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| Consoante a geração a que o leitor pertença, o topónimo Amadora identifica a povoação ou o concelho da cintura Norte de Lisboa, onde se operaram profundas alterações económicas, sociais e paisagísticas, particularmente nos últimos 50 anos.
Os mais idosos recordam os tempos dos gloriosos malucos das máquinas voadoras sediados no campo de aviação militar da Porcalhota, outros recuperam imagens duma povoação polvilhada de acolhedoras vivendas de veraneio, nos anos 30 e 40 do século passado. Mas, dos campos recobertos de trigais e dos chalés, pouco ou nada resta na paisagem impermeabilizada pelo cimento e pelo asfalto do vasto dormitório que aí se vem erguendo. Nos anos 50, tudo se transfigurou. Os trabalhadores da capital iniciaram a demanda de habitação mais barata nos arredores; cresceu a construção na vertical, emparedando moradias; como cogumelos, despontaram várias unidades industriais no território circundante da Venda Nova, Alferragide, etc., e com elas chegam as tensões sociais aos novos pólos de desenvolvimento da classe operária.
Dessas lutas temos notícias em crescendo, desde 1955 a 1974. Os operários da Sorefame e das fábricas Bis, Sotanco, Alfredo Alves, CEL-CAT, Cabos Ávila, Cometna e Electro-Arco transformaram-se num contínuo quebra- cabeças para o regime fascista, pela determinação, organização e vigor das suas lutas.
É dessa época que vem a imagem de baluarte comunista, gerado nas múltiplas greves de protesto contra: as más condições de trabalho; as campanhas de produtividade impostas pelo patronato; as horas extraordinárias para compensar feriados; os baixos salários, etc. Em todas elas, a presença do PCP é inquestionável, e se recuperarmos a lista de casas clandestinas e de tipografias que estiveram em actividade na região da Amadora, fica-se com um ideia da íntima ligação da organização clandestina com a luta dos trabalhadores.
Desde 1939 são localizáveis várias casas clandestinas na Venda Nova, no Alto da Damaia, na Buraca, na Amadora (Ago.1960 – Fev.1961, um dos locais onde Álvaro Cunhal esteve algum tempo, depois da fuga de Peniche), na Rua D. Maria, no Bairro da Mina – Amadora (casa de Otávio Pato - 1961), e na Damaia de Baixo (casa de Sofia Ferreira do CL de Lisboa - 1973-1974). Os prelos clandestinos que operaram na área são igualmente merecedores de destaque. O último “Avante!” de 1939 foi impresso na Venda Nova; em 1953-1954, editaram-se folhetos na Buraca; em 1960-1961, o “Avante!” e “O Militante” foram produzidos na R. General Tamagnini n.º 10 – 1º dt, na Damaia, e no ano seguinte, editaram-se na R. Marcos Portugal, na Venda Nova. Mas, o prelo que produzia o “Avante!” e “O Militante” em 1968, foi assaltado pela PIDE, em 20 de Agosto desse ano, encerrando a actividade da tipografia da Praceta Luís Ludovice n.º 2 C/V esq., na Damaia.
Este é o quadro que sobrevive na memória de muitos, e bem poucos sabem dos primeiros comunistas eleitos na Amadora, nas eleições autárquicas de 1925.
Mas, a presença do PCP é mais recuada. - Foi em Setembro de 1923 que se constituiu a primeira comissão administrativa da Comuna da Amadora formada pelos camaradas Manuel Pedrosa, Luna de Carvalho e Adriano Garcia que, em de Novembro desse ano, foram delegados ao I Congresso do PCP. E foi na Amadora, depois do encerramento do Congresso, que se realizou o jantar de homenagem ao delegado da Internacional Comunista, em que participaram 62 militantes, sendo o programa cultural preenchido pelo célebre guitarrista Armandinho e Georgino de Sousa, executando variações de fados. ________________________________
Nota da Redacção - Este foi o último texto que o camarada Costa Feijão nos deixou. O seu falecimento, que no passado número noticiámos, marcou infelizmente o fim da sua colaboração com o Avante!. Fica-nos a memória da sua camaradagem e do seu trabalho.
Artigo publicado na Edição Nº1556 AVANTE 2003.09.25
imagem - tipografia clandestina do PCP
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