ABRUPTO
8.7.13
22:26 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (14)
Conhecendo o modus operandi das pessoas que estão no governo, a seguir deve vir uma qualquer operação de propaganda que dê uma "vitória" ou a Passos ou a Portas, com a colaboração da troika. Manter este governo contra tudo e contra todos, e impedir a realização de eleições antecipadas a todo o custo, é tão decisivo que podemos ver de novo uma linha desenvolvimentista qualquer, mesmo com prejuízo do défice. Para algumas empresas e não para os alvos dos 4 mil e setecentos milhões de cortes, entenda-se, porque esses são a "a manutenção dos compromissos do estado português".
O que sustenta este governo é do domínio da pura política, a vital sobrevivência a nível nacional e europeu do "bom aluno", mesmo com sacrifício do "rigor orçamental". Foi isso que Gaspar suspeitou.
O que sustenta este governo é do domínio da pura política, a vital sobrevivência a nível nacional e europeu do "bom aluno", mesmo com sacrifício do "rigor orçamental". Foi isso que Gaspar suspeitou.
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10:02 (JPP)
EARLY MORNING BLOGS
2332
"As varas do poder, quando são muitas, elas mesmo se comem, como famintas sempre de maiores postos."
(Padre António Vieira)
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7.7.13
10:52 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (13)
Nunca em toda a minha vida, antes ou depois do 25 de Abril, senti um tão agudo ambiente de "luta de classes". Os de baixo contra os de cima. os de cima contra os de baixo. Os de cima que fazem de conta que não há os de baixo, não existem, ponto. Os de baixo que se pudessem apanhar os de cima, sem a corte de guarda-costas, os fariam passar um mau bocado. Sem organização, sem instigação, como quem respira.
Em 1974-5, o conflito era de outra natureza, era dominantemente político, e não tinha essa fractura social evidente e agressiva como base. Era sobre liberdade e ditadura, sobre o Portugal do passado mais do que sobre o Portugal do futuro. Com excepção dos retornados, pouca gente sofreu nesses anos, nem mesmo os presos pelos mandatos de captura em branco do Otelo, ou as centenas de MRPP presos. Dez anos bastaram para normalizar a democracia, acabar com os restos do PREC, absorver os retornados, sem feridas permanentes.
Agora as feridas vão ser profundas e vão durar muito tempo. A identidade do país soçobrou dentro da Europa a favor da burocracia de Bruxelas e do directório alemão. Antes era por inconsciência, agora é pela necessidade. Mas, antes e agora, porque a nossa elite dirigente tem em pequena conta o país, não gosta dos portugueses, desconhece a nossa história e tradições, e está dominada por interesses. Não lhes passa pela cabeça que, agora que as pessoas têm que comer terra, talvez escolhesssem comer a mesma terra que comem e vão comer no futuro, sem ter que suportar a tutela arrogante de quem, nos desprezando, nos dá lições de moral e disciplina.
O tecido social está rasgado, o país deslaçado, onde um discurso de guerra civil penetra, fazendo o vizinho dono de um pequeno café, vergado de impostos, voltar-se contra o vizinho professor em vésperas de ser "requalificado", em vez de olhar para cima, para quem de forma leviana e muitas vezes incompetente, balizado apenas pelo círculo de ferro do nossso establishment, no qual a banca define a pertença e a exclusão, está a conduzir uma operação de empobrecimento colectivo de muitos para salvar a "economia" de poucos. E esses poucos, são os que nos colocaram na situação em que estamos.
Hoje há reacção, reacção de reaccionarismo. Há um acantonamento de emergência com armas e bagagens do lado do governo, preparado para tudo, para ser agressivo, para fazer todas as chantagens (a chantagem teve um papel nesta crise) , a cilindrar tudo e todos à frente. Do outro lado, tem um enorme vazio, Antònio José Seguro, o homem que não existiu nesta crise, porque eleições antecipadas era a última coisa que queria, em razão inversa das vezes de que falou nelas. À direita aconselham-no a "fazer de morto", para castrar todas as veleidades de ele fazer qualquer oposição que se veja. É um conselho errado, porque ele está já de há muito morto, não precisa de se "fazer". E está morto do lado deste Navio Fantasma que é o governo.
E depois tem um BE encurralado e sem estratégia, e um PCP, há muito tempo numa posição defensiva, que tem um papel fundamental nos sindicatos (sem a acção sindical de resistência, real ou potencial, ninguém falaria de "cansaço da austeridade" e o governo e a troika teriam ido muito mais longe na criação do país de mão de obra barata e disciplinada que pretendem) , mas é inútil no plano político. Os "indignados" e companhia tem folclore a mais e a actuação pelas redes sociais é no essencial preguiçosa e atentista.
Ou seja, a maioria dos de baixo está entregue à fúria populista e ao desespero.
(Continua.)
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6.7.13
23:35 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (12)
Já repararam que em todas as discussões sobre o novo governo, não tem nenhum papel a condição social dos portugueses, as suas dificuldade, o empobrecimento, o desemprego, tudo que diz respeito ao sofrimento dos homens comuns? Fala-se em economia, mas é das empresas que se fala, fala-se de política, mas é do jogo partidário que se fala, fala-se de quem ganha e quem perde, mas é como se fosse futebol. Este vazio é o mais dramático sinal da captura da política portuguesa por interesses e por um discurso públicosuperficial e dominado pela gramática do poder.
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20:03 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (11)
Agora virá o spin e os briefings podem recomeçar. Os nossos intelectuais no governo vão-nos explicar que tudo isto mostra a "liderança do Primeiro-ministro" (se quem mandar neles for Passos Coelho), e como um governo "renovado" voltado para o "crescimento" vai fazer "arrancar a economia (se quem mandar neles for Portas)". No mundo real virá o novo plano de austeridade conhecido como "reforma do estado", o mais grave de todos.
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19:52 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (10)
Se nos ficarmos apenas pela forma, - o que seria um erro crasso, - Paulo Portas passou a Primeiro-ministro. Podem despedir Passos Coelho. Podem, mas não podem. O Navio Fantasma saiu deste porto para o próximo.
Se nos ficarmos apenas pela forma, - o que seria um erro crasso, - Paulo Portas passou a Primeiro-ministro. Podem despedir Passos Coelho. Podem, mas não podem. O Navio Fantasma saiu deste porto para o próximo.
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12:41 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (9)
Se Portas voltar ao governo, para além das evidentes questões de carácter, notar-se-á que saiu como ministro e entrará como subsecretário de estado, qualquer que seja o título que se atribua. Se alguma vez pretender exercer mais do que o seu poder nominal, teremos mais uma crise política. Se ficar calado e quieto, apenas a vender a sua imagem, coisa que todos lhe permitirão fazer com cada vez menor preocupação devido ao estado calamitosa da dita, então a "solução" governativa será mais "estável".
Se Portas voltar ao governo, para além das evidentes questões de carácter, notar-se-á que saiu como ministro e entrará como subsecretário de estado, qualquer que seja o título que se atribua. Se alguma vez pretender exercer mais do que o seu poder nominal, teremos mais uma crise política. Se ficar calado e quieto, apenas a vender a sua imagem, coisa que todos lhe permitirão fazer com cada vez menor preocupação devido ao estado calamitosa da dita, então a "solução" governativa será mais "estável".
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12:04 (JPP)
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5.7.13
23:58 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (8)
Aí vem uma enorme onda de spin: depois da crise, tudo vai ficar melhor.
A primeira coisa que ficará garantida com essa "melhoria" é o próximo e muito duro pacote de austeridade, a quem se chama, em linguagem orwelliana, "reforma do estado". Toda a crise foi sobre isto e só sobre isto. Isto é que é a realidade, mas falar-se-á muito mais no spin da virtualidade, a "economia". A mentira vai continuar. Impante.
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4.7.13
09:19 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (7)
A demonização das eleições é um dos traços autoritários mais preocupantes dos dias de hoje. As eleições são apresentadas como sinónimo de um "país que pára", um acto inútil "porque tudo fica na mesma", um enorme desperdício de dinheiro a evitar a todo o custo. Ouvindo com atenção os argumentos hostis à possibilidade de eleições imediatas percebe-se que eles não dizem respeito apenas à antecipação de eleições no actual contexto de crise, mas a todas as eleições, às eleições de per si. São, no seu entender, um momento anti-económico e um obstáculo a que o país "trabalhe" e "ande para a frente". A questão tem a ver com a ideia de que a democracia é uma perturbação inaceitável, ou apenas aceite no limite da condescendência, para um ideal de funcionamento tecnocrático, aplicado por uma burocracia "racional", a mando de não se sabe de quem.
PS: Os mesmos que se queixam de que, se houver eleições, "o país pára oito meses" (uma patetice sem qualquer correspondência com a realidade), andam há muito a prometer que encurtam os prazos eleitorais na lei, e, de legislatura em legislatura, não tomam nenhuma iniciativa nesse sentido, mantendo prazos e tempos de campanha excessivos.
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3.7.13
20:00 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (6)
Há crises úteis e crises inúteis. Com todos os riscos, eu penso há muito que uma crise pode desbloquear os impasses políticos do país, melhorar as condições de negociação com a Europa (a história está cheia de exemplos deste tipo), e travar um caminho que dará cabo do Portugal que há, sem o substituir por nada que não sejam os seus escombros.
Depois há crises puramente inúteis, como será esta se tudo continuar na mesma. Se for esse o caso, há duas pessoas a quem tem de se apresentar a factura da bolsa e dos mercados do dia de ontem, hoje e seguintes: Portas e Passos. E veremos se o Presidente não se junta ao grupo. Isso significa que Portas e Passos delapidaram nestes dias recursos do país ao nível dos piores meses de Sócrates.
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19:34 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (5)
Apesar de Navio ser Fantasma, há uma regra básica que se aplica: os mortos não ressuscitam. Podem vaguear pelas sombras do mundo, podem procurar um porto inexistente, podem assombrar os vivos. Mas o governo está morto, mesmo que não esteja enterrado. Podem colocá-lo de pé com um andaime nas costas, injectá-lo com formol, pintá-lo com cera, empalhá-lo, mas morto está e vai continuar a estar. E não é um espectáculo bonito de se ver.
Ah!, e os célebres mercados sabem disso...
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17:13 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (4)
Se o Presidente decidir dissolver a Assembleia e o fizer o mais cedo possível, recusando o apodrecimento da situação que o Primeiro-Ministro alimenta, ganha alguma margem de manobra para exigir ao PS, PSD e CDS alguns acordos mínimos para o período de gestão até às eleições. Pode inclusive esforçar-se para alargar esse acordo ao PCP, BE, centrais sindicais e patronais. È mais fácil fazê-lo no quadro de uma decisão de convocar eleições do que mantendo a actual situação, onde tudo continua bloqueado.
Toda a gente já percebeu que haverá eleições, incluindo os mercados, pelo que a estabilidade hoje passa pela clarificação eleitoral. A não ser que os receios de eleições ocultem apenas o medo dos seus resultados.
Toda a gente já percebeu que haverá eleições, incluindo os mercados, pelo que a estabilidade hoje passa pela clarificação eleitoral. A não ser que os receios de eleições ocultem apenas o medo dos seus resultados.
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08:43 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (3)
Nestes dias o debate público vai estar muito turvo. Vai misturar justificações, explicações, mistificações, e muito pseudo-argumentário já com intenções eleitorais. Convém por isso dizer algumas coisas com a máxima clareza possível.
Por exemplo: muita gente pediu eleições antecipadas, exigiu eleições antecipadas, considerou racional haver eleições antecipadas, desejou eleições antecipadas. Mas quem provocou eleições antecipadas foi Passos Coelho e Paulo Portas, o PSD e o CDS.
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2.7.13
21:12 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (2)
É preciso muito cuidado em aceitar pelo seu valor facial tudo o que se anda por aí a dizer. O Navio Fantasma vai ser assim, muita mentira, desespero, muito desespero com carreiras e resultados eleitorais. Alguém mentiu a Portas. E vice-versa. Alguém mentiu a Passos Coelho. E vice-versa. Alguém mentiu a Cavaco Silva. Alguém mentiu a todos nós. Alguém mentiu e mente aos portugueses. Já estamos em eleições.
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20:21 (JPP)
O NAVIO FANTASMA (1)
Querer manter a todo o custo o governo em funções é a pior estratégia para os interesses nacionais face "aos nossos credores". Não o perceber é típico da actual incompetência institucionalizada. Se Passos Coelho pensa que faz a ferro e fogo um "ajustamento" contra tudo e contra todos e que é isso que "os nossos credores" querem, está completamente enganado. Não só "os nossos credores" não confiam hoje na sua capacidade política de o fazer, como, depois da situação criada pela dupla demissão de Gaspar e Portas, os "nossos credores" o que vão exigir é que os três partidos PSD, CDS e PS façam um novo acordo.
As condições políticas para esse acordo não existem sem eleições, e ninguém imagina que o CDS e o PS possam hoje ter vontade política para fazer esse acordo, durante a troika e no pós-troika. E um governo isolado, bloqueado e a cair aos bocados, é a última coisa que pode acalmar os "nossos credores". Amanhã eles já estarão noutra, mesmo que não o digam. Por cá, a cegueira funciona assim.
As condições políticas para esse acordo não existem sem eleições, e ninguém imagina que o CDS e o PS possam hoje ter vontade política para fazer esse acordo, durante a troika e no pós-troika. E um governo isolado, bloqueado e a cair aos bocados, é a última coisa que pode acalmar os "nossos credores". Amanhã eles já estarão noutra, mesmo que não o digam. Por cá, a cegueira funciona assim.
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