O MAIOR PORTUGUÊS DE TODOS OS TEMPOS (1)
ZÉ POVINHO OU FERNÃO MENDES PINTO
* Victor Nogueira
Numa época de crise resolveu a RTP lançar um concurso, o «supra-sumo da democracia» em votação electrónica, por sms ou telefónica, tendo esta maior peso e sendo duas delas com custos de valor acrescentado.
É obra reduzir cerca de oito séculos de história colectiva a uma única personalidade, O ou A MAIOR de todos os tempos, quando se consideram áreas tão distintas como a política, a ciência, a arte, a pintura, a música,o cinema, o teatro, a literatura, o desporto, a religião, as viagens de descobrimentos, etc, etc, etc.
Em certos meios instalou-se a polémica porque a RTP na sua lista exemplar não tinha incluído António Salazar, gritando-se «contra» o lápis azul e o «regresso» da «Censura», embora seja sempre limitada, por razões várias, a listagem que poderia ser elaborada.
Polémicas à parte nenhum dos grandes portugueses ou portuguesas existiu desligado da sociedade e do tempo em que viveram, nenhum deles alcançou o que quer que seja sem a «colaboração» e o trabalho de outros, muitos ou poucos, cujos nomes a história grande ou pequena não registaram ou mal registam.
Sem os camponeses que constituíam o grosso das tropas de Afonso Henriques e outros «senhores» não seriam tomadas de assalto cidades ou alimentadas as tropas ou as populações das cidades sitiadas e saqueadas, sem a arraia miúda o Mestre de Avis não teria sido aclamado rei nem dado origem ao ascenso da burguesia e duma «nova» classe nobre, sem a peonagem Nuno Álvares Pereira não teria derrotado a cavalaria castelhana em Aljubarrota e preservado a independência face ao reino de Castela, sem escravos e cartógrafos o Infante D. Henrique não teria lançado a gesta dos descobrimentos, sem a marinhagem, a soldadesca e os artífices as naus não teriam saído da barra do Tejo nem construído fortes por todo o mundo, sem os agricultores não se teriam produzido os alimentos e sem pescadores não haveria peixe à mesa, sem os artesãos e os operários não se teriam construído os equipamentos, a maquinaria e os produtos necessários à satisfação das necessidades populacionais, distribuídos pelos bufarinheiros e comerciantes.
A perseguição da riqueza ou a fuga à miséria estiveram por detrás da separação do Condado Portucalense face ao Reino de Leão e ao seu alargamento e, posteriormente, dos Portugueses por todo o mundo, muitas vezes tentando buscar lá fora o que a pátria madrasta lhes negava e continua a negar dentro de portas. Graças aos emigrantes e às ex-colónias a língua portuguesa é a 6ª mais falada no mundo,do Brasil a Timor, e dela permanecem vestígios um pouco por toda a parte.
Foi a arraia miúda que apoiou sem êxito o Prior do Crato face às pretensões hegemónicas dos Filipes de Castela, foram os camponeses que constituiram o grosso das tropas na Guerra da Restauração da Independência no século XVII e combateram as tropas invasoras napoleónicas no século XIX ou alinharam pelo liberal D. Pedro IV ou pelo absolutista D. Miguel, numa guerra civil fratricida.
Dividida, muitas vezes, em campos opostos, foi a populaça com as suas virtudes e defeitos que construiu Portugal e permitiu que alguns poucos sobressaíssem, umas vezes favorecendo outras impedindo golpes palacianos como o queem 25 de Abril de 1974 se preparava entre o general Spínola e Marcelo Caetano.
Por isso, votaria no Zé Povinho, criação de Rafael Bordalo Pinheiro. Mas, como este é um personagem sem existência real, «alegórico», resta-me votar em FERNÃO MENDES PINTO.
Fernão Mendes Pinto é um grande aventureiro português,do século XVI. De Montemor-o-Velho, viajou entre a exuberante Índia, a misteriosa China e o exótico Japão. Experiências que o levaram a escrever a "Peregrinação", extraordinário livro de viagens e aventuras, testemunho da grandeza e miséria da expansão de Portugal pelo mundo desconhecido na Europa. Foi Mendes Pinto moço da corte, pirata, comerciante, soldado, «religioso», diplomata,mendigo, escravo ... Na sua obra "considerava que os homens eram iguais, independentemente da sua religião, credo ou situação" e «documenta de forma extremamente viva o impacto das civilizações orientais sobre os europeus recém-chegados e, sobretudo, constitui uma análise extremamente realista da acção dos portugueses no Oriente, muito mais realista que a visão heróica transmitida por Camões n' Os Lusíadas.»
Victor Nogueira
Numa época de crise resolveu a RTP lançar um concurso, o «supra-sumo da democracia» em votação electrónica, por sms ou telefónica, tendo esta maior peso e sendo duas delas com custos de valor acrescentado.
É obra reduzir cerca de oito séculos de história colectiva a uma única personalidade, O ou A MAIOR de todos os tempos, quando se consideram áreas tão distintas como a política, a ciência, a arte, a pintura, a música,o cinema, o teatro, a literatura, o desporto, a religião, as viagens de descobrimentos, etc, etc, etc.
Em certos meios instalou-se a polémica porque a RTP na sua lista exemplar não tinha incluído António Salazar, gritando-se «contra» o lápis azul e o «regresso» da «Censura», embora seja sempre limitada, por razões várias, a listagem que poderia ser elaborada.
Polémicas à parte nenhum dos grandes portugueses ou portuguesas existiu desligado da sociedade e do tempo em que viveram, nenhum deles alcançou o que quer que seja sem a «colaboração» e o trabalho de outros, muitos ou poucos, cujos nomes a história grande ou pequena não registaram ou mal registam.
Sem os camponeses que constituíam o grosso das tropas de Afonso Henriques e outros «senhores» não seriam tomadas de assalto cidades ou alimentadas as tropas ou as populações das cidades sitiadas e saqueadas, sem a arraia miúda o Mestre de Avis não teria sido aclamado rei nem dado origem ao ascenso da burguesia e duma «nova» classe nobre, sem a peonagem Nuno Álvares Pereira não teria derrotado a cavalaria castelhana em Aljubarrota e preservado a independência face ao reino de Castela, sem escravos e cartógrafos o Infante D. Henrique não teria lançado a gesta dos descobrimentos, sem a marinhagem, a soldadesca e os artífices as naus não teriam saído da barra do Tejo nem construído fortes por todo o mundo, sem os agricultores não se teriam produzido os alimentos e sem pescadores não haveria peixe à mesa, sem os artesãos e os operários não se teriam construído os equipamentos, a maquinaria e os produtos necessários à satisfação das necessidades populacionais, distribuídos pelos bufarinheiros e comerciantes.
A perseguição da riqueza ou a fuga à miséria estiveram por detrás da separação do Condado Portucalense face ao Reino de Leão e ao seu alargamento e, posteriormente, dos Portugueses por todo o mundo, muitas vezes tentando buscar lá fora o que a pátria madrasta lhes negava e continua a negar dentro de portas. Graças aos emigrantes e às ex-colónias a língua portuguesa é a 6ª mais falada no mundo,do Brasil a Timor, e dela permanecem vestígios um pouco por toda a parte.
Foi a arraia miúda que apoiou sem êxito o Prior do Crato face às pretensões hegemónicas dos Filipes de Castela, foram os camponeses que constituiram o grosso das tropas na Guerra da Restauração da Independência no século XVII e combateram as tropas invasoras napoleónicas no século XIX ou alinharam pelo liberal D. Pedro IV ou pelo absolutista D. Miguel, numa guerra civil fratricida.
Dividida, muitas vezes, em campos opostos, foi a populaça com as suas virtudes e defeitos que construiu Portugal e permitiu que alguns poucos sobressaíssem, umas vezes favorecendo outras impedindo golpes palacianos como o queem 25 de Abril de 1974 se preparava entre o general Spínola e Marcelo Caetano.
Por isso, votaria no Zé Povinho, criação de Rafael Bordalo Pinheiro. Mas, como este é um personagem sem existência real, «alegórico», resta-me votar em FERNÃO MENDES PINTO.
Fernão Mendes Pinto é um grande aventureiro português,do século XVI. De Montemor-o-Velho, viajou entre a exuberante Índia, a misteriosa China e o exótico Japão. Experiências que o levaram a escrever a "Peregrinação", extraordinário livro de viagens e aventuras, testemunho da grandeza e miséria da expansão de Portugal pelo mundo desconhecido na Europa. Foi Mendes Pinto moço da corte, pirata, comerciante, soldado, «religioso», diplomata,mendigo, escravo ... Na sua obra "considerava que os homens eram iguais, independentemente da sua religião, credo ou situação" e «documenta de forma extremamente viva o impacto das civilizações orientais sobre os europeus recém-chegados e, sobretudo, constitui uma análise extremamente realista da acção dos portugueses no Oriente, muito mais realista que a visão heróica transmitida por Camões n' Os Lusíadas.»
Victor Nogueira
1 comentário:
olha eu votei no Álvaro Cunhal...
abraço
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