A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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quinta-feira, novembro 08, 2007

PIDE/DGS - Nome de informadores públicos


Os nomes dos informadores da antiga polícia política – os candidatos eram tantos que incluíam “até padres de 72 anos” – deveriam ser tornados públicos, defendeu ontem Irene Flunser Pimentel no lançamento do seu livro a ‘História da PIDE’, que decorreu na Torre do Tombo, em Lisboa.
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in Correio da Manhã 2007.10.31
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» Comentários no CM on line
Domingo, 4 Novembro

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- assessor Devemos estar mais preocupados é com os informadores de agora,nos corredores\computadores das repartições, Câmaras,empresas e nas reuniões sindicais, etc, e em especial as escutas telefónicas piratas e a pirataria informática!

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Quinta-feira, 1 Novembro

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- devem ser publicados Não foram publicados nessa época nem muitos Pides foram denunciados porque houve pessoas que se auto intitulavam da Esquerda e em segredo tinham reuniões com Spínola, mas vale mais tarde do que nunca, o Povo de Portugal tem o direito de saber quais eram os traidores, que tinham coragem para denunciar pessoas da própria familia a troco de uns míseros escudos

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Quarta-feira, 31 Outubro

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- Camélia Rainho Agora? Passado todo este tempo? Nasci numa aldeia, e lembro-me da minha avó aconselhar a minha mãe para falar e cumprimentar um dos moradores da aldeia porque ele era tão mauzinho que seria capaz de denunciar quem quer que fosse só por maldade. Que a terra lhe seja leve mas hoje quando visito a aldeia ao olhar para os netos dele me lembro o Bufo que o avô foi.
- josé céptico E não deviam ser tambem tornados publicos os nomes dos bufos pós 25 de Abril? Todos os controleiros ao serviço do Partido comunista português o que eram senão bufos? Cunhal o que era?Um bufo ao serviço da União Sovietica. Ainda hoje conheço muitos.
- Zé Portuga Cá a mim o que me parece é que os Portugueses sempre tiveram uma grande queda para serem BUFOS (denunciadores) e coscuvilheiros também!!! Não me admira nada que tanta gente quisesse ser informador da PIDE outros do Partido Comunista, etc...Veja-se agora na actualidade o caso das escutas. Se tivessem mais tendência para o trabalho e menos para se ocuparem da vida alheia..este país estava bem melhor.
- Manel Agora já é tarde, quando tiveram oportunidade para os encurralar na praça de toiros do Campo Pequeno não quiseram...
- chines Esta divulgação não irá agradar a muita gente considerada anti-fascista. É que, pese o que pesar, desta classe também os havia e bastante activos inclusivamente a informar sobre familiares, amigos e correlegionários.
- ninbuem Também deveriam ser tornados públicos os nomes daqueles que enviavam para a antiga união sovietica informações sobre as tropas portugesas e outros alvos estratégicos, mas disso essa senhora já não se lembrou. Mais uma esperteza saloia. Para revelar nomes portugueses penso que ainda é demasiado cedo.
- Joao de Barros É certo que nunca nutri a mais pequena simpatia por esse tipo de gente,e sempre os entendi como uma fonte de informação para as chefias politícas e sem mesmo pior que os "agentes" só os informadores,delatores, que a troco de um par de moedas até seriam capazes de denunciar o pai, a mãe e todos...,mas os tais agentes eram assim tão maus, porque é que 90% deles foram "enquadrados" no SIS?????????



Para saber mais ver

PIDE - From Wikipedia, the free encyclopedia

PV: Assassinados pela PIDE

PIDE: Para que haja memória - Pravda.Ru

PIDE
Casado, pai de dois filhos, este homem é hoje na memória colectiva de todos nós, um Ex-PIDE.

História e Ciência: HISTÓRIAS SECRETAS DA PIDE/DGS: a organização ...

domingo, maio 06, 2007


Vítimas de Salazar
João Madeira
Irene Flunser Pimentel
Luís Farinha


Sinopse:

Durante mais de 30 anos António de Oliveira Salazar governou Portugal com punho de ferro. Através de um regime nacionalista, autoritário e repressivo despolitizou-se, desmobilizou a participação cívica dos portugueses e criou uma única e determinada imagem do país.


Pretensamente sem conflitos, problemas, miséria e dificuldades, segundo a norma de «o que se parece é». Mas os homens e mulheres de então tinham fome, viviam amordaçados pelo lápis azul dos censores, controlados por escutas telefónicas ou violação do seu correio, intimidados pelos informadores que colaboravam com o regime. Atormentados pelas torturas da estátua ou do sono perpetrados pela PIDE. Julgados por tribunais fantoches onde a liberdade ficava à porta e onde os próprios advogados passavam a réus. Se a sua atitude fosse considerada suspeita eram saneados, impedidos de exercer a função pública, exilados ou deportados para campos de concentração, ou simplesmente assassinados. Estes homens e mulheres têm um rosto, sofreram a repressão, enfrentaram-na de forma corajosa e muitos morreram de forma heróica a combatê-la. São as Vítimas de Salazar.

in
www.esferadoslivros.pt/novidades.php

Do”maior português de sempre” às “Vítimas de Salazar”

*
Joaquim Gonçalves

Quando criança - nasci na segunda metade dos anos 50 - fui habituado a ouvir (e a repetir) que Monsanto era a aldeia mais portuguesa de Portugal, que o Alentejo era o celeiro da Nação, que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses e por aí fora, numa sucessão de frases de marketing político-económico de fazer inveja a sucedâneas gerações de brilhantinas, tecnocratas, e sabichões.

Mais tarde vim a saber que existiu um António Ferro. De Salazar já tinha conhecimento, não fosse ele omnipresente na parede da escola, bem por trás da secretária do Senhor Professor, por cima, por baixo ou ao lado do crucifixo, mas sempre em local que os nossos pequenos olhos não pudessem ignorar.

António Ferro foi, de facto, o grande publicitário do regime, fazendo escola que não se terá perdido no tempo. Há quem diga que foi o pai do marketing político português. Mas dessas coisas sei pouco. O que sei, constato, cerca de meio século passado, é que Ferro e Salazar não trabalharam em vão. Como se o lapso de cinquenta anos não tivesse existido na História de Portugal e dos Portugueses – dos grandes e dos pequenos – a televisão pública (e impúdica) oficial paga por todos nós, principalmente os pequenos portugueses, já que os grandes estão lá para colher os louros e as receitas, essa RTP que nunca conseguiu disfarçar sequer a sua dependência dos poderzinhos do momento, impõe-nos, agora, o nome do ditador como o hipotético maior português de sempre, numa lista que inclui Portugueses de maiúscula.

Não me contradigo ao dizer que esse nome não devia sequer ser autorizado a figurar na lista (hipotética) dos maiores. Não ignoro o lapso de cinquenta anos. Salazar existiu, de facto. Mas o tal meio século ensinou-me alguma coisa. Tal como o ontem e o hoje (o amanhã nunca se sabe), a História existe, não a podemos contornar. Deve, por isso, servir para alguma coisa. Quanto mais não seja para aprendermos com os erros do passado. Mas quem quer saber disso?

Entre outros ápodos, Salazar, para além de “bota-de-elástico”, também ficou conhecido pelo “troca-tintas”. Sendo eleito, num “concurso” que fosse sério, como “o maior português de sempre” ficaria consumada a categoria dos portugueses: “troca-tintas”.

Se assim fosse, na minha ascendência haveria de certeza um engano - não seria português. Mas sou. Porque a História continuará a ensinar a vindouros com dois dedos de inteligência que os poderes do momento são efémeros. E bons e maus portugueses havê-los-á sempre.

Cada um é como é. Cá por mim, não apenas como livreiro mas, acima de tudo, como Português, vou fazer a melhor divulgação possível do livro “Vítimas de Salazar”.

Sines, Março de 2007

http://adasartes.blogspot.com/2007/03/todos-os-autores-dia-31.html


Pelas Vítimas de Salazar

* João Tunes

Com uma óbvia oportunidade, o livro recentemente editado sob o título de “Vítimas de Salazar” (*) representa uma súmula de vários aspectos da pesada face negra dos tempos sob a ditadura de Salazar. Obra de uma equipa de historiadores, nela perpassa o essencial de um passado culturalmente (não politicamente?) ainda presente em que, pela distância de uma incerta vivência democrática, não deixa de provocar espanto. Suponho que a admiração maior calhará às gerações pós-abril que terão dificuldade em imaginar-se viverem em tamanho sufoco repressivo. Mas mesmo para as gerações que viveram a ditadura, admito que esta revisita do salazarismo ainda perturbe como retorno de pesadelo.


E se a distância, normalmente um importante factor positivo e essencial para qualquer abordagem histórica, é propícia a uma apreciação mais fria, abrangente e documentada do passado histórico, não é menos verdade que ela é aproveitada pelos gestores do silêncio e do apagamento dos contrastes. Portanto, campo livre para o revisionismo e a recuperação saudosista. Com Salazar, foi isso que aconteceu. O que espreita e é aproveitado atrás dos recuperadores de Salazar, gerindo-lhe e alimentando o mito, é uma mescla de múltiplos vectores: sobreviventes desse tempo que não combateram Salazar (e a maioria dos que viveram o seu tempo não o combateu, por medo, por servilismo ou por benefício); os das mais jovens gerações que desiludidos com o rumo e resultados democráticos, são atreitos a uma projecção negativista radical do presente (fazendo-o para um futuro utópico de revolução libertadora ou pelo retrocesso passadista); os incrédulos, por ignorância, da face negra do salazarismo; os relativistas que se empenham em salientar o cotejo dos limites repressivos do salazarismo com outros fascismos da época.


Numa sucessão de abordagens conformes á metodologia histórica, documentalmente suportada, os autores deste livro revisitam o pesadelo do tempo vivido sob o mando absolutista de Salazar, desdobrado nas várias facetas em que o regime reprimia, controlava e definia os limites das vivências permitidas. Nas quais, só três vias eram consentidas: o colaboracionismo (em grande número, um “colaboracionismo miserável”, como o dos “bufos” e “informadores”); o conformismo (sobretudo o de “a minha política é o trabalho”); a resistência e oposição (para quem o regime usava uma mão pesada e brutal). Os vários capítulos deste livro tratam, sobretudo, deste último (e reduzido) grupo, afinal o sustentáculo das raízes de que saiu a democracia e que depois havia de incorporar activamente os colaboracionistas e os conformistas. Mais, é claro e felizmente, as gerações crescidas ou já nascidas em sociedade democrática (toda ela, uma negação total e absoluta da sociedade salazarista). A censura, a vigilância sobre as conversas telefónicas e o correio, a rede de “bufos” e informadores, a prisão política e a prática de torturas, os julgamentos por juízes-polícias com possibilidade de aprisionamento como “medida de segurança”, os saneamentos da função pública, a deportação e o exílio, os campos de concentração, o controlo político das Forças Armadas, as milícias fascistas, a repressão aos estudantes, a liquidação do protesto sindical, os assassinatos políticos, as fraudes eleitorais, são as faces negras do salazarismo, as vividas pelas suas vítimas, expostas neste livro e atiradas à cara dos saudosistas de Salazar. Impensáveis hoje mas essenciais então para a conservação de um regime hiper autoritário.


Um livro eminentemente útil num tempo em que, pela ignorância e pelo apagamento programado da memória, um punhado de maníacos saudosistas mobiliza, pelo telemóvel, votos televisivos para o ditador nefando como sendo um “grande português”.


(*)“Vítimas de Salazar – Estado Novo e Violência Política”, João Madeira, Irene Pimentel, Luís Farinha e Fernando Rosas, Edições “A Esfera dos Livros”

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Adenda: Quase em coincidência, também Miguel Cardina faz apreciação deste livro oportuno.

http://agualisa6.blogs.sapo.pt/209856.htm

A violência, o medo e os rostos defronte

* Miguel Cardina

Existe já uma considerável produção memorialística proveniente do diversificado campo da oposição ao Estado Novo. Em 2001, António Ventura publicou o catálogo Memórias da Resistência. Literatura autobiográfica da resistência ao Estado Novo, no qual antologiou noventa e nove extractos de livros escritos por activistas da luta contra o regime de Salazar e Caetano. Desde essa data, mais livros – subtraia-se à contabilidade as inúmeras crónicas ou testemunhos sobre o assunto – foram adicionados a esta lista, estando actualmente o número de relatos desta natureza bem acima da centena. Um exemplo último foi a edição das memórias de Edmundo Pedro, dedicadas ao período da sua formação ideológica e permanência no campo de concentração do Tarrafal.

Por outro lado, e no campo académico, a abordagem dos processos de luta oposicionista tem vindo a interessar um número crescente de investigadores, com alguns deles a deslocarem o foco de atenção para o «outro lado», o lado dos mecanismos, dos fenómenos e dos actores da repressão política. Recentemente, duas teses de doutoramento foram dedicadas a esta temática. Em 2004, Dalila Cabrita Mateus publicou A PIDE/DGS na Guerra Colonial: 1961-1974 – tendo, em 2006, dado à estampa Memórias do Colonialismo e da Guerra, conjunto de quarenta entrevistas, efectuadas no âmbito do referido trabalho, a portugueses e africanos perseguidos pelo seu empenhamento independentista – e Irene Flunser PimentelA Polícia Internacional de Defesa do Estado. Direcção Geral de Segurança (PIDE/DGS). História da Polícia Política do Estado Novo, cuja publicação se anseia para breve. apresentou, já este ano,

Vítimas de Salazar, de João Madeira, Irene Flunser Pimentel e Luís Farinha, permite percorrer esse duplo caminho que atravessa resistência e repressão. Ao mesmo tempo que aborda a violência cometida pelas autoridades, recupera o rosto daqueles que arriscaram romper o cerco e lutar, das mais variadas formas, contra o regime ditatorial. Como declara João Madeira na introdução, este não é o estudo sistemático «que é globalmente indispensável» e «que tem vindo a ser parcelarmente realizado» sobre este domínio. Ainda assim, convém esclarecer que a obra não se limita a coligir e elucidar situações mais ou menos emblemáticas, mais ou menos desconhecidas – tarefa já de si altamente louvável – mas proporciona uma útil visão de conjunto sobre os mecanismos da repressão política.

No prefácio, Fernando Rosas elabora algumas considerações sobre os dois temas que, visível e invisivelmente, percorrem a obra: a violência e a memória. Sobre esta, Rosas salienta que a revolução de 1974/75 se fez, desde logo, em nome da «memória do antifascismo», o que explicaria o assalto à PIDE, a libertação dos presos políticos, a liquidação do partido único e da censura, a extinção da Legião Portuguesa (LP), da Mocidade Portuguesa (MP) e da Mocidade Portuguesa Feminina (MPF), bem como os saneamentos de governantes, delatores e colaboradores do regime.

Num segundo momento, colocado na curva da década de setenta para a década de oitenta, teria emergido uma «cultura de negação/revisão» dessa memória que fora dominante durante o biénio revolucionário. Fernando Rosas identifica três manifestações deste processo: 1. «a anulação ou esvaziamento prático de grande parte das medidas de justiça exigidas e parcialmente impostas»; 2. «o prolongado fecho de alguns arquivos essenciais à investigação histórica do Estado Novo e suas instituições»; 3. «a construção progressiva de um discurso de revisão historiográfica», que não tem a ver com a querela relativa a classificação (ou não) do regime como um fascismo, mas com uma dada interpretação que lhe enfatiza o lado civilista. Liderada por um professor catedrático e temperada por uma «matriz católica», a ditadura portuguesa ter-se-ia caracterizado pelo seu «baixo teor de violência».

É precisamente sobre a questão da violência, central neste volume, que Rosas faz mais algumas breves alusões. Enquanto projecto de superação do liberalismo e de cura da Nação através da erradicação dos «traidores da Pátria», a violência dos regimes de tipo fascista era «potencialmente irrestrita», variando a sua extensão de acordo com as circunstâncias e as possibilidades. A durabilidade dos regimes implicaria, pois, uma cuidadosa gestão entre a «violência preventiva» e a «violência punitiva», caminhos apostados em «enquadrar a massa»«moldar os espíritos». e

A primeira seria a forma mais constante, ainda que menos evidente, de violência política, e sustentava-se na intimidação, na dissuasão e no medo. Neste campo jogaram um papel essencial a igreja católica – sobretudo até a década de cinquenta –, o aparelho censório e os organismos estatais de inculcação ideológica. Aqui se traçava um «primeiro círculo de segurança que toda a gente que não quisesse correr sérios riscos ou arranjar problemas graves, interiorizava não poder pisar». O segundo domínio da violência – o da repressão directa – agia sobre um número quase sempre mais escasso de indivíduos e servia-se de uma rede própria: a PIDE, a PSP, a GNR, a LP, os tribunais especiais, as prisões e os campos de concentração, bem como por uma legislação penal que suportava e permitia uma série de arbitrariedades.

Mobilizando uma quantidade apreciável de documentos, informações e testemunhos, os autores de Vítimas de Salazar desenham um retrato inequívoco da identidade agressiva do Estado Novo. Nele se destacam as perseguições, os assassinatos, os interrogatórios da PIDE – onde, como lembrou o psiquiatra Afonso de Albuquerque, o que interessava não era fazer falar mas «a destruição da personalidade do preso e a criação de um clima de terror» – ao mesmo tempo que se vai apontando a referida «violência preventiva»: a censura, as escutas telefónicas, o medo, a mentalidade delatória, a violação de correspondência, as estruturas ideológicas do regime, são alguns dos temas documentados. Não se confundindo, pois, com um libelo acusatório, o livro não abdica de «tomar partido», isto é, de mostrar que na dialéctica entre torcionários e vítimas, delatores e perseguidos, opressores e oprimidos, a dignidade está apenas num dos lados.

João Madeira, Luís Farinha, Irene Flunser Pimentel (2007), Vítimas de Salazar. Estado Novo e Violência Política. Prefácio de Fernando Rosas. Lisboa: A Esfera dos Livros. 452 pp. [ISBN 978-989-626-044-6]

http://ppresente.wordpress.com/textos/a-violencia-o-medo-e-os-rostos-defronte/



É quase Abril...

18-04-2007

* Francisco Queirós

Estamos a poucos dias do 33.º aniversário do 25 de Abril. Muitos portugueses nasceram depois da revolução e a geração que hoje está no poder era a geração adolescente naqueles últimos anos do regime, da chamada “primavera marcelista” que se sucedeu à queda da cadeira protagonizada por Salazar, primavera só de nome em que a PIDE, agora DGS, continuava a esmerar-se nas torturas do sono e da estátua, na tortura psicológica com o bom e o mau pide, e em tantas outras sevícias, que Salazar, tão hipócrita quanto falsamente seráfico, crismara de: “meia dúzia de safanões a tempo nessas criaturas sinistras”. Portugal era um país de miséria, de analfabetismo, de mortalidade infantil, de fome e era o país onde as mulheres precisavam de autorização dos maridos para se deslocarem ao estrangeiro e onde os maridos tinham direito consagrado a abrir a correspondência das suas mulheres. Era um país em guerra, de onde os seus filhos saíram para morrer em nome falso de uma Pátria que não podia contudo ser a sua. 33 anos depois de Abril recordemos que são milhões as vítimas de Salazar e de Caetano, os que caíram na guerra, os que sofreram a repressão, as prisões e os assassinatos, os que foram condenados à emigração “a salto”, os que foram destinados à miséria, à fome, à tuberculose e a outras enfermidades ou à ignorância por um regime que desprezou o ensino.

33 anos depois da Revolução de Abril eles andam aí de novo, em concursos de tv ou em campanhas de branqueamento dos seus crimes. Por estes dias, representantes do fascismo de toda a Europa concentram-se num evento em Portugal. E o governo mantém-se mudo e quedo face às cada vez mais frequentes cerimónias fascistas, em que se incluiu também a pretensão de inaugurar um santuário em Santa Comba, com o nome de museu.

Curiosamente, quando em Portugal se avança como nunca antes na execução de políticas neoliberais, de direita, em muito semelhantes às executadas por sectores da extrema-direita europeia, recrudescem os episódios e as manifestações nacionalistas. Há quem, professoralmente, os desvalorize. Há quem defenda que se ignorem ou desprezem estes sinais. Mas eles não são inocentes. A extrema-direita clássica tem agora a sua oportunidade e, assumindo-se publicamente com maior frequência e estridência, procura empurrar os homens que estão ao leme para rumarem ainda mais para a direita. A estratégia é velha - cria-se um espaço entre o extremismo, que na pior hipótese a maioria da opinião pública rejeita e condena, e as novas e modernas soluções direitistas, mas aparentemente mais democráticas e logo distintas e por isso aceitáveis e convincentes. Se necessário mesmo, aperta-se o cerco aos protagonistas do poder, obrigando-se a que caminhem ainda mais depressa para onde se quer que estes avancem.

33 anos depois do 25 de Abril, a memória está mal cuidada, de propósito. 33 anos depois da Revolução, há quem cuide em apagá-la e há quem não queira em consciência ver os perigos que espreitam por detrás da falsificação da história e do branqueamento do fascismo. Mas Brecht tem ainda razão: «Primeiro levaram os comunistas / Mas não me importei com isso / Eu não era comunista / Em seguida levaram alguns operários / Mas não me importei com isso / Eu também não era operário / Depois prenderam os sindicalistas / Mas não me importei com isso / Porque eu não sou sindicalista / Depois agarraram uns sacerdotes / Mas como não sou religioso / Também não me importei / Agora estão a levar-me a mim / Mas já é tarde.»

Para que não seja tarde, recordemos Abril. Eu cá vou recordá-lo nas ruas, em Abril e em Maio. E sempre. Sempre que for preciso.

in

http://www.asbeiras.pt/?area=opiniao&numero=41650&ed=19042007

quarta-feira, abril 11, 2007

























(Ainda) o Maior Português de Todos os Tempos (11)









Na noite em que Salazar "ganhou", na votação, da televisão pública

Quarta-feira, 4 de Abril de 2007


Publicamos hoje um texto de Irene Pimentel, historiadora e activista do movimento Não apaguem a Memória!, que nos revela os bastidores do concurso da RTP1, «Os grandes Portugueses». Por ele ficamos a saber os pormenores rocambolescos deste programa de má memória. O registo, irónico, faz juz à boa tradição lusíada, e adequa-se que nem ginjas ao tema. Boa leitura!

* Irene Pimentel, historiadora

"Caindo num logro, achei que tinha tido a 'sorte' de ser convidada para a «grande gala», onde “tudo” ficaria decidido: ou seja, ia-se decidir quem era o maior português de sempre (em 25/3/2007). Iria finalmente – pensava – contribuir para contraditar, nem que fosse um pouco, o pensamento único. Ingenuidade e omnipotência! É certo que, após muito hesitar – é verdade –, decidi que talvez valesse a pena intervir, nem que fosse durante 45 segundos, para lançar uns pós de contraditório. Já agora, de História, num programa sobre figuras históricas, que se caracterizou por evacuar precisamente… a História. Era um concurso, mas um concurso é um concurso, é um concurso…, na televisão pública.

Tive, porém, o cuidado, ao chegar ao estúdio, de me informar se iria realmente intervir. Foi-me assegurado que sim, fui à caracterização, e colocaram-me num determinado local. Primeiro aviso: tinha sido remetida para os “apoiantes” de Vasco da Gama. Vim, depois, a perceber, pela localização, que, sabendo que ele ficaria em último lugar, era o local de onde nem valeria a pena falar. É certo que devia ter percebido e ido embora. Afinal tinha sido convidada, para estar sentada (diga-se que muito inconfortavelmente), durante três horas, para assistir – caladinha – à grande decisão, qual personagem do filme Laranja Mecânica (do Kubrick), obrigada a ver tudo, impossibilitada de fazer zapping!

Reconheço que me deixei manipular pela RTP – televisão pública – para a qual, como todos os portugueses (que pagam impostos), desconto. Tinha sido abordada, há cerca de uns meses, para dar alguns depoimentos sobre personalidades públicas da História de Portugal, para um programa da RTP, que me pareceu, tal como me explicaram então, um programa em forma de concurso, que teria a oportunidade de divulgar figuras históricas portuguesas, ao grande público. Público tão arredado da História, para não falar da memória, relativamente a tempos mais recentes. Gravei depoimentos sobre Álvaro Cunhal, Oliveira Salazar, Humberto Delgado, José Afonso e Aristides de Sousa Mendes, se bem me lembro. Recordo-me de ter discutido então sobre a presença de Salazar (que estava programada) e de ter sido colocada a questão de ele poder ganhar. Mais uma razão – pensei –, para fazer um depoimento sobre ele (que realmente fiz).

Depois, surgiu, uma mini polémica, em resultado de ter havido da parte da RTP a ideia de não colocar Salazar e Caetano à votação, à semelhança do que havia acontecido na Alemanha e em França, respectiva e relativamente a Hitler e a Pétain. Pareceu-me estranho, pois eu própria tinha gravado um depoimento sobre o ditador português, e achei que dali resultava um efeito perverso – desejado ou não – que tinha o condão de fazer do omnipotente presidente do conselho de ministros uma vítima… da Censura, caso ele não fosse incluído nas personalidades que iriam ser sujeitas ao “voto” dos “portugueses”.

Parece que houve uma mobilização de salazaristas e de apoiantes de Álvaro Cunhal!Passou o tempo… Pensei que o concurso não tinha grande audiência, os debates eram mornos, cá fora pouco se falava dele, a não ser com alguns picos de excitação, regulada pelos métodos de marketing. Mesmo assim, era um concurso, um concurso… e, para não haver batota, haveria certamente contraditório. Eis que surgem, em Lisboa (não sei se pelo país) cartazes referendários, a branco e preto (não me refiro à cor, mas à tonalidade da mensagem), dicotómicos e destinados a excitar e a fazer sangue: «Salazar, ditador? Ou salvador». O primeiro adjectivo era um pleonasmo, o segundo não se percebia: salvador de quê? do seu próprio regime?Cá fora, as pessoas começaram a estranhar, uns com maior ou menor revolta, a grande maioria com indiferença. Era um concurso, um programa de entretenimento, dizia-se, com a vantagem de difundir, ao grande público, personagens históricas. Uns davam o benefício da dúvida, outros consideravam o programa inócuo, uma vez que Salazar estava bem morto e enterrado. Muitos, entre os quais me incluo, desvalorizaram e enganaram-se. Outros acertaram e disseram que o programa era um disparate e passaram à frente.Depois, foi a escolha de quem defendia as personagens. As mais polémicas ficaram a cargo de defensores, apoiantes ideológicos das mesmas. Tudo a bem do espectáculo, do circo e da dicotomia, para acentuar o voto militante. Vieram então os programas hagiográficos sobre as figuras. Tanto mais hagiográficas quanto se aproximavam dos tempos recentes. Ressalve-se o programa sobre Aristides de Sousa Mendes, cujo momento histórico teve cerca de uma semana, e com quantas consequências! Salvou vidas humanas.

Devo dizer que não vi todos os documentários, por isso, só me posso referir aos relativos a Aristides, Cunhal e Salazar.O elogio a Salazar tinha imagens de arquivos – conhecidas – e Jaime Nogueira Pinto, propagandeando, sem a criatividade estética de António Lopes Ribeiro, na Revolução de Maio, o regime salazarista. Todos os lugares comuns presentes: o homem que equilibrou as Finanças, que defendeu a nossa independência nacional, ao apoiar os golpistas militares em Espanha, e que nos salvou da II Guerra Mundial. Evidentemente omitindo que qualquer um equilibra as Finanças, eliminando toda a oposição, as greves, as manifestações, e ocultando-a através da Censura.

Mas o melhor estava para vir! Foi o espectáculo mais aborrecido ao qual jamais assisti! Felizmente, o que ia ouvindo contribuía para enervar bastante, para manter qualquer pessoa acordada. Havia um senhor que elogiava o facto de ele próprio gostar de mulheres. Alguém assegurava que Fernando Pessoa não era alcoólico nem homossexual. Um político da Direita portuguesa lamentava que o século XX português tivesse sido triste, talvez – só talvez – para revelar que não iria fazer a mesma coisa que Salazar. Entretanto, qualquer amante de história, atento aos anacronismos, sabe que Salazar só há um e que nada se repete da mesma forma.Um falava das crueldades de antanho, reduzindo a Inquisição portuguesa à brandura dos nossos costumes. Um senhor jornalista da assistência defendia o primeiro rei de Portugal, arengando as massas a votarem nele, graças ao qual Portugal era este país extraordinário, de onde saíram os valorosos filhos que, na véspera, tinham goleado, por 4 a 0, outros – neste caso flamengos –, mostrando à Europa de que massa somos feitos.

Mais uma vez o melhor estava para vir. O defensor de Salazar, sem tempo para fazer o trabalho de casa, repetiu o que já havia dito no tal filme de propaganda, sem a estética estado-novista: que ele tinha sido um ditador, mas também um «líder», que, esse sim, tinha congregado toda a direita e domesticado as Forças Armadas (os quadros intermédios), que nunca tinha sido corrupto, que nascera e morrera pobre, num país seguro. Se houvesse contraditório, alguém poderia ter dito, entre outras coisas, que houve os ballets roses, que o ditador sabia bem que o que parece às vezes é, e que, por isso, basta instaurar a censura e, como por milagre, desaparecem todos os conflitos, a corrupção, os crimes, os suicídios. Que tivemos uma guerra colonial em três frentes, durante treze anos, sorvedoura de uma geração portugueses, forçados ao serviço militar obrigatório. Já agora…. Que dizer do argumento de Nogueira Pinto, segundo o qual se pode agradecer a Salazar ter feito uma guerra colonial em três frentes, pois contribuiu com isso a formar uma identidade nacional, que possibilitou a criação de países africanos?

A omissão, que é a arma dos mal-intencionados não parou aí. Não se ouviu, durante toda a noite, da parte do defensor do ditador, inúmeras palavras: por exemplo, PIDE/DGS, tortura, assassinato, despedimento por razões políticas, campos de concentração, miséria, falta de educação, «orgulhosamente sós», «viver naturalmente», a mordaça à criatividade, informadores da polícia, provincianismo. E sobretudo, hipocrisia e duplicidade! Perdão, para ser justa, o defensor encontrou um defeito no ditador: nos últimos anos do seu regime, não ouviu o povo! E, assim, se deu lugar à complexidade da personagem.

No programa, assistiu-se também à suprema ironia de o defensor de Salazar tentar eliminar, com batota (qualquer concurso a tem, pelos vistos), um adversário. E aqui, é mais grave, pois sai-se do terreno da ideologia, que qualquer um tem o direito de defender, em democracia, para a falsidade. Jaime Nogueira Pinto inventou o número de um milhão (porque não dois milhões, ou meio milhão, sempre era mais credível) de refugiados que Salazar teria salvo, durante a II Guerra Mundial. Então, porque puniu Sousa Mendes, acusando-o de desobedecer às suas ordens ao dar vistos a apenas alguns milhares de perseguidos do nacional-socialismo? Na realidade, o Estado Novo teve de deixar entrar, em Portugal, os refugiados com vistos de Sousa Mendes, porque a Espanha os recusou de volta. Houve fugidos ao nazismo, em Portugal, apesar de Salazar e porque, quando os destinos da guerra se viraram para o lado dos Aliados, o ditador viu o que tinha a ganhar com uma postura de neutralidade colaborante.

No final, não faltaram os analistas políticos, alguns dos quais surgiram no seio dos defensores. Um deles – defensor do Marquês de Pombal – aproveitou para dizer que Salazar “ganhou” porque tudo em Portugal estava muito mal. Embora não o dissesse, percebia-se que se referia ao próprio regime. Agora a sério: esse regime é o regime democrático. Com todos os seus erros, temo-lo, e é incomensuravelmente melhor que a ditadura. Até porque em democracia, podemos criticar, sugerir lutar contra o que não gostamos. No programa da RTP, houve vozes contra o regime democrático. É próprio da democracia. Mas também convém que alguém a defenda, num instrumento que é pago pela mesma.Aproveitando o facto de ter estado 'calada' a assistir, vou relatar algumas coisas que vi. Odete Santos estava lá para gáudio dos espectadores. Num registo conhecido e inadequado – por isso terá sido escolhida –, interveio e foi gozada e achincalhada. Da bancada dos “salazaristas” (defensores de Salazar), havia risos ostensivos e achincalhantes de quem nem num concurso se sabe comportar. Prestou-se a isso, mas um mínimo que se exigia da televisão pública é que as pessoas convidadas não fossem alvo de chacota. Quando o defensor do Marquês de Pombal, exactamente no mesmo registo – melhor dito, mais num registo utilizado, em tempos, com mocas –, fez a sua “análise” final, ninguém pestanejou, talvez porque a sua intervenção tenha sido então considerada a de um “analista político”. Depois do final do programa, assisti a 'fogosos' jovens, 'amantes de história', na sua 'juventude' a gritarem palavras de ordem (gritavam «JSD», JSD», entre outras coisas), aproveitando mais uma vez… para dizer coisas sobre Odete Santos.

Ao meu lado, estavam muitos colaboradores do concurso, que com trabalho de qualidade intervieram no mesmo, e vi desânimo e desalento, até revolta, com o resultado final. Alguém, que fez, aliás, um excelente documentário, dizia «mais valia que não se tivesse feito este concurso». Pois é, foi uma irresponsabilidade da televisão pública do Estado, com a qual eu própria colaborei!

Texto retirado do Blog NÃO APAGUEM A MEMÓRIA