«”Somos testemunhas do genocídio”», disseram os activistas Isabel Terraza e António Velázquez»
Depois do brutal desmantelamento do acampamento de Gdaim Izik, as forças ocupantes marroquinas prosseguem uma sanha repressiva contra a população saaráui. As informações dão conta de uma autêntica limpeza étnica em El Aiún.
O balanço marroquino da operação de desmantelamento do campo de protesto fala em 13 mortos (11 polícias e dois civis) e 163 detidos. O responsável da polícia de El Aiún afirmou que ninguém se encontra desaparecido. Mas os números da Frente Polisario são bem diferentes dos dados oficiais admitidos pelos ocupantes.
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Pelo menos 21 pessoas morreram só no assalto a Gdeim Izik e nas primeiras ondas de choque que se seguiram, diz a Polisario. A repressão dos dias posteriores nas cidades de El Aiún e Smara fez, no entanto, disparar o número de feridos para próximo dos 4500. Mais de 2000 pessoas encontram-se detidas, diz a organização.
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Com rigor, ninguém pode fazer um balanço exacto, já que o território encontra-se fechado desde o assalto das autoridades fieis à monarquia ao acampamento, no passado dia 8.
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Jornalistas, deputados e cooperantes de vários países têm sido impedidos de entrar, mas as informações que a República Árabe Saaráui Democrática (RASD) consegue apurar, e que jornalistas e activistas expulsos por Marrocos ou escondidos em casas de saaráuis vão revelando, indicam que está em curso uma autêntica limpeza étnica.
Bestialidade
Embora em cidades como Smara ou Djala os protestos saaráuis do final da semana passada tenham sido reprimidos com violência, a situação é particularmente grave na capital ocupada, El Aiún.
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As rusgas e as detenções sucedem-se. De acordo com a activista Sultana Jaya, só de uma vez foram levados mais de 400 homens, os quais terão sido encaminhados para os quartéis da polícia, uma escola e até campos de futebol.
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Para além destes centros de detenção e tortura (o cidadão espanhol Ahmed Lecuara é um testemunho vivo, apresentado pela Fundação Saara Ocidental, da extensão da tortura por estes dias no território), os saaráuis identificados com a luta do seu povo são igualmente levados para a «prisão negra de El Aíun», onde, há cerca de uma semana, familiares desesperados exigiram a sua libertação. A revolta foi invariavelmente dispersa com brutalidade.
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Nas ruas, o cenário é de pura bestialidade e impunidade. Os saaráuis são obrigados a gritar «viva o rei» e «Saara marroquino». Sultana Jaya relatou também que os marroquinos são instigados a usar gorros brancos para se colocarem a salvo do turbilhão criminoso.
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A Associação de Familiares de Presos e Desaparecidos Saaráuis afirma que as autoridades marroquinas ordenaram aos colonos que constituíssem milícias, as quais saqueiam habitações e lojas, queimam carros de saaráuis.
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Corpos de saaráuis são deixados degolados e cravejados de balas nas artérias de El Aiún para provocar terror, denuncia, por seu lado, o ministro dos Negócios Estrangeiros da RASD, Mohamed Uld Salek.
Relatos contra a indiferença
«Somos testemunhas do genocídio que está a ser cometido sobre a população», disseram os activistas Isabel Terraza e António Velázquez num comunicado postado no Youtube e divulgado pelas organizações Resistência Saaráui e Fundação Saara Ocidental.
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Ambos se encontram escondidos há vários dias em El Aiún, única forma de garantirem a sua segurança. «Querem-nos matar porque podemos dar o nosso testemunho», sublinharam.
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Terraza e Velázquez apelaram, ainda, à Cruz Vermelha para que assista as vítimas da repressão e ao Conselho de Segurança das Nações Unidas para que garanta os direitos humanos daquele povo.
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«Esta é uma emergência internacional. É necessário deter o massacre», insistiram no vídeo que, aparentemente, não despertou qualquer iniciativa por parte da chamada comunidade internacional.
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No mesmo sentido expressou-se o jornalista francês Guillaume Bontoux, para quem o Saara Ocidental está em «estado de sítio». O profissional da Rádio Nacional de Espanha e os activistas espanhóis Silvia García e Javier Sopeña, que como ele foram expulsos do Saara Ocidental, enfatizaram ainda que «não é possível expressar a magnitude do que está a acontecer».
.Avante 2010 11 18
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