A Internacional

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sexta-feira, março 06, 2009

Os mitos sobre Israel e sobre como demoli-los


por Lejeune Mirhan*


Entre tantos erros e equívocos cometidos por Israel ao longo de sua existência de 61 anos, talvez o maior deles tenha sido esse massacre cometido, mais uma vez, contra o povo palestino da Faixa de Gaza. Se entre as camadas mais esclarecidas da população já era difícil sustentar a existência desse Estado, depois de tudo, hoje vai ficando cada vez mais insustentável a sua continuidade. Vejamos por que.



Ilan Pappé intelectual perseguido Os mitos, segundo Pappé





Dependendo do ponto de vista teórico, do autor a que nos baseamos, podem ser mais ou menos o número de mitos relacionados com a existência de Israel. Aqui vamos fazer um pequeno resumo histórico do significado desses mitos. O Prof. Dr. Ilan Pappé, judeu e historiador israelense, que acabou tendo que deixar Israel pelas imensas pressões que vinha sofrendo, é um dos que fala em mitos. Hoje Pappé, que tem 55 anos, mora na Inglaterra e leciona na Universidade de Exeter (para saber mais de Pappé, visite sua página pessoal em http://ilanpappe.com/).





Para ele, os mitos se resumem a quatro: a) Que a Palestina era uma terra vazia e sem povo e que isso justifica que fosse dada a um “povo sem terra”; b) Que em 1948, quando da proclamação do Estado de Israel, os palestinos abandonaram voluntariamente as suas terras se retiraram, a pedido inclusive dos países árabes vizinhos, que iriam atacar Israel; c) Que desde a sua criação em 1948, Israel é que sempre buscou a paz e os árabes é que não a querem; d) Que a luta armada praticada pelos palestinos na sua resistência à ocupação, é na verdade terrorismo.





Quem conhece a realidade árabe e palestina e acompanha minimamente a luta desse povo pela recuperação de suas terras, sabe muito bem que esses quatro mitos não têm nenhuma base real. Mas, a propaganda sionista, extremamente eficiente, conseguiu convencer milhões em todo mundo sobre esses mitos. Praticamente todos os jornais centrais dos países imperiais reproduzem essas mentiras. Pode ser incrível, mas até intelectuais de renome, foram “recrutados” para essas opiniões e conceitos.





Os mitos, segundo Schoenman





Ralph Schoenman tem uma trajetória interessante. Nascido nos Estados Unidos em 1935 e desde que formou em 1958, se engajou em diversas campanhas internacionais, um humanista. Foi secretário pessoal de Bertrand Russel, filósofo e matemático inglês e depois acabou sendo o secretário-geral da Fundação Bertrand Russel, que instala tribunais para julgar crimes contra a humanidade (para saber mais de Schoenman leia no endereço http://en.wikipedia.org/wiki/Ralph_Schoenman).





Ralph também menciona quatro mitos, mas apenas um coincide com as opiniões de Pappé. Vamos a eles, comentando inclusive as suas contradições e oferecendo o contraponto.





1º Mito: “Uma terra sem povo para um povo sem terra” – esse é maior de todos os mitos e a maior mentira que um agrupamento político-religioso inventou para iludir não só o seu próprio povo, mas como iludir e mentir para milhões de pessoas. Tal mito vem desde o final do século XIX, quando o sionismo vai ganhar força. Ora, a Palestina é provavelmente a região mais antiga habitada de forma continuada que se tem notícia na história. Só para exemplificarmos isso, a cidade de Jericó, na Cisjordânia, figura na bíblia com as suas famosas muralhas que desabaram. Pois essa cidade é palestina e tem mais de seis mil anos. Alguns números podem ilustrar isso. Quando o término do império Otomano em 1918, com o final da I Guerra Mundial, os britânicos tomaram conta e receberiam da Liga das Nações um mandato para administrar a região. Fizeram um dos primeiros censos populacionais. Registraram 590 mil árabes presentes na Palestina e apenas 65 mil judeus (11% dos árabes). Mas no final do século XIX, praticamente eram residuais a presença de judeus na Palestina (o que, aliás, que seja dito, os judeus que nunca deixaram a palestina depois da chamada Grande Dispersão ou Diáspora no ano 70 da nossa era, sempre viveram em paz e harmonia com os árabes de todas as religiões). Apenas 30 anos depois, em 1947, um novo censo indicou a presença de 65 mil judeus, quando os árabes eram 1,8 milhão! Os árabes cresceram 300% naturalmente, por nascimentos e os judeus cresceram823% por imigração! Mesmo sabendo que árabes possuíam à época uma média de sete a nove filhos por mulher e os judeus no máximo dois filhos;





2º Mito: “Israel é uma democracia” – também aqui uma das maiores mentiras contadas pelos sionistas e propagadas amplamente pela imprensa norte-americana. Mas, a mídia imperialista é assim mesmo. Pegue-se um caso simples: Cuba. Os donos dos jornais não precisam pedir para seus empregados jornalistas chamarem Fidel Castro de “ditador”. Eles já saem das faculdades com essa visão e pensam dessa forma (claro, com honrosas exceções), mesmo sabendo (ou nem sequer sabem), que Fidel é sistematicamente eleito membro do parlamento e do conselho de estado cubano, estando sempre como o mais votado de seu povo. Em eleições que os observadores internacionais atestam como as mais limpas que ocorrem no mundo. Mas, Israel não é democracia alguma. É um país em cuja carteira de identidade tem um campo que somente lá é pedido para o cidadão informar: a qual religião ele pertence. Se estiver escrito “judeu”, ele é cidadão com plenos poderes. Se for muçulmano, por exemplo, é de segunda classe. Os trabalhadores árabes, segundo a OIT, ganham metade do que ganha um trabalhador judeu para fazer a mesma função. O país nem sequer constituição possui, além de fronteiras indefinidas (o único estado membro da ONU que não possui fronteiras reconhecidas). Em janeiro de 2006, quando ocorreram eleições na Palestina ocupada (Cisjordânia e Gaza), as primeiras na história e o Partido Hamas venceu as eleições, fazendo 59 deputados (em 105), ou seja, 56% do parlamento, o que fez Israel? Prendeu todos os deputados desse Partido! Ainda hoje, o presidente do parlamento palestino encontra-se preso. Existem hoje nos cárceres israelenses, na sua maioria sem julgamento e sequer direito de defesa por advogados, 12 mil prisioneiros políticos palestinos. Ora, os palestinos dentro do que se chama Israel hoje são em torno de 1,2 milhão. Isso quer dizer que 1% da população esta enjaulada. Seria como se no Brasil tivéssemos 1,79 milhões de brasileiros presos! Os partidos árabes e comunistas, ainda que legalizados, possuem imensas restrições em seu funcionamento e no acesso às liberdades. Assim, não há democracia em Israel, ou pelo menos se houver, existe apenas para os judeus;





3º Mito: “Israel precisa de segurança” – também bastante difundido, os dirigentes de Israel sempre bateram na tecla de que a sua política externa e sua estrutura social deve ser altamente militarizada, pelo constante medo e ameaças que os seus vizinhos árabes sempre fizeram com relação à sua existência. Para isso, eles montaram o quarto mais poderoso exército do mundo, perdendo apenas para os EUA (seus financiadores), a China e a Rússia! Os tais exércitos árabes nunca enfrentaram Israel, apenas se defenderam dos seus ataques. A propalada ofensiva dos tais “exércitos árabes” feitas em 1948, foi apenas uma reação à brutal expansão que Israel fez ao proclamar seu Estado em 14 de maio, saltando de 56% das terras que a ONU lhe concedeu, para 78% de toda a Palestina histórica. Os exércitos da Jordânia, Síria e Egito reagiram e tentaram garantir pelo menos algumas terras para os palestinos, com 22% apenas, cujo estado nunca acabou sendo proclamado;





4º Mito: “Israel é herdeiro moral da vítimas do Holocausto” – um grande mito. Não estou entre os que se dizem “negacionistas”, que negam a existência do Holocausto judeu. Ele é real e vitimou seis milhões de pessoas judeus, ciganos, gays, deficientes (físicos e mentais), comunistas, cristãos e tantas outras pessoas e grupos sociais. No entanto, os atuais dirigentes de Israel acabam por ter práticas semelhantes na forma do que os nazistas tiveram na II Guerra. Há também a polêmica questão de relações equivocadas e promíscuas entre sionistas e comandantes do Reich. Há muita documentação sobre isso. Fechar os olhos às perseguições nazistas contra judeus interessaria, objetivamente, naquele momento, para forçar uma migração para a “Terra Prometida”, projeto original do sionismo, que incentivava em todo o mundo, pela Agência Judaica, com milhões de dólares, que famílias judaicas mudassem para a Palestina (e, claro, no período do mandato britânico, eles eram recebidos na Palestina).





Poderíamos acrescentar outros, de menor importância e sob outros aspectos. Mas ficamos com esses, que, unindo a visão dos dois intelectuais, seriam sete grandes mitos que Israel difundiu ao mundo. Desmontá-los, desmascará-los, é tarefa nossa cotidiana, uma pregação diuturna, incansável, até que vença a verdade histórica, pois nunca tivemos dúvida, a história dará razão e fará justiça ao povo palestino um dia.





Bibi será primeiro Ministro





Conforme apontamos como provável, mesmo antes das eleições de 10 de fevereiro, Benjamin Netanyahu será mesmo primeiro Ministro. Os partidos de direita e extrema direita fascista fizeram 65 cadeiras, mas do que suficiente para formar um governo. Ainda que Bibi esteja tentado envolver o Partido Trabalhista e o Kadima, organizações mais ao centro na política, ele acabará por formar seu governo por partidos que negam qualquer direito aos palestinos e discordam da solução, quase que unânime entre palestinos e na diplomacia internacional, de dois estados convivendo lado-a-lado e que a paz só vai ser conseguida com a devolução das terras palestinas.






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*Lejeune Mirhan, Presidente do Sindicato dos Sociólogos do Estado de São Paulo, Escritor, Arabista e Professor Membro da Academia de Altos Estudos Ibero-Árabe de Lisboa, Membro da International Sociological



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in Vermelho - 5 DE MARÇO DE 2009 - 20h04
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