A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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domingo, fevereiro 20, 2011

As mortes que ninguém quis ver

Domingo, 20 de Fevereiro de 2011 - 18:40

Vasco Neves
Augusta Martinho mudou-se para a rinchoa depois de 40 anos em África

Histórias

As mortes que ninguém quis ver

Sucedem-se os casos de idosos encontrados mortos em casa. A solidão também pode matar
  • 0h00 2011.02.20
Por:José Carlos Marques e Marta Martins Silva


Reza a vizinhança que a luz da cozinha de Augusta Martinho resistiu acesa um ano. Durante esse ano a mesma vizinhança interrogou-se sobre o paradeiro da mulher "de poucas falas que não dispensava o batom vermelho garrido e o lápis preto nos olhos". 
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Mas um dia a luz apagou-se e a maioria foi apagando também da vida de todos os dias as interrogações sobre Augusta, afinal ainda ali tão perto de todos os moradores. Passou um ano, depois outro e outro e outro. Nos quase nove anos em que o corpo da idosa permaneceu sem vida no chão da cozinha do 4º andar direito no número 16 da praceta das Amoreiras, na Rinchoa, onde uma janela semiaberta deixava o ar entrar, muito mudou no edifício. Vizinhos foram, mudaram de poiso, outros vieram, sem suspeitar. 
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Nasceram crianças, muitos fizeram-se adultos, tantos outros envelheceram. Até as caixas de correio, antes na parede lateral, mudaram para as traseiras da porta de entrada depois de umas obras que não fizeram grande mossa, só barulho. Toda a gente apagou Augusta da memória depois da luz da cozinha se apagar, mas uma pessoa manteve firme uma convicção: Aida Martins sempre soube que a vizinha do 4º direito só poderia estar em casa – na casa de onde, desde que o companheiro morreu, só saía para abastecer a despensa de mercearias. 
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Atrás da história de Augusta, nascida a 12 de Fevereiro de 1915, veio a história de Ernesto. E a de José Jerónimo, a de Salomão, a de Januário. E a de tantos outros espalhados pelo País. Idosos que não se conheceram em vida mas partilharam uma morte igualmente só e silenciosa. Nomes que se tornaram retratos de um País envelhecido e sem laços. 
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A VIDA DE AUGUSTA
Na altura do desaparecimento de Augusta, Aida Martins administrava o condomínio. Trocava com a vizinha meia dúzia de palavras que não desvendavam estados de espírito ou qualquer saudade do passado. "Nunca me contou nada da vida dela. Só a vi aflita uma vez: o companheiro tinha caído na banheira e veio a correr chamar-me para a ajudar a tirá-lo de lá". Augusta nunca casou de papel passado. Também não teve filhos. Tinha seis irmãos, que deixou de ver quando abalou para Angola, onde esteve 40 anos.
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"Era muito cumpridora e pagava sempre as quotas do condomínio a tempo e horas. Foi por isso que estranhei quando ela deixou de aparecer. Na altura disseram que ela estava no Algarve mas comecei a achar que era tempo a mais – ela que nem de casa saía – e comecei a minha luta", recorda Aida. 
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Durante anos, esta vizinha subia três andares de elevador, encostava-se à porta, tocava à campainha e cheirava. "Fartei-me de cheirar aquela porta para se ver notava alguma coisa de estranho. Mas nada: a entrada mantinha-se limpinha". A primeira tentativa que fez foi na GNR. "Fui lá e disse: ‘Estou preocupada, uma senhora do meu prédio não aparece e acho que pode estar doente’. E eles perguntavam: ‘Mas é sua familiar?’" Como não era, voltava sempre sem respostas das investidas que fazia. 
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E foram várias: ao tribunal, ao registo predial – a todos os sítios de que se lembrou. "Mas como eu não era família e o prédio não cheirava mal não fizeram nada. Foi aí que resolvi pegar na lista telefónica e ligar para todas as pessoas em Portugal que tivessem o apelido Martinho, como a Augusta, à procura de alguém que me ajudasse". Só quando o apartamento da idosa foi leiloado nas Finanças (por 30 mil euros) e a nova proprietária, uma mulher de nacionalidade ucraniana, se quis inteirar da casa é que descobriram finalmente Augusta. Deitada no chão da cozinha onde estava desde o Agosto quente de 2002.
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"Um dos bombeiros que lá foi é daqueles que vai a todas, que dá o corpo às balas. Até ele ficou chocado com o facto do corpo estar ali há tantos anos", partilha o comandante Luís Pimentel, dos Bombeiros Voluntários de Agualva-Cacém – a corporação que foi chamada pela PSP para abrir a porta. Com décadas de experiência no ofício, a situação que mais marcou o comandante passou-se em Lisboa. "Um senhor, que estava embarcado, estranhou que a mulher não tivesse ligado durante a sua ausência e não conseguiu entrar em casa porque a porta estava trancada por dentro. Quando lá entrámos o cenário era de horror: a senhora estava a ser comida pelos 30 gatos que tinham. Tivemos de chamar uma equipa do Jardim Zoológico para ajudar com a situação". 
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HISTÓRICO DE SOLIDÃO
Augusta não terá cultivado grandes relações nem dentro nem fora da família. "Como ela morou em África mais de 40 anos, a maioria perdeu o contacto com ela. Veio de lá com o companheiro e raramente saía de casa", recorda o primo Armando Gaspar. "Tenho ideia de que ela foi regente escolar, que era uma espécie de professora primária mas sem habilitações. Tanto que depois foi auxiliar de educação", acrescenta Fernanda Borges, vizinha de prédio, que manteve um contacto mais constante com Augusta na altura em que o marido era o administrador do condomínio. "Às oito da manhã lá estava ela a pagar-nos, tão pontual como um relógio. E lembro-me de que certa vez teve uma infiltração de água e disse: ‘Se o seu marido não resolve deixo de pagar’". Pouco mais lhe ouviu.
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Na Amadora, a poucos quilómetros de Augusta, Ernesto Fernandes Henriques, ex-PSP, também vivia sozinho e pouco falava. O saco com as compras da semana era passado pelo proprietário de uma mercearia do prédio onde morava na Mina, através de uma janela. Foi ele que estranhou a ausência e chamou a polícia. Nas duas associações onde o idoso estava inscrito, foram as notícias a desvendar o desaparecimento. 
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"Muitos idosos que vêm aqui não partilham nada da sua vida. Não dizem se andam bem, se andam mal", explica o secretário da associação de reformados onde Ernesto Henriques estava inscrito há dois anos. "O problema foi ele não ser muito assíduo. De vez em quando aparecia mas nem se interessava muito pelos filmes que nós temos aqui para eles estarem entretidos. Jogava às cartas, mas raramente abria a boca. Nunca lhe conhecemos família nem amigos". Diz-se que "ficou assim" depois de ter perdido a mulher. 
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"Acabou por fechar-se ainda mais. Apegou-se a viver sozinho e gostava de beber um copito. Bebia sozinho e sozinho ia". Henrique Monteiro, da mesma associação, revela que quando leu o nome de Ernesto nos jornais associou logo ao antigo polícia e foi confirmar aos registos. "Ainda temos o número de sócio: 564, apesar de ele não pagar as quotas desde Dezembro. Temos pena, mas não conseguimos adivinhar, ele não quis participar aquilo que estava a sofrer". 
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Já à União de Reformados, Pensionistas e Idosos da Amadora, Ernesto "vinha alimentar-se. Comer o almoço e o lanche. Mas não era regular, podia estar quatro, cinco dias sem aparecer nem dizer nada. Não sabíamos nada da vida dele, sentava-se quase sempre sozinho". Por isso ninguém estranhou a ausência de dez dias. Nem ninguém sequer suspeitou que o corpo de Ernesto jazia na casa onde morava sozinho. 
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VIZINHOS PAGAM FUNERAL
Salomão Oliveira teve fado igual na vida (pelo menos na velhice) e na morte. "Parecia ter um problema de solidão, quase uma revolta com a vida", conta o dono do café onde ia o idoso que esteve oito dias em casa morto sem ninguém saber. Sabe-se que trabalhou numa fábrica na Senhora da Hora, em Matosinhos, antes de imigrar para França, de onde regressou para cuidar da mãe. "Ele era muito autoritário e frio, mas com a mãe era um anjo. Esteve ao lado dela até a senhora morrer", conta Maria Pereira, vizinha de porta, que ajudou "com dez euros para pagar o enterro". Porque, "se cada um der o que tem pode ser que a gente consiga. Ele não se dava com ninguém em vida mas merece ter paz na morte".
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A história de José Jesus Jerónimo repete os mesmos hábitos de eremita. Em Balsas, aldeia do concelho de Cantanhede, vizinhos e familiares já se tinham habituado às suas longas ausências. Com problemas de alcoolismo, ficava fechado em casa semanas a fio. "Uma das últimas vezes assustei-me e chamei a GNR para ir ver dele. Apareceu à porta, de boa saúde, e até me chamou parvo por ter chamado as autoridades. Desde aí, não voltei a procurá-lo quando ele ‘hibernava’", conta o primo, também chamado José Jerónimo.
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Antigo sargento do Exército, José era uma pessoa difícil. "Não dava confiança a ninguém", conta o primo. Casado e com um filho, vivia afastado dos seus, que nunca saíram de Lisboa. Em meados de Novembro, o homem de 72 anos enfiou-se dentro de casa e nunca mais foi visto. Na semana passada, o cheiro pútrido alertou os vizinhos – bombeiros e GNR deram com um corpo em decomposição, parcialmente comido pelo cão que era a única companhia que José tolerava. A mulher e o filho continuam sem dar notícias e o corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal da Figueira da Foz, que vai tratar do funeral. José está sozinho na morte, como escolheu estar em vida. 
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BOMBEIROS PRONTOS A AJUDAR
"Connosco, não há porta que fique por abrir". O comandante dos Sapadores de Lisboa explica a forma como a corporação lida com os alertas que lhe chegam. O coronel Joaquim Leitão conta que são raros os casos em que encontram cadáveres fechados em casa, e mesmo esses são detectados ao fim de poucos dias. 
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Sempre que os bombeiros se deparam com alguém em isolamento, são activadas as equipas do Núcleo de Intervenção Social e Apoio ao Cidadão. "Identificamos as pessoas e avisamos a Segurança Social ou a Misericórdia. Mantemos o contacto com os idosos e já conseguimos convencer alguns a procurar ajuda ou a ir para um lar".

NOTAS
SOLIDÃO
Dados da Segurança Social dizem que há 630 mil pessoas a viver sozinhas – 390 mil têm mais de 65 anos.
SEM APOIO
25 a 27 mil pessoas idosas vivem sem qualquer tipo de apoio – nem familiar nem institucional.
AUMENTO
Até 2050, o número de pessoas com mais de 65 anos na UE vai crescer 70% e com mais de 80 anos aumenta 170 por cento.
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sexta-feira, dezembro 10, 2010

Lares para idosos com dignidade ou deposito de estorvos?

Idosos: Segurança Social tem vindo a encerrar 70 por ano
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Lares ilegais movimentam 31 milhões

Manuel Salvado
Alguns dos utentes ficaram no Centro de Apoio de Setúbal e outros com familiares

 

Proliferam casas clandestinas que acolhem idosos, bem como empresas ilegais de serviços ao domicílio
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  • 09 Dezembro 2010 - Correio da Manhã
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Por:Bernardo Esteves/L.M./T.L./J.T.


O lar de idosos ilegal da Charneca de Caparica, onde morreram anteontem quatro idosos, é apenas o exemplo de um negócio clandestino que movimenta por ano 31 milhões de euros, livres de impostos. A estimativa é da Associação de Apoio Domiciliário, Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI). Segundo esta entidade, os preços praticados pelas casas ilegais correspondem a 75 por cento do valor praticado pelos lares licenciados. A associação exige punições severas para os prevaricadores.
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O presidente do Instituto de Segurança Social, Edmundo Martinho, afirma que o número de lares clandestinos encerrados tem sido de cerca de 70 por ano. Mas o responsável da Segurança Social também admite que as casas clandestinas detectadas e encerradas são apenas a ponta do icebergue de uma realidade escondida.
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"Não sabemos que existem grande parte destes lares ilegais porque funcionam em casas particulares sem qualquer tipo de indicação. Se não forem as pessoas a fazer denúncias é muito difícil localizá-los", disse ao CM o responsável, que defende a imposição de "punições exemplares para quem explora de forma indigna as famílias".
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Para os proprietários de lares licenciados, a concorrência desleal dos clandestinos é preocupante.
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"Sabemos que há cada vez mais situações de lares ilegais na zona de Tomar, Santarém e também no Algarve. São casas pequenas, de particulares, que alojam apenas três ou quatro pessoas", denuncia José Fontainhas, de 69 anos, proprietário de um lar de idosos em Linda-a-Velha, Oeiras.
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A crise económica tem feito também surgir outras situações, como serviços de apoio ao domicílio com pessoal sem preparação ou formação para a tarefa e sem que haja um controlo por parte das entidades estatais.
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"Muitas vezes as pessoas optam por essas empresas de serviços ao domicílio com pessoas sem preparação, que encharcam os idosos em medicamentos", afirma José Fontainhas. Os últimos dados oficiais, relativos a 2006, apontavam para a existência de 1562 lares legais, que albergavam 61 mil utentes. Destes, apenas 394 pertenciam a entidades lucrativas. A maioria é gerida por Misericórdias e instituições de solidariedade social. 
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AUTÓPSIAS NÃO ENCONTRAM INDÍCIOS DE CRIME NAS MORTES
As autópsias realizadas ontem aos quatro idosos não encontraram indícios de crime. Os idosos terão morrido de paragem cardíaca, mas por razões naturais. Serão agora realizados exames toxicológicos para apurar se há qualquer substância que poderá ter provocado a falência dos órgãos, mas esses resultados vão demorar entre uma a duas semanas.
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Em conversa com o nosso jornal, a proprietária do lar admitiu nunca ter pedido alvará. "Mas tinha o que falta à maior parte dos lares, um ambiente familiar. Tratava-os a todos como família. Só não tenho o dom de lhes dar a vida. Já estavam mesmo muito velhinhos. Estavam aqui para morrer", garante Maria de Fátima Machado, de 70 anos. "Fecharam o lar, mas não olharam para a limpeza, o carinho e o amor que os velhotes aqui tinham". 
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Para manter tudo a funcionar, a proprietária tinha cinco empregadas a quem pagava 500 euros por mês e garante que o objectivo do lar não era ter lucro: "Faça as contas e veja que dinheiro é que eu lucrava. Vivo da reforma. O que faço é por gostar de ajudar quem precisa. Quem aqui estava, não tinha posses para pagar 1500 euros por mês e a Segurança Social não arranjou solução. Eu era a solução para estes velhinhos e para as famílias. Às vezes não tinham dinheiro para pagar e não foi por isso que foram postos na rua ou que os cuidados de higiene e a comida faltaram", explica Maria de Fátima, que vai entregar a vivenda arrendada (paga 1200 euros mensais) ao senhorio. "Devo ser autuada para pagar uma multa, mas vou pedir o perdão porque não devo ter dinheiro para a pagar".
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Viúva há oito anos, a dona do lar diz que lamenta tudo o que aconteceu. "Tirarem-me o lar é tirarem-me a vida", confessa.
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"FOI UMA TRISTE COINCIDÊNCIA. SEMPRE GOSTEI DAQUELE LAR"
"Tudo não passou de uma triste coincidência. Aquelas pessoas estavam lá prestes a morrer, entre os quais o meu pai". Ana de Jesus, filha de António Nabo, de 97 anos, uma das vítimas mortais, manifestou ao CM toda a sua admiração. "Eu já estava à espera da morte dele, pois estava muito mal. O facto de ter morrido na mesma noite que as outras não me surpreende, pois também se esperava a morte de duas delas", disse. Ana de Jesus diz mesmo não ter nada a apontar às pessoas do lar. "O meu pai quando foi para lá estava contente. Eu só soube depois que o lar estava ilegal, mas como o meu pai sempre foi bem tratado, comia bem, andava limpo, não me preocupei. Disse-me mesmo para não o tirar de lá". 
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Ao fim e ao cabo
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Vergonha nacional

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Apesar dos esforços das misericórdias e de outras instituições de solidariedade social, a oferta de lares para idosos é escassa para a procura. Crescem os lares ilegais. Espertalhões com poucos escrúpulos cobram fortunas. O negócio é rentável – e, desgraçadamente, desenvolve-se com a complacência de quem tem o dever de fiscalizar.
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  • 09 Dezembro 2010 - Correio da Manhã
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Por:Manuel Catarino, Jornalista


Na terça-feira, quatro idosos morreram no mesmo dia num lar selvagem da Charneca de Caparica. As explicações do presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, são tão confrangedoras e lamentáveis como as mortes no lar. Uma miséria. Disse ele que a proprietária já tinha sido notificada para encerrar voluntariamente o negócio. 
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É esta maneira rasca de encarar os assuntos mais sérios que nos fazem perder a esperança na administração pública. Se o lar não tinha condições, como a Segurança Social verificou em tempo, devia ter sido encerrado imediatamente - ou não? O dr. Martinho e os serviços que dirige, apesar de escudados nas normas, na burocracia e nos procedimentos administrativos, são moralmente tão culpados como a proprietária do negócio. Lavaram as mãos e a consciência - mas não evitaram que aquela vivenda continuasse a ser uma câmara da morte lenta. A dona do lar, de resto, disse tudo: "Estas pessoas vieram para aqui para morrer."
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Dia a dia
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Depósitos de pessoas

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Se não fosse chamado o socorro para um idoso num lar de idosos clandestino na Charneca de Caparica, provavelmente nunca se saberia da morte de mais três pessoas. Trata-se de um caso macabro e triste, que nos lembra uma realidade negra deste País onde milhares de idosos são depositados em lares sem condições, mesmo que as famílias paguem pequenas fortunas de mensalidade. 
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  • 08 Dezembro 2010 - Correio da Manhã
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Por:Armando Esteves Pereira, director-adjunto


De norte a sul do País, tem havido um esforço de misericórdias e outras instituições de solidariedade para abrir novos lares. Há também exemplos notáveis de iniciativas de apoio domiciliário em que as pessoas permanecem nas suas residências. Há também algumas experiências interessantes de ‘adopção’ de idosos por parte de famílias. E com a crise e o elevado desemprego feminino, até é provável que cada vez mais voluntários estejam interessados em cuidar de idosos em casa, recebendo em troca uma contrapartida financeira. 
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Contudo, o envelhecimento acentuado da população portuguesa torna a oferta insuficiente, especialmente nas grandes áreas metropolitanas. Por haver um desequilíbrio entre a oferta e a procura, é fundamental que haja por parte do Estado, desde a Segurança Social à própria ASAE, uma fiscalização eficaz que combata os sítios sem condições onde são depositadas as pessoas mais frágeis.
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quarta-feira, julho 14, 2010

Cavaco entre o lar “euromilhões” e a escola-refeitório

Segurança Social

13.07.2010 - 18:02 Por Nuno Sá Lourenço
O segundo dia de roteiro presidencial revelou os dois extremos do sistema de segurança social. Uma residência para idosos onde a estes nada falta, e uma escola que se vê forçada a permanecer aberta todos os dias para que as crianças tenham o que comer.
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“Emergência social”. Foi este o mote do último dia do roteiro presidencial sobre comunidades locais inovadoras. Cavaco Silva aproveitou a sua passagem pelos dormitórios da capital para “dar visibilidade” a “bons exemplos” e assim exigir mais do Governo, comunidades e encarregados de educação.

A passagem pelo agrupamento de escolas de Serra das Minas, Sintra, serviu para o Presidente pedir às famílias mais apoio à escola e ao Governo mais liberdade para os responsáveis educativos.

O encontro com 30 directores de escolas e agrupamentos serviu para o chefe de Estado concluir que a “realidade educativa do concelho era muito complexa”, com 51 mil alunos, 13 por cento dos quais estrangeiros e 38 por cento são crianças carenciadas.

Exigiu por isso, ao Governo mais para as escolas e aos pais mais atenção: “Precisamos de mais poderes, precisamos de mais autonomia, eles fazem milagres, mas os pais não podem entregar a criança de manhã na escola deixá-la lá até às sete da tarde e dizer resolvam tudo”, advertiu Cavaco Silva, considerando que Portugal precisa de “ir buscar o exemplo àqueles países em que a escola é assumida com orgulho por toda a comunidade”.

O destaque dado a Serra das Minas tinha que ver com a resposta que a escola se via forçada a dar às crianças. De acordo Com Fernando Seara, autarca de Sintra, a escola está a fornecer aos seus alunos uma refeição quente 365 dias por ano. Mesmo durante as férias, a escola mantém o refeitório mantém-se aberto para que as crianças tenham o que comer.

Uma resposta à altura das necessidades em Sintra, contra uma resposta acima das necessidades em Oeiras. Na câmara liderada por Isaltino Morais, Cavaco Silva visitou unidade residencial para idosos que ia muito além dos habituais serviços prestados. A inovação estava principalmente na unidade de residência assistida. Um piso da residência, com capacidade para 23 pessoas aí se instalarem provisoriamente. “Para quando as famílias vão de férias, por exemplo, podem deixar aqui os seus idosos durante algum tempo”, exemplificou Manuel Gerardo, presidente da Associação Apoio, responsável por parte da gestão do edifício.

“Saiu-me o euromilhões”, reconheceu uma idosa cumprimentada pelo Presidente e utente das instalações. Os idosos têm acesso àquelas instalações pagando uma mensalidade de acordo com os seus recursos. O que quer dizer que há quem pague seis euros como há quem pague 96 para viver ali.

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Comentários 1 a 10 de 13




  1. Karluz . 14.07.2010 08:46
    Via PÚBLICO

    É de ir...

    Será que El-Rei já foi a Bora-Bora? Ele que aproveite que agora pagamos nós.



  2. ze paulo , lisboa. 14.07.2010 14:50

    Isto não faz sentido.

    O primeiro ministro que mais tempo esteve no poder,que mais meios teve,que praticou enquanto tal uma política neoliberal,que como tal foi um que mais contribuiu para a crise actual,que continua como PR a preconizar as mesmas receitas que levaram o país à pobreza,que achava há dias que pela "cooperação estratégica" Portugal "está no bom caminho",cujo seu séquito acha que os salários devem ser reduzidos 20% ( João Salgueiro) tem um mínimo de seriedade para dizer o que diz?



  3. Ricardo , Braga. 14.07.2010 12:52

    qdb

    A responsabilidade dos pobres é dos ricos?? Claro que sim, aliás, toda a gente tem imensa vontade de trabalhar, de dar o máximo, de fazer alguma coisa para sair da miséria. A culpa é sempre dos outros, dos que têm muito. Esse racíocinio pode aplicar-se a alguns, mas grande parte daqueels que vemos a passar o dia no café a beber imperiais, a ver os programas da tarde, porque o subsídio dá menos trabalho que ter que acordar cedo e ir dar no duro. Mas claro, a culpa, é do patrão... Por mais medíocre que seja o nível médio de chefias neste país, o nível dos trabalhadores e vontade destes de trabalhar, está no mesmo patamar...



    • c.morais , v.n.gaia. 14.07.2010

      RE: qdb

      A Pobreza, amigo Ricardo é muito mais do que esse grupo de gente que o indigna a si e todos os que, como eu, trabalham há mais de 3 décadas por um salário que alguns ganham em ... 5 minutos de elevador antes de chegarem ao gabinete (os gestores de topo - chamam-se eles a eles mesmos!!) é nessa Pobreza que os "ricos" têm a quase total responsabilidade e, por isso, os devemos responsabilizar e pedir contas! Não vire a sua ira para os ditos "rendimentos mínimos".... essa gente leva migalhas em comparação com os milhões de Oliveiras e Costas, Dias Loureiros, e outros .... quer mais 100 nomes, só de gente conhecida?



  4. jorge leitao , aveiro. 14.07.2010 08:26

    A justiça no seu melhor

    E quando voltar a recorrer vão ser retirados os 2 anos de prisão e o dito politico ainda vai pedir uma indemnização por toda esta trapalhada.Lá dizia o tal deputado socialista da assembleia Aveirense, neste país só vai preso quem roubar um pão, quer ele dizer que só o desgraçado, o pobre que não tem meios para se defender é que vai preso.



  5. qdb , Nenhures. 14.07.2010 07:53

    Há melhor a fazer

    O Presidente em vez de lamentar os pobres, o que não resolve nada, devia ocupar-se dos ricos que, êsses, estão na origem dos pobres. Mas para isto seria necessária uma outra envergadura.



  6. Maria Atenta , Planalto Central. 14.07.2010 06:01

    Isaltino Morais - O Melhor Autarca do País

    O trabalho que Isaltino Morais tem feito em Oeiras devia servir de exemplo para a maioria dos autarcas do País! Os autarcas deviam fazer nas suas autarquias o mesmo que Isaltino faz em Oeiras. Parabéns Isaltino Morais. Não sou votante em Oeiras, mas cada vez mais aprecio o trabalho exemplar que Isaltino Morais fez e faz em Oeiras. Deve ser o melhor autarca do País e com obra feita.



    • casefaz , Lisboa. 14.07.2010

      RE: Isaltino Morais - O Melhor Autarca do País

      Sim, mas porque acha que o sr. Isaltino fez tão bom trabalho, foi pelos seus lindos olhos? É um traste como muitos outros, que deve ir preso como sentenciou o Tribunal. Mas não há mais...que nos enganam com palavrinhas mansas.



  7. Manuel Crúzio , Coimbra - Portugal. 14.07.2010 01:06

    Emergência Social e 2 notas sobre o artigo

    1- Agrupamento de escolas de Serra das Minas, Sintra - 51.000 alunos, 13% estrangeiros, (6.630) e 38% carenciados, (19.380). Entregar a criança de manhã na escola deixá-la lá até às sete é um atentado, diz o Sr. PR. Fernando Seara, autarca de Sintra, diz fornecer aos seus alunos uma refeição quente 365 dias por ano. 2 - Na Autarquia de Isaltino Morais, Cavaco Silva visitou unidade residencial para idosos de elite. Os idosos têm acesso àquelas instalações pagando uma mensalidade de acordo com os seus recursos. O que quer dizer que há quem pague seis euros como há quem pague 96 para viver ali. Quanto à nota 1 - Os Agr. Escolas continuam a engordar, obrigando ao afastamento dos alunos do seu agregado familiar e, ao apertar dos seus orçamentos. F. Seara, tem o dever moral de os colmatar com a tal refeição quente que era tomada em casa. A criança não pode ser entregue na Escola de manhã pelos pais e deixá-la lá até às sete, mas o Sr. PR sabe, que muitas crianças vão sozinhas, porque os pais não usam os mesmos transportes para o trabalho. A (escola a tempo inteiro) é do governo, com assinatura da PR. Nota 2 - Será um crime prender I.M., porque, os idosos de António Costa, precisam dele.



  8. Carlos , Brisbane Austrália. 14.07.2010 00:31

    A campanha continua

    Assim é fácil. Com o dinheiro de todos nós o PR já anda numa roda viva. É só visitas e roteiros para a comunicação social dar cobertura, e poder ir recolhendo os votos dos parolos. Durante estes anos de presidência o que fez para impedir que o País esteja como está? Estou farto de conversa. Quero é ver acções. Ainda por cima é no minimo lirico. Que alternativas têm os pais, que são ambos obrigados a trabalhar fora de casa, senão a depositar os filhos nas escolas. É que estes pais não têm duplas e triplas reformas, nem podem pôr os filhos na católica.



  9. Luis , Porto. 14.07.2010 00:21

    Pacóvio....

    Este cavaco é mesmo um pobretanas ( apesar de nos ficar por 21Milhões/ano) com este calorzinho podia fazer uma visita de estado às Seychelles.


  10. Anónimo , .. 13.07.2010 22:59

    A pobreza crónica

    Pobre país em que uma escola tem que manter o refeitório aberto todo o ano para que as crianças possam comer alguma coisa!... Somos o retrato chapado de um país do Terceiro Mundo na Europa! Viva a democracia da miséria, com os Governos do PS e do PSD no comando.
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    Segurança Social

    Cavaco entre o lar “euromilhões” e a escola-refeitório

    13.07.2010 - 18:02 Por Nuno Sá Lourenço
    O segundo dia de roteiro presidencial revelou os dois extremos do sistema de segurança social. Uma residência para idosos onde a estes nada falta, e uma escola que se vê forçada a permanecer aberta todos os dias para que as crianças tenham o que comer.
    “Emergência social”. Foi este o mote do último dia do roteiro presidencial sobre comunidades locais inovadoras. Cavaco Silva aproveitou a sua passagem pelos dormitórios da capital para “dar visibilidade” a “bons exemplos” e assim exigir mais do Governo, comunidades e encarregados de educação.

    A passagem pelo agrupamento de escolas de Serra das Minas, Sintra, serviu para o Presidente pedir às famílias mais apoio à escola e ao Governo mais liberdade para os responsáveis educativos.

    O encontro com 30 directores de escolas e agrupamentos serviu para o chefe de Estado concluir que a “realidade educativa do concelho era muito complexa”, com 51 mil alunos, 13 por cento dos quais estrangeiros e 38 por cento são crianças carenciadas.

    Exigiu por isso, ao Governo mais para as escolas e aos pais mais atenção: “Precisamos de mais poderes, precisamos de mais autonomia, eles fazem milagres, mas os pais não podem entregar a criança de manhã na escola deixá-la lá até às sete da tarde e dizer resolvam tudo”, advertiu Cavaco Silva, considerando que Portugal precisa de “ir buscar o exemplo àqueles países em que a escola é assumida com orgulho por toda a comunidade”.

    O destaque dado a Serra das Minas tinha que ver com a resposta que a escola se via forçada a dar às crianças. De acordo Com Fernando Seara, autarca de Sintra, a escola está a fornecer aos seus alunos uma refeição quente 365 dias por ano. Mesmo durante as férias, a escola mantém o refeitório mantém-se aberto para que as crianças tenham o que comer.

    Uma resposta à altura das necessidades em Sintra, contra uma resposta acima das necessidades em Oeiras. Na câmara liderada por Isaltino Morais, Cavaco Silva visitou unidade residencial para idosos que ia muito além dos habituais serviços prestados. A inovação estava principalmente na unidade de residência assistida. Um piso da residência, com capacidade para 23 pessoas aí se instalarem provisoriamente. “Para quando as famílias vão de férias, por exemplo, podem deixar aqui os seus idosos durante algum tempo”, exemplificou Manuel Gerardo, presidente da Associação Apoio, responsável por parte da gestão do edifício.

    “Saiu-me o euromilhões”, reconheceu uma idosa cumprimentada pelo Presidente e utente das instalações. Os idosos têm acesso àquelas instalações pagando uma mensalidade de acordo com os seus recursos. O que quer dizer que há quem pague seis euros como há quem pague 96 para viver ali.

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    Isto não faz sentido.

    O primeiro ministro que mais tempo esteve no poder,que mais meios teve,que praticou enquanto tal ...
    ze paulo

    Comentários 11 a 13 de 13




    1. Pierre , Oásis laranja e rosa. 13.07.2010 22:56

      Apoio às criancinhas e aos velhinhos.

      Quem semeia sempre colhe.



    2. miguuel Bernardo Lima da Fonseca , Bagança. 13.07.2010 22:08

      comentário pateta...

      Que patetice "amigo" de Braga....................................................................



    3. Anónimo , Braga. 13.07.2010 18:56

      Cavaco para o LAR

      Acho que o presidente em vez de se recandidatar podia ficar já no LAR com 70 anos e só a dizer banalidades e evidências está numa optima idade para a reforma, deveria ser proibido os candidatos terem mais de 65 anos. Já recebem reformas e ainda ocupam lugares que pelo mundo de hoje já não estão devidamente preparados.



      • carlos txra , Porto. 14.07.2010

        RE: Cavaco para o LAR

        Este nunca esteve preparado para o lugar em que está. O seu ingresso como salvador da Pátria, deveu-se unicamente,á rodagem que teve que fazer ao carro novo(será que o estourou ?)e que o levou na altura á Figueira da Foz......


      • Vítor , Lisboa. 13.07.2010

        RE: Cavaco para o LAR

        O problema não é a idade...
        .
        .

sábado, outubro 06, 2007

No Dia Internacional do Idoso - Valorizar as pensões e reformas


Em conferência de imprensa realizada segunda-feira, Fernanda Mateus, da Comissão Política, rejeitou que o aumento da esperança de vida seja utilizado para retirar direitos.

No dia em que se assinalava o Dia Internacional do Idoso, a Comissão para os Assuntos Sociais do PCP acusou o Governo associar o aumento da esperança de vida e o direito à reforma aos eventuais problemas financeiros da Segurança Social. Segundo Fernanda Mateus, a passagem dos trabalhadores à condição de reformados é caracterizada pela redução do seu rendimento, «como reflexo das políticas de baixos salários conjugadas com insuficientes aumentos anuais das reformas e pensões». O aumento dos preços dos bens essenciais agravam a situação, afirmou a dirigente comunista.
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Bem pode o Governo apelar à solidariedade para com os idosos, mas estes apelos «contrastam vivamente com a realização de um conjunto de políticas sociais que estão na base de um perigoso caminho de desresponsabilização do Estado das suas obrigações» para com esta camada da população. Para o PCP, a criação, em 2005, do Complemento Solidário aos Idosos é «expressão do logro que a promessa do PS constituiu»: dos cerca de 270 mil idosos que foram informados desta prestação social apenas foram abrangidos, em 2006, 20 mil, com mais de 80 anos e, em 2007, 30 mil, com idades compreendidas entre os 70 e os 80 anos.
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Entretanto, prosseguiu, para a atribuição de valores médios, a rondar os 75 euros, o Governo impôs para esta prestação social um «complexo processo de prova de rendimentos por parte do requerente, a envolver contas bancárias e uma relação exaustiva de bens e rendimentos, próprios ou de familiares. Assim, a criação deste complemento constitui sobretudo «parte da estratégia de inviabilização de uma justa e adequada revalorização anual do valor de todas as pensões e reformas». Esta inviabilização, realçou Fernanda Mateus, fica logo patente no conjunto de diplomas relativos às novas formas de cálculos das reformas e pensões.

As propostas dos comunistas

Segundo Fernanda Mateus, em 2006 mais de um milhão e cem mil reformados recebiam pensões inferiores a 300 euros. Os reformados, prosseguiu, são o grupo populacional em maior risco de pobreza, com 29 por cento, face a 21 por cento da taxa de pobreza entre a população total. Assim, para o PCP, está-se perante uma opção política assente na manutenção de baixas reformas e pensões pagas pelo Sistema Público de Segurança Social.
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Em 2007, o aumento diário das pensões, para 473 mil reformados, situa-se entre os 0,23 e os 0,34 euros para as pensões mínimas do regime contributivo e de 0,18 euros para a pensão social. No entanto, só a divida acumulada à Segurança Social, a ser recebida, «daria para aumentar cada um dos 2 milhões e setecentos mil reformados do sistema público de Segurança Social em 78,50 euros mensais durante um ano».
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Revelando algumas das prioridades da iniciativa política e parlamentar do PCP para esta camada, Fernanda Mateus defendeu a revalorização anual do conjunto das pensões e reformas; a equiparação da prova de rendimentos do Complemento para Idosos ao regime previsto para o acesso ao Rendimento de Inserção Social, retirando-lhe a determinação de recurso do requerente com base nos rendimentos do agregado familiar; a comparticipação a 100 por cento dos medicamentos para doenças crónicas e garantia de acesso a tratamentos especiais aumentando a sua comparticipação; a utilização em todo o território nacional de transportes colectivos com desconto de 50 por cento nas respectivas tarifas; a entrada gratuita em museus, património público e exposições; o investimento e alargamento da rede pública de equipamentos sociais de apoio à população idosa, de qualidade e a preços acessíveis nomeadamente centros de dia, lares residenciais, serviços de apoio domiciliário.
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in Avante 2007.10.04