* Luís Carapinha
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J Jorge Quiroga chefia o partido de direita Podemos (Poder Democrático e Social), principal força da oposição ao actual governo progressista boliviano de Evo Morales. O homem que se arvora agora em paladino do Estado de direito e das liberdades, inimigo assumido da polarização ideológica esquerda/direita e neófito do combate à pobreza - que Morales derrotou por uma ampla margem nas presidenciais de 2005 -, até já conduziu, durante um ano, os destinos da Bolívia, após a renúncia, em 2001, do agonizante general Hugo Banzer, de que era vice-presidente. Banzer, recorde-se, em cuja folha de serviços se inclui um golpe de Estado fascista, a ilegalização dos partidos políticos e a participação na cruenta Operação Condor que os EUA, sob supervisão directa do Nobel da Paz de 1973, Henry Kissinger, arquitectaram para a América do Sul. Que, noutra época e já sob as vestes da democracia, voltou à Presidência, sempre para velar pelos mesmos interesses da oligarquia e submissão a Washington. Os interesses que têm hoje em Quiroga o seu principal porta-voz.
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Foi esta personagem que esteve há dias na Venezuela, a convite de um dos partidos da direita local, produzindo declarações que ajudam a perceber a dimensão do conflito de classes hoje existente na América Latina e o ódio que alimenta a grande burguesia boliviana.
Em declarações ao El Universal (14.10.07), o líder do Podemos apresentou o seu país como «satélite do império chavista». Para Quiroga, os avanços populares na região constituem um «radicalismo retrógrado», resultado do «maior projecto político (...) da história da América Latina (...) que emana da Venezuela», e está centrado no «factor de perturbação» que representa Chávez, o «político mais influente da história contemporânea da América Latina». Um projecto de «expansão regional a largo prazo», face ao qual o líder da reacção boliviana preconiza, cinicamente, uma luta «sem violência, nem radicalismos», recorrendo curiosamente a um lema particularmente caro, nos dias que correm, ao ideário e acção de uma certa “esquerda pós-moderna”.
Foi esta personagem que esteve há dias na Venezuela, a convite de um dos partidos da direita local, produzindo declarações que ajudam a perceber a dimensão do conflito de classes hoje existente na América Latina e o ódio que alimenta a grande burguesia boliviana.
Em declarações ao El Universal (14.10.07), o líder do Podemos apresentou o seu país como «satélite do império chavista». Para Quiroga, os avanços populares na região constituem um «radicalismo retrógrado», resultado do «maior projecto político (...) da história da América Latina (...) que emana da Venezuela», e está centrado no «factor de perturbação» que representa Chávez, o «político mais influente da história contemporânea da América Latina». Um projecto de «expansão regional a largo prazo», face ao qual o líder da reacção boliviana preconiza, cinicamente, uma luta «sem violência, nem radicalismos», recorrendo curiosamente a um lema particularmente caro, nos dias que correm, ao ideário e acção de uma certa “esquerda pós-moderna”.
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De que modo a direita está a implementar este princípio nas condições bolivianas já se está a ver: paralisando a Assembleia Constituinte, decidida por uma maioria popular, enveredando pela via aberta do separatismo e da fragmentação do país, organizando e armando, à boa maneira fascista, hordas que se dedicam a actos de agressão e vandalismo; não hesitando em utilizar todos os meios de sabotagem económica, ao mesmo tempo que facilita a agressão mediática contínua, inseparável da cortina de silêncio, em torno da realidade boliviana, que o monopólio dos média ergue para o exterior. Para estes “democráticos” fins, e os restantes facilmente adivinháveis, não faltam os dólares da USAID que jorram aos milhões. Um cenário que está muito longe, aliás, de ser inédito.
Na Bolívia não está em curso uma revolução socialista. Mas a eleição de Morales, na senda da insurreição popular de 2003, em torno da guerra do gás – factor catalisador de um conjunto bem mais vasto de reivindicações populares –, permitiu, apesar das suas contradições e fragilidades, o avanço de um processo de orientação popular e anti-imperialista, com múltiplas expressões, desde a nacionalização do sector gasífero e o projecto de erradicação do latifúndio, à incorporação na ALBA e aos programas sociais em desenvolvimento. São estas as razões que explicam hoje a (re)emergência da agenda golpista e do visceral ódio de classe - do “mais vale morto do que vermelho” -, confirmando que no altiplano está também em cima da mesa o próprio futuro da emancipação latino-americana.
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De que modo a direita está a implementar este princípio nas condições bolivianas já se está a ver: paralisando a Assembleia Constituinte, decidida por uma maioria popular, enveredando pela via aberta do separatismo e da fragmentação do país, organizando e armando, à boa maneira fascista, hordas que se dedicam a actos de agressão e vandalismo; não hesitando em utilizar todos os meios de sabotagem económica, ao mesmo tempo que facilita a agressão mediática contínua, inseparável da cortina de silêncio, em torno da realidade boliviana, que o monopólio dos média ergue para o exterior. Para estes “democráticos” fins, e os restantes facilmente adivinháveis, não faltam os dólares da USAID que jorram aos milhões. Um cenário que está muito longe, aliás, de ser inédito.
Na Bolívia não está em curso uma revolução socialista. Mas a eleição de Morales, na senda da insurreição popular de 2003, em torno da guerra do gás – factor catalisador de um conjunto bem mais vasto de reivindicações populares –, permitiu, apesar das suas contradições e fragilidades, o avanço de um processo de orientação popular e anti-imperialista, com múltiplas expressões, desde a nacionalização do sector gasífero e o projecto de erradicação do latifúndio, à incorporação na ALBA e aos programas sociais em desenvolvimento. São estas as razões que explicam hoje a (re)emergência da agenda golpista e do visceral ódio de classe - do “mais vale morto do que vermelho” -, confirmando que no altiplano está também em cima da mesa o próprio futuro da emancipação latino-americana.
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in Avante - Nº 1769 - 25.Outubro.2007
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Foto - Eleições na Bolívia
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