A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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terça-feira, outubro 19, 2010

EUA: Quartel-General do crime e da corrupção

Mundo

Vermelho - 18 de Outubro de 2010 - 11h00

Olho a tela do meu televisor e mais uma vez sinto-me sufocado por um sentimento misto de indignação e impotência. Pergunto-me, muito mais que inquieto, o que esta televisão está a fazer do meu País, da gente que o habita, deste nosso tempo comum.

Por Correia da Fonseca*, em odiario.info

Lembro a TV do fascismo, ao serviço de uma ditadura infame, colaborante com uma guerra injusta, repugnante a quem a olhava com olhos de ver e cabeça de pensar, mas que, contudo, de quando em quando, se sentia obrigada a contemporizar um pouco com valores culturais e civilizacionais que efetiva ou supostamente sobreviviam no resto da Europa, do mundo.

Seria então uma televisão consciente de que era infratora de regras ainda consensuais e por isso não poucas vezes invocava com algum descaro o tríptico a que em princípio devia obedecer o seu trabalho: informar, cultivar, divertir.

Hoje é manifestamente diferente. E pior. E mais nociva. Multiplicada por quatro canais generalistas e abertos, sem o mínimo indício da má consciência que antes de 74 transportava, injeta nos cidadãos telespectadores o hábito do mau gosto e dos subprodutos mais reles, a avidez pelo consumo, a habituação às diversas formas de brutalidade, o sobranceiro desprezo pela cultura.

Para além, é claro, da empenhada e militante submissão ao sobrecapitalismo imperante que a cada passo propagandeia por caminhos diretos e indiretos.Não surpreenderá, assim, que por vezes me pareça que não suporto muito mais e aproveite uma oportunidade para me escapar em busca de diferentes horizontes televisivos, o que aliás não é fácil, e com frequência peça refúgio ou pelo menos alívio em telefilmes policiais em que se especializa um dos canais do grupo Fox, acessível por cabo.

Não, porém, nos telefilmes que são cozinhados mediante o cruzamento de brutezas com as novas tecnologias utilizadas pela polícia para detecção e posterior castigo dos maus. Vou antes ao encontro de uma série de feitura já não muito recente, «Murder, she wrote», «Crime, disse ela» no título português, onde encontro o uso da inteligência e não da robustez física ou do revólver em punho para a solução dos mistérios.

Para mais, a figura central da série não é um detective musculado mas sim uma escritora, inventora de enredos policiais, que por opção delierada rejeitou viver numa grande metrópole USA, dessas que fascinam os europeus com queda para basbaques, mas sim numa pequena cidade marítima que de algum modo me lembra as povoações ainda piscatórias do litoral português. E tudo isto me agrada e ameniza os meus furores.

Mas a tal escritora precisa, por uma razão ou por outra, de se deslocar por vezes a uma das grandes cidades, Nova Iorque, São Francisco ou qualquer outra, onde fervilham os poderes e os esplendores dos Estados Unidos atuais. É aí que geralmente ocorrem os crimes cuja misteriosa autoria a argúcia, o poder de observação e a experiência decorrente da sua especialidade literária, ela haverá de decifrar.

E, então, a série evidencia, episódio após episódio ainda com relativa discrição, o uso generalizado de diversas formas da corrupção ativa ou passiva que caracteriza grandes empresários, autoridades judiciais, políticos destacados, membros das polícias, todos eles impregnados pela febril avidez por dólares, muitos dólares, num grande pântano onde o recurso ao homicídio floresce como uma consequência natural. Dir-se-ia que a série apostou em fazer a denúncia, ainda que cautelosa, do verdadeiro e dominante perfil daquela América.

E eu, cansado das quotidianas imposturas que pretendem impingir-nos a imagem de uns Estados Unidos como grande casa da liberdade, da democracia e da justiça, olho aquilo e parece-me reconhecer ali um honesto retrato sumário de qualquer coisa que será uma espécie de quartel-general de certas forças.

Das forças que, num outro plano, fazem daquele país indiscutivelmente grande e poderoso o exportador para os quatro cantos do mundo do seu mais característico produto de exportação: o crime sob diversas formas.

E é como se, ingenuamente, sentisse um pouco o sabor reconfortante da desforra.

* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info.
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sábado, julho 10, 2010

A Terra e a Gula - Correia da Fonseca

Correia da Fonseca*
03.Jul.10 :: Editores
“…A sobreexploração sem limites e anárquica, verdadeiro motor do capitalismo ultraliberal que domina o mundo, contém em si própria sementes de uma dinâmica de carácter verdadeiramente apocalíptico. É certo que o planeta já provou que suporta e perdoa muita coisa, mas é de uma leviandade criminosa e suicida presumir que perdoa tudo”.
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Uma reportagem do National Geographic Magazine, canal distribuído por cabo, traz-nos notícias da Amazónia. Más notícias, como bem se poderia esperar, mas não pelo motivo habitual que é a desflorestação imposta pelo comércio de madeiras: desta vez trata-se da plantação hiperintensiva de soja, propiciadora de fartos lucros mas devastadora dos solos e com consequências verdadeiramente assassinas para as populações. 
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Expondo as razões concretas de uma espécie de anunciado apocalipse local, a reportagem de origem obviamente insuspeita explica-nos que a fúria inescrupulosa dos plantadores de soja vai provocar o que pode ser designado por morte ecológica do rio, e que daí até à destruição de uma enorme e fundamental parcela da própria Amazónia não vai nenhuma distância significativa. Acrescenta que os poderes públicos não parecem interessados nas medidas inevitavelmente drásticas que poderiam suster a catástrofe, ou talvez que não têm efectiva vocação para tanto, decerto porque, ali como em muitos outros lugares, entre o poder político e a ganância comercial não há efectiva fronteira mas, pelo contrário, coincidência e sobreposição. 
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Quanto aos autóctones que tentam resistir ao desastre, não faltam os que são abatidos sem que os matadores sejam punidos ou sequer formalmente identificados, o que também não surpreende: é sabido que no Brasil é uma sinistra tradição o assassínio dos que defendem a terra contra as pilhagens. 
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A reportagem é, naturalmente, consternante: vagas notícias haviam dito que a destruição da Amazónia tinha sido travada ou pelo menos reduzida, que alguma pressão internacional em defesa do «pulmão do mundo» conseguira consequências positivas, e até se admitira que talvez seja assim no que se refere ao comércio madeireiro. 
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A verdade é que o telespectador vulgar não sabe dessas coisas, do Brasil sabe o que lhe contam as telenovelas, sabe do futebol e do samba, por aí se fica aliás presumivelmente satisfeito. Vem agora esta informação acerca da destruição provocada pelas plantações de soja e para quem tenha calhado vê-la terá sido um desapontamento. Mas não uma surpresa. 
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A verdade é que até os mais distraídos, até muitos dos rendidos aos benefícios de um progresso material que quase todos os meses nos oferece telemóveis mais sofisticados, o que é fascinante, sabem que a gloriosa e libérrima iniciativa privada tem os seus inconvenientes. Talvez porque já ouviram falar do risco de esgotamento ou perversão de alguns bens de utilização colectiva e global (água, ar, matérias-primas), do saque de algumas regiões. 
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O derrame de crude que prossegue algures no Atlântico ao largo da costa norte-americana terá sacudido um poucochinho a apatia generalizada. Mas é de crer que a maioria dos inquietados tenda a encolher os ombros e a esquecer, porque «não há-de ser nada». 
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O terrível, porém, é que ao invés de «não ser nada» pode ser tudo. A questão é que a sobreexploração sem limites e anárquica, verdadeiro motor do capitalismo ultraliberal que domina o mundo, contém em si própria sementes de uma dinâmica de carácter verdadeiramente apocalíptico. É certo que o planeta já provou que suporta e perdoa muita coisa, mas é de uma leviandade criminosa e suicida presumir que perdoa tudo. Pelo que, naturalmente, é preciso e urgente travar a cavalgada para a autodestruição e, para tanto, ter o lúcido conhecimento do contexto em que ela mergulha as suas raízes. São raízes poderosas, mas a opção é simples: ou a gula insaciável do empresariado transnacional ou a viabilização do futuro. A reportagem do Nacional Geographic Magazine veio, à sua discreta escala, lembrar que é preciso escolher.

* Correia da Fonseca é amigo e colaborador de odiario.info.

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http://www.odiario.info/?p=1657.
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sábado, maio 23, 2009

África made in USA





Na passada segunda-feira, «faltei» à meia hora inicial do programa da setôra Fátima Campos Ferreira para ir ouvir o depoimento de Roger Morris no canal História. Não é que o História seja canal que sempre se recomende, digamos que tem dias ou mais adequadamente que tem noites, e também não é que não aprecie a notável capacidade de exposição do Prof. Adriano Moreira, prova viva de que se pode ser de direita sem exibir o estilo de vendedor de feira do dr. Paulo Portas nem o ar de mediocridade permanentemente embatucada do dr. Paulo Rangel. Mas Roger Morris, que fez parte do staff de duas consecutivas presidências norte-americanas, iria falar sobre décadas de crimes praticados pelos Estados Unidos em África ao longo de cerca de meio século, e sempre me interesso muito por depoimentos insuspeitos que revelem a verdadeira face do país que, líder da Civilização dita Atlântica que em desafio à Geografia se alonga de São Francisco a Cabul, é de facto o patrão de cada um de nós, seus súbditos. E, como seria de esperar, a minha expectativa não ficou frustrada, antes pelo contrário: na verdade, apercebi-me de que sempre tenho andado distraído relativamente à acção dos sucessivos governos de Washington nos anos que quase imediatamente se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial. Tenho alguma desculpa: houve a chegada do terror nuclear, a Guerra da Coreia, as guerras coloniais francesas na então Indochina e na Argélia, um homem distrai-se. Mas veio agora Roger Morris e contou-me coisas que eu nunca soubera ou sobre as quais a minha atenção sempre insuficiente passara sem se deter.

Um Holocausto silenciado

De tudo quanto o documentário mostrou, o que mais me agrediu não foram as imagens de crianças africanas cobertas de moscas e de fome: a TV já nos habituou um pouco a esse espectáculo terrível, e na verdade só faltou sempre que sobre tais imagens surgisse uma legenda a explicar que aquele horror havia sido de facto fabricado nos Estados Unidos da América, por si só e também na qualidade de chefe de fila do civilizador Ocidente. Na verdade, o que mais me chocou foram as imagens das sevícias infligidas a Patrice Lumumba, líder do Congo libertado do colonialismo belga, e a descrição sumária das torturas a que o submeteram antes de o assassinarem: das imagens guardava uma recordação um pouco remota, pois creio nunca terem sido transmitidas em Portugal tão longamente, e quanto às torturas ignorava-as de todo. E, contudo, não havia formuladas contra Lumumba acusações que explicassem, ao menos explicassem, tamanha crueldade, excepto a de ser um homem que desejava para a sua terra uma libertação factual que ultrapassasse as meras aparências, de ser um homem progressista, de ser amado pelo seu povo e respeitado por toda a África. Mas muito antes desse crime, patrocinado à distância pelo poder norte-americano em associação com o neocolonialismo europeu, já a intervenção dos Estados Unidos através de fantoches por eles mandatados fizera derramar rios de sangue por todo continente africano, acima do Equador numa primeira fase, em Angola e Moçambique numa fase posterior. A técnica, tipicamente norte-americana, foi a da injecção maciça em África de dinheiro e armas, isto em dose tal que a longa operação foi caracterizada por Roger Morris e não apenas por ele como um «genocídio assistido»: o continente era habitado por uma população jovem e era rico em matérias-primas intensamente cobiçáveis (80% do urânio utilizado nas bombas lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki já havia sido de proveniência africana), e isso justificava todas as infâmias. A locução do documentário lançou o aviso decorrente da experiência histórica: «Quando os Estados Unidos querem prestar-vos atenção, fujam. E depressa.» A África dos anos subsequentes ao segundo conflito mundial não soube ou não pôde fugir, e dessa impossibilidade resultaram anos de fome, peste e guerra, as três grandes pragas bíblicas que Washington tornou realidade ainda hoje efectiva. Tem vindo a ser um outro Holocausto que à data do documentário já somava mais de vinte milhões de cadáveres numa contagem que ainda não se estancou e que prossegue por vários caminhos. Tudo em nome dos «interesses estratégicos dos Estados Unidos» e sempre alegadamente consubstanciado em «ajudas» sob a forma de armas, de intrigas políticas, de corrupções bem remuneradas. Como também no documentário foi dito: «Deus nos ajude se os Estados Unidos decidem ajudar-nos». É, recorde-se, a acção política a que também o nosso País continua atrelado.
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. in Avante 2009.05.21
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Foto: escolha da responsabilidade de VN - fotógrafo não identificado
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quarta-feira, abril 30, 2008

Murat Karnaz, é turco-alemão, ruivo, de pele clara.

Ainda

Chama-se Murat Karnaz, é turco-alemão, ruivo, de pele clara. E de religião islâmica. Esteve preso durante cinco anos em Guantámano, de onde só foi libertado, ao que parece a pedido pessoal da chanceler Angela Merkel junto de George W.Bush. Entretanto e ao longo daqueles cinco anos Murat Karnaz foi torturado de várias maneiras: espancado abundantemente, objecto de simulações de afogamento, algemado de pés e mãos durante semanas, suspenso pelos pulsos durante cinco dias e cinco noites ao longo dos quais era regularmente espancado (neste caso, um médico verificava de seis em seis horas que ele podia continuar a suportar a tortura, o que inevitavelmente lembra os médicos torcionários e da PIDE), longamente privado da visão mediante a aplicação de um capuz, decerto ainda o mais que não nos foi contado e que nós não podemos imaginar. Com tudo isto, queriam que ele confessasse pertencer à Al Qaeda. Mas essa confissão não podia ele fazê-la porque seria falsa. Os carrascos chegaram mesmo ao ponto de até no momento da libertação já determinada tentarem trocá-la pela assinatura de uma confissão escrita , aproveitando-se da previsível ânsia de liberdade que compreensivelmente dominava o prisioneiro.
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Também então Murat Karnaz resistiu, ele que soubera resistir aos cinco anos de martírio apenas ancorado na certeza da sua inocência, no desatino que havia sido a arbitrariedade brutalíssima da sua prisão, talvez na força da sua fé religiosa já que convicções políticas excepcionalmente firmes não parece que as tivesse. Afinal havia sido preso no Afeganistão porque ali se dirigira, parece que como muitos outros, numa espécie de turismo confessional, visando aperfeiçoar-se como crente islâmico, talvez um pouco como muitos cristãos visitam Roma e outros lugares santos do catolicismo para se sentirem reforçados na sua fé. Só que, para desgraça de Murat Karnaz, o 11 de Setembro ocorrera havia pouco, os Estados Unidos haviam declarado guerra ao «terrorismo» e pagavam a tantos dólares por cabeça quem denunciasse suspeitos de pertença à Al Qaeda. Murat foi, pois, denunciado por um qualquer afegão sem escrúpulos resolvido a embolsar uns dólares que lhe fariam jeito, e é improvável que tenha sido o único a ir para Guantámano nessas circunstâncias. Tivesse ele a pele e o cabelo mais escuros, não fosse ele meio alemão, e provavelmente ainda estava sob torturas na famigerada base norte-americana.
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Enquanto o horror durar
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A história de Murat Karnaz, impressionante mas não surpreendente, souberam-na os telespectadores da SIC-Notícias na passada semana ao assistirem a mais uma emissão do «60 Minutos», o programa de reportagens da CBS obviamente insuspeito de antiamericanismo primário excepto porventura aos olhos do dr.Pacheco Pereira, indefectível advogado do projecto Bush/USA para o mundo. É essa recente emissão que justifica a atenção que esta dupla coluna hoje dispensa à dramática odisseia de Murat.
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Poderá porventura objectar-se, porém, perguntando-se se valerá a pena voltar a falar de Guantámano , dos seus torcionários e das suas vítimas, quando o assunto já foi tantas vezes abordado e denunciado, inclusive, nos tempos mais recentes, a propósito da vergonhosa cumplicidade de governos portugueses na prática desses crimes contra a humanidade (ou, na alternativa, do humilhante desprezo norte-americano pela soberania portuguesa e pela dignidade do nosso país). Contudo, acontece que Guantámano, carrascos e prisioneiros, continuam a ser realidade. Que os Estados Unidos, arrogantes e impudicos, persistem no crime que escandaliza o mundo e perturba os seus aliados mais submissos. Não surpreende que seja assim: embora dando sinais de estarem já a resvalarem pela encosta de uma decadência que é diagnosticada por um número crescente de observadores, os Estados Unidos prosseguem uma política de dominação mundial que permanentemente recorre à violência sob diversas formas, desde as guerras em que directamente participa liderando as operações até à prática de golpes de Estado organizados pelos seus serviços secretos em países estrangeiros. Ora, enquanto o horror de Guantámano persistir, parece não só ser justificado como até ser eticamente obrigatório que se fale dele, que não se abrande na denúncia e na indignação. Sendo assim, é claro que andou muito bem o «60 Minutos» ao vir contar-nos o que aconteceu a Murat Karnaz. E, em consequência, que não terá sido mau que aqui tenhamos vindo fazer o registo dessa emissão.
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in Avante 2008.04.24
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quinta-feira, outubro 11, 2007

EUA - Bush veta lei sobre saúde





O presidente norte-americano vetou uma lei apoiada por democratas e republicanos no Congresso que estendia a cobertura da assistência médica a milhões de crianças carenciadas e sem seguro de saúde, informou a Casa Branca.
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George W. Bush considerou-a demasiado dispendiosa. A lei vetada propõe mais taxas no tabaco para obter os 35 mil milhões de dólares necessários para assegurar a assistência.
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in Correio da Manhã 2007.10.04
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» Comentários no CM on line
Quinta-feira, 4 Outubro
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- Victor C É, ou não, humano, este tipo! Gasta biliões com as guerras e depois é forreta na saúde. Para aqueles que sempre defendem o sistema americano, caso não saibam, é dos piores do mundo! Um presidiário no corredor da morte, tem mais privilégios na saúde que um cidadão normal! Se tem seguro de saúde, muito bem, se o não tem, bem pode morrer!
- sasha c. Tem centenas de bilioes para a guerra, mas ajudar as crianças carenciadas nao tem nada, qual será o papel na sociedade afinal, nao é a favor da vida mas sim da morte????????
- Pedro André Mas alguem se espanta? Ajudar as crianças na saúde não contribui para encher os bolsos da familia Bush e seus amigos! Eram 35 mil milhões para a saúde? Para a guerra no Iraque são 350 mil milhões! Para este Sr,é preferível matar um terrorista (quiçá um iraquiano q nunca saíu da sua aldeia nem pegou numa arma), do que ajudar a sua própria população a viver. Semelhanças com algum ditador africano?
- O melhor do mundo sao as criancas Sr. Bush, faca um favor ao mundo, demita-se!

quinta-feira, maio 17, 2007



Crítica de TV - “Belas”, “Mestres”, confusões


* Correia da Fonseca

1. Mesmo a opção pelo chamado telelixo, tomada em obediência aos interesses comerciais que decidem as estratégias das operadoras privadas de televisão, tem limites que convém não infringir. Tanto quanto parece pelo menos por agora, a mais recente estreia da TVI no formato dos “reality shows” vem confirmar esta regra: intitula-se, como se saberá, “A Bela e o Mestre”, título que desde logo transporta consigo alguma conotação com formas de erotismo “hard”, embora decerto não passa de remota sugestão, e muitas reacções conhecidas de telespectadores apontam para uma rejeição até da parte de segmentos do público habitualmente seduzidos pelo peculiar tom da TVI. Não por eventuais razões de puritanismo, entenda-se, mas porque aquilo, “A Bela e o Mestre”, tem mostrado ser, como dizer?, parvo demais mesmo para paladares habituados a condescender com aquele género e mesmo a saboreá-lo. Como praticamente todos sabem, quer por verificação directa quer por ouvir dizer, o programa assenta na participação de dezasseis jovens, oito raparigas, ditas “as belas”, e oito rapazes, chamados “os mestres”, agrupados em casais. Supostamente, os mestres tratarão de ministrar às belas algumas informações de carácter cultural. Para que esse processo decorra em clima de suficiente proximidade, cada casal é alojado em quarto próprio, isolado dos restantes, podendo optar por dormir na mesma cama ou em lugares separados, afigurando-se talvez que o leito comum poderá favorecer a transmissão eficaz de valores culturais. Há-de ser por isso que o isolamento de cada casal é afinal mais aparente que efectivo: de facto, câmaras e microfones estão a vigiá-los em permanência. E assim se regressa com suficiente clareza ao clima de “voyeurismo” sempre à espera do “momento do sexo” que caracterizou ou sucessivos “Big Brother” fornecidos pela TVI ao seu fiel público.

2. Sucede que nem as “belas” são suficientemente belas para se tornarem em isco irresistível para os olhos de telespectadores gulosos, pois nestas matérias não basta a eventual economia de vestuário em certos momentos, nem os “mestres” deram até agora sinais de convincente mestria em qualquer área cultural. O que tem acontecido, isso sim, é que a ignorância das “belas”, testada em provas brevíssimas e muito simples, aponta para uma outra conclusão: é que as pequenas não devem grande coisa à inteligência, o que confirma um preconceito que por aí vagueia e que ensina que a verdadeira bela é inevitavelmente burra, mesmo que não seja loira. Por seu lado, os “mestres” ainda não deram qualquer significativo sinal de mestria em algum domínio, mas surgem de um modo geral mal encavados, o que implica um preconceito de algum modo complementar do anterior: rapaz dado ao estudo e/ou a leituras, mesmo que não exiba um mínimo de sinal de brilho nessas áreas, há-de ser um jovem macho desinteressante nessa condição. Entenda-se que esta avaliação é feita por quem tem capacidade para a fazer, não por um obscuro comentador de TV nada habilitado para essa especialização.

3. De qualquer modo, é de crer que o facto de as “belas” exagerarem na sua condição de ignorantes e de os “mestres” abusarem da sua penúria de encanto pessoal venha sendo motivo decisivo para o desencanto que parece percorrer o largo segmento de público habitualmente conquistado para “reality show” construídos à base de jovens casais e quartos com câmaras escondidas e vigilantes. É claro que esse desencanto actual, se é que existe tanto quanto parece, pode atenuar-se ou mesmo diluir-se de um dia para o outro: bastará para tanto que uns momentos mais ou menos nocturnos com um edredão movediço ou sequência similar venham enfim, ao encontro de expectativas. Isso é questão que daqui a uns tempos se esclarecerá. Mas, de qualquer modo, sobrará um ramalhete de sugestões bastantes para definir a qualidade, o acerto, a utilidade do programa. Por exemplo: que cultura ou incultura têm a ver com a capacidade de reconhecer a cara de Bin Laden ou de Fidel. Como se a incapacidade desse reconhecimento, já provada quanto a uma ou mais “belas”, não fosse, isso sim, sinal de uma vivência de todo exilada do mundo real, estado que apela para a palavra “alienação” para que fique adequadamente definido e que resulta do caldo (des) informativo que todos os dias os media, sobretudo na parte especialmente cozinhada para consumo juvenil, derrama sobre a generalidade dos cidadãos. É o ponto onde o desdenhoso desinteresse pelo tempo actual, a despolitização tantas vezes orgulhosamente assumida por gente tonta, se transmita em formas ridículas de ignorância. Cultura ou incultura são outra coisa, é claro, situam-se num outro plano ou numa outra área. Mas o programa “A Bela e o Mestre” desconhece essa diferença, porque ele próprio é um programa burro, ou finge desconhecê-la e propaga a confusão. O que será muito mais grave.

in Notícias da  Amadora   Opinião - Crítica Edição 0074 - 2007-03-22

sexta-feira, maio 04, 2007


O infiltrado



Ele não gosta como o 25 de Abril tem andado a ser celebrado. Não espanta: há mais como ele. Não muitos no âmbito das minhas relações pessoais, deixem-me dizê-lo, mas também não admira: os do tal âmbito das minhas relações pessoais aparecem muito pouco na televisão. Ele, sim, aparece. Sempre apareceu, mas muito mais de há cerca de um ano para cá, como é natural. Não gosta ele, pois, do modo como o 25 de Abril é lembrado ano após ano. Compreendo-o lindamente. Desde que me coloque no seu lugar, digamos assim, sendo claro que a frase não deve ser entendida literalmente, já se vê, até porque faltas de respeito não são comigo. De facto, percebo que lhe seja muito desagradável. Na sessão pontualmente realizada na Assembleia da República, tudo muito formal, os deputados todos engravatados (menos Madeira Lopes, o deputado de «Os Verdes» que persiste em desafiar o bom-gosto no bem trajar, o que também não pode deixar de desagradar mas, enfim, ainda é o menos), ainda muitos cravos vermelhos nas lapelas dos convidados e, para mais, discursos. Discursos desencontrados, note-se: os deputados de cada um dos partidos insistem em dizer cada qual a sua coisa, não há meio de dizerem todos o mesmo. Como a ele agradaria. Desde que dissessem o que ele entende que deveria ser dito. A diversidade gera confusão, pelo menos em certas cabeças. Talvez como a dele próprio, não sei. De qualquer modo, porque ele não gosta destas celebrações de Abril, talvez por causa do formalismo na AR, provavelmente mais ainda pelas celebrações nas ruas com a Avenida da Liberdade entupida durante horas e noutros lugares do País o trânsito também prejudicado, pela rádio que neste dia vai às prateleiras repescar canções revolucionárias, há quem, suspeitoso, desconfie de que ele não gosta é mesmo é do 25 de Abril propriamente dito. Talvez porque aquilo foi uma revolução e, já se sabe, uma revolução é uma desarrumação do que estava muito arrumadinho. E, justiça se lhe faça, ele é um homem arrumado. De um certo tipo de arrumação, naturalmente. Como toda a gente.

O parecer e o ser

De qualquer modo, faço questão de dizer que tenho a suspeita por injustiça. E tenho motivos para isso. Bem me lembro de, não há muito tempo, andava o País em campanha eleitoral, vê-lo entre muita gente mais de cravo vermelho na mão e até, se não me enganam memória e ouvidos, a cantar a «Grândola». Não muito bem, é certo, um pouco desafinado e sem saber as palavras todas, mas é claro que um homem não pode saber tudo e ele, como bem de sabe, sabe muitíssimo de outras cantigas onde a música é outra, sem nada a ver com o José Afonso. Mas esse momento do cravo em punho e «Grândola» na boca ocorreu noutro contexto, e é preciso saber distinguir os contextos. Se, como disse o poeta, mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, também é certo que com o tempo, mesmo breve tempo, também podem mudar-se as aparências. É o caso. Infelizmente, porém, é preciso notar que aqui se suscita uma questão que não é pequena. Não é que ele, lá por não lhe quadrar este modo já tradicional de festejar Abril, seja propriamente contra o 25. O caso é que, como lindamente disse o senhor que de algum modo é o antecessor não apenas dele mas também de todos nós (embora de maneiras diversas e até opostas, é claro), em política o que parece é. Ora, confessemo-lo ainda que com a tristeza na alma, com aquele desabafo de não gostar das comemorações do 25 de Abril ele pareceu ser pelo coração um adversário de Abril. Pareceu, e em política o que parece é. Para mais, dizendo-o onde disse, no dia em que o disse, com toda a gente a poder ouvi-lo. Tenhamos coragem e utilizemos a palavra que a circunstância permite, se é que não impõe: pareceu um infiltrado do anti-Abril, aparência tanto mais inconveniente quanto aconteceu em lugar ainda contaminado por cravos vermelhos. Infestado, dirão talvez alguns. Não ele, sublinhe-se: isso de andar de cravo vermelho ao peito no dia do 25 de Abril não é obrigatório nem quer dizer tudo. Mas é verdade, pareceu mesmo um infiltrado da direita que nunca se conformou com Abril, e em política... Uma chatice, enfim, com perdão da palavra. É certo que na altura própria ele não esteve implicado no 25, nem nos seus antecedentes, nem nos seus imediatos consequentes. Mas por uma boa presumível razão: estava a estudar. Aliás, dos frutos desse estudo muito se viu e decerto se continuará a ver. Aposto mesmo que, embora sempre pelos mesmos livros, continua a estudar.

Talvez por isso não goste dos festejos de Abril tal como têm sido feitos: muita gente, muito barulho, palavras de ordem irreverentes. Assim não deixam um homem trabalhar.

in AVANTE 2007.05.03

sábado, março 10, 2007




Sábado em Santa Comba



As imagens da televisão podem sugerir uma dimensão engrandecida das realidades focadas: tomando um exemplo frequente e não conotável com nada de grave, digamos que é comum verificarmos que um sujeito ao vivo é de presença bem mais discreta, bem menos impressionante, do que a imagem no ecrã do nosso televisor levava a crer. Parece ter acontecido alguma coisa de algum modo semelhante com as reportagens que a TV nos trouxe do «choque ideológico» ocorrido no passado sábado nas ruas de Santa Comba Dão. Quem viu aquelas imagens pode ter pensado que a população inteira de Santa Comba e arredores saiu à rua para defender o direito de transformar a localidade numa espécie de Meca do fascismo lusitano; que todos os cidadãos locais e seus anexos são devotos fiéis do salazarismo e que foram centenas os que quiseram opor-se à recusa expressa pelos antifascistas da URAP, porta-vozes do sentimento de milhares de outros que não foram com eles. Ora, não foi assim, não é assim: nem os chamados contra-manifestantes eram mais que um punhado deles, nem a gente de Santa Comba Dão é toda devota do ditador de má-memória. Aliás, um dos santacombadenses veio explicar perante a TV o que de facto o motiva, e a muitos outros: palpita-lhe que a criação de um «museu de Salazar» suscitará um surto de turismo capaz de muito beneficiar o comércio local. Percebe-se: a vida está má. Entenda-se, contudo, que esta motivação, inocente de objectivos políticos de raiz neofascista, não significa que não esteja em curso uma campanha sorna mas muito entusiasmada que visa o branqueamento da imagem do criador do campo do Tarrafal. Não me parece que a gente que comanda essa ofensiva esteja completamente alheia à ideia do museu, como não o estará quanto ao aproveitamento do concurso ridículo, mas afinal perigoso, que é os «Grandes Portugueses» da RTP. E permita-se-me dizer que me parece pelo menos curioso que um jornal de referência tenha citado na passada segunda-feira, por três vezes sendo uma delas na primeira página, a observação de um historiador de Coimbra segundo o qual «falar de Salazar já não é vergonha». É certo que não o é, que de facto nunca o foi, dependendo isso, porém, do modo como se fala. Se for para fazer o inventário público não apenas dos muitos crimes que Salazar cometeu, ainda que não usando as próprias mãos, mas também para denunciar o verdadeiro conteúdo da sua alegadamente virtuosa política económico-financeira que saneou as finanças nacionais pelo preço da fome de muitos milhares de portugueses; para lembrar a sua cumplicidade infame com os carrascos franquistas e para esclarecer que o seu «milagre da paz» foi uma consequência da posição geográfica de Portugal no calcanhar da Europa e não dos seus talentos, é mesmo justo dizer que até se tem falado de menos de Salazar. Sobretudo nos grandes media, sobretudo na televisão pública. Porém, se se pretende agora «falar de Salazar» para induzir à sua canonização política, não apenas isso será uma vergonha como será uma impostura grave e perigosa.

Uma União que existe

Voltando às reportagens da TV e ao tema do desejado museu, é claro que, se instalado, ele consubstanciaria um permanente acto de propaganda do fascismo, coisa que a Constituição expressamente interdita. É certo que já se injectou na prática política portuguesa o entendimento tácito de que a Constituição não é para cumprir, é para «actualizar» de acordo com os interesses dominantes, mas ainda assim parece forçoso um mínimo de recato. Ou de «vergonha», para usar aqui a palavra usada pelo historiador de Coimbra. Assim como o elogio do sujeito a quem Sophia, poeta de moderada expressão, chamou o «velho abutre», feito na RTP pelo incomparável Nogueira Pinto ao abrigo do já referido concurso èrretêpaico, foi também um momento de propaganda do fascismo lusitano. Quanto ao que se passou agora em Santa Comba e à eventual repercussão que a cobertura televisiva permitiu, sublinhe-se que teve pelo menos um mérito: divulgou a existência da URAP – União de Resistentes Antifascistas Portugueses que, ao que tudo indica, tem sido objecto de um cuidadoso boicote por parte dos grandes media nacionais que contudo falam de Salazar sem «vergonha». Mas o caso é que a URAP está aí, talvez à espera de cada um de nós, pois é claro que nem o fascismo nem os antifascistas acabaram em Abril de 74: o fascismo foi apenas afastado do poder, os antifascistas prosseguiram diversas formas de resistência, agora legal. Que a RTP tenha informado, mesmo sem muito o querer, que a URAP existe, foi um bom subproduto das suas reportagens. Não disse, é certo, que a URAP precisa de todos os antifascistas, sobretudo dos que nunca se lembraram dela. Mas fica aqui dito, pelo menos. Graças à televisão.

in Avante 2007. Março.08

NOTA:
Lembro-me de em 1974 o então «nascido» PPD (Partido Popular Democrático)», criado por Francisco Sá Carneiro, entre outros membros da chamada Ala Liberal da Assembleia Nacional de Marcelo Caetano, ter feito um comício no jardim público de Évora Estive lá e constatei que a assistência era diminuta. Contudo as fotos então publicadas na imprensa «mostravam» uma imensa multidão, devido ao ângulo de captação de imagem escolhido pelo fotógrafo.
VN

sexta-feira, janeiro 26, 2007


"Repressão da GNR sobre as populações"





Os «safanões» da PIDE


O melhor português de todos os tempos (3)
Salazar = Cunhal?



Uma infame simetria

* Correia da Fonseca

O apuramento por via plebiscitária/televisiva de quais terão sido os dez maiores portugueses de sempre não trouxe surpresas. Lá estão dois reis de acção decisiva, um deles porque o seu desejo de poder feudal autónomo acabou por grangear-lhe a qualificação de «Fundador da Nacionalidade» (embora, já se vê, ele nem tivesse a mais pequena ideia do que seria isso da nacionalidade), o outro porque mandou que se abrissem portas que haveriam de resultar na expansão portuguesa no mundo. Vasco da Gama, que também por lá aparece, é de algum modo uma figura apendicular da vontade de João II, o que não lhe retira os méritos pessoais mas explica o seu relevo histórico. Lá estão também os dois poetas de que a generalidade dos portugueses actuais mais têm ouvido falar, e de quem até são citados alguns versos, quase sempre os mesmos, acrescendo que Camões é o único de entre todos que tem direito a feriado nacional. Está o Infante, cujo nome está na raiz da iniciativa histórica que deu ao nome de Portugal um prestígio mundial que nenhum outro pequeno povo conseguiu, e está o Marquês, cuja acção reformadora tentou, como mais ninguém o fizera e nunca mais ninguém tentou fazer, acertar o tempo português com o tempo de uma Europa que a várias vertentes se civilizava. Anote-se que a presença de Pombal é a única que pode suscitar alguma estranheza, não decerto porque lhe faltem méritos bastantes mas porque ainda são audíveis os ecos de uma antiga, verdadeiramente secular, campanha de hostilidade e detracção desencadeada não tanto em razão dos duríssimos e cruéis métodos que usou (e que eram, de resto, os que usavam no seu tempo) mas sim por ter ousado combater a influência e o poder de uma espécie de vaca sagrada que até então se passeava e pastava pelo País a seu bel-prazer. Entre os «dez mais» está também o nome de Aristides Sousa Mendes, provavelmente em resultado do voto dos que quiseram votar na coragem perante a ditadura fascista e na solidariedade com os oprimidos e perseguidos mas não puderam, não souberam ou não quiseram, levar essa opção a outra consequência que implicaria uma colaboração política. E estão, como se sabe, os nomes de Salazar e de Álvaro Cunhal.

O criminoso e o resistente

A presença do nome de Álvaro Cunhal não é preciso explicá-la a ninguém de boa-fé e espírito limpo de preconceitos e venenos. A do nome de Salazar também não: mete-se pelos olhos dentro, mesmo pelos olhos de quem os quer manter fechados, que está em curso uma intensa ofensiva que visa branquear o nome e acção do sujeito, o que será o mesmo que branquear o fascismo português, porventura a pretexto de que ele tinha menos fardas e outros adereços vistosos que o nazismo hitleriano e o fascismo de Mussolini. Convém dizer, de resto, que algumas das grandes linhas da propaganda do fascismo salazarista andam por aí à solta há muito tempo: a efectiva militância anticomunista de alguns media, a detracção e hostilização de «os partidos», outras mais. Porém, a inserção do nome de Salazar entre os «dez maiores portugueses de sempre», obtida graças ao voto de alguns saudosos que não sabem muito bem o que significa ser saudoso de uma ditadura criminosa e de outros que sabem lindamente o que fazem, permite agora um outro passo: o de, a pretexto de uma invocada recusa de «ditadores», ser reeditada ao abrigo desta escolha uma suposta simetria, totalmente infame, entre Salazar e Álvaro Cunhal. Não é uma infâmia inteiramente nova: há muito que na comunicação social é referida, implícita ou mesmo explicitamente, uma alegada simetria entre o fascismo e o comunismo, impostura insustentável à luz da mais elementar honestidade intelectual mas contudo prosseguida porque abre caminho a diversas formas de repressão anticomunista, isto é, de facto à recuperação de um dos grandes objectivos do nazifascismo. Porém, no caso da colocação em paridade de Salazar e Álvaro Cunhal a infâmia é particularmente chocante e repugnante. Porque situa em insuportável simetria um homem que mandou torturar, matar, fundar os campos de concentração do Tarrafal e de S. Nicolau, com um homem que foi torturado, camarada de muitos dos assassinados, solidário com todos os que o ditador mandava perseguir, explorar, escravizar. Salazar foi, factualmente, o homem-de-mão dos poderosos, dos exploradores, quando Cunhal era o combatente em favor dos explorados e símbolo de uma esperança colectiva que passava pela desaparição daquele poder opressor e de todas as formas, mesmo as mais dissimuladas, de cumplicidade com ele. Não direi, entenda-se, que «Grandes Portugueses», programa da RTP, foi lançado para servir o lançamento mediático e portanto de reforçado impacto, da indignante simetria que aliás já não era inédita. Mas direi, isso sim, que esse ameaça ser o mais importante efeito da iniciativa sobre a chamada opinião pública. E que, por isso, deve ser intensamente denunciada e combatida.

Correia da Fonseca

in AVANTE 2007.01.25