Da Grécia à Itália, passando pela Irlanda, por Portugal e pela Espanha, a zona do euro a partir de agora está em brasa. Os Estados não param de contrair empréstimos a juros cada vez mais altos e os contratos de seguros sobre as dívidas, quer sejam públicas ou privadas, vêem o montante dos seus prémios a evaporar-se. O euro está a morrer. Tudo isto estava previsto há vários meses
[1] , ou mesmo há vários anos
[2] . Mas nem Cassandra se alegraria por ver realizarem-se as suas previsões. Compreendemos que a morte do euro, dada a casmurrice imbecil dos nossos dirigentes e dada a sua incapacidade de prever uma saída organizada – o que, aliás, ainda seria possível actualmente -, nos condena muito provavelmente a um salto no desconhecido.
A História medirá a responsabilidade dos nossos governos que, por ideologia, por conformismo e por vezes por cobardia, deixaram a situação degradar-se até ao irreparável. Registará também a enorme culpa dos que, nas capitais nacionais como Bruxelas ou Frankfurt, procuraram impor à socapa uma Europa federal através da moeda única a povos que não a queriam. Agora não é apenas o euro, essa construção manca e deformada, que agoniza. É também um certo conceito da Europa.
A vitória provisória dos "cabritinhos", daqueles que, para retomar a célebre frase do general de Gaulle, se afastam gritando "a Europa! a Europa!" saltando por cima das cadeiras, é paga hoje a um preço muito alto. Se não quisermos regressar a uma Europa do conflito "de todos contra todos", teremos que reaprender os princípios da coordenação entre nações soberanas, que são os berços da democracia, sobre as ruínas duma cooperação que quiseram construir sobre o desprezo da opinião dos eleitores. A crise actual salda ao mesmo tempo os erros duma financiarização até às últimas consequências, desejada simultaneamente pela direita e pela esquerda parlamentares
[3] e o erro político que foi o tratado de Lisboa e a negação da democracia que se seguiu ao referendo sobre o projecto de tratado constitucional em 2005.
Com efeito, mal os nossos governantes têm a sensação de ter arranjado um remédio, mesmo que temporário, para um dos países, já a crise se precipita sobre outro. Os bancos europeus estão pois no centro do ciclone e sofreram pesadas perdas quanto à sua capitalização desde o início do mês de Agosto de 2011. A incerteza quanto à sua solvabilidade não pára de subir. Está à medida do erro, e é um eufemismo, que foi praticado no início da Primavera de 2011, dizer que os "testes de resistência" (ou
stress tests ) realizados na época omitiram nas suas hipóteses integrar um possível incumprimento de um país da zona euro. Estamos a pagar caro esse erro!
[4] É provável que ele torne inevitável uma nacionalização temporária, parcial ou total, dos nossos sistemas bancários.
Depois da Grécia, a partir de agora condenada ao incumprimento e a uma desvalorização
[5] , e esvaída em sangue por uma repetição insensata de planos de austeridade que foi denunciada pelo economista do [banco] Natixis,
[6] são a Itália e a Espanha que dão sinais de fraqueza.
[7] Na Itália, apesar da multiplicação de planos de austeridade, a dívida não pára de aumentar enquanto a maré do desemprego sobe inexoravelmente em Espanha. Quanto a Portugal, mergulha numa crise sem saída
[8] e a própria França está a ser posta em causa.
Até os cépticos mais empedernidos devem reconhecê-lo no âmago do seu coração. Para além da crise de cada país, que se explica por razões específicas de cada vez, para além da crise de governação da zona do euro, certamente previsível mas exasperante entre a Alemanha e a França, é mesmo a divisa única, o próprio euro, que está em crise.
Na verdade esta crise era previsível há muitos anos, porque os defeitos estruturais da zona do euro eram notórios e bem conhecidos dos economistas, incluindo os partidários do euro.
[9] Os desequilíbrios induzidos pela moeda única abriram caminho no seio das economias dos países da zona do euro. Se a crise de 2007-2008 deu um impulso decisivo à crise do euro, convém dizer que esta só estava à espera de uma grande desordem da economia mundial para se revelar.
Esta crise tornou-se uma realidade no Verão de 2009 quando a acumulação das dívidas atingiu um limiar crítico na Grécia, na Irlanda e em Portugal. No Verão de 2011, sofreu uma reviravolta dramática que prova que o processo está a piorar. De resto, podemos constatar o aumento da
fadiga do euro , bem perceptível, quer seja nas opiniões públicas, onde a partir de agora temos uma maioria de pessoas que se pronunciam contra uma ajuda suplementar à Grécia,
[10] quer no seio dos governos onde a partir de agora se revela o desânimo.
Esta crise também se combina com as inquietações suscitadas pela situação nos Estados Unidos. A perda para este país da sua nota AAA prova que ele não saiu da crise dos chamados
subprimes. [11] Além disso, as suas perspectivas de crescimento são muito fracas. O primeiro país a sofrer a crise de 2007, não reencontrou uma dinâmica sã de desenvolvimento e afunda-se lentamente numa crise dupla de endividamento do Estado federal e das famílias. As reacções dos países emergentes, liderados pela Rússia e pela China,
[12] face à política monetária seguida por Washington são cada vez mais vigorosas.
A concomitância destas crises contribui no entanto para obscurecer o seu sentido. Mascara em particular o que a crise na zona do euro tem de específico e os efeitos da moeda única que a agravam. Mas faz-nos lembrar que, num mundo de finanças globalizadas, há laços estreitos que unem os diferentes problemas. Se o euro vier a desaparecer, será o dólar que se encontrará na primeira linha face à especulação internacional que se desencadeará. Apostamos que não tardará nada a soçobrar.
São numerosos os que pensam que a crise do euro agrada aos dirigentes americanos. Enganam-se redondamente. Um euro enfraquecido politicamente mas presente, concentrando ainda durante vários anos a atenção dos especuladores internacionais e travando o desenvolvimento das economias europeias, é uma situação muito melhor para os dirigentes de Washington. É por isso que estes multiplicam as iniciativas para forçar a mão dos países europeus e para que seja posto em acção um novo plano de salvamento da Grécia.
Assim, por razões tão diversas quantos os países envolvidos, os dirigentes dos dois lados do Atlântico afirmam a sua vontade de defender o euro.
Mas os factos são casmurros!
E quando os menosprezam, vingam-se.
Os argumentos distorcidos de uns e de outros, os advogados
pro domo de políticos acossados, as subtilezas num calão pseudo-técnico em que se deliciam os burocratas de Bruxelas não alterarão nada. A moeda única europeia, que esteve na origem de tantas esperanças, não cumpriu nenhuma das suas promessas. Hoje morre por causa do fracasso do projecto político que lhe deu vida, o "federalismo furtivo", por causa da divergência das dinâmicas económicas dos países membros, divergência essa exacerbada pela política da Alemanha.
O que é infinitamente mais grave que a morte do euro na sua forma actual é que o próprio princípio de coordenação monetária corre o risco de morrer com ele. E hoje coloca-se a questão: será possível salvar este princípio de coordenação do desastre que aguarda o euro, com o que isso implica de flexibilidade para cada país e de cooperação entre países?
O tabu do euro Mas é possível debater o euro em França?
Pela violência das reacções que qualquer tentativa tem suscitado até às últimas semanas, pela leitura das múltiplas acusações que um projecto desses provoca, temos o direito de duvidar. No entanto, hoje impõe-se um debate. Apesar de negada durante muito tempo pelos nossos governos, mas também por uma grande parte da oposição (em especial pelo Partido Socialista francês), a crise do euro impõe-se, constituindo neste momento um horizonte inultrapassável. De resto, a sua realidade é reconhecida no estrangeiro; até o jornal alemão
Spiegel lhe consagrou um longo dossier.
[13] Portanto, existe uma particularidade franco-francesa neste debate ou melhor na sua recusa que só agora cede sob os ataques violentos da realidade.
Existe mesmo um tabu do euro, que no nosso país atravessa o espectro político e vai desde a direita até à esquerda, ou mesmo a uma parte da extrema-esquerda. As raízes disso são múltiplas. A moeda única perdeu a sua dimensão de instrumento, que deve ser julgado pelos seus efeitos, e tornou-se um verdadeiro fetiche, no sentido religioso do termo. O euro é a religião deste novo século, com os seus falsos profetas de profecias desmentidas sem cessar, com os seus sumos-sacerdotes sempre prontos a fulminar uma excomunhão na impossibilidade de recorrer às fogueiras, com os seus sectários histéricos. Em França, se um dirigente da maioria ou do Partido Socialista fala sobre este assunto, a sua frase começa invariavelmente por um versículo sobre os "benefícios" do euro (obviamente sem nunca precisar quais são) ou sobre a "necessidade" de defender a moeda única.
Mas nunca por nunca ouvimos um balanço honesto sobre o que o euro nos trouxe. Hoje em dia, o euro tornou-se o símbolo do crepúsculo da razão política e económica, uma hipótese saturante que justifica o silêncio sobre o conjunto dos outros problemas.
A violência das reacções e o exagero das amálgamas que semeiam a imprensa francesa traduzem no entanto o facto de que, apesar de um efeito de sufocação mediática sem precedentes que continua a fazer-se sentir até aqui, começa-se mesmo a falar da crise do euro. De resto, até
Élie Cohen a reconheceu e está tudo dito!
Esta crise de resto suscitou inúmeras obras de homens políticos e economistas ou dirigentes de associações.
[14] Cada um destes textos apresenta diferentes aspectos da questão; também a abordam a partir de pontos de vista diferentes.
Nessas condições, porquê este livro?
As obras publicadas até hoje denunciaram o euro, e frequentemente com bons argumentos. Este livro tem um projecto diferente. Quer tentar analisar o euro e impulsionar, contra o tabu e os argumentadores religiosos, um regresso à razão. Propõe-se também examinar a crise actual, pôr em evidência as suas origens e a conjunção de políticas particulares que a tornaram inevitável. Pretende mostrar ao leitor como lá chegámos, a partir das esperanças – para uns reais e para outros imaginárias – que inicialmente foram postas no euro.
A crise do euro resulta de três crises com os seus próprios ritmos que actualmente se combinam. Esta conjunção produz a partir de agora uma situação insustentável. Deixa entrever a catástrofe final.
As três crises A crise do euro não se limita à crise das dívidas soberanas na Europa, apesar de a englobar. Na verdade, por crise do euro é preciso perceber as três crises que se conjugam e a partir de agora estão intimamente ligadas.
Primeiro que tudo há o estrangulamento de certas economias da Europa pelo montante das dívidas quer públicas quer privadas. A moeda única é um vector dessa subida da dívida, porque ela impõe aos países financiarem-se nos mercados financeiros. Com efeito, as instituições da moeda única, do tratado de Maastricht ao tratado de Lisboa, proíbem os Estados de recorrer a avanços dos seus bancos centrais aos erários públicos, e de impor aos bancos a compra de títulos de dívida na proporção do seu activo.
[15] Os mercados financeiros tornam-se assim a única fonte de financiamento possível. Por conseguinte, penalizam pesadamente o montante das dívidas e as fracas perspectivas de crescimento. Mas o papel da moeda única nesta escalada das dívidas em certos países não se limita a essa dimensão institucional. A moeda única impõe também uma taxa de câmbio única vis-à-vis a outras divisas para todos os países pertencentes à zona do euro. Essa taxa gera uma degradação inexorável da competitividade para numerosos países, levando-os a aceitar uma actividade económica reduzida ou a sustentar esta última. E, bem entendido, para isso esses países devem proceder a um défice orçamental mais ou menos importante, o que os leva a agravar o seu endividamento.
Isso afectou a Grécia, mas também Portugal, a Irlanda, a Itália e a França. A crise da dívida dos Estados concentrou a atenção desde o final da Primavera de 2010, especialmente no caso da Grécia, da Irlanda e de Portugal. Esta crise pôs em evidência a incapacidade das autoridades políticas em reagir a tempo e de modo eficaz. É aquilo a que se chama a
crise de governação da zona do euro. As autoridades, quer se tratasse dos governos quer do Banco Central Europeu (BCE), mostraram-se incapazes de gerir situações de crise que, no entanto, eram facilmente previsíveis. Revelaram-se ultrapassadas tanto pelos acontecimentos como por uma especulação que não tentaram minimamente desencorajar a não ser por palavras.
Vem de seguida uma segunda crise que, desta vez, é estrutural. Resulta dos efeitos da moeda única sobre a dinâmica do crescimento. Desde a introdução do euro, primeiro o euro escritural depois a partir de 2002 o euro fiduciário, o crescimento dos países da zona do euro foi regularmente inferior ao dos outros países desenvolvidos. A zona do euro está mesmo em atraso relativamente aos países da Europa que não fazem parte dela, como a Suécia, a Suíça e a Noruega. Isso deve-se às taxas de juros impostas pelo BCE, mas também à sobrevalorização geral do euro que conhecemos a partir de 2002. Também aqui, algumas economias foram mais atingidas do que outras, e é o caso em primeiro lugar da Itália, mas também da Espanha, de Portugal e, em grau nada negligenciável, da França. No entanto, mesmo no caso da Alemanha, que se dá como exemplo de "rigor" e de subida dos excedentes comerciais, constata-se que o crescimento foi particularmente fraco desde a introdução do euro. Se o desemprego não explodiu neste país, deve-se à dinâmica demográfica que ele experimenta.
Ora, a questão do crescimento e do desemprego ocupa um lugar central num contexto económico marcado pela crise económica e financeira de 2007-2008, muito em especial para um país que, como a França, tem uma dinâmica demográfica favorável. Com efeito, pode mostrar-se que este problema se relaciona com o da heterogeneidade inicial das economias que as instituições criadas pelo tratado de Maastricht não permitiam tratar com profundidade. Por isso, longe de produzirem uma convergência qualquer, a zona do euro organizou uma divergência maciça das economias e da estrutura dos seus aparelhos produtivos. É também a recusa a encarar esse problema que estamos hoje a pagar.
A terceira crise é a das instituições que enquadram a moeda única. Pretende-se hoje descobrir que foi criada uma divisa sem regras para unificar de antemão as políticas orçamentais dos Estados que são membros da zona, as políticas económicas e, mais genericamente, as regulamentações bancárias. Numa palavra, que a divisa comum implica um Estado federal. Segundo o discurso que hoje se ouve, é à falta de
governação que se deve esta crise. Mas, na realidade, as condições da constituição desta governação global à escala europeia não existiam e não existem. Não era possível realizar essa unificação das políticas sem instituir mecanismos poderosos de transferência entre elas. Ora isso foi recusado pelos dirigentes políticos e proibido nos diversos tratados de que a Europa se dotou. Descobre-se aqui que não se passa impunemente uma esponja federalista sobre cinco séculos de História! Esta questão da governação ilustra bem como os dirigentes dos diferentes países foram vítimas da ideologia europeísta e do mito dos "Estados Unidos da Europa".
Estas três crises hoje sobrepõem-se e tornam insolúvel a crise imediata que se manifesta na Grécia, em Portugal, na Irlanda e em breve em Espanha e na Itália. Na realidade, se estes países se endividaram, e se lhes permitiram isso, foi por causa das duas outras crises. Portanto a crise é global e geral, o que torna a sua situação na melhor das hipóteses extremamente custosa e, na pior, provavelmente impossível.
A existência destas três crises era conhecida há muito e os seus efeitos manifestos desde o Verão de 2009. Mas foi preciso que a crise grega tomasse um caminho realmente dramático, que não somente os gregos, mas os espanhóis e os portugueses saíssem à rua em massa, para que se começasse a debater a crise do euro. Hoje já não há qualquer dúvida de que o euro, através dos planos de austeridade de que necessita, é um factor geral de recessão social para todos os países envolvidos. O risco portanto é que hoje o euro, na sua forma actual, torna a Europa odiosa e desacredita por muito tempo o princípio de uma coordenação monetária.
As proibições da crise do euro O euro, como já foi dito, é o último tabu duma parte da classe política tanto da direita como da esquerda. A que se pode atribuir este fenómeno e porquê uma tal cegueira em França?
A moeda única concentra em si projectos económicos, projectos políticos e também projectos ou, mais exactamente, representações simbólicas. São estas inter-relações que tornam o debate necessário e simultaneamente, se não impossível, pelo menos extremamente difícil. Isso explica também a violência das reacções logo que se toca no princípio da moeda única.
Bem entendido, há outras razões que são menos confessáveis e menos apresentáveis. São numerosos os que cantaram em todos os tons os elogios à moeda única, por vezes com argumentos que eram perfeitamente aceitáveis, mas por vezes também com argumentos que revelam mais do que se chama a "
littérature (ou a argumentação)
à l'estomac ". O empenhamento a favor da moeda única era tal que qualquer debate significava pô-la em causa e qualquer que fosse esse pôr em causa era uma perda de legitimidade para os nossos dirigentes assim como para os seus conselheiros e outros economistas por encomenda. Ora, toda essa gente é muito apegada a essa legitimidade, seja ela política ou mediática!
Nesta recusa de discutir na praça pública a crise do euro, também é preciso ver o pânico de perder posições sociais e privilégios. Com efeito o que aconteceria a todos esses profissionais do
euro business se tivessem que reconhecer que se tinham enganado?
A violência das reacções também se explica por razões muito más.
Foi invocado o facto de a Frente Nacional se ter lançado na contestação do euro para tentar desacreditar o debate sobre o euro. Falar contra o euro equivaleria a retomar a totalidade das teses da Frente nacional. Mas esse é um fraco argumento e
Frédéric Lordon recentemente desmentiu essas acusações.
[16]Sendo um dos autores regularmente citados pela Frente Nacional, gostaria por meu turno de voltar a esta questão. Primeiro, um autor não é minimamente responsável pelos seus leitores. O facto de publicar um texto, no papel ou na internet, significa abandonar todo o controlo sobre como e por quem ele pode ser lido. Só contam as opiniões, as ideias e os conceitos que estão expressos nesse texto, e não recuso nem nego nenhum dos que pude tornar públicos desde que me exprimo sobre esta questão. Confesso ainda que prefiro que os militantes da Frente Nacional leiam Gréau, Lordon ou Sapir em vez de Drumont ou
Gobineau .
Depois, o método utilizado pelos nossos adversários levanta um problema de fundo. Não é aceitável que uma ideia, uma noção ou um conceito sejam desacreditados só porque certas pessoas, com quem não partilhamos as ideias políticas, também os defendam. Quando chove, devemos afirmar, contra tudo e contra todos, que o sol está a brilhar só porque este ou aquele, com quem não partilhamos as ideias, diz que está a chover? É preciso recordar aqui que as ideias, as noções e os conceitos não registam patente. Pertencem a toda a gente e portanto não são de ninguém.
O método dos nossos adversários revela aqui a extraordinária fraqueza das suas posições.
Compreender o euro para apreender melhor os desafios da sua crise As inter-relações entre o económico, o político e o simbólico constituem assim o objecto central deste livro. Pretende desconstruir antecipadamente essas inter-relações, separar o económico do político, o político do simbólico. Pretende também tirar as conclusões que decorrem dessa desconstrução e do que se costuma chamar um "regresso à razão". As minhas evoluíram com a crise e perante a incapacidade congénita dos governantes e das instituições da zona euro em reagir e prever.
A minha posição inicial era defender o princípio de uma divisa comum e não única. Apelava no meu livro e depois no meu artigo de 2006
[17] para a passagem da primeira para a segunda porque previa os problemas que surgiriam ao primeiro choque importante que a zona do euro sofresse. O debate foi enterrado antes mesmo de começar.
No entanto a crise acelera o ritmo das decisões. Conhece-se a fórmula: O tempo nos pressiona
("Le temps nous mord la nuque"). Cada oportunidade agora perdida restringe terrivelmente a escolha dos futuros que ainda são possíveis. As soluções que podiam ser contempladas razoavelmente no Verão de 2009, antes de rebentar abertamente a crise grega, tornaram-se cada vez mais irrealistas, ou mesmo caducas. A aceleração da dinâmica da crise imporá roturas radicais. Esta última também é o produto, e é preciso recordar, da inacção e da pusilanimidade das mulheres e homens que compõem a classe política na Europa. A História registará que o euro sem dúvida foi assassinado pela mão dos mesmos que alegavam defendê-lo.
Então devemos sair do euro?
Devemos aceitar de uma vez por todas que se coloca esta questão. Pretendo demonstrar neste livro que a resposta para esta pergunta dependerá das acções mas também das inacções dos nossos dirigentes. Ainda são possíveis soluções menos radicais, mas implicam todas elas profundas evoluções tanto das instituições da zona do euro como do próprio euro.
No entanto, não devemos recusar por princípio a ideia da saída do euro. De resto, tudo indica que ela não dará origem às catástrofes que nos prometem os falsos profetas de todos os tipos e feitios que só têm o medo na boca e a mentira no coração para tentar salvar a moeda única.
[18]