• Ângelo Alves
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A hipocrisia continua a reinar na chamada «comunidade internacional» e a contribuir para o banho de sangue
Os acontecimentos na Faixa de Gaza são um poderoso libelo acusatório contra as classes dominantes em Israel, a reacção árabe, o sionismo e o imperialismo. Estamos perante a pior guerra levada a cabo por Israel desde a guerra dos seis dias em 1967. Uma guerra suja, calculada e preparada durante meses e meses. Uma guerra assassina, objectivamente apoiada pelas principais potências imperialistas mundiais que, desde o apoio aberto dos EUA à vergonhosa posição da maioria dos governos da União Europeia, dão todo o tempo necessário a Israel para continuar a matança e invadir o território.
Os acontecimentos na Faixa de Gaza são um poderoso libelo acusatório contra as classes dominantes em Israel, a reacção árabe, o sionismo e o imperialismo. Estamos perante a pior guerra levada a cabo por Israel desde a guerra dos seis dias em 1967. Uma guerra suja, calculada e preparada durante meses e meses. Uma guerra assassina, objectivamente apoiada pelas principais potências imperialistas mundiais que, desde o apoio aberto dos EUA à vergonhosa posição da maioria dos governos da União Europeia, dão todo o tempo necessário a Israel para continuar a matança e invadir o território.
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Apesar dos cerca de mil mortos e milhares de feridos, apesar das dezenas de milhares de desalojados, apesar das notícias de utilização de armas proibidas na invasão de Gaza, apesar das estatísticas que apontam para que cerca de 90% das vítimas da invasão sejam civis desarmados, apesar dos bombardeamentos de habitações, escolas, hospitais e locais de culto, apesar dos ataques a comboios humanitários e instalações da ONU, entre muitos outros crimes, apesar disso tudo, a hipocrisia continua a reinar na chamada «comunidade internacional» e a contribuir para o banho de sangue. Mais uma vez na sua história o Conselho de Segurança da ONU optou por branquear os crimes israelitas e por não exigir rigorosamente nada de Israel, aprovando uma Resolução que face à barbárie se limita a «apelar» a um cessar-fogo que «possa conduzir» à retirada das tropas israelitas do território. O resultado foi o esperado, ou seja, nenhum. A agressão israelita não só não parou como se intensificou, entrando agora na sua «terceira fase». Sarkozy, o «incansável» presidente francês, «surfa» a situação e com Hosni Mubarak trabalha um «plano de paz franco-egípcio» de que muito se fala mas que ignora por completo as mais básicas exigências: fim dos ataques, retirada imediata das forças ocupantes israelitas e fim do bloqueio a Gaza. Nos círculos dirigentes da União Europeia a solução clássica do «envio de uma força multinacional com um mandato robusto» começa a tomar forma confirmando a tendência já evidenciada na guerra do Líbano de 2006 de um maior envolvimento e presença militar europeia no Médio Oriente. Entretanto a questão central do respeito pelos inalienáveis direitos do povo palestiniano e pelas inúmeras resoluções das Nações Unidas que os reconhecem desaparece por completo dos discursos oficiais. É o sistema a funcionar, no seu melhor.
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E porque isto anda tudo ligado, alguns dos protagonistas dos crimes, da hipocrisia e da cumplicidade com Israel reuniram-se a passada semana em Paris numa conferência intitulada «Novo Mundo, Novo Capitalismo», organizada por Tony Blair e Nicolas Sarkozy. Figuras como Angela Merkel, Francis Fukuyama, Giulio Tremonti (ministro das Finanças italiano), Pascal Lamy (director da OMC), Jean Claude Trichet (Presidente do BCE), e Yaël Tamir (ministra da Educação israelita), entre outras, compuseram o arco político desta iniciativa cujo mote foi mais uma vez o estafado discurso da refundação do capitalismo, da regulação e da ética, mas não só… Registe-se o aprofundamento dos discursos de rivalidade com os EUA por Sarkozy e as propostas peregrinas de Merkel da criação de um conselho económico mundial à semelhança do Conselho de Segurança da ONU e de uma «Carta» para o bom funcionamento da economia (capitalista claro) à semelhança da Carta dos Direitos Humanos. Ou seja, os mesmos que usam as instituições internacionais para permitir o banho de sangue na Palestina, são os mesmos que querem transformar em doutrina oficial mundial o sistema que está na génese das injustiças, da pobreza, da guerra e da morte e criar novas instituições de domínio económico com um poder ainda mais centralizado. E registe-se ainda que nesta orgia ideológica de «salvação» do capitalismo participou John Monks, secretário-geral da Confederação Europeia de Sindicatos. É o sistema a funcionar…
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in Avante 2009.01.15
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