A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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sexta-feira, novembro 19, 2010

Milhares de documentos confirmam apoio dos EUA ao golpe de Pinochet


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Museu da Memória no Chile tem novos dados no seu arquivo
 
18.11.2010 - 18:22 Por Isabel Gorjão Santos
O apoio norte-americano ao golpe militar que derrubou o Presidente chileno Salvador Allende, a 11 de Setembro de 1973, não é um tema inédito, mas agora há dados novos. O Museu da Memória e dos Direitos Humanos em Santiago do Chile acaba de receber mais de 20.000 documentos desclassificados que trazem novas informações sobre o envolvimento dos EUA no golpe que deu início à ditadura de Pinochet.
Pinochet derrubou Allende em 1973 e ficou no poder até 1990  
Pinochet derrubou Allende em 1973 e ficou no poder até 1990 (Claudia Daut/Reuters)
“Desejamos que o seu governo seja próspero. Queremos ajudá-lo e não obstruir o seu trabalho.” Estamos em Junho de 1976, passaram já quase três anos após o bombardeamento do Palácio de La Moneda em Santiago e a morte de Allende. O secretário de Estado norte-americano Henry Kissinger prepara-se para fazer um discurso na Organização dos Estados Americanos sobre direitos humanos, mas antes volta-se para o general Augusto Pinochet e manifesta-lhe o seu apoio. Depois acrescenta: “Está a ser vítima de todos os grupos de esquerda do mundo e o seu maior pecado não foi outro senão derrubar um governo que se converteu ao comunismo”.

Esta conversa entre o secretário de Estado norte-americano e o ditador chileno, que ontem foi citada pelo diário espanhol "El Mundo", é uma das que se encontram transcritas nos documentos que agora passaram a fazer parte dos arquivos do Museu da Memória. Mas nos mais de 20.000 documentos entregues pelo director do projecto dedicado ao Chile no arquivo da Universidade George Washington, Peter Kornbluh, é também expressa “de forma muto clara” a intervenção da Administração do Presidente Richard Nixon.

Peter Kornbluh, autor de várias obras sobre a ditadura chilena, adiantou ao "El Mundo" que Kissinger “foi o arquitecto do programa para derrotar Allende entre 1970 e 1973”. Alguns dos documentos agora disponibilizados, cerca de 2000, provêem da CIA, enquanto outros são transcrições de conversas de Kissinger ou informações sobre como Pinochet e o chefe da polícia secreta Chile DINA, Manuel Contreras, tentaram encobrir o assassínio em Washington do antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Allende, Orlando Letelier.

Kornbluh considera que os documentos serão um contributo para os processos judiciais sobre violações de direitos humanos na ditadura que se prolongou até 1990 e em que foram mortos mais de 3000 opositores.
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domingo, agosto 29, 2010

A falsa retirada do Iraque


«O total de empresas de segurança vai duplicar»
Soldados ocupantes substituídos por mercenários
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Os EUA confirmaram que o número de soldados presentes no Iraque é o menor desde o início da invasão do país, em 2003. O facto está a ser usado como manobra de propaganda com o objectivo de esconder a manutenção de uma força ocupante e a substituição de soldados por mercenários.
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 A declaração de Barack Obama, anunciando o fim da missão de combate naquele território e o início de «operações contraterroristas» levadas a cabo por uma «força de transição» até à retirada «das tropas norte-americanas em 2011», já havia feito as parangonas no início do mês de Agosto. Mas o que encheu com estrondo as manchetes dos meios de comunicação social dominante foi a confirmação de que os EUA mantinham no Iraque o menor número de soldados desde o início da guerra contra aquele país.
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Efectivamente, com a retirada da quarta brigada para o Kuwait e a transferência de homens e meios de guerra daquele país do Médio Oriente para o também ocupado Afeganistão, o total de soldados de Washington ronda os 55 mil, podendo mesmo ser reduzido para 50 mil até ao próximo dia 31 de Agosto.
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Mas quanto a factos correspondentes com a realidade, ficamo-nos por aqui. É que à boleia do abandono de uma parte do contingente – importa não esquecer que se manterão no Iraque 50 mil militares estrangeiros – o governo dos EUA aproveita para fazer crer que a força remanescente deixará de realizar operações de combate, passando apenas a prestar treino aos militares iraquianos, e que o prazo limite para o abandono definitivo é o ano de 2011.

Declarações ocultadas

Ora a verdade é que para funcionários de elevada responsabilidade, como o comandante militar David Patreus, os EUA não só não estão a sair do Iraque como conservam «uma enorme capacidade [operativa]», disse em entrevista à
CBS.
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No mesmo sentido, a Inter Press Service apurou junto de fontes ligadas às altas esferas governamentais que os 50 mil soldados remanescentes não confinarão as suas missões a treinos ou a operações de defesa do pessoal e instalações norte-americanas.
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Quem parece ter também ignorado as palavras do presidente foi o secretário de imprensa do general Patreus, Geoff Morrell, sublinhando «que eu saiba ninguém declarou o fim da guerra».
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No mesmo sentido, para o vice-assistente do secretário da Defesa, Colin Khal, os EUA estão no Iraque «para ficar por muito tempo» e qualquer decisão está suspensa até «ver o que o governo iraquiano vai fazer».
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A frase, aparentemente enigmática, tem vindo a ser desconstruída na imprensa norte-americana, a qual especula sobre a possibilidade do futuro governo do território preparar um novo pedido de permanência dos EUA no país assim que tomar posse.

Empresas de segurança duplicam

Acresce que a manutenção de dezenas de milhares de soldados no Iraque - nas palavras de quem manda por largo tempo e com as funções que agora cumprem - é acompanhada pela substituição dos soldados retirados por milhares de mercenários ao serviço de empresas de segurança.
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A decisão de substituir a força militar para uma outra «civil» foi tomada numa reunião de altos responsáveis militares norte-americanos, ocorrida a 19 de Julho deste ano, embora tal só tenha sido claramente admitido a partir de 16 de agosto.
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O plano é dar ao Departamento de Estado um papel mais efectivo na coordenação das operações e mantê-lo ligado às empresas de segurança privadas. Estas dotar-se-ão de helicópteros, carros de combate e capacidade para operar radares, de forma a poderem pedir ataques aéreos e pilotarem aeronaves não tripuladas, informou o New York Times.
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A duplicação do número de empresas contratadas no Iraque não é uma hipótese. O porta-voz do departamento de Estado, P.J. Crowley, admitiu que o total de empresas contratadas no Iraque pode ascender a sete mil, admitindo, igualmente, que os EUA «têm planos muito específicos para assegurar a segurança quando os militares partirem».
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Actualmente estão no Iraque 112 mil mercenários ao serviço de diversas companhias, aos quais se juntam mais de 11500 indivíduos inscritos como seguranças privados e pelo menos 1200 a título de conselheiros de segurança, adiantou, por seu lado o Guardian.

O novo papel da CIA 

De acordo com o New York Times, a agência de serviços secretos norte-americana está a assumir cada vez mais um carácter paramilitar, aprofundando, a partir da entrada em funções de Barack Obama, a realização de ataques com aviões não-tripulados e a eliminação de suspeitos de terrorismo.
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O assessor do presidente dos EUA, Jonh Brennan, qualifica as novas directrizes como uma substituição da política do martelo pela do bisturi.
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Para além disso, a ligação a empresas de serviços de segurança também se incrementou, sobretudo no Paquistão e no Norte de África com a concretização de operações encobertas de detenção e assassinato de alegados grupos extremistas.
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Avante N.º 1917
26.Agosto.2010
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quarta-feira, abril 28, 2010

Antigo ditador do Panamá Manuel Noriega extraditado para França

Caso referente a lavagem de dinheiro


Público - 27.04.2010 - 08:33 Por Agências
O antigo ditador do Panamá Manuel Noriega chegou esta manhã a Paris depois dos Estados Unidos darem luz verde à sua extradição para França.
Manuel Noriega no aeroporto de Miami antes de embarcar no voo para
 França  
Manuel Noriega no aeroporto de Miami antes de embarcar no voo para França (Reuters)


Noriega, que tem mais de 70 anos, tinha sido julgado à revelia em 1999 e condenado a de anos de prisão por lavagem de dinheiro de lucros de cocaína através de bancos franceses – o dinheiro servira então para a compra de apartamentos de luxo. O antigo ditador, que tinha sido também informador da CIA, deverá ser sujeito a um novo julgamento em França

Noriega foi capturado pelos EUA no Panamá em Janeiro de 1990, duas semanas depois da invasão do país, na que foi na altura a maior intervenção militar norte-americana desde a Guerra do Vietname.

Noriega cumpriu entretanto a sua pena nos Estados Unidos por tráfico de droga, uma pena que terminou há dois anos, mas tinha permanecido numa prisão na Florida enquanto lutava contra a extradição para França. Os seus advogados dizem que como prisioneiro de guerra, Noriega deveria regressar ao Panamá (onde também foi condenado à revelia a uma pena de 20 anos por assassínio de opositores políticos, fraude e corrupção).

Noriega foi o chefe da espionagem militar até se tornar o comandante da poderosa Guarda Nacional e líder de facto do Panamá em 1982. Tinha sido recrutado pela CIA no final dos anos 1960, lembra a emissora britânica BBC, e gozou do apoio dos EUA até 1987 – era aliás um dos maiores aliados de Washington na América Latina.

Mas no ano seguinte foi acusado judicialmente nos Estados Unidos por tráfico de droga, e em 1989 declara “estado de guerra” depois de uma eleição marcada por alegações de irregularidades.

Seguiu-se um período de tensão entre tropas dos EUA estacionadas no Canal do Panamá e as tropas de Noriega. A morte um marine americano na Cidade do Panamá precipitou a invasão, que já estava planeada pela Administração de Bush-pai .

Noriega refugiou-se na embaixada do Vaticano mas acabou por se render depois de ter sido “bombardeado” com música pop e heavy metal em alto volume. Noriega foi então levado para os EUA e, em 1992, condenado por um tribunal de Miami.
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ENTREVISTA EXCLUSIVA COM O GENERAL NORIEGA

Atualizado em 11 de abril de 2008 �s 16:33 | Publicado em 01 de fevereiro de 2005 �s 17:27
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* Luís Carlos Azen ha
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No dia 20 de dezembro de 1989, milhares de páraquedistas americanos foram lançados sobre o Panamá. Foi mais uma das muitas intervenções dos Estados Unidos no quintal deles, a América Latina. Quem autorizou a invasão?O presidente George Bush, pai, que eleitores americanos chamavam de "wimp", fracote.
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Preso como bandido, o ditador panamenho Manuel Noriega foi levado para Miami e julgado. Pegou 40 anos de cadeia sob a acusação de facilitar o tráfico de drogas. O que fez este homem cair em desgraça com os gringos? Noriega foi assalariado da Central de Inteligência Americana, a CIA. Levava 100 mil dólares mensais para dedurar comunistas da América Central, na época em que Estados Unidos e União Soviética ainda estavam envolvidos na Guerra Fria - o confronto ideológico entre as superpotências que durou de 1945 a 1990.
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Estivemos com o general Noriega quando ele ainda mandava no Panamá. Assessores o chamavam pelas costas de cara de piñata, abacaxi, por causa da pele esburacada. Eu trabalhava como correspondente da Rede Manchete, em Nova York. Fui escalado para cobrir a crise que envolvia a Casa Branca e o então líder panamenho.
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Vocês já notaram como os americanos estão sempre em guerra contra alguma coisa? É para assustar o populacho e torrar dinheiro público com a indústria armamentista. Na época Noriega desafiava Washington, dizendo-se vítima de um complô imperialista. Os americanos o acusavam de lavar dinheiro sujo de traficantes da Colômbia. 
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Eu e o cinegrafista Hélio Alvarez desembarcamos na capital panamenha para acompanhar a crise que precedeu a invasão do país. Noriega, como bom político, dava uma no cravo, outra na ferradura. Permitiu a volta de um líder exilado bastante popular com a classe média panamenha, Arnulfo Arias. 
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Arias tinha vencido a eleição presidencial de 1984. Noriega deu um jeito de cancelar o resultado e, pasmem, recebeu apoio americano - Arias era ultranacionalista e poderia oferecer maiores riscos aos interesses de Washington. Na época de nossa viagem, em 1988, Noriega tinha o apoio dos mais pobres - feito Hugo Chavez, hoje, na Venezuela. 
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Não dá para ser muito nacionalista num país tão vital para os interesses americanos. O Canal do Panamá reduz em 35 mil quilômetros a distância marítima entre Nova York e a Califórnia. Os americanos não queriam um canal tão estratégico sob controle de um inimigo. Assim que desembarcamos na Cidade do Panamá contratamos um guia.
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Ele trabalhava para a TV estatal panamenha e tinha contatos no governo. Numa noite de folga, depois de algumas cervejas, se ofereceu para nos ajudar a conseguir uma entrevista exclusiva com o presidente. Pediu 100 dólares de gorjeta. 
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Dei o dinheiro como parte do pagamento pelo trabalho que ele estava fazendo, sem acreditar muito na promessa da entrevista. Na época, o ditador panamenho se negava a falar com os jornalistas americanos que acompanhavam a crise. Um ou dois dias depois, o guia nos deu a dica: Noriega iria a um bairro popular para um encontro com lideranças locais. 
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Fomos ao lugar, ainda descrentes de que o general iria aparecer. Noriega foi. Fez um discurso típico de república bananeira, brandindo um facão e prometendo resistir aos gringos. Presumo que àquela altura nosso guia já tinha se acertado com os seguranças. Na confusão, encostei no ditador e estiquei o microfone. 
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Ele aceitou dar entrevista quando soube que éramos do Brasil. Noriega disse não acreditar numa intervenção americana. Meses depois, seria bombardeado em pleno quartel-general. Feita a entrevista exclusiva, que foi ao ar no Jornal da Manchete, nosso próximo passo era acompanhar o desembarque do líder exilado. 
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Uma multidão acompanhou Arnulfo Árias pelas ruas da capital panamenha. Estávamos tranquilos. Não havia sinal dos brucutus que defendiam Noriega. Quando entramos nos becos do centro antigo da Cidade do Panamá, fomos pegos de surpresa. 
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A tropa de choque cercou os manifestantes, disparou bombas de gás pimenta e cassetadas em quem encontrava pela frente. Na confusão, nosso guia correu para um lado e Hélio Alvarez para outro. Bombas de gás explodiram perto da gente, num posto de gasolina. Fugi correndo para um beco. O gás pimenta queimava a pele, provocava lágrimas e dificultava a respiração. 
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Por alguns segundos, achei que ia desabar. É aquele momento em que a gente se pergunta: será que escapo dessa? De repente, alguém me puxou para dentro de uma casa de madeira. Recebi um pano molhado, que usei para cobrir o rosto. Deitei no chão da casa e comecei a recuperar a respiração. Minutos depois, refeito, corri para uma avenida. 
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Um carro identificado com a palavra "Press" no párabrisas parou para me resgatar. Eram colegas da tevê canadense. Voltamos ao hotel, onde reencontrei o Helinho ainda impregnado pelo cheiro de gás. Pela janela do quarto notamos que os brucutus do Noriega entravam pelo estacionamento do hotel, distribuindo pancadas em quem encontravam pela frente. Com frieza, Helinho usou uma fresta da cortina para filmar tudo. 
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Apagamos a luz do quarto, deitamos ao lado das camas e não respondemos quando alguém bateu na porta. Mais tarde, o então correspondente Moisés Rabinovitch, do jornal "O Estado de S. Paulo", se juntou a nós. Ele tinha contato com diplomatas brasileiros e recebeu a sugestão do embaixador de que deveríamos sair do hotel. Depois de transmitir o material exclusivo, o Helinho decidiu ficar, cuidando do equipamento. Fomos, eu e o Rabino, dormir na Embaixada Brasileira. 
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Foram os americanos que financiaram a construção do Canal do Panamá. Antes fizeram aluguel perpétuo de uma faixa de terra panamenha. Pagaram U$ 10 milhões de entrada e U$ 250 mil por mês. Esses gringos são mesmo bons de negócio. O canal só voltou ao controle panamenho em 31 de dezembro de 1999, depois de um acordo fechado entre Panamá e Estados Unidos nos anos 70, durante o governo Jimmy Carter. Quando decidiu invadir o Panamá, Bush pai despachou 20 mil soldados para enxotar Noriega do poder. 
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Bush pai foi diretor da CIA, a quem Noriega serviu muitos anos como delator. Quando deixou de interessar aos americanos, tomou um bico - como tantos outros. A invasão americana levou Noriega a buscar refúgio na embaixada do Vaticano. Depois de muito resistir, o ditador derrubado se entregou. Ainda hoje, cumpre pena nos Estados Unidos. 
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Quando penso naquela viagem, não festejo a entrevista com Noriega, nem as imagens exclusivas do Helinho.Lembro da boa alma que salvou a minha vida, me puxando pelo braço para dentro de um barraco.Sei que era uma mulher. Mal tive o tempo de olhar para o rosto dela. Quem quer que seja, que Deus a abençoe. 
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Publicado originalmente em 2005
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O general Noriega está acabando de cumprir a pena a que foi condenado, por tráfico de drogas, em uma penitenciária da Flórida. Ele foi condenado a 40 anos de prisão no dia 10 de julho de 1992. A pena foi reduzida para 30 anos.
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Noriega teria direito a liberdade no dia 9 de setembro de 2007. Porém, a Justiça americana deve aceitar o pedido de extradição da França, onde Noriega também responde a processo. Se condenado, pode pegar mais 10 anos de prisão por lavagem de dinheiro. No Panamá, Noriega foi condenado por homicídio "in absentia".
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O general é um dos veteranos da famosa Escola das Américas, na qual os Estados Unidos formaram alunos que figuraram com destaque em violações dos direitos humanos em toda a América Latina.
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Atualizado em 11 de setembro de 2007
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http://www.viomundo.com.br/arquivo/a-morte-de-perto/entrevista-exclusiva-com-o-general-noriega/
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quarta-feira, abril 14, 2010

Como Kissinger virou cúmplice de assassinatos na Operação Condor

Mundo

Vermelho - 10 de Abril de 2010 - 22h29

Documentos divulgados neste sábado (10) pela ONG The National Security Archive (NSA) revelam que o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger ignorou os esforços de Washington para evitar crimes políticos no Cone Sul. Em 1976, Kissinger chegou a cancelar as ordens para que diplomatas americanos dos Estados Unidos no Chile, na Argentina e no Uruguai se pronunciassem contra os assassinatos internacionais de opositores aos regimes militares desses países.

Cinco dias mais tarde, um atentado com um carro-bomba em Washington matou o ex-chanceler chileno e posterior opositor Orlando Letelier, na Avenida Massachusetts, em Washington. Segundo a NSA, tratou-se do ato mais "infame" dos aliados na Operação Condor — aliança político-militar formada nos anos 1970 pelos serviços de inteligência militares de Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia. O objetivo da operação era localizar e assassinar os opositores aos regimes militares desses países.

Num telegrama enviado em 16 de setembro de 1976 de Lusaka, capital da Zâmbia, Kissinger “instruiu que não fossem empreendidas ações adicionais sobre esse assunto”. As instruções destinadas ao então secretário de Estado para Assuntos Interamericanos, Harry Shlaudeman, puseram fim a uma ordem dada pelo próprio Kissinger três semanas antes.

A ordem inicial era que altos funcionários do Departamento de Estado americano transmitissem aos chefes de Estado de Chile, Argentina e Uruguai sua "profunda preocupação" com os "planos de assassinato de elementos subversivos, políticos e figuras de destaque dentro de alguns países do Cone Sul e no exterior". Essa mensagem nunca chegou a ser entregue.

"O telegrama do dia 16 é a peça que faltava do quebra-cabeça histórico sobre o papel de Kissinger na ação e a falta de ação do governo americano após ter conhecimento sobre os planos de assassinato" da Operação Condor, afirmou em comunicado Peter Kornbluh, analista da ONG e autor do livro The Pinochet File: A Declassified Dossier on Atrocity and Accountability.

Kornbluch assinala que os novos documentos permitem finalmente saber o que ocorreu. "O Departamento de Estado iniciou um esforço oportuno para frustrar a campanha de assassinatos no Cone Sul — e Kissinger, sem dar explicações, a abortou". Em sua opinião, a decisão de Kissinger de cancelar a advertência às nações da Operação Condor impediu que se enviasse uma mensagem diplomática de protesto que poderia ter dissuadido um ato de terrorismo na capital americana.

Da Redação, com agências
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sábado, janeiro 16, 2010

Counterpunch: 'Ameaça iraniana'? Onde?


 

Mundo

Vermelho - 16 de Novembro de 2009 - 14h53

O real significado da atual histeria sobre as armas nucleares iranianas está quase completamente ocultado sob a propaganda oficial. O melhor primeiro passo no esforço para escapar das versões de propaganda é considerar os países que já têm armas nucleares; o segundo é analisar o mapa do Sudeste da Ásia.

Por Jeff Nygaard, para o Counterpunch.

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Oito nações no mundo conhecido possuem armas nucleares. Todas são próximas do Irã, seja literalmente próximas ou próximas em sentido imperial. Cinco delas – China, França, Rússia, Reino Unido e EUA – são signatárias, oficialmente, do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares [ing. Nuclear Nonproliferation Treaty, NPT], descrito como “principal marco do regime global de não-proliferação”. Três estados – Índia, Israel e Paquistão – também têm armas nucleares, mas não são signatárias do Tratado de Não-proliferação. E Israel “não admite nem nega ter armas nucleares”, segundo a Associação de Controle de Armas [ing. Arms Control Association], mas todo mundo sabe que Israel tem arm as nucleares; só não se sabe se são 200 ou 300 ou mais.
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Consideremos então nosso mapa do Irã. Imagine-se um cidadão iraniano que olha à volta, para saber de que lado precaver-se contra alguma ameaça – nuclear ou outra. O que veem os cidadãos iranianos?
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Imediatamente a oeste do Irã, está o Iraque, efetivamente sob controle dos EUA (“próximo”, em sentido imperial, é isso). As atividades secretas dos EUA orientadas para desestabilizar outros países muito frequentemente usam como base de operação as embaixadas norte-americanas; e os EUA construíram no Iraque “as maiores e mais caras instalações de todos os tempos para sua embaixada”, segundo o Christian Science Monitor. Segundo o New York Times de 9 de outubro, “Os norte-americanos esperam que, na próxima primavera já estarão operando no Iraque a partir de seis super bases e 13 bases menores.”
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Imediatamente a leste do Irã, estão Afeganistão e Paquistão. O Paquistão é dos principais aliados dos EUA, embora sempre errático; e tem seu próprio arsenal nuclear, sem qualquer regulação ou supervisão. Do mesmo modo que o Iraque a leste, o Afeganistão também é base das atividades imperiais dos EUA, mesmo que ainda não esteja sob total controle dos norte-americanos. Enquanto o governo Obama discute oficialmente o que fazer, “A CIA está deslocando para o Afeganistão equipes de agentes, espiões, analistas e pessoal paramilitar, parte de um amplo movimento de ‘avanço’ dos serviços de inteligência, que converterá a base instalada naquela região em uma das maiores de toda a história da agência”, segundo declarações de funcionários.” – Isso se leu no Los Angeles Times de 20/9 passado.
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Vê-se claramente que a embaixada que terá “as maiores e mais caras instalações de todos os tempos” está instalada exatamente a oeste do Irã; e que “uma das maiores bases de toda a história da CIA” também é vizinha do Irã, a leste. Evidentemente, aí estão todos os meios para executar as repetidas ameaças que os EUA têm feito ao Irã. Os EUA não se cansam de dizer “que todas as alternativas estão sendo analisadas”, palavreado que corresponde, no código da guerra, a bem clara ameaça de ataque militar. Não bastassem essas ameaças, o único Estado nuclear do Oriente Médio – Israel – também jamais se acanha de ameaçar o Irã. Manchete incansavelmente repetida, por exemplo nos programas noticiosos da CBS, dizia essa semana que “Israel provoc a os EUA para que ataquem o Irã.” Dia 5/7, a Associated Press noticiou que “o vice-presidente Joe Biden assinalou que o governo Obama não criará obstáculos se Israel decidir atacar as instalações nucleares do Irã.”
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Além dos países que mantêm sob ocupação, os EUA têm outras instalações de interesse militar, praticamente à volta do Irã. Não só no Iraque e no Afeganistão, mas também na Turquia, outro país que faz fronteiras com o Irã. Várias grandes bases militares dos EUA (cerca de meia dúzia, no mínimo) existem também na Arábia Saudita, na outra margem do Golfo Persa e nos Emirados Árabes Unidos – a cerca de 160-300km de distância do Irã. Outra vez, podem-se medir as distâncias no mapa.
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E não se pode esquecer de incluir nesse contexto a gigantesca base dos EUA no Oceano Índico, na ilha de Diego Garcia, base à qual John Pike, da GlobalSecurity.org, refere-se como “a mais importante unidade militar dos EUA”. Essa base, usada como campo secreto de prisão e tortura, e como base de lançamento de ações terroristas contra o Iraque e o Afeganistão, leva o estranho nome de “Campo Justiça” [ing. Camp Justice]. O território do Irã pode ser rapidamente alcançado pelos bombardeiros e mísseis dos EUA estacionados em “Campo Justiça”.
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O mundo às avessas
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No mundo imperial, detenções ilegais e tortura são consideradas ‘justiça’. E muitos outros valores são também completamente invertidos, quando se trata de ‘noticiar’ os movimentos pelos quais o ‘império’ norte-americano se mantém.
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Dia 28 de setembro, o Irã anunciou que testara alguns mísseis; e que “os mísseis iranianos podem alcançar qualquer alvo, em qualquer local de onde parta qualquer ameaça contra o Irã.” Matéria da Associated Press sobre esses testes levava a seguinte manchete: “Testes de mísseis iranianos fazem aumentar as preocupações.” As “preocupações” teriam aumentado, segundo a AP, porque “várias bases militares dos EUA no Oriente Médio” [passavam a ficar] “ao alcance dos mísseis iranianos”.
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Nesse mundo às avessas, defender-se passou a ser agressão, porque quem se defenda ‘cria preocupações’ para os agressores. Basta pensar um pouco:
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A principal superpotência mundial mantém bases militares em todo o planeta (são mais de 700!), inclusive nos dois países atualmente sob ocupação dos EUA. Essa Superpotência possui cerca de 10.000 ogivas nucleares; continua a ser o único país do planeta que, até hoje, detonou armas atômicas em cidades populosas, matando e mutilando milhões; e é ainda a mesma Superpotência que, em 1953, derrubou o governo democraticamente eleito no Irã.
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Localizado entre os dois países atualmente sob ocupação dos EUA, e cercado por todos os lados por bases militares norte-americanas, o Irã está, isso sim, lutando incansavelmente para conquistar capacidade técnica para defender-se contra os ataques da superpotência cujas instalações militares já praticamente cercaram seu território. E é o Irã que se defende – não a sangrenta história de ocupação e violência dos EUA em todo o mundo (e naquela região) – que “faz aumentar as preocupações” da Associated Press! O Irã não desencadeou nenhuma guerra na história moderna – como bem observou o professor Juan Cole. De fato, as preocupações “aumentam”, porque está crescendo a capacidade de defesa de um Estado que os EUA ainda não conseguiram subordinar.
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E aquele padrão ‘midiático’ repete-se incansavelmente. Por exemplo, em matéria divulgada pela agência UPI, dia 25 de julho. O lead dizia: “Irã bombardeará instalações nucleares de Israel, se Israel atacar o Irã, disse sábado o líder da Guarda Revolucionária Iraniana.” Lead normal e acurado. Mas lá estava, em letras garrafais, a manchete aterrorizante: “General iraniano ameaça instalações nucleares israelenses.”
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O Irã sabe bem que a mais recente vítima de ataques militares e ocupação pelos EUA é o Iraque, nação com baixa capacidade de defesa; ao mesmo tempo, a Coreia do Norte, que já testou vários mísseis nucleares e tem reconhecida capacidade nuclear, continua sem ser atacada militarmente.
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Irã irracional? Parece que não.
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Desde 1979, o Irã tem sido apresentado aos cidadãos norte-americano como inimigo dos EUA; em meses recentes, abundam notícias sobre “a ameaça iraniana”. Mas o Irã foi um dos principais aliados dos EUA, antes de 1979. Para R.K. Ramazani, professor emérito da Universidade de Virginia, “até a Revolução Iraniana, os EUA, de fato, confiaram cegamente que o Irã faria as vezes de 'guardião' da região do Golfo. Evidentemente, nada há de inerentemente ‘anti-EUA’ no Irã.”
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Se o Irã é hoje uma ameaça aos EUA – e tudo que o governo dos EUA diz e faz indica que, sim, os EUA veem o Irã como uma ameaça – qual, então, seria a natureza dessa ameaça? Serão, mesmo, as armas nucleares? Parece-me pouco provável, por várias razões, algumas das quais discuto adiante.
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O prof. Subhash Kapila, especialista do South Asia Analysis Group, publicou artigo, em 2006, no qual diz claramente que “com armas nucleares ou sem elas, o Irã jamais terá meios para oferecer resistência efetiva contra o poderio bélico dos EUA” – ideia que se confirma facilmente, se se consideram as informações acima, sobre bases militares dos EUA na Região.
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Kapila diz também que “O principal impulso estratégico que modela a percepção de que o Irã implicaria algum tipo de ameaça aos EUA é a emergência do Irã como potência regional na Região do Golfo – com vários efeitos sobre os interesses nacionais dos EUA na mesma região.”
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Gregory Aftandilian, assessor do Congresso para política exterior, acrescentou à discussão um aspecto que raramente se ouve considerado nos EUA: “o Irã não é estúpido a ponto de atacar Israel. (...) É Estado que tem milhares de anos, uma longa história. Teerã não pratica diplomacia de suicídio.”
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John Negroponte, em depoimento na Comissão de Inteligência do Senado, quando era diretor do Serviço Nacional de Inteligência, em 2006, foi mais diretamente ao ponto. Para ele, “o poder militar convencional do Irã é considerado uma ameaça aos interesses dos EUA. O Irã está ampliando sua habilidade para proteger o próprio poder militar; nessa medida, ameaça a eficácia das operações dos EUA na Região – potencialmente intimidando aliados regionais de cuja solidariedade depende a eficácia das políticas norte-americanas –, e fazendo aumentar os custos da presença dos EUA e de seus aliados na Região.
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“Teerã também continua a apoiar vários grupos terroristas, por considerar que esse apoio é crítico para a proteção do regime, porque aqueles grupos opõem-se a EUA e Israel, contribuem para conter ataques israelenses e norte-americanos, enfraquecem Israel e aumentam a influência do Irã na Região, por efeito da intimidação. O Hizbóllah libanês, principal aliado do Irã dentre os grupos terroristas – embora focado numa agenda nacional libanesa, e apoiando uma rede de terroristas palestinos –, mantém vasta rede mundial de contatos e é capaz de organizar ataques contra os interesses dos EUA, se sentir que seu parceiro iraniano esteja sob ameaça.
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Vale observar que, nesses discursos, “a ameaça iraniana” assume duas formas. Uma, a capacidade para contrariar “interesses dos EUA”. A outra, a competência para conter “ataques dos EUA e de Israel”, vale dizer, “competência [do Irã] para se autodefender”.
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Outro fato que torna ainda mais inverossímil que os estrategistas norte-americanos estejam realmente preocupados com bombas nucleares iranianas é a evidência de que os líderes religiosos já impuseram, há anos, proibição total de armas atômicas. Em declaração do governo iraniano à Agência Internacional de Energia Atômica, em 10 de agosto de 2005, lê-se: “O líder da República Islâmica do Irã, Aiatolá Ali Khamenei emitiu Fatwa que proíbe a produção, armazenamento e uso de armas nucleares; nos termos dessa Fatwa, o Irã jamais terá armas atômicas.” Não há como duvidar da eficácia dessa Fatwa, se se acredita no que dizem os jornais – que Khamenei é o líder supremo e real poder no Irã (embora o presidente Ahmedinejad ocupe todas as manchetes).
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Nada, de fato, faz muito sentido: os mais irados disseminadores do medo ante a ‘ameaça’ iraniana baseiam sua propaganda, em parte, num alegado fanatismo religioso das lideranças iranianas. Mas uma Fatwa de Khamenei, nesse caso, não seria prova suficiente de que não há qualquer ameaça das ‘armas nucleares iranianas’: para dois pesos, duas medidas?
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Resumidamente, se pode dizer que:
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1. Não há qualquer evidência de que o Irã esteja realmente produzindo armas nucleares;
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2. Se o Irã planejasse produzir armas nucleares, nada haveria de irracional ou ‘fanático’ nessa ideia, dada a gravidade das ameaças que realmente cercam o país e contra as quais é racional que o Irã procure defender-se. E ainda que a máxima irracionalidade esteja nas próprias armas nucleares, sempre haverá mais bombas atômicas irracionais em Israel e nos EUA, do que no Irã; e
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3. Se o Irã de fato estiver buscando construir armas nucleares e vier a ter sucesso, a probabilidade de que essas armas sejam usadas para fins ofensivos é praticamente igual a zero.
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Se se aceitam as premissas acima, é preciso buscar outra causa, diferente da chamada “ameaça nuclear iraniana”, para explicar a histeria anti-Irã que toma conta dos EUA.
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O “jogo” – como dizem os geoestrategistas do ‘império’ norte-americano – consiste em defender o espaço privilegiado de um único poder regional. Só há lugar para um país-‘líder’, que modele os eventos na Região e, pelo menos, tenha poder para vetar ações intentadas por outros Estados. Os EUA querem reservar para eles mesmos esse espaço e esse posto – em parceria com seu Estado-cliente, Israel. A verdadeira “ameaça iraniana”, portanto, advém de o Irã – aos olhos dos estrategistas dos EUA – ter ou parecer ter potencial para realmente ameaçar a hegemonia da dupla EUA-Israel na Região.
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O bizarro mundo que, para os norte-americanos ‘informados’ pela mídia, seria o Oriente Médio é mostrado como mundo às avessas, porque é indispensável manter ocultados os objetivos imperialistas dos EUA para toda aquela Região. Assim, é útil manter os cidadãos norte-americanos hipnotizados de medo ante uma “ameaça iraniana” que seria consequência de antiamericanismo fanático ou de fanatismo religioso. Ante tal inimigo, a única via razoável a considerar seria manter-se em guerra, sempre a postos para “atacar preventivamente” inimigo tão perigoso.
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O trabalho do sistema de propaganda dos EUA para o Oriente Médio opera para criar uma percepção de que o mundo é local perigoso, cheio de armadilhas e ameaças. Por isso há “a ameaça iraniana” e a “ameaça terrorista”, exatamente como, antes, houve a “ameaça comunista”. O custo para manter o império norte-americano é muito alto, e só cidadãos aterrorizados aceitariam desperdiçar quase 700 bilhões de dólares num único ano, para manter exércitos de ocupação, como aconteceu em 2009. Esse número, já muito alto, sobe à estratosfera se se incluem os gastos com veteranos, com os programas especiais, com ajudas a países-parceiros nas guerras, com juros de dívidas de guerras passadas, e a lista é longa. O império é empreitada caríssima – e o medo, por isso, tem de ser correspondentemente imenso.
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É importante que os norte-americanos aprendamos a ver o mundo como o mundo é, não às avessas; que aprendamos a identificar corretamente as ameaças que crescem à nossa volta. O Irã, os iranianos e suas armas nucleares com certeza não estão incluídos nessa lista de ameaças e ‘perigos’ reais.
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*Jeff Nygaard é jornalista e ativista em Minneapolis, Minnesota. Publica um e-jornal de livre distribuição, Nygaard Notes. Traduzido pelo coletivo Política para Todos. Fonte: Vi o Mundo.

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terça-feira, janeiro 12, 2010

Lincoln Gordon e a origem dos "desaparecidos"

Lincoln Gordon e a origem dos "desaparecidos"

A elite americana


por William Blum [*]
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Cartoon de Latuff. Lincoln Gordon morreu há poucas semanas com a idade de 96 anos. Licenciara-se summa cum laude em Harvard aos 19 anos, doutorara-se em Oxford como bolsista Rhodes, publicara o seu primeiro livro aos 22 anos, com dúzias mais a seguir sobre governo, economia e política externa na Europa e América Latina. Entrou [como professor] na Faculdade de Harvard aos 23 anos. O dr. Gordon foi executivo no Gabinete de Produção de Guerra durante a II Guerra Mundial, administrador de topo dos programas do Plano Marshall na Europa do pós guerra, embaixador no Brasil, teve outras altas posições no Departamento de Estado e na Casa Branca, foi investigador no Centro Internacional Woodrow Wilson para Académicos, economista na Brookings Institution, presidente da Johns Hopkins University. O presidente Lyndon B. Johnson louvou o serviço diplomático de Gordon como "uma rara combinação de experiência, idealismo e julgamento prático".
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Está a ver o quadro? O rapaz maravilha, intelectual brilhante, líder notável de homens, patriota americano destacado.
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Abraham Lincoln Gordon foi também o homem de Washington no Brasil, e muito activo, como director do golpe militar de 1964 que derrubou o governo moderadamente de esquerda de João Goulart e condenou o povo brasileiro a mais de 20 anos de uma ditadura terrivelmente brutal.
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Os que fazem campanha pelos direitos humanos sustentam há muito que o regime militar do Brasil originou a ideia dos "desaparecidos" e exportou métodos de tortura através da América Latina. Em 2007, o governo brasileiro publicou um livro de 500 páginas, "O direito à memória e à verdade", no qual esboça a tortura sistemática, violação e desaparecimento de aproximadamente 500 activistas de esquerda e inclui fotos de cadáveres e vítimas de tortura. Actualmente, o presidente brasileiro Luís Inácio Lula da Silva está a propor uma comissão para investigar alegações de tortura pelos militares durante a ditadura de 1964-1985. (Quando será que os Estados Unidos criam uma comissão para investigar a sua própria tortura?)
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Num telegrama para Washington após o golpe, Gordon declarava — numa observação que dificilmente superaria as de John Foster Dulles — que sem aquele golpe poderia ter havido uma "perda total para o ocidente de todas as repúblicas sul americanas". (O golpe foi realmente o princípio de uma série de golpes anti-comunistas fascistóides que aprisionou a metade sul da América do Sul em décadas de um longo pesadelo, culminando na "Operação Condor", no qual várias ditaduras, ajudadas pela CIA, cooperaram na captura e morte de esquerdistas.)
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Gordon posteriormente testemunhou numa audiência perante Congresso e, negando completamente qualquer conexão com o golpe no Brasil [1] , declarou que este fora "a mais decisiva vitória isolada da liberdade nos meados do século XX".
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Ouçam uma conversação telefónica entre o presidente Johnson e o secretário assistente de Estado para Assuntos Inter-Americanos, Thomas Mann, em 3 de Abril de 1964, dois dias após o golpe: 

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MANN: Espero que esteja tão feliz como eu acerca do Brasil.

LBJ: Estou.

MANN: Penso que é a coisa mais importante acontecida no hemisfério nos últimos três anos.

LBJ: Espero que eles nos dêem algum crédito ao invés do inferno.

(Michael Beschloss, Taking Charge: The Johnson White House Tapes, 1963-1964 (New York, 1997), p.306. Todas as outras fontes desta secção sobre Gordon podem ser encontradas em: Washington Post, 22/Dezembro/2009, obituário; The Guardian (Londres), 31/Agosto/2007; William Blum, "Killing Hope", chapter 27.)
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Assim, da próxima vez que se encontrar com um rapaz maravilha de Harvard, tente manter a sua adulação não importa que posto o homem tenha, mesmo — oh, apenas escolhendo uma posição aleatoriamente — a presidência dos Estados Unidos. Mantenha os olhos centrados não sobre estes "liberais" ... "melhores e mais brilhantes" que vêm e vão, mas sobre a política externa dos EUA que permanece a mesma década após década. Há dúzias de Brasis e de Lincoln Gordons no passado dos EUA. No seu presente. No seu futuro. Eles são o equivalente diplomático dos sujeitos que dirigiam a Enron, a AIG e a Goldman Sachs.
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Naturalmente, nem todos os nossos responsáveis pela política externa são como este. Alguns são piores.
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E recorde as palavras do espião condenado Alger Hiss: A prisão é "um bom correctivo para três anos de Harvard". 

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[1] O que é uma mentira diplomática descarada.   O golpe de 1964 no Brasil foi preparado, coordenado e apoiado pela Embaixada dos EUA no Rio de Janeiro sob o comando do embaixador Lincoln Gordon.   A preparação psicológica e política para o golpe foi feita por entidades criadas pela CIA, como o IPES e o IBAD.   A coordenação foi feita pelo general da CIA Vernon Walters em conjunto com o general Castelo Branco (o primeiro presidente pós golpe).   Quanto ao apoio militar, o sr. Lincoln Gordon até mandou vir uma esquadra da U.S.Navy pronta para intervir caso houvesse resistência significativa aos golpistas.   Preparado durante mais de dois anos, o golpe consumou-se 18 dias depois de o presidente João Goulart anunciar algumas pequenas restrições à remessa de lucros das transnacionais que operavam no Brasil e de uma tímida lei da Reforma Agrária que previa a expropriação de terras (com indemnização aos proprietários) numa faixa de terra ao longo das rodovias federais.(NR)
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[*] Autor de numerosas obras, como La CIA Una Historia Negra/ Killing Hope: Intervenciones de La CIA desde la segunda guerra mundial/ U.S. Military and CIA Interventions Since World War II e Les Guerres scélérates . BBlum6@aol.com

O original encontra-se em http://www.counterpunch.org/blum01072010.html


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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08/Jan/10

Na Periferia do Império: Massacres e Ditaduras

Na Periferia do Império




Posted: 08 Jan 2010 06:21 AM PST
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O relator especial da ONU para as Execuções Extrajudiciais, Sumárias ou Arbitrárias, Philip Alston, confirmou a autenticidade do vídeo, difundido inicialmente em Agosto no Reino Unido, que mostra um homem de uniforme que dispara na nuca de um homem nu, atado e de olhos vendados, junto a campo em que jazem os corpos de vários homens. Outro homem é em seguida abatido.
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As imagens de execução de supostos guerrilheiros do Tigres Tâmeis foram produzidas pelo grupo Journalists for democracy in Sri Lanka e difundidas pelo britânico Channel 4.

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Na Periferia do Imperio - http://www.naperiferiadoimperio.blogspot.com
Posted: 08 Jan 2010 05:26 AM PST
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.O texto abaixo faz parte do artigo "A elite americana", do estadunidense William Blum, autor de numerosas obras, como La CIA Una Historia Negra/ Killing Hope: Intervenciones de La CIA desde la segunda guerra mundial/ U.S. Military and CIA Interventions Since World War II e Les Guerres scélérates.
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"Lincoln Gordon morreu há poucas semanas com a idade de 96 anos. Licenciara-se summa cum laude em Harvard aos 19 anos, doutorara-se em Oxford como bolsista Rhodes, publicara o seu primeiro livro aos 22 anos, com dúzias mais a seguir sobre governo, economia e política externa na Europa e América Latina. Entrou [como professor] na Faculdade de Harvard aos 23 anos. O dr. Gordon foi executivo no Gabinete de Produção de Guerra durante a II Guerra Mundial, administrador de topo dos programas do Plano Marshall na Europa do pós guerra, embaixador no Brasil, teve outras altas posições no Departamento de Estado e na Casa Branca, foi investigador no Centro Internacional Woodrow Wilson para Académicos, economista na Brookings Institution, presidente da Johns Hopkins University. O presidente Lyndon B. Johnson louvou o serviço diplomático de Gordon como "uma rara combinação de experiência, idealismo e julgamento prático".

Está a ver o quadro? O rapaz maravilha, intelectual brilhante, líder notável de homens, patriota americano destacado.
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Abraham Lincoln Gordon foi também o homem de Washington no Brasil, e muito activo, como director do golpe militar de 1964 que derrubou o governo moderadamente de esquerda de João Goulart e condenou o povo brasileiro a mais de 20 anos de uma ditadura terrivelmente brutal. " (leia mais)

Leia o texto completo:

Em português encontra-se em http://resistir.info/.

O original em inglês encontra-se em http://www.counterpunch.org/blum01072010.html

Na Periferia do Imperio - http://www.naperiferiadoimperio.blogspot.com

quinta-feira, abril 24, 2008

EUA e tortura

Anistia internacional exibirá nos cinemas vídeo contra técnica de tortura utilizada pelos EUA

Posted: 23 Apr 2008 04:49 AM CDT


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A Anistia Internacional lançará esta semana um vídeo sobre a técnica de tortura conhecida como waterboarding, uma simulação de afogamento muito utilizada pelos Estados Unidos nos interrogatório de prisioneiros.

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O filme chamado Stuff of Life (Coisas da Vida) começará a ser exibido nos cinemas britânicos a partir de 9 de maio e foi feito para chocar os espectadores. A película faz parte da campanha da Anistia Internacional pelo respeito aos direitos humanos na chamada "guerra contra o terrorismo".

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Segundo a diretora da Anistia Internacional na Grã-Bretanha, Kate Allen, citada pela BBC "o filme mostra o que a CIA (a central de inteligência americana) não quer que você veja – a realidade repugnante de quase afogar uma pessoa e chamar isso de 'interrogatório aprimorado".

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De acordo com o especialista em segurança americana Malcolm Nance, o filme retrata com precisão a prática. "Treinei oficiais americanos sobre técnicas de resistência ao waterboarding, e posso afirmar que o filme mostra exatamente como a técnica é realizada", disse à BBC. Assista abaixo o vídeo que será exibido nos cines britânicos.

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sábado, fevereiro 09, 2008

Portugal e os voos ilegais da CIA


Portugal na rota para Guantanamo
Escala para a tortura

Mais de 700 prisioneiros transportados pela CIA para Guantanamo passaram por jurisdição portuguesa, diz a Reprive. O PCP quer um inquérito parlamentar sobre a matéria, mas Governo, PS, PSD e CDS não mostram interesse.

Pelo menos 728 das 774 pessoas identificadas pela organização não governamental britânica como tendo sido raptadas pelos serviços secretos norte-americanos passaram pelo nosso país, que entre Janeiro de 2002 e Maio de 2006 funcionou como plataforma giratória para os transportes da CIA com destino à base militar de Guantanamo.
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De acordo com o relatório, divulgado segunda-feira, dia 28, pelo solo português ou pelo espaço aéreo nacional circularam cerca de 94 aviões com indivíduos suspeitos de terrorismo, diz a Reprive, que apurou os dados cruzando as listas de voos da aviação civil portuguesa com informações públicas do Departamento de Estado dos EUA e os testemunhos de alguns dos detidos na base naval.
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Segundo a organização que representa 33 presos de Guantanamo, seis desses voos fizeram-se directamente entre a base das Lages e o campo de detenção que Washington mantém no extremo Oriental de Cuba. Pelos Açores passaram pelo menos outros três aviões que fizeram escala nos aeroportos de Ponta Delgada e Santa Maria.
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«Nenhum destes prisioneiros poderia ter chegado a Guantanamo - e sido sujeito a seis anos de abusos - sem a cumplicidade portuguesa», diz Clive Stafford Smith, responsável da Reprive, que acrescenta que «existem várias dezenas de homens que poderão enfrentar a pena de morte após terem sido transferidos pelos Estados Unidos através de jurisdição portuguesa».
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Smith explica ainda que as investigações levadas a cabo pela ONG «demonstram que Portugal desempenhou um papel relevante de apoio ao amplo programa de transferência de prisioneiros» e que «pelo menos nove prisioneiros transportados através de jurisdição portuguesa foram cruelmente torturados em prisões secretas espalhadas pelo Mundo antes da sua chegada a Guantanamo».
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PCP quer inquérito, Governo não
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Entretanto, o grupo parlamentar do PCP apresentou um pedido de inquérito para apurar responsabilidades sobre a matéria. Os comunistas pretendem ouvir em comissão constituída para o efeito o director-geral da Reprive, o actual e os anteriores titulares das pastas dos Negócios Estrangeiros e da Defesa, mas quer o PS, quer o PSD, quer ainda o CDS não parecem muito interessados em esclarecer cabalmente o assunto, um vez que no período abrangido pelo relatório da Reprive os três partidos dividiram, sozinhos ou coligados, responsabilidades governativas.
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Socialistas, social-democratas e democratas cristãos já recusaram, em 2006, a constituição de um grupo de trabalho semelhante proposto também pela bancada do Partido na Assembleia da República. Em declarações à Lusa, o deputado António Filipe disse esperar «que desta vez o Governo não se furte como anteriormente», mas essa não deve ser a postura de José Sócrates.
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Quarta-feira da semana passada, o primeiro-ministro disse no Parlamento que o texto da Reprive era «profundamente mistificador». Às declarações do chefe do executivo juntam-se as do secretário de Estado dos Assuntos Europeus, Manuel Lobo Antunes, que classifica as conclusões da ONG de levianas.
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Lobo adiantou que «o Governo português prestou todas as informações de que dispunha, com toda a transparência», embora os dados sobre a conivência de São Bento com a violação dos direitos humanos por parte dos EUA o desmintam.
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PGR continua investigação
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Paralelamente, a Procuradoria-geral da República fez saber que em face das novas informações vai protelar a conclusão da investigação aos voos da CIA, iniciada em Fevereiro de 2007. O inquérito-crime conduzido pelo Departamento Central de investigação e Acção Penal poderá, desta forma, incorporar as acusações da Reprive.
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Recorde-se que o relatório da comissão do Parlamento Europeu sobre os voos da CIA lança fortes suspeitas sobre 22 escalas ocorridas em Portugal, 17 durante os governos PSD/CDS liderados por Durão Barroso e Pedro Santana Lopes, e cinco já na legislatura PS/Sócrates.
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A comissão liderada pelo italiano Claudio Fava diz que Portugal é um dos 17 países envolvidos no transporte de prisioneiros pela CIA para Guantanamo. No total, a secreta norte-americana terá efectuado quase 1250 escalas de aviões no Velho Continente e procedido a 20 sequestros desde 2001. Na Polónia e Roménia, instalaram-se prisões secretas, na Suécia e Itália foram expulsos e raptados cidadãos residentes e a Alemanha disponibilizou mesmo pessoal dos respectivos serviços secretos para colaborar com os homólogos de Washington no que chamam de «combate ao terrorismo».
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Suspeitos por 5 mil dólares
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Igualmente chocante no documento são as acusações de compra de suspeitos por parte da CIA. A Reprive relata os casos de dois homens, Shaker Amer e Tarek Dergoul, vendidos às forças norte-americanas por um valor que ronda os cinco mil dólares «por cabeça».
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O primeiro continua encarcerado em Camp Delta e terá sido capturado no Paquistão em 2001. Antes de chegar a Guantanamo, passou por Cabul, Bagram e Kandahar onde foi submetido a diversas formas de tortura.
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O segundo foi capturado no Afeganistão e libertado de Guantanamo dois anos depois sem que lhe tenha sido imputado qualquer crime. Quer Amer, quer Dergoul são cidadãos britânicos.
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CIA sob investigação
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Nos EUA, a acção dos serviços secretos após o 11 de Setembro também é motivo de investigação e repúdio. Em causa está a destruição das gravações dos interrogatórios efectuados em 2002 a pelo menos dois indivíduos suspeitos de «terrorismo».
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O Departamento de Justiça dos Estados Unidos abriu no início deste ano um inquérito-crime sobre os factos ocorridos em 2005. Na altura, centenas de horas de fitas de vídeo onde se confirma o uso de tortura foram pura e simplesmente eliminadas.
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Apesar do presidente George W. Bush não considerar as práticas ali mostradas como tortura, a verdade é os chamados «métodos alternativos» de interrogatório são assim qualificados até por ex-agentes da CIA.
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Em declarações recentes à CNN, um antigo membro da CIA, John Kiriakou, confirmou que as cassetes destruídas continham imagens chocantes de uso da «técnica de afogamento», a qual consiste em prender o interrogado a uma cadeira com os pés suspensos e um pedaço de papel celofane colado ao rosto enquanto são despejados litros da água sobre a boca. A consequência é o despoletar de uma reacção fisiológica imediata de sensação de afogamento.
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Kiriakou, que diz ter assistido a interrogatórios onde foi aplicado o waterboarding, acresce que a ordem para o seu uso veio directamente do Departamento de Justiça e do Conselho de Segurança Nacional dos EUA, portanto com o consentimento da Casa Branca.
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in Avante 2008.02.07

segunda-feira, setembro 24, 2007

Estratégia incendiária e suícida


* Rui Paz
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Os Estados Unidos anunciaram nos últimos dias de Julho que iriam fornecer à Arábia Saudita, ao Koweit e aos restantes aliados do Golfo Pérsico armas sofisticadas no valor de 40 mil milhões de dólares. Estas armas não se destinam a obrigar Israel a devolver ao povo palestiniando os territórios ocupados nem a acabar com os massacres, os assassínios, as tortura e as diárias violações dos direitos humanos praticadas por Tel Aviv. Dada a impossibilidade de derrotar a resistência dos povos árabes na região, os Estados Unidos estão a enveredar pela antigo princípio de dividir para reinar. Incapaz de resolver o dilema do caos provocado pela agressão e ocupação do Iraque e do Afeganistão, e face ao completo isolamento internacional, exceptuando Israel, para agredir o Irão e a Síria, Washington prepara-se para estimular mais uma guerra fratricida que leve os seus aliados na região, tendo à frente os regimes medievais da Arábia Saudita e do Koweit, a atacar aqueles dois estados. Bin Laden e os talibãs foram uma criação dos Estados Unidos e dos seus aliados sunitas na região, com destaque para o Paquistão e a Arábia Saudita. São exemplos da estratégia infernal do imperialismo que consiste em estimular devisões étnicas e religiosas que gerem os demónios que depois se propõe combater para pôr a ferro e fogo todo o Médio Oriente.
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Todas estas perversões têm vindo a reduzir cada vez mais o espaço de manobra do imperialismo, a desmasacará-lo diante dos povos como o maior perigo para a paz mundial e para a sobrevivência da própria Humanidade. Esta lógica incendiária, resultante da natureza exploradora e agressiva do sistema, é explicada pelo antigo presidente da República iraniana, Bani Sadr - afastado do poder em 1981 por um golpe que contou com o apoio da CIA - ao sublinhar que «a ordem mundial afirma-se e impõe-se em detrimento do crescimento das forças motrizes do mundo dominado, seja exportando essas forças para os centros dominadores, seja destruindo-as. O domínio das forças oprimidas não se pode produzir sem o recurso constante à violência. É por isso que a potência americana teve necessidade de inventar um super-homem (Bin Laden) e criar uma aliança mundial contra ele» (Le Monde/30.10.2001).
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No Médio Oriente, os regimes amigos dos EUA encontram-se numa fase de apodrecimento. Enquanto negação dos direitos nacionais, sociais e democráticos dos respectivos povos, estão sob a constante pressão das massas populares. É por isso que os Estados Unidos são obrigados a servir-se da «liberdade» como combustível para alimentar a sua máquina de guerra. Não conseguindo convencer com a «liberdade» invocam o «combate ao terrorismo», a «ameaça contra Israel» ou as «armas de destruição maciça». Tudo serve para justificar a rapina do petróleo da região e manter ou instalar regimes «amigos» que ajudem a saquear os respectivos povos.
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A participação de militares portugueses na guerra do Afeganistão, entre outras missões em que participam forças militarizadas nacionais, é uma afronta aos princípios constitucionais. «Portugal preconiza a abolição do imperialismo, do colonialismo e de quaisquer outras formas de agressão, domínio e exploração nas relações entre os povos...» (CRP, 7°. 2). É uma vergonha que o Governo do Partido Socialista continue a servir uma estratégia incendiária e suicida.
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in Avante.2007.08.09

sábado, setembro 22, 2007

A mão da CIA no jornalismo brasileiro


21 DE SETEMBRO DE 2007 - 00h01

A mão da CIA no jornalismo brasileiro
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por Osvaldo Bertolino*
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O modelo de jornalismo da “grande imprensa” brasileira tem a ver com a natureza do regime militar instaurado pelo golpe de 1964. O setor possivelmente é o que define melhor o papel de uma ''elite orgânica'', de “orientação empresarial”, que atuou intensamente na desestabilização do regime democrático pré-1964 para pôr no lugar a ''ordem empresarial'' após o ''golpe de classe'' — conforme explicou o cientista político René Armand Dreifuss, no importante livro A conquista do Estado — ação política, poder e golpe de classe.
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O objetivo do Sivuca é combater o PUM (Pensamento Único da Mídia)
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slogan publicado no site www.sivuca.com

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Logo após o golpe militar de 1964, o então diretor do Departamento de Projetos Sociais do Instituto Americano para o Desenvolvimento do Sindicalismo Livre — “American Institute for Free Labor Development” (AIFLD) —, William Doherty Jr., disse, sem meias palavras, como o sindicalismo brasileiro passou a ser dirigido por um dos tentáculos do Estado norte-americano. “No Brasil, sob o regime de João Goulart não tivemos oportunidade de trabalhar e por essa razão começamos somente no mês de abril de 1964”, escreveu ele no relatório ao II Fórum Sindical Interamericano sobre “Problemas Econômicos e Sociais para o Progresso”, realizado no México entre 10 e 15 de junho daquele mesmo ano.

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Doherty Jr. é um célebre agente da Central Intelligence Agency (CIA) e foi diretor do AIFLD durante 30 dos 34 anos de existência daquela organização. Depois foi embaixador dos Estados Unidos na Guiana e ativo membro do fascista “Centro Por Uma Cuba Livre”. O AIFLD surgiu no governo do presidente John Fitzgerald Kennedy por meio da Direção de Planificação da CIA para cercar a influência da revolução cubana na América Latina. Segundo o seu então presidente, George Meany, era “dever dos Estados Unidos contribuir para o desenvolvimento dos sindicatos livres na América Latina”.

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As entranhas da FIOPP foram expostas

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O AIFLD diz que ministrou cursos para 243.668 sindicalistas latino-americanos — muitos deles, jornalistas. Alguns receberam “capacitação especial” no “instituto de formação”, o Front Royal School, no Estado da Virginia. A especialidade era, além da formação sindical, o comércio exterior norte-americano e a propaganda anticomunista. Um de seus braços era a Federação Interamericana de Organizações de Periodistas Profissionais (FIOPP). Seu secretário, o jornalista argentino Artur Scthirbu, esteve no Brasil por cerca de dois anos para cooptar o movimento sindical jornalístico brasileiro. A própria história da FIOPP explica a sua finalidade.

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Em 1959, o American Newspaper Guild, que é um sindicato de jornalistas dos Estados Unidos, e uma intitulada União de Jornalistas Livres, formada por exilados dos países do leste europeu, dirigiram um apelo a todo o continente americano para que os profissionais da imprensa participassem de uma reunião no Panamá, em 1960, quando seria criada uma entidade interamericana de organizações jornalísticas profissionais. Era uma resposta à tentativa de criação de uma federação latino-americana de jornalistas profissionais, com uma evidente linha de defesa dos interesses da categoria e de viés progressista.

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Os conhecidos planos dos agentes da FIOPP

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As entranhas da FIOPP foram expostas quando uma vasta rede de corrupção mantida pela CIA foi desmontada, revelando como a organização — além da Federação Internacional de Jornalistas (FIJ), sediada em Bruxelas —, era financiada. No Brasil, a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais denunciou a FIOPP quando uma “junta governativa” foi nomeada pela ditadura militar no lugar da direção eleita no X Congresso Nacional de Jornalistas, realizado em setembro de 1963. “Os mesmos grupos que em 1961 haviam sido derrotados (...), e que em 1963 não haviam logrado sequer compor uma chapa concorrente às eleições, alcançaram finalmente (...) o domínio da Federação”, dizia uma mensagem da diretoria destituída.

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Segundo o documento da Federação, a diretoria conhecia bem os planos dos agentes da FIOPP. Emissários do grupo teriam viajado pelo Brasil inteiro, “numa campanha de arregimentação sem precedentes”, financiados com recursos estrangeiros — conforme denunciou o jornal Correio da Manhã. “Os jornalistas e os demais trabalhadores reconquistarão as organizações sindicais para nelas trabalhar na defesa dos seus interesses que se confundem com os interesses do Brasil independente, democrático, soberano, progressista e fraternal”, finalizava a mensagem.

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Mensagem do presidente Lyndon Johnson

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A ''junta governativa'' logo filiaria a Federação à FIOPP. Para valorizar a decisão, o III Congresso da organização interamericana foi realizado no Rio de Janeiro em novembro de 1964. Uma mensagem do presidente dos Estados Unidos, Lyndon Johnson, registrou a sua satisfação por “ver profissionais da imprensa empenhados na campanha por melhores meios de desenvolver a cooperação interamericana”. Terminado o evento, a diretoria nomeada da Federação começou a aplicar as diretrizes da FIOPP. Quem se der ao trabalho de ler a coleção do Boletim da entidade da época verá claramente os esforços para enquadrar o sindicalismo jornalístico brasileiro na linha daquela organização.

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A corrupção e o anticomunismo eram discutidos publicamente — como foi o caso de uma nota da redação do Jornal do Brasil publicada no dia 13 de julho de 1966, quando as eleições na Federação entraram na ordem do dia e dois grupos (um deles apoiado pela FIOPP) disputavam o comando da entidade. “Agora — e é o mais grave —, uma estranha organização norte-americana, a FIOPP, a pretexto de fazer anticomunismo, está despejando muito dinheiro nos meios sindicais, prejudicando o andamento natural das eleições na Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais”, disse o jornal. Apesar dos protestos, a chapa da FIOPP venceu as eleições.

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Manobra da FIOPP para assaltar a Federação

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Toda essa manobra para assaltar a Federação foi articulada ao mesmo tempo em que outras medidas eram tomadas para amordaçar o jornalismo brasileiro. O setor, possivelmente, é o que define melhor o papel de uma ''elite orgânica'', de “orientação empresarial”, que atuou intensamente na desestabilização do regime democrático pré-1964 para pôr no lugar a ''ordem empresarial'' após o ''golpe de classe'' — conforme explicou o cientista político René Armand Dreifuss, no importante livro A conquista do Estado — ação política, poder e golpe de classe.

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As transformações começaram com a mão do Estado fortalecendo os grupos monopolistas — um processo bem ilustrado pelos acontecimentos envolvendo a Editora Abril e a Rede Globo de Televisão. A Abril nasceu pelas mãos do cidadão norte-americano Victor Civita, que intermediou as negociações entre o grupo Time-Life e o empresário Roberto Marinho para a criação de uma poderosa rede de televisão no Brasil. Civita quase foi convencido a criar a TV, mas o temor de ser flagrado em delito por ser estrangeiro e possuir um grupo de comunicação — um impedimento legal, e por isso ele vivia no anonimato — o fez transferir o negócio para o amigo. Assim nasceu a Rede Globo de Televisão — porta-voz oficiosa da ditadura militar.

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Modificações no estilo de jornalismo

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O estilo de jornalismo também sofreu modificações profundas, que, em sua essência, sobrevivem firmes e fortes até hoje. Por meio de decretos com variadas formas, o exercício da profissão foi limitado ao cumprimento de regras condizentes com a natureza ditatorial do regime — entre elas a censura prévia, a proibição de notícias “subversivas” e a substituição do jornalista pelo jornalista de profissão. Essas regras caíram, mas os grupos que controlam o setor reforçaram a tendência do estilo norte-americano que chegou ao Brasil nos anos 40 por meio de um processo de ''modernização'' deflagrado por Pompeu de Souza, do Diário Carioca.

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Vocações literárias e evocações filosóficas foram substituídas por uma narrativa simples e linguagem empobrecida. Pompeu de Souza recebeu, apropriadamente, o título, concedido por Nelson Rodrigues, de ''pai dos idiotas da objetividade''. Era uma adaptação artificial da famosa tese do orador romano Marco Túlio Cícero, para quem uma boa história precisa responder as perguntas quem? (quis/persona), o quê? (quid/factum), onde? (ubi/locus), como? (quem admodum/modus), quando? (quando/tempus), com que meios ou instrumentos? (quibus adminiculis/facultas) e por quê? (cur/causa).

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Técnicas ligadas à apresentação da notícia

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Quando o historiador marxista Nelson Werneck Sodré escreveu a brilhante História da Imprensa Brasileira, em 1966, ele disse: “O desenvolvimento da imprensa no Brasil foi condicionado, como não poderia deixar de ser, ao desenvolvimento do país. Há, entretanto, algo de universal, que pode aparecer mesmo em áreas diferentes daquelas em que surgem por força de condições originais: técnicas de imprensa, por exemplo, no que diz respeito à forma de divulgar, ligadas à apresentação da notícia.” Ele cita o exemplo do tristemente famoso lead e sua regra dos cinco W e um HWho (quem), When (quando), What (que) Where (onde), Why (por quê) e How (como).

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Segundo Sodré, a aplicação das regras do lead leva, inevitavelmente, à transformação de um problema social, cuja raiz está na estrutura da sociedade, em fato isolado. “Utilizando aplicadamente, por exemplo, a técnica do lead, o foca (jornalista principiante) norte-americano transforma qualquer sinal de um problema social constante em fatos isolados que se repetem diariamente e cujas raízes reais ficam apagadas sob os detalhes específicos de cada historieta”, escreveu. É o que se vê, com nitidez, na coberta da “grande imprensa” dos casos do “mensalão”, do senador Renan Calheiros, da violência urbana e de tantos outros.

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A lógica da grande organização na política

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O controle da liberdade de imprensa no Brasil pelo poder econômico não será removido enquanto este modelo de jornalismo alicerçado pelo golpe militar de 1964 — promovido pelos grupos privados para assaltar o Estado e moldá-lo à sua imagem e semelhança — não for demolido. Só assim abriremos caminho para a superação do neoliberalismo e poderemos falar em rumos para o desenvolvimento com democracia. A saída é política — no sentido literal do termo.

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A política ''profissionalizada'', a serviço dos grupos privados, como alertou João Manuel Cardoso de Mello no artigo Conseqüências do Neoliberalismo, depende desse tipo de ''jornalismo''. Para ele, ''era inevitável (...) que a lógica da grande organização penetrasse em esferas de formação e difusão de valores. ''Por exemplo, o jornalista perderia espaço para o jornalista de profissão e na universidade, onde o intelectual seria suplantado pelo burocrata do conhecimento especializado. Era inevitável, finalmente, que o manejo da máquina partidária abrisse campo para a profissionalização da política'', escreveu.




*Osvaldo Bertolino, Jornalista

in Vermelho