- Albano Nunes
Há profundas divergências quanto ao modo de enfrentar a crise
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N.º 1910
8.Julho.2010 -Avante
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"e como que a experiência é a madre das cousas, por ela soubemos radicalmente a verdade" (Duarte Pacheco Pereira)
O Brasil anunciou há algumas semanas que a China se tornou seu parceiro econômico mais importante nos primeiros seis meses de 2009, superando os Estados Unidos pela primeira vez. Apesar da crise global, o volume de mercadorias brasileiras importadas pela China cresceu mais de 40%.
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Há indícios de que a vantagem chinesa se deve sobretudo à crise econômica e que, passada esta, é provável que os EUA reconquistem o primeiro lugar entre os parceiros do Brasil. Porém, o fato confirma uma tendência na América Latina: a influência da China na região está em alta.
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Negócios e matérias primas
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Kerry Brown, especialista em assuntos asiáticos do think tank britânico Chatham House, compara as relações econômicas entre a China e os latino-americanos ao papel do país na África: "O interesse primordial da China na América Latina são negócios e recursos naturais".
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O comércio é vital para a China, concorda Hanns Günther Hilpert, também especialista em Ásia no Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP) em Berlim. Ao conduzir suas relações exteriores, o país tem sempre em mente o benefício de seus interesses comerciais e o próprio desenvolvimento.
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Como no caso da África, Pequim está especialmente interessado em recursos naturais e energia, tendo se tornado o maior importador de cobre, minério de ferro, ouro e petróleo latino-americanos. Mas não se trata de uma relação de mão única, ressalva Hilpert. "A América Latina é um enorme mercado exportador para a China, a atual líder em manufatura industrial."
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De artigos eletrônicos a automóveis, cada vez mais produtos vendidos na América Latina trazem o selo made in China. Ao aumentar suas exportações para a região, Pequim persegue uma estratégia de diversificação. "Eles não querem ficar dependentes demais dos mercados norte-americano e europeu", explica Hilpert.
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Influência política e soft power
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Apesar de seu foco comercial bem definido, a economia não é tudo para os chineses. "É claro que também perseguem certos interesses políticos", comenta Brown. "Eles querem que a primazia da China sobre Taiwan seja reconhecida e fazem disso uma condição para investir em outros países."
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Os taiwaneses ainda mantêm relações com algumas nações da América Central e com o Paraguai, mas a China tenta isolar Taiwan e os governos que o reconhecem, acrescenta Hilpert. "A China também tenta promover seu princípio de não-interferência em questões internas, incluindo as de direitos humanos. Ela procura aliados e pode encontrar alguns entre os latino-americanos."
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Além disso, acrescenta Brown, os chineses também querem ganhar influência através do assim chamado soft power, e já inauguraram diversas sedes do Instituto Confúcio na América Latina.
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Teriam os EUA e a União Europeia motivos para se preocupar com a crescente influência chinesa na região? "A questão não é tanto a América Latina, mas sim a corrida por influência na governança global, e nesse aspecto a China está entre os grandes adversários do Ocidente", explica Hilpert.
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Lucros não são para todos
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Porém, mesmo em termos econômicos, nem toda esperança está perdida para o Ocidente. Como assinalou recentemente o autor argentino Andrés Oppenheimer em sua coluna para o Miami Herald, o investimento direto norte-americano ainda é muito superior ao da China na América Latina e no Caribe. Enquanto as empresas estadunidenses lá injetaram 350 bilhões de dólares em 2007, os chineses não passaram dos 22 bilhões.
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"Mesmo que os investimentos externos da China – voltados principalmente para trens e pontes com o fim de levar matéria-prima até os portos – continuem na proporção atual, demorará décadas até se nivelarem com os dos EUA", calcula Oppenheimer.
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Hilpert acrescenta que, à medida que a presença chinesa se reforça na América Latina, poderá aumentar a crítica à sua política de "nada de perguntas", como ocorreu em relação a seu crescente papel na África. Afinal, nem todos se beneficiam com o empenho econômico chinês na América Latina.
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"Claro que há sentimentos ambivalentes, especialmente quanto às indústrias extrativas", admite o especialista do SWP. "São setores que não contribuem tanto assim para o bem-estar da população, é antes uma minoria reduzida, uma elite que lucra e enriquece. Os pobres e a classe média não são tanto a favor da China quanto essa elite."
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Autor: Michael Knigge
Revisão: Rodrigo Rimon
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Em sua apresentação, Dilermando Toni focou-se na crise, na eleição de Obama, na ação dos EUA no cenário mundial, nos avanços revolucionários e progressistas na América Latina, na transição ao socialismo e na atual correlação de forças em nível mundial, pontos principais do documento-base.
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Segundo ele, a dinâmica não sustentável da economia mundial entrou em crise a partir da economia parasitária dos Estados Unidos, penalizando milhões de trabalhadores em todo mundo. “Esta é a consequência mais perversa”, assinalou. Toni lembrou que “a solução corrente, com o uso de pacotes de salvamento que se elevam a vários trilhões de dólares, mostram o verdadeiro papel do Estado burguês”.
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Isso coloca para os comunistas a necessidade de garantir, na ordem do dia, a discussão sobre a via socialista como saída para as recorrentes crises inerentes ao capitalismo. “O sistema resolve suas crises aumentando a exploração dos trabalhadores e a pressão sobre países emergentes, o que mostra o esgotamento histórico do capitalismo”. Além disso, apontou que “não se pode aceitar que o ônus da crise seja jogado sobre os trabalhadores e deve-se apoiar medidas que visem proteger e fortalecer a economia nacional”.
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No que diz respeito à posição política dos EUA nos mundo, Dilermando Toni apontou a mudança de postura da Casa Branca a partir da eleição de Barack Obama. “Há maior investimento na tática do smart power (poder inteligente), que privilegia a via diplomática, porém vem casada com a manutenção do poder militar para garantir a hegemonia estadunidense. No fundo, o imperialismo não muda de natureza”.
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Onda latinoamericana
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Sobre a América Latina, o dirigente salientou a onda progressista, revolucionária e antiimperialista que tem tomado o continente. “Até pouco tempo atrás, aqui só se falava em neoliberalismo. O retorno dessa discussão sobre o socialismo é altamente positiva, por mais mesclada que essa onda se apresente”.
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Segundo Toni, a América Latina tem procurado “se integrar de maneira crescente e não apenas no aspecto econômico, mas também entre as nações. Isso faz com que sejam criados pólos contra-hegemônicos, o que é significativo num continente que sofreu forte intervenção do imperialismo”. Mas, alertou, “é ilusão achar que os EUA deixaram de tentar interferir. Mesmo que façam discurso mais ameno do que antes, na verdade tentam isolar a Venezuela e ganhar o Brasil pelo seu papel estratégico”.
Tradicionalmente praticante de uma política imperialista, os Estados Unidos se veem agora diante de um novo quadro marcado pela piora de sua situação econômica e pela transição de uma fase unipolar para a multipolaridade. “Para eles, agora, é importante manter o status quo nuclear, não deixando que outros países possuam poder dissuasivo; manter os mercados de capitais liberalizados para que seus capitais possam circular livremente conforme os interesses de sua oligarquia financeira e superar sua crescente dependência energética”.
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Portanto, a geopolítica internacional é hoje marcada, de um lado, pelo parasitismo dos EUA, por seu isolamento crescente e por suas grandes dívidas; por outro, está marcada pelo surgimento de novos atores da periferia do sistema, como os BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China).
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Esses países também trazem inovações numa “situação inédita”, conforme definição do dirigente, por gerarem “uma nova divisão internacional do trabalho”, utilizarem fontes de energia variados, fortalecerem suas empresas estatais e terem grande peso no aumento das reservas internacionais, além de três deles possuírem poder atômico.
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A China, por sua vez, desponta como mais forte desse grupo de países. “Firma-se como potência econômica mundial e procura avançar e conquistar posições. A China sai relativamente fortalecida da crise, com crescimento de 7,9% no segundo semestre deste ano em comparação com o ano passado”. Além disso, colocou que “os três maiores bancos do mundo agora são chineses, e são estatais. Pelo câmbio corrente, já em 2011 seu PIB deverá ultrapassar o do Japão, hoje o segundo maior do mundo”.
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A multipolaridade, segundo Toni, “ajuda na luta pelo socialismo”. Porém, ressaltou: “apesar do quadro de transição, o imperialismo ainda é amplamente dominante do ponto de vista econômico, político, ideológico e militar e ainda é o principal adversário dos povos. Apesar dos avanços na acumulação, a correlação de forças não se alterou substancialmente. Trata-se de fortalecer ainda mais a luta antiimperialista, pela paz e pelo socialismo”.
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De São Paulo,
Priscila Lobregatte
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in Vermelho - 23 DE JULHO DE 2009 - 17h07
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