2011-04-25
Se o dia 25 de Abril tivesse a tradição do Ano Novo e o reservássemos para tomar decisões de fundo para o rumo das nossas vidas - uma espécie de «medidas estruturais», a bem dizer -, hoje eu aderiria ao pensamento único.
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Até agora tenho-me mantido - sem ganhos que se vejam, confesso - fora do 'mainstream', não sei se por caturrice, se por me aborrecer a ausência de diversidade. Mas descobri que o pensamento único é divertido e variado, nada monocórdico - e a caturrice pode sempre vencer-se.
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O pensamento único não é uma coisa fixa, sempre com a mesma formulação: pode até ter manifestações contraditórias e contém o mesmo sortilégio lúdico do sabonete que tentamos apanhar no fundo da banheira: quando o julgamos agarrado - split! - lá fugiu.
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O pensamento único, afinal, é assim: tudo pode ser o que é ou o seu contrário - desde que o resultado final seja não mudar o que está. O modo como se explicam as contradições é apenas um exercício de ginástica meníngea para combater o Alzheimer - o único alemãozinho que o pensamento único permite que se combata, até ver...
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Descobri esta riqueza criativa do pensamento único quando vi e ouvi os «unicopensadores» encartados da nossa praça a acusarem de «falta de sentido de Estado» a recusa do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda em irem dizer onde lhes dói a alma aos médicos a domicílio - clínicos de receita única, claro! - que acorreram ao 112 que quatro banqueiros mandaram o Governo chamar.
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Ora, até agora, não havia político que, estando no estrangeiro, não recusasse pronunciar-se sobre a situação em Portugal, nomeadamente sobre divergências internas - em nome do sentido de Estado. Era até considerado quase traição, no mínimo «enfraquecer a imagem do Estado», ir lá para fora criticar o Governo, por muito que se discordasse dele.
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Agora, pedir a estrangeiros soluções que não foram sufragadas pelo povo português (privatizações, reduções do salário mínimo) não é falta de sentido de Estado. Falta de sentido de Estado é dizer-lhes que há uma entidade única com quem devem dialogar - o Governo que, bem ou mal, é a única entidade legitimada pelo voto popular. O Estado é uma entidade pisca-pisca, ora existe, ora não, ao serviço do que for preciso fazer segundo as imposições do pensamento único.
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Ná! Apesar de tudo ainda não é já que adiro ao pensamento único. E vou hoje fazer o que sempre tenho feito: juntar-me na rua com muitos milhares que não têm sentido de Estado mas que, mais do que ninguém, têm sentido o estado em que os deixaram.
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Até agora tenho-me mantido - sem ganhos que se vejam, confesso - fora do 'mainstream', não sei se por caturrice, se por me aborrecer a ausência de diversidade. Mas descobri que o pensamento único é divertido e variado, nada monocórdico - e a caturrice pode sempre vencer-se.
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O pensamento único não é uma coisa fixa, sempre com a mesma formulação: pode até ter manifestações contraditórias e contém o mesmo sortilégio lúdico do sabonete que tentamos apanhar no fundo da banheira: quando o julgamos agarrado - split! - lá fugiu.
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O pensamento único, afinal, é assim: tudo pode ser o que é ou o seu contrário - desde que o resultado final seja não mudar o que está. O modo como se explicam as contradições é apenas um exercício de ginástica meníngea para combater o Alzheimer - o único alemãozinho que o pensamento único permite que se combata, até ver...
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Descobri esta riqueza criativa do pensamento único quando vi e ouvi os «unicopensadores» encartados da nossa praça a acusarem de «falta de sentido de Estado» a recusa do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda em irem dizer onde lhes dói a alma aos médicos a domicílio - clínicos de receita única, claro! - que acorreram ao 112 que quatro banqueiros mandaram o Governo chamar.
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Ora, até agora, não havia político que, estando no estrangeiro, não recusasse pronunciar-se sobre a situação em Portugal, nomeadamente sobre divergências internas - em nome do sentido de Estado. Era até considerado quase traição, no mínimo «enfraquecer a imagem do Estado», ir lá para fora criticar o Governo, por muito que se discordasse dele.
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Agora, pedir a estrangeiros soluções que não foram sufragadas pelo povo português (privatizações, reduções do salário mínimo) não é falta de sentido de Estado. Falta de sentido de Estado é dizer-lhes que há uma entidade única com quem devem dialogar - o Governo que, bem ou mal, é a única entidade legitimada pelo voto popular. O Estado é uma entidade pisca-pisca, ora existe, ora não, ao serviço do que for preciso fazer segundo as imposições do pensamento único.
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Ná! Apesar de tudo ainda não é já que adiro ao pensamento único. E vou hoje fazer o que sempre tenho feito: juntar-me na rua com muitos milhares que não têm sentido de Estado mas que, mais do que ninguém, têm sentido o estado em que os deixaram.
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