A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sábado, março 12, 2016

Manuel Loff - Cavaco e o cavaquismo (I)

OPINIÃO



“Agora acabou mesmo”, terá dito. Assim o esperamos. Quando se completarem, dentro de mês e meio, 42 anos de democracia em Portugal, 21 - isto é, metade - terão sido vividos com Cavaco Silva em lugares de topo do Estado: ao mais longo ciclo de governos consecutivos do mesmo primeiro-ministro (1985-95) acrescentou-se outra década, correspondente aos dois mandatos presidenciais de 2006-16. Antes, Cavaco fora já o homem das Finanças de Sá Carneiro, no primeiro governo da AD (1980), nomeado para “ajustara economia ao ciclo político-eleitoral”, isto é, manipular a política económica para ganhar eleições, aquilo em que Cavaco se “revelaria exímio”, segundo Sousa Franco (“A economia”, in Portugal, 20 anos de democracia, 1993). E precisamente o contrário do que nos quis convencer todo este tempo: que nunca governou com os olhos nas sondagens ou nas eleições. Encher os seus discursos de tiradas moralistas que contradizem muito do que ele fez e foi é um dos seus traços de caráter.
Dir-me-ão que é coincidência, mas a verdade é que ele chegou à chefia do Governo seguindo o mesmo percurso de Salazar: começando pela pasta das Finanças. É a partir dela que se controla toda a Administração Pública, é para lá que convergem os interesses todos de quem, nas elites económicas, precisam da cumplicidade ou da tolerância do Estado. Estávamos em janeiro de 1980, Cavaco tinha 40 anos, um ano mais que Salazar quando este, em 1928, é convidado pelos militares para o Governo. A direita tinha ganho pela primeira vez as eleições, cinco anos depois do 25 de Abril. Quando, depois de Camarate, Balsemão substituiu Sá Carneiro, Cavaco abandonou o governo. Hoje é fácil perceber que aquele ano no poder lhe deixara ambições (outra coisa que ele negou sempre). Com o apoio de Eurico de Melo e Santana Lopes, conspirou dois anos seguidos contra Balsemão, levando à sua queda no verão de 1981, mas foi, uma vez mais, preterido ao vê-lo reconstituir governo logo a seguir.
O homem cujos panegiristas juram ser vítima do “preconceito social e cultural da esquerda e direita bem pensantes” (Paulo Rangel, PÚBLICO, 8.3.2016) partilhava a mesma geração com Sá Carneiro e com Balsemão (todos tinham entre 34 e 39 anos no 25 de Abril), mas, ao contrário deles, não podia dizer que havia tido alguma militância minimamente liberal contra a ditadura, ou sequer ter participado naquilo que ele próprio chamaria o combate contra “uma  ditadura marxista e coletivista” que, sempre segundo ele, se tentara impor em 1975. Uma espécie de virgindade politica que o ajudou a ser o primeiro à direita a reunir, mais do que Sá Carneiro ou Freitas do Amaral, um consenso generalizado entre aqueles que nunca se reviram no 25 de Abril e na democracia. Por algum motivo Kaúlza de Arriaga terá percebido nas eleições de 1987, as da primeira maioria absoluta de Cavaco, “o primeiro passo de salvação e recuperação nacionais” (Guerra e política. Em nome da verdade, 1988). Sendo certo que a direita adotara antes dele um primeiro projeto de reversão global do legado revolucionário em que se originou a nossa democracia, foi ele  política e historicamente, o campeão do revanchismo contra o 25 de Abril. Sá Carneiro tinha querido “Um governo, uma maioria, um Presidente”, mas fracassaria no seu confronto com Eanes (que, contudo, havia sido o seu candidato em 1976). Mais grave, tinha querido passar por cima de todas as regras e rever a Constituição por referendo, sem passar pelo Parlamento, mas seria já o seu sucessor, Balsemão, a chegar a acordo com o PS na primeira revisão constitucional, em 1982, para eliminar o Conselho da Revolução, que, último órgão de soberania diretamente herdeiro do 25 de Abril, e apesar de tomado pelos militares conservadores nomeados por Eanes, ainda era uma “força do bloqueio” daqueles projetos. Seria, contudo, só em 1989, já com Cavaco, que se eliminaria a maioria do programa económico (nacionalizações, setor empresarial público, Reforma Agrária, controlo operário) que a Constituição de 1976 prescrevia. Claro que ela fora aprovada pelo então PPD (incluído o então deputado constituinte Marcelo Rebelo de Sousa), mas, para Cavaco, ela não passava de um documento eivado de “coletivismo” redigido sob a “ameaça de totalitarismo de Estado [que se] instalou em Lisboa” (discursos de 1988 e 1990). Mais longe da origem da democracia portuguesa não se podia estar.
O homem que tanto fala de lealdade e de amplos consensos politicos rompeu o Bloco Central com o PS mal chegou à liderança do PSD, forçando novas eleições, que ganhou com a mais pequena das vitórias eleitorais (29,8% dos votos). Sabia que valia a pena arriscar um governo minoritário: mesmo que a direita não tivesse maioria parlamentar, a esquerda estava mais dividida que nunca pela irrupção do PRD e pela teimosia de Soares em querer ser candidato presidencial; acima de tudo, esmagada a força de trabalho por dois resgates do FMI (1978-79 e 1983-84), regressada a pobreza às ruas e às casas, mas ainda com a banca nacionalizada, o banco central e a política cambial nas mãos do Estado e uma maré de fundos europeus que começariam a fluir dois meses depois do seu regresso ao Governo, Cavaco sabia que disporia das condições que nenhum antecessor seu havia disposto.
Foi, desde o início, um teimoso da autovimização - o que Sócrates, vinte anos depois, tentaria imitar. O seu “deixem-nos trabalhar!” adaptava-se quer à curta fase (1985-87) de governo minoritário (orçamentos alterados na Assembleia, ...), quer aos oito anos de maiorias absolutas em que as suas queixas contra o Tribunal Constitucional e o de Contas, ou contra os vetos presidenciais, diziam bem de quanto ele é avesso à lógica mais básica da divisão de poderes de todo o constitucionalismo. O seu “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas” ocupa, neste sentido, o mesmo lugar simbólico do “Sei muito bem o que quero e para onde vou!” de Salazar. Cavaco, mais do que qualquer outro líder da direita portuguesa desde 1974, quis encarnar aquilo de que não prescinde nenhum projeto autoritário: umdecisionismo que não reconhece legitimidade a obstáculos legais, no seu caso, ainda por cima, envernizado de competência técnica (um catedrático à frente do Governo, exatamente como Salazar e Caetano).
O homem que garante que “para serem mais honestos do que eu tinham que nascer duas vezes” rodeou-se nesses dez anos de uma clique de oportunistas que teve no BPN a sua representação mais acabada. O seu governo não consolidou apenas um padrão de co-gestão do Estado pelos novos oligarcas. Ele inverteu em tudo quanto pôde do projeto emancipador do 25 de Abril e abriu o caminho que nos trouxe, via privatizações, financeirização e euro, até ao estado desgraçado em que estamos.
https://www.publico.pt/opiniao/noticia/cavaco-e-o-cavaquismo-i-1725915?page=-1

quarta-feira, novembro 25, 2015

Carlos Fonseca - Cavaco, o repugnante


QUARTA-FEIRA, 25 DE NOVEMBRO DE 2015


Cavaco, o repugnante

Sim, Cavaco o repugnante é assim que o PR em final de mandato, felizmente!, ficará para a História. Chamo-lhe repugnante da mesma forma que Miguel Sousa Tavares (MST) lhe chamou palhaço, Todavia, entre mim e o MST há uma diferença no que toca à colagem de epítetos ao Sr. Silva: jamais me penitenciarei da atitude.
Os motivos constam de longo e histórico processo. Acima de todos, prevalece o comportamento ultra-faccioso do primeiro magistrado do País. Jamais foi o meu presidente e o de milhões de portugueses. Sempre se isolou do povo, e os sorrisos artificiais e hipócritas confirmam-no, 
Abriga-se por norma no seio de uma elite restrita. A imagem do selectivo isolamento é a Quinta da Coelha e vizinhança amiga com quem partilha o espaço e o tempo no Algarve - o rubicundo Catroga e o ex-companheiro de trabalho do Banco de Portugal, Oliveira e Costa, são dois desses vizinhos.
Teve o primeiro acesso a um PR, Ramalho Eanes, pela mão do falecido Prof. Silva Lopes, então governador do Bando de Portugal. Filiou-se no PSD. Com o estafado argumento de que, na companhia da Dona Maria Aldegundes, apenas ía rodar um carro novo até à Figueira da Foz, voltou de lá eleito dirigente máximo do partido 'laranja'. Tudo calculado ao milímetro.
Invoco aspectos da vida pessoal, por serem indissociáveis da carreira política que influenciou a nossa. Um casal de classe média a viver ali às portas da Lapa, numa travessa dita do Possolo, não é rigorosamente a mesma coisa que ter casa na Lapa, de gente abastada e alguma até de origem aristocrata. 
A ambição desse casal melhorar o estilo de vida é natural. O que já é repugnante é chegar ao topo e, como PM e PR, ter erigido um feudo ao redor, extraindo benefícios excessivos e promovendo uma série de ministros e secretários de Estado dos seus governos a altos estatutos sociais e económicos. Ao ponto de muitos deles se tornarem emissores de fortes sinais exteriores de riqueza  -  Dias Loureiro, Mira Amaral, Ângelo Correia, Joaquim Ferreira do Amaral, Arlindo Carvalho e Faria de Oliveira, entre outros.
No uso dos fundos europeus, em que se registaram casos sob a alçada do poder judicial, desbaratou milhões e milhões na construção de auto-estradas e outros luxos não integráveis no sector dos 'bens transaccionáveis' que agora tanto defende - adversamente desmantelou e vendeu aos pedaços a CUF/Quimigal e associadas, algumas com as estruturas produtivas a deslocalizarem-se para Espanha. 
Como fanático seguidor da ideologia da Madame Thatcher, foi pioneiro na introdução em Portugal das Parcerias Público-Privadas: 'a Ponte de Vasco da Gama' e a primeira PPP no sector da saúde, o Hospital Amadora-Sintra concebido e construído com o Grupo José de Mello, têm a marca cavaquista.
É este PR, grosseiro e de frágil carácter, que, no recurso à baixeza que lhe é própria, interpelou por escrito António Costa com as seis questões reveladas ao público. Não o fez antes de indigitar o companheiro Pedro Passos Coelho para a formação do governo que, mais do que certo, tinha os dias contados. O maior estrondo nem foi a queda do governo. Soou das vozes histéricas de Luís Montenegro (PSD) e Nuno Magalhães (CDS). Que falta de classe e de maturidade política!
A terminar o ciclo da nomeação de António Costa para formar o XXI Governo Constitucional, a PR emite este comunicado, usando duas vezes, uma no título e outra no texto, o verbo indicar em vez do institucional indigitar
Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa dá até um exemplo de aplicação do verbo indigitar: O Presidente da República já indigitou o Primeiro Ministro. De resto, indigitação significa propor ou designar alguém para um cargo; indicação é mais aquilo que informa alguma coisa.
Não me convencem que a troca de verbo foi casual, convicto como estou tratar-se de mais um acto próprio de Cavaco, o repugnante.

http://solossemensaio.blogspot.pt/2015/11/cavaco-o-repugnante.html

terça-feira, julho 23, 2013

A realidade da realidade


Serena o ser

crónicas de ser e não ser num sereno ser


TERÇA-FEIRA, 23 DE JULHO DE 2013

A realidade da realidade

Os factos, como nos foram apresentados e noticiados:

- António José Seguro e Paulo Portas estiveram presentes numa reunião do Grupo Bilderberg;
- Vítor Gaspar demitiu-se porque achou que a sua política tinha falhado;
- os mercados assustaram-se, fizeram xixi nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- a última assinatura de Vítor Gaspar serviu para  permitir que 90% do dinheiro do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social sirva para pagar o serviço da dívida soberana;
- o ministro quasi-demissionário Pedro Mota Soares, também assinou;
- Paulo Portas demitiu-se porque não queria Maria Luís Albuquerque como Ministra de Estado e das Finanças, seria um acto dissimulado a sua continuação no governo, disse;
- os mercados tiveram medo, fizeram cocó nas calças e os juros subiram e a bolsa desceu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- Passos Coelho não aceitou a demissão de Portas e disse que não se demitia;
- os mercados esboçaram um sorriso e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinha razão;
- Portas disse que queria ser vice Primeiro-Ministro e que queria mais meninos e meninas do CDS a governar;
- Passos aceitou e deu um grande abraço ao Portas que estava carrancudo;
- os mercados limparam as lágrimas;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- o Cavaco propôs que PSD, CDS e PS dessem as mãos num grande acordo para salvar o país;
- os patrões acharam bem, e disseram que assim, se calhar, o governo ia ser um nadinha mais fofo;
- o Cavaco disse que se chegassem a acordo até dava um rebuçado e convocava eleições para Junho de 2014, depois de cumprido o memorando;
- PSD, CDS e PS começaram a conversar;
- os mercados esfregaram a barriga de contentes e os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- pelo meio o PCP quis conversar com a Esquerda e o BE quis conversar com o PS;
- a Esquerda começou a conversar e o PS disse que gostava mais de conversar com o PSD e o CDS;
- durante este tempo os mercados estavam meio baralhados do sistema e os juros e a bolsa andaram na montanha russa;
- "Os Verdes" apresentaram uma moção de censura no parlamento, o PSD e o CDS estavam muito nervosos e o PS estava parvo;
- a moção foi chumbada e o PSD e o CDS estavam mesmo tão nervosos e o PS tão parvo, que chegaram a tirar a máscara por alguns momentos e explanaram toda a sua dificuldade de vivência democrática;
- o PS disse que afinal não havia a mínima hipótese de chegar a acordo com o PSD e o CDS;
- os mercados ficaram com as pernas a tremelicar e os juros só não subiram e a bolsa não desceu porque estavam de fim de semana;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que o PSD, o CDS e o PS eram tontinhos e irresponsáveis porque não se entendiam;
- o Cavaco disse que então nada feito e que o PSD e o CDS afinal não eram assim tão maus e que podiam continuar a fazer as coisas que fazem lá nos gabinetes;
- o Cavaco disse que aquilo das eleições em Junho de 2014 era só para o PS ficar contente e disse para esquecermos lá isso;
- o Cavaco disse que de qualquer das formas ia estar muito atento se o PSD e o CDS voltassem a deixar comida no prato ou a fazer xixi fora do penico;
- os mercados estavam de fim de semana, mas apanharam uma grande bebedeira para comemorar, no dia seguinte os juros desceram e a bolsa subiu;
- José Gomes Ferreira disse que os mercados é que eram os maiores e tinham sempre razão;
- os patrões disseram que pronto, do mal o menos, ia haver estabilidade;
- o PS estava semi-triste, eles queriam eleições mas não queriam assinar o acordo; 
- no meio destas subidas e descidas todas dos juros e da bolsa, quem ficou muito contente foram os senhores do BES, da EDP, da PT, do Banif, da SONAE, da Jerónimo Martins e aquele senhor Américo, o das cortiças, parece que ganharam uns quantos milhões de euros enquanto a coisa ia e vinha; 
- no Grupo Bilderbeg abriram uma garrafa de champanhe e regaram os mercados com ela.

E agora, quem é que ganhou no meio disto tudo? Tirem as vossas conclusões e tratem de agir em conformidade.

P.S. - no fim disto tudo - um bocadinho contente porque os mercados são os maiores e têm sempre razão e tinham ganho outra vez, mas um bocadinho triste porque ainda ninguém tinha despedido 50 mil funcionários públicos - o José Gomes Ferreira ligou ao Camilo Lourenço e disse-lhe que ligasse aos mercados, aos tanques, à bolsa, aos canhões e ao António Borges, ainda não era desta que podíamos esquecer aquela coisa da Democracia. O Camilo disse-lhe que compreendia, mas que estavam confiante que mais cedo ou mais tarde os mercados papavam a Democracia, de vez.

 publicado por swashbuckler às 15:47

 http://serenaoser.blogs.sapo.pt/112357.html
publicado por swashbuckler às 15:47

quinta-feira, julho 18, 2013

Serafim Lobato - SALVAÇÃO NACIONAL NÃO EXISTE SEM ATINGIR OS INTERESSES DO CAPITAL FINANCEIRO

tabanca de Ganturé


erça-feira, 16 de julho de 2013

SALVAÇÃO NACIONAL NÃO EXISTE SEM ATINGIR OS INTERESSES DO CAPITAL FINANCEIRO

1 – Os últimos acontecimentos ocorridos em Portugal, com os pedidos de demissão do todo, aparentemente, poderoso ministro das Finanças Vítor Gaspar, tendo a indigitação da sua sucessão recaído numa personalidade vulgar, a  ser investigada judicialmente, chamada Maria Luís Albuquerque, com uma actividade ligada à especulação financeira, sem qualquer atitude de valor como profissional, seguida de uma rocambolesca demissão “irrevogável”, que deixou de ser, do presidente do CDS, Paulo Portas (por causa, exactamente, da nomeação da dita adjunta para o cargo), bengala da coligação que mantém com o PSD, que, de imediato, volta atrás, subindo na hierarquia do executivo e ficando, em teoria, a controlar a área financeira e económica governamental, apresentam uma interligação interna e externa, que para serem, completamente, compreendidos tem de se analisados com o desenvolvimento económico em Portugal, no geral desde o 25 de Novembro, mas, no particular, em toda a evolução económica do país, desde que Cavaco Silva iniciou a sua ascensão ao poder, como Primeiro-Ministro em 1985.

Quando a semi-revolução, que se seguiu ao golpe de Estado militar de 25 de Abril de 1974, adquiriu alguma pujança, fazendo crer que poderia levar o curso dos acontecimentos para um estádio avançado de revolucionamento social, no entanto, foi destroçada por um contra-golpe militar-politico em 25 de Novembro de 1975.

Todavia, o recuo imediato da acção política nessa época não deu lugar a uma destruição sem freio dos muitos projectos de cariz revolucionário que emergiram num espaço, muito curto, de poucos meses: nacionalizações do sistema bancário, redistribuição da posse da terra, particularmente na região centro e sul do país, relações contratuais de trabalho, entre outras.

Houve, realmente uma reacção a uma acção breve de ruptura, ainda que profunda, pois foi efectuada sobre a força revolucionária popular de meia dúzia de meses, conduzida contra o poder do Capital e contra o poder efectivo dos partidos burgueses que se afirmavam do socialismo e do comunismo.

Houve, portanto, uma derrota, mas o recuo foi efectuado, durante certo período, com uma burguesia no poder, mas ainda sem as alavancas económicas totais.


De tal modo que a Constituição da República Portuguesa de 2 de Abril de 1976, aprovada, portanto, depois do golpe novembrista, se intitulava como Socialista no seu regime e pretendia enquadrar um poder sem classes dominantes.

As lutas políticas interpartidárias, que se seguiram, e , particularmente, a acção concertada entre o PS, de Mário Soares e o PPP/PSD, de Sá Carneiro, teve um objectivo político e ideológico central, para formatar a inflexão económico capitalista, bem como a repressão, empenhada, quer dos soaristas, quer dos sá-carneiristas, especialmente, contra a Reforma Agrária,  de efectuar a transformação jurídico-legal-constitucional do poder de Estado.

E este caminho ainda demorou uns anos. O primeiro processo de revisão constitucional teve um “parto” demorado – entre Abril de 1981 e 30 de Setembro de 1983.

Com o recuo dos movimentos populares, os mais influentes políticos no seu seio, em escalas diferentes é certo, o PCP/APU/CDU, em primeiro lugar, depois o PC (R)/UDP (ambos com representações parlamentares), trouxeram, igualmente, uma inversão grande do seu papel parlamentar, pondo de lado, pelo “adormecimento” da concepção revolucionária de subversão estatal, enquanto os defensores “moderados” que apoiavam o socialismo da Constituição e a sociedade de classe, se transformaram em defensores abertos do capitalismo “democrático”, mudando os seus estatutos e as concepções políticas que antes enalteciam. 

O PS passou o “socialismo” para a gaveta com o inefável salta-pocinhas Mário Soares, e mais tarde, com Vítor Constâncio, então secretário-geral deu aos estatutos “marxistas-leninistas” do PS a nova visão de defesa intransigente do mercado, e Sá Carneio tornou-se no defensor máximo do capitalismo bolsista e especulativo.

(Seguiram-se outras revisões, que ajustaram o poder legista constitucional `a marcha dos acontecimentos capitalistas. Em 1989 teve lugar a 2.ª Revisão Constitucional que deu maior abertura ao sistema económico, nomeadamente pondo termo ao princípio da irreversibilidade das nacionalizações directamente efectuadas após o 11 de Março de 1975.

As revisões posteriores, em 1992 e 1997, vieram adaptar o texto constitucional aos princípios dos Tratados da União Europeia, Maastricht e Amesterdão, consagrando ainda outras alterações referentes, designadamente, à capacidade eleitoral de cidadãos estrangeiros, à possibilidade de criação de círculos uninominais, ao direito de iniciativa legislativa aos cidadãos, reforçando também os poderes legislativos exclusivos da Assembleia da República).

2 – Com a entrada formal de Portugal na Comissão Económica Europeu, a 1 de Janeiro de 1986, e o impulso capitalista rejuvenescido que se deu no Mundo com o ressurgimento de uma nova potência económica chamada União Europeia, com o mínimo de harmonia económico-política, a facção mais rapace e desbragada do capital financeiro que juntava banqueiros sedentos de lucros obtidos da maneira mais rápida e especulativa, a lumpen grande burguesia financeira especulativa juntou banqueiros, grandes capitalistas, grupos de advogados sem escrúpulos, políticos analfabetos e tidos como corruptos, como Almeida Santos, Galvão Teles, Rui Pena, Castro Caldas, José Miguel Júdice, Mota Amaral, Dias Loureiro, Valentim Loureiro, Fernando Nogueira, Oliveira Costa, Mira Amaral,  Arlindo de Carvalho, António Vitorino,  José Lamego, Mário Lino, entre outros, uma chusma de assessores e jornalistas chamados de economia, a hierarquia religiosa católica e os seus asseclas laicos, como Jardim Gonçalves, Teixeira Pinto, Vítor Melícias, Américo Amorim, Belmiro de Azevedo, entre outros, lançou-se ao assalto aos principais centros de poder económico, social, cultural e político.

É, precisamente, com a chegada de Cavaco Silva ao poder político, em 1985, que todas as classes dominantes burguesas se encavalitaram, como fossem uma só, na cravagem das garras na repartição dos lucros escandalosos e gananciosos das mais valias que davam entrada com os chamados dinheiros da CEE.

Com essa ascensão, desapareceu da cena política toda a aparência de um Estado Constitucional, inserto no texto de 1976. 
06278.01435


Os antigos partidos que se diziam revolucionários, PCP/CDU e PCP(R) – convém dizer que o MRPP e o PCP (m-l) foram apêndices do golpe novembrista – e o PS, que procurou dissimular a sua capitulação completa por detrás de um slogan estafado de um “socialismo democrático”, tornaram-se ser inúteis e os “socialistas” foram mesmo cúmplices declarados dessa lúmpen grande burguesia capitalista.

Os governos do PSD cavaquistas intitulavam-se, num auto-elogio degradante de subserviência, os “alunos” cumpridores dos ditames da política do grande capital financeiro, que avassalava já a União Europeia.

Entrando no governo, em 1985, com um apoio parlamentar minoritário, Cavaco Silva colocou em marcha uma política agressiva favorável ao Capital, levando para o Parlamento a arrogância de que pretendia “mudar” Portugal, atacando todos os princípios constitucionais ainda vigentes.  

A sua ascensão à Presidência do PSD foi preparada pela grande burguesia, cujo testa de ferro foi um depravado sexual empresário ignóbil nortenho, chamado Eurico de Melo, e que se veio instalar no poder em luta contra uma coligação PS/PSD, que estava a braços com a aplicação titubeante de uma política de austeridade, imposta, como agora pelo FMI/capital financeiro judeu de Wall Street, e que teve a cumplicidade descarada do então Presidente da República general Ramalho Eanes, também ele emaranhado por mil laços ao capital financeiro e comercial do Norte e à hierarquia da Igreja Católica, via Opus Dei.

Formando um partido (PRD- Partido Renovador Democrático) o falso impoluto Eanes deita abaixo, em Abril de 1987, o governo minoritário de Cavaco Silva, sabendo que toda a camarilha de banqueiros, generais e almirante, empresários da grande imprensa, rádio e televisão, estruturas dirigentes das policiais, e incluindo uma chusma de vendidos antigos militantes políticos pequenos burgueses, ditos revolucionários, reforçavam a ideia de que Cavaco Silva seria o agente transformador da sociedade. 

Deram-lhe as honrarias de homem providencial. 

Levaram os camponeses, destroçados por impostos,a incensá-lo, arregimentaram mesmo uma classe de assalariados, saídos recentemente das fileiras do campesinato, residentes, em amontoados bairros de lata nos subúrbios das grandes cidades.

Nas eleições de Julho de 1987, uma maioria dos portugueses atribui a primeira maioria absoluta a uma força política conservadora não coligada (com 50,2% dos votos para o PSD), que se havia de repetir nas eleições legislativas de 1991. 

Dessas vitórias resultaram, respectivamente, a constituição dos XI e XII Governos Constitucionais, cujo seu chefe colocou em marcha, com rapidez, a política do grande capital financeiro.

Os resquícios da semi-revolução de 1975 foram arrasados, humilhados, destroçados: introduziram-se impostos que beneficiavam à acumulação de Capital, como o IRS e o IRC. 

Privatizou-se, ao desbarato, as grande empresas públicas, revogaram-se as leis laborais e agrárias, deu-se de bandeja as grandes estações de televisão aos seus apaniguados privados. 

Foram lançadas obras faraónicas, como o Centro Cultural de Belém.

Embora se utilizasse uma parte dos dinheiros recebidos da CEE para modernizar estruturas rodoviárias e grandes parques industriais, tudo isto era controlado pela lumpem grande burguesia capitalista especulativa, que dominava os concursos, os preços, a distribuição de cargos públicos, a destruição da indústria, da agricultura e das pescas em detrimento da especulação bolsista, e acentuava, na realidade, uma penúria constante das Finanças do Estado, cujos ganhos e impostos não pagos pelo capital financeiro seguiam para off-shores e outros paraísos fiscais.

A administração do Estado era sugada, sem dó, nem piedade, por esses abutres financeiros, que pediam sempre mais, transformando a sua dívida privada em pública.  

(Entrega de toneladas de ouro do Banco de Portugal a uma empresa norte-americana que terminou na falência, uma operação conduzida por Cavaco Silva e o secretário de Estado Tavares Moreira).

Embora governasse num período de vacas gordas, colocando o Estado numa crescente e evidente da dívida pública ao fim de 10 anos de consulado cavaquista levou-o ao afastamento do poder: Cavaco deixa o governo, em 1995, numa altura que o desemprego começa a subir e se fazem sentir o desequilíbrio já acentuado dos orçamentos de Estados.

Mas o partido sucessor, o PS tornou-se um canino seguidor dessa mesma política. 

O rendimento dos trabalhadores começou a baixar ainda mais acentuadamente, os investimentos estrangeiros, que apostaram no apoio sem fundo do Estado e na mão de obra intensiva, começaram a abandonar o país.

Idênticas facções dominantes da burguesia europeia tomaram conta dos diferentes governos europeus e das suas instituições de poder económico, como o Banco Central Europeu, e político, como a Comissão Europeia e o Conselho Europeu, que unificava toda a estrutura financeira e dirigia a administração já formada supranacional sob os ditames da grande burguesia financeira capitalista financeira, centrada essencialmente na subserviência a Wall Street e à parceria conjunta vaticana e do lobby judeu internacional.

Toda a União Europeia, na sua formulação política e monetária, estava a transformar-se, tal como Portugal, numa descuidada e asfixianteentidade accionista supercapitalista, ligada a Washington e ao Papado Romano que explorava as riquezas construídas ao longo de cerca de 60 anos para dar ligar a um novo tipo de potência económica, que arrecadava cada vez mais lucros, que punham de lado quer o interesse europeu, que, essencialmente, a harmonização da sua indústria, do seu comércio, da sua agricultura, na sua pesca e navegação, desprezando a produção que deveria ter sido orientada para fortalecer os diferentes Estados mais débeis dessa União.

A grande burguesia financeira mundial colocava homens de mão, como Mário Draghi, um servidor desse polvo chamado Goldamn Sachs, a dirigir o BCE, fazendo alastrar a crise a todo o espaço europeu,  destroçando – ou pelo menos atrasando - a unificação política dos Estados, enlameando-os, pelo contrário e deliberadamente, no mundo da corrupção, do saque dos tesouros nacionais, no empobrecimento das classes assalariadas, nas fraudes mais descaradas.

Revertendo salários, impostos e pensões para favorecer o sistema financeiro com uma política de roubo descarado, de ladroagem doentia, chamada austeridade.

3 – Esta política, com nuances menos aberrantes, continuava a ser praticada pelos governos de Guterres, Durão Barroso, Santana Lopes e Sócrates, e no meio do descalabro governamental e financeiro crescente, um homem, que se considerava providencial, chamado Cavaco Silva, preparava, com a chusma de seus antigos ministros, transformados em banqueiros, unidos a velha estirpe bancária, que ia dos Espíritos Santos aos Mellos,  e escritórios de advogados, cujos sócios principais medraram no governo e no aparelho de Estado, desde Rui Pena a Castro Caldas, passando por André Gonçalves Pereira, Júdice e Proença de Carvalho, até José Luís Arnault, Aguiar Branco, para unificar, finalmente, e dar rédeas soltas, à fracção da grande burguesia que já dominava o poder de Estado.

Ascendeu ao poder em Junho de 2006, clamando contra “a década perdida em termos de ganhos de nível de vida”, que atribui, única e exclusivamente à governação do PS. Pedia “um caminho”. 

Com ele, subiu ao poder, preparando a sua estratégia de “pequeno Salazar”, rodeado de rufias seus apaniguados e ex-ministros, encravados na onda lamacenta do dinheiro sujo, que iria governar, sendo Chefe de Estado, garroteando a Constituição e impondo a sua vontade.

Sempre a vociferar, cinicamente, contra a austeridade do “aliado” PS do arco governativo.

Um acontecimento mundial acelerou um descontrolo total sobre a economia, fez aumentar o mal-estar geral das populações, incrementou um descontentamento larvar, com conflitos duros de rua e mesmo das instituições políticas quer na Europa, quer nos Estados Unidos, mas especialmente neste: a falência técnica oficial do grande sistema bancário norte-americano, que a administração norte-americana “esbateu” com uma aceleração forçada de dinheiro – dólar – pondo-o em circulação e remetendo-o para o salvamento do seu sistema financeiro: a crise financeira de 2008 nos EUA.

Propositada e por tabela, o lobby de Wall Street “exportou” essa crise financeira para a Europa, cujos principais bancos e companhias de seguros estavam dependentes do poder de Washington.

Os bancos europeus – e particularmente o sistema financeiro dos chamados países da União Europeia – caiaram na alçada da ameaça latente da finança. 

Portugal foi, justamente, dos mais atingidos. A banca portuguesa descapitalizou-se rapidamente, com os seus responsáveis a colocarem os seus activos em paraísos fiscais e a exigirem, como senhores reais do poder, aos seus executivos governamentais a que aumentassem os impostos, fizessem restrições drásticas nos salários e pensões para “salvar”, em primeiro, lugar as instituições de rapina financeira.

Foi justamente, no início da sua segunda passagem pela Presidência da República que Cavaco Silva, encavalitando-se no descontentamento popular, que mostrou a sua verdadeira face: na sua tomada de posse a 9 de Fevereiro de 2011, fez um violento discurso contra o governo, criticando-o pela má governação – evidente – e sugerindo que deveria ser derrubado.

Ele vai ser o porto seguro do novo governo, entretanto eleito, numa coligação PSD/CDS, cujo lema principal é a recapitalização bancária e o “corte” das gorduras das classes assalariadas e sectores da média burguesia para compensar todo o chamado endividamento do Estado ao sistema bancário.

Cavaco Silva tornou-se, deste modo, a cabeça do polvo que utilizou o défice do Estado como fonte constante de enriquecimento do capitalismo especulador.


Durante estes dois anos, o Chefe de Estado esteve sempre no lado mais radical da aplicação prática e sem qualquer recuo das medidas do Memorando de Entendimento, inclusive das medidas que os seus subordinados no governo ultrapassavam todas as metas do razoável. 

Quando se começa a desmoronar todo o sistema montado, se inicia a degradação humilhante desse executivo, Cavaco Silva não tem pejo em lançar mãos de propostas que ultrapassam a Constituição para a manutenção do “status quo”, sempre na defesa do sistema financeiro da chamada tróica. 

Um governo ou compromisso de "salvação do capital" tutelado ultrapassado tudo o que o sistema judirico-constituição defende, em nome da “salvação nacional”.

A classe dominante, essencialmente de Wall Street e do FMI, assim o exige.

4 – Convém seguir uma trama desta personalidade vulgar, intriguista e cobarde, que se apelida inimiga dos políticos, mas age, com presteza, em defesa do grande capital.

Com as ascensão, em 1985, de Cavaco Silva significou o fim da carreira do velhos sonhos republicanos de avental, ou de uma social-democracia capitalista, que embora já beliscados pela arrogância da AD, de Sá Carneiro ainda se mantinha nas instituições do Estado.

Cavaco foi o começo real da montagem e da caminhada do capital financeiro para o topo do poder de Estado.

Quando é nomeado Presidente do PSD não era nada, mas poderia tornar-se uma personalidade saliente, porque tinha a pretensão de representar os interesses convergentes de diversas classes e extractos de classe da burguesia.

A partir do seu primeiro governo de maioria absoluta tornou-se uma personalidade colectiva para todos os partidos que representavam o capital, desde o financeiro até ao agrário, passando pelo industrial, e ate da pequena burguesia que odiava os “devaneios burgueses” dos socialistas que abocanhavam tudo o que fosse interesse negocial em torno do aparelho de Estado.

A falsa imagem de ícone de Cavaco está a e irá, ainda mais, desvanecer-se quando o vamos ficar a conhecer ao longo dos anos, como informante policial, pequeno burguês agarrado ao dinheiro que faz negócios obscuros, através de homens de mão que foram seus ministros e que medraram em torno da sua figura e lhe dão umas migalhas, homem de pequenos rancores contra os seus pequenos barões, que depois de bolsos cheios, lhe cospem na cara, como Mira Amaral. E outros.

Estamos perante uma figura patética do pequeno burguês que pensava agigantar-se como político e dirigente de Estado, dando a mão ao grande capital, como o faz agora. 

Mas, presentemente, age também, com medo de ser preso, se houver uma mudança de regime, porque se enlameou (ele e a família) em negócios de vão de escada, para arrecadar mais uns cobres para o fim de vida.

5 – Tal como a União Europeia, e em particular Portugal, os governos de cada um do país, especialmente os da zona euro, estão completamente encarcerados pela fracção da grande burguesia financeira, e, esta submissão está ligada à sua míngua de capacidade consentida de financiamento.

Nestes dois últimos anos, de intervenção do FMI e do BCE na política interna de Portugal, mas igualmente de outros países, verificamos que essa míngua cresceu e o desequilíbrio entre as receitas e as despesas do Estado se aprofundaram, porque a distribuição de encargos recaiu sempre sobre os sector assalariados e pensionistas. 

Foram aplicados roubos sem nome, feitos pelo governo, em nome do interesse nacional, simplesmente para pagar os “empréstimos” e juros dos bancos privados, sacados a custo quase zero ao Banco Central Europeu, e “comprados” pelo Estado a juros exorbitantes. 

Os banqueiros estão a pedir sempre mais, a pilhar o dinheiro dos contribuintes em nome de novos “empréstimos”.

Não é possível inverter esta situação, sejam quais forem as cambalhotas, enquanto não se atingir os interesses rapinantes do capital financeiro e sem realizar legislação drástica que obrigue, a bem ou a mal, um redistribuição dos impostos sem os ir buscar ao lado do Capital – dentro e fora do país.



Sem esta capacidade de restabelecer o equilíbrio nas despesas e receitas do Estado, sem atingir o Capital financeiro, o caminho da sociedade será para procurar uma outra via para acabar com este estado de coisas. 

A bem ou a mal. 

 

sexta-feira, novembro 23, 2012

BPN - A maior burla de sempre em Portugal

Portuguese TimesEurico Mendes - EXPRESSAMENDES

A maior burla de sempre em Portugal

Parece anedota, mas é autêntico: dia 11 de abril do ano corrente, um homem 
armado assaltou a dependência do Banco Português de Negócios, ou 
simplesmente BPN, na Portela de Sintra, arredores de Lisboa e levou 22 mil euros. 
Trata-se de um assalto histórico: foi a primeira vez que o BPN foi assaltado por 
alguém que não fazia parte da administração do banco.

O BPN tem feito correr rios de tinta e ainda mais rios de dinheiro dos 
contribuintes.

Foi a maior burla de sempre em Portugal, qualquer coisa como  
9.710.539.940,09 euros.

Com esses nove biliões e setecentos e dez milhões de euros, li algures, 
podiam-se comprar 48 aviões Airbus A380 (o maior avião comercial do mundo), 16 
plantéis de futebol iguais ao do Real Madrid, construir 7 TGV de Lisboa a 
Gaia, 5 pontes sobre o Tejo ou distribuir 971 euros por cada um dos 10 milhões 
de portugueses residentes no território nacional (os 5 milhões que vivem no 
estrangeiro não seriam contemplados).

João Marcelino, diretor do Diário de Notícias, de Lisboa, considera que “é 
o maior escândalo financeiro da história de Portugal. Nunca antes houve um 
roubo desta dimensão, “tapado” por uma nacionalização que já custou 2.400 
milhões de euros delapidados algures entre gestores de fortunas privadas em 
Gibraltar, empresas do Brasil, offshores de Porto Rico, um oportuno banco de 
Cabo Verde e a voracidade de uma parte da classe política portuguesa que se 
aproveitou desta vergonha criada por figuras importantes daquilo que foi o 
cavaquismo na sua fase executiva”.

O diretor do DN conclui afirmando que este escândalo “é o exemplo máximo da 
promiscuidade dos decisores políticos e económicos portugueses nos últimos 
20 anos e o emblema maior deste terceiro auxílio financeiro internacional em 
35 anos de democracia. Justifica plenamente a pergunta que muitos 
portugueses fazem: se isto é assim à vista de todos, o que não irá por aí?”

O BPN foi criado em 1993  com a fusão das sociedades financeiras Soserfin e 
Norcrédito e era pertença da Sociedade Lusa de Negócios (SLN), que 
compreendia um universo de empresas transparentes e respeitando todos os requisitos 
legais, e mais de 90 nebulosas sociedades offshores sediadas em distantes 
paraísos fiscais como o BPN Cayman, que possibilitava fuga aos impostos e 
negociatas.

O BPN tornou-se conhecido como banco do PSD, proporcionando tachos para 
ex-ministros e secretários de Estado sociais democratas. O homem forte do banco 
era José de Oliveira e Costa, que Cavaco Silva foi buscar em 1985 ao Banco 
de Portugal para ser secretário de Estado dos Assuntos Fiscais e assumiu a 
presidência do BPN em 1998, depois de uma passagem pelo Banco Europeu de 
Investimentos e pelo Finibanco.

O braço direito de Oliveira e Costa era Manuel Dias Loureiro, ministro dos 
Assuntos Parlamentares e Administração Interna nos dois últimos governos de 
Cavaco Silva e que deve ser mesmo bom (até para fazer falcatruas é preciso 
talento), entrou na politica em 1992 com quarenta contos e agora tem mais de 
400 milhões de euros.

Vêm depois os nomes de Daniel Sanches, outro ex-ministro da Administração 
Interna (no tempo de Santana Lopes) e que foi para o BPN pela mão de Dias 
Loureiro; de Rui Machete, presidente do Congresso do PSD  e dos ex-ministros 
Amílcar Theias e Arlindo Carvalho.

Apesar desta constelação de bem pagos gestores, o BPN faliu. Em 2008, 
quando as coisas já cheiravam a esturro, Oliveira e Costa deixou a presidência 
alegando motivos de saúde, foi substituido por Miguel Cadilhe, ministro das 
Finanças do XI Governo de Cavaco Silva e que denunciou os crimes financeiros 
cometidos pelas gestões anteriores. 

O resto da história é mais ou menos conhecido e terminou com o colapso do 
BPN, sua posterior nacionalização e descoberta de um prejuízo de 1,8 mil 
milhões de euros, que os contribuintes tiveram que suportar. 

Que aconteceu ao dinheiro do BPN? Foi aplicado em bons e em maus negócios, 
multiplicou-se em muitas operações “suspeitas” que geraram lucros e que 
Oliveira e Costa dividiu generosamente pelos seus homens de confiança em 
prémios, ordenados, comissões e empréstimos bancários. 

Ainda não se sabe o que levou o governo PS de José Sócrates a salvar um 
banco que era uma coutada do rival PSD. Não seria o primeiro nem o último banco 
a falir, mas Sócrates decidiu intervir e o BPN passou a fazer parte da 
Caixa Geral de Depósitos, um banco estatal liderado por Faria de Oliveira, outro 
ex-ministro de Cavaco e membro da comissão de honra da sua recandidatura 
presidencial, lado a lado com Norberto Rosa, ex-secretário de estado de Cavaco 
e também hoje na CGD.

Outro social-democrata com ligações ao banco é Duarte Lima, ex-líder 
parlamentar do PSD, que está a ser investigado pela polícia brasileira pelo 
assassinato de Rosalina Ribeiro, companheira e herdeira do milionário Tomé Feteira 
e que, em 2001, comprou a EMKA, uma das offshores do banco por três milhões 
de euros, tornando-se também acionista do BPN.

Em 31 de julho, o ministério das Finanças anunciou a venda do BPN, por 40 
milhões de euros, ao BIC, banco angolano de Isabel dos Santos, filha do 
presidente José Eduardo dos Santos e de Américo Amorim, que tinha sido o primeiro 
grande acionista do BPN.

O BIC é dirigido por Mira Amaral, que foi ministro nos três governos 
liderados por Cavaco Silva e é o mais famoso pensionista de Portugal devido à 
reforma de 18.156 euros por mês que recebe desde 2004, aos 56 anos, apenas por 
18 meses como administrador da CGD.

O Estado português queria inicialmente 180 milhões de euros pelo BPN, mas o 
BIC acaba por pagar 40 milhões (menos que a cláusula de rescisão de 
qualquer craque da bola)  e os contribuintes portugueses vão meter ainda mais 550 
milhões de euros no banco, além dos 2,4 mil milhões que já lá foram 
enterrados. O governo suportará também os encargos dos despedimentos de mais de 
metade dos atuais 1.580 trabalhadores (20 milhões de euros).

As relações de Cavaco com antigos dirigentes do BPN foram muito criticadas 
pelos seus oponentes durante a campanha das eleições presidenciais de 
janeiro último.  Cavaco Silva defendeu-se dizendo que apenas tinha sido 
primeiro-ministro de um governo de que faziam parte alguns dos trafulhas. Mas os 
responsáveis pela maior fraude de sempre em Portugal não foram apenas 
colaboradores políticos do presidente, tiveram também negócios com ele. 
Cavaco também beneficiou da especulativa e usurária burla que levou o BPN à 
falência. Em 2001, ele e a filha compraram (a um euro por ação, preço feito 
por Oliveira e Costa) 255.018 ações da SLN, o grupo detentor do BPN e, em 
2003, venderam as ações com um lucro de 140%, mais de 350 mil euros.
Por outro lado, Cavaco Silva possui uma casa de férias na Aldeia da Coelha, 
Albufeira, onde é vizinho de Oliveira e Costa e alguns dos administradores 
que afundaram o BPN. O valor patrimonial da vivenda é de apenas 199. 469,69 
euros e resultou de uma permuta efetuada em 1999 com uma empresa de 
construção civil de Fernando Fantasia, acionista do BPN e também seu vizinho no 
aldeamento.

Para alguns portugueses são muitas coincidências e alguns mais divertidos 
consideram que Oliveira e Costa deve ser mesmo bom economista: num ano fez as 
ações de Cavaco e da filha quase triplicarem de valor e, como tal, poderá 
ser  o ministro das Finanças certo para salvar Portugal na atual crise 
económica. Quem sabe, talvez Oliveira e Costa ainda venha a ser condecorado em vez 
de ir parar à prisão.

O julgamento do caso BPN já começou, mas os jornais nem sequer têm falado 
nisso. Há 15 arguidos, acusados dos crimes de burla qualificada, falsificação 
de documentos e fraude fiscal, mas nem sequer se sentam no banco dos réus. 
Os acusados pediram dispensa de estarem presentes em tribunal e o Ministério 
Público deferiu os pedidos. Se tivessem roubado 900 euros, o mais certo era 
estarem atrás das grades, deram descaminho a nove biliões e é um problema 
político.

Nos EUA, Bernard Madoff, autor de uma fraude de 65 biliões de dólares, já 
está a cumprir 150 anos de prisão, mas os 15 responsáveis pela falência do 
BPN estão a ser julgados por juizes amigos, vão apanhar talvez pena suspensa e 
ficam com o produto do roubo, já que puseram todos os bens em nome dos 
filhos e netos ou pertencentes a empresas sediadas em paraísos fiscais.
Oliveira e Costa colocou as suas propriedades e contas bancárias em nome da 
mulher, de quem se divorciou entretanto após 42 anos de casamento. Se 
estivessemos nos EUA, provavelmente a senhora teria de devolver o dinheiro que o 
marido ganhou em operações ilegais, mas no Portugal dos brandos costumes 
talvez não aconteça.

Dias Loureiro também não tem bens em seu nome. Tem uma fortuna de 400 
milhões de euros e o valor máximo das suas contas bancárias são apenas cinco mil 
euros.

Não há dúvida que os protagonistas da fraude do BPN tinham-na fisgada, 
preveniram eventuais consequências e seguiram a regra de Brecht: “Melhor do que 
roubar um banco é fundar um”.

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