados Unidos e do fim da elevada participação do governo na economia. Terras confiscadas pela reforma agrária foram devolvidas aos seus proprietários; educação e saúde se transformaram em áreas não prioritárias; as relações comerciais com os vizinhos centro-americanos se normalizaram com os acordos de paz; e os investimentos estrangeiros receberam generosas isenções.
.
A segunda herança foi reconduzir a Nicarágua para a triste condição de vice-campeã da pobreza no continente, atrás apenas do Haiti. Além do desemprego e da fome, especialmente na área rural, o desabastecimento de energia alcançava a impressionante média de 11 horas diárias. Esta contradição entre a aparência de um país moderno e a agudização da crise social manteve a popularidade dos ideais sandinistas e garantiu a vitória.
.
Imediatamente, Ortega tratou de mostrar que a revolução sandinista estava de volta. Criou o programa “Hambre Cero”, espelhado na experiência brasileira; colocou a luta contra o analfabetismo e a recuperação da saúde pública como prioridades; e foi atrás de novos investimentos estrangeiros.
.
A parceria com a Venezuela de Hugo Chávez veio naturalmente em duas frentes: pelo discurso político, afinado na história de luta pela soberania de Bolívar e Sandino, e pela economia, com a necessidade de comprar petróleo em condições mais favoráveis para recuperar a capacidade energética e evitar os “apagões”.
.
Com as instituições do Estado dirigidas por gente simpática ao sandinismo, Ortega bancou o ingresso da Nicarágua na Aliança Bolivariana das Américas (ALBA) e acirrou as divergências com as forças de oposição. As eleições municipais de 2008, quando a FSLN conquistou mais de uma centena de prefeituras, foram marcadas por denúncias de fraude que levaram o governo norte-americano e a União Européia a congelar a cooperação econômica causando um impacto significativo na receita nacional.
.
A crise financeira mundial e o declínio da principal fonte de divisas do país que é o dinheiro enviado por cerca de um milhão de nicaragüenses que vivem nos Estados Unidos agravaram a situação econômica interna e tem obrigado o governo a fazer sucessivos cortes no orçamento.
.
E foi neste cenário de forte restrição orçamentária e de tensa polarização política que Daniel Ortega comemorou os 30 anos da Revolução Popular Sandinista. Para apimentar o ambiente, colocou na mesa a proposta de um referendo que abre as portas para mudanças na Constituição e, de quebra, nas regras eleitorais, o que permitiria, em tese, a possibilidade de reeleição, hoje proibida.
.
As dezenas de milhares de pessoas que estavam reunidas na praça da Fé, em Manágua, aplaudiram com entusiasmo. A oposição torceu o nariz. Pela história da Nicarágua, isto nunca foi diferente. Resta saber agora em quais condições os dois lados chegarão às eleições presidenciais de 2011 e, até lá, o que de fato terá mudado na estrutura social do país.
.
*Marco Piva é jornalista especializado em América Central e mestrando no Programa em Integração da América Latina da Universidade de São Paulo (Prolam/USP). Autor de “Nicarágua: um povo e sua história” (Edições Paulinas, 1986).

.

.

in Vermelho - 10 DE AGOSTO DE 2009 - 12h57

.

.

quarta-feira, julho 22, 2009

Fidel: O 30º aniversário sandinista e a proposta de San José

.

O golpe de Estado promovido pela extrema direita dos Estados Unidos - que mantinha na América Central a estrutura criada por Bush - e apoiado pelo Departamento de Estado evoluía mal pela enérgica resistência do povo.

.Por Fidel Castro, no Granma

.
.

A criminosa aventura, condenada de forma unânime pela opinião mundial e os organismos internacionais, não podia se sustentar. As lembranças das atrocidades cometidas em dácadas recentes pelas tiranias que os Estados Unidos promoveram, instruíram e armaram estavam frescas.
.
As investidas do império se encaminharam duarnte a administração Clinton e nos anos subsequentes, com o plano de impor o TLC a todos os países da América Latina, por meio das chamadas Cúpulas das Américas.
.
A intenção de comprometer o hemisfério com um acordo de livre comércio fracassou. As economias de outras regiões do mundo cresceram em um bom ritmo e o dólar perdia a sua hegemonia esclusiva como divisa privilegiada. A brutal crise financeira mundial complicou a situação. Nessas ciscunstâncias se produziu o golpe militar em Honduras, um dos países mais pobres do continente.
.
Após duas semanas de crescente luta popular, os Estados Unidos manobraram para ganhar tempo. O Departamento de Estado designou Oscar Arias, presidente da Costa Rica, para a tarefa de auxiliar o golpe de Honduras, assediado pela vigorosa, porém pacífica pressão popular. Nunca um fato similar na América Latina avia recebido tal resposta.
.
Nos cálculos do governo dos Estrados Unidos, pesava o fato de que Arias ostentava o título de Prêmio Nobel da Paz. A real história de Arias indica que se trata de um político neoliberal, talentoso e com facilidade com as palavras, extremamente calculista e aliado fiel dos Estados Unidos.
.
Desde os primeiros anos do triunfo da Revolição Cubana, o governo dos Estados Unidos utilizou a Costa Rica e lhe destinou recursos para apresentá-la como uma vitrine dos avanços sociais que podiam conquistar sob o capitalismo.
.
Esse paíse centroamericano foi utilizado como base pelo imperialismo para os ataques piratas contra Cuba. Milhares de técnicos e graduados cubanos foram subtraídos de nosso povo, que estava já submetido ao bloqueio, para prestarem serviços na Costa Rica. As relações entre Costa Rica e Cuba se restabeleceram recentemente; foi um dos últimos países do hemisfério a fazê-lo, o que nos satisfaz, mas não por isso devo deixar de expressar o que penso neste momento históirico de nossa América.
.
Arias, procedente do setor rico e dominante da Costa Rica, estudou direito e economia em um centro universitário de seu país, e se graduou depois como mestre em Ciência Política na universidade inglesa de Essex, onde, finalemnte, recebeu o título de doutor em Ciência Políticas. Com tais láureas, o presidente José Figueres Ferrer, do Partido Libertação Nacional, o nomeou assessor em 1970, aos 30 anos de idade.
.
E pouco depois o designou ministro de Planificação, cargo no qual foi ratificado pelo presidente que o seguiu, Daniel Oduber. Em 1978 ingressa no Congresso como deputado deste partido, Ascende logo a secretário geral em 1979 e é presidente pela primeira vez em 1986.
.
Anos antes do triunfo da Revolução Cubana, um movimento armado da burguesia nacional da Costa Rica, sob a direção de José Figueres Ferrer, pai do presidente Figueres Olsen, havia eliminado o pequeno exército golpista deste país e sua luta contou com a simpatia dos cubanos. Quando combatemaos em Sierra Maestra contra a tirania batistiana, recebemos do Partido da Libertação, criado pro Figueres Ferrer, algumas armas e munições, porém era demasiado amigo dos ianques e logo rompeu concosco.
.
Não se deve esquecer da reunião da OEA em San José, na Costa Rica, que deu lugar à Primeira Declaração de Havana, em 1960.
.
Toda a América Central sofreu durante mais de 150 anos, e sofre desde os tempos de William Walker - que se fez presidente da Nicarágua em 1856 - o problema do intervencionismo dos Estados Unidos, que tem sido constante, ainda que o povo da Nicarágua tenha conquistado já uma independência que está disposta a defender até o último alento. Não se conhece apoio nenhum da Costa Rica depois disso, ainda que um governo deste país, às vésperas da vitória de 1979, compartilhou a glória de ser solidário com a Frente Sandinista de Libertação Nacional.
.
Quando a Nicarágua foi sangrada pela guerra suja de Reagan, Guatemala e El Salvador também pagou um preço elevado de vidas, devido a uma política intervencionista praticada pelos Estados Unidos, que fornecia dinheiro, armas, escolas e doutrinação a tropas repressivas. Daniel disse-nos que os ianques finalmente promoveram maneiras de colocarem um fim à resistência revolucionária da Guatemala e El Salvador.
.
Mais de uma vez Daniel comentou com amargura que Arias, seguindo instruções dos Estados Unidos, havia excluído a Nicarágua das negociações de paz. Ele se reuniu apenas com os governos de El Salvador, Guatemala e Honduras para impor acordos à Nicarágua. Ele me disse também que o primeiro acordo foi assinado em um convento em Esquipulas, Guatemala, em 7 de agosto de 1987, após dois dias de intensas negociações entre os cinco presidentes da América Central. Nunca falei sobre isso publicamente.
.
Mas, desta vez, ao se comemorar o 30º aniversário da vitória Sandinista em 19 de julho de 1979, Daniel explicou tudo com impressionante clareza, tal como fez com todos os problemas durante o seu discurso, que foi ouvido por centenas de milhares de pessoas e difundidos na rádio e na televisão. Eu uso as suas palavras: "Os ianques o nomearam (a Arias) mediador. Temos uma profunda simpatia para com o povo da Costa Rica, mas não posso esquecer que, naqueles anos difíceis, o presidente da Costa Rica convocou os presidentes da América Central e não nos convidou".
.
"Mas os outros presidentes da América Central foram mais sensatos e disseram: Você não pode ter um plano de paz, se não está presente a Nicarágua. Para a verdade histórica, o presidente que teve a coragem de romper o isolamento imposto pelos ianques na América Central - onde os presidentes foram proibidos de falar com o presidente da Nicarágua e se queria uma solução militar, pretendiam acabar através da guerra com a Nicarágua, com a sua revolução - quem deu esse passo corajoso foi o presidente da Guatemala, Vinicio Cerezo. Eis verdadeira história. "
.
Ele imediatamente acrescentou: "Os ianques correram em busca de Oscar Arias porque já o conhecem! Para encontrar uma forma de ganhar tempo, para que os golpistas começassem a fazer alegações que são inaceitáveis. Desde quando um golpista vai negociar com a pessoa da qual tomaram os direitos constitucionais? Estes direitos não podem ser negociados, apenas têm que restituir ao presidente Manuel Zelaya, tal como disseram os acordos da ALBA, do Grupo do Rio, do SICA, da OEA e das Nações Unidas Unidos".
.
"Em nossos países nós queremos soluções pacíficas. A batalha a ser travada pelo povo de Honduras, neste momento, é uma luta pacífica para evitar mais dor do que já se produziu em Honduras", disse Daniel.
.
Em virtude da guerra suja ordenada por Reagan e que em parte foi custeada com drogas enviadas aos Estados Unidos, mais de 60 mil pessoas perderam a vida e outras 5 800 sofreram invalidez. A guerra suja de Reagan deu lugar à destruição e ao abandono de 300 escolas e 25 centros de saúde; 150 professores foram assassinados. O custo elevou-se a dezenas de bilhões de dólares.
.
A Nicarágua tinha apenas 3,5 milhões de habitantes, deixou de receber o combustível que enviava a URSS e a enonomia ficou insustentável. Convocou as eleições e respeitou o decidido pelo povo, que havia perdido toda as esperanças de preseravr as conquistas da Revolução. Quase 17 anos depois, os sandinistas regressaram vitorioss ao governo; faz só dois dias que comemoraram o 30º aniversário da primeira vitória.
.
No sábado 18 de julho, o prêmio Nobel propôs os conhecidos sete pontos da iniciativa pessoal de paz que subtraíam autoridade às decisões da ONU e da OEA e que equivaliam a um ato de rendição de Manuel Zelaya, que lhe tomariam simpatia e debilitariam o apoio popular. O presidente constitucional enviou o que qualificou como um ultimato aos golpistas, anunciando seu regresso a Honduras para o domingo, 19 de julho, por qualquer departamento do país.
.
Por volta do meio-dia deste domingo, se produz em Manágua o gigantesco ato sandinista com históricas denúncias sobre a política dos Estados Unidos. Eram verdades que não podiam ser transcendentes.
.
O pior é que os Estados Unidos estavam encontrando resistência do governo golpista a sua manobra. Não se sabe o momento em que o Departamento de Estado, por sua vez, enviou uma forte mensagem a Micheletti, e se os líderes militares foram advertidos das posições do governo dos Estados Unidos.
.
O fato é que, para aqueles que seguem de perto os fatos, Micheletti estava insubordinado contra a paz na segunda-feira. O seu representante em San José, Carlos López Contreras, declarou que a proposta de Arias não poderia ser discutida, pois o primeiro ponto, isto é, a restauração de Zelaya, não era negociável.
.
O governo golpista tinha levado a sério o seu papel e nem sequer percebia que Zelaya, privado de toda autoridade, não constituía um risco para a oligarquia e, politicamente, sofreria um golpe, se aceitasse a proposta do presidente da Costa Rica.
.
No próprio domingo, 19, quando Arias pediu outras 72 horas para explicar sua posição, a Sra. Clinton falou por telefone com Micheletti e argumentou no que o porta-voz Philip Crowley descreveu como uma "chamada dura". Algum dia se saberá o que ela lhe disse, porém, bastaria ver a cara de Micheletti quando falou em uma reunião de seu governo, dia 20 de julho: parecia realmente a de uma criança da creche censurada pelo professor.
.
Através da Telesur vi as imagens e os discursos da reunião. Outras imagens transmitidas foram dos representantes da OEA pronunciando seus discursos no centro desta instituição, comprometendo-se a esperar a última palavra do Prémio Nobel da Paz na quarta-feira. Sabiam ou não o que Clinton disse a Micheletti? Talvez sim, ou talvez não. Talvez algumas pessoas, mas nem todos conheciam. Homens, instituições e conceitos haviam se convertido em instrumento da alta e arrogante política de Washington.
.
Nunca um discurso na OEA brilhou com tanta dignidade como as breves, mas vibrantes e corajosas, palavras de Roy Chaderton, embaixador da Venezuela, na referida reunião.
.
Amanhã aparecerá a pétra imagem de Oscar Arias, explicando que se desenvolveram tais e quais propostas de solução para evitar a violência. Acho que até ele próprio caiu na armadilha montado pelo Departamento de Estado. Vamos ver o que acontece amanhã.
.
No entanto, a população de Honduras, é que vai dizer a última palavra. Representantes das organizações sociais e das novas forças não são instrumentos de ninguém dentro ou fora do país; conhecem as necessidades e os sofrimentos do povo; as suas consciências e seus templos se multiplicaram; muitas pessoas que eram indolentes aderiram; os próprios membros honestos dos partidos tradicionais que acreditam na liberdade, na justiça e da dignidade humana vão julgar os líderes a partir da posição assumida neste minuto histórico.
.
Ainda não se sabe qual seria a atitude dos militares frente aos ultimatos ianques, e que mensagens chegam aos oficiais; só há um ponto de referência patriótica e honrosa: a lealdade ao povo, que suportou com heroísmo o gás lacrimogênico, os golpes e os disparos.
.
Sem que ninguém possa garantir qual será o último capricho do império; se, a partir das últimas decisões adotadas, Zelaya regressa legal ou ilegalmente, sem dúvida os hondurenhos farão uma grande recepção, por que será uma medida da vitória que já conquistaram com suas lutas.

Ninguém duvide de que só o povo de Honduras será capaz de construir a sua própria história!
.
Fidel Castro
.
21 de julho de 2009

.
in Vermelho -
22 DE JULHO DE 2009 - 12h30
.
.

terça-feira, julho 21, 2009

Nos 30 anos da Revolução Sandinista, Ortega fala em reeleição




.

A Revolução Sandinista na Nicarágua completou, neste domingo (19), trinta anos, e o governo do presidente Daniel Ortega comemorou a data com um ato de massas. Ortega aproveitou a ocasião e explicitou, pela primeira vez, seus desejos de reformar a Constituição e habilitar a possibilidade de reeleição para a próxima disputa de 2011.

.

Ato pelos 30 anos da Revolução Sandinista
.
''Os deputads se reelegem o tempo todo, aos governantes não o permitem. Se vamos ser justos, que o direito à reeleição seja para todos e que seja o povo, com seu voto, que decida se existe ou não o direito à reeleição. Que decida premiar ou castigar. Esse é um princípio que temos que defender'', declarou.
.
''Temos que trabalhar para ter uma melhor Constituição; podemos recorrer a mecanismos, como um reerendo, ou instalar outra urna para consultar o povo se quer ou não a reeleição presidencial em períodos sucessivos'', continuou Ortega.
.
''E aqui podemos fazer isso sem nenhum problema, sem nenhum temor, porque o exército e a polícia não vão reprimir''assegurou o mandatário, em referência ao recente golpe de Honduras, que teve como mote a tentativa do presidente Manuel Zelaya de realizar um plebiscito sobre mudanças na carta Magna do país.
.
Há 30 anos, em 19 de julho de 1979, a insurreição popular liderada pela Frente Sandinista de Libetação Nacional (FSLN) derrubava na Nicarágua a dinastia Somoza, que havia governado com mão de ferro o empobrecido país durante 45 anos, naquela que foi uma das ditaduras mais prolongadas da América Latina.
.
Desde 1995, quando a atual oposição direitista assumiu a presidência, as leis nicaraguenses só permitem a reeleição me períodos alternados e só em uma ocasião. Em seu discurso, Ortega, além de fazer um balanço de sua gestão, falou sobre o golpe de Honduras e a recente decisão do colombiano Álvaro Uribe de permitir a instalação de bases militares estadunidenses em seu país.
.
Ortega defendeu que a CIA esteve por trás da derrubada de Manuel Zelaya em Honduras. ''Que nào nos venham dizer que os servços ianques não sabia de nada. Quem pode crer em semelhante mantira?'', questionou.
.
Sobre a presença militar norteamericana na Colômbia, o presidente da Nicarágua avaliou como um perigo para a região. ''Não queremos mais bases norteamericanas. É uma ameaça para a segurança de todo o continente. Que venham com obras desenvolvimento, que estas sim são bem-vindas'', assegurou.
.
Com La Jornada e Página 12
.

Leia também: Nicarágua: mudança na Constituição não deve enfrentar dificuldade


.
in Vermelho - 20 DE JULHO DE 2009 - 18h22
.
.