A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
Mostrar mensagens com a etiqueta José Casanova. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta José Casanova. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Que nenhum voto se perca !

Que nenhum voto se perca !

por Victor Nogueira a quinta-feira, 20 de Janeiro de 2011 às 22:52
.
«Mas ai deles quando os mais de três milhões de trabalhadores que participaram na greve geral perceberem a força que têm; ai deles se os dois milhões de pobres tomarem consciência que pesam mais do que os dois mil muito ricos; ai deles se o milhão e meio de reformados, o milhão e 200 mil precários, os mais de 700 mil desempregados e os micro, pequenos e médios empresários perceberem que têm mais força que os deputados do PS e do PSD que votaram favoravelmente este Orçamento injusto», afirmou [Jerónimo de Sousa]. 
.
Um genuíno projecto político de esquerda
.
No Comício do Campo Pequeno, o secretário-geral do PCP frisou que «nenhum outro candidato se apresenta perante os trabalhadores e o povo com um genuíno projecto político de esquerda», e sublinhou que «é preciso que nenhum voto se perca». 
.
(…) «nenhum outro candidato se apresenta perante os trabalhadores e o povo com um genuíno projecto político de esquerda, capaz de enfrentar a gravidade da situação a que o País chegou e lançar a patriótica tarefa de colocar Portugal no caminho do desenvolvimento, da justiça e do progresso social».
.
Continuando assinalar distinções entre a candidatura de Francisco Lopes e as demais, o dirigente comunista acrescentou que a nossa «é a única que assume sem rodeios e sem dissimulações uma frontal oposição com a política de direita de Sócrates, Passos, Cavaco e companhia, e que jamais meteu as mãos no atoleiro da hipocrisia política reinante».

Cavaco não é solução

(…) Cavaco Silva (…) «Vem agora pedir aos políticos que falem verdade», continuou o secretário-geral do PCP, «como se ele não fosse por inerência do cargo o mais responsável dos políticos portugueses, e não fosse igualmente um dos mais responsáveis pelas decisões que conduziram o País ao declínio». (…)   «O candidato não sabe como chegámos aqui? Nós lembramos», prosseguiu.
.
«Cavaco chora lágrimas de crocodilo pelos atingidos, pelos pobres, pelos trabalhadores da administração pública. Como estamos na capital do fado, apetece dizer que só falta a guitarra e a viola para cantar o fado da desgraçadinha», atirou. Mas a verdade é que ele «sabe bem como chegámos até aqui. Sabe que o esbulho dos portugueses que vivem do seu trabalho contou não apenas com o seu silêncio mas com o seu aval, o aval da chancela das inevitabilidades em nome da fraude da acalmia dos mercados».
.
Assim, para o secretário-geral do PCP, Cavaco Silva  (…)  representa um futuro de «continuação do mesmo rumo de declínio nacional e aprofundamento da crise».

«Que nenhum voto se perca!» 

(…) «Não faltam por ai propagandistas, disfarçados de comentadores isentos, a fazer crer que as eleições estão decididas. Que já há um vencedor antecipado e na primeira volta. Querem com as suas calculistas e nada inocentes previsões desarmar os portugueses que lutam pela verdadeira mudança, por uma real alternativa. Querem fazer crer que o voto dos que não aceitam e se opõem a esta vergonhosa política está condenado ao fracasso. Querem desvalorizar o próprio direito ao voto», alertou.
.
«Mas ai deles quando os mais de três milhões de trabalhadores que participaram na greve geral perceberem a força que têm; ai deles se os dois milhões de pobres tomarem consciência que pesam mais do que os dois mil muito ricos; ai deles se o milhão e meio de reformados, o milhão e 200 mil precários, os mais de 700 mil desempregados e os micro, pequenos e médios empresários perceberem que têm mais força que os deputados do PS e do PSD que votaram favoravelmente este Orçamento injusto», afirmou. 
.
(…) «Ainda é hora de ir ao encontro dos muitos milhares de homens e mulheres que no passado votaram nas forças políticas e nos candidatos que suportam anos de governação à direita, e dizer-lhes que chegou a hora de mudar e ultrapassar preconceitos; que a solução não é a abstenção, que não é hora para se ficar calado ou desistir».
.
.
 Cumprir o dever até ao fim
.
  • José Casanova

 (…) Há aquele amigo hesitante, que não sabe se vai ou não votar, porque isto não dá nada e, por isso, não vale a pena; há aquele vizinho que acha que o melhor é votar no candidato que os jornais, rádios e têvês dizem que já ganhou; há aquele familiar que diz que as sondagens...; há aquele colega que de tanto ouvir nas rádios, têvês e jornais que eles são todos iguais, acha mesmo que é assim…

A todos eles é necessário dizer – e isso pode e deve ser feito até ao último momento – que não é assim: que não só vale a pena como é imperioso votar para mudar; que quem diz que o tal candidato já ganhou são os cães de guarda dos responsáveis pela situação existente; que as sondagens são instrumentos de propaganda ao serviço de mais do mesmo – e é necessário demonstrar, com os muitos e sólidos argumentos da verdade, que eles não são todos iguais, isto é: que o candidato Francisco Lopes é diferente dos que são todos iguais. E que o voto em Francisco Lopes é um voto diferente de todos os outros: porque é o único que conta para a mudança.
.
  • Filipe Diniz

Estas eleições vão deixar marcas
.
(…) Mas quaisquer que sejam as votações obtidas por cada candidato nas eleições de domingo próximo, uma coisa é certa: vão deixar marcas.
.
Vão deixar marcas em Cavaco Silva, cuja face autoritária e arrogante ficou mais visível do que nunca; cujo verniz «impoluto» ficou irremediavelmente manchado pelas pouco recomendáveis companhias que há muito conserva e pelas mal esclarecidas embrulhadas em que apareceu metido; que ficará definitivamente identificado pela hipocrisia e desfaçatez com que pretendeu desresponsabilizar-se da situação que o País atravessa; que não poderá mais disfarçar o profundo reaccionarismo que lhe preenche a pouco ginasticada cabeça.
.
Vão deixar marcas em Manuel Alegre, no PS e no BE, cúmplices activos numa candidatura e numa campanha de mistificação e de desresponsabilização da governação de Sócrates. Cúmplices activos numa campanha que pretendeu inculcar a absoluta e antidemocrática falsidade de que as opções existentes se resumiriam à alternativa entre Cavaco e Alegre, entre política de direita e política de direita.
.
Vão deixar marcas em Fernando Nobre, o «dedicado humanitário» cujo pensamento político reaccionário e em muitos aspectos fascizante se coloca à direita do próprio Cavaco Silva.
.
Vão deixar marcas na já reduzida credibilidade de «comentadores» e dos grandes média, que assumiram do primeiro ao último dia a tarefa de distorcer e ocultar as reais alternativas em confronto e de condicionar a opinião do eleitorado.
.
Vão deixar marcas em todos aqueles que fizerem a corajosa e coerente opção de votar Francisco Lopes. Porque este voto é bem mais do que uma cruz num boletim. É uma exigência de mudança, patriótica e popular. É uma afirmação de esperança e um compromisso de luta. 
.
De uma luta que a magnífica e combativa campanha de massas mobilizada por esta candidatura confirma que continua.
.
Esta campanha teve a marca da luta e das aspirações dos trabalhadores e do povo a uma vida melhor. Nada apagará essa marca.

.
.
 Avante, 2011.01.20
.
Sublinhados de Victor Nogueira
.
.

domingo, novembro 07, 2010

As voltinhas de cavaco, ai vai de roda

Presidenciais 2011 Francisco Lopes

  • Jorge Cordeiro


O leme e o naufrágio
Cavaco Silva revelou-se candidato. Nada que a bem sucedida intervenção eleitoral que vinha construindo a partir das suas funções presidenciais não deixasse prever. O que estaria mais arredado de algumas mais ingénuas previsões seria a forma e os conteúdos expressos. Desde logo, temos de regresso o homem do leme, aquela providencial figura sem a qual o país não sobreviveria, nem o sol nasceria. Na modéstia majestática do candidato temos ali sinónimo de «mais»: o mais experiente, o mais formado, o mais influente, o mais capaz de tudo incluindo da proeza de Portugal não estar pior. O que em si legitima a interrogação de saber se quem lhe escreveu o texto está por cá. Descontado que seja o pormenor de não se perceber onde é que a sua formação económica entra em consideração perante o naufrágio económico do país; de procurar saber onde, para lá dos principais círculos do capital financeiro e dos grupos económicos, se fez sentir a sua magistratura de influência; de se tentar perceber porque é invocável como boa, uma experiência feita de um percurso demolidor para o país em mais de uma década de funções governativas que não só deram à luz nutrido défice como comprometeram o desenvolvimento – admitamos que o que resta, descontos feitos, é pouco para tanta pretensão.
.
Ousado no conteúdo, a forma não o inveja. O enquadramento temporal do anúncio; a gestão da encenada negociação entre governo e PSD e respectiva concretização; e a laboriosa construção, a pretexto da eminência de uma «crise política», do papel de salvador – são apenas episódios em torno da divulgação de uma candidatura há muito conhecida. E que terá tido na convocação do Conselho de Estado, na inédita comunicação pessoal que dirigiu e na cirúrgica divulgação do não menos previsível acordo entre Catroga e Teixeira dos Santos, a primeira grande iniciativa da sua campanha eleitoral.
O que para lá de tudo o resto, permitirá mais facilmente levar cada um a perceber porque Cavaco Silva apregoou a dispensa nesta campanha eleitoral de «Out-door's»!
.
.
  • Filipe Diniz


O partido de Cavaco
Cavaco anunciou aquilo que há longo tempo era sabido: que se iria recandidatar à presidência da República. Diz ele que após profunda reflexão, na companhia da esposa. 
.
Nem nisto este «homem de palavra» acerta. Não se lembra pelos vistos de que quando se candidatou há cinco anos, entre as suas «ambições» - se fosse eleito - figurava «exercer mais do que um mandato». Mas esta questão não passa de um detalhe no conjunto da declaração de candidatura que apresentou. 
.
Mesmo para todos nós que sabemos que não é pelo brilho intelectual que Cavaco se destaca esta declaração tem momentos particularmente penosos. Nuns casos, pela grosseira hipocrisia. Noutros, porque trazem à memória outro ocupante do palácio de Belém, um almirante cujas declarações caricatas constituíam saborosos momentos de humor involuntário.
.
Um dos momentos altos, que Tomás não desdenharia, é a afirmação de que não tem partido: o «seu partido é Portugal»
.
Cavaco sabe - porque também o fez - que tomar partido é escolher. E sabe que nem do ponto de vista social, nem económico, nem regional há só um Portugal. Não só há vários, como alguns deles são antagónicos. Alguns representam, inclusivamente, a longa linha antinacional na qual as classes dominantes sempre se inseriram, e são esses, no fundamental, o Portugal que Cavaco escolheu.
.
O Portugal de Cavaco primeiro-ministro e de Cavaco presidente: o Portugal do retrocesso económico e social, no «pelotão da frente» a caminho da retaguarda; o Portugal dos «pacotes legislativos» anti-laborais e anti-sociais; o Portugal da desindustrialização e da financeirização da economia; o Portugal «bom aluno» da UE, abdicando aceleradamente da soberania e do interesse nacional, cada vez mais dependente e periférico; o Portugal do interior sem agricultura e do mar sem frota pesqueira; o Portugal inculto e reaccionário que hostilizou Saramago em vida e o desrespeitou na morte.
.
Há outro Portugal que não é nem será nunca o Portugal de Cavaco.
.
É o Portugal de Abril, cuja Constituição Cavaco jurou cumprir e fazer cumprir mas que sempre violou – tanto no governo como na presidência.
Este Portugal está presente e tem candidato nas eleições presidenciais. 
.
Chama-se Francisco Lopes.
.
.
  • José Casanova


O pai da política de direita
«Nunca tive dúvidas de que o Orçamento de Estado passaria», confessou Mário Soares.
.
E explicou porquê: porque se trata de uma «imposição do Banco Central Europeu e da própria Comissão Europeia» - e ordens são para cumprir...
.
Soares pensa, também, que a ida «dos dois líderes a Bruxelas», para o necessário puxão de orelhas, foi decisiva para pôr as coisas nos eixos.
.
Soares pensa, ainda, que sem o OE aprovado estaríamos perante «um desastre nacional»
.
É certo que, o próprio Soares o diz, o Orçamento é «muito duro para os portugueses, em especial os de menores rendimentos»; e que «algumas das suas medidas cortam o coração»; e que isto vai ser uma desgraça ainda maior do que a já existente, mas... sem OE aprovado, estaríamos perante «um desastre nacional»... e isso é coisa que Soares não quer nem admite.
.
Reconheça-se, aliás, que desastre nacional é matéria em que Soares é perito...
.
Vale a pena lembrar – quanto mais não seja para que não caia no esquecimento – que Soares é um dos grandes responsáveis pelo desastre nacional a que a política de direita conduziu o País. Foi ele que a iniciou em 1976, dando os primeiros passos da ofensiva contra-revolucionária que, de então para cá, todos os governos prosseguiram, com raivosos ataques às conquistas da Revolução de Abril; chamando para aqui o FMI (e correndo de cá com o MFA...), e enfiando a cabeça no cepo da UE; roubando aos trabalhadores e ao povo direitos fundamentais alcançados pela luta e consagrados nas leis de Abril; recorrendo á repressão brutal sobre as massas trabalhadoras; tirando o poder ao povo e colocando-o nas garras dos grandes grupos económicos e financeiros (quer dos que haviam sido sustentáculo do fascismo quer dos que a política de recuperação capitalista viria a criar); fazendo a vida num inferno aos trabalhadores e oferendo o paraíso ao grande capital; rasgando e espezinhando a Lei Fundamental do País e entregando a soberania e a independência nacional ao imperialismo norte-americano e à sua sucursal que dá pelo nome de União Europeia.
.
Ora este OE 2011 é bem o espelho dessa política de desastre nacional de que Soares é o pai.
.
.Avante 2010 11 05
.
.

quarta-feira, dezembro 16, 2009

Portugal - Democracia-de-faz-de-conta






Democracia-de-faz-de-conta


Lendo e ouvindo os governantes actualmente de turno à política de direita (e os seus propagandistas), ficamos a saber que é obrigação de toda a gente apoiar o Governo no prosseguimento da política que conduziu o País ao lamentável estado em que se encontra.
E a coisa é posta naquele tom imperativo e ameaçador muito ao jeito do conceito de democracia dominante: ou nos apoiam, ou...
Pobres tolos!: como se houvesse ameaça maior do que a da continuação da política de direita...
De entre o batalhão de propagandistas de serviço, emerge o inevitável Mário Soares, que todas as terças-feiras, em toda uma página do DN, se exibe no papel de indefectível homem de esquerda na defesa indefectível da política de direita. Percebe-se: é Soares a defender o Soares que ficará na história como o pai da política de direita (de que foi o iniciador há trinta e três anos), o pai da contra-revolução que, ao serviço do grande capital, liquidou a mais justa, a mais livre, a mais progressista, a mais avançada, a mais participada, a mais moderna democracia alguma vez existente em Portugal: a democracia de Abril.
Soares, repete tudo: as ameaças e o blá-blá-blá: «o Governo não dispõe de uma vara de condão para resolver, de um momento para o outro, todos os problemas que nos afligem». Pois não: como Soares sabe por experiência própria, a «vara de condão» de que o Governo de Sócrates dispõe só sabe servir, «de um momento para o outro», os interesses do grande capital – e serve-os com a mesma fidelidade canina com que o fez o governo de Soares.
Os governantes e Soares falam como se a maioria absoluta perdida pelo PS nas últimas legislativas fosse um castigo do eleitorado, não ao governo de turno à política de direita, mas às vítimas dessa política – que são a imensa maioria dos portugueses.
Por isso, para eles, os flagelados pelo desemprego, pela precariedade, pelos salários, pensões e reformas miseráveis e por mil outras ofensas aos mais elementares direitos humanos, têm a obrigação de apoiar a política que lhes criou essa situação e de aplaudir o Governo que, actualmente, a executa – a bem desta democracia-de-faz-de-conta de que Soares é o pai.
Nº 1879
03.Dezembro.2009 - Avante
.
.

Mário Soares igual a si próprio !







Igual a si próprio


Mário Soares foi entrevistado a pretexto da passagem do seu 85.º aniversário.
A entrevistadora começou por nos dar uma sensacional notícia em primeira-mão, ao revelar-nos que Soares «foi o máximo denominador comum entre a esquerda e a direita no Portugal do pós-25 de Abril, como o tinha sido já no combate à ditadura fascista». (As coisas que a gente aprende com esta gente!)
Mas, e pior do que isso, a entrevistadora atinge-nos, logo a seguir, com uma ameaça terrível: Soares prepara o seu «ensaio autobiográfico político e ideológico» (chiça!), do qual já escreveu cinco capítulos (cinco vezes chiça!)
Quanto à entrevista propriamente dita, trata-se, da parte de Soares, do curricular discurso auto-laudatório – um discurso no qual, à medida que o tempo passa e a idade aumenta, Soares se nos mostra cada vez mais igual a si próprio na visão que ele próprio tem de si: segundo ele, ele é o maior, o mais-que-todos, sempre e em todas as circunstâncias, hoje como no 25 de Abril ou no tempo da ditadura fascista: único na coragem, singular nas capacidades, sem igual no talento revelado e por revelar, numa palavra: genial. A bem da sua estabilidade autobiogáfica, aceitemo-lo como ele nos diz que é, e sobretudo não o contrariemos.
Na entrevista, Soares prossegue igualmente o seu habitual exercício de contador de estórias mal contadas, ora roçando a mentira ora entrando por ela como quem entra em casa própria. E há que reconhecer que também nessa matéria Soares vai refinando com o correr dos anos.
Naturalmente, esses auto-consoladores elogios e essas auto-consoladoras mentirolas, têm sempre como alimento básico essencial o profundo anticomunismo de Soares – que é, afinal, a sua imagem de marca.
Como a sua acção política tem mostrado (e o seu «ensaio autobiográfico» confirmará) de entre as várias posturas anti assumidas por Mário Soares ao longo de toda a sua vida - aí incluído o seu antifascismo - ele é, acima de tudo, anticomunista.
É essa a sua guerra – uma guerra na qual nunca hesitou em aliar-se ou aceitar como aliados, todos os que para isso se disponibilizem, desde fascistas confessos a confessos serviços secretos de várias latitudes e longitudes.
.


.
.
Nº 1880
10.Dezembro.2009
.
.

segunda-feira, novembro 16, 2009

O Futuro pertence ao Comunismo - José Casanova


José Casanova na Quinta da Atalaia
O futuro pertence ao comunismo


(…) A Revolução de Outubro foi ponto de partida para a primeira grande tentativa, na história da humanidade, de construção de uma sociedade nova, liberta de todas as formas de opressão e de exploração. O impacto e as consequências planetárias deste acontecimento constituem uma realidade objectiva de tal forma impressiva que nenhuma ofensiva ideológica conseguirá apagar. E hoje, como sabemos, essa ofensiva, tendo como objectivo primeiro a criminalização do comunismo e a santificação do capitalismo, faz da Revolução de Outubro, da sua importância histórica, do seu significado, dos seus ideais um alvo preferencial.
Percebe-se o objectivo dessa ofensiva: a Revolução de Outubro foi o primeiro grande acto de ruptura com o capitalismo e a exploração do homem pelo homem; foi o primeiro exemplo concreto da aplicação, na construção de uma nova sociedade, da ideologia do proletariado – nascida e desenvolvida a partir da análise da história da sociedade e das suas leis objectivas essenciais; foi a primeira demonstração concreta de que o socialismo é a única alternativa ao capitalismo – e por tudo isto, porque a Revolução de Outubro mostrou que o socialismo é, não apenas possível, mas inevitável, o grande capital tremeu… e 92 anos passados, apesar de dominante, continua a tremer.
As conquistas civilizacionais da Revolução de Outubro – políticas, sociais, económicas, culturais – marcam de forma impressiva não apenas a pátria de Lénine, mas todos os países do planeta. (…)

Avanços históricos

A União Soviética nascida da Revolução de Outubro foi o primeiro país do mundo a pôr em prática um vasto conjunto de direitos humanos, como o direito ao trabalho, o horário de trabalho das oito horas, as férias pagas, a igualdade de homens e mulheres, o direito à saúde, à segurança social, ao ensino, à cultura, o direito à infância, o direito à velhice, enfim os direitos a que todo o ser humano, pelo simples facto de existir, tem direito – direitos esses que se estenderam progressivamente a milhões de trabalhadores de outros países que os conquistaram através da luta, estimulada, ela própria, pelo exemplo da Revolução de Outubro; direitos esses que hoje, após a derrota do socialismo, estão na mira do capitalismo internacional e, em Portugal, são os grandes visados pelo Código do Trabalho que o PS/Sócrates e os restantes partidos da política de direita aprovaram, na sua função de executantes dessa política de classe ao serviço dos interesses do grande capital.
A União Soviética desempenhou papel determinante na II Guerra Mundial, enquanto protagonista principal da resistência vitoriosa à ambição nazi-fascista de domínio do mundo: quando os exércitos hitlerianos avançaram pela URSS, numa cavalgada que muitos consideravam e desejavam imparável - enquanto os EUA e a Inglaterra esperavam para ver quem seria o vencedor - a URSS fez frente, durante três anos, sozinha, à ofensiva nazi; e só quando – depois de o Exército Vermelho e o povo soviético, em 1942/1943, terem derrotado, em Stalinegrado, 20 divisões nazis, e 50 divisões naquela que foi a maior batalha de tanques da história – a batalha de Kursk – só quando se tornou evidente que o glorioso Exército Vermelho estava em condições e a caminho de libertar toda a Europa e esmagar o nazi-fascismo com as suas próprias forças, só então as tropas norte-americanas e britânicas desembarcaram na Normandia, em 6 de Junho de 1944, onze meses antes da capitulação da Alemanha.

Vencer mentiras e mistificações

Em 6 de Junho passado, por ocasião do 65.º aniversário do desembarque na Normandia, Obama, que ali se deslocou expressamente para comemorar a data, proferiu um discurso em que falava do «dia D que não podemos esquecer, porque foi um momento e um lugar onde a bravura e o altruísmo de uns poucos mudaram o curso de um século» – e concluía que «o desembarque na Normandia marcou o ponto de viragem da II Guerra Mundial».
Obama sabia que estava a mentir; sabia que o ponto de viragem da II Guerra Mundial foi a Batalha de Stalinegrado, e a batalha de Kursk a confirmação dessa viragem – e é sintomático que, sabendo tudo isso, não tenha tido uma palavra para os quase três milhões de soviéticos que morreram nessas duas batalhas.
A verdade é que, ao contrário do que dizem e escrevem e propalam os «historiadores» do capitalismo dominante, a derrota do nazi-fascismo foi obra essencialmente da União Soviética e que mais de vinte milhões de soviéticos morreram pela liberdade de toda a humanidade, pela democracia, pela defesa da paz – que mais de vinte milhões de pessoas morreram a defender a Vida. E tal feito só poderia ser praticado por um país socialista.
Registe-se, também, o papel igualmente decisivo desempenhado pela URSS na luta libertadora dos povos e na liquidação do colonialismo, bem como a sua solidariedade activa no combate a todas ditaduras fascistas (…) que, sublinhe-se, tinham nos EUA muitas vezes o seu organizador e, sempre, o seu principal aliado.

Um acontecimento «nosso»

A meu ver, nunca é demais insistir no nosso caso, no caso do nosso País: o regime fascista português, apoiante do nazismo desde o início, mudou a agulha mal se apercebeu de que o Exército Vermelho iria ser o vencedor; derrotados os velhos amigos, virou-se para os novos amigos que o receberam de braços abertos: os EUA e as democracias burguesas europeias (aliás, os EUA e a Grã-Bretanha fizeram questão de, logo um mês após o fim da guerra, manifestarem pública e explicitamente o seu apoio ao regime salazarista).
E a ditadura salazarista/caetanista teve sempre, e até ao seu último dia de vida, o apoio dos EUA, da Inglaterra, da França, da RFA, etc. – enquanto nós, os que resistimos ao fascismo, contámos sempre com o apoio fraterno e solidário da URSS e dos restantes países socialistas; da mesma forma que a Revolução de Abril foi, desde o seu primeiro dia de vida, um alvo dos ataques desses mesmos EUA, Inglaterra, França, RFA, etc. – e contou desde o seu primeiro dia de vida com o apoio solidário e fraterno da URSS e dos restantes países socialistas.
Então, a Revolução de Outubro foi este acontecimento maior da história da humanidade e, com rigor, pode dizer-se que todos os avanços civilizacionais ocorridos no século XX têm nos seus ideais e na sua experiência concreta, a sua matriz principal. E não há deturpações, mentiras, calúnias que possam apagar essa realidade, que possam apagar o grande avanço progressista que a Revolução de Outubro e o processo de construção do socialismo por ela encetado, representaram para a humanidade.
Nós, comunistas portugueses, comemoramos a Revolução de Outubro como acontecimento nosso, que nos diz directamente respeito em tudo – no positivo como no negativo; e, mais do que isso, afirmamos, hoje como sempre, que o projecto de sociedade pelo qual lutamos para Portugal, tem as suas raízes essenciais nos valores e nos princípios da Revolução de Outubro – cujos ensinamentos constituem, para nós, uma referência permanente na luta de todos os dias.
É necessário sublinhar ainda que a Revolução de Outubro é uma obra colectiva da classe operária, do campesinato, dos trabalhadores russos sob a direcção do partido bolchevique. E é inseparável da contribuição decisiva de Lénine – contribuição teórica e prática, traduzida nomeadamente na concepção e construção do instrumento essencial da revolução, o partido bolchevique, o partido proletário de novo tipo, o partido da classe operária, o partido comunista; contribuição decisiva, por outro lado, no que respeita ao enriquecimento e desenvolvimento criativos da teoria de Marx e Engels, instrumento para a interpretação e transformação do mundo, o marxismo-leninismo – ideologia do proletariado, base teórica do partido comunista… e, por isso, base teórica do PCP que, como sabemos, nasceu sob o impulso da Revolução de Outubro; que dos conceitos de Lénine e da experiência do movimento comunista recolheu importantes ensinamentos – aos quais acrescentámos a nossa experiência própria.
E também nunca é demais insistir no papel decisivo e marcante desempenhado por Álvaro Cunhal na construção deste nosso Partido – à frente de um geração notável de militantes comunistas, alguns felizmente ainda connosco e, desses, alguns aqui connosco neste convívio: a geração que levou por diante todo o processo da Reorganização de 40/41 e dos III e IV Congressos, em 1943 e 1946 - esses seis anos decisivos para a construção do PCP como partido marxista-leninista, comunista, revolucionário, ou, como escreveu Álvaro Cunhal, como «partido leninista definido com a experiência própria».
(...) É também no decorrer desses seis anos que se avança para a definição do conceito de «trabalho colectivo» – ponto de partida para a construção do conceito de «colectivo partidário», ou seja: o trabalho colectivo visto e entendido como «princípio básico do estilo de trabalho do Partido», aspecto essencial da democracia interna e factor decisivo da unidade e da disciplina partidárias.

Contrapor à mentira a verdade do socialismo

A sociedade socialista nascida da Revolução de Outubro foi derrotada – e essa derrota constituiu uma tragédia para toda a humanidade. Detectar e analisar com rigor as causas dessa derrota é uma tarefa crucial para os comunistas, hoje. Sem essa análise, camaradas, a meu ver não estaremos preparados para responder com a eficácia necessária à ofensiva ideológica do capitalismo dominante – nem criaremos as condições para que o projecto socialista volte a ganhar as amplas massas, indispensáveis à concretização desse projecto. Nesse sentido, há que dar continuidade ao importante trabalho que iniciámos no XIII Congresso Extraordinário. Isto porque, após o desaparecimento da União Soviética, a ofensiva ideológica anticomunista assumiu formas e dimensões nunca até então vistas.
A imagem do comunismo identificado com o «crime», o «horror», a «miséria» a «ausência de liberdade» – e, para além disso, «derrotado, inexoravelmente derrotado» – essa imagem passou a correr mundo todos os dias, divulgada pela totalidade dos média dominantes, chegando a milhões e milhões de pessoas e instalando-se nelas como verdade absoluta.
Vejam-se os jornais actuais: todos os dias eles referem acontecimentos ocorridos na União Soviética e nos ex-países socialistas do Leste da Europa, e nos últimos dias a «queda do muro» tem sido a grande notícia…– e fazem-no, naturalmente, à sua maneira: mentindo, deturpando, manipulando, escrevendo a história que lhes interessa que fique escrita.
Ora, só é possível combatermos essa falsa imagem contrapondo-lhe a imagem real do socialismo, com o conhecimento profundo quer do que foi a construção do socialismo na União Soviética quer das causas que conduziram à sua derrota.
(…) A historiografia contra-revolucionária pretende fazer crer que a derrota do socialismo resultou de uma inviabilidade intrínseca ao projecto socialista: a realidade mostrou precisamente o contrário, isto é: o conteúdo e a dimensão dos avanços alcançados pelo socialismo à escala planetária mostraram que o futuro da humanidade está no socialismo e no comunismo.
A historiografia contra-revolucionária propagandeia que o projecto socialista é intrinsecamente criminoso – e com isso o que pretende é iludir a verdadeira questão: é o capitalismo, esse sim, que tem uma essência criminosa, como se vê todos os dias na exploração e opressão de que se alimenta - com consequências dramáticas para a humanidade: no sistema capitalista morrem todos os dias, à fome e por falta de cuidados médicos, mais de 60 mil pessoas; na sua ambição de domínio do mundo, o imperialismo norte-americano provocou, ao longo do tempo, a morte, o assassinato de milhões e milhões de seres humanos.
(…) Por tudo isto, a meu ver, mais do que nunca é imperioso sublinhar esta verdade: se há um balanço negativo do socialismo construído na União Soviética é o da derrota sofrida: a derrota é que foi negativa. A construção de uma sociedade socialista na União Soviética, esse foi um facto altamente positivo e um exemplo a seguir, no essencial.
Com muitos erros pelo meio? Sem dúvida. Mas como dizia Lenine, só pessoas totalmente incapazes de pensar, para não falar já nos defensores do capitalismo, podem pensar e dizer que é possível construir uma sociedade nova como é a sociedade socialista sem erros, sem muitos e muitas vezes graves erros.
Erros que, por maiores que tenham sido, não anularam o facto de a sociedade socialista soviética ter sido, sempre e em todas as suas fases, mais democrática, mais livre, mais justa, mais humana do que a sociedade capitalista. Erros de que não temos que pedir desculpa a ninguém – muito menos aos nossos inimigos – erros evitáveis, uns, inevitáveis, outros – como disse Lenine: «os defeitos, os erros e as lacunas são inevitáveis numa obra tão nova, tão difícil e tão grande», na «obra mais nobre e mais fecunda» que é construção do socialismo.

Consequências dramáticas

O balanço negativo da derrota sofrida torna-se tanto mais evidente quanto mais atentamente observarmos a situação posterior ao desaparecimento da URSS, quanto mais atentamente observarmos as consequências dessa derrota.
Como disse Marx, nós, comunistas, somos materialistas práticos. Assim sendo, façamos, então, a comparação entre o mundo no tempo em que existia a URSS e a comunidade socialista do Leste da Europa, e o mundo de hoje.
Se o fizermos, facilmente constataremos que o mundo é, hoje, menos livre, menos democrático, menos justo, menos fraterno, menos solidário, menos pacífico; facilmente constataremos que o objectivo imperialista de domínio do mundo tem conduzido a trágicos recuos civilizacionais; ao empobrecimento crescente da democracia; a perigosas limitações das liberdades fundamentais; à acentuação da exploração dos trabalhadores; a ataques brutais à soberania e à independência dos povos conduzindo a novas formas de colonialismo; a guerras de ocupação à custa de milhões de vidas humanas – tudo isto camuflado por uma intensa ofensiva ideológica de diabolização do comunismo e de santificação do capitalismo; tudo isto acompanhado por uma gigantesca lavagem de cérebros à escala planetária, procurando inculcar nas pessoas a aceitação do mau como bom; a aceitação dos interesses do grande capital como inevitabilidades; a aceitação do regresso a formas de opressão e de exploração de tipo esclavagista como sendo modernidade.
(…) Estas consequências extremamente negativas das derrotas do socialismo e do desaparecimento da URSS, são a demonstração da importância do socialismo e constituem a confirmação plena de que o futuro da humanidade não está no capitalismo, mas sim no socialismo, no socialismo que a Revolução de Outubro nos mostrou ser possível.
Outra consequência trágica dessa derrota foi a sua repercussão no movimento comunista internacional. Muitos partidos comunistas cederam à ofensiva ideológica do capitalismo, aceitaram as teses dos ideólogos do capitalismo sobre o comunismo, sobre a Revolução de Outubro, sobre o papel e as características dos partidos comunistas. Houve partidos comunistas que, pura e simplesmente, desapareceram; outros que mudaram de nome e com o nome mudaram a sua essência; outros, ainda, que mantiveram o nome mas deitaram fora a sua essência.
(…) Mas também é verdade – e esse é um dado da maior importância - que muitos partidos comunistas rejeitaram essa ofensiva e enfrentaram-na com determinação revolucionária, superando muitas e muitas dificuldades, muitos e muitos obstáculos, e mantendo-se comunistas, de facto.
Entre estes, está o nosso Partido Comunista Português – que logo em 1990, quando a derrota do socialismo se apresentava imparável, espalhando desânimos e desilusões, desistências e fugas, realizou um Congresso Extraordinário, cuja conclusão essencial, a meu ver, ficou dita numa frase lapidar: «Fomos, somos e seremos comunistas».

O tempo é de luta

(…) É, então, nesta visão da Revolução de Outubro que radica a intervenção do nosso Partido quer no plano internacional, quer no plano nacional, onde nos afirmamos como a principal força política de combate à política de direita e por uma alternativa de esquerda – tendo sempre o socialismo no horizonte. E também nesse aspecto, é importante sublinhar o papel do PCP e dos militantes comunistas na luta de todos os dias, procurando mobilizar os trabalhadores, as populações, os agricultores, as mulheres, os estudantes, para a intervenção na defesa dos seus interesses e direitos –
e, através dos seus militantes no movimento sindical unitário, conseguindo levar por diante importantes jornadas de luta como as que se realizaram no decorrer deste ano; e, através da sua força organizada, erguendo importantes iniciativas partidárias, como as Marchas «Liberdade e Democracia» e «Protesto, Confiança e Luta»; e, através da acção do seu grande colectivo partidário, conseguindo superar com êxito o pesado desafio que foi o recente ciclo eleitoral – um êxito tanto mais assinalável quanto se trata de eleições realizadas neste faz-de-conta-democrático de que vive a democracia burguesa, em que a vitória de um dos partidos do sistema está sempre previamente assegurada – e em que, quando eles pensam que podem perder, decidem que não há eleições para ninguém, como fizeram com a proibição da realização de referendos sobre o Tratado Porreiro, pá.
Passado este intenso período eleitoral, coloca-se-nos a necessidade imperiosa e urgente de reforçar o Partido – reforçá-lo nos planos interventivo, orgânico e ideológico, levando por diante, colectivamente, as orientações e linhas de trabalho que, colectivamente, definimos no nosso XVIII Congresso.
(…) O tempo é de luta, de luta por objectivos a curto e médio prazo, mas não só: é uma luta que, no seu dia-a-dia, deverá ter sempre presente e incorporar nos seus objectivos o objectivo maior do Partido: a construção no nosso País de uma sociedade socialista.
O momento que vivemos, camaradas, é difícil, muito difícil, quer no plano internacional quer no plano nacional – e a raiz essencial destas dificuldades situa-se na profunda alteração da correlação de forças ocorrida na sequência do desaparecimento da União Soviética e da comunidade socialista do Leste da Europa. Mas é um facto que, ao longo destes quase vinte anos, temos vindo a superar muitas das dificuldades existentes; é um facto que, no túnel aparentemente sem qualquer sinal de luz ao fundo que se seguiu a essa tragédia, começaram entretanto a surgir sinais de luz, que o mesmo é dizer sinais de luta, de confiança, de convicção – sinais que trazem consigo os valores e os ideais da Revolução de Outubro e, por isso, são sinais de futuro.

Ideais vivos e actuais

Em todo o mundo, milhões de pessoas prosseguem, hoje, a luta por esses valores e ideais; uma luta que se desenrola em múltiplas frentes e com múltiplos objectivos, mas na qual está sempre presente o sonho milenar de uma sociedade livre, justa, pacífica, solidária e fraterna; uma luta sem dúvida travada em condições muito mais difíceis e complexas do que as existentes quando os trabalhadores e os povos tinham na solidariedade e no apoio da União Soviética um aliado permanente, e quando o imperialismo não dispunha da força e da impunidade de que hoje dispõe – mas, por tudo isso e por isso mesmo, uma luta para travar com a consciência plena dessas dificuldades e, em simultâneo, com a convicção própria de quem sabe que está a bater-se pela mais bela, pela mais justa, pela mais humana de todas as causas.
Todos os dias a vida nos dá exemplos concretos não apenas da necessidade de prosseguir a luta anti-imperialista, mas da possibilidade real de suster a ofensiva do imperialismo e de, em muitos casos, a derrotar e dar novos passos em frente. Confirmam-no, nomeadamente, a situação e os resultados das lutas dos trabalhadores e dos povos de todo o mundo (…) cada uma com as suas características próprias, lembram, todas, que a Revolução de Outubro foi o primeiro grande passo da mais humana e mais progressista experiência alguma vez tentada e que a derrota dessa experiência não foi a derrota dos ideais que a sustentaram, os quais, 92 anos depois, permanecem vivos e actuais – a mostrar, todos os dias, que não é ao capitalismo mas ao comunismo que o futuro pertence. (...)

Os títulos e subtítulos são da responsabilidade da Redacção
Avante 2009.11.12
.
.

terça-feira, agosto 11, 2009

Chora, Pinho e a Luta de Classes

O bons espíritos encontram-se sempre

O ex-ministro Manuel Pinho foi alvo de mais uma homenagem – desta vez por iniciativa de uma centena de empresários que louvaram os excelentes serviços por ele prestados enquanto sobraçou a pasta da Economia.
.
Esta foi a segunda homenagem a Manuel Pinho, desde que este, por razões de todos conhecidas, se demitiu do cargo de ministro – sendo a primeira um também muito falado jantar que contou com a presença, o brinde e o verbo de António Chora – dirigente do BE, presidente da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa e apontado, pela generalidade dos analistas com lugar cativo nos média dominantes, como expoente máximo do sindicalismo moderno.
.
Trata-se de duas homenagens que não apenas espelham a abrangência social da obra do ex-ministro Pinho, mas definem um novo conceito de relações laborais – e que confirmam, também, que como diz o poeta «isto anda tudo ligado».
.
Como é sabido, a luta de classes/versão Chora atingiu a sua expressão mais eloquente nesse momento histórico que foi o brinde do Solar dos Presuntos.
.
Ali se confirmou de forma inequívoca que, como dizem e escrevem os ideólogos do sistema dominante, a luta de classes da cartilha marxista-leninista é coisa ultrapassada e que o que está a dar é a ideia da inexistência de ideologias, portanto de classes, portanto de luta das ditas.
Ali, a dupla Chora/Pinho (ou Pinho/Chora: a ordem dos factores é arbitrária), ao protagonizar a notável representação, formato-brinde, de uma harmonização capital/trabalho plena de modernidade, exibiu o anverso de uma moeda, cujo reverso foi agora representado, em Ovar, pela dupla empresários/Pinho (ou Pinho/Empresários: a ordem dos factores é arbitrária).
.
Os empresários não estiveram, fisicamente, no Solar dos Presuntos – onde Chora disse que Pinho «enquanto ministro fez muito pela indústria do País».
.
Chora não esteve, fisicamente, em Ovar – onde os empresários disseram que Pinho «fez um bom trabalho enquanto ministro».
.
Mas Pinho/Chora/empresários estiveram, de facto, qual tríade de classe, em ambas as homenagens. A confirmar que os bons espíritos encontram-se sempre…

domingo, junho 07, 2009

Europeias - Critérios pragmáticos e jornalísticos

Critérios pragmáticos




José Casanova

José Casanova
São simples e pragmáticos os critérios adoptados pela comunicação social dominante no tratamento da campanha eleitoral: valorização de todas as forças políticas que, directa ou indirectamente, poderão contribuir para o prosseguimento da política de direita e desvalorização da única força que se opõe frontalmente a essa política e se afirma, de forma inequivoca, como componente indispensável da alternativa necessária.
.
Ou seja: faz-se a propaganda aos amigalhaços do PS, PSD, CDS/PP e BE e manipula-se toda a informação que diz respeito à CDU.
.
E é esta separação das águas – de um lado os outros todos, do outro lado a CDU - que, todos os dias, vemos, ouvimos e lemos nesses média dominantes a marcar o passo, o compasso e o conteúdo da cobertura da campanha.
.
Em primeiro lugar, criando uma bipolarização PS/PSD, fingindo que se trata de partidos com objectivos e políticas diferentes tanto na Europa como em Portugal - mas sabendo que ganhar um ou outro tanto faz.
.
Segue-se a natural promoção do CDS/PP – que é da família, ocupa por direito próprio a velha casa da direita e mais tarde ou mais cedo o PS ou o PSD vão precisar dele.
.
Depois, é o BE, com a importante tarefa de procurar atrair a si votos de eleitores do PS descontentes com a política do Governo de José Sócrates e impedir que esses votos vão, como seria natural, para a CDU - única força que esses descontentes viram a seu lado, lutando contra as consequências nefastas da política do Governo, todos os dias e em todos os locais.
.
Aliás, o BE tem todas as características para desempenhar tal tarefa: aquela pose de «esquerda radical» que ostenta e que os média do grande capital tanto aplaudem, vai mesmo a matar para captar descontentamentos à esquerda; e aquela postura anticomunista radical é selo de garantia para o grande capital e, portanto, para os seus empregados nos média dominantes – e essa função do BE é todos os dias sublinhada e enaltecida por esses média - nos comentários, análises, notícias e, até, em legendas de fotografias...
.
O que é preciso – pensam, dizem e sonham eles todos - é impedir que o voto desses descontentes vá para a CDU – porque, assim sendo, esse voto vai dar mais força à luta contra a política de direita.
.
O que é preciso - continuam a pensar, a dizer e a sonhar eles todos - é que o voto desses descontentes vá para o BE – porque, se assim for, é voto que fica em casa...
.
Daí os carinhos maternais com que a campanha do BE é tratada pela comunicação social propriedade do grande capital.
.
Daí os tratos de polé a que é submetida a campanha da CDU.
.
Tudo isto a confirmar que o voto na CDU é o voto que o grande capital e os seus partidos mais temem.
.
Tudo isto a confirmar que o voto na CDU é o único voto certo para todos os que estão descontentes com a política do Governo e anseiam por uma política virada para a resolução dos seus muitos e graves problemas.
.
Tudo isto a confirmar, também, que no dia 7, contados os votos e seja qual for o resultado da contagem, para a CDU e para os seus apoiantes, a luta continua. Logo no dia seguinte.
.
.

sexta-feira, agosto 03, 2007


Fugiu-lhe a boca para a verdade
.
* José Casanova
.
Dizem-me que, há dias, numa estação de rádio, o primeiro-ministro procedeu a um rasgado elogio aos méritos do seu governo e da política por ele praticada. Até aqui, nada de novo: o cultivo do auto elogio é, para José Sócrates, o pão dele de cada dia (sendo certo, também, que quanto mais o exercita mais deixa transparecer o seu pendor arrogante, autoritário e prepotente). José Sócrates sabe, por experiência própria e por experiências de outros, que a repetida repetição de uma mentira faz com que a dita seja aceite por muita gente como verdade. Um exemplo: quando este governo iniciou a sua prestação – pondo em prática a política mais à direita e mais anti Abril de sempre – os analistas políticos de serviço aos interesses do grande capital começaram todos a louvar, em coro síncrono, aquilo a que chamavam «a coragem de José Sócrates» - expressão que, à força de difundida todos os dias em todos os média propriedade do grande capital, se infiltrou na linguagem corrente e cedo passou de opinião muitas vezes publicada a opinião pública. Sobre o conteúdo dessa coragem nada foi dito: tratava-se de uma abstracção, já que tal coragem tinha a ver com o facto de o corajoso primeiro-ministro, intérprete fidelíssimo dos desejos e anseios dos chefes dos grandes grupos económicos e financeiros, estar a dar andamento a uma brutal ofensiva contra tudo o que de mais importante resta da revolução Abril, aí incluídos o conteúdo democrático do regime, os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores e dos cidadãos e muitos outros direitos consagrados na Constituição.
.
Mas voltemos à acima referida operação propagandística do primeiro-ministro aos microfones de uma estação de rádio. Disse ele, a dada altura do seu caudaloso discurso que, em consequência da política que está a praticar (referia-se, certamente, ao desemprego, à precariedade, à liquidação do serviço nacional de saúde, ao aumento das injustiças sociais, à existência de ricos cada vez mais ricos e de pobres cada vez mais pobres, etc, etc.), disse ele, José Sócrates, para quem o quis ouvir: «Portugal será um país mais justo, mais pobre…» - aqui chegado, assaltou-o um sobressalto de verdade... Não consta que tenha corado. Nem se atrapalhou. Após breve pausa, com o à vontade com que usa dizer, não a verdade mas o que lhe convém em cada momento, acrescentou: «perdão, mais solidário». E, perdoando-se, foi-se embora, todo satisfeito.
.
Artigo publicado na Edição Nº1747 - Avante 2007.05.24
.
O facto passou-se mesmo. Talvez ainda esteja em consulta pública
Realces de VN

domingo, julho 15, 2007


Sinais inquietantes

* Jorge Cordeiro


Para os que, perante os casos recém ocorridos de saneamentos políticos, se inquietavam sobre o que significariam de limitações à liberdade de expressão, em sossego poderão ficar. Carmen Pignatelli, Secretária de Estado da Saúde, veio pôr em nome do Governo tranquilidade no que em matéria de liberdades diz respeito: de acordo com a criatura, e julga-se que em nome do governo e da sua doutrina, a liberdade de expressão é um direito acima de qualquer suspeita desde que «exercida em casa» ou, registe-se a generosidade democrática, «à mesa do café».


Generosidade tão mais assinalável quanto não condicionada a um número máximo de pessoas por mesa de café, nem qualquer restrição ao tom de voz ou conteúdos em que o exercício critico ao governo é permitido, o que por si só responde a todas as malévolas acusações de intolerância democrática que por aí já se desenvolviam.


A polarização nos casos Charrua e do centro de saúde do Vieira do Minho, estão longe de ser a única, e mais inquietante, expressão em matéria de liberdades públicas. Graves sem dúvida, eles poderão ter tido uma visibilidade acrescida decorrente da disputa entre os partidos do bloco central pelo controlo da administração pública. Donde se deva dar o desconto devido à exuberância com que o PSD e Marques Mendes vieram pôr na defesa dos valores democráticos.


Os sinais de um real empobrecimento democrático e de limitação às liberdades estão perigosa e mais silenciosamente presentes em outros muitos outros campos da vida política e social do país. Sobretudo no clima de absoluta impunidade que nas empresas, com a conivência do governo, a liberdade sindical e os direitos individuais dos trabalhadores estão limitados ou banidos não apenas pela coacção sobre o emprego mas pela acção repressiva e intimidatória.


As liberdades e a afirmação do seu exercício são inseparáveis das opções políticas e económicas dominantes. O empobrecimento da democracia económica e social (e a sua expressão no ataque a direitos) tem nas limitações à democracia política (e em particular na limitação de liberdades) a sua consequência natural. Pelo que as liberdades se defendem exercendo-as e lutando contra as políticas de direita.


in Avante 2007.07.12


Profissão: bufo

* José Casanova


Estou em crer que Sócrates já cumpriu a promessa de criar 150 mil novos postos de trabalho. E se estou em crer bem, a não publicitação do êxito deve-se ao facto de estes novos profissionais pertencerem a uma categoria ainda não oficializada publicamente. Com efeito, a designação profissão: bufo não é, ainda, parte explícita do currículo dos muitos e muitas que à dita profissão se entregam de corpo e alma. Mas lá chegará: a política de direita, ao serviço da qual os bufos bufam, disso se encarregará.


Bufo, não é profissão agora nascida por efeito do sopro de modernidade que percorre Portugal. No tempo do fascismo, dezenas de milhares de bufos faziam chegar a quem de direito o relato pormenorizado de acções, palavras, ditos, intenções, pensamentos… de colegas de trabalho, de conhecidos de vista e de café, de vizinhos, até de familiares - por que não?: era a Pátria que estava em causa e o Chefe não se cansava de alertar para os mui perigosos perigos que sobre ela pesavam, de entre os quais avultava, como ele amiúde sibilava, «o sinistro evangelho marxista-leninista». E tão importante era essa prática, que o regime defendia a identidade dos bufos, atribuindo a cada um deles um nome de código.


Eram assim, então, os bufos do fascismo.


E como são os bufos de hoje, seus descendentes e continuadores? Esclareça-se, em primeiro lugar, que não nasceram com este Governo: são filhos da política de direita iniciada por Soares e prosseguida, de então para cá, por todos os governos - de Cavaco a Barroso, de Guterres a Sócrates. De resto, são bufos... e, como tal, bufam o que for necessário sobre quem for necessário. Igualmente devotados à Pátria, em tudo imitam a actuação dos seus antepassados e, como eles, estão disponíveis para: o que for preciso, V.Exa. manda. E esperam: pela recompensa.


A diferença entre os bufos do fascismo e os da política de direita é que estes, em muitos casos, ostentam a sua condição de bufos, vêm a público anunciar-se a bem da nação.


Da obra da política de direita, o bufo emerge como produto acabado. E é jóia da coroa e imagem de marca do Governo de Sócrates.


in Avante 2007.07.12


NOTA - Ele há coincidências ! Lembro-me de na altura, sendo Marcelo Caetano Presidente do Conselho de Ministros, Gonçalves Rapazote, feroz «inquisidor» então Ministro do Interior e responsável pela «censura» ou «visto prévio», afirmar que ninguém era preso pelo que dizia mas sim pelo que fazia ! Mas entretantro ia pondo escritores no Livro Negro e Livros «fora do mercado» e «cortando» as notícias nos órgãos de informação! Hoje, a CENSURA é mais «refinada», como daremos contas noutro post.

VN

sábado, junho 09, 2007







Tenham paciência


* José Casanova

Havia quem opinasse que, na apreciação à Greve Geral, os rapazes BE não dariam o passo de, publicamente, alinhar com o poder dominante. Quem assim opinava, alvitrava que, nesta situação concreta, os referidos boys manteriam a habitual postura de tapar a careca (desta vez com um véu de silêncio). Quem tal dizia, argumentava que os rapazes, apesar dos inegáveis esforços até aqui desenvolvidos e da mestria revelada na arte de esconder o que são e fingir o que não são, ainda não cumpriram plenamente as tarefas que lhes estão destinadas, as quais, cumpridas, quiçá lhes abrirão as portas de acesso a merecidos cargos governamentais.

Mas a verdade é que o êxito da jornada de luta de 30 de Maio – a maior e mais forte acção de massas contra o actual governo - colocava exigências imperativas: para o Governo, a Greve Geral tinha que ter sido um fracasso. E para o demonstrar, foram utilizados todos os trunfos disponíveis: catadupas de ministros e secretários de Estado a desfilarem pelas têvês; os média em peso (mais o coro afinado dos respectivos fazedores de opinião); enfim, a tropa de choque dos grandes momentos – todos repetindo-se e repetindo a cassette gasta e roufenha destas ocasiões.

Ora, tal estado de alerta há-de ter levado os rapazes BE a pensar que se lhes pedia um passo em frente. E deram-no: Miguel Portas e outros seus pares, no decorrer da Convenção do BE, juntaram-se ao coro de propagandistas do Governo. Mais do que isso: aproveitaram os ventos favoráveis e avançaram nas provocações contra o PCP e a CGTP, o que muito há-de ter agradado aos que tudo fazem para acabar com esse mau exemplo que é a existência em Portugal de uma verdadeira central sindical – verdadeira porque, sendo democrática, unitária, de massas e de classe, existe para defender, e defende de facto, os direitos e interesses dos trabalhadores.

E tamanha era a euforia que os rapazes nem se aperceberam que, ouvindo-os, muitos cidadãos haveriam de concluir que eles estavam, afinal, a reconhecer publicamente que nada fizeram para que a Greve Geral fosse um êxito; que, nos casos em que disseram apoiá-la, o fizeram apenas para não perder o comboio; e que, apesar disso, a Greve Geral foi um êxito dos trabalhadores e da CGTP.

Custa-lhes, enerva-os e irrita-os o êxito da Greve Geral e a constatação da certeza de que a luta dos trabalhadores vai continuar mais ampla e mais forte? Tenham paciência: é assim mesmo que vai ser.

A luta não espera por Proença

* Anabela Fino

«Sentimos novamente a pobreza e a exclusão»; o combate ao défice público «tem sido feito à custa dos salários e das pensões»; reina o «caos» na Administração Pública; «não é aceitável a política do quero, posso e mando!»

Bem prega Frei Tomás, ou no caso vertente João Proença, líder da UGT, ex-dirigente nacional e deputado do PS, com passagem por vários gabinetes ministeriais e hoje como sempre militante socialista.

Quem o ouviu no 1.º de Maio, pregando aos cerca de mil manifestantes (mil manifestantes mil) que segundo o DN responderam à chamada da UGT para as comemorações do Dia do Trabalhador, quem o ouviu, dizia, é capaz de ter pensado que a organização se distanciava das estratégias político-partidárias do Governo PS e erguia a bandeira da luta contra o «aumento do desemprego, da precariedade no trabalho e das desigualdades sociais» que, de acordo com o próprio Proença, o executivo Sócrates está a implementar.

Dias depois, no encerramento do Congresso do CDS-PP, a 20 de Maio, Proença voltava ao ataque dizendo que «houve perdas de salários», e alertando para o facto de Portugal ser o «país da União Europeia com maior desigualdade social».

É desta, pensaram os crédulos, antevendo a entrada da UGT na luta geral dos trabalhadores por uma mudança de rumo na política nacional. Qual quê! Quem acreditou nisso não leu certamente a entrevista de Proença ao CM (13.05.07), onde o intrépido sindicalista opina que ainda não é tempo de os trabalhadores da UGT fazerem greve, aconselha os trabalhadores a esperar pelo momento certo para protestar, e aponta como eventual razão para uma greve geral a próxima revisão do Código de Trabalho, o qual, se bem nos lembramos, lhe mereceu o aplauso.

Não é pois de estranhar que Proença tenha vindo a público acusar a CGTP de «arrogância» e asseverar que a greve de 30 de Maio não foi geral «porque não foi declarada pela UGT, nem pela maioria dos sindicatos independentes».

Se se tiver em consideração que a única vez que a UGT aderiu a uma greve geral foi em 1988 – também classificada com um «fracasso» pelo então primeiro-ministro Cavaco Silva – bem pode Sócrates dormir descansado. Se os trabalhadores estivessem à espera «do momento certo para protestar», segundo a UGT, bem podiam esperar sentados. Talvez seja por isso que apenas mil foram ouvir Proença no 1.º de Maio, enquanto dezenas de milhares desfilavam ao som de luta da CGTP.

Avante 2007.06.06

quinta-feira, maio 03, 2007


A pergunta que fica





«A Universidade de Goa decidiu atribuir a Cavaco Silva o Doutoramento honoris causa em Literatura». Não havendo razões para duvidar da veracidade da notícia – ela foi divulgada por todos os média sem que tenha havido qualquer desmentido e até há imagens que nos mostram o laureado com o canudo na mão – há razões, e muitas, para estupefacção pela ocorrência. Doutor em Literatura? Literatura quê? Portuguesa?: mas se o próprio confessou, aqui há uns anos, o seu alheamento nessa matéria, garantindo-nos, mesmo, que nem se lembrava de quantos cantos têm os Lusíadas!… Literatura europeia?: só se for isso: aí, soubemos pelo mesmo próprio mais ou menos na mesma altura, que tinha lido, uma vez, um-livro-um: «A Utopia, de Thomas Mann» (ou terá sido «A Montanha Mágica, de Tomás Morus»?).

Em todo o caso, lida a notícia até ao fim e bem vistas as coisas, o que fica para a história não é tanto o Doutoramento em Literatura com que a Universidade de Goa, ela lá saberá porquê, decidiu honrar Cavaco Silva, mas essencialmente o discurso de agradecimento por ele produzido após o recebimento do canudo. E se do facto de Cavaco Silva ter passado a ser Doutor em Literatura nenhum mal vem ao mundo, já não se pode dizer o mesmo do dito discurso. Com efeito, dizem-nos, «Cavaco Silva aproveitou para defender ‘as ideias modernas que adquiriram uma palavra na Europa’» - com isto estando a referir-se à palavra do momento, à palavra que, por si só, expressa a mais importante de todas ‘as ideias modernas’ dos tempos actuais: flexigurança (escrevem uns); flexi-segurança (escrevem outros), uns e outros sabendo que estão a dizer o mesmo, uns e outros traduzindo para que não restem dúvidas: «maior flexibilidade nas relações laborais facilitando os despedimentos, as contratações e a mobilidade» que o mesmo é dizer: dar luz verde ao grande capital para despedir quem muito bem quiser quando muito bem quiser.

Cavaco Silva manifestou-se, então, «adepto da flexigurança» - «um conceito novo», na sua opinião. E o Governo de José Sócrates «vê com agrado» a declaração de Cavaco Silva. E a pergunta que fica é esta: se o Presidente da República tem o dever, jurado em tomada de posse, de cumprir e fazer cumprir a Constituição, como é possível manifestar-se a favor dos despedimentos sem justa causa que violam a Lei Fundamental do País?

Artigo publicado na Edição Nº1729 AVANTE

segunda-feira, abril 23, 2007


Uma fuga rumo à vitória

Uma fuga rumo à vitória

As fugas, individuais ou colectivas, das prisões fascistas constituem momentos marcantes da resistência dos comunistas portugueses ao regime salazarista. Todas elas são exemplos quer da criatividade e da coragem dos militantes comunistas que as protagonizaram, quer do seu apego à luta contra o fascismo, pela liberdade, pela democracia, pelo socialismo – já que os que fugiam, faziam-no tendo como objectivo primeiro prosseguir a luta nas fileiras do Partido.

A generalidade dessas fugas mostra, igualmente, a existência da organização do Partido dentro das prisões fascistas e a sua estreita ligação à organização e à luta do Partido no exterior. É significativo que parte das fugas tenha sido preparada e concretizada a partir dessa ligação entre a organização prisional e os que, na clandestinidade e na «legalidade», asseguravam a intervenção constante do Partido no combate ao fascismo.
Assim aconteceu com a fuga de Peniche, ocorrida em 3 de Janeiro de 1960: ao fim da tarde desse dia, um carro com a tampa da mala levantada para em frente do Forte, confirmando que, no exterior, tudo estava a postos; dentro do Forte, os presos dão início à operação: dominam um carcereiro com um narcótico e, sob o capote de uma sentinela que integrava a organização da fuga, transpõem, um a um, uma parte mais exposta do percurso; descem, por uma árvore, a um piso inferior e escondem-se numa guarita donde descem, através de uma corda, para o fosso exterior do Forte, após o que, escalado o muro que os separava da praça fronteira, chegam aos automóveis que os aguardavam e que partem a toda a velocidade, transportando-os para locais seguros previamente determinados.

Por detrás desta fuga, aparentemente fácil e simples, estavam vários meses de cuidada planificação, de preparação pormenorizada, de coordenação exemplar entre a acção do Partido no interior e no exterior do Forte, de disciplina rigorosa e de secretismo total no cumprimento das múltiplas tarefas exigidas – para além, naturalmente, da criatividade, da determinação, da coragem de todos os seus protagonistas.

Tratou-se de uma das mais importantes evasões da história da resistência ao fascismo. Por três razões essenciais: porque o Forte de Peniche era, então, a mais segura de todas as prisões fascistas; porque se tratou da fuga de um numeroso grupo de destacados dirigentes e quadros do Partido - Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Jaime Serra, Carlos Costa, Francisco Miguel, Pedro Soares, Rogério de Carvalho, Guilherme Carvalho, José Carlos e Francisco Martins Rodrigues (que poucos anos depois seria afastado do PCP); e porque ela viria a ter consequências marcantes no reforço do trabalho de direcção, das orientações políticas e da capacidade de intervenção do Partido.

Com efeito, logo nesse ano de 1960 iniciou-se no colectivo partidário um profundo e amplo debate em torno de questões envolvendo a política de quadros e a defesa do Partido; o trabalho de direcção e organização; e problemas fundamentais de táctica e orientação política e de massas do Partido. E cerca de um ano após a fuga, o Comité Central - numa reunião no decorrer da qual elegeu Álvaro Cunhal secretário-geral do PCP – procedeu a uma profunda análise ao trabalho de direcção central dos anos anteriores, submetendo a uma severa crítica e à respectiva correcção o desvio de direita que se vinha verificando em vários campos da actuação do Partido.

Desse amplo debate – que prosseguiria até meados da década de 60 e envolveria, para além do colectivo partidário, amplos sectores do campo democrático - ficam, como património teórico do colectivo partidário, importantes documentos da autoria de Álvaro Cunhal – na primeira fase, «O Desvio de Direita no Partido Comunista Português nos Anos de 1956-1959» e «A Tendência Anarco-Liberal na Organização do Trabalho de Direcção»; e, posteriormente, o relatório apresentado por Álvaro Cunhal ao Comité Central em Março de 1964: «Rumo à Vitória» - que, procedendo a uma caracterização rigorosa da ditadura fascista e da definição da via para o seu derrubamento, constituiu um contributo decisivo para a elaboração do Programa do PCP aprovado, no ano seguinte, pelo VI Congresso do Partido.

Artigo publicado na Edição Nº1727 2007.01.04

Os primeiros comunistas presos


O Partido na História


É sabido que os militantes comunistas foram os alvos preferenciais da repressão ao longo dos quase cinquenta anos de ditadura fascista. Eram membros do PCP a imensa maioria dos presos que passaram pelos cárceres fascistas e, aí, foram os mais torturados, os que sofreram as penas mais pesadas e sobre os quais recaíram as mais trágicas consequências - em muitos casos a perda das vidas.

Sublinhe-se, no entanto, que a perseguição, prisão, deportação e assassinato de comunistas começou ainda no tempo da 1ª República. A implantação da República, em 1910, dando um forte impulso à intervenção popular na vida política e social – e contribuindo para um rápido e impetuoso desenvolvimento do movimento operário, sindical e associativo – permitiu um vasto conjunto de importantes conquistas políticas, sociais, civilizacionais, para os trabalhadores, o povo e o País. Todavia, os sucessivos governos republicanos cedo deixaram de corresponder às esperanças, ao entusiasmo e ao apoio das massas trabalhadoras – e sucederam-se as acções repressivas contra os movimentos grevistas de protesto operário e contra as iniciativas de carácter progressista. No plano laboral, as medidas positivas aprovadas não eram respeitadas pelo patronato e os governos republicanos, em vez de fazerem cumprir as leis, tomavam medidas repressivas contra os trabalhadores que exigiam o seu cumprimento.

Com a fundação do Partido Comunista Português, em 6 de Março de 1921 - e, logo a seguir, das Juventudes Comunistas - é dado um forte impulso à consciencialização e desenvolvimento político das massas trabalhadoras. Uma das mais importantes frentes de acção dos comunistas é a sua luta dentro das organizações operárias sindicais, dando uma justa orientação à luta dos trabalhadores e incentivando a adesão do movimento sindical português à Internacional Sindical Vermelha.

Não surpreende, assim, que a acção repressiva dos governos republicanos passasse a incidir, desde logo, essencialmente, sobre os militantes do PCP.
O registo das primeiras prisões de militantes comunistas remonta ao dia 1 de Setembro de 1921. Nesse dia, os jovens comunistas portugueses – em comemoração do Dia Mundial da Juventude Comunista - promovem uma campanha de agitação com afixação de cartazes nas ruas e nas fábricas de Lisboa. São presos doze dos jovens comunistas que integravam as brigadas de agitação: Armando dos Santos, Armando Ramos, Guilherme de Castro, Joaquim José Godinho, Joaquim Rodrigues, Jorge da Silva Pinheiro, José Madeira Rodrigues, Manuel da Silva Costa, Manuel Francisco Roque Júnior, Sebastião Lourenço – estes encarcerados na Cadeia do Limoeiro – e José de Sousa (Coelho) e Matias José Sequeira – que foram enviados para o Forte de São Julião da Barra. Estes doze jovens viriam a ser libertados na sequência da insurreição militar de 19 de Outubro desse mesmo ano.

Outra referência a comunistas presos surge por ocasião do I Congresso do PCP realizado em 10 e 11 de Novembro de 1923, em Lisboa: os 118 delegados ao Congresso - representando 33 comunas (era esta a designação dada, então, às organizações partidárias) de Lisboa, Porto, Coimbra, Évora, São Mancos, Beja, Tomar, Torres Novas, Amadora e Barcarena – debateram, nomeadamente, a repressão desencadeada pelo governo republicano contra os militantes operários e sindicais e expressaram a sua solidariedade para com «os militantes comunistas e sindicais presos» - muitos dos quais haviam enviado saudações ao Congresso.

O último registo conhecido de prisões (e, no caso concreto, também de deportações – as primeiras de que há notícia) de membros do PCP no tempo da 1ª República é de 1925: em Junho desse ano são deportados para a Guiné, sem julgamento, os militantes comunistas Alexandre José dos Santos, Fausto Teixeira, Ferreira da Silva e Manuel Tavares. Este último, barbeiro de profissão, era membro do Secretariado da Comuna Nº 1 «Tibério Graco», do Beato e Olivais (Lisboa) e viria a morrer, após dois meses de deportação, vítima dos rigores do clima tropical e da falta de assistência médica. Terá sido, muito provavelmente, o primeiro de uma longa lista de militantes comunistas assassinados nas prisões.


Artigo publicado na Edição Nº1731 2007.02.01
Uma folha de papel, um lápis…


O Partido na História


A repressão, sob as mais diversas formas, da actividade do PCP é uma constante ao longo dos tempos por parte da classe dominante e, naturalmente, assumiu a sua expressão mais brutal no decorrer do quase meio século que durou a ditadura fascista de Salazar e Caetano.

A imensa maioria das dezenas de milhares de homens e mulheres que passaram pelas prisões fascistas era composta por militantes do PCP.

Integrados nas suas organizações prisionais e iludindo a vigilância dos carcereiros, os presos comunistas mantinham o contacto com o Partido no exterior, estudavam, preparavam-se para a luta futura – resistiam. Foi nessa linha de resistência que, durante muito tempo, produziram pequenos jornais, manuscritos, que distribuíam entre si e de que são exemplos: «O Trabalho – Dos comunistas em reclusão na Penitenciária (de Lisboa)»; «Boletim Inter-Prisional - Órgão dos presos comunistas do Aljube»; «Potenkin – Órgão dos presos comunistas ex-marinheiros (Peniche)»; «Boletim Inter-Prisional – Órgão da célula comunista da Fortaleza de Peniche»; «Pavel – Órgão teórico dos jovens comunistas presos em Peniche»; «O Condenado Vermelho – Órgão das células comunistas de Monsanto»; «O Fogo – Revista teórica da célula comunista da Fortaleza de Peniche»; «Carril Vermelho – Órgão dos presos comunistas da CARRIS (Aljube)»; «Frente Vermelha – Boletim Prisional de Angra do Heroísmo»; «UHP – Órgão comunista prisional (Número comemorativo da Revolução Russa)»

O escritor francês Henri Barbusse num editorial publicado na revista Monde (12 de Abril de 1935) e intitulado «Testemunhos de grandeza revolucionária» escreve sobre esses jornais e o seu significado: «Portugal… País de arvoredo policromado, de vinhedos e de canções… País de padres, e de camponeses esfomeados; de grandes lavradores e de desempregados… País que, há nove anos, a mão mortífera de um ditador fascista, estrangula… Mas o cristianíssimo ódio de Salazar não consegue amordaçar este país que, um dia, será de novo um jardim da cultura humana. Expulsa da luz do dia, sussurrando nos bairros proletários das cidades e nos casebres dos camponeses, elevando-se acusadora perante juízes ignóbeis, gemendo sob a tortura dos carcereiros, a verdade do futuro vive em Portugal.

Imaginem estes presos políticos que, arriscando a sua liberdade, a sua saúde e as suas vidas, levantaram o estandarte do combate e, estiolando durante anos inteiros na noite esgotante das enxovias medievais, separados do mundo exterior por uma parede de chumbo, continuam a luta, solidários com os seus irmãos em liberdade. Uma folha de papel, um lápis, uma pena – que dificuldades para obtê-los – mas eles encontram estes instrumentos de trabalho e escrevem.

E não são soluços de seres desfalecidos; não são gritos de desespero: os presos políticos de Portugal editam em plena prisão, escritos pelos seus próprios punhos, jornais de combate. «Jornais escritos por comunistas, para comunistas» se intitulam estes jornais que, ao preço de mil perigos, circulam de cela em cela, de prisão em prisão. A descoberta do autor de um desses jornais – e não é fácil negar-se o que é escrito pelo próprio punho – significa um prolongamento da pena por meses ou anos.

A luta dos presos políticos revolucionários nos diferentes países reveste, sem dúvida, formas múltiplas e é rica de exemplos de heroísmo. Contudo, estes jornais dos presos portugueses constituem documentos únicos na história do movimento revolucionário.»


Artigo publicado na Edição Nº1733 2007.02.15