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| À parte mais ocidental do País onde a terra acaba e o mar começa, chamaram Estremadura ou, num sentido mais restrito – Oeste, assim designando a faixa alongada do território nacional no sentido Norte - Sul, confinada pela corda de maciços dos Candeeiros, Montejunto, Carregueira, Sintra e pela costa atlântica.
Tendo uma paisagem dominada por vinhedos, pomares e pinheiro bravo, a região exibe miríades de outeiros coroados com ruínas de moinhos de vento, aqui ou ali transformados em habitação de fim de semana, rendendo os moleiros e as moendas que animaram e musicaram o espaço rural, com a rotação dos velames e o zoar das cabaças.
Essa moagem tradicional remonta aos tempos duma produção significativa de cereais de sequeiro que se estendiam até às falésias costeiras, em campos retalhados por canaviais separadores de posse e protectores das ventadas do noroeste que, hoje, soprando do mesmo quadrante, encontram o casario incaracterístico das múltiplas urbanizações balneares, insaciáveis devoradoras do espaço litoral.
Contudo, em terrenos mais recuados, os vinhedos subsistem e neles se alicerça a ilusória independência de pequenos e médios agricultores do Bombarral à Lourinhã, do Cadaval a Torres Vedras, de Mafra ao Sobral de Monte Agraço, lutando por uma sobrevivência dia a dia comprometida, ontem pelas políticas da Junta Nacional do Vinho, hoje pela PAC e demais tramóias comunitárias ao serviço de planos de concentração capitalista da terra.
A famosa e sumarenta fruta das terras de Alcobaça, de Caldas da Rainha e nos demais pomares do Oeste, foi dando lugar a monoculturas onde domina a pêra rocha, com aprimorados acabamentos na cor, no calibre, etc., espécie de produto industrial normalizado. A horticultura que aguarelava o castanho escuro das várzeas com matizados verdes, deu lugar às tiras negras de plástico donde brotam as alfaces, enquanto tomates e pimentos engordam no ambiente artificial de toscos e infindáveis abarracamentos de polietileno.
As profundas transformações operadas no meio rural do Oeste não são meramente paisagísticas, o habitat modificou-se, as tensões sociais afloraram repetidamente no conservadorismo das gentes de pequenas posses e, os comunistas cedo deram conta: das exigências de aumento de jorna dos assalariados rurais no Cadaval, em Julho de 1932; do violento protesto dos pequenos viticultores contra as arbitrariedades do Grémio de Casais do Bombarral, em Janeiro 1935; das confrontações entre os agricultores e a GNR, em A dos Cunhados – Torres Vedras, e das dezenas de viticultores concentrados em Valado de Frades – Alcobaça, protestando contra o arranque da vinha determinado pela Federação Vinícola, em Abril e Junho de 1955.
Os pequenos proprietários, coagidos pelos intermediários que lhes asseguravam o escoamento da produção; sem capitais para investir em equipamentos; foram caindo na ruína, convertendo-se em assalariados e aproximando-se, inexoravelmente, do proletariado.
Essa tendência na dinâmica social, foi longos anos acompanhada pelo PCP. Sem assistência técnica, sem crédito barato e rápido, sem garantia de preços compensadores, e com elevados custos de produção, os pequenos e médios agricultores foram hipotecando a sonhada independência ou vendendo as heranças aos seus credores.
É na linha do esclarecimento, do despertar de consciências e da mobilização de vontades que é lançado como órgão de imprensa clandestina a «Folha da Pequena Lavoura» - ao serviço da unidade dos camponeses do Oeste e Ribatejo, cujo n.º 1 remonta a Agosto de 1962.
Artigo publicado na Edição Nº1552 2003.08.26
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