A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht
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terça-feira, fevereiro 21, 2012

Emir Sader: A lógica da loucura


20 DE FEVEREIRO DE 2012 - 13H16 


Página Inicial

Entrevistas como a do ex-ditador argentino Jorge Videla à revista espanhola Cambio 16 expressam momentos de sinceridade em que se reproduzem, de forma precisa, a lógica que levou aos regimes de terror que imperaram no cone sul latino-americano há poucas décadas.

Por Emir Sader, em seu blog


Olhada desde agora, tudo parece uma loucura, da qual todos tratam de se distanciar, como se fosse expressão da loucura de alguns, que precisa ser reduzida ao passado e a alguns personagens particulares, uma parte dos quais processada e condenada. Teria sido “um momento ruim”, do qual os países teriam virado a página. Esquecer o passado, curar as feridas, voltar-se para o futuro – essa a proposta dos que protagonizaram aquele “loucura”.

Por isso incomoda muito quando algum daqueles personagens que dirigiram, com representação deles, os regimes de terror, retomam a lógica que os uniu. A leitura da entrevista do Videla é muito saudável, porque reproduz a mesma lógica do bloco que se formou para dar o golpe e deu sustentação à ditadura militar. Bastaria mudar alguns nomes e circunstâncias concretas, para que se tivesse um documento adequado ao que aconteceu no Brasil. É o discurso que sobrevive em setores militares e civis saudosos dos tempos do terror contra a democracia e contra o povo. Escutemos o que disse Videla.

“Na Argentina não há justiça, mas vingança, que é algo bem distinto.” “Houve uma assimetria total no tratamento das duas partes enfrentadas no conflito. Fomos acusados como responsáveis, simplesmente, de acontecimentos que não fomos nós que desencadeamos.” 

Desqualificação da Justiça, como revanchismo, para o que eles têm que aparecer como salvadores providenciais de um pais à beira do abismo, com “vazio de poder”, dominado pelo caos. A Justiça os trataria de forma desigual, porque assumem agora a teoria dos “dois demônios”, dos dois bandos em guerra, buscando descaracterizar que foram os agentes do golpe militar, da ruptura da democracia e da instauração de uma ditadura do terror.

Relata Videla que o principal dirigente da oposição, Ricardo Balbin, do Partido Radical, lhe telefonava para incentivar que dessem o golpe. Nada diferente da UDN no Brasil e da Democracia Cristã de Eduardo Frei no Chile. 

“Os empresários também colaboraram e cooperaram conosco. Nosso próprio ministro da Economia, Alfredo Martinez de Hoz, era um homem conhecido da comunidade de empresários da Argentina e havia um bom entendimento e contato com eles.”

“A Igreja cumpriu com o seu dever, foi prudente...” “Minha relação com a Igreja foi excelente, mantivemos uma relação muito cordial, sincera e aberta. Tinhamos inclusive aos capelães castrenses assistindo-nos e nunca se rompeu esta relação de colaboração e amizade.”

No Brasil a Igreja Católica participou ativamente na mobilização para o golpe militar, com o qual romperia e teria papel muito importante na denúncia e na resistência à ditadura. Na Argentina, ao contrário, a Igreja continuou apoiando a ditadura, a ponto de mandarem capelães participarem dos voos da morte, quando duas vezes por semana eram jogados ao mar presos políticos.

“Foi um erro nosso aceitar e manter o termo de desaparecidos digamos como algo nebuloso; em toda guerra há mortos, feridos, aleijados e desaparecidos, isto é, gente que não se sabe onde está. Isto é assim em toda guerra. Em qualquer circunstância do combate, aberto ou fechado, se produzem vitimas. Para nós foi cômodo então aceitar o termo de desaparecido, encobridor de outras realidades (sic), mas foi um erro pelo que ainda estamos pagando e sofrendo muitos de nós. É um problema que pesa sobre nós e não podemos livrar-nos dele. Agora já é tarde para mudar essa realidade. O problema é que não se sabe onde está o desaparecido, não temos resposta a essa questão. No entanto já sabemos quem morreu e em que circunstâncias. Também mais ou menos quantos morreram, aí cada um que invente suas cifras.”

Essa a lógica da loucura das ditaduras militares, dos regimes militares, que uniu as elites dos países do Cone Sul, dirigidos pela alta oficialidade das FFAA, congregando grandes empresários, donos das grandes empresas dos meios de comunicação, com apoio dos EUA. Esse o discurso que os uniu, expresso de forma fria e articulada.

quarta-feira, janeiro 13, 2010

E.conomia.info - 2010.01.11


e.conomia.info

Os avanços da semana na Teoria Económica


Aumenta a pressão sobre o OE/2010
11 Janeiro 2010

Segundo o Financial Times as agências de rating estão de olho em Portugal e querem ver medidas significativas de combate ao défice orçamental. A situação não é comparável à grega, mas vários analistas avisam que o país corre o risco de receber cortes de ratings.
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O Negócios escreve que o Governo decidiu um corte de 10% a 15% no investimento financiado pelo Orçamento do Estado, uma medida que resulta da necessidade de consolidação orçamental
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A Islândia discutida em Portugal…
João Pinto e Castro sai em defesa da Islândia contra Reino Unido e Holanda. Nuno Teles, elogia a análise, mas salienta as diferenças face ao caso porruguês e grego para critica os que defendem politicas orçamentais austeras.
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… E a Europa discutida nos EUA
Para a maioria dos norte-americanos a Europa é um desastre. Essa é, por exemplo, a visão de James Manzi. Paul Krugman discorda e diz que se considerada apenas EU-15 o desempenho entre os dois blocos, desde 1980, e medido pelo PIB per capita, não é assim tão diferente.
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Num outro artigo Krugman apresenta em maior detalhe as razões para considerar a Europa um sucesso económico
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Chavez desvaloriza bolívar em 50% e enfrenta corrida às compras
O Presidente da Venezuela aprovou na sexta-feira uma desvalorização de 50% do bolívar. A decisão gerou forte contestação junto das empresas estrangeiras que tinham capitais no país (nomeadamente as espanholas) e levou milhares às ruas para fazerem compras antes dos preços dispararem, escreve o El País que diz que Chavez ameaça por o exército nas ruas para travar as subidas de preços exageradas.
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Tensão na Argentina sobre decisão de Kirchner de demitir o governador do Banco Central
Na semana passada Cristina Kircher deu ordem ao banco central para vender reservas de modo a pagar divida externa. O governador do banco central recusou-se e alegou que se tratava de uma acção ilegal. Kirchner demitiu-o. Deste então a tensão política e juridica não pára de crescer, escreve o New York Times
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Proposta espanhola de uma política económica comum na EU não colhe junto de alemães e britânicos
A proposta de Jose Luis Zapatero de criação de uma política económica comum na EU, que permita relançar, com credibilidade, a agenda de Lisboa para recuperar a economia europeia na próxima década não colhe junto da Alemanha e do Reino Unido, escreve o El País

A China transformou-se no maior exportador mundial
Depois de 13 meses de queda as exportações chinesas aumentaram 18% em Dezembro face ao mesmo mês do ano anterior, conseguindo assim fechar 2009 à frente da Alemanha como maior exportador mundial, escreve o The Guardian. Com os consumidores do mundo a privilegiarem produtos mais baratos como os produzidos na China, o gigante asiático afirma-se como líder.
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— e.conomia.info
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quinta-feira, agosto 13, 2009

Argentina e Venezuela 22 acordos de cooperação, estimados em US$ 1,1 bilhão

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Argentina e Venezuela 22 acordos de cooperação, estimados em US$ 1,1 bilhão

Posted: 11 Aug 2009 10:14 PM PDT

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Os governos da Venezuela e Argentina assinaram nesta terça (11) 22 novos acordos de cooperação, estimados em US$ 1,1 bilhão. Entre os convênios firmados está a venda de 10 mil veículos à Venezuela (automóveis, ônibus e utilitários), 80 mil toneladas de carne bovina, leite, itens avícolas e arroz.

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A assinatura ocorreu durante a terceira reunião promovida pelos presidentes desde o início do ano e são parte de uma estratégia de integração econômica que visa dobrar o comércio bilateral, de US$ 1,108 bilhão. Em 2003, a cifra era de US$ 150 milhões.
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"Estamos fazendo uma contribuição para a história da integração e do intercâmbio comercial com transferência tecnológica, e uma aposta de que estes processos de integração são chave para a equação energética-alimentar da América do Sul", declarou Cristina.
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Hugo Chávez, por sua vez, afirmou que os acordos são um "passo muito importante" para a união na América do Sul. "Vamos construir a mãe das nações, a rainha das repúblicas, onde os milhões de pessoas que vivem nesta região possam viver dignamente. Este é o desafio que temos", declarou Chávez.

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Assista os pronunciamentos dos presidentes no vídeo abaixo



(Na Periferia do Império - Foto: Telam - Vídeo: YVKE Mundial)

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Na Periferia do Imperio - http://www.naperiferiadoimperio.blogspot.com

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terça-feira, agosto 19, 2008

Garzón vem ao Brasil falar sobre 'Direito à Memória e à Verdade'




Vermelho


17 DE AGOSTO DE 2008 - 12h22

O juiz espanhol Baltasar Garzón estará no Brasil nesta semana para uma série de palestras e debates sobre a violação dos Direitos Humanos, tortura e o direito da sociedade de conhecer o seu passado.



Baltasar Garzón (foto ao lado) ficou mundialmente conhecido em 1998 ao ordenar a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet por crimes contra a humanidade. Foi a mais notória decisão do magistrado que construiu uma carreira baseada no combate à impunidade dos torturadores de cidadãos da Espanha na América Latina, em especial no Chile e na Argentina. A pressão externa de Garzón engrossou o caldo de cultura que permitiu a esses dois vizinhos do Brasil levar aos tribunais militares acusados de tortura e assassinatos durante as respectivas ditaduras.

Garzón foi convidado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH/PR), e cumprirá agenda em São Paulo, nesta segunda-feira, 18, e em Brasília, no dia 19.

Magistrado da Audiencia Nacional, Baltasar Garzón possui o título doutor honoris causa concedido por 21 universidades. Em 1998, ele se tornou conhecido mundialmente por ter decretado a prisão do ditador chileno Augusto Pinochet, em Londres.


O juiz Garzón cumprirá uma agenda de eventos e encontros com autoridades e representantes da sociedade civil em São Paulo e em Brasília. Na segunda-feira, às 15 horas, ele visita, na capital paulista, a exposição “Direito à Memória e à Verdade”, no antigo prédio do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), hoje Estação Pinacoteca.


Estarão presentes o ministro Paulo Vannuchi, da SEDH, o presidente da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, Marco Antônio Barbosa, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da cidade de São Paulo, José Gregori, os secretários da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, Luiz Antônio Marrey, e o da Cultura, João Sayad.


À noite, às 19 horas, no teatro do Hotel Renaissance, Garzón participa do seminário internacional “Direito à Memória e à Verdade”, promovido pela SEDH, Universidade Estadual Paulista (Unesp) e revista Carta Capital, com apoio da Caixa Econômica Federal.


Na terça-feira (19), em Brasília, estão previstos encontros com autoridades do Executivo, Legislativo e Judiciário. Às 17 horas, o juiz fará palestra e participará de debate promovido pela Universidade de Brasília (UnB) e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, no Auditório Joaquim Nabuco, da Faculdade de Direito.

Entrevista

Em breve entrevita à revsita CartaCapital, Garzón antecipou algumas idéias que pretende expor aos brasileiros durante sua participação nos debates em São Paulo e Brasília. Garzón disse não estar nos seus planos investigar crimes de tortura no Brasil, mas que a punição a torturadores é um passo importante à consolidação da democracia. “O mais acertado, o mais humano é que os arquivos sejam abertos e os culpados responsabilizados”, afirmou.

O Brasil, ao contrário de vizinhos próximos, ainda não abriu os arquivos do regime militar nem levou a julgamento acusados de tortura. O que o senhor pensa a respeito?
Baltasar Garzón: Eu creio que a história é recorrente. Quando não são tomadas as decisões necessárias, apoiadas na verdade, na memória, para se estabelecer o que realmente aconteceu no passado, o país tem um problema a resolver. Entendo que o mais acertado, o mais humano, o mais positivo, é que esses arquivos sejam abertos e os culpados responsabilizados, e não se tomar a atitude de “nada acontece, porque é assim mesmo”. Há países que demoram muito para fazer isso, como a Espanha, que levou 70 anos, mas que mesmo assim conseguiu resolver alguns casos e determinar responsabilidades.

O principal argumento dos que são contra a abertura dos arquivos e a abertura de ações judiciais é que isso causaria instabilidade política...
BG: Sempre, em todos estes casos, quando chegamos ao ponto em que é pedida a abertura (dos arquivos), há esta polêmica, que considera que ela só pode ser feita se houver um ataque ao sistema. Mas muitas pessoas, e eu me incluo entre elas, conseguem mostrar que isso não é verdade, que a abertura não tem nada a ver com o risco ao sistema político, e sim com a aplicação prática da Justiça, com a recuperação da memória. Não se pode fechar definitivamente a porta em relação aos atos cometidos durante a ditadura, cuja impunidade é um caso de muita gravidade. É preciso que cada país encontre a sua maneira de fazer justiça, e eu acho que isso pode perfeitamente acontecer no Brasil.

Em que medidas as leis de anistia em países como Argentina, Chile e Brasil não se contrapõem à legislação internacional sobre crimes de tortura, assassinatos e desaparecimentos forçados?
BG: A existência dessas leis locais de anistia, que concedem perdão aos acusados, não foi um obstáculo para a Justiça espanhola em relação aos casos chileno e argentino, porque, se o fato aconteceu fora do país em que a investigação é realizada, é aplicado o princípio da justiça penal universal. Ele estabelece que crimes cometidos contra a humanidade são imprescritíveis. A Corte Interamericana de Direitos Humanos proferiu uma sentença muito importante no caso Barrios Altos (chacina que matou quinze pessoas em Lima, no Peru, em 1991, cometida por paramilitares ligados às Forças Armadas), pelo qual Alberto Fujimori (presidente do Peru à época) está sendo investigado. Ela determinou a abolição da lei de anistia do Peru, que impedia até então a investigação. Portanto, está claro que uma lei de anistia não pode impedir a investigação de crimes de lesa-humanidade.

Embora tardia, a discussão sobre o julgamento de torturadores no Brasil começa a tomar corpo. Quais devem ser os próximos passos desse movimento aqui?
BG: Eu não conheço a realidade brasileira, nem alguma eventual comissão que pretenda resgatar a memória histórica desse período, sobre todos os atos cometidos pelo regime, como o desaparecimento de pessoas. Mas digo que é necessário procurar saber se há jurisprudência, se há uma atuação uniforme dos promotores e juízes em relação aos casos existentes. Só assim é possível saber se o País está em um momento de debate sobre todos os casos do período, e é necessário alcançar este momento. Sobretudo, para fortalecer a democracia, porque o fato de não ter havido apuração dos crimes até agora não significa que eles devem ficar impunes. Somente assim acontecerá a recuperação da memória e da Justiça.

Por que foi conseguido sucesso nesse sentido na Argentina, no Chile, no Uruguai e não no Brasil?
BG: Não tenho conhecimentos concretos sobre o caso do Brasil, e que iniciativas foram tomadas. Porém, nos casos da Argentina e do Chile, tenho uma relação direta, porque fui o responsável pelas ações internacionais direto da Espanha. Elas começaram em 1996, e o ponto alto foi a detenção de Augusto Pinochet, que serviu para ativar todos os mecanismos de Justiça internacional e nacional e para finalmente poder julgar aqueles que cometeram crimes, tanto no Chile como, sobretudo, na Argentina. Esta é a única maneira de fechar as feridas causadas pelo passado mal-resolvido.

Esses crimes são realmente considerados imprescritíveis? Os Estados sul-americanos têm a obrigação de punir os responsáveis por esses crimes?
BG: Sabe-se que em países como Chile e Argentina já se estabeleceu que sim, a Corte Interamericana de Direitos Humanos também disse que sim, do meu ponto de vista, também. O Chile foi o primeiro caso em que a prescrição existia no sistema penal, mas sempre há de se levar em conta que são crimes internacionais, por serem de lesa-humanidade. Portanto, conforme prevê o direito consuetudinário internacional, é obrigatório que este tipo de crime seja combatido e investigado, mesmo que tenha transcorrido um certo tempo, que seria suficiente para caracterizar a prescrição nas leis locais de cada país.

Em caso de omissão estatal, como isso pode ser revisto em cortes internacionais? O Brasil pode receber punições por não levar à Justiça os torturadores e militares em geral envolvidos nesses crimes?
BG: Este é um assunto bastante complicado. É preciso observar se, passado o período da ditadura, as leis que possibilitaram a instituição da democracia permitem barrar as investigações de atos do regime anterior. Creio ser necessária uma interpretação conjunta com as normas internacionais, quando se trata de crimes contra a humanidade, o que permitiria investigar os atos passados da ditadura, não tanto em relação à omissão e, sim, em relação às conseqüências que esses atos tiveram.

Se os crimes cometidos pela ditadura brasileira são contra a humanidade, por que esses delitos não foram tratados assim no País até agora?
BG: Seria necessário ver as decisões que a Justiça brasileira tomou em relação a isso, e eu desconheço qualquer tipo sobre a qualificação desses crimes (cometidos pela ditadura) como de lesa-humanidade. Em todo caso, aqueles crimes que foram cometidos sistematicamente a partir das estruturas de poder, ou por organizações amparadas por essas estruturas, contra determinados setores da população, em razão de suas crenças e idéias políticas, são considerados crimes contra a humanidade. Então seria necessário estudar e entender o caso do Brasil e, a partir desse ponto, decidir pela adoção da doutrina que prevê os crimes de lesa-humanidade nos tribunais brasileiros.

Há informações de que o senhor teria dito a autoridades brasileiras que pretende investigar crimes da ditadura aqui no Brasil. O senhor confirma essa informação? Pretende mesmo investigar crimes no Brasil?
BG: Não, não há nenhum procedimento aberto na Espanha sobre crimes brasileiros, os procedimentos que estavam abertos se referiam ao caso chileno, em que havia vítimas brasileiras, e era isso que estava sendo investigado, não os crimes que foram cometidos no Brasil. Repito que não há nenhum procedimento aberto na Espanha e nem houve a intenção em nenhum momento.

Há um caso específico de um cidadão espanhol, Miguel Sabat Nuet, preso no Brasil pelo DOI-Codi em 1973 e que até hoje consta como desaparecido. Um mês e meio depois ele morreu numa cela, segundo denúncias. O Ministério Público do Brasil investiga no momento a morte de Nuet. O senhor está acompanhando esse caso? O governo e a Justiça espanhóis estão fazendo alguma coisa? Qual medida pode ser tomada por parte da Espanha?
BG: Desconheço a existência deste caso e não sei se ele está seguindo os trâmites diplomáticas, mas a mim não me consta tenha sido iniciado algum tipo de ação internacional, e se houvesse, teria de ser tomada por algum organismo internacional. Em todo caso, como está sendo investigado pela Justiça brasileira, seria necessário esperar o resultado deste processo de investigação. Se for uma desaparição forçada, entra no rol dos crimes internacionais contra a humanidade, não há prescrição, é um delito permanente, e que precisa ser investigado. Se não fosse investigado no Brasil, teria que se investigar na Espanha.

A Justiça da Espanha pode responsabilizar o governo brasileiro pela morte do cidadão Miguel Nuet? O senhor mesmo poderia encaminhar ação nesse sentido?
BG: Eu creio que temos que esperar o que decide a Justiça Brasileira, já que você me disse que o caso está sendo investigado aí. É preciso que a investigação seja concluída, seria leviano e temerário que qualquer autoridade fale em culpabilidade antes do fim do processo.

Na Espanha, chegou-se à conclusão que juízes do país poderiam investigar casos de abusos mesmo se o cidadão vitimado não for espanhol, por tratar-se de crime contra a humanidade. O que o senhor achou da decisão?
BG: Na Espanha existe o principio de justiça penal universal e a lei do poder judicial, de 1985, se aplicou nos casos argentinos, e em outros casos que ainda tramitam na Espanha, como o caso de Salomón e o caso de Sahara, o Tribunal Constitucional Espanhol, em uma sentença de setembro de 2005, reiterada por outras sentenças, estabeleceu que o princípio de justiça penal universal permite que a investigação seja feita quando se trata de crimes de lesa-humanidade, mesmo que a vítima não seja espanhola, o que seria uma espécie de cláusula conta a impunidade. Partindo deste princípio, de que a aplicação correta é prevista pelo Tribunal Constitucional, assim é que aplicamos nos casos em que investigamos.


Com informações da CartaCapital

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quarta-feira, outubro 17, 2007

Padre católico condenado por homicídios e torturas - Argentina: Colaborou na 'Guerra Suja' de 1976/1983

* Ricardo Ramos com agências
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Chamavam-lhe o ‘padre do Diabo’. No auge da ‘guerra suja’ argentina, Christian von Wernich percorria os infames centros de detenção da ditadura e oferecer consolo aos detidos para lhes ganhar a confiança. Depois contava tudo aos torturadores.

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Ontem foi finalmente condenado a prisão perpétua por crimes contra a Humanidade, no primeiro julgamento a expor publicamente as ligações incómodas entre a Igreja Católica local e a antiga ditadura militar argentina.

Wernich, actualmente com 69 anos, era capelão da polícia de Buenos Aires nos anos da ‘guerra suja’ (1976/1983). Sob as ordens do sanguinário general Ramón Campos – conhecido como o ‘Carniceiro de Buenos Aires’ – o padre visitava os centros de detenção e tortura da ditadura, oferecendo consolo aos detidos. Mas a verdadeira missão era ganhar a confiança destes e escutar as confissões, que depois relatava aos torturadores.

Segundo vários sobreviventes, o próprio Wernich chegou a participar em dezenas de interrogatórios, não para apelar pela vida dos detidos, mas para agravar ainda mais o seu sofrimento. “Vocês têm de pagar pelos vossos actos contra a Pátria. Fizeram mal ao país e a dor é a única forma de redimir esse mal. Têm de abraçar a vossa cruz, como Jesus abraçou a dele”, afirmava, ao mesmo tempo que incitava os verdugos, garantindo que estavam a fazer “o trabalho de Deus”.

Após a queda do regime militar, o padre fugiu para o Chile, onde viveu vários anos sob falsa identidade até ter sido localizado e extraditado. Ontem, ao cabo de três meses de julgamento, foi condenado a prisão perpétua pelo envolvimento em sete casos de homicídio, 42 de sequestro e 31 de torturas. Os primeiros dizem respeito a sete jovens estudantes do ensino Secundário, detidos e torturados pela Polícia Militar na cidade de La Plata. Durante vários dias Wernich participou nos interrogatórios dos jovens, ao mesmo tempo que extorquia dinheiro aos pais, afirmando que era capaz de arranjar maneira de os fazer sair do país clandestinamente. Certa noite, foi buscá-los à cela, acompanhado por soldados, afirmando que iam transportar os jovens ao aeroporto. Pelo caminho a carrinha militar parou num local ermo e os jovens foram fuzilados: Von Wernich voltou à cadeia com a sotaina manchada de sangue e não mostrou o mínimo remorso.

Este foi o primeiro julgamento a expor de forma pública a cumplicidade entre a Igreja Católica argentina e a ditadura militar, algo que a hierarquia eclesiástica sempre negou, afirmando – como fez ontem – que se tratava de “actos isolados” da responsabilidade pessoal dos padres envolvidos. O que não explica, por exemplo, porque razão os vigários castrenses argentinos, designados pelo Vaticano, diziam que o país devia ser “purificado por um rio de sangue” ou porque é que a cúpula da Igreja sancionou como forma “cristã” de eliminação os chamados voos da morte, em que presos políticos eram atirados ao mar a partir de aviões.

PERFIL

Christian von Wernich nasceu a 27 de Maio de 1938 na localidade argentina de Concórdia. Enveredou pelo sacerdócio e enquanto capelão da Polícia Militar de Buenos Aires visitava frequentemente os presídios e centros de tortura da ditadura, para oferecer consolo aos detidos. A sua missão, no entanto, era outra: ganhava a confiança dos presos e depois repetia aos ouvidos dos torturadores tudo aquilo que eles lhe diziam em confissão. Chegou a participar em vários interrogatórios, durante os quais zurzia os detidos e absolvia os verdugos. Após a queda da ditadura fugiu para o Chile, onde viveu sob nome falso até ser detido e extraditado em 2003.

in Correio da Manhã 2007.10.11

foto - Enriqe Marcarian / Reuters (padre do Diabo)
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» Comentários no CM on line
Quinta-feira, 11 Outubro

- abuh-nda-deu-yasser É impressionante como há bandidos, assassinos, traficantes de drogas, exploradores de crianças dentro da Igreja, uma verdadeira máfia. É por isso que os padres sempre acusaram os judeus de tudo de ruim que acontecia, para desviar a atenção dos fiéis para os seus próprios crimes.
- manuel gonçalves Devia ser um saudosista da Santa Inquisição.
- Antonio mintoco Isto é so a ponta duma montanha de gelo

Para saber mais sobre a tortura ver; A Tortura através dos tempos

quarta-feira, agosto 29, 2007

O PSTU e os boxeadores cubanos


por Altamiro Borges*
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Texto publicado no site do PSTU, intitulado “Governo Lula entrega atletas cubanos à ditadura castrista”, gerou forte mal-estar entre os lutadores dos movimentos sociais brasileiros. O artigo é similar aos ataques publicados pela mídia burguesa, insinuando um complô entre as diplomacias e as polícias das duas nações. Mesmo registrando que os boxeadores Guilhermo Rigondeaux e Erislandy Lara foram envolvidos numa jogada pelo “empresário alemão Michael Doering, um oportunista ávido em ganhar milhões”, e que ambos manifestaram o “desejo de votar a Cuba”, o PSTU não perdeu a chance para reafirmar sua histórica e sectária oposição ao líder Fidel Castro.


Repetindo frases que abundaram na mídia venal, o artigo afirma que “a deportação foi recheada de suspeitas”, que ela sugere “um pacto de silêncio entre Lula e Fidel” e que a “história é difícil de engolir”. Bem ao estilo das suposições irresponsáveis da revista Veja, que nada fala sobre o campo de tortura dos EUA em Guantanamo, mas sempre acusa a ilha revolucionária de ser uma ditadura sanguinária, o PSTU optou por acolher insinuações sem provas. “[É] bastante provável que os atletas tenham sofrido ameaças de represálias a parentes que permaneceram em Cuba. As ameaças seriam de prisões, perda de casas e de empregos ou coisas ainda mais graves”.

Idealismo e visão dogmática

O ataque descabido serve ao propósito de desqualificar a experiência do socialismo cubano. Para o PSTU, principal filial da Liga Internacional dos Trabalhadores (LIT), Cuba é hoje uma nação capitalista, governada por “stalinistas”. “Graças à revolução, ela conquistou avanços imensos em áreas como educação e saúde... No entanto, tudo está retrocedendo. Acreditamos que o problema que ela enfrenta é que o capitalismo já foi restaurado na ilha pela própria direção castrista”. É como se a soberania nacional, as conquistas sociais da revolução e os avanços na organização popular tivessem sucumbindo e hoje predominassem apenas “as mazelas capitalistas” em Cuba.

Com base nesta visão dogmática e idealista, que não leva em conta nem os 47 anos do criminoso bloqueio dos EUA, o PSTU usa o incidente nos Jogos Pan-Americanos para fazer suas intrigas. “A desigualdade social e a miséria crescente fazem com que os atletas cubanos se sujeitem a aliciadores oportunistas que procuram obter vantagens financeiras. Por outro lado, o regime – uma ditadura que proíbe liberdades democráticas elementares, como sindicatos independentes, greves, jornais autônomos, livros e até viagem de seus cidadãos a outros países – faz ameaças contra os seus parentes, caso abandonem o país, algo tipicamente stalinista”.

O final do artigo é deplorável, algo para não ser esquecido e sempre ser cobrado. “Se por um lado não é aceitável que empresários oportunistas e corruptores se aproveitem da situação dos atletas, por outro, é inaceitável que Lula os entregue ao ditador Fidel Castro. Não foi oferecido asilo, não se atuou como quem está perante uma ditadura. A impressão é que o governo fez um favorzinho para um amigo, um compadre. O que Lula deveria ter feito era dar asilo político aos atletas... A deportação dos cubanos só pode ser vista com um ato explícito de repressão”. Este trecho bem que poderia ser publicado, com letras garrafais, na capa da revista Veja.

Uma trajetória de equívocos

Esta não é a primeira vez que o PSTU, na sua obsessão por demarcar campos e se autoproclamar como a “única e pura” organização revolucionária do cosmos, ataca movimentos e governos que são aliados na luta contra o imperialismo e que buscam, com suas limitações, superar a barbárie capitalista e construir o socialismo. Há poucas semanas atrás este partido surpreendeu o conjunto da esquerda ao criticar o fim da concessão pública à emissora golpista RCTV, taxando a medida de ditatorial e, repetindo o clichê, “stalinista”. No passado, esta corrente, fiel seguidora das idéias do trotskista argentino Nahuel Moreno, fundador da LIT, já cometeu outros erros semelhantes, decorrentes da concepção dogmática e do “otimismo voluntarista”. Vale relembrar alguns casos:

Um que ficou famoso, gerando irônicos comentários na esquerda mundial, se deu na Nicarágua em 1979. Em pleno processo revolucionário nesta nação centro-americana, a corrente morenista decidiu organizar a Brigada Simon Bolívar e enviar militantes de vários países para engrossar a guerrilha contra a ditadura de Somoza. Após a vitória da revolução sandinista, ela passou a fazer oposição ao novo governo de reconstrução nacional, taxando-o de “burguês e pró-imperialista”. Acusando o grupo de fazer o jogo do imperialismo, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) decidiu, em agosto de 1979, expulsar os seus membros não nicaragüenses do país.

O Secretariado Unificado da IV Internacional, que na época ainda reunia o grosso das correntes trotskistas, enviou então uma delegação a Manágua para averiguar o caso. Esta declarou, em 3 de setembro, que “todas as atividades que busquem hoje em dia criar divisões entre as massas mobilizadas e a FSLN são contrárias aos interesses da revolução. Este é o caso, em especial, da Brigada Simon Bolívar. Numa situação política e econômica que exige a maior unidade na luta possível, a FSLN teve razão em exigir que os membros não nicaragüenses deste grupo saiam do país”. O deprimente episódio ocasionou mais uma fratricida divisão no trotskismo mundial.

Euforia diante da débâcle da URSS

Outra passagem triste na história da LIT – e das esquerdas em geral – se deu com a desintegração da URSS e do bloco soviético, a partir do final dos anos 80. Na clássica tese trotskista, estes regimes seriam “estados operários degenerados”, que demandariam “revoluções políticas” para retomar o curso socialista. Moreno, porém, tratou de “atualizar o Programa de Transição”, de Leon Trotsky, prevendo duas etapas nesta estratégica: a “revolução de fevereiro”, democrática, seguida da “revolução de outubro”, socialista. Com este esquema unilateral, a LIT e suas filiais saudaram, eufóricas, os tristes episódios que resultaram na restauração capitalista na região.

Seu III Congresso, em 1990, festejou. “Do mesmo modo em que os últimos meses significaram uma virada histórica para a humanidade, eles foram para a LIT o salto para ganhar influência em setores de massas... O trotskismo está vivo porque a revolução mundial matou o stalinismo e colocou em marcha a grandiosa luta de massas... Está se abrindo a hora do socialismo com democracia”. Tamanho erro de cálculo custou caro. Como repisa uma seita rival, com base nesta leitura, “o morenismo apoiou os movimentos que serviram de ponta de lança do imperialismo contra a URSS, como a reacionária guerrilha islâmica impulsionada pela CIA no Afeganistão... Na Polônia, reivindicou um governo de Lech Walesa e ‘todo poder ao Solidariedade’”.

Apoio ao golpe na Venezuela

Mais recentemente, esta corrente entrou novamente em parafuso com os rápidos acontecimentos na Venezuela. Os seus seguidores se fragmentaram em vários pedaços. A maior referência do morenismo no país, o ex-deputado Alberto Franceschi, virou um dos principais porta-vozes da direita e foi um dos líderes da tentativa frustrada de golpe em abril 2002; tornou-se um próspero produtor agrícola e um poderoso empresário do ramo de transporte. Na década de 80, como líder do MIR, Franceschi foi peça-chave na fundação da LIT e, junto com Nahuel Moreno, escreveu as “Teses sobre guerrilherismo” (1986), um texto de polêmica com os revolucionários cubanos.

Já o seu sucessor, o Partido Socialista dos Trabalhadores (PST), esbarrou no sectarismo da LIT ao apoiar o governo Hugo Chávez. Esta postura duramente rechaçada. “A posição do PST é tão vergonhosa que o seu próprio partido-irmão, o PSTU, denunciou que ‘o conjunto da esquerda apoiou Chávez... e o fez sem denunciar o seu caráter populista e demagógico’”. Devido a estas fraturas, a LIT sucumbiu no país. Em documento recente, ela garante que Chávez “quer negociar com a direita e o imperialismo” e prega uma “oposição ao governo pela esquerda”.

Divisão e falência na Argentina

Outro trauma se deu na Argentina e a ferida nunca se cicatrizou. Afinal, o morenismo nasceu neste país. Foi nele que teve início da militância de Hugo Miguel Bressano como assessor dos Sindicatos dos Têxteis (AOT) e dos Trabalhadores nos Frigoríficos Anglo-Ciabasa. Convertido ao trotskismo nos anos 40, ele se projetaria com o nome de Nahuel Moreno. A sua militância foi marcada por inúmeros ziguezagues, tanto que muitos o chamam de “camaleão político”. Na sua trajetória, foi o construtor do influente Movimento ao Socialismo (MAS). Com o seu “otimismo voluntarista”, tentou várias vezes apressar os fatos políticos, desprezando a correlação de forças.

Com o fim da ditadura e a vitória de Raul Alfonsin, profetizou o imediato trânsito ao socialismo. “Estão dados todos os elementos para que triunfe a Revolução de Outubro”, profetizou. Estes equívocos aventureiros acabaram por implodir o MAS, o “partido-mãe” da LIT. Hoje a corrente morenista está reduzida a frangalhos, tendo a minúscula Frente Operária e Socialista (FOS) como filiada da LIT e quase uma dezena de seitas trotskistas. Apesar disto, ela permanece com a sua cegueira voluntarista. Após a revolta popular de 2001/02, ela concluiu: “Em nosso país se iniciou uma verdadeira revolução... que deixou em ruína o regime democrático-burguês”.



*Altamiro Borges, Miro é jornalista, Secretário de Comunicação do Comitê Central do PCdoB, editor da revista Debate Sindical e autor do livro "As encruzilhadas do sindicalismo" (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição)



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in Vermelho 29 DE AGOSTO DE 2007