A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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segunda-feira, fevereiro 18, 2013

Toni Negri - as duas renúncias do papa alemão

 
 
18 de Fevereiro de 2013 - 16h25         

Ao colocarem uma pedra sobre o Concílio Vaticano 2º, Wojtyla e Ratzinger confundiram Igreja com Ocidente, e cristianismo com capitalismo.

Por Toni Negri


Há mais de vinte anos, saiu a encíclicia Centesimus Annus, do papa polonês Wojtyla, por ocasião do centenário da Rerum Novarum. Era o manifesto reformista, fortemente inovador, de uma Igreja que se pretendia, dali em diante, única representante dos pobres, depois da queda do império soviético. Àquele documento, meus companheiros parisienses do Futur Antérieur e eu dedicamos um comentário que era também o reconhecimento de um desafio. Teve por título “A 5ª Internacional de João Paulo II”.

Vinte anos depois, o papa alemão renuncia. Declara-se não só esgotado no corpo, e incapaz de se opor aos imbroglios e à corrupção da Cúria Romana, mas também impotente no ânimo para enfrentar o mundo. Esta abdicação, porém, só pode surpreender os curiais. Todos os que estão atentos aos assuntos da Igreja romana sabem que outra renúncia, bem mais profunda, dera-se antes. Ocorrera em parte sob João Paulo II, quando, com o apoio fervoroso de Ratzinger, a abertura aos pobres e o empenho por uma Igreja renovada pela libertação dos homens da violência capitalista e da miséria terminaram.

Fora pura mistificação, a encíclica de 1991? Hoje, devemos reconhecer que, provavelmente, sim. De fato, na América Latina a Igreja católica destruiu cada foco da Teologia da Libertação. Na Europa, voltou a reivindicar o ordo-liberalismus. Na Rússia e Ásia viu-se quase incapaz de desenvolver o discurso que a nova ordem mundial permitia. E nos países árabes e Irã viu os muçulmanos – em suas diversas seitas e facções – assumir o posto do socialismo árabe (e frequentemente cristão) e do comunismo ortodoxo, na defesa dos pobres e no desenvolvimento de lutas de libertação.

A própria reaproximação com Israel não foi feita em nome do anti-fascismo e da denúncia dos crimes nazistas, mas… em nome da defesa do Ocidente. O paradoxo mais significativo é que o grande impulso missionário (desenvolvido de modo autônomo depois do Concílio Vaticano 2º) refluiu em favor de ONGs católicas, rigidamente especializadas e depuradas de qualquer característica genericamente “franciscana” Estas ONGs terminaram dedicadas à prática dos “direitos do homem” que a Igreja (e dois papas: o polaco e o alemão) recusava-se a reconhecer nos países europeus ou na América do Norte, onde ainda expressavam, com ressonância anticlerical e republicana, as conquistas (residuais, ainda que eficazes) da laicidade humanista e iluminista. Ao invés de se colocar à esquerda da social-democracia, como a Centesimus Annus propunha, o papado situou-se à direita, no cenário social, e junto a uma direita política próxima aos Tea Parties (inclusive os europeus).

Agora, o papa alemão abdica. É quase divertido ouvir a mídia do mundo que ainda se interessa pelo assunto (muito limitado, se considerarmos o espaço global). Ela pede ao novo Papa que reconheça o ministério eclesiástico das mulheres; que estabeleça uma administração colegiada burguesa da Igreja, que assegure uma posição de independência em relação à política… propostas banais. Mas tocam o essencial? Seguramente, não: é a pobreza, o que falta à Igreja. Seria enfim o momento de compreender que o papa não é um Rei: deve ser pobre, só pode ser pobre.

Tentarão mascarar o problema promovendo um africano, ou um filipino, ao papado? Que horrível gesto racista seria, se o Vaticano e os seus ouros e os seus bancos e a sua dogmática política a favor da propriedade privada e do capitalismo permanecessem brancos e ocidentais! Pedem conceder às mulheres o sacerdócio: não é pura hipocrisia, quando não lhes passa nem pela antecâmera do cérebro que Deus possa ser declinado ao feminino? Querem gestão colegiada da Igreja: mas já Francisco ensinou que o compartilhamento só poderia se dar na caridade. Etc, etc.

A Igreja do papa polaco e do alemão concluiu o processo de aniquilação do Concílio Vaticano 2º, e esta liquidação infelizmente não representou jamais uma “guerra civil” no interior da instituição, mas apenas um torneio de esgrima entre prelados – ainda que sangrenta, como no caso da neutralização do cardeal Martini – mas sempre esgrima. Ao colocarem uma pedra sobre aquele Concílio, os dois últimos papas bloquearam um impetuoso movimento de renovação religiosa. Sobretudo, confundiram a Igreja com o Ocidente, o cristianismo com o capitalismo. Era justamente o que a Centesimus Annus prometia não voltar a fazer, uma vez acabada a histeria anti-soviética.

Não bastava, porém, proclamar a pobreza, para subordinar à cristandade as formas de vida do Ocidente capitalista. Era preciso praticar a pobreza, alimentá-la, como uma revolução. Diante das crises monetárias, de produção e sociais, os cristãos teriam desejado da Igreja uma definição nova e adequada de “caridade”, de “amor pelo próximo”, da “potência da pobreza”. Não a obtiveram. No entanto, muitos militantes cristãos refutam o declínio que o Vaticano e o Ocidente parecem percorrer juntos.

Alguns pensam agora que “a renúncia de Bento poderia finalmente tirar a Igreja do século 19”; outros ,que haverá uma reflexão profunda e o reconhecimento da necessidade de uma reforma. Mas, ao contrário, não terão razão aqueles para os quais estamos diante da “agonia de um império doente?”. E que o gesto de Bento não é outra coisa além de um álibi oportunista, uma tentativa extrema para fugir da crise? A única coisa de que estamos certos é que qualquer reforma doutrinária será inteiramente inútil se não for precedida, acompanhada e realizada por meio de uma reforma radical das formas de presença social da Igreja, de suas mulheres e homens. Se estes desistirem de associar a esperança celeste e a terrena. Se voltarem a falar da “ressurreição dos mortos”, ocupando-se dos corpos, do alimento, das paixões dos homens que vivem. Significa romper com a função que o Ocidente capitalista confiou à Igreja – pacificar, com esperanças vazias, o espírito de quem sofre; tornar culpada a alma que se rebela.

A descontinuidade produzida pela renúncia de Bento suscitará efeitos de renovação se a ela se associar a recusa a representar a “Igreja do Ocidente”. Talvez tenha chegado o momento de realizar o que havia proposto a Centesimus Annus há vinte anos, e reconhecer aos trabalhadores a condição de explorados, no Ocidente, pelo Ocidente. Mas se o Papa polonês de então não conseguiu, é dúbio que possa fazê-lo um aluno seu, de frágil carisma. A obra está confiada, portanto, aos cristãos. E a nós todos.

Fonte: Blog Outras Palavras. Tradução de Antonio Martins

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Jorge Messias - A Ordem dos «illuminati» (5)

Avante!**
N.º 1992 
2.Fevereiro.2012
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  • Jorge Messias


A Ordem dos «illuminati» (5)
«Nós temos nesta Terra o lugar de Deus Todo-Poderoso… o Papa não é somente o representante de Cristo mas é o próprio Jesus Cristosob um manto de carne»
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 Leão XIII, carta-encíclica de 1894).

«Em 1952 foi formada uma aliança que juntou, pela primeira vez na história, as Famílias Negras (nobreza europeia que historicamente pratica o Espiritismo e o Ocultismo), osIluminatti, o Vaticano e a Maçonaria. O objectivo era trabalharem em comum na instalação de uma Nova Ordem Mundial» (Milton William Cooper, escritor norte-americano in «Behold a Pale Horse»)
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«Acredito que o branco que vejo é preto se a hierarquia da Igreja o tiver declarado...» (Exercícios Espirituais, «Inácio de Loiola»).
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«Motivados pelo amor de Cristo, assumimos a obediência como um dom dado por Deus à Companhia por intermédio do seu Fundador... Ela une-nos à vontade salvífica de Deus e, simultaneamente, constitui o vínculo da nossa união em Cristo
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Deste modo, o voto de obediência converte a Companhia num instrumento mais eficaz de Cristo na Igreja, para auxílio das almas e maior glória de Deus» (Inácio de Loiola,«Constituições da Companhia de Jesus»).
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No sentido que tradicionalmente lhe é dado pelos manuais escolares, «iluminado» tem um significado eminentemente cultural e exprime o avanço que as classes «cultas» alcançaram sobre o despotismo político, sobretudo ao longo do século XVIII. Na actualidade, os conteúdos dessa mesma expressão são muito diferentes. Trata-se agora de um estrato ligado a um projecto secreto de mudança da sociedade, de sentido maximamente reaccionário. O «iluminatti» deverá corresponder, neste caso, a um misto de autómato jesuítico, de esbirro capitalista e de agente activo da tecnocracia neoliberal.
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Os modernos «illuminati» nasceram no seio da Igreja católica, no século XVIII, a partir de um grupo carismático presidido pelo padre jesuíta Adam Weishaupt, o qual adoptou para o novo movimento o nome de Antigos e Iluminados Profetas da Baviera, comunidade hoje conhecida como Ordem dos Iluminatti. Que objectivos eram esses que os motivaram e continuam a motivar?
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Pouco antes das grandes insurreições da Revolução Francesa, em 1789, registava-se em toda a Europa católica um forte descontentamento em relação à hierarquia da Igreja. Esta, como sempre, permanecia ferozmente conservadora, enquanto a sociedade laica evoluía a olhos vistos e se acumulava aceleradamente os novos conhecimentos científicos que mudavam a face do mundo. Os povos tomavam consciência da existência de «classes» desiguais perante o Estado e da urgência em serem formadas novas dinâmicas verdadeiramente laicas e mesmo opostas ao poder civil e eclesiástico. Em paralelo com a constituição dosIluminatti da Baviera, surgiram assim outros grupos semi-secretos tais como os Irmãos do Livre Espírito, os Rosacruzes, os Alumbrados, os Martinistas, o Palladium, os Filadélfios, etc. Não eram ainda partidos políticos, na actual acepção do termo. Representavam, sobretudo, «clubes de reflexão» com natureza de classe. Contestavam o poder absoluto e a hierarquia religiosa mas mantinham os cultos e, sobretudo, continuavam a abraçar os mitos. Por isso, a sua ligação permanente a forças ocultistas. Propunham também uma sociedade política fortemente hierarquizada, nos moldes das Constituições adoptadas pela Companhia de Jesus e dotada com um governo mundial único.
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O Vaticano reagiu violentamente. Em 1798, os iluminatti foram reprimidos e extintos. Na realidade, refugiaram-se na Maçonaria, nos quadros da qual continuaram o seu incessante processo de expansão. O Vaticano excomungara-os.
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A partir de João Paulo II, a atitude da Igreja em relação às sociedades secretas (Bula de 27/11/1983) mudou substancialmente. Independentemente do habitual «jogo às escondidas» dos desmentidos oficiais é inegável que o Vaticano passou a tolerar a participação de católicos em sociedades secretas. Paralelamente, a Maçonaria abriu de par em par as suas portas aos praticantes e sacerdotes católicos, ainda que desempenhando altos cargos como bispos e cardeais.
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Naturalmente que num panorama tão altamente complicado como é o actual, os ilustratti teriam de reaparecer em lugar de destaque. São eles que agora tecem e ligam os elos convergentes dos poderes imperiais da banca, das sociedades secretas, dos grupos fascistas com ou sem expressão legal e da Igreja.
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Continuaremos a tentar trazer os iluminatti para a luz do dia.

quinta-feira, janeiro 12, 2012

Jorge Messias ~ O Vaticano e a acumulação da riqueza (2)

Avante!
N.º 1989 
12.Janeiro.2012n

  • Jorge Messias


O Vaticano e a acumulação da riqueza (2)
«A Doutrina Social da Igreja sustentou sempre que a distribuição equitativa dos bens é prioritária. O lucro é legítimo na justa medida em que for necessário ao desenvolvimento económico. O Capitalismo não é o único modelo válido de organização económica» (João Paulo II, «Centesimus Annus»).



«Sou culpado por ter silenciado covardemente no tempo em que deveria ter falado. Sou culpado de hipocrisia e de infidelidade perante a força. Falhei na compaixão tendo negado os mais humildes dos nossos irmãos ...» (Dietrich Bonhoeffer, pastor luterano, depois enforcado com cordas de piano pelos nazis, 1945).



«Toda a História, desde a dissolução da antiquíssima posse comum do solo, tem sido uma história de lutas de classes; lutas entre classes exploradas e exploradoras, dominadas e dominantes, em diversos estádios de desenvolvimento social. Esta luta, porém, atingiu agora um nível em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) já não se pode libertar da classe exploradora e opressora (a burguesia) sem simultaneamente libertar para sempre toda a sociedade da exploração, da opressão e das próprias lutas de classes» (Friederich Engels, «Manifesto», 1833).

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 A «camisa de onze varas» em que o capitalismo se meteu é a mesma que imobiliza o Vaticano. O neocapitalismo gerou dinheiro mas destruiu o produto e desmantelou o aparelho social. A Igreja enriqueceu desmedidamente mas apagou a sua identidade, aquela que motivava o seu clero e unia o seu rebanho. Trocou valores como a fé ou o mito por metal bem sonante. Hoje, olha-se para ela e bem pode dizer-se: «o rei vai nu».
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Chovem as provas do seu apetite voraz.
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A rede de bancos e off-shores que o Vaticano domina, os escândalos que o enlameiam, as ligações que a solidariedade oculta, as contas públicas que se nega a prestar, o seu envolvimento em negócios escuros, etc., etc. O pouco que se sabe deixa calcular o muito que continua oculto.
A matéria daria para um tratado. Só de passagem, recordemos apenas casos falados recentemente: o novo escândalo do IOR – Instituto das Obras Religiosas com monumentais lavagens de dinheiro que a polícia italiana continua a investigar; os crimes de abuso sexual de menores detectados um pouco por toda a parte e que envolvem exclusivamente padres e seminaristas católicos; a descoberta que se fez de que a segunda maior editora alemã de livros pornográficos – a PORNO – afinal, pertence ao Vaticano; só em 2010, o negócio rendeu mais de 1,6 biliões de euros! As ligações de IPSS com os mercados. Etc., etc.
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Nada disto causa espanto no mundo dos monopólios capitalistas. Todos eles também guardam na gaveta crimes semelhantes ou mais tenebrosos. Porém, em relação à Igreja, a santidade representava o seu capital social. E este está definitivamente perdido.
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Portanto, no plano ideológico a Igreja vai-se apagando. O mesmo não acontece nas áreas política e financeira onde o Vaticano se encontra solidamente instalado e em ascensão. Combina expedientes e formas de pressão à sua vontade, sobretudo nos estados onde mantém concordatas. Mas de outros modos também.
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Menciona-se, a propósito destas técnicas de expansão, um dos trunfos ocultos do papado, citado como o Crown ou «Coroa do Vaticano». Trata-se de uma estrutura subterrânea constituída pelos representantes das doze mais ricas famílias do mundo – os Rotschild, Astor, Bundy, Collins, Du Pont, Freeman, Kennedy, Li, Onassis, Rockefeller, Russel e Van Duyn. Junte-se a este monumental bloco o secreto «Óbolo de S.Pedro», saco sem fundo que só o papa conhece e gere, e teremos uma vaga ideia do poder do Vaticano nas políticas mundiais e na distribuição desigual da riqueza. Outras 300 famílias multimilionárias mantêm-se na sombra do papa, sempre disponíveis para qualquer intervenção. É o corpo dos «iluminados» (os «illuminati») força à qual em breve nos voltaremos a referir.
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Não espanta, por isso, que o capitalismo actual se cruze constantemente com os interesses da Igreja. Todo o mundo bolsista e milionário; político e argentário; eclesiástico e especulador, está mobilizado para a destruição do Estado social e das estruturas democráticas e para a recolha de todo o dinheiro deixado sem dono pela acção governativa. Destruir as conquistas históricas dos cidadãos e amoldar os homens aos interesses do grande capital são os seus verdadeiros objectivos.
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Só os conseguirão alcançar se virarmos a cara à luta.

terça-feira, setembro 25, 2007

Aprender a negociar?


* Jorge Messias
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Só visto, que contado não tem graça. Maria José Nogueira Pinto - a «política de Deus», a «empresária dos pobres», a face da «caridade lucrativa» - apareceu nos jornais a declarar que «a Igreja tem de aprender a negociar». Sem corar de vergonha e sem que um músculo lhe tremesse na face. A mulher que em tempos lembrou aos patrões que «a Caridade dá lucro» veio agora a público dizer aos católicos: «Temos de ser agentes de Deus no reino de César». Introduziu o clima propício aos trabalhos da Semana Social da Pastoral em que participou; depois, voltou aos «negócios do senhor Júlio César», como diria Brecht.
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E não são pequenas as operações financeiras e políticas que a ex-provedora da Santa Casa conduz. Desde as lotarias e do Euromilhões aos poços sem fundo da Baixa Chiado ou ao meganegócio das novas creches que Sócrates teve a simpatia de entregar à Igreja, confirmando um pendor pessoal para a santidade; da gestão dos mil milhões de euros que o governo socialista vai pagar anualmente à Acção Social da Igreja, à exploração das infinitas possibilidades abertas pela manutenção em vigor da Concordata de 1940; da condução do nebuloso caso das ATL à escolha das estratégias das Misericórdias nos complexos negócios do Turismo, das energias alternativas, do ensino privado, dos media, dos aeroportos, da Saúde, da banca, das autarquias, da regionalização, do imobiliário, da imigração – em tudo a Igreja está metida e em tudo Maria José tem uma palavra decisiva a dizer.
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Ela é, na realidade, uma poderosa super-ministra.

Ir sempre mais além ...

Como lobby empresarial e político, nunca o poder da igreja foi tão esmagador como o é agora. Já não interessam a religião e a ética. O que move a Igreja é o lucro e a contínua expansão: ir mais além. A posição católica é sólida, em Portugal.
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De Nogueira Pinto, sabe-se o que ela foi, o que é e o que quer ser. Mário Soares, o «agnóstico republicano e socialista», íntimo da Comunidade de Santo Egídio (a diplomacia paralela do Vaticano), subiu à presidência da Comissão da Liberdade Religiosa, estrutura que tem tudo a ver com a Concordata e com as demais confissões religiosas. Outros socialistas ou independentes, sensíveis ao poder da Igreja, como António Guterres, Jaime Gama, Jorge Sampaio, Bagão Félix, Vieira da Silva e muitos outros políticos influentes, ocupam os grandes centros de decisão. O mesmo se passa com o numeroso núcleo do Opus Dei, ligado à banca, às bolsas, à administração pública, ao aparelho judicial, ao mundo hospitalar e do ensino, etc.
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A telenovela das grandes fusões de capitais vai permitindo que a ala financeira eclesiástica portuguesa e espanhola ganhem o tempo necessário à sólida estruturação do capitalismo ibérico. É o caso não só da tão badalada OPA frustrada sobre o BCP mas também daquilo que se passa com a entrada em cena, na área social, do grupo «La Caja», o accionista principal do BPI, Gás Natural, Repsol e Telefónica. «La Caja» resultou da fusão das principais Cajas de Ahorro (Caixas de Aforro) da Catalunha. Tem raiz católica e distribui pelas IPSS 25% dos seus astronómicos lucros anuais.
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Dispõe de 4 mil milhões de euros para gastar em Portugal. Pode, sozinha ou em parceria, comprar as áreas do ensino, da saúde, da segurança social, da habitação, etc.
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Ou seja, para dominar Portugal, a Igreja Católica nem precisa de se pôr muito em evidência. Pode, por exemplo, comprar Lisboa, por absurdo que isto possa parecer.
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Quando Nogueira Pinto fala (ou outros como ela) nunca fala por falar. Joga com valores. Marca posições atirando com as palavras como se fossem pedras. Mas encobre as pedras com dedos de veludo. Quer mais dinheiro e fala em caridade. Quer mais poder e apela à conciliação. Tem clara noção dos objectivos a atingir, conhece métodos precisos mas finge não saber negociar. É uma perfeita jesuíta. No plano político trata-se de uma mulher perigosa.
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Maria José teve uma nova ideia brilhante nas guerras do «combate à pobreza».
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Primeiro, as IPSS acordam entre si uma «carta de princípios» que as une nos mesmos propósitos. «Salvaguardando o núcleo duro dos valores distintivos da intervenção cristã, as instituições passam de uma postura reivindicativa a uma verdadeira capacidade negocial». Como? O Estado reconhece as IPSS como parceiras no «Combate à Pobreza». Depois, estabelecidos Igreja e Estado em pé de igualdade, o Poder decreta, pura e simplesmente, que a pobreza é ilegal, contrária aos Direitos do Homem e às condições de cidadania. Logo surgirão os financiamentos necessários para combater a pobreza na área social...
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Interessante proposta feita por um dos geradores de pobreza ao outro parceiro que detém o poder capitalista. Porque toda a gente sabe que é este governo que decreta o «aperto do cinto» aos mais pobres e abre caminho à brutal acumulação dos lucros dos mais ricos. Portanto, é gerador de pobreza e cúmplice da exploração. Quanto à Igreja Católica, deixemo-nos de meias palavras: os seus objectivos ocultos são o dinheiro dos lucros e a estratégia da ocupação do Poder.
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in Avante 2007.08.30
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Foto - Marcinkus, o Banqueiro de Deus, com o papa João Paulo II
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