A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quinta-feira, março 14, 2013

Informe do Dia: 'Nome do Papa é programa de governo'

 

POR Fernando Molica
Rio -  Punido pelo Vaticano em 1985, o teólogo e ex-frade franciscano Leonardo Boff não escondeu seu entusiasmo com a escolha do novo Papa e com sua decisão de passar a se chamar Francisco.
 
Para ele, a escolha representou “um programa de governo”. Na terça, Boff acertara o nome do futuro Papa: ao apostar na escolha do franciscano americano Seán Patrick O’Malley, Boff escreveu, no Twitter, que ele adotaria o nome de Francisco. O brasileiro era contra a eleição de Dom Odilo Scherer, que, para ele, seria um Bento 16 “com menos luzes”.
 
Foto: Elza Fiuza / ABR
Foto: Elza Fiuza / ABR
INFORME: Como o sr. avalia a escolha do novo Papa?
BOFF: Este é o Papa de que a Igreja precisava. Isto fica claro na escolha do seu nome: trata-se de um jesuíta com alma franciscana. O nome Francisco é um programa de governo. O novo Papa nasce com a inspiração franciscana de simplicidade, ética, solidariedade com os pobres, amor à natureza e liberdade de criação. Na primeira visão que teve, Francisco de Assis ouviu de Jesus o apelo para que reconstruísse a Igreja. São Francisco viu que a Igreja deveria voltar-se para o Evangelho, para os leigos. Este foi seu projeto de reconstrução. Ele era um leigo, nunca foi padre. Foi obrigado, no fim da vida, a aceitar o título de diácono, mas exigiu não receber qualquer salário. Além do mais, pregava em italiano, não em latim. Ou seja, era voltado para a comunidade.
 
Que pontos chamaram sua atenção neste primeiro pronunciamento do Papa Francisco?
Ele falou em caridade. Isso sempre foi uma luta nossa, dos teólogos: o primado da caridade sobre o direito canônico. Ele pediu pela fraternidade, colocou o povo no centro ao pedir que a multidão o abençoasse. Assim, ele recuperou o princípio do Concílio Vaticano 2º (assembleia que, entre 1961 e 1965, promoveu uma série de mudanças na Igreja). O novo Papa deixou claro que o povo vem antes da hierarquia. Ele certamente vai mudar o atual modelo de Igreja, absolutista, monárquico. Apostará no ecumenismo, no diálogo com as diferentes igrejas.
 
Qual a importância da eleição do primeiro Papa latino-americano?
Pela primeira vez temos um Papa do Terceiro Mundo, onde vivem 60% dos cristãos, isto é um fato inédito e muito importante. Francisco vem de uma experiência pastoral, não é um espelho de Roma, ele tem autonomia, tem capacidade de falar para o centro do poder da Igreja. Ele certamente vai propor uma profunda reforma da instituição. Em 2007, o cardeal Bergoglio foi um dos principais autores do documento final de Aparecida (Quinta Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, que contou com a presença do papa Bento 16). Trata-se de um documento que fala na necessidade de uma nova evangelização. Como todos os jesuítas, trata-se de um homem muito bem preparado e que tem um sentido pastoral muito grande. Ele, como bispo, também aprovou a adoção de uma criança por um casal gay.
 
O sr. acha que ele terá condições de dialogar com o mundo moderno?
Certamente. Não será um Papa doutrinador, mas um Papa pastor, capaz de entender a vida do povo, problemas como a pobreza, o desemprego, a crise por que passam tantos países, as questões ecológicas. O centro não é a Igreja, mas a humanidade.
 
No livro ‘El Silencio’ o argentino Horacio Verbitsky diz que o então bispo Jorge Bergoglio colaborou com a ditadura argentina. Lá, a Igreja Católica chegou a ajudar na prisão de dois padres. Como o sr. vê esta acusação?
Não tenho detalhes da situação da ditadura. Mas conheço argentinos que negam que ele tenha tido qualquer tipo de colaboração com os militares. Sei que há uma certa tensão entre o novo Papa e os Kirchner (a atual presidenta, Cristina, e seu antecessor, Néstor, que morreu em 2010). O cardeal Bergoglio sequer foi convidado para presidir a cerimônia religiosa que marcou o início do mandato da atual presidenta. 
 
 
http://odia.ig.com.br/portal/rio/informe-do-dia-nome-do-papa-%C3%A9-programa-de-governo-1.560375

segunda-feira, março 04, 2013

Frei Betto: Rumo ao conclave

Página Inicial
 
4 de Março de 2013 - 12h28         

Para o Vaticano, o conclave não deve ser encarado como um colégio eleitoral, o que de fato é, mas um retiro espiritual no qual os cardeais invocam aquele que, na ótica da fé católica, é o único verdadeiro eleitor: o Espírito Santo.

Por Frei Betto*

 A partir de 28 de fevereiro iniciou-se, com a renúncia de Bento XVI, o período de Sé Vacante. Até a eleição do novo papa, o governo da Igreja Católica fica em mãos do Colégio de Cardeais. De fato, sob o comando de Tarcísio Bertone, o cardeal camerlengo (do latim medieval camarlingus, adido à câmara, que administra a Santa Sé).

Durante a Sé Vacante, os cardeais se reúnem diariamente em Congregação Geral, da qual todos participam, inclusive os que, por idade (+ de 80 anos), perderam o direito de participar do conclave. Ali, as decisões mais importantes para o governo da Igreja são votadas por maioria simples. Prevalece, entretanto, o princípio tradicional que rege a Sé Vacante – “nihil innovetur” (nada a inovar).

Da Congregação Particular, à qual concernem assuntos de menor importância e a preparação do conclave, participam o camerlengo e mais três cardeais escolhidos por sorteio.

Para o Vaticano, o conclave não deve ser encarado como um colégio eleitoral, o que de fato é, mas um retiro espiritual no qual os cardeais invocam aquele que, na ótica da fé católica, é o único verdadeiro eleitor: o Espírito Santo.

A atual legislação da Igreja prevê que o conclave se reúna dentro da Cidade do Vaticano. Mas já não será tão fechado ou “sob chaves” (daí conclave) como se exige, já que diariamente os cardeais-eleitores se deslocarão em ônibus da Casa Santa Marta, a confortável hospedaria construída por ordem de João Paulo II, até a Capela Sistina. Se nenhum dos cardeais tomará em mãos o volante do veículo, supõe-se que ao menos terão contato com o motorista.

No século XIX, os conclaves ocorreram no Palácio do Quirinal, em Roma, hoje residência oficial do presidente da Itália. O último conclave fora de Roma foi em Veneza, em 1800, após a morte, na prisão, do papa Pio VI, encarcerado na França por Napoleão Bonaparte, cujas tropas ocuparam Roma. Do cárcere, Pio VI instruiu os cardeais a promoverem o conclave “em qualquer lugar de qualquer príncipe católico”. Na época, Veneza estava sob soberania da Áustria. Ali foi eleito Pio VII.

Na mesma tarde do primeiro dia do conclave se realiza um primeiro escrutínio. Trata-se de um gesto de boas-vindas, em que votos são dados para homenagear determinados cardeais, em geral mais velhos, sem chances de serem eleitos papa.

No conclave após a morte de João Paulo I, em 1978, um idoso cardeal norte-americano, que havia participado das eleições de João XXIII e Paulo VI, foi a cada um de seus colegas para pedir-lhes um voto de homenagem, pois aquela seria sua última oportunidade de eleger um papa, e seu nome nunca havia sido pronunciado na Capela Sistina, pois jamais recebera um único voto. Ao fim do primeiro escrutínio, por pouco não foi eleito...

A partir do segundo dia de conclave, duas votações acontecem, uma pela manhã e outra pela tarde. Após 21 escrutínios, ficam no páreo apenas os dois mais votados.

Durante o conclave, os olhares do mundo permanecem fixos na chaminé da Capela Sistina. Se a fumaça é preta, sinal de que mais um escrutínio terminou e nenhum cardeal obteve dois terços dos votos. Se branca, há um novo papa.

Em outubro de 1978, em um dos oito escrutínios na eleição de João Paulo II, a fumaça saiu híbrida, com uma cor que dividiu a multidão atenta entre o preto e o branco. O porta-voz do Vaticano esclareceu, na sala de imprensa, que era preta. A gratidão dos jornalistas foi quebrada pela impertinência de um repórter dos EUA: “Se nem o senhor pode ter contato com os cardeais trancados na Capela Sistina, como afirma com certeza que a fumaça era preta?”

* é escritor, autor do romance “Minas do Ouro” (Rocco), entre outros livros.artigo publicado em Brasil de Fato

segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Toni Negri - as duas renúncias do papa alemão

 
 
18 de Fevereiro de 2013 - 16h25         

Ao colocarem uma pedra sobre o Concílio Vaticano 2º, Wojtyla e Ratzinger confundiram Igreja com Ocidente, e cristianismo com capitalismo.

Por Toni Negri


Há mais de vinte anos, saiu a encíclicia Centesimus Annus, do papa polonês Wojtyla, por ocasião do centenário da Rerum Novarum. Era o manifesto reformista, fortemente inovador, de uma Igreja que se pretendia, dali em diante, única representante dos pobres, depois da queda do império soviético. Àquele documento, meus companheiros parisienses do Futur Antérieur e eu dedicamos um comentário que era também o reconhecimento de um desafio. Teve por título “A 5ª Internacional de João Paulo II”.

Vinte anos depois, o papa alemão renuncia. Declara-se não só esgotado no corpo, e incapaz de se opor aos imbroglios e à corrupção da Cúria Romana, mas também impotente no ânimo para enfrentar o mundo. Esta abdicação, porém, só pode surpreender os curiais. Todos os que estão atentos aos assuntos da Igreja romana sabem que outra renúncia, bem mais profunda, dera-se antes. Ocorrera em parte sob João Paulo II, quando, com o apoio fervoroso de Ratzinger, a abertura aos pobres e o empenho por uma Igreja renovada pela libertação dos homens da violência capitalista e da miséria terminaram.

Fora pura mistificação, a encíclica de 1991? Hoje, devemos reconhecer que, provavelmente, sim. De fato, na América Latina a Igreja católica destruiu cada foco da Teologia da Libertação. Na Europa, voltou a reivindicar o ordo-liberalismus. Na Rússia e Ásia viu-se quase incapaz de desenvolver o discurso que a nova ordem mundial permitia. E nos países árabes e Irã viu os muçulmanos – em suas diversas seitas e facções – assumir o posto do socialismo árabe (e frequentemente cristão) e do comunismo ortodoxo, na defesa dos pobres e no desenvolvimento de lutas de libertação.

A própria reaproximação com Israel não foi feita em nome do anti-fascismo e da denúncia dos crimes nazistas, mas… em nome da defesa do Ocidente. O paradoxo mais significativo é que o grande impulso missionário (desenvolvido de modo autônomo depois do Concílio Vaticano 2º) refluiu em favor de ONGs católicas, rigidamente especializadas e depuradas de qualquer característica genericamente “franciscana” Estas ONGs terminaram dedicadas à prática dos “direitos do homem” que a Igreja (e dois papas: o polaco e o alemão) recusava-se a reconhecer nos países europeus ou na América do Norte, onde ainda expressavam, com ressonância anticlerical e republicana, as conquistas (residuais, ainda que eficazes) da laicidade humanista e iluminista. Ao invés de se colocar à esquerda da social-democracia, como a Centesimus Annus propunha, o papado situou-se à direita, no cenário social, e junto a uma direita política próxima aos Tea Parties (inclusive os europeus).

Agora, o papa alemão abdica. É quase divertido ouvir a mídia do mundo que ainda se interessa pelo assunto (muito limitado, se considerarmos o espaço global). Ela pede ao novo Papa que reconheça o ministério eclesiástico das mulheres; que estabeleça uma administração colegiada burguesa da Igreja, que assegure uma posição de independência em relação à política… propostas banais. Mas tocam o essencial? Seguramente, não: é a pobreza, o que falta à Igreja. Seria enfim o momento de compreender que o papa não é um Rei: deve ser pobre, só pode ser pobre.

Tentarão mascarar o problema promovendo um africano, ou um filipino, ao papado? Que horrível gesto racista seria, se o Vaticano e os seus ouros e os seus bancos e a sua dogmática política a favor da propriedade privada e do capitalismo permanecessem brancos e ocidentais! Pedem conceder às mulheres o sacerdócio: não é pura hipocrisia, quando não lhes passa nem pela antecâmera do cérebro que Deus possa ser declinado ao feminino? Querem gestão colegiada da Igreja: mas já Francisco ensinou que o compartilhamento só poderia se dar na caridade. Etc, etc.

A Igreja do papa polaco e do alemão concluiu o processo de aniquilação do Concílio Vaticano 2º, e esta liquidação infelizmente não representou jamais uma “guerra civil” no interior da instituição, mas apenas um torneio de esgrima entre prelados – ainda que sangrenta, como no caso da neutralização do cardeal Martini – mas sempre esgrima. Ao colocarem uma pedra sobre aquele Concílio, os dois últimos papas bloquearam um impetuoso movimento de renovação religiosa. Sobretudo, confundiram a Igreja com o Ocidente, o cristianismo com o capitalismo. Era justamente o que a Centesimus Annus prometia não voltar a fazer, uma vez acabada a histeria anti-soviética.

Não bastava, porém, proclamar a pobreza, para subordinar à cristandade as formas de vida do Ocidente capitalista. Era preciso praticar a pobreza, alimentá-la, como uma revolução. Diante das crises monetárias, de produção e sociais, os cristãos teriam desejado da Igreja uma definição nova e adequada de “caridade”, de “amor pelo próximo”, da “potência da pobreza”. Não a obtiveram. No entanto, muitos militantes cristãos refutam o declínio que o Vaticano e o Ocidente parecem percorrer juntos.

Alguns pensam agora que “a renúncia de Bento poderia finalmente tirar a Igreja do século 19”; outros ,que haverá uma reflexão profunda e o reconhecimento da necessidade de uma reforma. Mas, ao contrário, não terão razão aqueles para os quais estamos diante da “agonia de um império doente?”. E que o gesto de Bento não é outra coisa além de um álibi oportunista, uma tentativa extrema para fugir da crise? A única coisa de que estamos certos é que qualquer reforma doutrinária será inteiramente inútil se não for precedida, acompanhada e realizada por meio de uma reforma radical das formas de presença social da Igreja, de suas mulheres e homens. Se estes desistirem de associar a esperança celeste e a terrena. Se voltarem a falar da “ressurreição dos mortos”, ocupando-se dos corpos, do alimento, das paixões dos homens que vivem. Significa romper com a função que o Ocidente capitalista confiou à Igreja – pacificar, com esperanças vazias, o espírito de quem sofre; tornar culpada a alma que se rebela.

A descontinuidade produzida pela renúncia de Bento suscitará efeitos de renovação se a ela se associar a recusa a representar a “Igreja do Ocidente”. Talvez tenha chegado o momento de realizar o que havia proposto a Centesimus Annus há vinte anos, e reconhecer aos trabalhadores a condição de explorados, no Ocidente, pelo Ocidente. Mas se o Papa polonês de então não conseguiu, é dúbio que possa fazê-lo um aluno seu, de frágil carisma. A obra está confiada, portanto, aos cristãos. E a nós todos.

Fonte: Blog Outras Palavras. Tradução de Antonio Martins

quarta-feira, fevereiro 13, 2013

Serafim Lobato - O Papa saíu de cena e deu lugar aos acontecimentos posteriores

Tabanca de Ganturé

Quarta-feira, 13 de Fevereiro de 2013


O PAPA SAIU DE CENA E DEU LUGAR AOS ACONTECIMENTOS FUTUROS



O Papa da Igreja Católica Romana, que se auto-intitulou, como seu Sumo Pontífice, há cerca de oito anos, com o nome de Bento XVI, anunciou, num consistório (na linguagem ritual e cifrada da Santa Sé, é uma reunião de cardeais),  efectuado no Vaticano, no passado dia 11, logo após o domingo de Carnaval ocidental, que iria abdicar do seu cargo, porque, segundo ele, as suas faculdades “já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino”.

Esperando pela noite de cristal  

É uma explicação esfarrapada, pois o seu antecessor, em condições físicas mais extremadas, ocupou o cargo até ao fim. 

É um pormenor, certamente. 

Mas não a verdadeira razão. 

Os hierarcas da Igreja Católica são os mentores mores da mentira e da manipulação. Tem uma experiência contínua de mais de dois mil anos…

Este acto de renúncia não mereceria uma simples notícia se o Vaticano não fosse a maior instituição financeira mundial no presente momento. 

Os problemas dessa enorme seita são, pois, humanos, e, essencialmente, do âmbito da economia.

É um poder dominante e explorador, portanto.  Mas merece, também, um enquadramento.

1 - Há dois mil anos, começava a formar-se numa parte do Império Romano uma formação religiosa próxima do judaísmo, praticamente desconhecida.

De acordo com os próprios dignitários do poder de então de Roma, como Plínio, o Jovem, governador da Bitínia, uma extensa região na actual Turquia asiática – ele escreve ao imperador Trajano, sendo, portanto, o primeiro documento oficial e documental a admitir a existência de cristãos nos princípios do século II DC – essa formação, em que os seus membros se intitulavam cristãos, eram, para o Império, “uma sociedade secreta”.

Tornaram-se subversivos – os cristãos primitivos - face a Roma, porque, - retiro da carta de Plínio -, em primeiro lugar, não reconheciam a autoridade imperial, nem lhe devotavam religiosidade como deus, e, nos seus rituais diferenciados do comum romano, em determinados dias, costumavam comer antes da alvorada e rezar responsivamente hinos a Cristo, como a um deus; obrigavam-se por juramento a não praticar algum crime, mas à abstenção de roubos, rapinas, adultérios, perjúrios e sonegação de depósitos reclamados pelos donos. Concluído este rito, costumavam distribuir e comer seu alimento. Este, aliás, era um alimento comum e inofensivo”. 

E Plínio acrescentava: “Esta superstição contagiou não apenas as cidades, mas as aldeias e até as estâncias rurais”.

Da descrição daquele alto funcionário imperial romano, infere-se que, na hierarquia dessa nova formação religiosa nascente, perigosa, nesses primórdios, para Roma imperial, se encontravam também mulheres, “chamadas diaconisas”.

O chefe romano não explicita a existência de outros hierarcas, incluindo bispos ou o seu equivalente feminino, como entidade superior. O que pressupõe que não haveria nessa região, pelo menos.

(Uma curiosidade: pouca referência de “missionação” existe nos textos cristãos canónicos nos inícios do cristianismo naquela região do Império).

Historicamente, com confirmação fidedigna coeva, igualmente, é desconhecida a existência dos chamados primeiros Papas.
  
Era, na altura, realmente, uma verdadeira formação revolucionária, que recusava o poder ditatorial de Roma, a usura, os lucros excessivos obtidos pela extorsão de impostos e de empréstimos por prestamistas ligados ao reinado imperial.

Esses revolucionários imiscuíram-se na administração do Império, controlaram as próprias Forças Armadas, desobedeceram, ainda que com repressão sem freio, dos Pontifex Maximus e Imperatores colocados em Roma.

Os autocratas de Roma, vendo o crescimento subversivo da nova religião, começaram a fazer alianças com os chefes cristãos, que se começaram a hierarquizar em bispos, presbíteros e patriarcas, e já detinham algum poder temporal regional.

No século IV,  em 380 DC, com a anuência dos bispos,  o cristianismo foi declarado como religião de Estado exclusiva do Império Romano.

A partir daqui, o Império passou a ser um Estado confessional e os seus maiores defensores foram os Papas, que entretanto foram transformados, com o apoio directo imperial, em chefes teocráticos unificados e ferozmente centralizados pelo novo poder.

Desde então, embora com altos e baixos, o Papado romano adquiriu um poder temporal de invejar, um poder de interferência directa nos reinos e nos Estados, principalmente do Mundo Ocidental.

E, com esta “ascensão”,  toda a história do cristianismo primitivo foi reescrita e destruídos os documentos que a ele se referiam e contrariavam a nova orientação dos responsáveis da religião agora já consolidada.

E aconteceu sem contemplações, trucidando tudo o que pusesse em causa a supremacia e os dogmas criados para o estabelecimento da teocracia ditatorial do Papa Católico Apostólico Romano.

2 – Desde então, o Papa Romano desempenha o cargo monárquico teocrático ditatorial mais antigo do Mundo.

O cargo, como atrás referimos, não existiu nos princípios do cristianismo. 

Tornou-se, no entanto, uma realidade à medida que a Igreja Católica foi centro de poder, quer pela posse territorial (muitos dos bispos na decadência do Império Romano, no século VI, tornaram-se condes e duques, com amplos poderes político-militares), quer pelo poder da autoridade religiosa, interligada com os poderes patrimonial e militar (cujo início se pode situar com o rei dos francos Carlos Magno, de que daremos uma breve explicação mais à frente), como sucedeu em toda a Idade Média e no Renascimento, quer, como sucede, nos últimos 80 anos, com o acesso ao controlo, de parte substancial, do sistema societário financeiro, industrial, comercial, educacional e político transnacional.

Foi, realmente, com Carlos Magno, que começou por ser rei dos francos, em 768 DC, e se tornou Imperador do Ocidente (Imperatur Romanorum), de 800 a 814, que abrangeu a Europa Ocidental e Central e o reino de Itália, tudo em íntima associação com as ordens religiosas e o Papado. 

O Sumo Pontífice Católico Leão III coroou-o como Imperator Augustus. 


Com ele. e, a partir dele, a Igreja Católica controlou toda a estrutura económica e cultural do que foi o reino de França e  senhor do Sacro Império Romano Germânico.

Os hierarcas religiosos foram, frequentemente, arcebispos-bispos-condes e, mais tarde, duques. 

Das suas famílias, da dos réis católicos, ou dos seus protegidos, foram escolhidos, os cardeais e entre estes os Papas, ao longo dos séculos.

(Um dos filhos do infante português Pedro, duque de Coimbra, filho do rei João I e da duquesa de Urgel Isabel, de nome Jaime foi arcebispo de Lisboa (com 20 anos, 1453), de Arras e cardeal-infante (1456) . Morreu com 25 anos (1459) e está enterrado em Florença (Convento de S.Miniato).

3 – A Igreja Católica somente ganhou poder e supremacia no Mundo, quando teve na sua posse bens terrenos patrimoniais e financeiros, que lhe garantiram (e garantem) uma capacidade de influenciar os diferentes poderes.

(O banco mais antigo do mundo ocidental, o Monte dei Paschi di Siena, nascido em 1472, aparentemente pertencente à comuna de Siena, na prática, em maioria, na mão da Igreja, quer directamente pela arquidiocese de Siena, quer instituições de voluntariado. O seu presidente executivo actual é o anterior presidente do banco do Vaticano o Unicredit)

Sem estes “atributos”, a Santa Sé, apesar dos prosélitos religiosos, pouco ou nada contou na política europeia, como aconteceu no final do século XIX, com a extinções dos chamados Estados Papais e o corte da circulação monetário, quando os revolucionários italianos unificaram o país. 

O Papa e a religião católica ficaram reduzidos a um “estado de espírito”, cujo poder de influência se baseava na manutenção do seu fanatismo e obscurantismo confessionais.

A inversão deste estado de coisas deu-se, em primeiro lugar, com o apoio directo e militante ao fascismo italiano e ao apoio cúmplice à ascensão do poder nazi na Alemanha.

O camareiro papal alemão Von Pappen foi indigitado, através do partido católico e a benção da Santa Sé, vice-chanceler alemão, tendo como líder Adolf Hitler.

Mas, situemo-nos na Itália, em 1929,  onde o Papa Pio XII se comprometeu a dar o seu aval sem qualquer subterfúgio ao regime fascista de Benito Mussolini, em troca de um vultosa quantidade de liras e da garantia da religião católica se tornar a religião oficial do Estado ditatorial, ao mesmo tempo que permitiu a existência de um pequeno Estado papal no Vaticano, com todas as garantias de imunidade para os negócios da Santa Sé. Chamou-se o Tratado de Latrão, a esse acordo, que vigora ainda hoje, com certas modificações.

O dinheiro do Estado italiano doado por Benito Mussolini foi assim distribuído 750 milhões de liras a pronto pagamento e mil milhão de liras em Títulos do Tesouro a bom juro.


No Estado do Vaticano,meses depois, foi instituída como Lei Fundamental, a concentração de poderes, sem qualquer espécie de discussão, (legislativo, executivo e judiciário) nas mãos do Papa.

Isto no bairro do Vaticano propriamento dito e em mais 12 edifícios espalhados  por Roma, bem como no Palácio de Castelgandolfo. No fundo, a administração financeira, patrimonial, meios de comunicação social vaticanistas, tudo ficaria (a ainda está) ao arbítrio do Chefe de Estado da Santa Sé, ao mesmo tempo Sumo Pontífice universal da Igreja Católica e bispo de Roma.

4 – Os dignitários do Vaticano aplicaram este dinheiro – com o assentimento directo do regime fascista – primeiro, dentro da própria Itália. 

Entraram nas finanças (os principais bancos), nas seguradoras, na indústria (química, armamento, ferrovia, aviação, marítima), no comércio (empresas distribuidoras alimentares), na educação (escolas e universidades), comunicação social (a RAI) e na própria actividade partidária (fundaram um partido católico- A Democracia Cristã). 

O Banco de Itália é, maioritariamente, administrado por sicários da Santa Sé.

Ler, para o efeito, o livro “Empório do Vaticano”, do jornalista norte-americano, correspondente na Santa Sé do "New York Herald Tribune" durante oito anos, Nino LoBello, falecido em 1997, onde, além de referenciar os principais patrimónios controlados pela Igreja, assinala que a ligação entre o Vaticano e a Máfia era tão forte que “muita gente” considerava que a Sicília não era mais do que um edifício do Papado.

Escreveu ainda o livro “The Vatican Papers", em 1978.

Lo Bello sublinhava, com dados, que o Vaticano, já naquela altura, segunda metade dos anos 60 do século passado, “era um dos maiores accionistas do Mundo”.

Descrevia ainda que o número de companhias de que a Santa Sé era proprietário, ou continha uma participação societária relevante, era de tal modo elevado, que nem dava para acreditar, desde os principais bancos, as seguradoras, a Italgás, que era a única empresa fornecedora de gás a 36 cidades italianas. 

Por seu turno, esta ultima empresa controlava 11 outras formas desde os anidridos, minérios de ferro, fósforo, carvão, destilados, água potável (a EPAL de Roma), fogões de gás e industriais, grandes construtoras civis. Controlava a Montecatini-Edison, então uma das maiores instituições industriais de Itália.

Expandiram o seu negócio pela Europa, pelos Estados Unidos, pela América Latina.

Depois seguiram para África. Hoje apostam, em grande, na Ásia, incluindo a China.

Fundaram empresas de fachada, multiplicaram e entrecruzaram centenas de “off-shores”. “um império secreto”, como lhe chamou recentemente (Janeiro de 2013) o jornal inglês The Guardian.

A revista The Economist, igualmente, tem acompanhado com frequência a evolução do poder político, económico e financeiro da Santa Sé.

Dois livros de um jornalista italiano chamado Gianluigi Nuzzi, um intitulado “Vaticano S.A – a verdade sobre os escândalos financeiros e políticos da Igreja”” (2009), e “Sua Santidade – As carta secretas de Bento XVI – Como o Vaticano vendeu a alma”,  são fontes que ajudam a conhecer toda a trama em que se transformou a Santa Sé.

Uma outra personalidade investigou profundamente os negócios do Papado. Trata-se do aristocrata e filósofo britânico Avro Manhattan, morto em 1990, que escreveu,  em 1983, a obra, entre outras, “Os Biliões do Vaticano”.

Antes de sair da Igreja Católica foi cavaleiro da Casa de Sabóia e Templário.

Indicamos estes jornais, investigadores e jornalistas, porque os seus relatos nunca foram postos em causa.

Deles respigamos – e, essencialmente, de dezenas de publicações de vários países, incluindo italianos – que a Igreja Católica é sócia maioritária – ou com intervenção decisiva – em quase todos os principais bancos de grande projecção internacional: desde o Bank of América, Stanley Bank, Chase Manhattan, City Bank, JP Morgan Chase, Bankers Trust., dos Estados Unidos, aos Rothschilds, Hambros, Barclays e Royal Bank of Scotland (Inglaterra), Crédit Suisse, UBS (Suíça)  NBP Paribas (França),  Santander, Bilbao y Vyscaya (Espanha).

Mas, igualmente, mantém uma forte componente accionista em empresas de grande gabarito industrial, como a General Motors , a General Electric e a Bethlem Steel no sector da do aço, automóvel e electricidade, Boeing, Lockeeh, Douglas e Curtis Wright, da aviação,  ou a Gulf e a Shell, do petróleo.

Mas, segundo as investigações que estamos a referenciar, nos Estados Unidos, a sua penetração económica é muito superior: na educação, desde jardins de infância até universidades, passando por colégios e instituições de ensino primário e secundário. E isto, pago a taxa zero pelos contribuintes norte.americanos, através de organismos ditos de “assistência” ou “caridade”. 

E a seguir na saúde: hospitais, centros de reabilitação, clínicas de apoio a doenças crónicas. Registos ainda que podem passar pelas empresas de construção civil, empreendimentos turísticos.

5 – A penetração dos investimentos do Vaticano no Mundo não se fazem somente de maneira subtil e sub-reptícia, mas também pelo papel desempenhado pelos seus representantes no aparelho de Estado.

Assim como o lobby judaico domina os principais corpos legislativos norte-americanos (Senado e Câmara dos Representantes) e muitos dos governadores de Estado, e através particularmente de Wall Street, a Igreja Católica segue-lhe o mesmo caminho.

No Senado, existem 25 representantes que se confessam abertamente católicos (16 democratas e nove republicanos) e na Câmara dos Representantes, num total de 436, 134 afirmam professar e seguir a Igreja Católica Romana.

No Supremo Tribunal dos Estados Unidos, actualmente, a maioria pertence a praticantes católicos.

Na política, dois nomes a reter: o vice-Presidente Joe Biden e o Secretário de Estado, recentemente nomeado John Kerry.

6 – A renúncia do Papa Católico Bento XVI, que ele fez, oficialmente, em 11 de Fevereiro em consistório, não nos pode emocionar pelo argumento da velhice. 

Dizia ele: “Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para  administrar bem o ministério que me foi confiado”.

Parece uma linguagem simples, propositadamente púdica, hipocritamente admitida, elevada pelos outros hipócritas hierarcas e confrades da Igreja Católica a uma virtude de frontalidade.

Na quarta-feira de cinzas católica, um dia depois, Bento XVI  fustigava com os verdadeiros argumentos: fracassara a sua tentativa de ser mediador e o verdadeiro controleiro das lutas intestinas do Vaticano, minadas pelas confrarias do poder financeiro que se foram constituindo e ocupando posições que já ombreiam com o próprio poder do autocrata.     
                                                                                                               
Cito da imprensa:

Foi a última missa pública do Papa Bento XVI e a ocasião não poderia ser mais simbólica. Na Quarta-feira de Cinzas, que lembra o carácter transitório e efémero da vida humana, Bento XVI apelou à superação dos "individualismos e rivalidades" no período da Quaresma, num sinal "humilde e precioso para aqueles que estão distantes da fé ou indiferentes".

Bento XVI comentou a sua renúncia: "É uma ocasião propícia para agradecer a todos, agora que me preparo para concluir o ministério de Pedro."

Bento XVI deixou também vários alertas e avisos, contra "a hipocrisia religiosa", contra "o comportamento de quem quer aparecer" e contra "as atitudes que procuram aplausos e aprovação".

"A qualidade e a verdade da nossa relação com Deus é o que certifica a autenticidade de qualquer gesto religioso", frisou o Papa, num tom grave, segundo o relato da agência AFP.

Numa missa interrompida pelos aplausos dos presentes, Bento XVI alertou contra o que considera ser "os golpes contra a unidade da Igreja" e a "divisão do corpo eclesiástico", lamentando que "o rosto da Igreja seja, por vezes, desfigurado".

O Papa criticou ainda aqueles que se dizem prontos "a rasgar as próprias roupas face aos escândalos e às injustiças, naturalmente perpetrados por outros", mas que não se mostram "prontos a agir de acordo com o seu próprio coração, a sua consciência e as suas intenções", cita a AFP.

Ou seja, o Sumo Pontífice da Igreja Católica confessou, com a sua renúncia, que não sabia ou não conseguia governar ou gerir o saco de lacraus e altos interesses económico-financeiros  que estão a surgir com a própria crise mundial, nem estava a conseguir apoiar-se numa das facções para contar as outras, nem destruir ou trucidar as mais afoitas. 

Nem queria romper com elas.

Deixou, saindo de cena, que o curso dos acontecimentos possa resolver a questão.   


Eduardo Febbro - A história secreta da renúncia de Bento XVI




Eduardo Febbro  A história secreta da renúncia de Bento XVI
 
(tradução de Katarina Peixoto)
 
 

   Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção. A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. O artigo é de Eduardo Febbro, direto de Paris.
 
 
Paris - Os especialistas em assuntos do Vaticano afirmam que o Papa Bento XVI decidiu renunciar em março passado, depois de regressar de sua viagem ao México e a Cuba.
Naquele momento, o papa, que encarna o que o diretor da École Pratique des Hautes Études de Paris (Sorbonne), Philippe Portier, chama “uma continuidade pesada” de seu predecessor, João Paulo II, descobriu em um informe elaborado por um grupo de cardeais os abismos nada espirituais nos quais a igreja havia caído: corrupção, finanças obscuras, guerras fratricidas pelo poder, roubo massivo de documentos secretos, luta entre facções, lavagem de dinheiro.
O Vaticano era um ninho de hienas enlouquecidas, um pugilato sem limites nem moral alguma onde a cúria faminta de poder fomentava delações, traições, artimanhas e operações de inteligência para manter suas prerrogativas e privilégios a frente das instituições religiosas.
Muito longe do céu e muito perto dos pecados terrestres, sob o mandato de Bento XVI o Vaticano foi um dos Estados mais obscuros do planeta. Joseph Ratzinger teve o mérito de expor o imenso buraco negro dos padres pedófilos, mas não o de modernizar a igreja ou as práticas vaticanas.
Bento XVI foi, como assinala Philippe Portier, um continuador da obra de João Paulo II: “desde 1981 seguiu o reino de seu predecessor acompanhando vários textos importantes que redigiu: a condenação das teologias da libertação dos anos 1984-1986; o Evangelium vitae de 1995 a propósito da doutrina da igreja sobre os temas da vida; o Splendor veritas, um texto fundamental redigido a quatro mãos com Wojtyla”. Esses dois textos citados pelo especialista francês são um compêndio prático da visão reacionária da igreja sobre as questões políticas, sociais e científicas do mundo moderno.
O Monsenhor Georg Gänsweins, fiel secretário pessoal do papa desde 2003, tem em sua página web um lema muito paradoxal: junto ao escudo de um dragão que simboliza a lealdade o lema diz “dar testemunho da verdade”. Mas a verdade, no Vaticano, não é uma moeda corrente.
Depois do escândalo provocado pelo vazamento da correspondência secreta do papa e das obscuras finanças do Vaticano, a cúria romana agiu como faria qualquer Estado. Buscou mudar sua imagem com métodos modernos. Para isso contratou o jornalista estadunidense Greg Burke, membro da Opus Dei e ex-integrante da agência Reuters, da revista Time e da cadeia Fox. Burke tinha por missão melhorar a deteriorada imagem da igreja. “Minha ideia é trazer luz”, disse Burke ao assumir o posto. Muito tarde. Não há nada de claro na cúpula da igreja católica.
A divulgação dos documentos secretos do Vaticano orquestrada pelo mordomo do papa, Paolo Gabriele, e muitas outras mãos invisíveis, foi uma operação sabiamente montada cujos detalhes seguem sendo misteriosos: operação contra o poderoso secretário de Estado, Tarcisio Bertone, conspiração para empurrar Bento XVI à renúncia e colocar em seu lugar um italiano na tentativa de frear a luta interna em curso e a avalanche de segredos, os vatileaks fizeram afundar a tarefa de limpeza confiada a Greg Burke. Um inferno de paredes pintadas com anjos não é fácil de redesenhar.
Bento XVI acabou enrolado pelas contradições que ele mesmo suscitou. Estas são tais que, uma vez tornada pública sua renúncia, os tradicionalistas da Fraternidade de São Pio X, fundada pelo Monsenhor Lefebvre, saudaram a figura do Papa.
Não é para menos: uma das primeiras missões que Ratzinger empreendeu consistiu em suprimir as sanções canônicas adotadas contra os partidários fascistóides e ultrarreacionários do Mosenhor Levebvre e, por conseguinte, legitimar no seio da igreja essa corrente retrógada que, de Pinochet a Videla, apoiou quase todas as ditaduras de ultradireita do mundo.
Bento XVI não foi o sumo pontífice da luz que seus retratistas se empenham em pintar, mas sim o contrário. Philippe Portier assinala a respeito que o papa “se deixou engolir pela opacidade que se instalou sob seu reinado”. E a primeira delas não é doutrinária, mas sim financeira.
O Vaticano é um tenebroso gestor de dinheiro e muitas das querelas que surgiram no último ano têm a ver com as finanças, as contas maquiadas e o dinheiro dissimulado. Esta é a herança financeira deixada por João Paulo II, que, para muitos especialistas, explica a crise atual.
Em setembro de 2009, Ratzinger nomeou o banqueiro Ettore Gotti Tedeschi para o posto de presidente do Instituto para as Obras de Religião (IOR), o banco do Vaticano. Próximo à Opus Deis, representante do Banco Santander na Itália desde 1992, Gotti Tedeschi participou da preparação da encíclica social e econômica Caritas in veritate, publicada pelo papa Bento XVI em julho passado. A encíclica exige mais justiça social e propõe regras mais transparentes para o sistema financeiro mundial. Tedeschi teve como objetivo ordenar as turvas águas das finanças do Vaticano.
As contas da Santa Sé são um labirinto de corrupção e lavagem de dinheiro cujas origens mais conhecidas remontam ao final dos anos 80, quando a justiça italiana emitiu uma ordem de prisão contra o arcebispo norteamericano Paul Marcinkus, o chamado “banqueiro de Deus”, presidente do IOR e máximo responsável pelos investimentos do Vaticano na época.
João Paulo II usou o argumento da soberania territorial do Vaticano para evitar a prisão e salvá-lo da cadeia. Não é de se estranhar, pois devia muito a ele. Nos anos 70, Marcinkus havia passado dinheiro “não contabilizado” do IOR para as contas do sindicato polonês Solidariedade, algo que Karol Wojtyla não esqueceu jamais.
Marcinkus terminou seus dias jogando golfe em Phoenix, em meio a um gigantesco buraco negro de perdas e investimentos mafiosos, além de vários cadáveres.
No dia 18 de junho de 1982 apareceu um cadáver enforcado na ponte de Blackfriars, em Londres. O corpo era de Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano. Seu aparente suicídio expôs uma imensa trama de corrupção que incluía, além do Banco Ambrosiano, a loja maçônica Propaganda 2 (mais conhecida como P-2), dirigida por Licio Gelli e o próprio IOR de Marcinkus.
Ettore Gotti Tedeschi recebeu uma missão quase impossível e só permaneceu três anos a frente do IOR. Ele foi demitido de forma fulminante em 2012 por supostas “irregularidades” em sua gestão.
Tedeschi saiu do banco poucas horas depois da detenção do mordomo do Papa, justamente no momento em que o Vaticano estava sendo investigado por suposta violação das normas contra a lavagem de dinheiro.
Na verdade, a expulsão de Tedeschi constitui outro episódio da guerra entre facções no Vaticano. Quando assumiu seu posto, Tedeschi começou a elaborar um informe secreto onde registrou o que foi descobrindo: contas secretas onde se escondia dinheiro sujo de “políticos, intermediários, construtores e altos funcionários do Estado”. Até Matteo Messina Dernaro, o novo chefe da Cosa Nostra, tinha seu dinheiro depositado no IOR por meio de laranjas.
Aí começou o infortúnio de Tedeschi. Quem conhece bem o Vaticano diz que o banqueiro amigo do papa foi vítima de um complô armado por conselheiros do banco com o respaldo do secretário de Estado, Monsenhor Bertone, um inimigo pessoal de Tedeschi e responsável pela comissão de cardeais que fiscaliza o funcionamento do banco. Sua destituição veio acompanhada pela difusão de um “documento” que o vinculava ao vazamento de documentos roubados do papa.
Mais do que querelas teológicas, são o dinheiro e as contas sujas do banco do Vaticano os elementos que parecem compor a trama da inédita renúncia do papa. Um ninho de corvos pedófilos, articuladores de complôs reacionários e ladrões sedentos de poder, imunes e capazes de tudo para defender sua facção.
A hierarquia católica deixou uma imagem terrível de seu processo de decomposição moral. Nada muito diferente do mundo no qual vivemos: corrupção, capitalismo suicida, proteção de privilegiados, circuitos de poder que se autoalimentam, o Vaticano não é mais do que um reflexo pontual e decadente da própria decadência do sistema.

publicado por Augusta Clara às 08:00

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domingo, dezembro 09, 2012

"Pedofilia é pior que o crime de fotocopiar", diz Gianluigi Nuzzi

JN

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NUNO MIGUEL ROPIO

Há um ano, Gianluigi Nuzzi revelou, no seu programa de televisão, uma carta secreta do núncio apostólico Carlo Viganò ao Papa. Nos meses seguintes, bombardeou o mundo com cartas e documentos confidenciais de Bento XVI, expondo um Vaticano de traições, guerras de poder e influência de máfias. Nunca revelou as suas fontes, mas presos na Santa Sé estão já Paolo Gabriele, mordomo do Papa, que alegadamente fotocopiou tudo, e o informático Claudio Sciarpelletti. Na apresentação do seu livro "Sua Santidade", em Portugal, Nuzzi acusou o Vaticano de só ter agido contra os denunciadores.
foto REINALDO RODRIGUES/GLOBAL IMAGENS
"Pedofilia é pior que o crime de fotocopiar", diz Gianluigi Nuzzi
Gianluigi Nuzzi
Refere no prefácio: "Não esperava que o Vaticano chegasse a prender alguém por suspeita de passar informações aos jornalistas". Mas prendeu. Vamos ficar por aqui?
A detenção de Paolo Gabriele é um gesto muito exagerado. Se um facto análogo ocorresse num outros país europeu democrático haveria pessoas na rua a protestarem. É indecente que alguém que passe fotocópias seja preso. A detenção das fontes de um jornalista é um sinal muito mau.
Choca-o Gabriele estar preso?
(Silêncio) Gabriele é católico. Uma pessoa que Wojtyla [João Paulo II] chamava carinhosamente de Paulus. Alguém que serviu Ratzinger [Bento XVI] durante muitos anos, fazendo chegar-lhe notícias de violações e outras situações que, de uma outra forma, não chegariam ao Papa. Creio que o perdão do Papa já foi assinado, mas haverá alguém que não quer que seja libertado, com medo que ele fale, porque não é um sujeito controlável. Fazer o Paolo Gabriele passar o Natal na prisão, privando a sua filha do pai, num momento tão importante para a vida de qualquer católico, faz a Igreja recuar séculos, a um período obscurantista.
Esta investigação irá atingir mais alguém?
Acho que este processo está encerrado. Quer o Gabriele, quer o Claudio (Sciarpelletti), têm recursos em curso. Não creio que haja uma continuação desta perseguição. Considero mais grave o crime de pedofilia do que o crime de fotocopiar.
O porta-voz do Vaticano afirmou que a investigação sobre o caso de fuga de documentos confidenciais do Papa vai continuar.
Vamos ver. Aceito apostas. O que é mais grave aqui: que o Paolo Gabriele tenha dado informação dos crimes ou quem cometeu esses crimes? Quem faz mal à Igreja? O Paolo?
Porque só são acusados os informadores?
Há uma vontade de deslocar o foco da informação para o informador. Quando leio notícias, não quero saber quem foi a fonte, mas se a informação é verdadeira. O que salta à vista é que todos os cardeais envolvidos são italianos. O livro testemunha a crise muito forte da Cúria Romana. O dogmatismo de Bento XVI tem de ser premiado pela purificação da Igreja, mas não soube escolher as pessoas que o rodeiam.
Algumas ligadas a máfias?
Até há poucos anos atrás o Vaticano era um paraíso fiscal. O crime de lavagem de dinheiro só foi introduzido em 2010. O IOR [Instituto das Obras Religiosas - Banco do Vaticano], nas décadas de 80 e 90, "lavou" dinheiro da máfia. É algo que vem escrito nas sentenças que os juízes emitiram após a morte do presidente do IOR [Roberto Calvi], encontrado morto, em Londres, em 1982. Na década de 90, o IOR "lavou" dinheiro da corrupção política. Era um banco offshore da Europa. Só depois do 11 de setembro [de 2001], com as políticas de transparência exigidas pelos americanos e o Banco Mundial, que motivaram os governos europeus e o Banco Central Europeu, o IOR começou a atuar de acordo com as regras financeiras, para evitar que o pusessem numa lista negra, que o excluiria de qualquer atividade financeira com os países mais importantes.
A máfia que refere é a italiana ou de outros países?
Quando os juízes no caso Calvi aludem à máfia, referem-se à "Cosa Nostra". Mas nos anos 80 e 90 [do século XX] havia notas do FBI que apontavam o Banco Ambrosiano [cujo o Banco do Vaticano era o principal acionista], de Roberto Calvi, como a ligação entre a finança e o Cartel de Medellín [rede de traficantes de droga colombianos]. Quando estive em Buenos Aires [Argentina], entrevistei a Ayda Levy, mulher do Roberto Suárez [boliviano considerado o rei da cocaína na América], que referiu que o marido tinha um amigo na Europa chamado Calvi. E que, seis meses antes de morrer, Calvi tinha pedido ajuda ao marido, porque Pablo Escobar [o traficante mais rico do mundo] queria recuperar o dinheiro que tinha depositado no Banco Ambrosiano. Estes são factos que voltam a surgir após alguns anos. Mas o julgamento em Roma, contra Calvi, acabou com imensas absolvições. Decorre agora um julgamento contra quatro indivíduos, cuja a identidade é desconhecida.
Ninguém na Justiça italiana pegou nesta obra? Porque só o Vaticano a usou para prender as fontes.
Este livro tem como ponto fulcral o Vaticano, um Estado que não colabora habitualmente com as autoridades italianas. Todos os pedidos de assistência judicial não recebem respostas ou recebem respostas genéricas. Não existe em Itália um único juiz satisfeito com as respostas obtidas do Vaticano. Por isso, imagino este livro como um aprofundamento para a grande família da Igreja, mais do que um instrumento para a Justiça italiana.
Ainda que o Vaticano não atue, a Itália tem neste livro alguns cidadãos como atores principais. A Justiça não agiu nestes seis meses porquê?
Com que hipótese e a quais crimes se esta a referir?
Não conheço o sistema judicial italiano. Mas, vejamos: tráfico de influências, fuga de capitais, formação de cartéis...
Talvez no Vaticano não. Com o meu outro livro, "Vaticano SA", os magistrados italianos apreenderam todo o meu arquivo para as suas investigações sobre casos de corrupção decorridos em Itália. Mas isto aconteceu muitos meses depois do livro sair.
Não acha invulgar que perante tais denúncias de corrupção, apenas o mordomo esteja na cadeia?
Este livro denuncia indivíduos com responsabilidades morais. Também mostra como as lógicas, dentro do Vaticano e do Vaticano com outros estados, são mais fortes que pensamos. Mostra a lógica, sistemas e mecanismos da corrupção. Veja, nenhuma das pessoas que, ao longo de anos, reparou que Gabriele fotocopiava papeis foi atingida, perseguida, despedida ou transferida. Porém, aqui temos um mordomo do Papa que, desde 2006, andou a fotocopiar papeis e ninguém reparou nisso? O responsável da segurança, Domenico Giani, ex-agente secreto, foi confirmado nessa função. O secretário pessoal do Papa, monsenhor Georg Gänswein, que atribuía funções de secretaria ao Paolo Gabriele, foi promovido a arcebispo. O único que continua na prisão é Gabriele.
Qual foi a sensação quando chegou às suas mãos tal documentação?
Para o primeiro livro, "Vaticano SA", juntei 4000 documentos. Quando os vi pela primeira vez fiquei atónito, porque nunca tinha visto documentos do IOR. Quando li os extratos do Giulio Andreotti [sete vezes primeiro-ministro de Itália, entre 1972 e 1992], com valores de 30 milhões de euros, fiquei estupefacto. Então liguei-lhe e perguntei-lhe porque tinha tal conta num banco offshore. Não sei qual é o respeito que os políticos portugueses têm para com os jornalistas, mas Andreotti respondeu-me, através da secretária, que não se lembrava de ter essa conta. 30 milhões de euros! Isto, em Itália, diz-se que é "gozar na cara de alguém".
Mas, em relação a esta obra?
Quando vi a primeira assinatura de Bento XVI, com uma letra muito pequena, tive uma emoção muito forte. Porque essa caligrafia, tão pequenina, demonstra o poder desse homem, mas também a sua solidão. Paolo Gabriele disse em julgamento que Ratzinger não era informado do que se passava como deveria. Nos últimos meses tentaram silenciar Gabriele.
Qual foi a imagem do Vaticano que começou a construir na sua mente, com o desenvolvimento desta investigação?
Imagine que o Vaticano é como o mar, profundo, profundo. Onde não se consegue conhecer a maioria das espécies marinhas, porque estão a uma profundidade tal, que não somos capazes de chegar lá.
O Vaticano mudou com este livro?
Ainda é cedo. Este livro abre um precedente, permitindo às pessoas que estão fora do sistema saber o que está debaixo do tapete, os fatos desconhecidos e os fatos graves. Pela primeira vez na história tivemos informação do Vaticano, o único país da Europa com um só jornal diário.
O Vaticano não gosta de jornalistas?
(Risos) Veja o que eles fizeram recentemente: um julgamento com jornalistas selecionados. Não sei se sabe que grande parte dos orçamentos de entidades e organismos que compõem o Vaticano são completamente privados. O temor dos seus colegas correspondentes estrangeiros é que lhes retirem a acreditação e não possam entrar nas salas do Vaticano.
A contratação do jornalista americano Greg Burke para assessor do Vaticano alterou alguma coisa?
Um jornalista da Opus Dei?
O correspondente da Fox News em Roma.
(Agita a cabeça)
Que sinal é esse?
Que quer que comente? Essa nomeação...
Nada mudou, é isso?
Eles mostraram as celas onde Paolo esteve detido?
Como são essas celas?
O Paolo disse que a primeira cela em que esteve era tão pequena, que não conseguia abrir os braços. Será que foi torturado ? Porque não chamam jornalistas de Londres para ver estas salas. Qual é o medo da transparência?
Pensou colocar os documentos num site, como o WikiLeaks?
Não. Aliás, quem falou em "VatiLeaks" foi Lombardi [Federico, porta-voz do Vaticano]. Entre o "WikiLeaks" e esta história há um abismo. Assange [Julian, jornalista australiano] recebeu documentos sobre a segurança militar dos Estados Unidos e encontrou apoio no movimento contra o imperialismo americano. Sou jornalista, tive acesso a documentos, fiz entrevistas, fiz viagens, investigações e criei um livro. Se fosse algo sobre a segurança do Vaticano não publicaria.
Uma das principais personagens do livro é o cardeal Tarcisio Bertone [secretário de Estado do Vaticano]. Que me pode dizer sobre ele?
Qual é a outra pergunta?
E sobre Joseph Ratzinger?
Esse já é melhor. (Pausa) É um pastor revolucionário. Um pastor que defendeu que as questões de pedofilia deveriam ser resolvidas pelos tribunais civis. Deixa uma obra de purificação impensável no mundo latino, que encontrou muitas resistências. Penso que é um ancião e está cansado. Não pode mudar o seu secretário de Estado [Bertone], mesmo que queira, porque teria um eco muito forte. Significaria colocar uma hipoteca sobre o pontificado. O próximo Papa não pode ser italiano.
Porquê?
Porque há cardeais melhores em todo o mundo.
Falamos de vícios?
A riqueza da Igreja reside no fato de ser de todos. Há uma região na Itália, que se chama Ligúria, muito pequena, que tem cinco cardeais. Entende? O Vaticano não pode ser "italiano cêntrico". O eixo deve deslocar-se. Imagine um papa chinês, filipino ou brasileiro.
Tem um discurso generoso para com Bento XVI, o homem dogmático atrás de João Paulo II.
Mas era outra época. Uma outra Europa. Havia outros limites. No Vaticano ainda hoje sobrevive uma parte dessa mentalidade, onde uma critica é vivida como um ataque.
É a mesma personagem que se manteve nos bastidores e agora está na liderança, a quem não é desconhecida a realidade retratada pelo seu livro.
Não perdoo ninguém porque não é esse o meu papel.
É jornalista. Esta é a sua obra. E, no final da leitura estamos perante alguém que não tem um comportamento tão criticável? Apenas alguém que não consegue controlar uma máquina.
É o juízo que faz depois de ler o livro. Que eu ate posso partilhar. Seguramente acho mais criticável as atitudes de outras pessoas que rodeiam o Papa.
Esta obra está a cumprir o seu desígnio?
Sim, porque ela dá-nos a oportunidade de, através documentos privados, dar a volta ao mundo católico, observando as contradições, os jogos de poder e, sobretudo, a hipocrisia de quem apresenta uma cruz sem ver quem está crucificado nela.
Crê que haverá consequências?
Acredito que a informação acelera os processos de mudança. A informação não é a mudança. Posso garantir que o meu primeiro livro, "Vaticano SA", conseguiu acelerar os processos de transformação do sistema financeiro do Vaticano. Isso é uma satisfação. Compreendo que este livro testemunhe a violação da confiança do papa. Mas a informação é nosso dever. Não podemos guardar a notícia na gaveta, senão faríamos outro trabalho.
Sente-se perseguido?
Nunca me armei em vítima e não o farei agora.
É católico?
Sou cristão e batizado.
Depois desta obra, com as consequências que teve, é menos religioso?
A fé é um património pessoal. Entre a Igreja de todos e a Igreja do Vaticano vai uma grande distancia.
Até porque este livro não é sobre fé!
É um livro sobre pessoas que têm uma fé mal depositada.
E os efeitos deste livro são os que esperava?
Em que aspeto?
De certeza que não o queria para enfeitar uma prateleira, certo? Sucesso não lhe falta...
Até trabalho mais.
Os negativos também posso referir: uma alegada fonte sua está hoje presa...
Sofro pelo Gabriele estar preso. Estava consciente dos riscos. Mas acho uma profunda injustiça. (Silêncio) Estou convicto que quando Gabriele sair da prisão virá mais forte, porque é uma pessoa sã e honesta. Vou-lhe dizer algo que nunca contei a ninguém. Quando visitei o Gabriele, transmiti algo à minha mulher - algo que nunca fazia: "Valentina, hoje conheci uma pessoa que tem luz nos olhos". Depois, é claro, sei que nunca irei trabalhar para a televisão pública italiana [RAI], que não dedicou um minuto a este livro. Nunca me entrevistaram. Dão-me pena aqueles jornalistas que baixam a cabeça. Eu posso olhar no espelho todas as manhas, já eles não sei.