A Internacional

__ dementesim . . Do rio que tudo arrasta se diz que é violento Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem. . _____ . Quem luta pelo comunismo Deve saber lutar e não lutar, Dizer a verdade e não dizer a verdade, Prestar serviços e recusar serviços, Ter fé e não ter fé, Expor-se ao perigo e evitá-lo, Ser reconhecido e não ser reconhecido. Quem luta pelo comunismo . . Só tem uma verdade: A de lutar pelo comunismo. . . Bertold Brecht

terça-feira, março 13, 2012

Eduardo Dâmaso - A política da crise


Correio da Manhã
Correio Directo
Em tempos de crise tão radical como a que vivemos o que discute o País político? Qual é a agenda política deste ciclo de crise?
Por:Eduardo Dâmaso, Director-Adjunto
Indiferente a um País economicamente parado e socialmente em ruptura, o Governo afunda-se nas lutas internas entre álvaros e gaspares, na falta de coordenação e numa política de mercearia que está a matar a economia.
O Presidente da República recupera o fantasma da ópera que vive em Paris e consegue unir este PS minado pelos delírios e interesses dos boys e girls do ex-líder. O País, esse, sofre, ainda em quase silêncio, com os seus problemas e com esta politicazinha que, convenhamos, está longe de contemplá-lo nas suas preocupações.

segunda-feira, março 12, 2012

Do nascimento à morte o que mais conta é a classe social



Em Washington D.C. entre o mais rico dos habitantes e o mais pobre há 18 anos de diferença na esperança média de vida
Em Washington D.C. entre o mais rico dos habitantes e o mais pobre há 18 anos de diferença na esperança média de vida (Scott Olson/AFP)


Saúde
04.03.2012 - 18:02 Por Catarina Gomes


 Michael Marmot veio ao Portugal em crise relembrar que por cada 1% na subida da taxa de desemprego, os suicídios crescem 0,8%. A boa notícia é que descem as mortes por acidentes de viação, ironiza. Viagem ao mundo das desigualdades na saúde com muito humor negro

Já não soa a surpreendente dizer que a esperança média de vida de uma mulher no Zimbabwe é de 42 anos e a de uma japonesa é de 80 anos, uma diferença de 38 anos, portanto. Ou que um queniano morre em média aos 47 anos e um sueco pode chegar contar aos 82, enuncia Michael Marmot, professor catedrático em Epidemiologia e Saúde Pública e director do Instituto Internacional para a Sociedade e Saúde na University College de Londres.


Mas e se o universo de que falamos for antes uma das zonas mais ricas de Londres, Westminster? Isso mesmo, o sítio onde fica o Parlamento britânico "e onde vivem muitos políticos e pessoas ricas". Pois nesta área geográfica, a diferença entre o mais rico e o mais pobre dos habitantes é de 17 anos. Não é preciso, por isso, apanhar um avião para África. "Eu faço este percurso de bicicleta em cerca de 25 minutos", disse o inglês Michael Marmot, na semana passada, perante uma plateia de profissionais de saúde no Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge, em Lisboa. 

"É um mito pensar que a Europa é uma região rica e não tem estes problemas. Há grandes desigualdades entre as pessoas, dentro dos países". E esta não é uma particularidade de Inglaterra, é possível encontrar o mesmo fenómeno, por exemplo, numa simples viagem de metro na capital norte americana, continua. Em Washington D.C. entre o mais rico dos seus habitantes e o mais pobre distam 18 anos de diferença em esperança média de vida, explicita o académico. Este tipo de desigualdades sociais que se reflectem na mortalidade e no estado de saúde das pessoas são tão transversais e tão permanentes que "até na igualitária Suécia há um estudo que mostra que há diferenças entre um detentor de um doutoramento e o de um mestrado, o doutorado tem maior esperança de vida". 

A ideia de que o grupo social a que se pertence é determinante em termos de saúde é uma verdade que Michael Marmot foi encontrar no mais insuspeito dos grupos: os funcionários públicos britânicos, numa investigação que ficou famosa em Inglaterra, publicada na revista científica Lancet em 1991. Falando ao PÚBLICO após a conferência, disse que "não estamos aqui a falar de pobreza, todos eles têm emprego, casa, uma vida com alguma dignidade". Mas ainda assim encontrou maiores taxas de mortalidade entre os funcionários públicos do final da escala comparados com os do topo. 

O que este estudo veio desmentir foi a ideia de senso comum de que as funções de maior responsabilidade trazem consigo mais stress e por isso mais doença cardiovascular, por exemplo, explicou. Pelo contrário, o que se constata é que é determinante o grau de autonomia que se tem no trabalho. 

Nas investigações deste tipo chega-se à conclusão de que "o exemplo típico do trabalho com os níveis mais altos de stress é aquele em que a pessoa tem que fazer sempre as mesmas coisas da mesma forma e não tem qualquer controlo sobre o que faz, só tem que o fazer", ou seja, há mais stress, por exemplo num operário de uma fábrica, "que tem que pedir para ir à casa de banho, só tem que se fazer o que lhe é dito, não tem qualquer controlo sobre o seu trabalho", do que num administrador público de topo. Este "sabe que o que está a fazer é importante, há realização profissional. É um trabalho exigente mas tem mais controlo sobre o seu trabalho".

Marmot, que também esteve na Universidade do Algarve, tem dedicado o seu trabalho de pesquisa dos últimos 35 anos ao tema das desigualdades em saúde. E o que fez perante este auditório cheio de pessoas ligadas à saúde foi transportá-los ao longo de uma espécie de viagem ao mundo das desigualdades na saúde, que começa desde o nascimento e só termina até na morte. Com muito humor negro à mistura.

O pobre burro fica burro

Comece-se então nos primeiros anos de vida. Um estudo britânico de 2003 avaliou o desenvolvimento cognitivo de crianças dos 22 meses aos 10 anos, acompanhando o percurso de quatro tipos de crianças. Imaginemos que estamos a falar apenas de quatro crianças, para que se perceba: há duas que aos 22 meses pontuaram baixo na escala de desenvolvimento cognitivo, uma destas era originária de uma família de baixo estatuto socioeconómico e outra de um alto; e outras duas crianças que, no início de vida, estão nos valores mais altos do desenvolvimento cognitivo, mas uma é de um baixo estrato social e outra de alto. O que acontece a estas quatro crianças quando crescem? A criança com baixo desenvolvimento cognitivo de uma família rica recupera esse atraso, já aquela que tinha tido o mesmo baixo ponto de partida mantém-se ao mesmo nível. Nos dois meninos a quem foi identificado alto nível cognitivo, o da família pobre desce de desempenho intelectual à medida que avança na idade, o que cresceu num lar rico mantém o seu desempenho alto. O professor resume da seguinte forma este estudo: "Se se for pobre e burro fica-se burro, se se for burro e rico recupera-se. É a prova de que os genes não definem o destino e que a envolvência social é determinante e que o social potencia o biológico".Tomando depois como referência apenas dois elementos que afectam o desenvolvimento infantil sai reforçada a ideia da desigualdade social, continuou o académico. Logo à nascença, as crianças que nascem em famílias mais desfavorecidas têm maior probabilidade de terem mães com depressão pós-parto (cerca de 20%), número que não chega aos 10% no caso de famílias de estrato social mais elevado, revelam dados britânicos oficiais do Departamento da Criança, Escolas e Famílias de 2003-04 que citou. Um pouco mais velhinhos, aos três anos, cerca de 75% dos pais de famílias com estatuto socioeconómico mais alto lêem aos seus filhos todos os dias, uma prática que as estimula em termos cognitivos, número que desce para os cerca de 40% nos lares mais desfavorecidos. 

E se estivermos a falar já da vida activa? E aqui Marmot mostrou um gráfico com uma escala que relaciona o grau de saúde mental com o tipo de vínculo laboral que se tem - dos que trabalhavam sem contrato, aos que têm trabalho temporário, aos que têm contrato e termo e os que estão integrados nos quadros. O estado de saúde mental é muito pior entre os que têm formas de trabalho mais precárias e alcança os melhores níveis entre os trabalhadores com estabilidade laboral. A leitura óbvia será a de que a precariedade laboral é causa de piores níveis de saúde mental, verdade?. "Sabem como é que um grupo de economistas a quem mostrei este gráfico o leram? Disseram que era prova que as pessoas com pior saúde mental estavam a entrar para trabalhos mais precários". E neste momento, como em tantos outros, arrancou gargalhadas à plateia.

Ao Portugal em crise, Marmot veio relembrar que "está provado que o aumento em 1% da taxa de desemprego faz subir em 0,8% a taxa de suicídios e 0,8% a de homicídios. O desemprego leva ao suicídio e a matar outras pessoas". Mas, também é verdade, continuou, que as mortes por acidentes de viação descem 1,4%," circula-se menos porque há menos dinheiro para a gasolina", ironizou. "Se fizermos as contas e quisermos ser cínicos podemos chegar à conclusão que a coisa fica quase ela por ela", concluiu Marmot.

Fumar mata

O professor não se limita a trazer números. O seu tom vai além do académico, assume na sua conferência o papel de porta-voz da uma mensagem que quer fazer passar: "Ouve-se os ministros das finanças dizerem que este é o preço para manter a inflação baixa". "E se a frase fosse antes "o preço de manter a inflação baixa é matar pessoas"- "isto devia ser o mais importante do debate, não é só olhar para alguns números". Para Michael Marmot "devíamos avaliar todas as políticas pelo impacto que estas terão na saúde" porque, ao fim ao cabo,"o que é que pode ser mais importante do que a vida que se pode ter?".E na saúde tudo tem a ver com expectativas, disse ao PÚBLICO. Tomemos como exemplo os fumadores. As maiores taxas de fumadores encontram-se entre os mais pobres e esta é uma causa objectiva que está na origem de maior doença, o cancro do pulmão, por exemplo. "Temos que lidar não apenas com as causas da doença, mas com as causas das causas". Por que é que quanto menos educação mais se tende a fumar"? As razões dá-as em forma de um estudo que pensa ser exemplar. "Houve um estudo britânico que foi estudar mães solteiras, viviam em situações de pobreza e quase todas fumavam". A conclusão subjacente ao estudo era a de que "fumar era a única coisa que faziam para si mesmas. Os miúdos gritavam, faziam barulho, o que é que elas faziam? Acendiam um cigarro, era uma estratégia de lidar com a situação".

Pobres e ricos em Glasgow

Marmot fala de outro estudo que diz que na saúde tudo tem a ver com a forma como se olha para o futuro. "Quem valoriza está disposto a fazer sacrifícios para ganhos futuros. Se não se acha que se tem futuro há menos incentivo a fazer sacrifícios hoje para um futuro que não se sabe se tem". Querem outro exemplo? Michael Marmot providencia. Na parte mais pobre da cidade escocesa de Glasgow há uma diferença de esperança de vida de 28 anos entre os homens, comparando os habitantes das partes mais ricas em relação às mais pobres, "a esperança média de vida entre os homens mais pobres é de 54 anos, é menos oito anos do que a média indiana para homens, que é 62".

"Num encontro onde apresentei estes dados veio uma pessoa ter comigo e disse que vivia na parte mais rica de Glasgow mas que tinha um amigo que vivia na parte pobre que lhe tinha dito que não fez absolutamente nada para vir a ter reforma". Porquê? "Porque achava que não ia chegar lá. Porque as pessoas perceberam que vão ter vidas duras por que é que hão-de se chatear com a ideia de deixar de fumar? As expectativas que temos na vida têm impacto na saúde".

Agora que já sabemos tudo isto, que pesam na balança da saúde e da morte as circunstâncias em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem, que temos provas científicas que dão conta destas diferenças por que falta "vontade política"? Em 2008, no relatório encomendado pelo Governo Trabalhista que ficou conhecido como Marmot Review, deixou as áreas principais que podem e devem ser objecto de acção política tendentes a esbater estas diferenças: o desenvolvimento infantil; a educação e formação ao longo da vida; as condições de emprego; o rendimento; a existência de locais saudáveis e sustentáveis na comunidade; e factores como o tabagismo, o consumo de álcool, a obesidade ou o exercício físico. Em Lisboa, Marmot foi ouvido por um auditório cheio de pessoas ligadas à saúde que o aplaudiram de pé. E a sua mensagem foi: "O que é que pode ser mais importante do que a saúde das pessoas?"

Notícia corrigida às 11h02, de 5.03.2012. No primeiro parágrafo "42" foi substituído por "38"

Geração à rasca: um ano depois para onde foi a indignação?


"Manif" foi um protesto contra a classe política mobilizado com a ajuda da Internet
"Manif" foi um protesto contra a classe política mobilizado com a ajuda da Internet (Foto: Paulo Pimenta)

Um ano depois da grande manifestação

11.03.2012 - 22:40 Por Natália Faria



Nesta segunda-feira faz um ano que milhares de portugueses saíram à rua. E depois? Para onde foi a indignação? Uma historiadora, um sociólogo, um psicanalista e um activista arriscam respostas


Há um ano, o país levou uma bofetada. Milhares de pessoas (cerca de 300 mil, segundo a polícia; mais de 500 mil, diz a organização) saíram à rua para protestar contra a precariedade que lhes foi imposta. O apelo à mobilização correu célere no Facebook, com alguns jovens até então anónimos a conseguirem aquilo que nenhum sindicato e nenhum partido haviam conseguido. Um ano depois, para onde foi tanta indignação? "Está paralisada pelo medo e pela estupefacção", responde Joaquin Estefanía, ex-director do diário espanhol El País, para quem o medo foi transformado numa arma de controlo social (ver entrevista na página ao lado). 


Dizendo-se "atónita com tanta passividade" portuguesa, a historiadora Irene Flunsel Pimentel concorda que as pessoas estão "amedrontadas, aterrorizadas e desorientadas, sobretudo porque não vêem nenhuma luz ao fundo do túnel". "As que ainda têm emprego têm medo de o perder mas também não sabem muito bem o que fazer", explica, para, no jogo das diferenças com as reacções à crise nos outros países, atirar culpas à herança deixada por Salazar. "A Espanha e a Grécia tiveram tremendas guerras civis, com milhares de mortos, e isso acaba por se inscrever no código genético das populações. Nós tivemos um ditador que viveu sempre com o apoio de uma parte da população, não se pode dizer que subsistiu apenas através da repressão. Não havia liberdade, mas havia aquela pessoa que zelava pela nossa segurança, que não nos deixava cair na miséria total e que nos habituou a pensar que os outros é que mandam em nós". 



O psicanalista Coimbra de Matos também alude à sensação de que nada se pode contra o que está a acontecer para explicar o que tem mantido a indignação portuguesa no reduto doméstico. "Somos um povo passivo, sem aquilo a que os ingleses chamam empowerment, de pessoas habituadas a não ter poder nas suas mãos, e suponho que isso deva algo à ditadura. Esta, sendo relativamente suave - não era como em Espanha, que matava muito mais -, apelava à capacidade de conformação dos portugueses e usava métodos que não suscitavam uma reacção tão maciça e tão discordante". Temos assim todo um país mergulhado numa "depressão patológica, que ?? uma reacção à perda e a um sentimento de injustiça, mas que, no caso português, não comporta a revolta e até acredita que a culpa é um bocado nossa, porque vivemos acima das nossas posses". 



Numa leitura diferente, o sociólogo e político Augusto Santos Silva sustenta que a indignação se domesticou porque perdeu o alvo directo. "A actuação política em Portugal tornou-se exógena. Com a celebração do pacote de ajuda financeira, a capacidade de actuação autónoma do Governo diminuiu radicalmente aos olhos da opinião pública; logo, as acções reivindicativas deixaram de ter tantas condições de atingir os seus objectivos". 



Inquestionável é que se a revolta que há um ano saiu à rua não assumiu entretanto contornos de violência, não é porque as perspectivas tenham melhorado. Ao contrário. O desemprego galgou entretanto até aos 14%: 770 mil pessoas sem trabalho. Se olharmos só para os sub-25, são 30,7% os desempregados. É a terceira maior taxa da UE. O resto é o que se sabe. A perpetuação dos contratos a prazo a assumir letra de lei, os estágios sem remuneração, a instabilidade dos recibos verdes a adiar o futuro. Mas os jovens não estão mais à rasca que os outros. A manifestação de há um ano, porque mobilizadora de todas as idades, mostrou-o. Havia pensionistas de pensões congeladas, logo sem dinheiro para a conta dos medicamentos. Havia famílias sobretaxadas, nomeadamente pelo medo de deixarem de conseguir pagar a casa. Sublinhem-se, a propósito, as 670.637 famílias que chegaram ao fim de 2011 a não conseguir pagar os empréstimos aos bancos. 



Para Irene Pimentel, a heterogeneidade dos manifestantes foi a força mas também a fraqueza daquela manifestação e uma das razões para que, a seguir, nada de extraordinário tenha acontecido. "Aquilo englobou desde a extrema-esquerda, à extrema-direita. Até neonazis. E criou-se em torno dessa manifestação um unanimismo que englobava todas as opções políticas contra um fenómeno muito complicado que era a precariedade. Mas aquilo vivia de uma falsa solidariedade e de um falso corporativismo, porque muitas pessoas estavam lá para derrubar o Governo". O sociólogo e ex-ministro do anterior executivo Augusto Santos Silva também sustenta que foi o contexto político que ditou que o protesto tivesse há um ano uma expressão que não viria a repetir-se. "Naquela manifestação confluíram os interesses do BE, do PCP e do PSD, que criaram uma lógica de tenaz para derrubar o Governo socialista, liderado por um ministro muito enérgico, José Sócrates, que concentrava em si todo o amor e todo ódio político possível. Hoje, Portugal vive uma situação de tutela e isso levou a uma mudança do horizonte de expectativas, isto é, as pessoas assimilaram a ideia de que as perdas que sentem decorrem de uma imposição externa mais do que de uma posição autónoma do Governo de Passos Coelho, e, portanto, sentem que as condições de obtenção dos objectivos diminuíram radicalmente a partir do momento em que a troika passou a regular o funcionamento do país". 



A tensão existe. Rebenta? "A explosão da revolta social pode acontecer, mas tem vindo a ser contrariada pela actuação muito prudente do PCP e da CGTP, que entretanto recuperaram a liderança do protesto", contextualiza Santos Silva, para recordar que, "ao longo da História, os movimentos mais propícios às revoluções nunca foram os momentos de máxima privação mas aqueles em que a exequibilidade de mudança se tornou mais real". Ora, João Labrincha, um dos desempregados que apareciam a assinar o manifesto que apelou à manif de 12 de Março, acredita que a mudança já começou. "As dinâmicas sociais criadas neste momento em Portugal mostram que as pessoas estão a fazer acontecer como nunca antes na nossa democracia. Há movimentos a aparecer um pouco por todo o lado, estão é a fazer um trabalho de formiguinha que não é visível porque tem muita dificuldade em disputar o espaço mediático com os partidos políticos", defende, para reforçar: "Quando aconteceram o Maio de 1968 e a contestação à guerra do Vietname, era muito difícil na altura perceber o que é que aquilo ia mudar. Só muito mais tarde se teve noção das enormes mudanças que aqueles movimentos geraram". Para Labrincha, "o sistema baseado no petróleo e na ganância vai ruir, como já está a ruir, e, ao mesmo tempo, vai aparecer um novo paradigma, como já está a aparecer, sem que seja preciso um crash". De resto, "é visível que as pessoas se estão a desidentificar com as estruturas tradicionais do Estado e a procurar caminhos alternativos". E essa foi, diz, "a grande conquista da manifestação de há um ano".


"Manif" foi um protesto contra a classe política mobilizado com a ajuda da Internet
Milhares saíram à rua em diversas cidades, como no PortoFoto: Paulo Pimenta
"Manif" foi um protesto contra a classe política mobilizado com a ajuda da Internet
Cartazes do protesto foram espalhados por todo o ladoFoto: Nélson Garrido
"Manif" foi um protesto contra a classe política mobilizado com a ajuda da Internet
A rua encheu-se de gente indignada. A pergunta é: o que lhes aconteceu?Foto: Daniel Rocha

domingo, março 11, 2012

Mark Zuckerberg fica de fora da lista dos dez mais ricos do mundo


Expectativa de IPO não foi suficiente para elevar a fortuna do jovem bilionário, que permanece a mesma do ano passado, avaliada em 17,5 bilhões de dólares 

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Mark Zuckerberg - Facebook
Justin Sullivan/Getty Images

Com fortuna avaliada em 17,5 bilhões de dólares pela Forbes, Mark Zuckerberg é o 35º homem mais rico do planeta

O patrimônio é exatamente o mesmo do ano passado. Mas em 2011, a bolada assegurou ao co-fundador e CEO do Facebook a 52º posição do ranking. 
Daqui para frente, a expectativa é que Zuckerberg engorde a conta em alguns bilhões com a iminente abertura de capital do Facebook, prevista para maio.  No registro do IPO, a empresa informou que ele é dono de 28,4% dos papéis da companhia - cerca de 534 milhões de ações.
O mercado espera que a operação levante cerca de 5 bilhões de dólares. Se a previsão for confirmada, a rede social seria avaliada em 100 bilhões de dólares. Empolgados com as perspectivas, os investidores já movimentam os papéis no mercado privado. Em fins de fevereiro, eles fizeram com que o valor da empresa ultrapassasse esse patamar, chegando a 103 bilhões de dólares.
Mais conservadora, a própria empresa estima em avaliação interna que suas ações valham 29,73 dólares. Por esse valor, a conta bancária de Zuckerberg seria aumentada em 16 bi.
O quanto a vultosa participação de Zuckerberg de fato vale permanece uma incógnita, já que as ações ainda não são negociadas publicamente. Mas enquanto o mercado aberto não crava um valor para exato para os papéis, o provável crescimento da fortuna do ex-estudante de Harvard ainda não foi levado em conta pela Forbes. 
Salário de US$ 1
Apesar da maior parte da riqueza do jovem empresário estar ligada  à sua participação acionária na rede, Zuckerberg também engordou o cofre de maneiras, digamos, mais convencionais. Em 2011, foram 483.000 dólares em salários, outros 220.500 em bônus e vantagens adicionais como viagens em jatos privados no valor de 783.000 dólares.
A partir de 2013, no entanto, o salário do executivo será reduzido à simbólica quantia de 1 dólar por ano. Nos documentos apresentados para o IPO, os diretores do Facebook também afirmaram que o estoque de ações do bilionário não deverá sofrer acréscimos daqui para frente pois já "é suficiente para alinhar seus interesses com o dos demais acionistas da companhia”.
Por uma diferença de apenas oito dias na data de nascimento, Mark Zuckerberg não é o jovem mais rico do mundo. Esse título pertence a seu amigo Dustin Moskovitz. Ligeiramente mais novo, ele é tradicionalmente conhecido como o “terceiro funcionário” da história do Facebook. Com iguais 27 anos, Moskovitz aparece no 314º lugar do ranking deste ano, com uma fortuna avaliada em 3,5 bilhões pela Forbes.

sábado, março 10, 2012

A Crise de 1929 – Um Período de Instabilidade do Capitalismo

Fonte do Saber – Mania de Conhecimento


Introdução

Crise de 1929, queda do índice geral da bolsa de Nova York em 1929. Em 1927, após um período de fortes investimentos no estrangeiro e com uma economia crescente, os financistas norte-americanos que operavam em Wall Street centraram-se no mercado interno. Quanto mais compravam, maior era a subida dos preços, o que atraía mais investimentos. Em 24 de outubro de 1929, conhecido como “quinta-feira negra”, iniciou-se um forte movimento vendedor, que produziu o colapso das cotações na referida bolsa. Embora muitos analistas pensassem, no princípio, que se tratava de um ajuste passageiro do mercado, o crack de Wall Street marcou o início da Grande Depressão, assentando as bases para a criação do New Deal de Franklin D. Roosevelt, em 1933.


A instabilidade do capitalismo

A palavra “crise” sempre traz apreensão. Em 1929, os países capitalistas enfrentaram a maior crise da sua história. A crise de 1929 foi grave tanto pelos problemas sociais que ela causou quanto pela dimensão mundial que assumiu.

Para entender a natureza dessa crise, devemos perceber que a economia industrial capitalista é composta de várias atividades interdependentes.

Quando a economia de um país se encontra num momento de funcionamento normal, as coisas procedem mais ou menos desta forma: os industriais, para produzir, necessitam comprar matéria-prima e máquinas de outros empresários. A produção de uma fábrica estimula a produção de outras. Os empresários pagam salários aos seus empregados. Estes compram alimentos e produtos industrializados. Com isso, o comércio cresce. Outros setores, como o bancário, de transporte, de diversão e de serviços, também são incentivados pelo aumento da produção e do consumo.

Da mesma maneira que há uma interdependência entre as atividades econômicas de um país, ela existe também entre as economias de vários países. Com a expansão do capitalismo industrial, essa interação passou a ser cada vez maior. Os países importam e exportam. Os capitalistas de um país fazem investimentos em outros países.

Nas fases de expansão, o crescimento econômico atinge vários países. Nas fases de crise, isto é, de recessão, os efeitos negativos também se alastram igualmente.

Assim, por exemplo, se um determinado setor da indústria não conseguir vender a sua produção, é muito provável que ele terá de demitir funcionários e deixar de comprar matéria-prima e equipamentos. A crise se alastrará para esses dois outros setores. Novas demissões serão feitas. Sem emprego, os assalariados diminuirão o consumo. Isso levará a crise para as fazendas, fábricas de bens de consumo e para o comércio. Com as atividades produtivas e comerciais em declínio, os bancos, os setores de diversões e de serviços perderão os seus clientes.

0 resultado desse processo de recessão é triste e doloroso. A maior parte da população sente na pele os efeitos do desequilíbrio econômico.

A história do sistema capitalista tem apresentado fases de expansão seguidas de fases de recessão. Isso mostra que ele não é um sistema estável, mas sempre sujeito a crises cíclicas. 0 próprio processo de expansão cria as condições para a crise, e as medidas para solucioná-la criam as condições para uma nova fase de expansão.


O dólar dominou o mundo

Para muitos países da Europa, a Primeira Guerra Mundial significou morte e destruição. Alguns países chegaram a perder 10% da sua população ativa. Muitos tiveram grande parte do seu parque industrial, rodovias e ferrovias destruída. A inflação alcançava índices elevados. 0 cenário era de desolação. Para os governantes desses países, a tarefa prioritária consistia em recuperar a economia.

Se para os europeus a guerra trouxe enormes prejuízos, para os Estados Unidos resultou em progresso. 0 país, que já vinha se consolidando como uma das mais poderosas nações industriais do mundo, aumentaram ainda mais à distância que o separava das demais nações.

Os EUA só entraram na guerra quando faltava um ano para que ela terminasse. Tiveram poucas perdas humanas e, além disso, não houve guerra em seu território. Porém, a vantagem maior dos EUA foi ter fornecido matérias-primas, alimentos e armas, momentos para os vencedores impulsionando a sua economia.

Na década de 1920, a economia americana estava em plena expansão. Cidades cresciam por todo o território americano. 0 carro-chefe do crescimento industrial eram as fabrica de automóveis. A Ford e a General Motors fabricavam mais de 1 milhão de carros por ano. Isso estimula o crescimento de siderúrgicas, metalúrgicas, fábricas de pneus, vidros e estofamentos.

0 sistema de linha de montagem multiplicava rapidamente a produção. Nesse sistema, um operário especializava-se em executar apenas uma tarefa. 0 carro resultava, então, do trabalho combinado de centenas de operários.

A produção em massa na indústria americana abrangeu também novos produtos, que, aos poucos, foram ganhando destaque na vida moderna. Na década de 1920, milhões de geladeiras, fogões, rádios e gramofones saíam das linhas de montagem. Esses produtos já existiam anteriormente, mas, com a massificação, ficaram ao alcance das famílias de classe média.

Os produtos industriais americanos eram exportados para a Europa e para o resto do mundo. Ao mesmo tempo, seus produtos culturais conquistavam amplos espaços. A música americana, especialmente o jazz, era admirada por um público cada vez maior. Astros e estrelas do cinema americano, ainda mudo, faziam bater mais rápido o coração dos fãs. As comédias de Carlitos causavam explosões de gargalhadas e, ao mesmo tempo, ajudavam a refletir sobre a sociedade moderna.

As danças americanas, como o charleston, tomavam conta dos salões. Lentamente, o modo americano de vida ia sendo difundido.

Os Estados Unidos, na década de 1920, nadavam num mar de prosperidade. Enquanto isso, do outro lado do Atlântico, na Europa, a reconstrução caminhava a duras penas.

Os europeus necessitavam de dinheiro para recuperar a economia do continente. Uma grande parte dos recursos veio sob a forma de empréstimos dos Estados Unidos. Aumentava, assim, a interdependência entre a economia européia e a americana.


A prosperidade trouxe a crise

A saúde do capitalismo, em nível mundial, dependia da economia dos Estados Unidos. Entretanto, a prosperidade americana apresentava pontos fracos. Um deles era a enorme concentração da renda. Durante a década de 1920, a prosperidade fez os ricos ficar mais ricos e os pobres, mais pobres. A renda se concentrou nas mãos dos grandes industriais, banqueiros e negociantes.

A economia era controlada pelas grandes empresas. Elas elevavam artificialmente os preços e rebaixavam os salários.

Para os capitalistas, isso era bom, mas para a economia isso era ruim, pois a capacidade de consumo da população, e, conseqüentemente, a possibilidade de venda dos empresários, diminuía.

No campo, a situação também não estava boa. A mecanização das fazendas e a ampliação das terras cultivadas provocaram uma superprodução, fazendo o preço dos produtos agrícolas despencar. A cada ano, crescia o número de agricultores endividados junto aos bancos. Esses agricultores passaram a comprar menos produtos industriais.

Apesar dessa gradativa redução interna do consumo, a euforia no mundo dos negócios era imensa, pois as exportações para a Europa e para a América do Sul garantiam a expansão das vendas.



A idéia de fazer fortuna rapidamente passou a ser o principal objetivo de muitos americanos. A Bolsa de Valores parecia ser o caminho mais curto para o enriquecimento.

Normalmente, quando um empresário quer ampliar o seu negócio, ele recorre a um empréstimo bancário ou à venda de ações da sua empresa na Bolsa de Valores. As pessoas compram essas ações porque acreditam que a empresa dará lucro.

E, se isso vier a acontecer, o lucro será dividido proporcionalmente entre os acionistas. Diariamente, as ações são negociadas segundo as expectativas de lucro dos investidores. Se a expectativa é de alta, as ações sobem. Caso contrário, caem.

Contudo, há momentos em que o preço das ações pode subir artificialmente, isto é, acima das possibilidades reais de lucro. Nos últimos anos da década de 1920, era ‘isso que estava ocorrendo nos EUA. Alguns empresários, aproveitando-se da euforia econômica e do desejo de lucro imediato, lançavam no mercado um número cada vez maior de ações. Assim, foram construindo um castelo de areia, que só se manteria de pé se o público continuasse a investir em ações e a confiar no mercado.

No verão de 1929, a Bolsa de Nova York operava em ritmo frenético. Embora se percebesse a gravidade da situação, nenhuma atitude era tomada. Essa omissão se explica pelo fato de que, nessa época, nos EUA, predominavam as idéias do liberalismo econômico. Segundo elas, o governo jamais deveria intervir nas atividades econômicas, pois o próprio mercado se encarregaria de encontrar a melhor solução.

A prosperidade norte-americana estava assentada em bases precárias. Um abalo levou-a ao chão.


O dia em que o Bolso quebrou

0 crescimento da economia americana revelou os seus problemas. No segundo semestre de 1929, eles já estavam bastante visíveis. A produção das fábricas já não encontrava compradores com tanta facilidade. A concentração de renda na sociedade americana, entre outros efeitos, diminuía o consumo. As indústrias européias voltavam a produzir num ritmo acelerado. Conseqüentemente, voltaram a fazer concorrência aos produtos americanos. Delineou-se, assim, um processo de superprodução, provocando a queda dos preços e do lucro empresarial.

0 efeito disso sobre as cotações das ações na Bolsa de Valores foi catastrófico. No dia 29 de outubro de 1929, o rosto dos corretores e dos investidores revelava o desespero da situação. Com os lucros em queda livre, a cotação das ações despencou vertiginosamente. Milhões de pessoas, que acalentavam o sonho de se tornar milionárias, ficaram na miséria do dia para a noite. A economia americana entrava em um processo acelerado de desorganização.

Todos passaram a ter medo de investir. Os empresários evitavam até mesmo aplicar mais dinheiro nas suas fábricas. Milhares delas fechara.m as portas e despediram os empregados. 0 desemprego atingiu milhões de trabalhadores e agravou ainda mais a situação das empresas que sobreviveram. 0 mercado se restringiu. Os trabalhadores não tinham dinheiro para comprar mercadorias. A crise atingiu intensamente o comércio e o setor de serviços, se alastrando por toda a economia.

Os agricultores chegaram a queimar a produção, a pois os preços dos produtos a não compensavam o custo do transporte, A falta de abastecimento levou a fome para cidades americanas. As filas para conseguir comida, distribuída gratuitamente pelo governo, tornaram-se comuns nos grandes centros. A economia americana mergulhou na recessão.


A crise se espalhou pelo mundo capitalista

Em virtude da enorme importância da economia americana na economia mundial, a crise logo atingiu outros países. Rapidamente, os empréstimos e investimentos americanos foram retirados do continente europeu. Para a Europa, nada poderia ser pior. Na Áustria, o principal banco faliu. Na Alemanha, o povo, com medo da inflação, correu aos bancos para retirar dinheiro e estocar mercadorias em casa. Isso abalou as finanças e colocou por terra os esforços que vinham sendo feitos para reerguer a economia alemã, tão prejudicada pela Primeira Guerra.


A saída, americano para a crise

A recuperação das economias capitalistas se deu em ritmos diferentes. Até então, as crises do capitalismo tinham sido resolvidas com a conquista de novos mercados em regiões distantes. Entretanto, agora, com o mundo já dividido e com a criação de numerosos países, isso se tornava perigoso. As chances de conflito eram grandes. Assim, a solução teria de vir de uma reorganização econômica interna de cada país.

A recuperação americana é um bom exemplo de como Isso se deu. Com algumas diferenças, as medidas adotadas nesse país foram as mas utilizadas em outras nações capitalistas.

A crise de 1929 teve efeitos de vazadores sobre a sociedade americana. Quinze milhões de desempregados, fábricas fechadas, agricultores vendo as suas propriedades tomadas pelos banqueiros, greves e revoltas agitando o país. A América estava à beira de uma revolução social. 0 povo culpava o presidente pela crise. Assim, nas eleições de 1932, votou no candidato da oposição, o representante do Partido Democrata, Franklin Roosevelt. Ele prometeu fazer a economia voltar a crescer. Seu programa ficou conhecido como New Deal. Esse programa implicou uma maior intervenção do Estado na economia. Foram criadas agências governamentais para administrar as inúmeras obras públicas, destinadas a reerguer a economia. Para dar emprego a milhões de desempregados, o governo mandou construir estradas, barragens, usinas hidrelétricas, reflorestar florestas etc. Com isso, esses homens, agora empregados, voltam a consumir. As indústrias, o comércio e os bancos retomaram lentamente suas atividades.

A agricultura foi beneficiada com muitos créditos e energia barata. Além disso, o governo implementou obras em áreas até então inaproveitadas. Com a ampliação do mercado consumidor nas cidades e com a reorganização dos transportes e da economia, os agricultores se sentiram novamente estimulados a plantar. As cidades voltavam a ser abastecidas regularmente.

A situação dos pobres melhorou. Estabeleceu-se o salário desemprego e um salário mínimo para os trabalhadores. Garantiu-se aos operários o direito de ter seus sindicatos e de lutar por melhores salários.

Os resultados dessas medidas foram bastante satisfatórios. Tanto que, em 1936, os indicadores econômicos mostravam que a recessão já tinha passado. A expansão se dava lentamente. De qualquer forma, os tempos de crise profunda tinham ficado para trás.